PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Regiane Rodrigues de Moraes A escola vivida por adolescentes: situações agradáveis e desagradáveis MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO SÃO PAULO 2008 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP Regiane Rodrigues de Moraes A escola vivida por adolescentes: situações agradáveis e desagradáveis MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Educação: Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Laurinda Ramalho de Almeida. São Paulo 2008 BANCA EXAMINADORA Data ____/____/______ Agradecimentos Aos meus pais, Ana e Jacinto, por todo o incentivo, carinho, apoio e compreensão. À minha estimada orientadora, Professora Doutora Laurinda Ramalho de Almeida, por acreditar no meu trabalho e contribuir na ampliação do meu conhecimento e na concretização desta pesquisa. Às professoras Doutoras Abigail Alvarenga Mahoney e Wanda Maria Junqueira de Aguiar, pelas contribuições dadas no exame de qualificação e por fazerem parte da banca avaliadora. Aos meus irmãos, Renata e Renan, pela cumplicidade, carinho, atenção, respeito e paciência. Ao Fernando, pelo companheirismo, atenção, carinho e confiança. Aos meus familiares e amigos, pelos incentivos dados e por acreditarem no meu trabalho. Ao meu tio Geraldo, pelo incentivo e por me apresentar o universo da educação. Aos alunos da 8ª série que participaram desta pesquisa. À direção da escola onde a pesquisa foi realizada, por permitir a investigação. À professora de Língua Portuguesa, por abrir espaço em sua aula e pela disposição em contribuir. Aos colegas do mestrado, em especial à Lílian, pela contribuição primordial, pelas leituras e, claro, pelo estímulo. À Viviane e à Luciana, por compartilharem as emoções e sentimentos vivenciados no mestrado, por todas as trocas que me fizeram crescer. Ao Cnpq pelo apoio financeiro. Baila o trigo quando há vento Baila porque o vento o toca Também baila o pensamento Quando o coração provoca. Fernando Pessoa Resumo MORAES, Regiane Rodrigues de. A escola vivida por adolescentes: situações agradáveis e desagradáveis. 2008. 142p. Dissertação (mestrado). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Esta pesquisa tem como objetivo identificar situações que agradam e que desagradam ao aluno na escola, os sentimentos envolvidos nessas situações e as implicações educacionais no processo ensino-aprendizagem. O estudo se justifica por permitir a identificação de situações agradáveis e desagradáveis que acontecem na escola, a partir do ponto de vista do aluno, possibilitando assim conhecer essas situações e os sentimentos nelas envolvidos. A teoria psicogenética de Henri Wallon foi o referencial para analisar os dados. Adotou-se uma abordagem qualitativa e o instrumento para obtenção de informações foi a redação, realizada na aula de Língua Portuguesa, em uma classe de 8ª série do Ensino Fundamental de uma escola pública estadual em São Paulo, na qual estavam presentes 32 alunos. A pesquisa permitiu conhecer a escola vivida por alunos adolescentes que relataram situações agradáveis e desagradáveis envolvendo o ensino oferecido pela instituição, o desempenho nas avaliações e nas competições, as possibilidades de interação, a importância dos pares, os momentos de participação dos familiares na escola, os campeonatos, os questionamentos sobre a situação da escola, a atuação do grêmio e da direção e os inesperados que acontecem. As situações agradáveis geraram sentimentos de satisfação, alegria, orgulho, segurança, aceitação, alívio e confiança. As situações desagradáveis geraram sentimentos de insatisfação, injustiça, indignação, vergonha, tristeza, frustração, raiva, irritação, angústia, tensão e solidariedade. As situações relatadas revelaram que os alunos apresentam interesse em participar ativamente do processo ensino-aprendizagem, valorizam a escola onde estudam e por isso fazem críticas de alguns aspectos que poderiam ser melhorados. Os relatos dos estudantes forneceram indicadores para se trabalhar uma escola que atenda a seus interesses e suas necessidades. Palavras-chave: adolescência, escola, afetividade, Henri Wallon. Abstract MORAES, Regiane Rodrigues de. The school experienced by teenagers: pleasant and unpleasant situations. 2008. 142p. Dissertation (masters). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. The objective of this research is to identify situations that please or not students at school; feelings involved in these situations and the educational implications in the teach-learning process were taken into account. The research justifies itself by identifying pleasant and unpleasant situations that take place in school, from a student point of view. Allowing us to (understand/analyze) these situations and feelings involved. The psychogenetic theory of Henri Wallon was used as reference to analyze the data, where a qualitative research was conducted along with an essay question for 8th grade students during a Portuguese lecture in a São Paulo public school, in which 32 students were present. The study allowed to identify pleasant and unpleasant situations experienced by teenager students involving; the education being offered, evaluation and competition performances, interaction possibilities, peer importance, school moments involving families, championships, student questioning towards school situation, grêmio´s performance, directors and unexpected situations. Pleasant situations generated feelings of satisfaction, joy, pride, security, acceptance, relief and confidence. Unpleasant situations generated feelings of dissatisfaction, injustice, outrage, shame, sadness, frustration, anger, irritation, anxiety, tension and solidarity. The situations reported showed that students show interest in participating actively in the teaching-learning process, valuing the school where they study and therefore are critical of some aspects that could be improved. This research provided indicators that students would rather work in a school that serves their interests and their needs. Keywords: adolescence, school, affectivity, Henri Wallon. ERRATA Na página 28, linha 22, onde se lê: tem início por volta dos três anos de idade, quando a criança começa a fazer diferenciações entre o eu e o outro. Leia-se: Por volta dos três anos de idade a criança começa a fazer diferenciações entre o eu e o outro. Na página 37, linha 20, onde se lê: SZYMANKI. Leia-se: SZYMANSKI. Na página 37, linha 23, onde se lê: SZYMANKI. Leia-se: SZYMANSKI. Na página 38, linha 19, onde se lê: SZYMANKI. Leia-se: SZYMANSKI. Na página 38, linha 26, onde se lê: SZYMANKI. Leia-se: SZYMANSKI. Sumário INTRODUÇÃO ............................................................................................................9 1. A TEORIA DE HENRI WALLON E A ADOLESCÊNCIA......................................22 1.1 O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO E A ADOLESCÊNCIA NA PERSPECTIVA WALLONIANA ............................................................................................................22 1.2 A ESCOLA NA TEORIA WALLONIANA .......................................................................25 1.3 A IMPORTÂNCIA DO MEIO E DO OUTRO NA CONSTITUIÇÃO DA PESSOA DO ADOLESCENTE..........................................................................................................27 1.4 AFETIVIDADE E ADOLESCÊNCIA ............................................................................31 2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..............................................................35 2.1 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................35 2.2 OPÇÕES TOMADAS PARA A OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES .......................................36 2.2.1 Escolha dos participantes .........................................................................36 2.2.2 Escolha do instrumento.............................................................................36 2.3 OPÇÕES TOMADAS PARA A ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES .........................................37 3. ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................43 1. ESCOLA: ESPAÇO DE CONHECIMENTO.....................................................................43 1.1 O ensino oferecido .......................................................................................43 1.2 O desempenho dos alunos ..........................................................................50 2. ESCOLA: ESPAÇO DE INTERAÇÃO ...........................................................................56 2.1 A relação eu-outro........................................................................................56 2.2 Os momentos de descontração e lazer........................................................66 3. ESCOLA: ESPAÇO DE PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA ......................................................72 3.1 A forte presença da mãe na escola..............................................................72 4. ESCOLA: ESPAÇO DA PESSOA POR INTEIRO .............................................................76 4.1 As conquistas e derrotas em competições...................................................76 4.2 Fatores extra-escolares que interferem na atuação do aluno na escola ......82 5. ESCOLA: ESPAÇO DE REIVINDICAÇÃO E QUESTIONAMENTOS .....................................83 5.1 As falsas promessas ....................................................................................83 6. ESCOLA: ESPAÇO DE SITUAÇÕES INESPERADAS.......................................................86 6.1 Receber um prêmio......................................................................................86 6.2 Os acidentes ................................................................................................87 3.1 EM BUSCA DE UMA SÍNTESE .................................................................................90 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................97 REFERÊNCIAS.......................................................................................................102 ANEXOS .................................................................................................................107 ANEXO 1. QUADRO – EXPLICITAÇÃO DOS SIGNIFICADOS.............................................108 ANEXO 2. COMANDA DA REDAÇÃO APRESENTADA AOS ALUNOS ..................................137 ANEXO 3. EXEMPLOS DE REDAÇÕES ELABORADAS ....................................................138 9 Introdução A afetividade é uma das dimensões humanas que pode ser definida como a capacidade que o indivíduo possui de afetar o outro e ser afetado por ele; está sempre presente nas relações, contagiando aqueles que nelas estão envolvidos. Essas relações podem causar sensações de bem-estar ou de mal-estar. As emoções, os sentimentos e a paixão fazem parte da dimensão afetiva. Essa dimensão afetiva é um dos alicerces para o conhecimento; por isso, é importante que os profissionais da educação valorizem o aspecto afetivo na sua integração com o intelectual e com o social do indivíduo. O contexto escolar é um espaço de intensas relações. Nele, alunos, professores, coordenadores pedagógicos, diretor, equipe técnica e de apoio afetam-se mutuamente. As vivências nessas interações estão carregadas de emoções, sentimentos, valores e concepções, que podem dificultar ou facilitar o processo ensino-aprendizagem (REIS, 2005). Sendo assim, faz-se necessário dar voz àqueles que vivenciam o dia-a-dia da instituição. Nesta pesquisa, deu-se voz aos estudantes da 8ª série do Ensino Fundamental. Este trabalho desvela o olhar do aluno adolescente sobre as situações agradáveis e desagradáveis vivenciadas por ele na escola. Tem como objetivo identificar situações no contexto escolar que agradam e que desagradam aos alunos da 8ª série do Ensino Fundamental, os sentimentos envolvidos nessas situações e as implicações educacionais dessas situações no processo ensino-aprendizagem. Para isso, investigou a seguinte questão: quais situações os alunos da 8ª série do Ensino Fundamental consideram agradáveis e desagradáveis na escola? A teoria psicogenética de Henri Wallon foi o referencial para analisar os dados obtidos por meio de redações. O interesse em pesquisar a afetividade do adolescente surgiu da minha experiência pessoal na condição de aluna, aliada à profissional como professora. 10 Minhas experiências nas instituições educacionais nas quais estudei sempre foram boas, e em meu percurso estudantil, tive êxito nas atividades propostas. Porém, ao me lembrar da minha vida na escola, as recordações estão mais ligadas às sensações desagradáveis, pois sempre percebi o ambiente educacional como algo frio e impessoal; não via respeito dos adultos para com as crianças e adolescentes. Hoje, tenho a impressão de que, para os professores e outros funcionários das escolas em que estudei, havia uma “massa” de alunos que deveriam ficar sentados, recebendo ordens e conhecimentos necessários à formação. Percebo que a afetividade era totalmente ignorada; nossos sentimentos, vontades e necessidades eram desconsiderados. Na verdade, não tínhamos voz ativa; muitas vezes, tive a sensação de que não éramos vistos, e o que pensávamos parecia não ter relevância. Poucos eram os professores que mostravam interesse e preocupação por aquilo que os estudantes sentiam; mesmo assim, aprendi muito com os diferentes profissionais, pois o fato de um docente não proporcionar situações agradáveis a seus educandos não significa que seu trabalho não seja eficiente. Essa reflexão sobre as relações existentes na escola começou com o meu ingresso no Ensino Médio, quando optei pelo curso de magistério. Ao concluí-lo, tive dúvidas quanto ao exercício da profissão; mesmo assim, prestei um concurso público para professora de Ensino Fundamental I, em que fui aprovada e, enquanto aguardava ser chamada, optei por investir em outras áreas. Trabalhei em algumas empresas de diversos ramos e ingressei na faculdade de Jornalismo. Quando estava no segundo ano, fui convocada para assumir o cargo concursado. Apesar das minhas dúvidas, acreditei que pudesse ter uma experiência na educação. Ao iniciar a carreira de professora do Ensino Fundamental I, na prefeitura de São Paulo, busquei inspiração na minha experiência como aluna e em tudo o que eu havia aprendido na teoria. Em minhas aulas, procurava considerar as opiniões e sentimentos dos alunos, buscando compreendê-los. Trabalhei na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, no qual também exerci a função de Professora Orientadora de Informática Educativa (POIE), no laboratório de informática. 11 Depois de concluir Jornalismo, cursei Pedagogia. Na graduação, descobri que já existia uma discussão sobre a afetividade. Conheci a teoria de Henri Wallon e tive contato com os estudos de Almeida (2004, 2005), Mahoney (2004, 2005), Dantas (1992), Galvão (2002), entre outros autores que se dedicam a esse teórico. Tratarei aqui de alguns aspectos da teoria walloniana que foram abordados por essas autoras e que fundamentam meus questionamentos atuais. No entanto, oportunamente, os tópicos levantados serão mais aprofundados. Dantas (1992) pontua que a afetividade ocupa lugar central na teoria de Wallon, tanto na constituição do sujeito como na construção do conhecimento. Ela afirma que a emoção estabelece o vínculo entre as pessoas. No início da vida, é por meio dela que o bebê comunica suas necessidades para o adulto: o choro pode anunciar a fome, a dor ou algum outro desconforto. De acordo com Mahoney (2004, 2005), essa teoria possibilita a compreensão do sujeito na sua totalidade. Os conceitos, princípios e tendências, apresentados na teoria walloniana são recursos que ajudam a entender o processo de constituição da pessoa, que se dá na união das condições orgânicas e sociais. Na perspectiva de Wallon, o desenvolvimento humano é um processo que ocorre ao longo da vida. Para compreender esse processo, o autor estudou as várias etapas do indivíduo – os estágios – e as suas dimensões: afetiva, cognitiva e motora. Almeida (2004, 2005), por sua vez, aponta o grande interesse do teórico pela educação, ressaltando suas colaborações para a organização do sistema escolar, com derivações para o processo ensino-aprendizagem. A autora analisou o Plano Langevin-Wallon, elaborado para a reforma do ensino francês, com o propósito de estabelecer uma educação justa, para uma sociedade mais justa, no período pósguerra. Essa proposta estava fundamentada nos princípios de justiça, dignidade, orientação e cultura geral. Além do Plano Langevin-Wallon, as idéias do autor sobre educação foram expostas em artigos e conferências. Questões pedagógicas, como a reforma da universidade, os princípios da Escola Nova, a formação do professor, entre outras, foram reunidas em um número especial da revista Enfance, por ele fundada (o qual posteriormente foi transformado no livro Psicologia e Educação da Infância, 1973). Almeida mostra que a teoria de Wallon e sua atuação como 12 professor possibilitam ricas reflexões para a qualidade do processo ensinoaprendizagem. Para Galvão (2002), as obras desse teórico apresentam expressivas reflexões pedagógicas. De acordo com a autora, a teoria walloniana explica as características das ações das crianças nas diversas etapas do desenvolvimento humano; por isso, pode auxiliar a educação na estruturação de métodos e objetivos que atendam aos interesses e às necessidades do aluno, promovendo o seu progresso em várias dimensões, colaborando com a melhora da qualidade do processo educativo. Nesse contexto de experiências vividas e no contato com as idéias das autoras, surgiu o interesse pela questão da afetividade, que fez parte do meu Trabalho de Conclusão de Curso - TCC. O interesse pelo assunto foi crescendo na medida em que fui estudando e debatendo com os colegas a importância de se pensar sobre as emoções e os sentimentos no processo ensino-aprendizagem. Nas discussões, percebia que a questão da afetividade era associada apenas às manifestações de carinhos físicos e de elogios, sendo considerada como necessária somente para o professor que trabalha com crianças pequenas. Com a intenção de aprofundar meus estudos sobre esse tema, procurei o mestrado em Educação: Psicologia da Educação. Inicialmente, apesar de não ter o problema delimitado, sabia que queria dar voz aos alunos, pois eles têm muito para dizer, e também discutir a adolescência, mostrando a importância da afetividade em qualquer momento da vida. A partir da revisão de literatura, tive contato com diversas produções acadêmicas da área; alguns trabalhos que tratam da questão da afetividade e da adolescência na escola foram selecionados e serão discutidos. Ao mostrar os trabalhos produzidos, é possível ter um panorama do que está sendo abordado a respeito da temática em questão. Desse modo, pode-se constatar as lacunas presentes, buscando investigar o que ainda não foi contemplado pelas pesquisas realizadas. Neste estudo, faz-se um recorte do tema adolescência e escola, com a intenção de contribuir para o avanço das investigações nesse campo. 13 A partir de um levantamento realizado no Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia da Educação, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo – FEUSP e em alguns periódicos da área de Psicologia e Educação, foram encontrados vários autores que revelam a importância de se pensar na afetividade na escola, bem como nas relações dos adolescentes com o contexto educacional. Entre os trabalhos que abordam o tema desta pesquisa, foram selecionados aqueles que tratam do contexto regular de ensino, tanto do Ensino Fundamental – ciclo II, como do Ensino Médio. É fundamental compreender a constituição da adolescência, sobretudo do ponto de vista do próprio adolescente: como ele compreende esse momento da vida, como percebe as relações que estabelece com outros jovens e adultos, como vê a escola, o que sente e o que pensa sobre sua vida e seu futuro. Com esse objetivo, Temponi (1997) realizou um estudo que caracterizava o aluno da 5ª série do primeiro grau. Nesse trabalho, os estudantes tiveram a oportunidade de discutir diversos assuntos. Falaram de suas relações com a família, com os amigos e com a escola. Além disso, discorreram também sobre eles mesmos, suas preferências, afetividade, drogas, aids, sexualidade, planos futuros, entre outros assuntos. Nas falas, os adolescentes forneceram elementos importantes para a compreensão da fase pela qual estavam passando, oferecendo sugestões aos professores e ao sistema de ensino. Os participantes da pesquisa mostraram a compreensão de si no presente e, dentro das possibilidades da idade, projetaram-se no futuro. Também com o objetivo de compreender a adolescência, Dér (2001) procurou saber qual a proposta de adolescência e de adolescente apresentada na teoria de Henri Wallon. Nesse estudo, a pesquisadora analisou os escritos do autor e de outros estudiosos de sua teoria a respeito da adolescência. Na análise, ao constatar as comparações entre as atividades típicas dessa fase e as atividades desenvolvidas nas etapas anteriores, pôde perceber que a adolescência é uma parte importante na teoria walloniana, uma fase fundamental para a consolidação da identidade; é um momento de escolhas e de definição dos valores morais. 14 Ozella e Aguiar (2007) também buscaram compreender esse momento da vida. Para isso, realizaram um estudo com adolescentes entre 14 e 21 anos, de diferentes classes sociais (A, B, C, D, E) e de três grupos étnicos (brancos, negros e orientais), com o objetivo de apreender a concepção que os jovens apresentavam sobre adolescência / adolescente e como entendiam a passagem para a idade adulta. Os pesquisadores verificaram que os adolescentes reproduziram em seus discursos concepções socialmente construídas sobre esse momento da vida, mostrando uma percepção que naturaliza a adolescência. Os modos de significação apresentaramse distintamente conforme a classe social, o grupo étnico e a idade. De maneira geral, foram atribuídas à adolescência características, tais como: momento de crise, rebeldia, transitoriedade, turbulência, tensão, ambigüidade e conflito. Essa visão de adolescência foi mais evidente nos grupos A e B. Nos outros grupos (C, D e E) de menor poder aquisitivo, apareceu a preocupação de conseguir um trabalho e poder sustentar a família. Os autores constataram que, para os participantes da pesquisa, sair da adolescência implica responsabilidade, entendida de diferentes formas, como mudanças de comportamentos, perda de coisas boas e de situações prazerosas. Ozella e Aguiar (2007) observaram que a razão e a afetividade marcaram as diferenças entre os gêneros. Os aspectos afetivos tiveram grande importância para as jovens de todas as classes sociais, sendo que o sofrimento foi mais apontado pelas jovens das classes C, D e E. Em contrapartida, os jovens valorizaram a característica de observador e não mencionaram as questões afetivas. A pesquisa possibilitou conhecer uma adolescência diversa da apresentada nos manuais de psicologia, vivenciada de diferentes modos. Os pesquisadores apontaram a importância de se compreender o adolescente real, situado em um contexto histórico, social e cultural. Os três trabalhos trouxeram colaborações para a compreensão da adolescência, tanto do ponto de vista da teoria como do ponto de vista do próprio adolescente. Outras pesquisas que serão apresentadas a seguir complementam os estudos anteriores, pois tratam das emoções e sentimentos do jovem e da sua relação com a escola. Ardito (1999) realizou um trabalho com o objetivo de investigar as concepções do adolescente frente à raiva no dia-a-dia escolar. Os jovens fizeram críticas 15 contundentes aos professores, à direção e aos outros funcionários da escola, pois se sentiram desrespeitados, humilhados e acusados injustamente em diversas situações do cotidiano escolar. Os participantes da pesquisa apontaram sugestões para a melhora do trabalho de todos, tais como, o professor dialogar com o aluno, colocar-se no lugar dele, permitir a troca entre os estudantes, deixar de ser autoritário e ser mais sensível às necessidades dos educandos, buscar analisar os fatos, corrigir o erro do aluno sem humilhá-lo e respeitá-lo em todas as situações. Por outro lado, Gonçalves (2005) sentiu a necessidade de abordar o tema da alegria na escola, acreditando que ela esteja presente no contexto escolar, e que exista o lado prazeroso de estar na instituição. A investigação, que se utilizou de redações para a coleta de dados, tinha como objetivo identificar e compreender o que provocava a alegria em adolescentes na escola e qual era o impacto causado pela alegria. Nas redações, os adolescentes revelaram também situações que causavam tristeza, o que levou a pesquisadora a trabalhar também esse sentimento. Segundo ela, a alegria esteve presente em várias situações do cotidiano escolar, fazendo parte da realidade dos sujeitos pesquisados. As situações provocadoras do sentimento e emoção alegria apontaram que o adolescente se preocupa consigo mesmo e com o outro, e que precisa ter contato com o outro para individualizar-se. Essas situações estavam relacionadas ao conhecimento, ao espaço e à rotina escolar, aos amigos, professores e ao sexo oposto. Um elogio poderia despertar alegria no aluno, assim como um bom desempenho nas provas. Em uma outra perspectiva, Costa e Koslinsk (2006) buscaram conhecer a visão dos alunos acerca da escola. Realizaram um estudo com adolescentes das 7ª e 8ª séries, de três escolas públicas e duas privadas, de diferentes contextos sociais do município do Rio de Janeiro. O objetivo desse estudo foi o de saber qual a percepção do aluno sobre a educação escolar e a quais aspectos essa percepção poderia estar associada. Os autores buscaram compreender se os fatores socioeconômicos e familiares seriam responsáveis por baixas expectativas escolares e de futuro e, conseqüentemente, pela menor adesão por parte dos alunos aos procedimentos e comportamentos esperados pela escola. Os pesquisadores observaram contrastes acentuados nas percepções dos alunos. As expectativas de um futuro profissional e escolar foram bem distintas conforme as 16 origens socioeconômicas dos estudantes; uma mesma instituição mostrou resultados diferentes. O valor da escola e dos estudos para o futuro, bem como a necessidade da educação no presente, foram mais destacados pelos grupos que reuniam os estudantes com boas notas, das melhores turmas, de melhores escolas e de condições socioeconômicas mais favoráveis. Para alunos de condições menos favorecidas, de escolas mais afastadas do centro e de turmas que não apresentavam boas notas, a importância da escola para a definição do futuro e no presente foi menor. Os resultados apontaram que as experiências escolares interferem na relevância, em maior ou menor grau, que o aluno dá à escola. Nesse sentido, percebe-se a importância de ouvir o que os alunos têm a dizer sobre as emoções e sentimentos vivenciados por eles no espaço escolar e sobre a relação com os colegas, professores e outros. Além disso, constata-se que é imprescindível compreender o que está por trás dessas falas porque suas necessidades, desejos e angústias oferecem subsídios aos profissionais para a elaboração de propostas de ensino. Almeida (1993) retrata a questão da afetividade e do desejo na relação ensinaraprender. Segundo ela, o processo ensino-aprendizagem só é possível quando há interação entre as pessoas e a compreensão de que inteligência, afetividade e desejos estão interligados. Nesse estudo, a autora se refere à relação alunoprofessor, mas não especifica se é uma relação presencial ou não. Quando se fala em interação entre as pessoas, é preciso ter clareza de que ela não ocorre somente na presença física do ser humano; a interação pode acontecer também por meio de um livro, de uma música, do ensino a distância, da utilização das novas tecnologias, como videoconferência, teleconferência e Internet. Todos esses recursos permitem a interação entre as pessoas e a manifestação da afetividade. De acordo com Almeida (1993), a afetividade é uma das dimensões fundamentais presentes na relação ensino-aprendizagem e as condições de aprendizagem são instituídas nessa relação independentemente do objeto de conhecimento. Ela conclui que inteligência, afetividade e desejo devem estar articulados nas relações professor-aluno, permitindo variadas possibilidades de ações pedagógicas. 