Raízes do Brasil: em busca da
identidade do povo brasileiro
Por: Carla G. Meassi
Sociologia – 2º E M
Colégio Kuarup - 2010
Contexto e objetivo
• Em 1936 Sérgio Buarque de Holanda
publica o livro: “Raízes do Brasil”, um livro
que tem uma perspectiva sociológica e
psicológica em que o autor tenta, através
de nosso passado, ver o nosso futuro.
• É um livro inovador no que diz respeito à
busca da identidade nacional, Sérgio
Buarque vai atrás do que poderíamos
chamar de essência do homem brasileiro.
• Num jogo de idas e vindas na nossa
história, deixando claro os momentos que
ele mais considera, Sérgio Buarque
constrói um panorama histórico no qual
ele inserirá o “homem cordial”, que nada
mais é do que fruto de nossa história, que
vem da colonização portuguesa, de uma
estrutura política, econômica e social
completamente instável de famílias
patriarcais e escravagistas.
Fronteiras da Europa
• No primeiro capítulo, Sérgio Buarque mostra que os países Ibéricos eram os
que faziam fronteiras entre a Europa com o mundo através do mar, e por
isso eles são menos “europeizados” do que os demais países. Eles ficam
um pouco à margem do resto da Europa, mesmo nas navegações em que
foram pioneiros. Para os países Ibéricos cada homem tinha que depender
de si próprio. Eles não possuíam uma hierarquia feudal tão enraizada, por
isso a mentalidade da nascente burguesia mercantil se desenvolveu lá
primeiro. Somando a isso, havia toda uma frouxidão organizacional que
estarão muito presentes na história de Portugal e, consequentemente, do
Brasil.
• Para ele, a aparente anarquia Ibérica era muito mais correta, muito mais
justa que a hierarquia feudal, pois, não continha muitos privilégios. A
nobreza portuguesa era muito flexível, o que o autor chamará de
mentalidade moderna.
• O pioneirismo de Portugal nas navegações se deve a um incentivo próprio,
já que esse país tinha uma mentalidade mais aberta. O autor chega a
defender a mentalidade burguesa e os países Ibéricos. Os Ibéricos não
gostavam do trabalho físico, queriam ser senhores, mas sem ter que fazer o
trabalho manual. Por fim o autor nos fala que o Brasil tem muitas
características ibéricas e sua construção cultural vem daí.
Trabalho e Aventura:
• Para o autor, os portugueses que foram os
primeiros a se bancarem no mar eram os que
estavam mais aptos para a missão no Novo
Mundo.
Em seguida Sérgio Buarque fala que existem
dois tipos de homens: um com olhar mais
amplo, o aventureiro, e outro com olhar mais
restrito, o trabalhador. No entanto esses dois
homens se confundem dentro da mesma
pessoa. Com isso ele quebra um pouco a
ideia de que a Inglaterra é sinônimo de
trabalho.
O gosto pela aventura foi o que possibilitou a
colonização no Novo Mundo. Nenhum outro
povo como o português foi capaz de se
adaptar tão bem na América.
• A economia escravista colonial era a
forma pela qual a Europa conseguiu
suprir o que faltava na sua economia.
O indígena não conseguiu se
“adaptar” à escravidão, tornando o
escravo africano imprescindível para o
sistema colonial. O português vinha
para a colônia buscar riqueza sem
muito trabalho, além disso, eles
preferiam à vida aventureira ao
trabalho agrícola. Nesse contexto a
mão-de-obra escrava aparece como
elemento fundamental na nossa
economia.
Como o fator terra era abundante na
colônia, não havia preocupação em
cuidar do solo, o que acarretou na sua
deterioração. Os portugueses se
aproveitaram de muitas técnicas
indígenas de produção, que acabaram
ganhando certa proteção que os
distanciou um pouco da escravidão.
• Para Sérgio Buarque, os portugueses já eram mestiços antes dos
descobrimentos. Além disso, já conheciam a escravidão africana no
seu país. O autor faz parecer que o preconceito com negros era bem
maior que com os índios no Brasil colonial. O Brasil não conhece
outro tipo de trabalho que não seja o escravo. O trabalho mecânico
era desprezado no Brasil, e por isso não houve a construção de um
verdadeiro artesanato, só se fazia o que valia a pena, o que era
lucrativo. Os brasileiros não eram solidários entre si. A moral da
senzala era a preguiça. A violência que ela continha era negadora de
virtudes sociais.
• O autor critica os colonos holandeses que não procuraram se fixar no
Brasil. Além disso, tais colonos trazem para o Brasil um aspecto que
não se adequa aqui, que é a formação do seu caráter urbano, quase
liberal.
