4 fgv - 03/12/2006 CPV o cursinho que mais aprova na GV 1234 1234 1234 123 1234 123 1234 1234567890 112 2 123 1234567890 12 12 1234567890 1234567890 12 1234567890 1234567890 1234567890 1234567890 1234567890 1234567890 1234567890 1234567890 1234567890 REDAÇÃO Para avaliar a redação, serão considerados, principalmente: • • • • • • O conhecimento dos fatos solicitados na Instrução; por exemplo, o conhecimento de História, de Geografia e da realidade atual. A correta expressão em língua portuguesa. A clareza, a concisão e a coerência na exposição do pensamento. A capacidade de argumentar logicamente em defesa de seus pontos de vista. O nível de atualização e informação. A originalidade no tratamento do tema. A Banca aceitará qualquer posição ideológica do candidato. Evite fazer rascunho e passar a limpo, para ganhar tempo. A redação pode ser escrita a lápis. Atenção para escrever com letra bem legível. Não ultrapasse o número disponível de linhas. Leia atentamente o texto abaixo. No Brasil, pode dizer-se que só excepcionalmente tivemos um sistema administrativo e um corpo de funcionários puramente dedicados a interesses objetivos e fundados nesses interesses. Ao contrário, é possível acompanhar, ao longo da nossa história, o predomínio constante das vontades particulares que encontram seu ambiente próprio em círculos fechados e pouco sensíveis a uma ordenação impessoal. Dentre esses círculos, foi sem dúvida o da família aquele que se exprimiu com mais força e desenvoltura em nossa sociedade. E um dos efeitos decisivos da supremacia incontestável, absorvente, do núcleo familiar — a esfera por excelência dos chamados “contatos primários”, dos laços de sangue e de coração — está em que as relações que se criam na vida doméstica sempre forneceram o modelo obrigatório de qualquer composição social entre nós. (...) Já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será de cordialidade — daremos ao mundo “o homem cordial”. A lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio rural patriarcal. Seria engano supor que essas virtudes possam significar “boas maneiras”, civilidade. São, antes de tudo, expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante... (páginas 106 e 107) Instrução • Redija uma dissertação analisando as idéias contidas nesse trecho extraído do livro Raízes do Brasil, do sociólogo Sérgio Buarque de Holanda. Saliente: — As principais características políticas do Brasil colônia. — As diferenças entre o espaço social rural e o urbano que ajudam a demarcar tais características. — A atualidade do tema. • Dê um título à sua redação. CPV fgv06dezdisadm 1234 1234123 1234123 12345678901 123412 12345678901 123 121 123456789011 123456789011 12345678901 12345678901 12345678901 12345678901 12345678901 12345678901 12345678901 12345678901 12345678901 CPV o cursinho que mais aprova na GV Fgv - 03/12/2006 5 COMENTÁRIO DA PROVA DE REDAÇÃO A prova de redação da FGV/2007 parece ter aderido às homenagens pela comemoração dos 70 anos do clássico de Sérgio Buarque de Holanda: Raízes do Brasil. Vale ressaltar que a obra, publicada em 1936, apresenta uma perspectiva sociológica e psicológica, a partir da qual Sérgio Buarque de Holanda tenta, através do passado brasileiro, vislumbrar o futuro do país. A proposta da FGV foi apresentada a partir de um fragmento do livro e pedia que o candidato, baseado na análise do trecho, discutisse a respeito das principais características políticas do Brasil colônia, salientando como as diferenças entre espaço social rural e urbano contribuíram para demarcar tais características, sem descuidar da atualidade do tema. No que tange aos aspectos políticos do Brasil colônia, destacase o caráter patriarcal-clientelista de uma sociedade estratificada, de base escravista, fundada na propriedade rural e, portanto, emanadora de poderes restritos a uma aristocracia fundiária que não diferenciava questões públicas dos interesses privados. Em decorrência desse contexto, o modelo administrativo colonial será alicerçado, a partir dos sistemas das donatarias, nas relações sociais pessoalizadas e de favorecimento aos agregados e subalternos em geral, em detrimento das instituições metropolitanas então em vigor. No meio urbano, a estrutura familiar de matriz rural também será refletida, não apontando para a superação das relações patriarcais que caracterizam o meio rural, mas representando, antes, a extensão desses mesmos padrões de relacionamento. Para Sérgio Buarque de