17 É pela interação com as diferentes possibilidades de troca entre os sujeitos que ocorre o desenvolvimento do ser humano. Saber o que afeta o aluno na sua relação com o conhecimento, colegas e professores é fundamental. Com essa preocupação, Günter (1993) realizou uma pesquisa com alunos da 7ª série do Ensino Fundamental com o objetivo de responder a três questões: 1) Quais os eventos positivos e negativos relacionados às experiências escolares; 2) Como se apresentam as relações sociais com os colegas; 3) Como se apresentam as relações sociais com os professores. Os resultados mostraram componentes relacionados aos eventos positivos e negativos na escola e às relações interpessoais com os colegas e professores. Foram apontados como eventos positivos: fazer parte de alguma equipe de esportes ou do coral, receber alguma recompensa ou elogio por alguma realização na escola, ser influenciado por algum professor, entrar na turma preferida e mudar para uma escola melhor. Não conseguir fazer parte de uma equipe, envolver-se em algum problema na escola, ser suspenso das aulas, ser reprovado, ser deixado de lado pelos amigos e mudar para uma escola pior foram eventos considerados negativos. Na análise, a autora percebeu que os alunos relataram mais eventos positivos do que negativos. As relações interpessoais com os colegas e professores mostraram fatores de apoio social e de estressores sociais. Na relação com os colegas, os indicadores de apoio social foram: colega da escola entende como o jovem se sente, colega na escola respeita a opinião do outro, colega na escola procura animar quem está triste ou preocupado e é possível contar com a ajuda dos colegas. Os indicadores de estressores sociais foram: discussões verbais com colega na escola, colega na escola que deixa nervoso, colega que fica zangado ou perde a paciência com o adolescente e troca de agressão física com algum colega na escola. Na relação com os professores, os indicadores de apoio social foram: professor realmente entende como o aluno se sente, o aluno pode contar com a ajuda do professor, o professor respeita a opinião do aluno, o professor tenta animar o aluno quando ele está triste ou preocupado e professores e alunos se divertem, riem ou brincam juntos. Os indicadores de estressores sociais foram: professor fica com raiva e perde a paciência, professor critica ou desaprova, professor deixa o aluno nervoso, professor e aluno já tiveram discussões verbais e trocaram agressões físicas. Os resultados 18 mostraram que a maioria dos participantes da pesquisa estava satisfeita com o seu grupo. Marriel et al. (2006) também procuraram compreender as relações interpessoais do aluno com os colegas e com os professores. Buscando um outro aspecto dessa relação, investigaram a associação entre auto-estima e a violência que acontece na escola. O objetivo desse estudo foi mostrar algumas manifestações físicas e verbais de violência que foram vivenciadas pelos alunos dentro da escola e verificar a relação dessas experiências com a auto-estima dos educandos. Os pesquisadores perceberam que todos os alunos estiveram sujeitos à violência na escola, pois em suas falas apareceram formas sutis de violência. Os autores constataram que os estudantes com baixa auto-estima apresentavam relacionamentos mais difíceis na escola, freqüentemente se colocavam na posição de vítimas da violência e não se sentiam bem na instituição. Houve tendência geral de bom relacionamento; entretanto, a relação entre os pares foi considerada como mais positiva do que com os professores. O bom relacionamento foi menos apontado por alunos com baixa auto-estima. A relação com os professores foi uma questão bastante abordada; os estudantes disseram que o autoritarismo dos educadores prejudica a relação, fazendo com que os educandos se fechem. Agressões verbais por parte dos professores também foram relatadas. Para Marriel e colaboradores, a escola precisa refletir e discutir sobre a violência, suas formas de prevenção e os possíveis reflexos no desenvolvimento da criança e do adolescente. Eles ainda apontaram a importância de se pensar em ações para o combate e a prevenção da violência na escola, mostrando a necessidade de o professor criar condições que gerem bem-estar nos alunos, aliviando conflitos vivenciados na adolescência. Concluíram que é preciso confiar e acreditar na capacidade dos estudantes, produzindo situações nas quais eles possam se expressar, possibilitando, desse modo, uma convivência prazerosa entre todos. Além dos trabalhos apresentados, verificaram-se também dois estudos que abordaram a afetividade na sala de aula. O primeiro discutiu a relação entre interesse e as atitudes de atenção e desatenção dos adolescentes (Dér 1996). O segundo mostrou a concepção do estudante sobre a relação entre professor e aluno 19 (Thomé 2001). Ambos fornecem informações importantes sobre o agradável e o desagradável para o aluno na sala de aula. Dér (1996) buscou compreender a relação entre o interesse e as atitudes de atenção e desatenção dos adolescentes na sala de aula, na perspectiva de alunos e professores. Em seu trabalho, a pesquisadora pôde perceber que não existe o aluno atento e o desatento; são as situações que favorecem ou dificultam a atenção deles. Os resultados mostraram que as atitudes de atenção e desatenção dos estudantes estavam relacionadas com as necessidades do adolescente. Os conteúdos apontados por eles como interessantes foram aqueles que colaboram para o desenvolvimento da identidade. Pôde-se perceber que o interesse tem caráter afetivo; ele desperta a atenção dos alunos, pois está ligado ao fato de os alunos gostarem, ou não, de alguma matéria, professor ou aula. As atitudes de atenção dos participantes da pesquisa apareceram como forma de retribuição aos professores que mostraram interesse por eles. A autora ressaltou que a ligação afetiva na relação professor-aluno pode contribuir para facilitar ou dificultar as atitudes de atenção. Assim como foi apontado na pesquisa de Ardito (1999), os estudantes entrevistados por Dér também revelaram como qualidades do educador: ter bom humor, respeito, amizade, gostar da classe e saber ouvir o que os alunos têm a dizer. O trabalho de Thomé (2001) chegou a resultados semelhantes ao pesquisar a concepção do adolescente sobre a relação entre professor e aluno. Nesse estudo, os alunos apontaram características positivas e negativas do professor na sala de aula. Dentre as positivas, estava a habilidade de manter a disciplina da classe, sabendo lidar com os problemas dos alunos em diferentes situações. Para os jovens, o educador deveria ter disposição para ouvi-los, valorizá-los, respeitá-los e motivá-los a aprender. Desvalorização, desrespeito, não ouvir o que aluno tem a dizer e falta de reciprocidade no relacionamento foram características apresentadas como negativas e dificultadoras da aprendizagem. A autora ressaltou que, quando há possibilidade de argumentação, o aluno deixa de ter medo de se posicionar, ficando mais confiante. 20 Os estudos relatados evidenciam a importância de se pensar em uma escola que exerça a sua função, garantindo o acesso e a apropriação pelo aluno dos bens culturais produzidos pela humanidade independentemente da sua origem social, econômica e cultural. Uma instituição capaz de estabelecer uma relação saudável com os estudantes, facilitando o processo ensino-aprendizagem, poderá realizar seu papel de forma mais eficiente. Percebe-se que há um consenso entre esses pesquisadores a respeito da necessidade de se falar da afetividade na adolescência e da relação do aluno com a escola (ensino, colegas e profissionais). Em contrapartida, essa temática enfoca diversas questões. Nos trabalhos selecionados, foi possível conferir características dessa etapa do desenvolvimento humano e conhecer emoções e sentimentos, tais como raiva e alegria, vivenciados pelos estudantes no contexto escolar. Apresentaram-se manifestações de violência, sua relação com a auto-estima dos estudantes e a necessidade de se pensar em ações que propiciem bem-estar aos adolescentes na escola. Tratou-se ainda da importância da afetividade e do desejo na relação ensino-aprendizagem, da relação entre interesse, atenção e desatenção e da visão que o jovem tem da sua relação com o professor. As pesquisas selecionadas mostram a importância de se dar voz ao jovem; suas falas fornecem pistas das suas necessidades. Ouvi-los sobre o que têm a dizer da escola que freqüentam pode oferecer pistas importantes aos profissionais que trabalham com a educação independentemente do nível de ensino. Além disso, novos dados fornecem sempre novas pistas, pois as diferentes realidades podem mostrar diferentes relações. Esses trabalhos foram importantes para esclarecer melhor o problema desta pesquisa; serviram também para mostrar que a área possui lacunas; as investigações apresentadas limitam o foco em um aspecto da relação do aluno com a escola, abrindo espaço para que ele fale de um sentimento ou de um assunto específico. Acredita-se que isso pode restringir o que o adolescente tem a dizer. Portanto, as produções revelam que ainda é preciso pesquisar mais sobre as emoções e os sentimentos vivenciados e as relações estabelecidas no espaço escolar. Saber o que agrada e desagrada ao aluno pode fornecer subsídios para ações que promovam uma relação mais agradável do jovem com a escola e, 21 conseqüentemente, com o conhecimento. No entanto, cabe ressaltar que uma relação agradável não significa a isenção de conflitos e oposições, pois é preciso compreender que isso faz parte do desenvolvimento e das relações humanas. Diante do exposto, este trabalho está assim constituído: Capítulo 1. A teoria de Henri Wallon e a adolescência – traz uma explanação acerca da teoria de Henri Wallon, suas idéias sobre o processo de desenvolvimento humano e sobre a adolescência. Nele, trata-se da importância do meio e do outro para a constituição do adolescente e da importância de se pensar na totalidade do indivíduo e nas suas diferentes dimensões afetiva, motora e cognitiva, ressaltando a afetividade. Capítulo 2. Procedimentos metodológicos – apresenta os procedimentos metodológicos, explicitando os caminhos percorridos para a realização da pesquisa, a delimitação do problema, as decisões tomadas para a obtenção de informações, a opção pela redação como instrumento de pesquisa, e faz uma breve caracterização da escola e dos participantes. Capítulo 3. Análise dos dados – os dados são discutidos à luz do referencial teórico e os resultados são comparados aos das pesquisas apresentadas na revisão de literatura deste trabalho. Capítulo 4. Considerações finais. 22 1. A teoria de Henri Wallon e a adolescência 1.1 O processo de desenvolvimento e a adolescência na perspectiva walloniana Na teoria de Henri Wallon, o desenvolvimento humano é um processo contínuo, de transformações, decorrentes da integração organismo-meio. Tanto o organismo como o meio social têm igual importância para o desenvolvimento. Esse processo que vai do nascimento até a morte, comporta estágios, por Wallon denominados: impulsivo emocional (0 a 12 meses), sensório motor e projetivo (1 a 3 anos), personalismo (3 a 6 anos) categorial (6 a 11 anos) e puberdade e adolescência (a partir dos 11-12 anos). Suas características são estabelecidas pela maturação orgânica e pelas condições materiais e culturais da existência humana; não é a idade cronológica que possibilita a passagem de um estágio a outro, mas as condições que se apresentam para o desenvolvimento. Em cada estágio existe uma pessoa completa, resultante da integração de quatro conjuntos funcionais: afetividade, ato motor, conhecimento e pessoa. Há uma sucessão de preponderância entre afetividade, ato motor e conhecimento. Dependendo da situação vivenciada pelo indivíduo em um determinado espaço/tempo ou do estágio de desenvolvimento, haverá o predomínio de um dos conjuntos funcionais. Sendo assim, o desenvolvimento segue em duas direções: há estágios em que o indivíduo está voltado para o conhecimento de si mesmo – direção centrípeta, e há estágios em que o indivíduo está voltado para o conhecimento do mundo exterior – direção centrífuga. Pode-se dizer que a constituição da pessoa será composta por momentos afetivos e cognitivos, porém isso não se dará de forma separada, mas sim articulada. Nas palavras de Dantas: Nos momentos dominantemente afetivos do desenvolvimento o que está em primeiro plano é a construção do sujeito, que se faz pela interação com os outros sujeitos; naqueles de maior peso cognitivo, é o objeto, a realidade externa, que se modela, à custa da aquisição de técnicas elaboradas pela cultura. Ambos os processos são, por 23 conseguinte, sociais, embora em sentidos diferentes: no primeiro, social é sinônimo de interpessoal; no segundo, é o equivalente de cultural. (DANTAS, 1992, p. 91) Na adolescência, o jovem se volta para o conhecimento de si, pois o seu desenvolvimento toma uma direção centrípeta. Esse estágio se inicia por volta dos 12 anos de idade e pode ser comparado ao do personalismo. No entanto, ambos abrigam algumas diferenças. Enquanto no personalismo a criança tende a imitar o adulto, na puberdade e adolescência, o jovem busca se diferenciar do adulto de qualquer forma. As duas etapas são de grandes modificações subjetivas (WALLON, 1941/2005, 1973/1980a)1. De acordo com Wallon (1973/1980a), o estágio da puberdade e adolescência marca a última etapa da vida que separa a criança do adulto. Para ele (1956/1980), a puberdade é um fato biológico; sua importância psicológica e social, bem como seus efeitos variam conforme as diferenças sociais e os modos de vida de cada época. As transformações corporais e psicológicas acentuam as diferenças entre os gêneros. Essas mudanças têm significados próprios nas diferentes civilizações. O desenvolvimento orgânico e psíquico possibilita o fortalecimento da compreensão da consciência de si, da dimensão temporal e do pensamento categorial, que é a capacidade de variar as classificações de acordo com as qualidades e definir suas diferentes propriedades. (WALLON, 1973/1980b, p. 138). O jovem não necessita mais do concreto e já pode pensar a partir do abstrato, o que permite o poder de análise e reflexão dos fatos. Conforme escreveu o autor: Em presença das mudanças que nele se operam, tem a impressão do mistério, o que o torna mais indeciso nas suas relações sociais, embora muitas vezes também agudize a sua actividade intelectual. Saindo do positivismo raso da idade anterior, parece-lhe indispensável a razão de ser das coisas e das pessoas, a sua origem o seu destino. (WALLON, 1973/1980b, p. 139) 1 As datas correspondem respectivamente aos anos de publicação da obra e da edição usada na pesquisa. 24 O adolescente passa a refletir sobre seu destino e suas responsabilidades, sobre a razão e o valor de tudo o que está à sua volta. Busca o significado e a explicação para as relações que manteve até então, questiona sobre si mesmo, sobre os outros, sobre os valores morais, indo além do que está aparente. Deseja saber sobre o problema da realidade e da origem dos fatos, procurando compreender as leis que regem o mundo. De acordo com Wallon (1973/1980a), nesse estágio, instala-se uma crise que desequilibra de forma intensa a relação do adolescente com o seu meio. Vale ressaltar que essa crise se manifesta de forma diferenciada, pois é conseqüência da interação do indivíduo com seu meio e não da sua psicogênese. O autor deixa claro que as “[...] divagações sentimentais não atingem em todos o mesmo grau. Podem ser freadas pelas exigências da vida prática e pelo contacto directo com as realidades da vida quotidiana [...]” (WALLON, 1973/1980a, p. 70). Essa crise se inicia por uma oposição, “[...] mas que visa menos as pessoas do que, através delas, os hábitos de vida de tal modo costumeiros, as relações de tal modo inveteradas, que até aí a criança nem sequer parecia dar pela sua existência”. (WALLON, 1941/2005, p. 208). O adolescente deixa de aceitar os hábitos que adquiriu na infância e passa a não admitir o controle dos pais. Ele perde suas próprias raízes, as de seu passado, de seus hábitos e de sua família. Tem a sensação de que está se transformando em outra pessoa; não sabe se é ele ou o seu entorno que está mudando. Ele deseja a mudança ao mesmo tempo em que a teme. O jovem reconhece-se contraditório e preocupa-se com isso. O adolescente busca por um par ideal, real ou imaginário, para ser o seu complemento, e sente a necessidade de se unir a outros que possuem os mesmos gostos e ideais; precisa compartilhar seus segredos com os amigos; além disso, anseia por aventura, por ultrapassar a vida cotidiana, conhecer novos lugares, ir além do que conhece (WALLON, 1973/1980a). Segundo Wallon, esses desejos podem ser realizados por fantasias ou ações reais. Desse modo, o adolescente pode unir-se a seus pares em função de valores éticos ou criminosos. É um momento de opções, no qual o adolescente institui relações 25 com a sociedade, que podem ser aptas ou não, mas tudo isso dependerá da orientação recebida do adulto e do seu meio. Nesse sentido, a instituição educacional pode orientar os jovens em direção aos valores pautados nos princípios da ética e do respeito. Como reforça Wallon: É preciso utilizar esse gosto de aventura, esse gosto de ultrapassar a vida quotidiana, esse gosto de se unir a outros que têm os mesmos sentimentos, as mesmas aspirações, esse gosto de ultrapassar o ambiente actual, para ajudar a criança a fazer a sua escolha entre os valores em presença, que podem ser por vezes valores criminosos, mas também valores sociais, valores morais. (WALLON, 1973/1980a, p. 221) Para ele, é preciso desenvolver nos adolescentes o espírito de responsabilidade social. Pode-se concluir então que a escola precisa ter uma ação intencional, planejada e sistematizada, e isso difere sua atuação dos demais meios de socialização. A instituição deve garantir a apropriação dos conhecimentos socialmente construídos, inserindo o aluno no mundo social e do trabalho. Ela tem um papel fundamental na formação do cidadão, e suas ações devem ser traçadas em função do sujeito que se pretende formar. Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s (BRASIL, 1998) também acentuam que é preciso ter coerência entre o que se faz na escola e o que se pretende ensinar nela. Sendo assim, não se podem esperar mudanças de atitude em relação ao meio ambiente se na escola não acontecem práticas pautadas nesse valor. Do mesmo modo, não é possível ensinar valores éticos e morais se na escola não se desenvolvem práticas pautadas em princípios éticos de justiça, solidariedade e respeito. É preciso criar possibilidades reais de vivenciar tais atitudes e valores, mostrando que são viáveis e possíveis de serem executados. 1.2 A escola na teoria walloniana 26 Para exercer plenamente sua função mediadora e socializadora, a instituição escolar precisa compreender as especificidades do seu público: o que pensa, o que sente, suas necessidades, desejos, angústias, o que espera do futuro, como percebe e valora o espaço escolar. Ao conhecer os interesses e as necessidades do aluno, a escola pode pensar em um ensino que lhes atenda adequadamente. De acordo com Almeida (2004), Wallon mostrava grande respeito pela instituição escolar. O autor tinha um ideal de escola e chegou a imprimi-lo em um projeto que elaborou junto com o físico Paul Langevin para a reforma do ensino francês, o plano Langevin-Wallon. Os idealizadores do projeto (1969) acreditavam que a estrutura do ensino deveria ser adaptada à estrutura social, considerando a diversidade cultural, étnica, social e geográfica dos alunos. Propuseram uma escola para todos independentemente da origem ou condição do indivíduo. Desse modo, alunos com deficiência, das classes trabalhadoras ou de diferentes regiões geográficas tiveram suas necessidades consideradas. Todos tinham direito ao desenvolvimento máximo, por isso o ensino deveria oferecer possibilidades iguais, permitindo o acesso aos bens culturais. O Plano entendia a escola como um centro de difusão da cultura que deveria transmitir os conhecimentos historicamente construídos. Pretendia-se a formação plena do cidadão, uma formação integral que visasse à humanização. Para isso, pautava-se nos princípios de justiça, igualdade e orientação (escolar e profissional). A escolarização era obrigatória entre 6 e 18 anos de idade. O ensino era dividido em ciclos, cada um correspondendo a uma determinada faixa etária e organizado de acordo com os interesses e necessidades desta, mas sempre levando em conta o ritmo de cada indivíduo, buscando desenvolver as potencialidades do aluno independentemente de sua origem social e econômica. O primeiro ciclo escolar era destinado às crianças entre 7 e 11 anos; o segundo atendia alunos entre 11 e 15 anos de idade e o terceiro, alunos entre 15 e 18 anos. A proposta para o segundo e o terceiro ciclo estava voltada para a orientação e para a escolha de uma área. No segundo ciclo, era preciso assegurar a aquisição dos conhecimentos gerais e orientar os alunos conforme suas habilidades. Os estudantes deveriam ser sistematicamente observados para que fosse possível 27 descobrir suas aptidões e assim orientá-los adequadamente. O terceiro ciclo era um período de escolhas, entre estudos teóricos, profissionais ou práticos. É importante ressaltar o quanto o plano Langevin-Wallon é atual: propõe uma escola para todos, que considera a diversidade de seus alunos, forma o cidadão consciente de seus direitos e deveres, possibilita o acesso à cultura, realiza a avaliação do processo fundamentada na observação e no registro, com métodos ativos que permitem a participação do estudante e o exercício de escolha. As idéias contidas na proposta poderiam iluminar, influenciar, ou ao menos sugerir políticas públicas mais eficazes de ensino. 1.3 A importância do meio e do outro na constituição da pessoa do adolescente Para Wallon, o indivíduo tem um potencial orgânico, mas é o meio em que ele vive que possibilitará o desenvolvimento das funções afetivas, motoras e cognitivas. Movimento, percepção, exploração do espaço, manipulação dos objetos, linguagem e outras atividades podem ser bloqueados ou favorecidos pelo meio. Segundo o autor: A função precisa de excitantes apropriados, ainda que fictícios. É durante este período que entra em ligação com diversas atividades – perceptivas ou motoras – das quais poderão depender, em seguida, aptidões por vezes consideradas autônomas, ao passo que devem a sua eficiência ou sua deficiência a associações de base que se formaram ou não anteriormente. (WALLON, 1979, p. 57-58) Sendo assim, entende-se que o meio humano e físico precisa oferecer estímulos variados, atividades adequadas e desafiadoras para o pleno desenvolvimento das funções. A escola é considerada um meio no qual se deve privilegiar a aquisição dos conhecimentos historicamente acumulados. Entretanto, é preciso ressaltar que para fazê-lo, não pode esquecer de que se está tratando com indivíduos que possuem, além da dimensão cognitiva, as dimensões afetiva e motora. 28 O contexto social, histórico e cultural em que o indivíduo vive tem grande importância na teoria walloniana; não é possível compreender a constituição humana fora da totalidade. Wallon afirma que: A constituição biológica da criança ao nascer não será a lei única do seu futuro destino. Os seus efeitos podem ser amplamente transformados pelas circunstâncias sociais da sua existência, donde a escolha pessoal não está ausente. (Wallon, 1973/1980a, p. 165) Assim sendo, constata-se que o indivíduo possui um organismo que se desenvolve, e o meio em que ele vive potencializará suas habilidades. O meio social estabelece histórica, social e culturalmente as condições de existência coletiva e, desse modo, oferece diferentes possibilidades aos sujeitos, que se constituem e se transformam a partir das relações sociais. Na perspectiva walloniana, o indivíduo é geneticamente social (WALLON, 1973/1980a, p. 159), humaniza-se e individualiza-se nas relações com os outros indivíduos. No início da vida, o outro significa a sobrevivência, pois o recém-nascido precisa do adulto para a satisfação das suas necessidades básicas, tais como a alimentação, a higiene e a locomoção. Inicialmente, essas necessidades precisam ser interpretadas pelo outro para que sejam atendidas. A partir das interações estabelecidas com o adulto, o bebê fará associações entre a resposta obtida e a necessidade atendida. É a partir da relação com o outro que a criança se percebe e se constitui como pessoa. O processo de constituição da personalidade2 permeia toda a vida. Tem início por volta dos três anos de idade, quando a criança começa a fazer diferenciações entre o eu e o outro. Essa constituição do eu não se dá de forma clara e passiva; na tentativa de individualizar-se, busca expulsar o outro, opondo-se a ele, mas ao mesmo tempo dependendo dele (WALLON, 1973/1980a). 2 “A palavra personalidade é considerada aqui no sentido do ser total, físico-químico e tal como ele se manifesta pelo conjunto do seu comportamento”. (WALLON, 1873/1980b, p.131). No contexto desta pesquisa personalidade será usada na acepção dada por Wallon. 29 Segundo Wallon (1973/1980a), na adolescência, essa diferenciação torna-se mais evidente, pois o jovem procura se distinguir das idéias, costumes e valores que o adulto representa. Ele vivencia um momento de questionamentos, de ressignificação das relações estabelecidas até então, de consolidação de valores. Desse modo, o outro exerce papel fundamental em sua vida. Os adultos representam o outro que o adolescente tenta negar, quer se opor. Os grupos de amigos dos quais participa são o apoio para que ele possa encontrar no outro um igual, alguém que está passando pelo mesmo momento da vida. Nesse sentido, o outro acompanhará o indivíduo desde seu nascimento, seja para uma relação de dependência, de complemento ou de oposição. O outro ou socius, na perspectiva de Wallon, não representa apenas uma pessoa, mas sim toda a cultura e aquilo que é produzido por ela; portanto, um livro, uma música ou um filme, por exemplo, podem participar ativamente do processo de constituição da personalidade do indivíduo, ou do seu eu psíquico, como o autor denomina. Para ele: O socius ou o outro é um parceiro perpétuo do eu na vida psíquica. É normalmente reduzido, inaparente, contido e como que negado pela vontade de dominação e de integridade completa que acompanha o eu. No entanto, toda a deliberação, toda a indecisão é um diálogo às vezes mais ou menos explícito entre o eu e um objectante. (WALLON, 1973/1980a, p. 159, grifo do autor) Existe um diálogo entre o eu e o socius, que é um integrante do eu, mas que vem de fora e aparece, na forma de posições contraditórias nas situações complicadas. Para Wallon (1973/1980a), a fronteira entre o eu e o outro pode desaparecer em alguns casos. Constata-se, desse modo, a estreita relação entre os indivíduos que, imersos na cultura, muitas vezes não refletem sobre suas escolhas, se são guiadas por eles mesmos ou pelas influências culturais. Escreveu Wallon: As pessoas do seu meio não são em suma senão ocasiões para o sujeito se exprimir ou se realizar. Mas se lhes pode dar vida e consistência fora dele, é porque fez nele a distinção do seu eu e do que dele é o complemento indispensável: esse estranho essencial 30 que é o outro. A distinção não é como que um decalque abstrato das relações habituais que o sujeito pode ter tido com as pessoas reais. Resulta da bipartição mais íntima entre os dois termos que não poderia existir um sem o outro, embora ou porque antagonistas, sendo a afirmação da identidade consigo próprio e resumindo o outro o que se deve expulsar desta identidade para a conservar. (WALLON, 1973/1980a, p. 158-159) É no exercício de comparação e oposição ao outro que o indivíduo desenvolve a consciência de si. Desse modo, o grupo é um importante referencial para a criança, “[...] é o veículo ou o iniciador de práticas sociais [...]” (WALLON, 1973/1980a, p. 178). Para Wallon, a participação em um grupo (família, escola, amigos) permite o desempenho de papéis variados e sua constituição se dará conforme a idade e as necessidades do sujeito. Segundo ele: Quer sejam temporários ou duradouros, todos os grupos têm objectivos determinados e a sua composição depende dos mesmos objectivos; do mesmo modo, a repartição dos cargos rege entre eles as relações dos membros e, se necessário, a sua hierarquia. Pode haver postos de iniciativa, de comando, de sustento, de submissão, de oposição crítica, na repartição dos quais se podem jogar relações interindividuais de caráter, não menos que as circunstancias. (WALLON, 1973/1980a, p. 173) Na adolescência, o grupo é formado em função de necessidades, tais como, ter alguém para confiar e para compartilhar os segredos, desejos, vontades, angústias e afinidades. O sentimento de amizade não se restringe aos pares; pode se estender também aos adultos (pais, tios, professores ou ídolos) com os quais os jovens se identificam. “É um ordenamento íntimo da pessoa que os grupos realizam fazendo penetrar nela as diversas categorias de relações com os outros” (WALLON, 1973/1980a, p. 178-179). A teoria walloniana deixa claro que é na interação que o sujeito se desenvolve e se manifesta. Entende-se então a necessidade de se pensar em uma escola que desenvolva nos estudantes uma personalidade segura e independente, favorecendo que eles tenham consciência de suas escolhas. A respeito da escolha, é importante esclarecer que “[...] o ato de escolher é uma das expressões únicas, singulares, 31 sociais e históricas do sujeito, revelador de sua subjetividade”. (AGUIAR, 2006, p.1314). De acordo com Aguiar (2006), as escolhas estão dentro de um contexto; fazem parte de um processo histórico, social e cultural, mediado pelas relações sociais que constituem o indivíduo e são constituídas por ele. Elas não se dão ao acaso ou de um modo natural; são conseqüências de um processo vivenciado pelo sujeito. Existem diferentes qualidades de escolhas e para entendê-las, é preciso perceber as condições vividas pelos indivíduos. 1.4 Afetividade e adolescência Afetividade, ato motor, conhecimento e pessoa são conjuntos ou domínios funcionais que estão integrados e coexistem entre si. Neste trabalho, tratar-se-á do conjunto afetividade. A afetividade pode ser compreendida como a capacidade que o ser humano tem de afetar e ser afetado pelo mundo interno e externo por sensações agradáveis ou desagradáveis (Mahoney e Almeida, 2005), sensações que correspondem aos estados de bem-estar e de mal-estar. A afetividade tem origem nas sensibilidades interoceptiva, proprioceptiva e exteroceptiva3. Esse domínio funcional é marcado por uma evolução que acompanha o decurso do desenvolvimento do indivíduo, revelando-se de forma distinta nos diferentes estágios da vida. As manifestações que inicialmente são inconscientes, involuntárias e esporádicas tornam-se conscientes e voluntárias. No processo de constituição humana, a emoção dá espaço à atividade cognitiva, mas ambas se desenvolvem simultaneamente. Na perspectiva walloniana, “[...] a razão nasce da emoção e vive da sua morte [...]” (DANTAS, 1992 p. 86). 3 Sensibilidade interoceptiva – sensações viscerais, reúne os sinais dos órgãos internos. Ex: sensações de fome, cólica etc. Sensibilidade proprioceptiva – sensações musculares, relacionadas ao movimento do corpo e ao equilíbrio dele no espaço. Sensibilidade exteroceptiva – sensações voltadas para o mundo exterior. 