Sérgio Buarque afirma que a própria língua portuguesa era mais fácil
para os índios e os negros, o que ajudou muito na colonização. Outro
elemento que facilitou a comunicação colonial foi a Igreja Católica,
que tinha uma forma de se comunicar muito mais simpática que as
igrejas protestantes. Conclui o capítulo mostrando que o resultado de
tudo isso foi a mestiçagem, que possibilitou a construção de uma nova
pátria.
Herança Cultural:
• A estrutura da sociedade colonial é rural. Isso pode ser visto quando
analisamos quem detinha o poder na época colonial: os senhores rurais.
Dentro desse contexto, a abolição da escravatura aparece como um
grande marco na nossa história.
• O autor conta que entre 1851 1855, observamos um notável
desenvolvimento urbano, graças à construção das estradas de ferro, e que
tal desenvolvimento esteve muito ligado à supressão do tráfico negreiro.
Muitos senhores rurais eram contra a supressão do abastecimento de
cativos africanos, o que resultará numa continuidade do tráfico, mesmo
depois de abolido legalmente. O medo do fim do tráfico faz com que
aumente o número de escravos exportados para o Brasil até 1850.
• Para o autor, havia uma incompatibilidade entre as visões do mundo
tradicional e moderna, o que resultou em muitos conflitos. O Brasil não
tinha a menor estrutura tanto econômica com política e social para
desenvolver a indústria e o comércio.
Os senhores de engenho eram sinônimos de solidez dentro da sociedade
colonial. O engenho era um organismo completo, uma microssociedade. O
patriarca era quem dominava o resto da sociedade. Como a sociedade
rural colonial era um grupo fechado, onde um homem dominava, as leis
não entravam; os senhores tinham domínios irrestritos sobre seus
“súditos”.
• Num primeiro momento, os homens que
vinham para a cidade eram os que
tinham certa importância no campo.
Houve uma substituição das honras
rurais para as honras da cidade. Os
colonos brancos continuavam achando
que o trabalho físico não dignificava o
homem, mas sim o trabalho intelectual.
Com a Revolução Industrial, o
trabalhador tem que virar máquina. O
sentimento de nobreza e a aversão ao
trabalho físico, saem da Casa Grande e
invadem as cidades; o que nos mostra o
quanto foi difícil, durante a
Independência, ultrapassar os limites
políticos gerados pela colonização
portuguesa.
• Para Sérgio Buarque a vida da cidade se
desenvolveu de forma anormal e
prematura:
• “O predomínio esmagador do ruralismo,
segundo todas as aparências, foi antes
um fenômeno típico do esforço dos
nossos colonizadores do que uma
imposição do meio”.
O Semeador e o Ladrilhador:
• As cidades eram instrumentos de dominação. A Coroa
espanhola, diferentemente da portuguesa, criou
cidades nas suas colônias. Sérgio Buarque mostra
como eram construídas tais cidades. Para Portugal
suas colônias eram grandes feitorias. Enquanto a
colonização portuguesa se concentrou
predominantemente na costa litorânea, a colonização
espanhola preferiu adentrar para as terras do interior e
para os planaltos.
• O interior do Brasil não interessava para a metrópole.
As bandeiras normalmente acabavam se
transformando em roças, salvo esporadicamente como
foi no caso da descoberta de ouro. Com tal descoberta,
a metrópole tentou evitar a migração para o interior da
colônia. O advento das minas foi o que fez com que
Portugal colocasse um pouco mais de ordem na
colônia.
• Sérgio Buarque continua falando sobre a colonização
portuguesa sempre a comparando com a espanhola.
Mesmo sendo mais liberais que os espanhóis, Portugal
mantinha firme o pacto colonial, proibindo a produção
de muitas manufaturas na colônia. Também fala do
desleixo português na construção das cidades.
• Portugueses eram corajosos só que mais prudentes. Portugal
tinha uma maior flexibilidade social, e havia um desejo da sua
burguesia em se tornar parte da nobreza. Não havia tradição em
Portugal nem orgulho de classe, todos queriam ser nobres. Nasce
a “Nova Nobreza”, que era muito mais preocupada com as
aparências do que com a antiga tradição. Fala um pouco da
história política de Portugal vinculada à vontade que a maior parte
da população tinha em se tornar nobre, e tal desejo pode ser
facilmente constatado no Brasil, mostrando que o papel da Igreja
aqui era o de “simples braço de poder secular, em um
departamento da administração leiga”.
• Nas notas do capítulo, o autor trabalha com a questão da vida
intelectual tanto na América espanhola como na portuguesa,
mostrando que na primeira ela era mais desenvolvida. Trata da
língua geral de São Paulo, que durante muitos séculos foi a língua
dos índios, devido a forte presença da índia como matriarca da
família. Fala da aversão às virtudes econômicas, principalmente
do comércio. E por fim da natureza e da arte coloniais.