Holanda, havia, no Brasil, uma incompatibilidade entre as visões do mundo tradicional e moderno, pois o país não tinha a menor estrutura tanto econômica como política e social para desenvolver a indústria e o comércio, exemplo disso foi o malogro comercial sofrido por Mauá. Os senhores de engenho eram sinônimos de solidez dentro da sociedade colonial. O engenho era um organismo completo, uma micro sociedade. O patriarca era quem dominava o resto da sociedade. Como a sociedade rural colonial era um grupo fechado, onde um homem dominava, as leis não entravam; os senhores tinham “poderes” irrestritos sobre seus subordinados. Num primeiro momento, os homens que vinham para a cidade eram os que tinham certa importância no campo. Houve, assim, uma substituição das honras rurais para as honras da cidade. Os colonos brancos continuavam achando que o trabalho físico não dignificava o homem, mas sim o trabalho intelectual. Com a Revolução Industrial, o trabalhador tem que virar máquina. O sentimento de nobreza e a aversão ao trabalho físico saem da Casa Grande e invadem as cidades; o que nos mostra o quanto foi difícil, durante a Independência, ultrapassar os limites políticos gerados pela colonização portuguesa. Para Sérgio Buarque, a vida da cidade se desenvolveu de forma anormal e prematura. "O predomínio esmagador do ruralismo, segundo todas as aparências, foi antes um fenômeno típico do esforço dos nossos colonizadores do que uma imposição do meio". CPV fgv06dezdisadm As cidades, na verdade, eram instrumentos de dominação. A Coroa espanhola, diferentemente da portuguesa, criou cidades nas suas colônias. Para Portugal, suas colônias eram grandes feitorias. Assim, a colonização portuguesa se concentrou predominantemente na costa litorânea, uma vez que o interior do Brasil não interessava para a metrópole. As bandeiras normalmente acabavam se transformando em roças, salvo episódios esporádicos como foi o caso da descoberta de ouro. Historicamente, observa-se que houve muita dificuldade na transição para o trabalho industrial no Brasil, em que muitos valores rurais e coloniais persistiram. Sérgio Buarque destaca, inclusive, que as relações familiares (da família patriarcal, rural e colonial), são ruins para a formação de homens responsáveis. Até hoje, vemos uma dificuldade entre os homens detentores de posições públicas conseguirem distinguir entre o público e o privado."Falta ordenamento impessoal que caracteriza a vida no Estado burocrático". A contribuição brasileira para a civilização será então, a do "homem cordial". Cordialidade esta que não é sinônimo de civilidade de polidez, mas que vem de cordes, coração. A impossibilidade que o brasileiro tem em se desvincular dos laços familiares a partir do momento em que esse se torna um cidadão, gera o “homem cordial”. Esse homem cordial é aquele generoso, de bom trato. A intimidade que tal homem tem com os demais chega a ser até desrespeitosa, o que possibilita chamar qualquer um pelo primeiro nome, usar o sufixo “inho” para as mais diversas situações, entre outros comportamentos. O rigor é totalmente afrouxado e não há distinção entre o público e o privado: todos são amigos em todos os lugares. O Brasil é uma sociedade onde o Estado é apropriado pela elite patrimonialista, uma vez que os homens públicos são formados no círculo doméstico clientelístico, onde laços sentimentais e restritos são transformados em políticas públicas de assistencialismo. Há, por fim, na sociedade brasileira atual, um apego muito forte ao recinto doméstico, uma relutância em aceitar a superindividualidade. Poucos profissionais se limitam a ser apenas homens de sua profissão. Há um grande desejo em alcançar prestígio e dinheiro sem esforço. Para o autor, a democracia foi no Brasil “sempre um mal-entendido”. Os grandes movimentos sociais e políticos vinham de cima para baixo, o povo ficou indiferente a tudo. O romantismo acabou se tornando um mundo fora do mundo, incapaz de ver a realidade, o que ajudou na construção de uma realidade falsa, livresca. Muitos traços da nossa intelectualidade ainda revelam uma mentalidade senhorial e conservadora.O Brasil tornou-se um país pacífico, brando, onde se julga positiva a obediência aos regulamentos, aos preceitos abstratos. Assim, “homem cordial” nada mais é do que fruto de nossa história, que vem da colonização portuguesa, de uma estrutura política, econômica e social completamente instável de famílias patriarcais e escravagistas.