32 A representação reduz a emoção e possibilita uma imagem mais clara e definida das situações e “Inversamente, sempre que prevaleçam de novo atitudes afectivas e a emoção correspondente, a imagem perderá a sua polivalência, obnubilar-se-á, desaparecerá” (WALLON, 1941/2005, p. 144). Independentemente da idade, isso pode acontecer nos momentos novos e difíceis, “[...] derrota do raciocínio e das representações objetivas pela emoção” (ibdem, p. 144). A relação entre os fatores orgânicos e sociais dá origem ao desenvolvimento da afetividade, que se desdobra em emoção, sentimento e paixão. A emoção é um mecanismo de sobrevivência da espécie humana, e dentre os aspectos que envolvem a afetividade, foi o que apresentou maior espaço nessa teoria. Nela, há um predomínio orgânico incontrolável. É a expressão corporal e motora da afetividade. No sentimento, existe o componente representacional; não envolve uma reação direta e rápida como a emoção. Na paixão ocorre o autocontrole das emoções e dos sentimentos. A emoção contagia e estabelece a relação entre os sujeitos, possibilitando as interações sociais e a constituição da consciência. É um meio de expressão que se refina a partir das relações, um instrumento que possibilita a comunicação. Para o autor: As emoções, que são a exteriorização da afetividade, estimulam mudanças que tendem, por um lado, a reduzi-las. [...] As relações que elas tornam possíveis afinam os seus meios de expressão, e fazem deles instrumentos de sociabilidade cada vez mais especializados. Mas à medida que, tornando-se mais precisos, o seu significado os torna mais autônomos, separam-se da própria emoção. Em vez de serem a sua onda propagadora, tendem a reprimi-la, a impor-lhe diques que quebram a sua potência totalizadora e contagiante. (WALLON, 1941/2005, p. 143) A emoção decorre da função postural e corresponde a variações viscerais e musculares do tônus. Pode-se dizer que ela é a expressão ou atitude diante de uma situação. Segundo Wallon (1941/2005), existe um campo de percepção e de ação entre as atitudes emocionais das pessoas, e esse campo se constitui nas relações. As trocas 33 e os ritos envolvendo as expressões dos indivíduos possibilitaram a compreensão de uma determinada expressão, modificando-a e transformando-a de meio natural em mímica convencional. A adolescência é um estágio de preponderância afetiva no qual o jovem busca compreender o que acontece com ele, voltando sua atenção para questões de seu interesse. As mudanças corporais que ocorrem na puberdade provocam nos adolescentes mudanças psíquicas; surge um sentimento de estranheza diante de si mesmo. De acordo com Wallon (1973/1980a), os adolescentes sentem as mudanças e ficam desorientados. Tornam-se intolerantes para com os hábitos adquiridos na infância, em relação ao controle exercido pelos pais sobre eles, em relação mesmo à solicitude de que são alvo. A desorientação é acompanhada de descontentamento, dum desejo de mudança, mas inicialmente não sabem para o que dirigir. (WALLON, 1973/1980a, p. 218) Na adolescência, a vida afetiva é muito intensa e fatos corriqueiros ganham um peso extraordinário, revelando a preponderância da afetividade nesse estágio. A ambivalência de sentimentos e atitudes marca essa etapa da vida, surgem sentimentos de desacordo e inquietação, desejos de posse e sacrifício, oposição e conformismo, renúncia e aventura. Ao mesmo tempo em que o adolescente deseja seduzir, encantar e ser extravagante, sente-se intimidado e embaraçado com suas atitudes. O adolescente está vivenciando um momento importante da sua vida, de transformações físicas e psíquicas que provocam necessidades afetivas. Respeito, justiça e atenção são exemplos de expressões da afetividade exigidas e valorizadas pelos jovens. Na perspectiva walloniana, a afetividade evolui tanto quanto a inteligência: no início da vida, manifesta-se pelo contato físico, e ao longo do desenvolvimento, as manifestações afetivas se refinam e dão lugar a outras formas de expressão. 34 É fundamental que os gestores e professores conheçam as necessidades afetivas dos alunos e compreendam a importância de considerá-las em todos os momentos. 35 2. Procedimentos metodológicos Esta é uma pesquisa qualitativa que objetivou identificar, no contexto escolar, situações que agradam e que desagradam aos alunos da 8ª série do Ensino Fundamental, os sentimentos envolvidos nessas situações e as implicações educacionais dessas situações no processo ensino-aprendizagem. De acordo com Lüdke e André (1986), o estudo qualitativo desenvolvido no cotidiano da escola “[...] é rico em dados descritivos, tem um plano aberto e flexível e focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada” (p. 18). Sendo assim, essa abordagem possibilita uma flexibilização das ações implementadas pelo pesquisador, o qual pode participar do processo de pesquisa dentro do próprio contexto do estudo, pois “O objectivo dos investigadores qualitativos é o de melhor compreender o comportamento e experiência humanos” (BOGDAN E BUKLEN, 1994, p. 70). 2.1 Delimitação do problema de pesquisa Este trabalho buscou responder à seguinte questão: quais situações os alunos da 8ª série do Ensino Fundamental consideram agradáveis e desagradáveis na escola? Objetivou-se: - identificar, no contexto escolar, situações que agradam aos alunos da 8ª série do Ensino Fundamental; - identificar, no contexto escolar, situações que desagradam aos alunos da 8ª série do Ensino Fundamental; - identificar os sentimentos envolvidos nessas situações; - identificar as implicações educacionais dessas situações no processo ensinoaprendizagem. 36 2.2 Opções tomadas para a obtenção de informações 2.2.1 Escolha dos participantes O local da pesquisa foi uma escola pública da rede estadual de São Paulo, que recebeu o nome fictício de Escola Estadual Machado de Assis. Localizada na periferia da zona sul da capital, a instituição atende cerca de 1800 alunos do Ensino Fundamental - ciclo II (5ª a 8ª séries) e do Ensino Médio. Divide-se em três turnos com 16 salas cada, sendo que o primeiro é destinado às 8ª séries e ao Ensino Médio (1ª a 3ª séries). Pela manhã, são quatro salas para cada série. O turno intermediário atende as 5ª, 6ª e 7ª séries do Ensino Fundamental – ciclo II e a 1ª série do Ensino Médio. No noturno, funciona apenas o Ensino Médio. A escola recebe alunos do próprio bairro em que está situada e de bairros vizinhos. Voltada ao público do Ensino Médio, recebe estudantes da rede municipal para o ingresso nessa modalidade de ensino e mantém seus alunos que cursaram o ciclo II do Ensino Fundamental. Bem avaliada pela comunidade externa, apresenta grande participação dos pais; por isso, é muito procurada por famílias das classes trabalhadoras que mostram uma preocupação com a qualidade da educação e vislumbram um futuro universitário para seus filhos. Inclusive, alguns de seus alunos concluintes do Ensino Médio ingressaram em cursos de administração, economia e filosofia em universidades reconhecidas. 2.2.2 Escolha do instrumento O instrumento utilizado foi a redação. A escolha pela produção de texto deu-se por acreditar que este é um veículo de expressão no qual a exposição do sujeito é menor, pois não precisa falar em público, possibilitando ainda o anonimato. A comanda da redação foi: descreva uma situação agradável e outra desagradável que foram marcantes para você na escola (Anexo 2). 37 A aplicação ocorreu no final do segundo semestre de 2006 como uma atividade rotineira na aula de Língua Portuguesa. Portanto, os alunos estavam em situação habitual de ensino. Vale ressaltar que a professora mostrou-se interessada pela pesquisa, pois tem uma prática que considera a afetividade dos alunos, usando a redação como um veículo de expressão da subjetividade do adolescente, a professora costuma realizar atividades que envolvem a produção de texto para que os estudantes expressem o que estão sentindo. Faz isso, inclusive, quando percebe que o aluno apresenta problemas, mas não consegue aproximar-se dele. Ficou a critério da professora a escolha da 8ª série que participaria da atividade de produção de texto e, para não modificar o ambiente cotidiano, a pesquisadora não participou da aplicação; só depois da atividade, conversou com os alunos, explicando que gostaria de usar as produções para uma pesquisa acadêmica, se concordassem. Todos o fizeram. Além disso, falou também com os pais dos estudantes, que concordaram e mostraram interesse pelo trabalho. Participaram da atividade os 32 estudantes presentes à aula. Eles entregaram as redações e todas elas foram utilizadas para a análise de dados. Os nomes dos participantes da pesquisa foram trocados por nomes fictícios, que serão usados no decorrer da análise de dados (Anexo 3). 2.3 Opções tomadas para a análise das informações A análise dos dados realizou-se com base nas orientações propostas por Szymanki, Almeida e Prandini (2001): “Análise é o processo que conduz à explicitação da compreensão do fenômeno pelo pesquisador. Sua pessoa é o principal instrumento de trabalho, o centro [...]” (SZYMANKI, ALMEIDA E PRANDINI, 2001, p. 157). As autoras indicam o procedimento de explicitação dos significados para compreender melhor o discurso do participante da pesquisa. Dessa forma, são necessárias leituras e releituras dos depoimentos para que seja possível apreender o todo. A etapa seguinte é a compreensão das partes; é preciso desmembrar a fala do depoente para buscar seus significados. 38 Retomando, nesta pesquisa, utilizou-se como instrumento a redação, escrita por alunos da 8ª série do Ensino Fundamental. O primeiro procedimento para análise dos depoimentos foi a leitura das redações. Para sistematizar as informações, optouse pela elaboração de um quadro (anexo 1). Os depoimentos foram organizados, estabelecendo-se uma ordem na descrição das situações: transcreveu-se em primeiro lugar a situação agradável e em segundo, a desagradável. O quadro foi organizado em função dos objetivos propostos para esta pesquisa, contendo as seguintes colunas: alunos (nome dos participantes da pesquisa); redação (redação digitada na íntegra); explicitação dos significados (significados captados pela pesquisadora); sentimentos (foram inferidos sentimentos envolvidos nas situações descritas pelos alunos); necessidades (necessidades presentes nas situações captadas pela pesquisadora); implicações educacionais (implicação educacional de cada situação) e relação com a teoria (estabeleceu-se uma relação com a teoria para facilitar a análise dos dados). Após a elaboração do conteúdo do quadro, foram realizadas outras leituras das redações, com o intuito de desvelar o depoimento do aluno, buscando compreender os significados presentes em seu discurso e, assim, as colunas foram preenchidas. Com base no material obtido, depois da preparação do quadro, passou-se à definição das categorias. De acordo com Szymanki, Almeida e Prandini (2001): A categorização concretiza a imersão do pesquisador nos dados e a sua forma particular de agrupá-los segundo a sua compreensão. Podemos chamar este momento de explicitação de significados. Diferentes pesquisadores podem construir diferentes categorias a partir do mesmo conjunto de dados, pois essa construção depende da experiência pessoal, das teorias do seu conhecimento e suas crenças e valores. (SZYMANKI, ALMEIDA E PRANDINI, 2001, p. 161) Todos os relatos foram agrupados e foi possível estabelecer categorias e subcategorias, definidas com base na explicitação dos significados dos depoimentos dos alunos e com o respaldo do referencial de Henri Wallon, adotado nesta pesquisa. Nem todas as categorias e suas respectivas subcategorias contemplam 39 situações agradáveis e desagradáveis; algumas se referem às duas situações; outras, apenas às desagradáveis. As categorias definidas não são excludentes; o mesmo depoimento pode estar incluído em mais de uma delas. As categorias, subcategorias e seus respectivos conteúdos ficaram assim definidos: 1. Escola: espaço de conhecimento Nesta categoria, estão contidas as falas dos alunos sobre o ensino oferecido pela escola e o seu desempenho, envolvendo tanto as situações agradáveis como as desagradáveis. As situações agradáveis estão relacionadas ao ensino oferecido pela instituição, às possibilidades de aprendizagem encontradas e ao bom desempenho do aluno. Inversamente, as situações desagradáveis citam o uso inadequado dos recursos e espaços de que a escola dispõe e mostram a decepção por tirar notas vermelhas ou repetir o ano. Subcategorias 1.1 O ensino oferecido 1.2 O desempenho do aluno 2. Escola: espaço de interação Esta categoria compreende as falas dos alunos no que diz respeito às interações estabelecidas no espaço escolar. As situações agradáveis estão relacionadas à possibilidade de conhecer pessoas, fazer amigos, contar com os professores. Os momentos de descontração durante as festas e excursões também foram lembrados. Em oposição, as situações desagradáveis relatam os desentendimentos entre os adolescentes, a separação do amigo que sai da escola, o desrespeito por parte dos colegas e de uma funcionária, a falta de colaboração para com o trabalho do outro e para a preservação do espaço escolar, o desencontro em uma excursão e a desconsideração dos interesses dos alunos nas decisões sobre festas e excursões. 40 Subcategorias 2.1 A relação eu-outro 2.2 Os momentos de descontração e lazer 3. Escola: espaço de participação da família Esta categoria compreende as falas dos alunos referentes à presença da família na escola e revela a forte presença da mãe nesse espaço. As situações agradáveis relatam a participação da família e da comunidade em uma festa e a presença das mães na reunião de conselho e em um momento de premiação. Em oposição, as situações desagradáveis relatam a presença da mãe na escola nos casos de desentendimentos entre colegas. Subcategoria 3.1 A forte presença da mãe na escola 4. Escola: espaço da pessoa por inteiro Nesta categoria estão contidos relatos que descrevem conquistas pessoais e eventos extra-escolares que interferiram na atuação de uma aluna na escola. Nas situações agradáveis são citadas as participações e as vitórias em competições, a premiação recebida e a possibilidade de representar a escola nos campeonatos. Em oposição, as situações desagradáveis citam a derrota no campeonato, o questionamento com relação aos critérios de uma competição e dois outros fatores: estar no período de TPM e descobrir uma traição, que não aconteceram diretamente na escola, mas interferiram na rotina escolar da aluna. Subcategorias 4.1 As conquistas e derrotas em competições 4.2 Fatores extra-escolares que interferem na atuação do aluno na escola 41 5. Escola: espaço de reivindicação e questionamentos Esta categoria compreende os depoimentos que abordam os questionamentos, as desilusões e as reivindicações sobre o que acontece na escola; todos os relatos estiveram relacionados com as situações desagradáveis. Subcategoria 5.1 As falsas promessas 6. Escola: espaço de situações inesperadas Esta categoria se refere aos relatos envolvendo situações inesperadas na escola. Na situação agradável, encontra-se o depoimento de uma aluna sobre sua surpresa ao saber que venceu um concurso de redação. Nas situações desagradáveis, foram mencionados os acidentes na escola. Subcategorias 6.1 Receber um prêmio 6.2 Os acidentes Diante disso, no próximo capítulo, a análise dos dados será explicitada. É importante ressaltar que as informações coletadas possibilitaram olhar para a escola do ponto de vista do adolescente. Os dados permitiram verificar uma determinada escola, vivida pelos participantes desta pesquisa, que certamente seria descrita de forma diferente por indivíduos de outros contextos. Observaram-se, nesses participantes adolescentes, características semelhantes àquelas apresentadas no estágio da puberdade e adolescência proposto na teoria de Henri Wallon. Não se pretende, com isso, universalizar essas características, nem generalizá-las a outros jovens de outras escolas. Possivelmente, adolescentes de instituições pertencentes a outras realidades (classes sociais, regiões ou países diferentes) descreveriam situações diferentes. Conforme o autor escreveu na introdução de As origens do pensamento 42 na criança, obra que reúne os temas centrais dos cursos por ele ministrados no Collége de France, e na qual divulgou pesquisas realizadas com crianças entre 6 e 9 anos de idade: Esta pesquisa foi feita numa escola de Boulogne-Billancourt, onde se encontravam representados todos os elementos componentes da população dessa cidade. População semi-operária e semiburguesa: Operários da mecânica e da mineração, pequena burguesia de empregados e funcionários públicos. População que compreende, também, uma certa proporção de engenheiros e, particularmente, de italianos. É extremamente provável que, numa escola rural, por exemplo, o conteúdo de respostas teria sido diferente, como as relativas às plantas e à cultura. (Wallon, 1989, introdução, p. X) 43 3. Análise dos dados 1. Escola: espaço de conhecimento 1.1 O ensino oferecido Uma situação agradável foi quando houve o trabalho da Copa, todos participaram ajudando a concluir o trabalho, cada sala ficou responsável por um país e pesquisar sobre ele. Outras coisas agradáveis foram as palestras, que durante esse ano falaram sobre orientação sexual, sobre drogas, coisas que hoje em dia vem acontecendo. Marisa As situações agradáveis descrevem um ensino que permite a participação ativa do aluno em atividades diversificadas, atende a seus interesses, possibilita o trabalho em equipe, favorece a pesquisa e oferece a oportunidade de mostrar o que se faz na escola. Dez estudantes relataram o trabalho sobre a Copa4. Ver a escola cheia de gente para apreciar os trabalhos dos alunos foi recompensador para Kátia. A situação mais agradável que eu tive aconteceu neste ano aqui na escola, que foi quando teve uma exposição sobre a Copa de 2006. Falamos sobre todos os países, mas cada sala teve um assunto para pesquisar, foi realizada uma [exposição] na escola e em todos os horários, foi um tempo de muito trabalho, mas que valeu a pena, pois 4 O trabalho sobre a Copa foi um projeto que envolveu todas as séries, turnos e disciplinas. Duas ou três salas ficaram responsáveis por um dos países participantes da Copa de 2006; os representantes dessas turmas participaram de um sorteio para definir o país de suas turmas. Houve uma integração de toda a escola e salas da manhã fizeram o trabalho junto com salas da noite. Os professores distribuíram as tarefas, direcionaram os trabalhos, ajudaram com o material e fizeram o elo de ligação entre as turmas que tiveram de se comunicar para realizar os trabalhos. Os alunos fizeram pesquisas na Internet e visitaram consulados de alguns países. Pesquisaram sobre os aspectos geográficos e sociais, tais como: população, cultura, danças e comidas típicas. Foram destinadas duas aulas por semana para a realização do projeto, que durou cerca de um mês. Para o encerramento, foi realizada uma exposição na escola, aberta ao público em geral; nesse dia, houve apresentação dos trabalhos, fantasias, objetos e danças típicas dos países. 44 no dia da exposição tivemos uma mini festa que foi muito bom, as músicas foram as melhores, as salas estavam divinas e sem contar que estava lotada a escola. Foi muito bom! Todos gostaram e falam até hoje. Pra mim ficou guardado! Kátia A possibilidade de compartilhar o momento festivo com os colegas e com a comunidade e saber que todos gostaram e ainda fazem comentários sobre esse dia foi motivo de alegria e satisfação para a aluna. Isso deixa claro que a escola precisa valorizar as realizações dos estudantes e possibilitar espaços para divulgá-las, como pode ser constatado nos outros depoimentos a seguir: “Para mim, a situação agradável que eu passei na escola foi no dia que teve a apresentação da Copa. Foi muito legal, todas as minhas amigas vieram para mostrar os seus trabalhos”. Ana “Uma situação que marcou a minha vida foi quando teve a apresentação da Copa, que representei a República Tcheca. Foi muito bacana, teve muita música e apresentações”. Luciana Os depoimentos revelam que as alunas valorizam as situações de ensino quando encontram sentido no que fazem. Ver a escola cheia de gente para apreciar a exposição é agradável porque dá visibilidade ao que é produzido na escola, possibilitando a valorização e o reconhecimento de um trabalho que envolveu esforço coletivo. Percebe-se assim que os estudantes valorizam atividades que permitam a participação coletiva e o envolvimento de todos e possibilitem a construção do conhecimento de forma ativa e dinâmica porque envolvem várias tarefas, como a pesquisa, confecção de cartazes, elaboração de textos, organização da apresentação. Esse tipo de trabalho possibilita uma troca constante entre os 45 educandos e entre eles e seus professores. É interessante observar que o Plano Langevin-Wallon propõe um método de ensino ativo, assim descrito: Los métodos a emplear son los métodos activos, o sea aquellos que se esfuerzan por acudir para cada conocimiento o disciplina a las iniciativas de los mismos ninõs. Alternarán o trabajo individual y el trabajo de equipo, siendo uno y otro susceptibles de poner en acción las diferentes aptitudes del ninõ, ya sea haciéndole enfrentarse con los recursos que le son propios a las dificultades del estudio, ya sea haciéndole elegir un papel particular y una responsabilidad personal en la obra coletiva. De este modo se revelarán sus capacidades intelectuales y sociales, y el lugar dejado a su espontaneidad hará de la ensenãnza recebida una ensenãnza adecuada a ellos. (LANGEVIN-WALLON, 1973, p. 180-181) Ter o reconhecimento do trabalho, compartilhar o resultado daquilo que é feito na escola, participar colaborando de forma ativa nas tarefas escolares, vivenciar atividades diferenciadas foram necessidades satisfeitas com a realização do trabalho sobre a Copa. As palestras5 também foram relatadas como uma fonte de aprendizagem, interessante, diferente e divertida. Segundo os adolescentes, abordaram assuntos relevantes da atualidade que atenderam às suas necessidades. “Outras coisas agradáveis foram as palestras, que durante esse ano falaram sobre orientação sexual, sobre drogas, coisas que hoje em dia vem acontecendo”. Marisa. Quando a adolescente se refere à possibilidade de participar da conversa sobre “coisas que hoje em dia vem acontecendo”, aponta a necessidade de conhecer mais sobre o assunto. Nessa afirmação, pode-se verificar o quanto é importante que a equipe de profissionais da escola programe atividades diversificadas de ensino que contemplem tanto os conteúdos programáticos, como também os interesses dos 5 As palestras não foram organizadas pela escola de forma intencional; um grupo externo propôs e realizou esse trabalho. 46 estudantes. Alguns alunos ressaltaram a discussão de assuntos, como sexualidade, drogas e saúde. Essas temáticas abordadas nas palestras devem estar inseridas na grade curricular da escola, pois fazem parte das preocupações e demandas dos adolescentes e estão propostas nos Temas Transversais, contidos nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental (BRASIL, 1998). Assim, pode-se constatar que atividades extraclasse oferecem possibilidades variadas de interação e de aprendizagem. As palestras promoveram a aprendizagem de outro modo, fora do espaço da sala de aula, permitindo ao aluno o esclarecimento de questões da atualidade que fazem parte de seus interesses, possibilitando a construção de conhecimento. Nota-se que os alunos valorizam um espaço diferenciado de aprendizagem. Como relata a aluna Márcia: “[...] as palestras, umas das principais e interessantes sobre a saúde bucal e a orientação sexual, falando também sobre as drogas. As palestras ajudaram bastante os alunos”. Márcia Nessa fala, observa-se que a aluna encontra na escola um outro espaço para aprender e para discutir assuntos do seu interesse, que podem ajudar não só a ela como também a seus colegas. A ajuda a que se refere certamente está relacionada à necessidade de esclarecimento sobre sexualidade e drogas, assim como se verifica no depoimento da outra estudante. Geralmente, essas questões não têm espaço para serem discutidas, mas a palestra possibilita um debate aberto, elucidando dúvidas. De acordo com Wallon (1975/1980a), nesse momento da vida, o jovem está voltado “[...] para a edificação da pessoa [...]” (p. 69), ou seja, para a consolidação de sua personalidade. Portanto, ele dará mais atenção aos assuntos relacionados às suas preocupações. A escola pode aproveitar esse ensejo, partindo de assuntos que são mais importantes para o aluno, despertando-o para outros de menor interesse, mas que fazem parte do processo ensino-aprendizagem e precisam ser apropriados 47 pelos estudantes. Conforme afirma Wallon (1973/1980b), é possível partir das preocupações e interesses dos jovens e despertar neles a busca pelo conhecimento científico e pela responsabilidade. A respeito das transformações na adolescência, o autor escreveu: O mundo ganha uma nova dimensão. Preocupação metafísica sem dúvida, mas que, convenientemente alimentada e guiada, pode tornar-se em preocupação científica das causas e em preocupação das responsabilidades familiares e sociais. Assim podem ainda alternar e combinar-se o espírito de dúvida e o de construção, de invenção, de descoberta, de aventura e de criação. (WALLON, 1973/1980b, p. 139) Todos os relatos sobre o evento da Copa e as palestras se referiram às situações agradáveis, mostrando que os estudantes valorizam as situações de ensino quando apresentadas com metodologias variadas. Contrariamente, as situações desagradáveis relatadas referem-se a um ensino desestimulante no qual os recursos disponíveis na escola não são utilizados de maneira adequada, a participação do aluno não aparece de forma ativa e a inclusão de todos os alunos nas aulas de Educação Física não é possível. É perceptível que as necessidades dos alunos não foram satisfeitas. “É desagradável não ter aula de informática, sendo que tem computadores e também poderia ter aulas diferentes no laboratório, porque quando vamos para o laboratório fazemos lições iguais fazemos na sala normal”. Marta A situação relatada provavelmente deixou a aluna desestimulada por saber da existência da possibilidade de ter uma aula diferenciada, e não tê-la. Marta apresenta senso crítico com relação ao ensino oferecido pela escola; ela está atenta para o fato de os professores não utilizarem os computadores e de não aproveitarem adequadamente o laboratório. As estratégias de ensino planejadas por eles 48 poderiam ser mais diversificadas caso aproveitassem esses espaços existentes. Sabe-se que nem sempre os educadores estão aptos a utilizar esses recursos; é necessária a formação apropriada. Os gestores das instituições devem incentivar e possibilitar que os professores busquem informação e aproveitem os diversos espaços e recursos de que a escola dispõe para que possam organizar atividades diversificadas de ensino. Praticar atividade física em horários inadequados, assim como não poder participar das aulas de Educação Física também foram considerados eventos desagradáveis relacionados ao ensino. “Quando está muito sol e temos que ficar na quadra pequena, que é descoberta, o sol acaba me deixando com dor de cabeça e vermelha”. Patrícia “Uma experiência muito desagradável é o fato de eu não poder participar das aulas de educação física, por causa de um problema que eu tive no meu olho esquerdo, e estou até hoje sem participar das aulas”. Flávio Os alunos revelam que suas necessidades não foram satisfeitas, gerando sentimentos de tristeza e impotência. Patrícia gostaria de praticar atividade física em lugares apropriados. Flávio gostaria de participar das aulas de Educação Física. É prudente que a escola se preocupe com a saúde de seus alunos; por isso, deve organizar espaços adequados para a prática de atividade física e assegurar que esta não ofereça risco à saúde. O fato de um estudante não poder participar das aulas de Educação Física por motivo de doença revela que a escola não está preparada para lidar com as adversidades nessas aulas. Os professores, em conjunto com a gestão da escola, podem pensar em atividades que possibilitem a participação de alunos que tenham algum tipo de impedimento, caso contrário o estarão excluindo. Além disso, as aulas de Educação Física não precisam se restringir às atividades físicas de alto impacto; jogos cooperativos e de tabuleiro também fazem parte dessa modalidade de ensino e possibilitam a participação e interação de todos. 49 Pode-se verificar que os adolescentes desta pesquisa refletem sobre o que acontece à sua volta, mostrando-se atentos com relação ao ensino oferecido. Assim como observado por Wallon, possuem poder de análise e de argumentação sobre o que lhes acontece. Para ele, na adolescência “[…] novas necessidades transformam profundamente a pessoa e a inteligência da criança. Dão-lhe uma nova dimensão, põem-lhe a questão do seu destino e das suas responsabilidades. Convidam-na a reflectir sobre a razão e sobre o valor daquilo que a rodeia” (WALLON, 1975/1980a, p. 70). Nesta subcategoria, pode-se constatar a importância de um ensino que atenda às necessidades dos alunos e que promova uma educação de qualidade, possibilitando a apropriação dos conhecimentos historicamente acumulados pela humanidade. As situações descritas pelos estudantes revelam a necessidade de participação ativa no processo ensino-aprendizagem. Nesse sentido, o plano Langevin-Wallon traz grandes contribuições. Conforme apresenta Almeida: O pressuposto do Plano é que a escola deve dar a todos os alunos uma base comum que seja alicerce para os estudos futuros; deve dar oportunidade para as crianças e os jovens desenvolverem suas tendências e serem atendidos em suas necessidades. Ou seja, coerente com sua teoria de desenvolvimento, Wallon vai enfatizar que as crianças e os jovens se formem na cultura; que a escola é uma das responsáveis pela expansão da cultura; que todos os alunos têm direito à cultura, independentemente de sua origem étnica, religiosa ou social. (ALMEIDA, 2004, p. 121) O Plano apresenta um ideal de escola com sugestões de programas, métodos, horários, exames e formação de professores. Nele, a avaliação é compreendida como parte importante do processo ensino-aprendizagem, por isso não é realizada somente por meio de provas de conhecimento, mas também da constante observação do conselho de professores, responsáveis pela orientação. Como será visto a seguir, a avaliação faz parte das preocupações dos alunos e gera situações agradáveis e desagradáveis no contexto escolar. 