O Homem Cordial:
• Para Sérgio Buarque, o Estado não é uma continuidade
da família. Dá o exemplo de tal confusão com a história de
Sófocles sobre Antígona e seu irmão Creonte, onde havia
um confronto entre Estado e família. Houve muita
dificuldade na transição para o trabalho industrial no
Brasil, muitos valores rurais e coloniais persistiram. Para o
autor as relações familiares ( da família patriarcal, rural e
colonial), são ruins para a formação de homens
responsáveis.
• Até hoje vemos uma dificuldade entre os homens
detentores de posições públicas conseguirem distinguir
entre o público e o privado."Falta ordenamento impessoal
que caracteriza a vida no Estado burocrático”.
• A contribuição brasileira para a civilização será então, o
“homem cordial”. Cordialidade esta que não é sinônimo de
civilidade de polidez, mas que vem de cordes, coração.
• O homem cordial dá identidade ao brasileiro, é aquele que
desenvolve o famoso “jeitinho” de resolver as coisas pela
afinidade. O apadrinhamento, o conhecido e as relações
pessoais podem determinar “como” resolver as mais
diversas situações.
• A impossibilidade que o brasileiro tem em
se desvincular dos laços familiares a
partir do momento que esse se torna um
cidadão, gera o “homem cordial”. Esse
homem cordial é aquele generoso, de
bom trato, que para confiar em alguém
precisa conhecê-lo primeiro. A intimidade
que tal homem tem com os demais chega
a ser desrespeitosa, o que possibilita
chamar qualquer um pelo primeiro nome,
usar o sufixo “inho” para as mais diversas
situações e até mesmo, colocar santos
de castigo. O rigor é totalmente
afrouxado, não há distinção entre o
público e o privado: todos são amigos em
todos os lugares. O Brasil é uma
sociedade onde o Estado é apropriado
pela família, os homens públicos são
formados no círculo doméstico, onde
laços sentimentais e familiares são
transportados para o ambiente do
Estado, é o homem que tem o coração
como intermédio de suas relações, ao
mesmo tempo em que tem muito medo
de ficar sozinho.
Novos Tempos:
• Há na sociedade brasileira atual um apego muito forte ao recinto
doméstico, uma relutância em aceitar a superindividualidade.
Poucos profissionais se limitam a ser apenas homens de sua
profissão. Há um grande desejo em alcançar prestígio e dinheiro
sem esforço. O bacharelado era muito almejado por representar
prestígio na sociedade colonial urbana. Não havia uma real
preocupação com a intelectualidade, havia um amor pela ideias fixas
e genéricas o que justifica a entrada do positivismo e sua grande
permanência no Brasil. O autor faz críticas aos positivistas. Para o
autor a democracia foi no Brasil “sempre um mal-entendido”.Os
grandes movimentos sociais e políticos vinham de cima para baixo,
o povo ficou indiferente a tudo. O romantismo acabou se tornando
um mundo fora do mundo, incapaz de ver a realidade, o que ajudou
na construção de uma realidade falsa, livresca. Muitos traços da
nossa intelectualidade ainda revelam uma mentalidade senhorial e
conservadora. Fala da importância da alfabetização para o Brasil.
Nossa Revolução:
• As revoluções da América, não se parecem com revoluções. A
revolução brasileira é um processo demorado que vem durando
três séculos e a Abolição é um importante marco. As cidades
ganharam autonomia em relação ao mundo rural. O café traz
mudanças na tradição, como a legitimação da cidade. “A terra
de lavoura deixa então de ser o seu pequeno mundo para se
tornar unicamente seu meio de vida, sua fonte de renda e
riqueza”.O café substitui a cana, mas não deixa espaço para a
economia de subsistência. As cidades ganham novo sentido
com o café, que acabam solapando a zona rural.
• O Brasil é um país pacífico, brando. Julgamos ser bons; há
obediência dos regulamentos, dos preceitos abstratos. É
necessário que façamos uma espécie de revolução para
darmos fim aos resquícios de nossa história colonial e
começarmos a traçar uma história nossa, diferente e particular.
• Para o autor a ausência de partidos políticos atualmente (1936)
é um sintoma de nossa inadaptação ao regime legitimamente
democrático. Sérgio Buarque critica o Brasil que acredita em
fórmulas. Fala quais são os principais elementos constituintes
de uma democracia. Com a cordialidade, o brasileiro
dificilmente chegará nessa “revolução”, que seria a salvação
para a sociedade brasileira atual.
“O Brasil é um caldeirão cultural?”
• A partir da leitura da obra, qual sua
interpretação sobre o que o autor
expõe:
• - O Brasil é caracterizado por uma
cultura única, diferente das demais que
o compõe
• - O Brasil é uma mistura de várias
culturas diferentes?
• - Qual a identidade do brasileiro?
• - As características culturais do
brasileiro são mais positivas ou
negativas?
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