FEVEREIRO - 2013 COMPREENDENDO A AGRESSIVIDADE HUMANA *por Cláudia Yaísa Gonçalves da Silva Psicóloga CRP 06/111120 Sabemos que amor e ódio são aspectos comuns às relações humanas. Tais sentimentos encontram-se relacionados à agressividade, que surge antes mesmo do nascimento, já percebido pela mãe nos movimentos do bebê nos pontapés contra sua barriga. Esses movimentos em um primeiro momento surgem como reações instintivas, naturais e mostram a forma que o bebê possui para começar a distinguir o que é parte de si e o que é externo. Mais tarde, os ataques da criança contra os pais, a capacidade dos bebês de cansar os adultos ou morder o seio materno, somam-se ao rol de comportamentos agressivos; ao mesmo tempo em que escondem uma via de expressão da criança que não sabe como lidar com um desconforto ou incômodo. No entanto, a destrutividade maior se encontra na fantasia do bebê, em sua realidade interior que é construída por meio de suas relações internas e externas. Dessa forma, existe na realidade interna da criança (fantasia inconsciente) um montante de tensão que pode ser bem ou mal controlado pelo indivíduo em determinadas situações de frustração. Em vista disso, posteriormente a agressividade pode ser usada na adolescência de modo saudável em jogos, competições e na arte, e na criança pequena por meio de mordidas em objetos e chutes na bola, por exemplo. A criança ousada exprime sua agressividade e sente alívio com isso quando possui alguém que a limita e contêm. Já a criança tímida retém suas características hostis tendendo a encontrar a agressividade no meio externo (os outros são maus), pois vivencia o medo de que sua agressividade se volte contra ela. Em geral esta última se mostra séria, altamente controlada e tensa, aspectos que muitas vezes acabam bloqueando a capacidade criativa pela inibição de seus impulsos. Observa-se que uma criança que apresenta um excessivo autocontrole, em algum momento revela também uma explosão de sentimentos agressivos e ações perversas em um contexto desfavorável a seu desenvolvimento por gerar sofrimento e embaraço. A agressividade, então, é um aspecto saudável na vida das pessoas que impulsiona a enfrentar as dificuldades, destacar-se em uma atividade física, em uma seleção profissional ou mesmo usada como defesa para a integridade física e psíquica. No entanto, quando a energia usada para a agressividade torna-se extrema e destrutiva, de ataque aos outros, de invasão, subjugação, denomina-se violência. Isto é que deve ser evitado nas relações humanas, pois é uma mostra de desrespeito para com o outro, de invasão ao espaço alheio que acaba por prejudicar o desenvolvimento do ser humano. Em todo caso, vale ressaltar enquanto função dos pais, professores e responsáveis a tarefa de exercerem autoridade no intuito de que crianças e adolescentes não fiquem livres de qualquer controle, a ponto de correrem o risco de eles mesmos assumirem tal posição. Fato este que poderia levar a uma crueldade tamanha frente à ansiedade suscitada pelo desamparo. O que se pretende com as crianças e adolescentes, é que a cada dia desenvolvam suas personalidades com a ajuda de outrem, reconhecendo o limite de suas tendências agressivas, para então utilizá-las de modo construtivo. REFERÊNCIA: Winnicott, D. W. (2002). Privação e delinqüência. São Paulo: Martins Fontes. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------* Cláudia Yaísa é psicóloga graduada pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Especialização em Psicanálise pelo Núcleo de Educação Continuada do Paraná (NECPAR), Aluna Especial do Mestrado em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (USP-2012). E-mail: [email protected]