50 1.2 O desempenho dos alunos “Agradável mesmo foi quando eu tirei o meu primeiro A”. Deise Tirar o primeiro A. Dedicar-se aos estudos e melhorar as chances de passar de ano. Surpreender-se com o bom desempenho. Ter notas melhores porque participou de um trabalho. Foram situações agradáveis relatadas pelos alunos. Eu tive uma situação agradável, foi nesse bimestre até. Eu me esforcei bastante, me integrei nos estudos e no fim do bimestre tive uma notícia boa, que minhas notas estavam todas boas. E com essas notas boas eu tenho mais chance de passar de ano. Flávio O estudante faz uma auto-avaliação positiva, pois se percebeu mais dedicado e esforçado nos estudos, o que resultou em um bom desempenho e aumentou a possibilidade de passar de ano. Compreende-se, então, que a dedicação e o envolvimento com os estudos foram recompensados. Quando o aluno percebe que seu esforço é reconhecido ou recompensado com boas notas, sente-se mais capaz e motivado a dar continuidade ao seu empenho. Alegria e satisfação permeiam esse processo. Já Pedro revela surpresa e alívio ao saber de seu bom desempenho durante o conselho de classe e por não ter nenhuma reclamação de seus professores. Um dia que ia acontecer o conselho de classe, que era para os pais irem junto com os alunos, eu fiquei com medo de tirar notas ruins. E a minha mãe disse [que] se eu tirasse nota ruim eu ia ficar de castigo. Chegou no conselho eu fiquei sentado lá na frente com minha mãe, quando chamou o meu número eu fiquei com medo, mas tive uma situação agradável, porque eu tive só as notas boas e não tive reclamação nenhuma. E minha mãe me deu parabéns. Pedro 51 Na situação descrita pelo aluno, nota-se que o mesmo se sentiu aliviado porque pôde corresponder às expectativas de sua mãe, foi parabenizado por ela e livrou-se de um castigo por ter apresentado boas notas e se comportado bem. Observa-se a contraposição medo e alívio por livrar-se de um castigo em função do bom desempenho. Embora essa seja uma situação agradável, que gerou satisfação e alegria pelo sucesso, verifica-se que Pedro sentiu medo, pois não sabia de suas notas e temia ser castigado por sua mãe. Cabe lembrar que a ansiedade desse estudante poderia ter sido amenizada, pois a avaliação é um processo do qual o aluno faz parte e por isso deve estar ciente de seu desempenho durante o percurso avaliativo. Nota-se que a afetividade foi desconsiderada nesse processo de avaliação. A afetividade perpassa todas as situações vivenciadas pelos alunos na escola; precisa ser considerada e pensada intencionalmente, de forma importante no processo ensino-aprendizagem, pois interfere fortemente na relação do aluno com o conhecimento e com todas as situações que irá vivenciar na instituição. Não foi o caso de Pedro, que vivenciou uma situação agradável, mas uma experiência de fracasso ou uma exposição vexatória diante de todos pode marcar de forma desagradável um estudante, prejudicando-o em atuações futuras, causando ansiedade e desconforto nos momentos de avaliação e de divulgação das notas. Segundo Wallon, “Um banal encontro entre um incidente qualquer e uma emoção é o suficiente para que esta se ligue definitivamente ao incidente e para que a faça renascer ao se auto-reproduzir o encontro, apesar da diversidade de situações” (Wallon, 1971, p. 84). Um outro aluno revela a possibilidade de melhorar as notas por meio de sua participação em um trabalho. “Uma coisa agradável foi quando os professores passaram um trabalho sobre a Copa e esse trabalho foi bom para as minhas notas, que melhoraram”. Jorge 52 A melhora nas notas, decorrente da participação no trabalho, revela a satisfação do aluno não só pelo bom desempenho, mas também pelo reconhecimento da sua participação. Na escola, entendida como espaço de aprendizagem onde o componente cognitivo predomina, todas as funções estão presentes e o estudante precisa ser considerado em todas as dimensões. O bom desempenho relatado pelos alunos provavelmente possibilitou a aprendizagem; os momentos descritos ficaram marcados de forma agradável, gerando alegria, satisfação e prazer. Para Wallon (1941/2005), o indivíduo é visto de forma integrada; afetividade, ato motor e conhecimento estão entrelaçados e sempre presentes em suas ações. Em uma situação de avaliação, não são somente os conhecimentos adquiridos pelos alunos que estão em jogo; afetividade e motricidade também estão presentes. Como afirma Mahoney (2005): “Qualquer atividade motora tem ressonâncias afetivas e cognitivas; toda disposição afetiva tem ressonâncias motoras e cognitivas; toda operação mental tem ressonâncias afetivas e motoras” (MAHONEY, 2005, p. 15). As situações descritas indicam que a avaliação é relevante para os alunos. Suas experiências de sucesso e insucesso podem marcá-los profundamente, agindo na constituição da subjetividade, contribuindo para o tipo de relação que terão com o objeto de conhecimento e para a constituição da auto-imagem, facilitando ou dificultando o desempenho. Receber uma avaliação injusta gerou desconforto para Júlia, que relatou uma situação desagradável. Eu sou inteligente e não CDF6. Não faz muito tempo, aliás, acontece sempre, existem alunos inteligentes e outros que são aqueles chamados CDF’S. Quando nós, os alunos inteligentes, acertamos tudo em uma prova, tiramos B, nessa mesma, os CDF’s tiram A, na maioria das vezes isso acontece, só porque eles ficam colados na cadeira o tempo todo. Eu acho que comportamento é uma nota e avaliação é outra. Isso não significa que são melhores ou até mesmo piores do que nós, os inteligentes. Júlia 6 CDF é uma gíria usada para classificar alunos que se dedicam excessivamente aos estudos. 53 O depoimento da aluna revela que os critérios de avaliação não estão claros. Júlia se sente injustiçada e indignada por desconhecer esses critérios. Para ela, os professores atribuem notas maiores aos alunos CDF’s, desvalorizando o rendimento de outros que não apresentam esse perfil. Embora este seja um evento desagradável, a estudante faz uma auto-avaliação positiva, pois se reconhece como inteligente e não como CDF. Mas não acha correto que as notas sejam dadas em função do comportamento e acredita que desempenho e comportamento devam ser avaliados separadamente. Nota-se que é preciso trabalhar a representação de avaliação que professores e alunos daquela instituição possuem, pois quando os critérios de avaliação estão definidos de forma clara para todos, os alunos se sentem menos injustiçados. Outro aspecto a ser observado é a desconsideração da individualidade que parece existir; a aluna apresenta uma situação em que se sente injustiçada por receber uma nota diferente daquele aluno que está sempre sentado em seu lugar. Ignorar as diferenças de comportamento entre os estudantes pode causar desinteresse pelas atividades escolares, dificultando o processo ensino-aprendizagem. De acordo com Wallon (1941/2005), na adolescência, “A pessoa parece ultrapassarse a si mesma. Procura um significado, uma justificação, para as diversas relações de sociedade que outrora tinha aceite e onde se parecia ter apagado. Confronta valores e avalia-se a si própria em relação a eles” (WALLON, 1941/2005, p. 208). Portanto, o adolescente que se desenvolve em um ambiente no qual tem a possibilidade de questionar e argumentar sobre os fatos, seguramente não aceitará as imposições dos adultos sem a devida explicação. Júlia é incisiva em suas críticas, revelando que os estudantes precisam ter espaço para serem ouvidos e esclarecidos sobre suas dúvidas. Ela ainda reforça seus argumentos dizendo: “Eu acho que ninguém consegue mudar esse meu pensamento, porque até hoje nenhum dos que eu perguntei me convenceram com sua resposta, é sempre a mesma coisa. Eu não quero ser melhor, nem pior, apenas diferente.” Júlia 54 Tirar a primeira nota vermelha marcou a vida de Deise. “[...] a primeira nota vermelha, um “E” que tirei na prova de matemática, OBS – nunca me dei bem em matemática [...]”. Deise “Repetir a 8ª série. Estudar dois anos de manhã [...]” Luana As duas alunas revelam descontentamento. Deise parece desanimada por não conseguir apresentar um bom desempenho em Matemática, deixando claro que tem a representação de que não é boa aluna nessa disciplina e que isso não vai mudar. Luana apresenta desânimo por repetir o ano e ter de estudar novamente no período da manhã. A reprovação parece uma situação muito desagradável para a estudante porque teve de freqüentar novamente as aulas, além de permanecer no horário da manhã por dois anos. Os profissionais que trabalham na instituição de ensino precisam evitar que os alunos construam representações negativas sobre seu desempenho. Quando um estudante não consegue corresponder às expectativas de ensino e não vai bem na escola, é preciso entender o que acontece com ele. Não ir bem em algumas matérias ou repetir o ano pode ocorrer por várias causas; é preciso conhecê-las para poder agir adequadamente com o aluno, despertando seu interesse pela busca do conhecimento. Como visto anteriormente, no Plano Langevin-Wallon, a avaliação aparece como parte do processo de escolarização. Consta que nenhum exame deve ser feito antes do final dos anos da escolaridade obrigatória. A proposta é levar em consideração provas de conhecimento e apreciações das aptidões dos estudantes. O agrupamento dos alunos nos ciclos depende de suas atividades anteriores e da decisão do conselho de professores, responsáveis pela orientação. Conforme ressalta Almeida (2004), a orientação dos alunos é um aspecto tão importante no Plano que aparece como um de seus princípios. A autora escreveu: 55 O ciclo de orientação se revela então de excepcional valor [...] dá ao professor uma responsabilidade muito grande na observação de seu aluno. [...] A observação apura o olhar não só do professor em relação ao seu aluno, mas em relação a si próprio: na medida em que percebe o desenvolvimento do aluno, o seu jeito na sala de aula, o seu interesse/desinteresse por certos tópicos, o ritmo do grupo com/sem sua presença, o mal-estar do aluno em certos momentos da aula, o professor está revendo seu próprio papel de professor. (ALMEIDA, 2004, p. 134-135) Os relatos deixam claro que as notas têm grande importância para os estudantes. Como reforça Almeida (2004), a avaliação precisa ser compreendida como um processo que se baseia na observação criteriosa. Cabe ao professor observar detalhadamente as manifestações de seus alunos durante o processo ensinoaprendizagem, atentando para o que acontece na sala de aula, as reações dos educandos diante de um conteúdo e de uma atividade, a atenção e desatenção, o desempenho nas tarefas, as emoções e sentimentos que expressam. É preciso mostrar-lhes que a nota recebida é conseqüência de um processo que foi cuidadosamente acompanhado. Na categoria Escola: espaço de conhecimento, viu-se que a participação ativa dos alunos no processo ensino-aprendizagem é muito valorizada por eles; a avaliação e o desempenho escolar fazem parte de suas preocupações. Assim como o bom desempenho, o mau desempenho também é fato marcante. As situações agradáveis referem-se a um ensino que extrapola o espaço da sala de aula, trata de assuntos da atualidade e de interesse para os jovens, permite o trabalho em grupo; revelam ainda que tirar boas notas é importante para o estudante. As situações desagradáveis mencionam: o mau uso nas aulas dos recursos de que a escola dispõe, a falta de locais apropriados para a prática de atividade física em dias de sol, a exclusão nas aulas de Educação Física, os questionamentos dos critérios de avaliação, o fato de tirar a primeira nota vermelha e o de repetir o ano. 56 2. Escola: espaço de interação 2.1 A relação eu-outro Bom, acho que a coisa que mais marcou foi ter conhecido professores, foram aqueles que deixaram e deixam sua marca, o Maurício de história, a Marta de português e o Alberto de história. Cleide A boa relação com os professores é fato marcante de forma agradável para alguns participantes da pesquisa. Eles citam como exemplos os bons professores, as marcas que deixaram, a confiança que sentem e a possibilidade de uma relação mais próxima. “Os incentivos dos professores [...] Quando pedi conselhos dos meus professores, de alguns”. Deise Constata-se nesses depoimentos que o professor tem papel fundamental na vida dessas alunas, assim como observado por Wallon. Escreveu o autor: Qual o papel do professor? Este papel parece-me essencial. [...] Um professor, que tem verdadeiramente consciência das responsabilidades que lhe são confiadas, deve tomar partido das coisas da sua época. [...] Deve, em colaboração com seus alunos, conhecendo-os, se não nas particularidades da sua vida individual, pelo menos segundo as classificações entre as quais é possível distribuir as existências individuais, deve examinar com elas o meio onde os encaminharão as suas diferentes profissões. Deve, desta maneira, ser uma perpétua remodelação de idéias: deve modificar as suas próprias idéias pelo contacto permanente com uma realidade que é móvel, feita da existência de todos e que deve tender para o interesse de todos. (WALLON, 1975/1980a, p. 223-224) 57 Isto posto, percebe-se a importância do papel do educador, pois este pode ser um modelo para o educando. Para exercer plenamente seu papel, precisa ter consciência política e social da realidade em constante mutação, preocupar-se com sua formação, ser mediador dos conhecimentos e orientador de seus alunos. Os dados coletados não permitem afirmar que na instituição pesquisada, o papel do professor é cumprido integramente, conforme proposto por Wallon, pois seria preciso uma investigação também com os docentes. Entretanto, verifica-se que, em parte, os educadores lembrados pelas participantes da pesquisa agem conforme a proposta. Os relatos revelam que as estudantes os admiram e estabelecem relações de troca e confiança com eles. Quando Cleide fala das marcas deixadas por seus professores, certamente se refere às aprendizagens proporcionadas por eles, que provavelmente extrapolaram os conteúdos escolares e possibilitaram uma relação mais próxima entre educador e educando. Deise também revela que foi afetada de forma agradável, pois recebe incentivos e tem a liberdade de pedir conselhos; possivelmente não tem a mesma liberdade para conversar abertamente com um adulto em sua casa. Ambas apontam a necessidade de ter um modelo para se espelhar, um adulto de sua confiança. Assim, deduz-se que sentimentos de satisfação, alegria e prazer permearam as interações. As duas estudantes revelam que seus professores foram e são modelos importantes em suas vidas; falam das marcas que deixaram e da confiança que depositam neles. Pode-se dizer que eles são os socius presentes na vida de Cleide e Deise, contribuindo fortemente para a formação da personalidade delas. “O socius ou o outro é um parceiro perpétuo do eu na vida psíquica” (WALLON, 1975/1980a, p. 159). Para Wallon, a relação eu-outro tem fundamental importância na constituição da subjetividade do indivíduo. É na e pela interação social que o ser humano se constitui como pessoa. Na perspectiva walloniana, o socius é o eterno parceiro do eu, representa os indivíduos e a cultura da qual eles fazem parte. Os socius deixam marcas culturais e sociais: hábitos, preferências, formas de pensar e de agir que atuam diretamente na constituição do eu. É no exercício de identificação e diferenciação com o outro que o indivíduo se constitui como pessoa. O autor escreveu: 58 Observa-se correntemente que não podemos deixar de controlar em nós próprios aquilo que notamos no outro, seja uma simples negligência de aspecto, uma mancha no rosto ou uma rouquidão da voz. A discriminação para com o outro tem por contrapartida uma tendência inversa para a identificação. A força desta identificação, ao mesmo tempo experimentada e recusada, além de que em proporções variáveis, rodeia o sujeito de modelos que ele aprova ou rejeita. Ela pode interessar as suas actividades mais humildes ou mais elevadas e produzir-se a diferentes níveis da personalidade. A influência que possui sobre a evolução desta é evidentemente considerável. (WALLON, 1973/1980b, p. 92) Os relatos dos participantes desta pesquisa exprimem o quanto o outro tem papel essencial em suas vidas, como poderá ser constatado nos depoimentos seguintes. Sentir-se acolhido na nova escola e fazer amigos foram eventos agradáveis para três alunos. Certo dia eu estava em casa meio triste, porque tinha deixado a escola em que eu estudei quatro anos. Eu estava me preparando para ir para a nova escola, imaginava que tudo daria errado para mim, pelo fato de nunca ter estudado aqui, mas mesmo com esse medo tomei banho, me arrumei e vim pra cá. Ao chegar aqui vi que eu estava errado porque a escola era muito legal e eu conheci pessoas maravilhosas, que me receberam de braços abertos. Para mim, a coisa marcante nessa história foi ter conhecido meus amigos e professores que vem me acompanhando desde a 5ª série e que, além disso, são pessoas ótimas, que agora eu preciso ter no meu dia-a-dia. Walter “Uma situação agradável foi quando eu comecei a estudar no Machado de Assis. Foi uma época muito boa, conheci pessoas muito legais que estão comigo até hoje”. João “Bom, eu entrei na escola este ano e foi uma experiência muito boa. A minha situação agradável foi eu ter feito várias amizades, porque quando eu cheguei aqui ninguém gostava de mim, hoje eu falo com todo mundo.” Viviane 59 Observa-se nos relatos que os alunos fazem uma avaliação positiva da nova escola, onde foram bem recebidos e construíram amizades. Para Walter, o estabelecimento de uma relação de confiança com os amigos e professores que o acompanham desde a 5ª série é algo tão importante que a companhia deles é necessária em seu cotidiano. Além disso, nota-se que ele percebeu a importância de enfrentar o medo do novo, pois se surpreendeu com a escola que encontrou. Iniciar em uma nova instituição educacional e ter a possibilidade de conhecer pessoas que estão presentes até hoje em sua vida também é ressaltado por João. Já Viviane aponta a importância da conquista de colegas que antes não conversavam com ela e valoriza as relações com o sexo oposto. Vivenciar romances é a sua preocupação: Outra situação agradável é conversar com os meninos do colegial. [...] Por enquanto eu só tive poucas situações agradáveis, principalmente no romance, que é uma das situações mais agradáveis, apesar de que ultimamente as minhas amigas e eu só estamos de rolo. O depoimento indica a necessidade de se relacionar com o sexo oposto e vivenciar grandes amores. As divagações sobre a vida amorosa têm um grande peso na adolescência. Segundo Wallon, “É a idade dos fervores religiosos, metafísicos, políticos, ou estéticos. Depois vem a inquietação pelo ser ideal em quem possa encontrar o complemento de sua própria pessoa, ser imaginário ou real, mas dotado de méritos ou de atractivos desejáveis” (WALLON, 1975/1980a, p. 70). Percebe-se que as necessidades de conviver bem com o outro, ser aceito e estabelecer um grupo parecem ter sido satisfeitas, gerando situações de bem-estar. Desse modo, sentimentos de acolhimento, segurança, alegria e surpresa foram inferidos. A tristeza e o medo iniciais deram lugar ao conforto e à satisfação. Os relatos revelam a importância de acolher bem os novos alunos independentemente da idade. A escola deve valorizar e propiciar a consolidação de um grupo de professores e amigos. 60 Essas relações interpessoais interferem na constituição da personalidade do adolescente. Os laços afetivos positivos gerados nelas permitem ainda uma relação de aprendizagem mais adequada entre o aluno e o objeto de conhecimento. Cabe ressaltar que gerar laços afetivos positivos não anula a importância dos conflitos para o desenvolvimento. Conforme aponta Wallon (1973/1980b), a evolução da personalidade se constitui no meio social e é marcada por conflitos e oposições: O meio mais importante para a formação da personalidade não é o meio físico, mas o meio social. Alternadamente ela confunde-se com ele e dele se dissocia. A sua evolução não é uniforme, mas feita de oposições e de identificações. É dialética. (WALLON, 1973/1980b, p.92) Em relação às situações desagradáveis envolvendo o outro, os relatos abordam os desentendimentos entre os adolescentes, a perda de contato com o amigo e a falta de respeito. Quebrar um trato com a colega foi uma situação ocorrida quando a aluna estava na 3ª série. Eu e uma colega estávamos numa biblioteca da escola quando eu propus um trato: eu cortava um pedaço do cabelo dela e depois ela cortaria um pedaço do meu cabelo. Ela topou (ainda estávamos na 3ª série) e então eu cortei quase o cabelo todo dela e na hora de cortar o meu eu não deixei. Fomos para a diretoria, eles convocaram nossas mães e quando cheguei em casa levei foi uma bela bronca. E no dia seguinte, a minha colega foi quase careca para a escola, mas também a escola inteira ficou sabendo do acontecimento. Carla No estágio anterior ao da adolescência, a criança conquista o pensamento categorial. Desse modo, o jovem que participa de um ambiente que o incentiva a refletir sobre suas ações desde a infância, analisando-as, com espaço para apresentar suas argumentações, certamente desenvolverá o poder de análise e de reflexão sobre os fatos, pois é na adolescência que se apresentam “[...] novas 61 aptidões de raciocínio e o poder de combinação, quer mentais quer materiais [...]” (WALLON, 1973/1980b, p. 140). O caso relatado por Carla aconteceu na 3ª série e marcou-a de forma desagradável, talvez porque a aluna refletiu sobre ele e, provavelmente, sentiu-se arrependida e envergonhada pelo trato que fez, seu rompimento e as conseqüências que isso causou: a bronca, o cabelo da colega cortado, e principalmente porque todos da escola ficaram sabendo do fato. Nota-se que nesse caso, a necessidade de cumprir com o combinado não foi satisfeita; entretanto, mesmo sendo uma situação desagradável, duas necessidades parecem ter sido satisfeitas: justificar-se perante o outro e ter o acompanhamento familiar, no caso, da mãe. Esse fato revela ainda que todos os profissionais que trabalham na escola são educadores e precisam agir adequadamente. O responsável pela biblioteca precisa ficar atento aos comportamentos e reações dos alunos enquanto utilizam esse espaço; é preciso olhar o todo, zelando pela biblioteca e pelos educandos. Além disso, o respeito ao outro e o cuidado consigo mesmo e com o outro podem ser trabalhados com os alunos. Brigar com o amigo por intrigas de outros ou presenciar a briga também foram eventos lembrados. “Quando eu e o meu amigo Fagner brigamos por causa de uma mentira do João e do Roberto. Eles falaram para o meu amigo que eu xinguei a mãe dele. Então isso foi muito desagradável”. Antônio Uma coisa bem desagradável foi meus amigos brigarem. Eles brigaram por besteira, por motivo nenhum, por um ter feito uma brincadeira sem graça o outro não gostou e ficou muito irritado com atitudes do outro e partiu para cima. Isso ficou marcado na minha memória, por uma brincadeira sem graça fizeram dois amigos brigarem. Wagner 62 Os participantes da pesquisa referem-se ao mesmo fato; um deles vivenciou a briga, o outro presenciou. Intrigas de outros colegas fizeram com que Antônio brigasse com um amigo. O desentendimento não foi o mais relevante; a injustiça sofrida foi o fato marcante, mostrando a necessidade de justiça. Para Wagner, presenciar a briga entre os amigos foi uma situação desagradável, revelando a necessidade de conservar o grupo de amigos. Em ambos nota-se ainda a necessidade de estabelecer laços de amizade. O desentendimento entre amigos pode causar um sentimento de mal-estar, como a tristeza, por exemplo, e dificultar a participação dos alunos nas aulas. Enquanto eles estiverem se sentindo chateados, não conseguirão concentrar-se adequadamente. Além disso, a dissipação de um grupo pode prejudicar as relações entre os alunos porque afeta a todos os integrantes daquele grupo. Wallon destaca a importância do grupo na constituição da subjetividade. “O grupo é indispensável à criança não só para a sua aprendizagem social, mas também para o desenvolvimento da sua personalidade e para a consciência que pode tomar dela” (Wallon, 1975/1980a, p. 174). A necessidade de estabelecer laços de amizade também aparece em outros depoimentos. Foi no final do ano passado, eu tinha uma colega chamada Amanda, a irmã dela se chamava Anita e estudava na 6ª. Ela foi estudar no Santo Agostinho eu a vi só uma vez na rua, ela disse que queria muito voltar para cá, mas o pai dela não quer. Ela era tão legal, mas a irmã dela não era tanto como ela. Fazer o quê, a vida é assim! Roberta “Também conhecer pessoas muito falsas, que você põe tanta confiança e acabam nos traindo. São poucas as amizades de escola que acabam dando certo”. Cleide Roberta se sente desanimada, porque perdeu o contato com a colega de quem tanto gostava, e desiludida, porque existem fatos que não estão ao seu alcance modificá- 63 los. Ao mesmo tempo, percebe-se que há aceitação dos acontecimentos da vida quando diz: “fazer o quê, a vida é assim!”. Cleide indica que são poucas as amizades escolares que persistem; seu depoimento aponta frustração e descontentamento com os falsos amigos que encontrou na escola. O grupo é importante para o jovem, segundo Wallon (1975/1980a): Quer sejam temporários ou duradouros, todos os grupos têm objectivos e a sua composição depende desses mesmos objetivos; do mesmo modo, a repartição dos cargos rege entre eles as relações dos membros e, se necessário, a sua hierarquia. [...] Tal como os objectivos do grupo, a sua constituição deve mudar de idade para idade, de acordo com as aptidões físicas, intelectuais e sociais das crianças. (WALLON, 1975/1980a, p. 173) No grupo, cada membro possui um lugar definido, o que permite a vivência de papéis e, conseqüentemente, o exercício da formação da personalidade. Como ressalta Wallon, o grupo é formado em função de um objetivo; a cada idade irá prevalecer um determinado critério para sua organização e formação. Nessa teoria, a adolescência é um período de profundas mudanças subjetivas, de predominância afetiva, em que o jovem está voltado para a afirmação de sua personalidade, e as relações que estabelece com outros jovens são fundamentais para a sua constituição. Portanto, o grupo de amigos será formado em função de seus interesses que estão voltados para as relações de troca e de confiança com os pares. Verifica-se nos relatos que as estudantes prezam essas relações, mostrando que é essencial ter alguém em quem confiar. A falta de respeito também é fato marcante e foi citada em alguns relatos. Sentir-se desrespeitada por uma funcionária da escola foi recordado por duas alunas. Foi quando eu e minhas amigas estávamos na fila do refeitório e estava um empurra, empurra. Foi quando a dona Maria, a inspetora de aluno, chegou e me empurrou e caímos, eu e minhas amigas, no 64 chão, todo mundo deu risadas da gente, então não só foi marcante pra mim e pra elas também. Janete “[...] não gostamos da atitude que tomou empurrando quem não tinha a ver com a bagunça na fila”. Tânia As estudantes citam a mesma situação. O grande número de educandos aguardando na fila do refeitório gerou tumulto; na tentativa de organizar o local, a inspetora acabou se descontrolando e empurrou uma aluna, que caiu junto com suas amigas. A atitude da funcionária foi inadequada e fez com que elas se sentissem envergonhadas e desrespeitadas, pois foram alvos da atenção dos colegas. Nota-se que Janete não julgou a atitude da inspetora; para ela, a queda no meio dos colegas foi o fato mais marcante. Já Tânia julgou a ação incorreta, sentindo-se injustiçada com o acontecimento. Cabe observar que todos os profissionais que lidam com os alunos dentro da escola são educadores; o inspetor deve saber lidar com as situações tumultuosas sem precisar agir de forma a causar acidentes, cuidando sempre da integridade de todos, respeitando para ser respeitado. Além disso, os alunos precisam ser instruídos para agirem com respeito e organização em momentos que envolvem um grande número de pessoas. Ser desrespeita pelos colegas foi relatado por duas alunas. Quando fui usar o banheiro, isto quando fomos nos trocar no banheiro, uma colega empurrou a porta com tanto impulso que acertou a minha cabeça, no começo doeu, mas nem ao menos ela me pediu desculpas, ao sair do banheiro já era intervalo, a Cristina outra colega da mesma sala começou a ficar pálida, pois estava saindo sangue, e eu nem percebi, só fui perceber quando eu vi a minha camiseta que estava encharcada de sangue, ao subir para ir para a sala a professora logo perguntou: Quem foi que empurrou a porta na sua cabeça? Eu não quis responder, mas me direcionou ao banheiro dos professores e lavou a minha cabeça [...] Deise 65 “Alguns colegiais destruíram a horta, jogando papéis e pisando nos vegetais. E esse trabalho todas as 7ª e 8ª ajudaram a construir e eles, os colegiais, não colaboraram em manter uma escola mais bonita e alegre”. Márcia Os depoimentos revelam a importância de contar com a consideração e com o respeito do outro. O relato de Deise destaca que não foi o incidente o fato mais marcante, mas sim a desconsideração de sua colega, que não se desculpou. Mesmo sentindo-se aborrecida, a aluna procurou mostrar lealdade e preservou a identificação da colega envolvida. Já Márcia se sentiu desrespeitada ao ver que o trabalho realizado pelas 7ª e 8ª séries, do qual fez parte, não foi valorizado pelos alunos do Ensino Médio. A necessidade de ser respeitada está presente nos depoimentos das alunas. Esta é uma necessidade forte na juventude, pois, de acordo com Wallon, o estágio da puberdade e adolescência é a última etapa que separa a criança do adulto e nele “São as necessidades do eu que parecem absorver e abarcar as disponibilidades do sujeito” (WALLON, 1973/1980b, p. 139). Esse é um momento de transição entre a infância e a vida adulta, no qual o jovem não pode e não quer mais apresentar as mesmas reações da infância, mas ainda não pode viver como um adulto; por isso, vivencia um momento de transição no qual tentará se firmar como pessoa, mostrar que é diferente dos outros, único, que precisa ter seu espaço preservado e que é digno de respeito e de consideração pelo outro. Ver o espaço escolar ser desrespeitado também gera insatisfação para Márcia. A falta de colaboração dos estudantes para conservar a escola a preocupa, como pode ser observado: [...] Alguns alunos da escola não colaboram em deixar a escola limpa, jogam papel de bala no chão, rabiscam as mesas, e deixam as salas sujas. Se todos colaborassem, nós teríamos uma escola melhor, não para um e sim para todos. E com uma grande consciência cada vez melhor. Márcia 66 A aluna revela uma preocupação com o bem-estar coletivo; sua inquietação não se limita ao desrespeito por seu trabalho, mas também ao de seus colegas e ao espaço em que estuda. Observa-se em seu discurso que a escola é um espaço coletivo, por isso deve ser valorizado e agradável para todos. Para que os alunos possam respeitar e valorizar a escola em que estudam é preciso desenvolver um sentimento de pertencimento à instituição, trabalhar com eles a noção de responsabilidade para com o outro, para consigo mesmo e para com o espaço. Sobre a responsabilidade Wallon escreveu: A responsabilidade é, na verdade, tomar a seu cargo o êxito de uma acção que é executada em colaboração com outros ou em proveito de uma colectividade. A responsabilidade confere um direito de domínio, mas comporta também um dever de sacrifício. (WALLON, 1975/1980a, p. 222) Wallon reforça que é preciso desenvolver nos adolescentes o sentimento de responsabilidade adquirido pelo exercício da vida em sociedade, “Não a responsabilidade para com um grupo fechado, como podem ser os “gangs” [...] mas a responsabilidade em relação a tarefas sociais que a criança terá de executar” (WALLON, 1975/1980a, p. 223). 