CPV O Cursinho que Mais Aprova na GV
FGV ADM Pública – 31/maio/2015
Interpretação do Brasil Contemporâneo
No início de 2014, um adolescente negro foi espancado e amarrado
num poste por jovens de classe média do Rio de Janeiro. A motivação
para tal ato teria sido a atuação do garoto em roubos na região.
A propósito deste fato, o sociólogo José de Souza Martins escreveu
em O Estado de S. Paulo:
TEMA abordado naS aulas 4 e 8,
no Simulado 1 FGV e no tema extra Insper.
O Estado brasileiro é omisso, descumpridor das próprias leis que inventa e promulga. A delinquência juvenil é fruto dessa
omissão e do desamparo que engendra e alimenta. Mas fruto, também, da pseudocidadania dos atiradores de pedra e dos
linchadores, dos que reclamam direitos, omitindo-se quanto aos deveres correspondentes. O caso do menino deixa claro que os
“potenciais autores de delitos” têm cor e raça. O vigilantismo reacionário ergue uma muralha de terror para criar um território
fechado e excludente, só deles. Uma pátria particular, impatriótica.
O menino foi libertado pelos bombeiros que o socorreram. Tiveram que usar maçarico para cortar o cabo de aço que lhe atava
o pescoço ao poste. Foi levado para o hospital. De lá fugiu e foi espontaneamente se apresentar na casa abrigo da prefeitura do
Rio. Os agressores (...) não se apresentaram em lugar nenhum. Fugiram. Por aí se vê que ao menos o menino tem recuperação.
A partir do texto acima, analise a forma como a sociedade brasileira lida com o problema da violência urbana.
Para avaliar a redação, serão levados em conta os seguintes aspectos:
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a percepção da importância do problema para a sociedade brasileira;
a capacidade de apresentar argumentos de forma clara e equilibrada;
a utilização da norma culta da língua portuguesa;
capacidade de expressar opiniões baseadas em argumentos logicamente bem fundamentados e não apenas de senso comum.
Comentário do CPV
O texto utilizado como base para a prova de Interpretação do Brasil Contemporâneo remete a vários conceitos trabalhados
em sala de aula no Semi FGV do CPV e retomados detalhadamente na Revisão.
Foi abordado o conceito de racismo institucionalizado, em que o Estado, ao não garantir direitos básicos à população negra,
auxilia a disseminar preconceitos raciais, já que mantém um determinado grupo social marginalizado. Além disso, apontou-se
que muitos direitos garantidos pela Constituição de 1988 e pela Declaração Universal dos Direitos Humanos não são colocados
em prática pelo Estado, sobretudo o Estado neoliberal, cuja lógica prejudica as condições de vida da parcela da população menos
abastada. Nesse contexto, a violência urbana pode ser considerada como resultado dessa ausência do Estado.
Entretanto, não é somente este que está envolvido nesse processo de violência. Grande parte da população brasileira que
se autodenomina como “cidadãos de bem” – como foram nomeados pela jornalista Rachel Sheherazade, em rede nacional, ao
fazer apologia à justiça com as próprias mãos – não age de maneira democrática, uma vez que desconsidera que a justiça deva
ser feita pelas instituições jurídicas. Muitos não acreditam na justiça brasileira e, como não têm segurança garantida pelo Estado,
imaginam que a justiça deve ser feita pelos próprios cidadãos. Ao se pensar que se combate violência com violência, os justiceiros
igualam-se aos criminosos, sobretudo quando assassinam pessoas que não eram culpadas.
Dessa forma, os candidatos poderiam analisar que a forma como a sociedade brasileira lida com o problema da violência
urbana é antidemocrática e fere direitos humanos. Além disso, esse tipo de reação à violência urbana é incentivado pela mídia
e pela indústria do medo, que ajudam a disseminar a cultura do medo na sociedade brasileira. Indivíduos dominados por esse
sentimento tendem a se isolar do espaço público ou a reagir irracionalmente a situações de violência. Ambos os problemas
comprometem a vida em sociedade, porque os cidadãos não se veem vivendo harmoniosamente uns com os outros, mas sim como
em uma “selva”, sem normas sociais, em que vale a lei do mais forte. Nessa perspectiva, a tendência é que se use um discurso
democrático, da justiça, mas, na verdade, o que se tem é o oposto disso.
CPV
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fgvadmmaio2015 master Interpretacao do Brasil