2.2 Os momentos de descontração e lazer Para mim foi quando fui ao playcenter, foi muito “loko”, zoei até umas horas. Fui eu e minhas amigas, pra mim foi muito marcante porque foi um dia que todas ficaram juntas sem brigar, e foi demais. Janete As excursões e as festas foram situações agradáveis lembradas pelos alunos. 67 “Para mim as excursões que têm aqui no Machado de Assis foram todas agradáveis”. Marta “As festas que tiveram, todas foram muito legais. Também foram agradáveis as excursões, a do sesc foi legal, todas as excursões [...]” Rodolfo Passeios e festas promovem a interação de forma descontraída entre os alunos. Para Janete, o passeio ao parque não foi o mais relevante, mas a possibilidade de estar junto com as amigas e aproveitar um dia inteiro sem brigas fizeram com que esse dia fosse lembrado. Rodolfo e Marta também citaram os passeios, provavelmente porque tiveram a oportunidade de ir a lugares que ainda não conheciam ou que só conseguiriam ir com a escola. Produzir a festa foi um evento marcante para Cleide. “As festas que foram produzidas por nós. A da copa foi uma apresentação bonita e produtiva”. Cleide O trabalho sobre a Copa foi encerrado com uma festa para exposição das atividades dos estudantes, e a participação da aluna na organização desse evento foi marcante porque fez com que ela se sentisse responsável por ele. Nota-se que ela diz: “foram produzidas por nós”, indicando um empenho coletivo para a realização do evento. Sabe-se que alguns estudantes só têm acesso às festas e aos passeios por meio da escola; por isso, é importante propiciar também atividades como essas, que quebram a rotina e envolvem a interação. Os relatos revelam a satisfação de necessidades, tais como, estar junto com o grupo de amigos, participar de festas e ter momentos de lazer e descontração. Ao supri-las, a instituição pode estabelecer um relacionamento mais próximo com os estudantes, promovendo uma melhor 68 socialização entre os adolescentes e uma melhor relação deles com os funcionários e com o espaço escolar, facilitando, dessa forma, a consolidação do grupo. Para Wallon (1971), a emoção estabelece a relação entre os sujeitos, contagiando todos os envolvidos em uma situação. Sobre as emoções o autor afirma: A emoção necessita suscitar reações similares ou recíprocas em outrem e, inversamente, possui sobre o outrem um grande poder de contágio. Torna-se difícil permanecer indiferente às suas manifestações, e não se associar a esse contágio através de arrebatamentos do mesmo sentido, complementares ou antagônicos. (WALLON, 1971, p. 91) Nesse sentido, entende-se que momentos de descontração contagiam os estudantes, geram satisfação e alegria e permitem a valorização do espaço escolar em que vivem, contribuindo para desenvolver nos alunos o sentimento de pertencimento à instituição de ensino e, por conseguinte, a adesão por parte deles aos projetos oferecidos pela instituição. As situações desagradáveis envolvendo os momentos de descontração referem-se à desconsideração dos interesses dos adolescentes quanto à escolha do tema das festas e dos locais das excursões. Além disso, circunstâncias envolvendo o cancelamento de uma festa e o desencontro em um passeio também foram citadas. Sentir-se insegura por estar sozinha foi uma das situações lembradas. A situação que eu passei que foi muito desagradável, foi quando teve uma excursão para o playcenter, quando eu estava na sexta série. No começo até que foi legal, todas as minhas amigas estavam comigo, toda a turma reunida, mas de pouco em pouco fomos nos separando, até que quando estava escurecendo eu já estava sozinha, aí os monstros começaram a chegar, o meu pé começou a doer e eu não sabia nem como chegar ao ônibus. Mas no final, quando já eram umas nove horas da noite, eu encontrei uns meninos que vieram no mesmo ônibus que eu e eu fui embora para o ônibus com eles. Mas foi horrível. Ana 69 A aluna relata um dia que começou bom e se tornou ruim, mas teve um bom desfecho. Aos poucos, ela foi se separando de suas amigas e quando percebeu, estava sozinha e já era noite. Ela precisou enfrentar os monstros do parque e uma dor no pé sem ninguém ao seu lado. Ana sentiu-se apreensiva e tensa por se perder de suas amigas, insegura por estar sozinha e não saber voltar para o ônibus, e cansada por andar tanto tempo. O alívio e reconforto só foram possíveis quando a estudante encontrou alguns colegas e pôde voltar com eles para o ônibus. Nota-se em sua fala a importância que o outro tem para ela; as amigas eram o apoio para o cansaço e a diversão só poderia ser completa junto delas. Conforme visto na subcategoria 2.1 A relação eu-outro, a interação é de fundamental importância para a constituição da pessoa. Na perspectiva de Henri Wallon, o ser humano é geneticamente social; desde a infância, busca diferenciar-se do outro para individualizar-se. Esta discriminação ocorre de acordo com os indivíduos e com o contexto e contribui para a formação da personalidade. Segundo Wallon: Esta discriminação possui graus sucessivos que são impossíveis de enumerar aqui. A maneira como se processa pode variar conforme os sujeitos e as circunstâncias e não deixa de ter influência na formação da personalidade. Nas suas diferentes etapas, junta diferentemente o indivíduo ao meio. Porém, jamais rompe a estreita solidariedade do sujeito com os seus parceiros habituais ou ocasionais. (WALLON, 1973/1980b, p. 92) Três alunas citaram as festas como eventos desagradáveis na escola, sendo que duas se reportaram à festa junina. “As festas que tem aqui no Machado de Assis são desagradáveis”. Marta “[...] Comemoração da festa junina deveria ter mais a ver com o tema e não ficar inventando coisa”. Marisa 70 A mesma estudante ainda comentou sobre a escolha dos passeios. “Esse ano de 2006 houve poucas excursões, pelo menos podia haver excursão para lugares interessantes que a gente gostasse”. Marisa As alunas revelam que a organização das festas não satisfaz seus interesses. No discurso de Marisa, é possível constatar que a festa junina se distancia da temática central, e a escolha dos locais para as excursões não contempla o que ela gostaria de ver. Sentir-se injustiçada com a atitude de uma colega que provocou o cancelamento de uma festa gerou insatisfação para uma das alunas. Aconteceu no ano de 2004 na escola, uma vez por mês, aos dias de sábado, a escola promovia à noite uma festa para os alunos e para a comunidade. Isso se estendeu o ano todo, mas no começo das aulas, em fevereiro de 2005, teve a última festa. Por causa de besteira, uma aluna da escola disse para a mãe que viria para a festa, mas era mentira, a mãe pediu para ela estar em casa à meia noite e deu uma hora e ela não chegava, a mãe veio até a escola e fez com que todo mundo saísse para ver se encontrava a filha, mas ela não encontrou e por causa desse fato a diretoria proibiu a festa. E isso foi muito chato para todos. Leila Leila não julgou incorreta a ação da direção que proibiu a festa, mas sim a atitude da aluna que mentiu para a mãe e com isso causou o cancelamento das festas mensais, atrapalhando a sua diversão e a dos outros adolescentes. Nos depoimentos das estudantes, verifica-se que os momentos destinados à descontração e diversão tornaram-se cansativos e desagradáveis porque não supriram seus interesses e necessidades. Provavelmente elas se sentiram desvalorizadas, irritadas e injustiçadas, pois participar da organização dos eventos e da escolha dos locais das excursões, ver justiça diante dos fatos, ter espaço para 71 conversar sobre as decisões da equipe gestora e docente foram necessidades não satisfeitas. Aparentemente, os estudantes daquela instituição não são ouvidos sobre como vêem os eventos organizados pela escola (festas e passeios) e sobre as decisões tomadas para a sua organização. As falas deixam claro que quando os adolescentes têm espaço para falar sobre o que pensam, podem contribuir muito para a melhora do espaço escolar, seja com relação ao ensino oferecido ou aos eventos propostos pela instituição. Os depoimentos reforçam que os jovens querem ter suas necessidades consideradas, pois vivenciam um momento em que se voltam para dentro de si, conforme foi ressaltado anteriormente na subcategoria 2.1 A relação eu-outro; são as necessidades do eu que consomem parte das preocupações do jovem. As situações relatadas na categoria Escola: espaço de interação permitem constatar que a relação entre os pares tem relevância para o adolescente. Das 32 redações escritas pelos participantes desta pesquisa, em 22 foram relatadas situações envolvendo o outro, nove descreveram situações agradáveis e 13 referiram-se a situações desagradáveis. Dessa forma, compreende-se que a relação eu-outro é fundamental para o jovem e evidencia momentos importantes de sua trajetória escolar. O maior número de relatos envolvendo os eventos desagradáveis ratifica esta compreensão, pois revela que a ausência do outro é mais sentida do que sua presença; as brigas, a falta de alguém em quem confiar e a perda de um amigo que saiu da escola marcam profundamente os alunos. As situações agradáveis relatam a possibilidade de conhecer pessoas, contar com os professores, fazer amigos, relacionar-se com o sexo oposto, estabelecer um grupo, vivenciar momentos de descontração e lazer em festas e passeios. As situações desagradáveis apontam os desentendimentos entre os pares, brigas e discussões, a separação de uma colega que saiu da escola, o desrespeito por parte dos colegas e de uma funcionária, a falta de colaboração para com o trabalho do outro e para com a preservação do espaço escolar, o desencontro em uma excursão e a desconsideração dos interesses dos alunos na organização das festas e dos passeios. 72 3. Escola: espaço de participação da família 3.1 A forte presença da mãe na escola [...] a festa da copa, que foi aberto para todos os horários, aos pais dos alunos e a várias pessoas. Gisele Apresentar o trabalho para a comunidade marcou de forma agradável duas alunas. “Foi [a] apresentação dos nossos trabalhos, com o título de trabalho da Copa. As pessoas, os nossos pais e os alunos puderam estar vendo os nossos trabalhos, pra mim foi o melhor trabalho da escola”. Silvana As estudantes fazem uma avaliação positiva pois se sentiram valorizadas com a oportunidade de mostrar suas realizações aos pais, aos colegas e à comunidade em geral. Constata-se que a instituição educacional pode valorizar as realizações dos alunos organizando mostras de seus trabalhos, aproveitando esses momentos para promover a aproximação entre família e escola. A família tem fundamental importância para o desenvolvimento da criança e do adolescente. O grupo familiar é responsável por inseri-los em outros grupos nos quais poderão estabelecer interações variadas, pois a “[...] família é o grupo cuja acção é muito variada, mas não é o modelo de todas as relações que se poderão encontrar nos grupos onde a seqüência da sua existência poderá introduzir o indivíduo” (WALLON, 1975/1980a, p.168). Para Wallon: Ao contrário de outros grupos mais ou menos facultativos, a família é um grupo natural e necessário. Não porque tenha uma estrutura imposta pela Natureza e universal. Sabemos que existiram tipos de família diferentes do nosso onde, por exemplo – o que nos parece fundamental –, não existia identidade de pessoa entre os genitores e 73 os que tinham o título de papel de pais. Hoje mesmo podemos observar nas relações familiares variações que se produzem sob os nossos olhos, devido a condições que são próprias dos diversos meios ou em relação às diversas ideologias. No entanto, a família é um grupo natural no sentido em que para a criança a razão ‘de ser ou não ser’ se encontra colocada pelo nascimento em um grupo distinto que lhe assegura a alimentação, a segurança necessária, a primeira educação. (WALLON, 1975/1980a, p.168) Wallon lança um olhar para a família de sua época, com uma estrutura composta por pai, mãe e filhos; o autor menciona a existência de variações nas relações familiares, mas sabe-se que na década atual, essas variações são bem diferentes. Atualmente, a família pode ser composta apenas por mãe e filhos, avós e netos, dois pais e filho e outras tantas formas de composições. É na família que as primeiras interações sociais são estabelecidas. De acordo com o autor, as relações familiares possibilitam a vivência de papéis e cada um de seus membros ocupa um lugar determinado nesse grupo. Wallon chama a atenção para o fato de que o olhar do adulto sobre essas relações interfere no desenvolvimento da criança e na sua forma de interagir com os outros. Ele afirma: [...] não preciso de insistir no facto de as relações das crianças entre si dependerem não só do seu lugar na família, mas também da maneira como os pais podem interpretar o papel ligado a este lugar, havendo a possibilidade de quererem impor as conseqüências disso à criança. (WALLON, 1975/1980a, p. 210) Portanto, é importante que os familiares respeitem as diferentes formas de agir de cada criança e adolescente e tomem cuidado com as exigências que fazem deles. Ser reconhecido por sua mãe é a necessidade de Pedro, que relatou: “[...] Chegou no conselho eu fiquei sentado lá na frente com minha mãe, quando chamou o meu número eu fiquei com medo, mas tive uma situação agradável, porque eu tive só as notas boas e não tive reclamação nenhuma. E minha mãe me deu parabéns”. Pedro 74 O aluno descreve uma situação em que sentiu medo, pois se não conseguisse apresentar um bom desempenho, seria castigado por sua mãe; ele mostra alegria e alívio porque conseguiu corresponder às expectativas dela, foi parabenizado pelo desempenho apresentado e livrou-se de um castigo. Ser acompanhada pela mãe para a entrega de um prêmio foi marcante para uma aluna. “Eu fiquei super feliz, minha mãe (que naquela época ainda era viva) me acompanhou e eu peguei o meu prêmio que era um rádio gravador, até hoje eu tenho”. Carla Carla descreve uma situação na qual foi vencedora de um concurso de redação promovido pela escola. A estudante revela felicidade por ganhar o primeiro lugar e também por ter a companhia da mãe nessa ocasião importante, que foi marcante porque ela pôde contar com sua presença. Nota-se que guardar o prêmio pode ser também uma forma de recordar o momento que passou com a mãe quando ainda era viva. Os depoimentos revelam que os alunos tiveram necessidades satisfeitas, tais como, ter o reconhecimento de suas ações, contar com o acompanhamento da família e apresentar aos familiares um bom desempenho. Mostram que a presença da família e da comunidade na escola para acompanhar suas realizações é importante para eles. Nas festas, mostras, reuniões e entregas de prêmios, os jovens têm a oportunidade de divulgar o que fazem na escola. Nos relatos, observa-se que o papel da mãe na vida dos alunos é constante. Ela esteve presente tanto nos momentos agradáveis como nos desagradáveis. A estudante Carla, que relatou uma situação agradável envolvendo a presença de sua mãe, também descreve uma situação desagradável, manifestando com isso a forte participação da figura materna em sua vida. 75 “[...] eles convocaram nossas mães e quando cheguei em casa levei foi uma bela bronca”. Carla A aluna conta um evento ocorrido na 3ª série: ela e uma colega fizeram um trato no qual uma cortaria o cabelo da outra. Carla quebrou o trato, pois não deixou que seu cabelo fosse cortado, por isso elas se desentenderam e suas mães foram chamadas pela escola. Essa situação gerou um sentimento de vergonha porque levou uma bronca de sua mãe e todos da escola ficaram sabendo do acontecimento. Outra aluna cita uma situação desagradável em que esteve envolvida em um acidente e sua mãe foi informada. “[...] ligaram para a minha mãe, minha mãe ficou pianinha, nervosa”. Deise Deise descreve um acidente em que a colega empurrou a porta do banheiro acertando sua cabeça; a mãe foi avisada sobre o acidente e ficou muito nervosa ao saber da notícia. Os relatos de Deise e Carla indicam que, mesmo se tratando de uma situação desagradável, a necessidade de ter o acompanhamento de um responsável, no caso a mãe, foi suprida. Compreende-se, desse modo, que a presença dos familiares na vida escolar do adolescente é importante e faz com que ele se sinta valorizado. Os estudantes passam parte do seu dia na escola que, de acordo com Wallon, é um meio composto por diversos grupos. Portanto, as ações da família e da escola deverão ter como objetivo o desenvolvimento do indivíduo. Ambas as instituições precisam se unir para uma educação mais adequada dos jovens, mas é importante que cada uma dessas instituições tenha seu papel claramente definido, preservando seu espaço de atuação. 76 Na categoria 3. Escola: espaço de participação da família, observa-se a forte presença da figura materna. Em nenhuma das situações descritas pelos alunos o pai foi citado especificamente. Aparentemente, na escola pesquisada, é a mulher que acompanha a vida escolar dos filhos em todos os momentos. As situações agradáveis referem-se à participação da família e da comunidade para apreciar a apresentação dos alunos, à presença da mãe no conselho de classe e na entrega de um prêmio. As situações desagradáveis mencionam a presença da mãe na escola quando alunas se envolveram em desentendimentos com colegas. 4. Escola: espaço da pessoa por inteiro 4.1 As conquistas e derrotas em competições Uma coisa bem agradável para mim foi quando o meu time foi campeão no campeonato da escola. O meu time fez a melhor temporada. Eu fiquei muito feliz, fiz 3 gols e fui considerado um dos melhores jogadores, pela minha raça e meu vigor, porque se eu errei eu não vou abaixar a cabeça, vou continuar em frente. Wagner Ser reconhecido pela dedicação e esforço no campeonato. Sentir-se aceito. Mostrar que pode vencer desafios. Participar de competições e atividades extraclasse. Representar a escola onde estuda. Participar do campeonato de um esporte que aprecia. Essas foram necessidades satisfeitas com a participação dos alunos nos campeonatos que geraram situações agradáveis. O estudante Wagner faz uma avaliação positiva do seu desempenho na competição, revelando alegria e satisfação não só pela vitória, mas também por sua atuação no time que fez a melhor temporada, e porque foi considerado um dos melhores jogadores. Seu depoimento aponta a capacidade de enfrentar desafios, pois menciona a importância de persistir sempre. Conforme já observado neste estudo, o estágio da puberdade e adolescência é rico em modificações subjetivas e está voltado para a constituição da pessoa do 77 adolescente. “A adolescência já só tem então de assegurar o equilíbrio entre as possibilidades psíquicas confusas e as realidades do amanhã” (WALLON, 1973/1980a, p. 71). Sendo assim, a tarefa principal desse momento da vida é a consolidação da personalidade que irá prevalecer na vida adulta. O relato de Wagner mostra que o jovem quer provar que merece respeito e que suas ações são dignas de reconhecimento e valorização. Ser reconhecido e valorizado é relevante porque contribui para a consolidação de uma auto-imagem positiva. A satisfação com o próprio desempenho também foi descrita por outras alunas. Receber uma medalha foi uma conquista inesquecível para Júlia. Futsal, que esporte esse, está em 2º lugar entre os meus favoritos. É raro ter um campeonato, mas quando tem eu aproveito. O último que teve foi antes das férias de julho, meu time ficou em 2º lugar, foi o máximo. Foi uma honra pra mim, receber aquela medalha de prata das mãos do professor Alberto. Essa está pendurada acima da minha cama e será guardada para sempre com muito carinho, quando olho para ela recordo de cada jogo, com muito carinho. Júlia Representar a escola da qual sente orgulho foi um fato marcante para Leila. Uma situação muito agradável aconteceu este ano, no mês de agosto, assim que nós voltamos de férias. O nosso professor de Educação Física organizou um campeonato de vôlei e passou nas salas de aula chamando os alunos para participarem. Eu me escrevi, a única menina da sala, como o vôlei é o meu esporte predileto eu estava muito contente em participar. Jogamos cinco vezes e perdemos no último instante, ficamos com o segundo lugar, mas pelo menos eu representei a escola, não só eu, mas todo o meu time. No mês de outubro, no dia 31, fomos receber as medalhas e o troféu que ficou com a escola, pois o campeonato era entre escolas. Eu e o pessoal do meu time ficamos muito tristes em termos ficado em segundo lugar, mas ficamos contentes também por não termos sidos desclassificados, pelo menos representamos a escola que nós tanto nos orgulhamos. Para mim essa foi uma situação bastante agradável. Leila 78 As duas alunas mostram interesses diferentes quanto à modalidade esportiva. Júlia prefere o futebol de salão e Leila, o vôlei; entretanto, no depoimento de ambas, percebe-se que a organização de campeonatos não está presente na rotina escolar. Para Júlia, os campeonatos são raros e a possibilidade de participar de um deles é muito gratificante. Fazer parte do time que chegou ao segundo lugar já é uma vitória. A aluna se sente honrada por ganhar uma medalha; essa conquista representa o reconhecimento do seu esforço e uma lembrança querida. Para Leila, saber sobre o campeonato de vôlei foi uma boa surpresa. A possibilidade de representar a escola em uma competição do seu esporte predileto fez com que ela se prontificasse a jogar no time, mesmo sendo a única menina de sua sala. A aluna ressalta a importância de representar bem a instituição da qual tanto se orgulha e faz uma avaliação positiva da atuação de sua equipe, que não foi desclassificada e pôde participar até o momento final do campeonato. Nota-se que para a estudante, vencer não é mais importante do que representar a escola; em seu relato, percebe-se o respeito e a admiração que sente pela instituição onde estuda. Competir em um campeonato que tradicionalmente é disputado entre os meninos, o futebol de salão, foi uma situação agradável para uma estudante. “Quando o professor Alberto deixou as meninas participarem do campeonato de futsal”. Patrícia Verifica-se no relato da estudante que a organização de um campeonato feminino na modalidade futebol de salão é uma novidade; a possibilidade de participar desse evento foi marcante para Patrícia, pois é um esporte que aprecia. Constata-se que a escola precisa promover campeonatos femininos e masculinos nas várias modalidades, permitindo a participação de todos que mostram interesse pelo esporte, independentemente do gênero, buscando, dessa forma, possibilitar a igualdade de oportunidades entre meninos e meninas. Os relatos revelam que não é a vitória o mais importante para os alunos, e sim a participação, a oportunidade de mostrarem que podem vencer desafios, e o esforço 79 para representarem bem a escola. Já foi visto nesta pesquisa que para Wallon (1973/1980a), o meio social e as interações que nele se estabelecem constituem o indivíduo. Desse modo, o outro tem grande importância para a constituição da subjetividade, que se processa nas relações ao longo da vida. A criança, o adolescente que cresce em um ambiente que o respeita e possibilita experiências diversas, no qual encontra apoio e orientação dos adultos, certamente terá mais oportunidades de constituir uma personalidade segura, que valoriza e respeita a si mesmo e ao outro. Com relação às situações desagradáveis, foram citados a derrota sofrida e um acidente nos campeonatos e a Olimpíada de Matemática7. Perder o campeonato foi uma situação desagradável para uma estudante. “Quando eu perdi o campeonato”. Renata A aluna revela insatisfação por ter perdido o campeonato que disputou, apontando uma valorização máxima da vitória. Ao promover campeonatos, a escola precisa trabalhar com seus alunos a importância do espírito esportivo e da participação. Sofrer um acidente e ficar fora do jogo marcou de forma desagradável o aluno Walter. 7 A Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas é promovida pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em parceria com o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e com a Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). É direcionada aos alunos de 5ª à 8ª séries do Ensino Fundamental e aos alunos do Ensino Médio de escolas públicas (municipais, estaduais e federais), que concorrem a prêmios conforme a classificação (professores, escolas e municípios também concorrem a prêmios). A Olimpíada é disputada por meio de provas; as escolas participantes recebem uma prova que deve ser aplicada para todos os alunos inscritos; aqueles que apresentam melhor desempenho são classificados para a segunda fase e assim por diante. Informações obtidas no site http://www.obmep.org.br – consultado em 23 de março de 2008. 80 “Eu estava lá no gol, era semifinal de campeonato, o jogo já estava acabando, foi quando veio a bomba, ao tentar pegar a bola me desequilibrei e acabei pegando errado e acabou quebrando o meu dedo”. Walter A situação descrita mostra a insatisfação do aluno por ter que sair do campeonato no último momento. Por causa de um acidente quebrou o dedo e não conseguiu cumprir seu papel de goleiro. Walter sentiu-se frustrado por não poder participar mais dos jogos e triste por se machucar e não cumprir sua função, pois não conseguiu defender a bola. O aluno mostra a necessidade de desempenhar bem seu papel. Nesse episódio, é importante ressaltar que a escola deve estar preparada para prestar socorro no caso de acidentes e alertar os estudantes e seus familiares quanto a eventuais ocorrências. No caso de Renata e Walter, também se pode trabalhar a frustração sentida com a perda, porque isso pode acontecer em outras situações da vida; é importante valorizar a participação do aluno, mesmo quando ele é eventualmente impedido de continuar a jogar. Desacreditar nos critérios de uma competição também gerou situação desagradável. “A Olimpíada de Matemática, que foi uma verdadeira farsa”. Silvana A estudante provavelmente questiona os critérios de organização da Olimpíada de Matemática quando afirma não acreditar na competição. Nota-se a necessidade de se ter clareza dos critérios de organização e participação em competições. Constatase que essa necessidade não foi satisfeita, gerando desconfiança, fazendo com que a adolescente se sentisse irritada e injustiçada. Ao inscreverem os alunos em uma competição ou concurso, os responsáveis precisam informá-los sobre os critérios de seleção, participação e organização dos eventos. Depois da participação, é preciso abrir um espaço para que os estudantes falem como foram suas experiências, pontos positivos e negativos, para que equipe gestora, professores e alunos decidam juntos se futuras participações valerão ou 81 não a pena. Conforme já observado neste estudo, no estágio da puberdade e adolescência, o jovem está mais atento ao que acontece à sua volta, buscando compreender as relações que estabelece; por isso, é importante ouvir o que ele tem a dizer. A organização de competições possibilita a participação de alunos de diferentes salas e turnos de uma mesma escola ou de várias escolas, permitindo assim a interação entre eles; promove o espírito esportivo e de equipe e possibilita a construção e consolidação do sentimento de pertencimento, fortalecendo o grupo. A escola deve valorizar o desempenho de seus alunos nos campeonatos, independentemente da colocação conseguida, para que eles possam compreender que o importante é competir e representar a instituição. Nos relatos, percebe-se que a escola é um espaço muito amplo, de conhecimento, interação e realização, no qual o aluno se manifesta por inteiro. Nesse sentido, a teoria walloniana contribui para uma visão integrada do indivíduo e permite considerá-lo nas dimensões afetiva, motora e cognitiva. Os campeonatos podem promover ganhos nessas três dimensões. Os alunos têm ganhos afetivos, porque podem lidar com a alegria de interagir com os pares, de mostrar que são capazes, de conquistar uma boa colocação, e com a tristeza e frustração de sofrer derrotas e acidentes nas competições. Na dimensão motora, as atividades físicas promovem o desenvolvimento motor e possibilitam o reconhecimento do esquema corporal, muito importante nessa fase da vida. O adolescente tem um corpo que se transforma rapidamente e precisa se ajustar a ele. Como ressalta Wallon, as modificações morfológicas produzem modificações psíquicas; com isso, “A criança sente-se como que desorientada em relação a si mesma, tanto do ponto de vista físico como do ponto de vista moral” (WALLON, 1973/1980a, p. 218). Portanto, é importante possibilitar ao aluno adolescente o reconhecimento das possibilidades e limites do seu próprio corpo. Na dimensão cognitiva, os avanços também podem ocorrer; além do conhecimento das regras dos jogos, os professores podem realizar atividades interdisciplinares, aproveitando na sala de aula o que acontece durante o campeonato, criando tabelas das rodadas, montando revistas ou tablóides com textos sobre os acontecimentos nos jogos, 82 entrevistas com os destaques, trabalhando as reações físicas e químicas do corpo durante a prática de atividades físicas. Os estudantes mostram um grande interesse pelos campeonatos, que foram relatados como situações agradáveis em 10 redações. Percebe-se nos depoimentos que as competições proporcionaram conquistas consideráveis; tanto a vitória como o vice-campeonato foram lembrados pelos educandos nas situações agradáveis, deixando claro que o importante é competir e representar a escola. Compreende-se que eles valorizam o bom desempenho, buscando o reconhecimento de suas atuações, seja por meio de notas, como pôde ser observado na subcategoria 1.1 O bom desempenho, seja por meio da apresentação dos trabalhos à família e à comunidade, como visto na categoria 3. Escola: espaço de participação da família, ou esforçando-se para apresentar uma boa atuação nos jogos. 4.2 Fatores extra-escolares que interferem na atuação do aluno na escola Uma situação desagradável foi quando eu estava de TPM e chegando na escola participei de todas as aulas até chegar uma que fiquei pra fora da sala, então foi o fim, tive que subir para o pátio e fiquei lá, foi quando a diretora me pegou e me levou para a sala dela, sorte que não houve nada, mas o meu nome ficou no livro. Depois, quando desci tinha descoberto que tinha sido traída pelo meu ficante. Nossa! Aí me acabei mesmo, comecei a chorar e não parava, até pedi para a professora para eu ir respirar um pouco. Lembro como se fosse hoje, nunca vou esquecer, foi na segunda-feira de setembro de 2006. Kátia A aluna relata um dia difícil que começou antes mesmo de sair de casa, pois estava de TPM. Provavelmente, estava sentindo mal-estar, e mesmo assim foi para a escola; mas, ao chegar lá, revela que passou por momentos complicados. Ficar fora de uma das aulas e ir para a diretoria não foram os fatos mais relevantes; o que marcou o dia de Kátia foi a descoberta de uma traição, que parece tê-la tirado do sério. Um momento no qual a emoção arrebata o sujeito, a situação fica confusa, deixando-o desestabilizado. Wallon relata: 83 O outro encolerizado em breve conhece apenas o seu arrebatamento; esquece os verdadeiros motivos dessa cólera e perde a noção daquilo que o envolve. O que pode conservar de idéias e de pensamentos outra coisa não é senão o reflexo mais ou menos fantástico de suas veleidades emotivas. Abandonando-se aos transportes máximos do seu furor opera-se, então, uma obnubilação total da percepção e da inteligência. (WALLON, 1971, p. 79) Kátia aponta duas necessidades: uma orgânica, pois seu organismo não estava bem; a outra, ser respeitada pelo momento que estava passando e ficar sozinha para respirar. A situação revela a importância de se considerar o aluno como um indivíduo que se manifesta por inteiro. O orgânico e o afetivo interferem de forma significativa no plano cognitivo. Nesta subcategoria, apenas uma situação desagradável foi verificada. As situações relatadas na categoria 4. Escola: espaço da pessoa por inteiro revelam a importância de pensar no aluno em sua totalidade, considerando a integração organismo-meio e as dimensões afetiva, motora e cognitiva. As situações agradáveis citam o bom desempenho individual e coletivo nas competições, as possibilidades de participar dos campeonatos, conquistar uma medalha e representar a escola. As situações desagradáveis referem-se à derrota e a um acidente nos campeonatos, ao questionamento dos critérios de participação na Olimpíada de Matemática e a dois fatores extra-escolares, estar de TPM e saber de uma traição, que interferiram na rotina escolar de uma aluna. 5. Escola: espaço de reivindicação e questionamentos 5.1 As falsas promessas As falsas promessas do grêmio. Desagradável também é a situação das carteiras nas últimas salas, são muito velhas. Esse ano de 2006 houve poucas excursões, pelo menos podia haver excursão para lugares interessantes que a gente gostasse. A falta de ronda escolar na entrada e na saída de cada período. Comemoração da festa junina deveria ter mais a ver com o tema e não ficar inventando 84 coisa. O dia da independência do Brasil, nem sequer cantou o hino nacional do nosso país. Marisa O não cumprimento das promessas do grêmio e da direção, as más condições da escola e a falta de limpeza foram situações desagradáveis relatadas pelos alunos. A insatisfação pela limpeza inadequada da escola foi citada por duas alunas; uma delas escreveu. “Tiveram coisas que o diretor prometeu que iria fazer e não fez. O banheiro da escola é um verdadeiro lixeiro”. Silvana As alunas fazem observações sobre a condição da escola. Marisa revela senso crítico com relação à situação em que a instituição se encontra: carteiras velhas e falta de ronda escolar. Além disso, julga como falsas as promessas do grêmio. Para ela, as excursões organizadas não satisfazem os interesses dos alunos e a festa junina se distancia da temática. A aluna aponta ainda uma desvalorização do dia da Independência do Brasil, pois o hino nacional não foi cantado. Por sua vez, Silvana questiona as promessas da direção e enfatiza a falta de limpeza no banheiro. Provavelmente, as promessas da direção estiveram voltadas para a limpeza e organização do colégio, mas no relato, percebe-se que aluna não acredita nessas promessas e se sente desrespeitada e indignada pela falta de limpeza. Nos relatos, nota-se a importância de se cumprir o que é prometido aos adolescentes; quando não há a possibilidade, eles devem ser informados; caso contrário, sentir-se-ão enganados e deixarão de acreditar na instituição. Esse descrédito pode abalar a relação do aluno com a escola e, conseqüentemente, a adesão dele aos eventos da instituição. É importante que a escola valorize seus alunos. Preocupar-se com a organização desse espaço é uma forma de mostrar o cuidado que a instituição tem para com eles, pois “Na escola, os alunos aprendem se são, ou não, dignos de respeito e valorização pela própria qualidade do espaço 85 físico que lhes é destinado e do cuidado na organização e no funcionamento escolar” (BRASIL, 1998 p. 126). As falsas promessas do grêmio também desapontaram outros dois alunos. “O grêmio prometeu fazer bastante coisas para os alunos, colocar música na hora do intervalo, colocar cortina nas salas e acabou fazendo nada”. Márcia "Um dia que teve uma votação para os grupos que falaram que iriam arrumar a escola, colocar tal coisa. Eram vários grupos, eu votei para o grupo que dizia que iria melhorar a escola, mas no fim ganhou e não fez nada que prometeu”. Pedro Os depoimentos mostram que houve quebra de confiança, pois os estudantes votaram em um grupo que não correspondeu às suas expectativas. A ação da chapa eleita gerou neles insatisfação, decepção, frustração e indignação. Nota-se então que as necessidades de ter expectativas cumpridas e poder confiar nas promessas não foram satisfeitas. Quando a escola possibilita a criação de um grêmio, precisa acompanhar suas realizações e instruir os alunos para reivindicar seus interesses. Podem-se aproveitar as eleições para o grêmio e discutir com eles questões sobre ética, valores, cidadania, direitos e deveres, incentivando-os a acompanharem as realizações da chapa ganhadora e a fazerem as devidas cobranças daquilo que foi prometido, mas não foi cumprido. “É preciso ter sempre o cuidado de cultivar em cada criança o conhecimento das coisas sociais nas quais terá de participar” (WALLON, 1975/1980a, p. 223). É importante considerar os questionamentos dos adolescentes e desenvolver neles o interesse por essas questões, aproveitando o momento de questionamentos, a busca de consolidação de valores, o desejo de conhecer o novo e de estar junto dos pares para a orientação. A respeito disso, Wallon afirma que: 86 Há, ao lado de sonhos vãos, verdadeiros riscos. Mas há também elementos positivos e é esta parte positiva que o educador deve esforçar-se por pôr em evidência. É preciso utilizar esse gosto de aventura, esse gosto de ultrapassar a vida quotidiana, esse gosto de se unir a outros que têm os mesmos sentimentos, as mesmas aspirações, esse gosto de ultrapassar o ambiente actual, para ajudar a criança a fazer a sua escolha entre os valores em presença, que podem ser por vezes valores criminosos, mas também valores sociais, valores morais. (WALLON, 1973/1980a, p. 221) A categoria 5. Escola: espaço de reivindicação e questionamentos refere-se somente às situações desagradáveis. Os relatos revelam que os alunos precisam ter um espaço para serem ouvidos sobre como vêem a escola em que estudam. Apontam que questões sobre o desempenho do grêmio, a organização e a limpeza da escola, a decisão sobre os locais das excursões, as temáticas da festa junina e o desconhecimento da aluna sobre o motivo de não se cantar o hino nacional no dia 7 de setembro devem ser debatidas com os estudantes para que todos tenham clareza das decisões tomadas pela equipe gestora e docente da escola. Quando os alunos são ouvidos e suas opiniões são consideradas, a instituição pode buscar caminhos para melhorar junto com eles, dando a oportunidade de cobrar e de ser cobrada por suas ações, possibilitando assim o desenvolvimento da ética e da cidadania. 6. Escola: espaço de situações inesperadas 6.1 Receber um prêmio Num certo dia, havia uma redação para fazer sobre o filme: “Fulaninho”, eu fiz essa redação no maior capricho, mas eu nem imaginava que aquela redação fazia parte de um concurso e que toda a escola estava concorrendo. Então um dia eu cheguei na escola e me avisaram que eu havia ganhado o primeiro lugar, e que era para eu ir buscar meu prêmio no “TEATRO IMPRENSA”. Eu fiquei super feliz, minha mãe (que naquela época ainda era viva) me acompanhou e eu peguei o meu prêmio que era um rádio gravador, até hoje eu tenho. Carla. 87 A aluna revela surpresa ao saber que a redação feita com cuidado fazia parte de um concurso o qual ela venceu. Quando Carla elaborou sua redação, não sabia que participava de um concurso; mesmo assim, empenhou-se para escrever o texto sobre o filme; por isso, a notícia da premiação foi inesperada. A situação citada mostra o quanto a afetividade está presente em todos os momentos do contexto escolar. Havia um compromisso da aluna com a escola, pois ela realizou a atividade com competência, mesmo sem saber que concorria a uma premiação. Carla sentiuse alegre e orgulhosa por ter ganhado o concurso, cujo prêmio era um rádio gravador, e principalmente, por ter contado com a companhia de sua mãe que a acompanhou em um momento feliz. Nota-se que a necessidade de ser reconhecida pelo que faz está presente também nesta situação, confirmando assim que a escola deve valorizar as realizações dos alunos, aproveitando as oportunidades para divulgá-las interna e externamente, por meio da participação em concursos, mostras de trabalhos e competições. A escola possibilitou que a aluna vivesse um momento importante em sua vida, uma experiência de êxito e também a recordação de uma pessoa querida que esteve presente nesse momento. Além disso, essa experiência permitirá que a aluna se sinta segura para realizar outras atividades semelhantes. Conforme escreveu Wallon (1971), “A emoção pela importância exclusiva conferida a uma circunstância ou a um objeto pode, por conseguinte ser fator de êxito”. (p. 83) Nesta subcategoria, apenas esta situação agradável foi relatada. 6.2 Os acidentes Uma situação que marcou a minha vida foi quando estava tendo campeonato de futebol, quando eu levantei para ir ao intervalo caí. Além de todo mundo rir da minha cara, a outra menina caiu em cima de mim e deslocou o meu pé. Por causa desse acontecimento fui ao hospital e descobri que tinha deslocado meu pé e fiquei uma semana com o pé enfaixado sem poder sair de casa. Luciana 88 Sofrer um acidente na escola ou presenciá-lo foram situações inesperadas e desagradáveis. Para Luciana, sofrer uma queda diante dos colegas e ser motivo de risadas foi uma situação embaraçosa. Além disso, o acidente gerou uma conseqüência grave, pois a aluna machucou seu pé e teve de ficar afastada em casa por uma semana. A adolescente ficou em evidência de forma desastrosa, o que gerou vergonha, e ter que ficar uma semana com o pé enfaixado provavelmente causou irritação porque ela não pôde sair de casa durante esse período. Levar uma rasteira do colega enquanto jogava bola foi outra situação descrita por um aluno. “Foi quando na física, eu jogando bola passei do moleque e ele me deu um rodo e eu levei 4 pontos no queixo”. Roberto Verifica-se que Roberto não faz um julgamento da ação do colega, talvez por acreditar que dar uma rasteira faça parte do jogo e machucar-se também. Porém, pode-se deduzir que o aluno sentiu tristeza e frustração por se machucar e não poder continuar jogando. O relato apresenta a necessidade de não se machucar e poder continuar participando do jogo na aula de Educação Física. Em situações como essas, nas aulas de Educação Física, em que o movimento corporal é mais intenso, a escola precisa estar preparada para lidar com um aluno ferido, prestando socorro ou chamando o serviço especializado. Além disso, deve preparar os estudantes e seus familiares para evitar desentendimentos, explicando que acidentes acontecem. Presenciar um acidente também é uma situação desagradável. Dois alunos relatam o mesmo episódio. 89 “O meu momento desagradável foi quando o vice-diretor: Senhor Francisco caiu de cima do telhado do pátio. Aquele foi o dia mais desagradável que eu tive na escola”. Denis “Foi o acidente do Francisco, quando ele caiu da telha, ele passou muito [mal] e teve que ir até no médico”. Rodolfo Os relatos revelam atitude solidária para com o próximo. A preocupação dos estudantes aponta a necessidade de se colocar no lugar do outro. Denis e Rodolfo ficaram compadecidos com o acidente e suas conseqüências, por isso a situação marcou-os de forma desagradável. Segundo Wallon, a ambivalência de sentimentos e atitudes é uma das características da adolescência e as manifestações dos sentimentos e das atitudes são definidas conforme as situações. Como afirma o autor: É a idade em que os sentimentos possuem a mais evidente ambivalência: timidez e arrogância, vaidade e gozo dos outros alternam e muitas vezes combinam-se. O mais absoluto egoísmo e o sacrifício pessoal andam a par; só as circunstâncias parecem por vezes decidir qual dos dois prevalecerá. (WALLON, 1973/1980b, p. 139) Wallon (1975/1980a) ainda ressalta que o adulto precisa aproveitar a disposição que o jovem tem para dominar e se sacrificar e desenvolver nele o espírito de responsabilidade para com o outro e com a sociedade. As situações relatadas na categoria 6. Escola: espaço de situações inesperadas revelam que a escola é também um espaço de situações imprevistas, que surpreendem os alunos. A situação agradável mostra a surpresa de uma aluna por vencer um concurso de redação. As situações desagradáveis referem-se aos acidentes na escola que os alunos vivenciaram ou presenciaram. 90 3.1 Em busca de uma síntese A análise das categorias apresentadas mostra que a afetividade permeou todos os momentos vivenciados pelos alunos na escola. Constata-se que os adolescentes apresentam necessidades de participar ativamente do processo ensino- aprendizagem, de ter o acompanhamento da família e o reconhecimento pelo seu trabalho e esforço. As situações agradáveis descritas por eles relataram o bom desempenho, a possibilidade de trabalhar em grupo e de ter aulas diferenciadas, os momentos de descontração, a importância dos pares e do professor em suas vidas, os eventos promovidos pela instituição, a presença da família e da comunidade, as conquistas e participações em campeonatos. As situações desagradáveis apontaram o mau desempenho, a utilização inadequada nas aulas dos recursos que a escola possui, os desentendimentos com os pares, a presença da família por causa de envolvimentos em problemas, os questionamentos com relação aos critérios de avaliação e de participação em uma competição, a derrota no campeonato, a situação precária em que a escola se encontra, as falsas promessas da direção e do grêmio estudantil e os acidentes ocorridos na escola. Os resultados permitem constatar que a presente pesquisa corrobora os estudos apresentados na Introdução deste trabalho e contribui com novos resultados. Os participantes, ao descreveram uma situação agradável e outra desagradável que foram marcantes na escola, evidenciaram o que os afeta e o que os afetou no decorrer de sua vivência na instituição de ensino. Desse modo, foi possível identificar situações agradáveis e desagradáveis no contexto escolar, bem como alguns dos sentimentos vivenciados nesse espaço e as implicações educacionais dessas situações descritas. Os relatos forneceram contribuições para a compreensão da adolescência e da relação do jovem com a escola em que estuda. Como visto na Introdução deste trabalho, o estudo de Dér (2001) revela a compreensão do estágio da adolescência na teoria de Henri Wallon ao analisar os escritos do autor e de outros estudiosos de sua teoria. Conforme ressaltou a autora, a adolescência é um momento de escolhas e de definição dos valores morais. Os participantes da presente pesquisa mostraram uma grande preocupação com os valores morais e com a ética, apontando a necessidade de respeito, não só ao outro 91 e a si mesmo, como pelo espaço em que estudam. Apresentaram críticas sobre a atuação do grêmio estudantil e da direção, questionaram os critérios de avaliação, deixando claro que é preciso respeitar as diferentes formas de agir dentro da sala de aula. Assim como verificado no estudo de Ardito (1999), os alunos também se sentiram desrespeitados nessas situações. Na pesquisa em questão, os estudantes também elogiaram as palestras, que abordaram temáticas como drogas, sexualidade e saúde, assuntos que possibilitam o esclarecimento de questões que muitas vezes não podem ser discutidas em casa, mas que constituem a personalidade do indivíduo e permitem que eles decidam por uma ou outra forma de agir. Conforme foi apontado por Ozella e Aguiar (2007), os relatos dos estudantes possibilitaram a compreensão de um adolescente concreto, que se manifesta em um tempo/espaço determinado histórica, cultural e socialmente. Não houve oportunidade de verificar a concepção que o adolescente tem de si mesmo, mas percebeu-se que os jovens vivenciam esse momento de suas vidas dentro das próprias possibilidades. Provavelmente, em seu entorno, não existe um ideal de adolescência; aparentemente é um momento respeitado pela instituição, mas poderia ser mais explorado tendo em vista o desenvolvimento da habilidade de argumentação. Nas duas pesquisas, foi constatado que a afetividade tem importância. Em Ozella e Aguiar, observou-se diferenciação entre os gêneros quanto à manifestação da afetividade; no estudo em questão, não foi possível perceber a diferenciação, pois ambos os gêneros descreveram situações que permitiram compreender a importância da afetividade. Almeida (1993) ressalta a importância da afetividade na relação entre aluno e professor, pois as condições de aprendizagem são instituídas nessa relação. Os resultados deste estudo confirmam a afirmação da autora, pois as condições de aprendizagem foram instituídas na relação entre professores e alunos. Notou-se nas falas a preferência por uma ou outra matéria, como Geografia, Português, História e Educação Física, por exemplo. Possivelmente, os docentes dessas disciplinas afetaram positivamente seus alunos e conseguiram estabelecer uma relação mais próxima com eles, facilitando a comunicação. Verificou-se que os participantes ressaltaram a importância dos professores em suas vidas, pois eles foram citados mais vezes nas situações agradáveis. 92 Esta pesquisa permitiu notar a relevância do professor para o adolescente. Os estudantes mencionaram os bons professores ao descreverem as situações agradáveis; escreveram sobre a possibilidade de conversar abertamente com eles, pedir conselhos, receber incentivo, e sobre as marcas deixadas por eles. Fizeram ainda referência ao seu ensino, deixando clara a existência de um bom relacionamento entre educador e educando. Esses resultados colaboram com as pesquisas de Gunter (1993), Thomé (1996), Dér (1996), Temponi (1997), Ardito (1999) e Marriel et al (2006). Nesses estudos, os estudantes atribuíram características para o bom professor e para o relacionamento educador-educando semelhantes às dadas pelos participantes do presente estudo. Diferentemente desses trabalhos, os estudantes não fizeram referência ao autoritarismo, intolerância, desrespeito e agressões físicas ou verbais por parte do educador. Nas situações desagradáveis, alguns estudantes apontaram os professores, mas não especificaram o porquê. Há somente um relato que menciona o constrangimento por presenciar uma discussão entre uma professora e um colega de classe. A interação no contexto escolar foi um aspecto relevante desta pesquisa; a relação entre os pares foi descrita com mais freqüência do que a relação com os adultos. Não só os momentos de descontração com os amigos e a boa convivência foram lembrados; os momentos de tensão, desentendimentos, brigas e discussões apareceram na maior parte dos relatos, revelando que não ter a possibilidade de contar com o amigo é marcante para o adolescente. Constatou-se que a consolidação de um grupo é importante para o jovem. Esses resultados ratificam as pesquisas de Günter (1993), Temponi (1997), Gonçalves (2005) e Marriel et al (2006). Os participantes do presente estudo descreveram situações agradáveis e desagradáveis no contexto escolar semelhantes aos eventos positivos e negativos na escola, apontados na pesquisa de Günter (1993). Em relação aos eventos positivos e às situações agradáveis, foram citados: a participação nos trabalhos em grupo e em competições, as boas notas, os incentivos e a valorização por parte dos professores. Nos eventos negativos e nas situações desagradáveis, foram relatados: repetir o ano, mudança de escola, o envolvimento em algum tipo de problema, a quebra de um trato na biblioteca e receber uma convocação. Assim como na pesquisa de Temponi (1997), a relação com os colegas foi relatada pelos estudantes 93 que evidenciaram as atividades em grupo. Conforme constatado por Gonçalves (2005), o bom desempenho escolar, o conhecimento, o espaço e a rotina escolar, as relações com os pares e com o sexo oposto provocam sentimento de alegria. Além disso, neste estudo, a participação em campeonatos, as excursões e a premiação em um concurso de redação foram lembradas pelos alunos e possibilitaram momentos de alegria. Assim como visto em Marriel et al (2006), houve uma tendência geral de bom relacionamento interpessoal. Desentendimentos, discussões e brigas também foram relatados pelos participantes desta pesquisa, mas não foi especificado o tipo de discussão, se houve ou não agressões físicas ou verbais. Diferentemente dos estudos, não foram observados relatos de exclusão ou de dificuldade para constituir um grupo de amigos (Günter 1993), e as manifestações de violência não foram enfatizadas pelos estudantes (Marriel et al 2006). Entretanto, assim como constatado em Marriel et al (2006), percebeu-se que, em alguns casos, a violência esteve presente nas relações entre os pares; brigas entre amigos e a falta de respeito por parte dos colegas podem ser consideradas manifestações de violência se envolveram agressões físicas ou verbais. Os participantes desta pesquisa atribuíram importância à instituição educacional como um espaço fundamental em suas vidas; relataram experiências agradáveis e desagradáveis que envolveram o ensino, a aprendizagem, o desempenho nas avaliações e nas competições, o relacionamento interpessoal, os momentos de interação e descontração. Esses resultados ratificam o estudo de Costa e Koslinsk (2006), no qual constataram que as experiências escolares interferem na relevância que o aluno dá à escola. Nesta pesquisa, a escola apareceu como espaço importante na vida do aluno: ambiente de aprendizagem no qual ele estabelece relações, desfruta de momentos de descontração, vivencia situações agradáveis e desagradáveis que geram sentimentos diversos; instituição que o adolescente valoriza e critica, buscando sua melhora. Os relatos dos participantes permitiram identificar as implicações educacionais das situações descritas; suas falas apresentaram indicadores para uma escola que 94 atenda aos interesses e necessidades dos alunos, contribuindo, desse modo, para a melhoria do trabalho de professores e gestores. Indicadores para os professores: • Aulas ativas que mostrem a realidade concreta do jovem, atendam a seus interesses e necessidades, possibilitem o trabalho individual e em equipe e permitam a participação efetiva dos alunos por meio de atividades variadas das quais eles participem do planejamento e da execução. • Aulas que possibilitem a discussão de assuntos ligados ao momento de transformação que os adolescentes atravessam e que relacionem a vida da escola com o que acontece fora dela. • Aulas que aproveitem todos os recursos e espaços dos quais a escola dispõe (sala de informática, laboratório, quadra, etc), que extrapolem o espaço da sala de aula e possibilitem a participação em atividades dentro e fora dela. • Aulas de Educação Física em espaços adequados, que incluam todos os alunos. É preciso organizar atividades que permitam a participação dos estudantes que tenham algum tipo de impedimento, possibilitem a prática segura de atividades esportivas e a interação entre todos os estudantes. • Aulas que valorizem o aluno pelo seu esforço e o estimulem para o estudo. • Critérios de avaliação claros para professores e alunos. O educando precisa ter ciência de seu desempenho durante o percurso avaliativo. É preciso atentar para o fato de que a avaliação tanto mostra o desempenho do estudante como colabora para o desenvolvimento da sua auto-estima; por isso, deve ter cuidado e atenção especiais. • Enfim, não se esquecerem de que o professor tem papel importante na vida do adolescente e em muitos casos, torna-se um adulto de sua confiança. O bom relacionamento educador-educando possibilita um bom relacionamento do aluno com o objeto de conhecimento. 95 Indicadores para os gestores: • Valorizar as realizações dos estudantes e dar visibilidade aos seus trabalhos, possibilitando espaços para divulgá-los dentro e fora da escola, em mostras, feiras, festas, exposições, concursos, entre outros. • Promover campeonatos femininos e masculinos de diferentes modalidades esportivas, dentro e fora da escola. Neles, os alunos encontram uma oportunidade para mostrarem seu esforço e empenho, interagirem com os pares e desenvolverem o sentimento de pertencimento à instituição onde estudam. • Receber bem os novos alunos, criando um ambiente acolhedor independentemente da idade. • Promover momentos de descontração e socialização (festas, passeios, campeonatos) entre os alunos para a consolidação do grupo, um referencial fundamental para o jovem. • Conscientizar os alunos e os próprios profissionais (limpeza, secretaria, inspetores) que trabalham na escola de que estes também são educadores e precisam agir adequadamente com os estudantes, respeitando-os para que sejam respeitados. • Promover a integração entre escola e comunidade, abrindo o espaço escolar para compartilhar com a família as realizações dos estudantes e também as dificuldades encontradas no cotidiano. É necessário preservar o espaço de atuação da escola e da família, lembrando aos responsáveis o quanto é importante que acompanhem a vida escolar dos alunos. • Considerar as dimensões afetiva, cognitiva e motora dos estudantes, pois a escola é um espaço onde eles se manifestam por inteiro. • Informar os alunos, ao inscrevê-los em competições ou concursos, sobre os critérios de seleção, participação e organização dos eventos, para que saibam quais as suas chances de ganhar, com quem irão competir e, com isso, poderem se preparar. 96 • Preparar os educandos para participarem das excursões, esclarecendo os objetivos da visita, estejam eles relacionados aos conteúdos trabalhados em sala de aula ou ao lazer. • Disponibilizar espaço para que os alunos sejam ouvidos sobre como vêem a escola em que estudam. É importante que a instituição conheça seus estudantes e saiba como eles julgam o que é ofertado nesse espaço. Ao ouvilos, a escola pode buscar caminhos para melhorar junto com eles, oferecendo a oportunidade de cobrarem e serem cobrados por suas ações, possibilitando assim o desenvolvimento da responsabilidade, da ética e da cidadania. 97 4. Considerações finais Esta pesquisa buscou responder, do ponto de vista do aluno, à seguinte questão: quais situações os alunos da 8ª série do Ensino Fundamental consideram agradáveis e desagradáveis na escola? Seu objetivo era identificar situações, no contexto escolar, que agradam e que desagradam aos alunos da 8ª série do Ensino Fundamental, os sentimentos envolvidos nessas situações e as implicações dessas situações para o processo ensino-aprendizagem. Para isso, foi feita uma pesquisa qualitativa cujo instrumento foi redação, na qual o aluno descreveu uma situação agradável e uma desagradável que foram marcantes para ele na escola. A teoria psicogenética de Henri Wallon subsidiou a análise dos dados, ampliando o olhar da pesquisadora para um indivíduo completo que se manifesta por inteiro. Afetividade, conhecimento e motricidade se entrelaçam e constituem a pessoa. Compreender que o desenvolvimento humano faz parte de um processo, com avanços e retrocessos, que depende fundamentalmente do meio em que o sujeito vive, das condições materiais e das relações que estabelece com outros indivíduos foi de capital importância. Os relatos obtidos permitiram a compreensão da instituição escolar do ponto de vista do adolescente, como ele vivencia, percebe e significa esse espaço. A análise do material possibilitou constatar que a escola é um espaço vital para os participantes deste estudo. As experiências vivenciadas pelos jovens desta pesquisa contribuíram de forma significativa para a constituição de sua personalidade, permitindo que eles alternassem momentos variados de interação, tensão e descontração nas diversas situações da rotina escolar. Eles não julgaram as situações agradáveis e desagradáveis como boas ou más; todavia, discorreram sobre situações que foram marcantes, ou seja, que os afetaram de algum modo importante a ponto de serem lembradas, mesmo que alguma situação tenha ocorrido em outra escola há muito tempo. Alguns relatos descreveram situações ocorridas no 3º e no 5º ano do Ensino Fundamental, deixando claro que os profissionais que lidam com a educação devem estar sempre atentos para o que acontece com os alunos, que pode marcá-los profundamente, seja de forma positiva ou negativa. 98 As situações descritas pelos estudantes mostraram que momentos agradáveis e desagradáveis fazem parte da vida; as alegrias, os desentendimentos e as frustrações foram experiências vividas e estarão presentes em outras circunstâncias da vida dos adolescentes. As situações agradáveis se referiram ao ensino oferecido pela escola, aos professores, ao bom desempenho escolar, às possibilidades de interação e descontração, não só com os pares, como também com professores e familiares, os momentos de festas e passeios. A relação com os pares foi ressaltada pelos estudantes e apareceu em vários relatos, assim como a participação em campeonatos. A premiação em um concurso de redação foi lembrada por uma aluna. As situações desagradáveis foram relacionadas aos desentendimentos entre os adolescentes, o que revela a importância da relação entre os pares, pois as brigas e discussões foram mencionadas em vários relatos. A desconsideração dos interesses e necessidades dos estudantes, a derrota em um campeonato, os acidentes na escola, a presença do responsável para resolver problemas de desentendimentos entre alunos, o desrespeito e o mau desempenho escolar também foram referidos. Os relatos apontaram que necessidades satisfeitas geram situações agradáveis, mas nem sempre necessidades não satisfeitas geram situações desagradáveis; observou-se em alguns relatos que a necessidade de ser acompanhado pela família foi satisfeita, mesmo nas situações desagradáveis. A afetividade esteve presente em todos os momentos, evidenciando que professores e gestores devem considerá-la parte importante do processo ensino-aprendizagem. Várias situações desagradáveis ocorreram por falta de diálogo, o que mostra que o espaço para a conversa é essencial independentemente da idade, sobretudo com os jovens, que precisam aprimorar a habilidade de argumentação e de posicionamento diante dos fatos, para que possam compreender a realidade em que vivem, apresentar suas idéias de forma objetiva, respeitando as idéias do outro. Os professores e gestores precisam trabalhar para o desenvolvimento da cidadania e dos valores morais e éticos. A consolidação desses valores só é possível quando há espaço para o diálogo e argumentação, para que os alunos tenham mais confiança de se posicionar. Além disso, a conversa consente que ambos os lados entendam as ações uns dos outros. Quando a direção da escola, junto com o corpo docente e os outros funcionários, apresenta para os alunos os motivos de suas decisões, mostra a eles que o objetivo de todas as ações dentro de uma escola é a melhora da 99 qualidade do ensino, é a tentativa de oferecer um ambiente e uma educação adequados aos estudantes. Da mesma forma, quando os educandos são ouvidos, é possível compreender suas ações e questionamentos e adequar as propostas de ensino. A instituição pesquisada poderia dar mais espaço para seus estudantes, pois eles fizeram algumas críticas pertinentes, tais como, o desrespeito por parte dos colegas, a má conservação da escola, a precária atuação do grêmio estudantil, o não cumprimento de uma promessa da direção, o desconhecimento de alguns critérios de avaliação, de participação em competições e de escolha dos locais de passeio. Se essas questões fossem consideradas, poderiam contribuir de forma significativa para a melhora da instituição, possibilitando o desenvolvimento da responsabilidade do estudante para com o espaço escolar. Nesta pesquisa, de um modo geral, a escola apareceu como um espaço fundamental na vida dos alunos, que representa o conhecimento, a interação entre os sujeitos, a convivência com grupos de amigos, a possibilidade de vivenciar momentos em festas e passeios, a qual alguns alunos não têm em casa; é o local que proporciona o reconhecimento e a valorização do trabalho dos alunos, a diversão e, sobretudo, a aprendizagem. Os dados evidenciaram que a escola vivida pelos participantes desta pesquisa é um espaço que eles valorizam, respeitam, do qual eles gostam e sentem orgulho e, por isso, apresentam críticas de aspectos que poderiam ser melhorados. Quando me propus a realizar este estudo, ouvi de muitos colegas que o problema de pesquisa já estava respondido da seguinte forma: nas situações agradáveis, os jovens descreveriam o adiamento das aulas e a ausência do professor; iriam valorizar somente as situações de descontração com os pares; eles diriam que a escola é um lugar de que não gostam e pelo qual não têm interesse. Nas situações desagradáveis, relatariam a obrigação de ir para a escola, ter aulas, os professores, o processo ensino-aprendizagem como um todo. Ao contrário de representações que naturalizam a adolescência, entendendo-a como um momento de crises e de rebeldia, de choque constante com os adultos, nesta pesquisa, pude constatar que os estudantes valorizam o espaço escolar e as relações interpessoais, tanto com os 100 pares como com os adultos, apresentam interesse pelo conhecimento e buscam o reconhecimento de suas ações. Como visto, este trabalho corrobora estudos anteriores, contribuindo com os resultados expostos no capítulo da análise de dados. As pesquisas apresentadas na revisão de literatura, juntamente com o trabalho em questão, mostram que, quando se pretende compreender um fenômeno, é preciso observá-lo do ponto de vista daquele que vivencia a situação. Ou seja, para entender como o adolescente percebe o ensino e a instituição escolar como um todo, é preciso dar oportunidade para que ele fale a respeito do que pensa e sente nesse contexto. De modo algum se esgotaram as possibilidades de pesquisa da temática adolescência e escola. Percebo que outras investigações devam ser desenvolvidas, buscando ouvir alunos que participam de outras realidades culturais, sociais e econômicas, e também os profissionais de ensino, tais como professores, direção, coordenação e outros. Realizar uma pesquisa que contou com a participação de alunos adolescentes foi bastante gratificante, pois tive a oportunidade de ler depoimentos contagiantes que revelaram quanto os estudantes valorizam e respeitam a instituição investigada. Conheci, dentro de um contexto específico e único, a escola vivida pelo aluno adolescente. Encontrei um espaço de intensas relações, permeado por emoções, sentimentos e representações que dão vida e constituem a escola estadual investigada. Este estudo possibilitou minha reflexão como pesquisadora e como professora. Na condição de pesquisadora, permitiu que eu encontrasse algumas respostas para o problema da minha pesquisa. Como docente, olhei para o aluno que se manifesta por inteiro; suas falas forneceram indicadores para a melhora do meu trabalho na sala de aula e revelaram o quanto a escola é significativa para o adolescente. Essa experiência consentiu que eu vivenciasse sentimentos de alegria, satisfação e orgulho por trabalhar na educação, por ter a certeza de que contribuímos para a boa formação do ser humano e de que deixamos marcas significativas em nossos alunos. Encerro esta pesquisa, dando voz a uma das alunas participantes, pois seu depoimento exemplifica o quanto a escola é vital. 101 Os incentivos dos professores, as palestras e os trabalhos, as brincadeiras, as conversas, as paqueras. Agradável mesmo foi quando eu tirei o meu 1º A na escola. Os meus colegas que conheci que se tornaram grandes amigos. Quando eu conheci o Paulo Antônio. Quando ajudei alguns colegas da classe. Quando pedi conselhos dos meus professores, de alguns. Quando mostrei que sou capaz de fazer a diferença e outras coisas muito, muito, muito agradáveis é quando acordo e me olho no espelho e percebo que tenho que melhorar mais e mais. E é isso que me levanta e me deixa com muito ânimo. Deise 102 Referências AGUIAR, Wanda Maria Junqueira de. A escolha profissional: contribuições da psicologia sócio-histórica. Psicologia da Educação, São Paulo, n. 23, p. 11-25, 2º sem/2006. ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. Wallon e a educação. In: MAHONEY, Abigail Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. (orgs). Henri Wallon: Psicologia e Educação, 5 ed, São Paulo: Edições Loyola, 2005, conclusão, p. 71-87. _________________. Ser professor: um diálogo com Henri Wallon. In: MAHONEY, Abigail. Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. (orgs). A constituição da pessoa na proposta de Henri Wallon. São Paulo: Edições Loyola, 2004, cap. 7, p. 119-140. ALMEIDA, Sandra Francesca Conte de. O lugar da afetividade e do desejo na relação ensinar-aprender. Temas em Psicologia, Ribeirão Preto, SP: n. 1, p. 31-44, 1993. ARDITO, Maria Tereza Medeiros. A raiva na escola: Um estudo com adolescentes paulistanos. 1999. 177 f. 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Quando nós, os alunos inteligentes, acertamos tudo em uma prova, tiramos B, nessa mesma, os CDF’s tiram A, na maioria das vezes isso Explicitação dos significados - Campeonatos são raros na escola. - Ganhar uma medalha pelo 2º lugar no campeonato de futsal foi uma honra. - A medalha recebida é o reconhecimento do esforço e uma lembrança querida. - Auto-avaliação positiva: “sou inteligente e não CDF”. - Os professores dão nota maior para os CDF’s por causa do comportamento, desvalorizando o rendimento do outro – isto não é correto. - Os critérios de avaliação não estão Sentimentos captados pela pesquisadora Sentiu-se - Satisfeita, alegre e com prazer por participar do campeonato de futsal e conquistar o 2º lugar. - Orgulhosa por receber a medalha. - Indignada e injustiçada pela forma como é avaliada e por desconhecer os critérios de avaliação. Relação com a teoria Necessidades Implicações Educacionais - Ser reconhecida pelo esforço. - Participar de competições e de atividades extraclasse. - Estar com o outro. Os campeonatos promovem a interação entre os alunos dos diferentes anos. Incentivam a participação deles nos eventos, possibilitando maior participação dos estudantes nas demais atividades escolares. Desenvolve o espírito esportivo e de equipe. - Integração dos conjuntos funcionais. - Característica da adolescência. - Ter uma avaliação justa, em função do rendimento escolar. - Buscar explicação para os fatos. - Ser aceita como indivíduo único, diferente dos demais. - Desconsiderar as diferenças de comportamentos entre os alunos pode causar desinteresse pelas atividades escolares, dificultando o processo ensino-aprendizagem e gerando neles uma sensação de previsibilidade, já que a nota, aparentemente, é dada em função de um comportamento e não do desempenho. É preciso -Característica da adolescência. 108 acontece, só porque eles ficam colados na cadeira o tempo todo. Eu acho que comportamento é uma nota e avaliação é outra. Isso não significa que são melhores ou até mesmo piores do que nós, os inteligentes. Eu acho que ninguém consegue mudar esse meu pensamento, porque até hoje nenhum dos que eu perguntei me convenceram com sua resposta, é sempre a mesma coisa. Eu não quero ser melhor, nem pior, apenas diferente. Aluna 2 Situação agradável - Num certo dia, havia uma redação Carla para fazer sobre o filme: “Fulaninho”, eu fiz essa redação no maior capricho, mas eu nem imaginava que aquela redação fazia parte de um concurso e que toda a escola estava concorrendo. Então um dia eu cheguei na escola (Joaquim Fernandes) e me avisaram que eu havia ganhado o primeiro lugar, e que era para eu ir buscar meu prêmio no “Teatro Imprensa”. Eu fiquei super feliz, minha mãe (que naquela época ainda era viva) me acompanhou e eu peguei o meu prêmio que era um rádio gravador, até hoje eu tenho. trabalhar a representação que alunos e professores têm da avaliação. Os estudantes precisam ter espaço para serem ouvidos sobre esta questão e terem suas dúvidas esclarecidas, os cirtérios de avaliação devem estar claros para todos. claros. - Redação feita com cuidado, sem saber que participava de um concurso. - Ganhar o primeiro lugar no concurso e ir com a mãe (que ainda era viva) receber o prêmio no Teatro Imprensa. - Surpresa ao saber que a redação feita fazia parte de um concurso que venceu. Sentiu-se - Orgulhosa e alegre pelo prêmio e porque a mãe a acompanhou. - Ter reconhecimento por parte da escola e da família - A escola deve valorizar as realizações dos alunos. Aproveitar as oportunidades para divulgá-las e participar de concursos. - Afetividade. Obs: guardar o prêmio pode ser também uma forma de recordar o momento que passou com a mãe que ainda era viva. As duas situações lembradas pela aluna envolveram a participação de sua mãe. 109 Situação desagradável - Eu e uma colega estávamos numa biblioteca da escola quando eu propus um trato: eu cortava um pedaço do cabelo dela e depois ela cortaria um pedaço do meu cabelo. Ela topou (ainda estávamos na 3ª série) e então eu cortei quase o cabelo todo dela e na hora de cortar o meu eu não deixei. Fomos para a diretoria, eles convocaram nossas mães e quando cheguei em casa levei foi uma bela bronca. E no dia seguinte, a minha colega foi quase careca para a escola, mas também a escola inteira ficou sabendo do acontecimento. - Trato entre colegas: cortar o cabelo uma da outra na biblioteca da escola. - Romper o trato com a colega e não deixá-la cortar o seu cabelo, mesmo tendo cortado o cabelo dela. - As mães foram convocadas pela escola. - Levou bronca da mãe. - Não ficou com o cabelo cortado, mas toda a escola ficou sabendo do fato. - Arrependida pelo trato que fez. - Envergonhada por todos da escola ficarem sabendo. - Ter o acompanhamento da família. - Cumprir com o combinado - Refletir sobre as conseqüências do que se faz. - Características - Todos os profissionais que lidam com os alunos dentro da da adolescência. escola são educadores. O reponsável pela biblioteca precisa ficar atento aos comportamentos e reações dos alunos enquanto utilizam o espaço. É preciso olhar o todo, zelando a biblioteca e os alunos. Pode-se também trabalhar com os alunos o respeito ao outro e o cuidado consigo mesmo e com o outro. Aluno 3 Situação agradável – Quando fomos viceAntônio campeões de vôlei na AABB. Foi um ótimo dia só não fomos campeões porque não jogamos bem, mas chegamos até a final então está ótimo. - Participar do campeonato de vôlei e ser vice-campeão. - Julgamento adequado do desempenho no jogo: “só não fomos campeões porque não jogamos bem”; aceitação precisa do 2º lugar. Sentiu-se - Satisfeito e alegre por participar do campeonato e chegar a final. - Participar dos eventos extraescolares. - Estar com o outro e sentir-se aceito. - A participação em eventos - Características da adolescência. inter-escolares possibilita a interação entre os alunos das diferentes instituições. Promove o espírito esportivo e de equipe, permitindo o desenvolvimento do sentimento de pertencimento a uma instituição, possibilitando que o aluno zele e lute por sua escola. - Sentir-se mal por - Injustiçado pela - Fazer justiça. - O desentendimento entre Situação desagradável – - Características 110 Quando eu e o meu amigo Fagner brigamos por causa de uma mentira do João e do Roberto. Eles falaram para o meu amigo que eu xinguei a mãe dele. Então isso foi muito desagradável. Aluno 4 Situação Agradável - Uma coisa bem agradável para Wagner mim foi quando o meu time foi campeão no campeonato da escola. O meu time fez a melhor temporada. Eu fiquei muito feliz, fiz 3 gols e fui considerado um dos melhores jogadores, pela minha raça e meu vigor, porque se eu errei, eu não vou abaixar a cabeça, vou continuar em frente. Situação desagradável Uma coisa bem desagradável foi meus amigos brigaram. Eles brigaram por besteira, por motivo nenhum, por um ter feito uma brincadeira sem graça o outro não gostou e ficou muito irritado com atitudes do outro e partiu para cima. Isso ficou marcado na minha memória, brigar com um amigo mentira dos amigos. por causa de intrigas de outros dois amigos. amigos pode dificultar a da adolescência. participação do aluno nas aulas durante o período em que estiver brigado. - Participar do time que fez a melhor temporada do campeonato da escola e ser campeão. - Fazer três gols. - Ser considerado um dos melhores jogadores pela raça e vigor. - Capacidade de enfrentar desafios: “se eu errei, eu não vou abaixar a cabeça, vou continuar em frente”. Sentiu-se - Alegre e satisfeito consigo mesmo pelo desempenho em favor do time e por ser firme. - Ser reconhecido pela dedicação e esforço no campeonato. - Sentir-se aceito. - Estar com o outro. - Mostrar que pode vencer desafios. - Presenciar uma briga entre amigos por causa de uma brincadeira que considerou sem graça: um amigo fez uma brincadeira e o outro ficou irritado com as atitudes e partiu para briga. - Aborrecido e triste por presenciar a briga entre amigos do seu grupo. - Conservar o grupo de - O desentendimento entre - Os grupos. amigos. amigos pode causar um sentimento de mal-estar e dificultar a participação dos alunos nas aulas. Enquanto eles estiverem se sentindo chateados não conseguirão concentrar-se adequadamente. Além disso, a dissipação de um grupo pode prejudicar as relações entre os alunos porque afeta todos os - A participação do aluno em atividades extracurriculares que envolvem a equipe possibilita o fortalecimento do grupo, do espírito esportivo e da valorização da escola como um espaço que vai além da sala de aula. - Já que os campeonatos agradam tanto os alunos os profª poderiam realizar atividades interdisciplinares, aproveitando na sala de aula o que acontece durante o campeonato, criando tabelas das rodadas, montando revistas ou tablóides com textos sobre o que aconteceu nos jogos, entrevistas com os destaques etc. - Integração dos conjuntos funcionais, com o predomínio da afetividade. 111 por uma brincadeira sem graça fizeram dois amigos brigarem. Aluna 5 Situação Agradável – Bom, acho que a coisa que mais Cleide marcou foi ter conhecido professores, foram aqueles que deixaram e deixam sua marca, o Maurício de História, a Marta de Português e o Alberto de História. As festas que “foram” produzidas por nós. A da Copa foi uma apresentação muito bonita e produtiva. Situação desagradável – Foi quando eu caí na escola, era um dia de chuva a escada estava molhada, minha bunda ficou encharcada. Também conhecer pessoas muito falsas, que você põe tanta confiança e acabam nos traindo. São poucas as amizades de escola que acabam dando certo. integrantes daquele grupo. - Conhecer professores que deixaram e deixam as suas marcas. - Participar da produção de festas. - Festa da Copa possibilitou uma apresentação bonita e produtiva. - A escola possibilita diferentes espaços de interação e participação da aluna. Sentiu-se - Satisfeita e alegre por conhecer professores que deixaram suas marcas. - Com prazer por participar da produção e da festa da copa. - Ter o reconhecimento do trabalho. - Aprender com o outro. - Participar da criação dos eventos escolares. - Sentir-se como um integrante da instituição, coconstrutor. - Afetividade. - O bom relacionamento da aluna com alguns professores possibilita um bom relacionamento da aluna com o objeto do conhecimento. - A participação da aluna na criação e organização de eventos na escola possibilita o desenvolvimento do sentimento de pertencimento do espaço escolar, faz com que ela se sinta responsável por este espaço, pelo evento e incentiva a participação da estudante na realização das atividades já que elas têm um objetivo concreto: a apresentação na festa da copa. - Cair na escada da escola que estava molhada por causa do dia chuvoso. - Conhecer pessoas falsas, depositar confiança nelas e ser traída por elas. - Na escola poucas amizades dão certo. - Envergonhada pelo acidente. - Traída por pessoas em que tinha confiança. - Frustrada porque são poucas as amizades escolares que persistem. - Não ficar em evidência de forma desastrosa (não “pagar mico”). - Estabelecer laço de amizade duradouro. - Ter alguém em quem confiar. - Não ser traído. - O aluno pode sentir-se desorientado neste dia e não conseguir concertar-se nas aulas de forma apropriada. - Quando um aluno se sente deslocado ou não encontra um grupo para se apoiar pode se isolar e deixar de participar de atividades que exijam o contato com o grupo, com isso ele deixa de se desenvolver socialmente e não encontra na escola um lugar de interações com os pares, conseqüentemente, perde o gosto por atividades que envolvam o grupo. - Características da adolescência. - Relação euoutro. 112 Aluna 6 Situação agradável – A situação mais agradável que Kátia eu tive aconteceu neste ano aqui na escola, que foi quando teve uma exposição sobre a Copa de 2006. Falamos sobre todos os países, mas cada sala teve um assunto para pesquisar, foi realizada um [exposição] na escola e em todos os horários, foi um tempo de muito trabalho, mas que valeu a pena, pois no dia da exposição tivemos uma mini festa que foi muito bom, as músicas foram as melhores, as salas estavam divinas e sem contar que estava lotada a escola. Foi muito bom! Todos gostaram e falam até hoje. Pra mim ficou guardado! - Ver a escola cheia de gente para apreciar a exposição da Copa de 2006, resultado de muito trabalho por parte dos alunos. - Compartilhar o momento festivo com os colegas e com a comunidade. Ter para isso uma mini-festa e músicas. - Saber que todos gostaram e ainda comentam sobre o dia. Sentiu-se - Satisfeita por fazer parte do trabalho e ter a possibilidade de mostrá-lo a todos. - Alegre por compartilhar o resultado do trabalho e o momento festivo com todos. - Ter reconhecimento pelo trabalho que envolveu pesquisa. - Compartilhar o resultado do trabalho não só com os colegas e professores, mas com toda a comunidade. - Celebrar um momento importante. - A escola precisa valorizar as - Integração realizações dos alunos e cognitiva-afetiva. possibilitar espaços para divulgá-las à comunidade. - A equipe escolar precisa planejar atividades e eventos que envolvam os alunos para suas realizações. Não restringindo o trabalho somente ao espaço da sala de aula. Situação desagradável – Uma situação desagradável foi quando eu estava de TPM e chegando na escola participei de todas as aulas até chegar uma que fiquei pra fora da sala, então foi o fim, tive que subir para o pátio e fiquei lá, foi quando a diretora me pegou e me levou para a sala dela, sorte que não houve nada, mas o meu nome ficou no livro. Depois, quando desci tinha descoberto que tinha sido traída pelo meu ficante. - Ter um dia difícil: - ir para a escola com TPM e participar de todas as aulas; - ficar fora da sala em uma das aulas e por isso ter que ir para o pátio; - ser vista pela diretora e ir para a diretoria, sem conseqüências mais graves, mesmo assim teve o nome registrado no livro; - depois de tudo, descobrir uma traição - Irritada, triste, com raiva, angustiada, nervosa e frustrada pelos acontecimentos do dia. - Orgânica, porque o organismo não estava bem. - Ser respeitada pelo momento que estava passando e ficar sozinha para respirar. - É preciso considerar o aluno como um indivíduo que se manifesta em todas as dimensões: afetiva, cognitiva e motora. O orgânico e o afetivo interferem de forma significativa no plano cognitivo. - Integração dos conjuntos funcionais, com o predomínio da afetividade. 113 Nossa! Aí me acabei mesmo, comecei a chorar e não parava, até pedi para a professora para eu ir respirar um pouco. Lembro como se fosse hoje, nunca vou esquecer, foi na segundafeira de setembro de 2006. Aluno 7 Situação Agradável - Foi quando eu vim para a escola Roberto na 5ª série. Foi quando começou, nos primeiros dias eu só conhecia uma pessoa, é o Fagner, que por acaso ainda estuda na mesma escola. Então essa é a situação agradável, quando eu cheguei na escola e conheci todos os meus colegas. Situação desagradável - Foi quando na física, eu jogando bola passei do moleque e ele me deu um rodo e eu levei 4 pontos no queixo. do “ficante” e por isso chorar incessantemente a ponto de pedir à professora para sair da aula e ir respirar. - Ter a possibilidade de conhecer novos colegas na nova escola, pois nos primeiros dias de aula conhecia apenas uma pessoa. - Levar uma rasteira do colega enquanto jogava bola e machucar o queixo, precisando de quatro pontos no corte. - Não fez um julgamento da ação do outro, talvez por acreditar que dar uma rasteira faça parte do jogo e machucar-se também. Aluno 8 Situação agradável - Eu tive - A dedicação e o uma situação agradável, foi envolvimento com os estudos possibilitaram Flávio nesse bimestre até. Eu me ao aluno tirar boas esforcei bastante, me integrei nos estudos e no fim notas, aumentando as do bimestre tive uma notícia chances de passar de boa, que minhas notas ano. Sentiu-se - Seguro e aceito por conhecer os colegas. - Sentir segurança diante do novo. - Ser aceito pelo grupo. - É importância pensar no acolhimento de novos alunos, independentemente da idade. - Afetividade. - Grupo. - Triste e frustrado por machucar-se e não continuar jogando. - Participar do jogo na aula de educação física. - Características da adolescência. Sentiu-se - Satisfeito pelo desempenho. - Alegre por ter a chance de passar de ano e por participar de atividades - Passar de ano. - Mostrar que é capaz de tirar boas notas. - Vivenciar atividades diferenciadas das rotineiras. - Nas aulas de educação Física em que o movimento corporal está presente com mais intensidade a escola precisa estar preparada para lidar com um aluno ferido, prestando o socorro ou chamando o serviço especializado. Além disso, deve preparar os estudantes e seus familiares para evitar desentendimentos, explicando que acidentes acontecem. - Quando o aluno percebe que seu esforço para melhorar o desempenho foi reconhecido ou recompensado com boas notas sente-se mais capaz e motivado a dar continuidade ao seu esforço. - Integração afetiva- cognitiva. - Relação euoutro. 114 estavam todas boas. E com essas notas boas eu tenho mais chance de passar de ano. [Outra situação foi] o dia Agradável do agita galera, foi muito da hora porque teve várias gincanas, ao invés de aulas e coisas que nós fazemos aqui na escola, foi muito divertido esse dia, muito marcante. - Auto-avaliação positiva: percebeu-se mais dedicado e esforçado nos estudos. - Boa notícia: ter o conhecimento de que as notas melhoraram no fim do bimestre. - Ter um dia divertido na escola, vivenciando uma rotina diferente da habitual. - Participação em atividades que não costuma ter no dia-a-dia escolar. variadas. - Com prazer por vivenciar um dia diferente. Situação desagradável – Uma experiência muito desagradável é o fato de eu não poder participar das aulas de Educação Física, por causa de um problema que eu tive no meu olho esquerdo, e estou até hoje sem participar das aulas. - Não participar das aulas de Educação Física por motivo de doença é uma experiência extremamente desagradável. - Ficar fora das aulas de Educação Física é estar excluído. - Triste e impotente por não poder participar das aulas de educação física por causa de uma doença. - Atividades que quebram a rotina e envolvem a interação dos alunos possibilitam uma melhor socialização do grupo e uma melhor relação do aluno com os funcionários e com o espaço escolar de um modo geral, ampliando sua visão da escola não só como espaço do conhecimento, como também de diversão, nos momentos apropriados. Permite, ainda, que o estudante valorize mais o espaço em que vive. - Participar de atividades esportivas. - Participar das aulas de Educação Física como todos os outros colegas. - A escola precisa pensar - Relação euoutro. também em atividades que possibilitem a participação dos - Afetividade. alunos com algum tipo de impedimento, caso o contrário estará excluindo. - A Educação Física também é um espaço para trabalhar as relações interpessoais. As aulas desta disciplina não podem se restringir às atividades físicas de alto impacto; os jogos cooperativos e os de tabuleiro também fazem parte desta modalidade de ensino e possibilitam a participação e a interação de todos. Além disso, o aluno poderia participar das aulas de forma alternativa, exercendo outras funções nos jogos, como a de árbitro, por exemplo. 115 Aluno 9 Situação Agradável - Certo dia eu estava em casa meio Walter triste, porque tinha deixado a escola em que eu estudei quatro anos. Eu estava me preparando para ir para a nova escola, imaginava que tudo daria errado para mim, pelo fato de nunca ter estudado aqui, mas mesmo com esse medo tomei banho, me arrumei e vim pra cá. Ao chegar aqui vi que eu estava errado porque a escola era muito legal e eu conheci pessoas maravilhosas, que me receberam de braços abertos. Para mim, a coisa marcante nessa história foi ter conhecido meus amigos e professores que vem me acompanhando desde a 5ª série e que, além disso, são pessoas ótimas, que agora eu preciso ter no meu dia-adia. Situação desagradável - Eu estava lá no gol, era semifinal de campeonato, o jogo já estava acabando, foi quando veio a bomba, ao tentar pegar a bola me desequilibrei e acabei pegando errado e acabou quebrando o meu dedo. - O estabelecimento de uma relação de confiança com os amigos e professores que o acompanham desde a 5ª série é algo tão importante que é necessário em seu diaa-dia. - Percebeu a importância de enfrentar o medo do novo, pois se surpreendeu com a nova escola, além de ser bem recebido, conheceu pessoas admiráveis. Sentiu-se - Bem acolhido, seguro e alegre por conhecer pessoas na nova escola. - Surpreso por descobrir uma escola diferente da que imaginava. - Conviver com os amigos e professores. - Ser aceito. - Estabelecer um grupo de convívio. - Afetividade. - A importância de se acolher bem os novos alunos, independentemente da idade. - A escola deve valorizar e propiciar a consolidação de um grupo de professores e amigos. Os laços afetivos gerados nestas relações permitem uma relação de aprendizagem mais adequada entre o aluno com o objeto do conhecimento. - Sair do campeonato no último momento e não poder cumprir o papel de goleiro porque quebrou o dedo ao defender uma bola. - Frustrado por não poder participar mais dos jogos. - Triste por se machucar e não ter cumprido o papel de goleiro porque não conseguiu defender a bola. - Ter condições para participar do campeonato. - Desempenhar bem o papel de goleiro. - A escola deve estar preparada - Afetividade. para prestar socorro no caso de acidentes e alertar os estudantes e seus familiares para as eventuais ocorrencias. Deve-se valorizar a participação do aluno, mesmo quando ele é impedido de continuar a jogar. - É preciso trabalhar a frustração sentida com a perda porque isso pode acontecer em 116 outras situações da vida. Aluno 10 Pedro Aluna 11 Deise Situação Agradável - Um dia que ia acontecer o conselho de classe, que era para os pais irem junto com os alunos, eu fiquei com medo de tirar notas ruins. E a minha mãe disse [que] se eu tirasse nota ruim eu ia ficar de castigo. Chegou no conselho eu fiquei sentado lá na frente com minha mãe, quando chamou o meu número eu fiquei com medo, mas tive uma situação agradável, porque eu tive só as notas boas e não tive reclamação nenhuma. E minha mãe me deu parabéns. - Surpreender-se com o seu desempenho. - Conseguir corresponder às expectativas da mãe e ser parabenizado pelo desempenho apresentado. - Ficar sabendo, junto com a mãe, das boas notas e não ter nenhuma reclamação de seus professores. - Livrar-se de um castigo porque apresentou boas notas, reveladas durante o conselho de classe. Sentiu-se - Aliviado após o medo do castigo por causa do seu bom desempenho. - Alegre por corresponder às expectativas da mãe e não receber castigo. - Ansioso porque não sabia das notas. - Corresponder às expectativas da mãe. - Ter o reconhecimento do seu trabalho por meio das notas apresentadas e dos comentários a respeito do desempenho. - É preciso levar em conta que - Afetividade. a avaliação é um processo do - Família. qual o aluno faz parte e por isso deve estar ciente de seu desempenho durante o percurso avaliativo. Os critérios de avaliação devem estar claros para todos. Situação desagradável - Um dia que teve uma votação para os grupos que falaram que iriam arrumar a escola, colocar tal coisa. Eram vários grupos, eu votei para o grupo que dizia que iria melhorar a escola, mas no fim ganhou e não fez nada que prometeu. Situação agradável – Os incentivos dos professores, as palestras e os trabalhos, as brincadeiras, as conversas, as paqueras. Agradável mesmo foi quando eu tirei o meu 1º A na escola. Os meus colegas - Quebra da confiança por votar em um grupo que não correspondeu suas expectativas. - Acreditou em falsas promessas para melhoraria da escola. - Frustrado, decepcionado e desapontado por acreditar em falsas promessas. - Ter expectativas correspondidas. - Poder confiar nas promessas. - Ser respeitado - Ver o cumprimento das promessas. - Quando a escola possibilita a - Características instituição do grêmio precisa da adolescência. acompanhar suas realizações e instruir os alunos para reivindicar seus interesses. A escola é: - espaço vital, onde a aluna estabelece relações de troca e de confiança, ajuda os colegas, recebe incentivos de seus professores e tem a Sentiu-se - Alegre por estabelecer relações de confiança e de ajuda com os colegas e professores. - Satisfeita por - Mostrar que faz a diferença. - Ser reconhecida pelo que faz. - Estar com o outro. - Refletir sobre o que faz para poder melhorar. - A escola precisa reconhecer que os alunos se expressam por inteiro e que não é um espaço somente de aprendizagem, mas de relações, por isso, deve construir junto com os estudantes o sentimento de - Integração afetiva-cognitivamotora. - Relação euoutro. - Os grupos. 117 que conheci que se tornaram grandes amigos. Quando eu conheci o Paulo Antônio. Quando ajudei alguns colegas da classe. Quando pedi conselhos dos meus professores, de alguns. Quando mostrei que sou capaz de fazer a diferença e outras coisas muito, muito, muito agradáveis é quando acordo e me olho no espelho e percebo que tenho que melhorar mais e mais. E é isso que me levanta e me deixa com muito ânimo. liberdade de pedir conselho para alguns deles; - lugar para divertir-se, conhecer pessoas, fazer amigos e paquerar. - lugar de conhecimento, com a possibilidade de aprender em diversas atividades, palestras e trabalhos; - Julgamento positivo de suas ações, que fazem a diferença. - Consciência de que pode melhorar mais a cada dia. acreditar que suas ações fazem a diferença. - Com prazer por compartilhar momentos felizes com as pessoas. - Acreditar na possibilidade de melhorar mais a cada dia. - Não viver na mesmice. pertencimento e de valorização positiva deste local. Situação desagradável – Quando fui usar o banheiro, isto quando fomos nos trocar no banheiro, uma colega empurrou a porta com tanto impulso que acertou a minha cabeça, no começo doeu, mas nem ao menos ela me pediu desculpas, ao sair do banheiro já era intervalo, a Cristina outra colega da mesma sala começou a ficar pálida, pois estava saindo sangue, e eu nem percebi, só fui perceber quando eu vi a minha camiseta que estava encharcada de sangue, ao subir para ir para a sala a professora logo perguntou: Quem foi que empurrou a - Desconsideração por parte da colega que não se desculpou após um incidente: empurrou a porta do banheiro com muita força que bateu na testa da aluna e fez um corte que causou uma cicatriz. - Mesmo sentindo-se aborrecida procurou mostrar lealdade e preservou a identidade da colega envolvida. - Julgamento das ações de um colega que considerava mau aluno. - Atitude desrespeitosa por parte do colega fez com que procurasse a - Indignada pela atitude da colega que não se desculpou. - Irritada pela atitude desrespeitosa do colega. - Orgulhosa por ser a responsável pela saída do aluno da escola. - Desapontada por tirar uma nota vermelha e não conseguir apresentar um bom desempenho em matemática. - Ser respeitada. - Fazer justiça diante do que considera errado. - Apontar que não vai bem em matemática. - Quando um aluno se machuca os funcionários da escola precisam prestar os primeiros socorros e informar os pais sobre o ocorrido. Pode-se trabalhar com os alunos o respeito ao outro, alertando-os para tomarem cuidado com suas ações. - Um aluno saiu da instituição, é preciso tomar cuidado com relação ao padrão de aluno que a escola está estabelecendo: o bom e o mau, aquele que não corresponde ao padrão de bom é expulso, fazer com que os alunos acreditem nisso pode perpetuar uma situação de exclusão. - A escola deve evitar que os - Características da adolescência. - Integração dos domínios funcionais com predomínio da afetividade e do conhecimento. 118 Aluna 12 Márcia porta na sua cabeça? Eu não quis responder, mas me direcionou ao banheiro dos professores e lavou a minha cabeça, ligaram para a minha mãe, minha mãe ficou pianinha, nervosa. Até hoje tenho essa cicatriz. Outro caso desagradável ao entrar para a sala um “colega” começou com a falta de respeito, eu fiquei tanto irritada que sai da sala sem a permissão da professora, fui falar com o Joaquim, até que finalmente eu consegui tirar ele da escola, aliás, ele sempre foi um mau aluno. E também a primeira nota vermelha um “E” que tirei na prova de Matemática, OBS – nunca me dei bem em Matemática, professor “Cristiano”. Situação agradável – A apresentação dos trabalhos sobre a Copa, o agita galera deste ano, os campeonatos de vôlei e de futebol, as palestras; umas das principais e interessantes sobre a saúde bucal, a orientação sexual, falando também sobre as drogas. As palestras ajudaram bastante os alunos. estudantes construam representações negativas sobre seu desempenho. A aluna disse que nunca se deu bem em matemática e parece acreditar que a situação não vai mudar. direção e a mobilizasse para tirar o aluno da escola. - Tirar a primeira nota vermelha, que foi na prova de Matemática. - Não conseguir apresentar um bom desempenho nesta matéria. - Representação de que não é boa aluna em Matemática e de que isso não vai mudar. - A diversidade de situações vivenciadas na escola possibilita à aluna encontrar outros espaços de aprendizagem e para a discussão de assuntos do seu interesse, que ajudam a aluna e seus colegas (as palestras). - Oportunidade de participar de eventos diferenciados, que possibilitam a interação entre os alunos, como a apresentação dos Sentiu-se - Satisfeita por participar de diferentes eventos. - Ter contato com assuntos que fazem parte de seus interesses e esclarecem suas dúvidas. - Participar de eventos. - A escola pode aproveitar os interesses de seus alunos para construir conhecimentos a partir deles. - Os eventos que envolvem a participação dos alunos possibilitam a interação e a constituição de um grupo sólido que se preocupa em preservar o local onde estuda. - Integração afetiva-cognitivamotora. . 119 trabalhos da Copa, o agita galera e os campeonatos esportivos. Situação desagradável – O grêmio prometeu fazer bastante coisas para os alunos, colocar música na hora do intervalo, colocar cortina nas salas e acabou fazendo nada. Alguns colegiais destruíram a horta, jogando papéis [e] pisando nos vegetais. E esse trabalho todas as 7ª e 8ª ajudaram a construir e eles, os colegiais, não colaboraram em manter uma escola mais bonita e alegre. Eu acho que, pelo menos, deveríamos ter cantado o hino nacional no dia 7 de setembro, a independência do Brasil. Alguns alunos da escola não colaboram em deixar a escola limpa, jogam papel de bala no chão, rabiscam as mesas, e deixam as salas sujas. Se todos colaborassem, nós teríamos uma escola melhor, não para um e sim para todos. E com uma grande consciência cada vez melhor. Aluna Situação agradável – 13 Quando o professor Alberto deixou as meninas Patrícia participarem do campeonato - As promessas feitas pelo grêmio não foram cumpridas. - O trabalho realizado pelas 7ª e 8ª não foi valorizado pelos alunos do ensino médio. - Falta colaboração por parte dos alunos para manter uma escola limpa, bonita e alegre. - Desvalorização do dia da Independência do Brasil. O hino nacional não foi cantado. - A escola é um espaço coletivo que deve ser valorizado e agradável para todos. - Indignada e frustrada pela falta de ação do grêmio e pelo desrespeito dos alunos para com o espaço escolar e o trabalho dos colegas. - Preocupada com a desvaloriação do dia 7 de setembro. - Ver o espaço escolar valorizado e respeitado. - Ver o seu trabalho e dos demais colegas respeitado. - Desenvolver a consciência da importância do coletivo. - Os alunos precisam ter espaço para serem ouvidos sobre como vêem a escola em que estudam. Questões sobre o desempenho do grêmio, falta de colaboração para manter a escola limpa, desrespeito por parte de alguns alunos para com o trabalho de outros e o desconhecimento da aluna dos motivos de não se cantar o hino nacional no dia 7 de setembro são assuntos que devem ser debatidos com os alunos para que todos tenham clareza das decisões tomadas pela direção e professores da escola. Quando os alunos são ouvidos, a instituição pode buscar caminhos para melhorar junto com eles, dando a oportunidade de cobrarem e de serem cobrados por suas ações. Deste modo, pode-se desenvolver nos alunos o respeito, a responsabilidade e o sentimento de pertencimento à escola. - Relação euoutro. - Característica da adolescência. - Possibilidade de competir em um campeonato tradicionalmente Sentiu-se - Alegre por participar do campeonato. - Praticar futsal. - Participar do campeonato de um esporte que aprecia. - A escola precisa desenvolver a igualdade entre os gêneros, promover campeonatos femininos e masculinos nas - Características da adolescência. - Afetividade. - Integração dos 120 Aluna 14 Janete de futsal. disputado entre os meninos, o futebol de salão. Situação desagradável – Quando chove muito e ficamos trancados na escola. Quando o Antônio discutiu com a professora de geografia. Quando está muito sol e temos que ficar na quadra pequena, que é descoberta, o sol acaba me deixando com dor de cabeça e vermelha. Existe muito preconceito. - Não ter a possibilidade de sair da escola por causa de uma forte chuva. - Presenciar uma discussão entre o colega e a professora. - Desconforto por praticar atividades na quadra descoberta em dias muito ensolarados; além de causar dor de cabeça a pele fica vermelha e, com isso, acaba sendo alvo de brincadeiras pejorativas. - Revela a existência de preconceito por causa da aparência. - Estar junto com as amigas e aproveitar um dia inteiro sem brigas. Situação agradável – Para mim foi quando fui ao playcenter, foi muito “loko”, zoei até umas horas. Fui eu e minhas amigas, pra mim foi muito marcante porque foi um dia que todas ficaram juntas sem brigar, e foi demais. Situação desagradável – Foi quando eu e minhas amigas estávamos na fila do refeitório e estava um empurra, empurra. Foi quando a dona Maria, a inspetora de aluno, chegou e - Ser empurrada pela inspetora de alunos enquanto estava na fila, cair e derrubar as amigas. - Ser alvo de atenção e motivo de risadas várias modalidades é um caminho. conjuntos funcionais. - Descontente por não poder sair da escola por causa da chuva. - Constrangida por presenciar uma briga entre aluno e professor. - Preocupada por ser vítima de preconceito. - Sair da escola quando termina o horário da aula para fazer outras atividades ao longo do dia. - Estar em um ambiente seguro e sem brigas. - Praticar atividades em lugares adequados. - Ser aceita como é, independentemente da aparência que o sol provoca. - A escola precisa preservar a saúde e a segurança de seus alunos. É prudente cuidar para que não saiam da instituição em dias de temporais, por exemplo. Deve-se, ainda, organizar espaços adequados para a prática de esportes. - É preciso trabalhar com os alunos o respeito às diferenças de gênero, etnia etc. - Características da adolescência. - Afetividade. Sentiu-se - Alegre e satisfeita por estar junto com as amigas em um momento descontraído. - Estar em harmonia com o grupo de amigas. - As excursões podem ser momentos de socialização entre os alunos e consolidação do grupo. - Os grupos. - Todos os profissionais que lidam com os alunos dentro da escola são educadores, o inspetor de alunos deve saber lidar com as situações tumultuosas sem precisar agir de forma a causar acidentes, - Características da adolescência. - Não ser alvo da - Envergonhada e atenção pública de inadequada porque forma desastrosa. caiu e derrubou as amigas na frente dos colegas. 121 me empurrou e caímos, eu e minhas amigas, no chão, todo mundo deu risadas da gente, então não só foi marcante pra mim e pra elas também. Aluna 15 Leila Situação agradável – Uma situação muito agradável aconteceu este ano, no mês de agosto, assim que nós voltamos de férias. O nosso professor de Educação Física organizou um campeonato de vôlei e passou nas salas de aula chamando os alunos para participarem. Eu me escrevi, a única menina da sala, como o vôlei é o meu esporte predileto eu estava muito contente em participar. Jogamos cinco vezes e perdemos no último instante, ficamos com o segundo lugar, mas pelo menos eu representei a escola, não só eu, mas todo o meu time. No mês de outubro, no dia 31, fomos receber as medalhas e o troféu que ficou com a escola, pois o campeonato era entre escolas. Eu e o pessoal do meu time ficamos muito tristes em termos ficado em segundo lugar, mas ficamos contentes também por não ter sido desclassificados, pelo menos porque caiu e derrubou as amigas na fila cheia de gente. - Não julgou a atitude da inspetora porque a queda no meio dos colegas foi o fato mais marcante. - Agradável surpresa saber sobre o campeonato de vôlei organizado pelo professor de Educação Física - Única menina da sala que se prontificou a participar do campeonato. - Possibilidade de participar do campeonato de seu esporte predileto, o vôlei. - Representar, junto com o time, a escola que tanto orgulha. - O time não foi desclassificado do campeonato. - Importância de representar bem a escola até o último momento, mesmo não vencendo. - Receber uma medalha e um troféu pelo segundo lugar. - Julgamento adequado da derrota sofrida no campeonato: o time não Sentiu-se - Contente por participar do campeonato de seu esporte predileto. - Alegre porque o time não foi desclassificado em contraposição à tristeza sofrida pela derrota no último momento. - Com orgulho por representar a escola onde estuda. - Representar a escola onde estuda e da qual se orgulha. - Participar de eventos esportivos e extraescolares. - Mostrar que vencer não é mais importante do que representar bem a escola. zelando sempre pela integridade de todos. Pode-se trabalhar a questão do respeito ao outro e os alunos devem ser alertados para tomarem cuidado em situações que envolvem um número maior de pessoas. - A participação em campeonatos entre escolas possibilita a interação dos alunos de diferentes instituições, promove o espírito esportivo e de equipe e possibilita a construção e consolidação do sentimento de pertencimento a uma instituição. - Características da adolescência. - Integração dos conjuntos funcionais. 122 Aluna 16 Ana representamos a escola que nós tanto nos orgulhamos. Para mim essa foi uma situação bastante agradável. ganhou, mas não foi desclassificado e pôde representar bem a escola. Situação desagradável – Aconteceu no ano de 2004 na escola, uma vez por mês, aos dias de sábado, a escola promovia à noite uma festa para os alunos e para a comunidade. Isso se estendeu o ano todo, mas no começo das aulas, em fevereiro de 2005, teve a última festa. Por causa de besteira, uma aluna da escola disse para a mãe que viria para a festa, mas era mentira, a mãe pediu para ela estar em casa à meia noite e deu uma hora e ela não chegava, a mãe veio até a escola e fez com que todo mundo saísse para ver se encontrava a filha, mas ela não encontrou e por causa desse fato a diretoria proibiu a festa. E isso foi muito chato para todos. Situação agradável – Para mim, a situação agradável que eu passei na escola foi no dia que teve a apresentação da copa. Foi muito legal, todas as minhas amigas vieram para mostrar os seus trabalhos. Mas a melhor parte foi no final, quando o Silvio colocou funk - Considerou ruim o cancelamento das festas mensais por causa da mentira que uma aluna contou para sua mãe: disse que ia à festa, mas não foi. - Julgamento da atitude da aluna que mentiu para mãe, considerando uma besteira o que fez porque atrapalhou a diversão dos outros adolescentes. - Irritada pela proibição da festa. - Injustiçada porque o cancelamento ocorreu por causa da atitude mentirosa de uma aluna. - Características - Divertir-se - Fatos isolados não podem da adolescência. - Ver justiça diante dos servir como referência para a tomada de decisões sobre o fatos. que acontece na escola. Quando as decisões que afetam os alunos são tomadas sem a devida explicação, os estudantes podem sentir-se injustiçados e desconsiderados. - Mostrar os trabalhos na apresentação da copa. - Divertir-se junto com as amigas. - Melhor parte no final, dançar junto com as amigas. Sentiu-se - Alegre por compartilhar o momento com as amigas. - Estar com o outro e divertir-se. - A escola precisa valorizar as realizações dos alunos, organizando mostras e possibilitando momentos de interação e descontração entre os estudantes. - Integração dos conjuntos funcionais com predomínio da afetividade. - Relação euoutro. 123 pra gente dançar, eu me diverti muito. Situação desagradável – A situação que eu passei que foi muito desagradável, foi quando teve uma excursão para o playcenter, quando eu estava na sexta série. No começo até que foi legal, todas as minhas amigas estavam comigo, toda a turma reunida, mas de pouco em pouco fomos nos separando, até que quando estava escurecendo eu já estava sozinha, aí os monstros começaram a chegar, o meu pé começou a doer e eu não sabia nem como chegar ao ônibus. Mas no final, quando já eram umas nove horas da noite, eu encontrei uns meninos que vieram no mesmo ônibus que eu e eu fui embora para o ônibus com eles. Mas foi horrível. Aluna Situação agradável – Foi [a] 17 apresentação dos nossos trabalhos, com o título de Silvana trabalho da Copa. As pessoas, os nossos pais e os alunos puderam estar vendo os nossos trabalhos, pra mim foi o melhor trabalho da escola. Também tiveram os campeonatos de futebol e de vôlei, que foram muito divertidos. E por último teve - Separar-se do grupo de amigas durante uma excursão, ver-se sozinha e perceber que a noite já chegara. - Enfrentar os monstros do parque e uma dor no pé sem ninguém por perto. - Ficar perdida e não saber voltar ao ônibus. - Depois de um dia estressante conseguir encontrar com meninos conhecidos e poder ir embora com eles foi reconfortante. Obs: contraposição: um dia que começou legal e se tornou horrível. - Apreensiva e tensa por se perder das amigas. - Cansada por ficar andando e sentir dor no pé. - Insegura por estar sozinha e não saber voltar ao ônibus. - Aliviada porque encontrou colegas que conheceu no ônibus e foi embora junto com eles. - Aproveitar o passeio na companhia das amigas. - Não se sentir sozinha. - Sentir-se segura. - Quando há passeios os - Relação eualunos precisam ser alertados outro. para a ocorrência de imprevistos como perder-se do grupo, por exemplo, e orientados para as possíveis ações que devem tomadas, tais como: combinar um ponto de encontro no início do passeio, informar-se sobre como anunciar que está procurando alguém ou ligar para um número de celular específico de um dos organizadores da excursão. - Valorização da diversidade de atividades oferecidas pela escola. - Julgamento das atividades desenvolvidas na escola, considerando que a melhor foi o trabalho da copa, que deu visibilidade às atividades realizadas Sentiu-se - Alegre por participar dos eventos. - Satisfeita porque seu trabalho foi mostrado aos colegas, pais e comunidade. - Mostrar suas realizações aos pais, colegas e toda a comunidade. - Ter contato com atividades variadas. - A escola pode valorizar as realizações dos alunos organizando mostras de seus trabalhos e oferecer possibilidades variadas de interação e de aprendizagem para facilitar a relação do aluno com o conhecimento. - Integração dos conjuntos funcionais: afetividade, ato motor, conhecimento e pessoa. 124 Aluna 18 Marta a palestra do sorridente, foi divertido. pelos alunos. - Apresentar o trabalho da Copa para os pais, colegas e outras pessoas. - Campeonatos de futebol e vôlei e a palestra do sorridente possibilitaram diversão. Situação desagradável – Tiveram coisas que o diretor prometeu que iria fazer e não fez. O banheiro da escola é um verdadeiro lixeiro. A Olimpíada de Matemática, que foi uma verdadeira farsa. - Não acredita nas promessas do diretor e na organização da Olimpíada de Matemática. - Falta limpeza adequada no banheiro da escola. - Frustrada pelas falsas promessas da direção. - Irritada e injustiçada porque não acredita na organização das olimpíadas de matemática. - Indignada e desrespeitada por ver o banheiro da escola muito sujo. Situação agradável – Para mim as excursões que têm aqui no Machado de Assis foram todas agradáveis. O - Julgamento positivo da escola: excursões, ensino oferecido; aulas de Educação Física, Sentiu-se - Satisfeita com as possibilidades que encontra na escola. - Poder confiar nas promessas e vê-las cumpridas. - Ser respeitada. - Ter clareza dos critérios de organização das competições. - As promessas da direção devem ser cumpridas, quando não há possibilidade os estudantes devem ser informados, caso contrário se sentirão enganados e deixarão de acreditar na instituição. Esse descrédito pode abalar a relação do aluno com a escola e, conseqüentemente, a aderência dele aos eventos propostos pela instituição. - É preciso informar com clareza aos alunos os critérios de seleção, participação e organização de eventos dos quais irão participar. Deve-se abrir um espaço para ouvir os estudantes depois das participações nos eventos para saber como foram as experiências deles, os pontos positivos e negativos para decidir, junto com eles, se futuras participações valem ou não a pena. - Participar de - Os alunos precisam ter passeios. espaço para serem ouvidos - Ter acesso ao ensino sobre como vêem a escola em de boa qualidade. que estudam, é importante que - Características da adolescência. - Integração dos domínios funcionais. 125 estudo daqui da escola, pelo professores, menos para mim. As aulas alimentação. de educação físicas são agradáveis para mim. Alguns professores são agradáveis para mim. A alimentação é agradável, e muito. Situação desagradável – As festas que têm aqui no Machado de Assis são desagradáveis. Certos professores são desagradáveis para mim. A limpeza, a maioria das vezes, é desagradável. É desagradável não ter aula de informática, sendo que tem computadores e também poderia ter aulas diferentes no laboratório, porque quando vamos para o laboratório fazemos lições iguais fazemos na sala normal. Aluna 19 Gisele - Senso crítico com relação ao que é ofertado pela escola: - organização das festas; - não gosta de alguns professores; - limpeza deixa a desejar; - não tem aula de informática mesmo havendo computadores na escola; - o espaço do laboratório é usado da mesma forma que o espaço da sala de aula, não tem a possibilidade de participar de uma aula diferente neste espaço. Situação agradável - As - Festa da Copa aberta coisas que me agradaram para todos os horários, foram: a festa da Copa, que para os pais e comunidade em geral. foi aberto para todos os horários, aos pais dos alunos - As palestras e a várias pessoas. Mas não apresentadas. só isso me agradou, também - O ensino oferecido. quando tiveram as palestras - Os bons professores. na escola, estudos, e alguns - Eleição na escola. bons professores que eu tive. E a eleição que teve na - Alimentar-se - Explorar as diversas possibilidades de ensino que a escola pode oferecer. a instituição conheça seus alunos e saiba como eles julgam o que é ofertado neste espaço. - Insatisfeita e desanimada com as festas oferecidas, com alguns professores e com a limpeza da escola. - Desestimulada por saber que existe a possibilidade de ter aulas diferenciadas, mas não tem. - Ser ouvida sobre as possibilidades diferenciadas que a escola pode oferecer. - Os alunos precisam ter espaço para serem ouvidos e devem ser convidados a participarem da organização dos eventos promovidos pela escola. - Os professores devem ter possibilidade para utilizarem os diversos espaços da escola, buscando investigar os interesses de seus alunos e partir deles para construir outros conhecimentos, organizando atividades diversificadas de ensino. - Integração dos conjuntos funcionais. - Características da adolescência. Sentiu-se - Valorizada por poder apresentar o trabalho na festa. - Satisfeita por assistir palestras, ter bons professores e participar das eleições na escola. - Confiante com o ensino oferecido - Ser reconhecida e valorizada pelo que faz. - Apresentar para os pais e a comunidade seu trabalho. - Participar de atividades diferenciadas. - Confiar no ensino oferecido pela escola - A escola pode valorizar as realizações dos alunos organizando mostras de seus trabalhos e oferecer possibilidades variadas de interação e de aprendizagem para facilitar a relação do aluno com o conhecimento. - A organização de eleições para o grêmio possibilita que a escola trabalhe a cidadania - Integração dos conjuntos funcionais com o predomínio da afetividade e do conhecimento. - Família. 126 escola. Situação desagradável – Para mim uma coisa desagradável foi quando eu fui comer na escola tinha um fio de cabelo. E também as festas juninas da escola são muito desagradáveis que me marcaram. E quando apareceu um rato na escola. - Interromper a refeição por encontrar um fio de cabelo na comida. - Festas juninas desagradáveis. - Rato na escola. pela escola e por fazer parte das decisões tomadas na escola por meio das eleições. em que estuda. - Ter uma relação mais próxima com seus professores. com os alunos, a escolha de candidatos e a análise de propostas, preparando-o para as eleições dos candidatos que vão governar a sociedade da qual ele faz parte. - Com mal-estar por encontrar o fio de cabelo na comida. - Insatisfeita com as festas juninas - Com medo por encontrar um rato na escola. - Alimentar-se sem receio do que pode ser encontrado na comida. Ser ouvida sobre as festas juninas. - Sentir-se segura na escola. - Integração dos - A preparação de alimentos deve seguir um rigoroso critério conjuntos funcionais. de higiene. A cozinha precisa ser espaço restrito de acesso somente aos funcionários que cuidam da alimentação. Os alunos também devem ser orientados para tomarem cuidado, prendendo o cabelo, por exemplo, quando circulam no refeitório, próximo da área que recebem a comida. - Os alunos precisam ter espaço para serem ouvidos sobre a escola em que estudam. O descontentamento da estudante com relação às festas juninas poderia ser modificado se fossem explicados os critérios de seleção e organização das festas. Além disso, suas opiniões e a de outros colegas poderiam ser compartilhadas e consideradas nas próximas organizações. - A segurança e saúde dos alunos enquanto estão dentro da instituição devem ser asseguradas por responsáveis pela escola, que precisam tomar os devidos cuidados de higiene, verificando se o local 127 Aluna 20 Tânia Aluna 21 Luana Situação – Eu não sei o que escrever, mas o que aconteceu não sei se foi agradável ou desagradável. Foi que todo mundo subiu apressado pra ser o primeiro da fila do refeitório, para comer a famosa comida da tia, “macarrão”. Estava uma muvuca, um empurra, empurra, tava uma baderna. A Maria, que é a inspetora de alunos, ficou gritando para todos fazerem [fila] única e ninguém quis obedecer e empurrava ela. Aí ela empurrou a Janete e caímos a Janete, eu, Silvia, Fernanda e Leila. Tinha que ver! Foi uma comédia bem dá hora, caiu uma em cima da outra. Foi legal, mas não gostamos da atitude que tomou empurrando quem não tinha a ver com a bagunça na fila. Mas a nossa oportunidade vai chegar de se vingar dela. Tô zoando. Situação agradável – Muito agradável a aula de Geografia. Muita amizade legal, muito menos pessoas bestas. Poucos dias de aula de Matemática. - Confusão na fila do refeitório. - Inspetora de alunos que pediu ordem, não foi atendida e acabou empurrando uma aluna, que caiu em cima das outras. - Julgou incorreta a ação da inspetora por ter empurrado uma aluna que não estava no meio do tumulto. - Não tem clareza com relação ao fato ocorrido, se é agradável ou desagradável, pois achou o que aconteceu engraçado no momento, mas não aprovou a atitude da inspetora. Sentiu-se - Confusa para avaliar a situação como agradável ou desagradável. -Injustiçada com relação a postura da inspetora. - Ver justiça para com a colega. - Aula de Geografia. - Estabelecer relação de amizade com os alunos. - Encontrar pessoas mais interessantes, com as quais tem afinidade. - Menos aulas de Matemática por semana. Sentiu-se - Satisfeita com as aulas de geografia. - Alegre por ter menos aulas de matemática. - Animada por fazer amizades e encontrar pessoas interessantes. - Ter amizades confiáveis. - Sentir-se bem acolhida na escola em que estuda. - Ter interesses de aprendizagem correspondidos. - Livrar-se da matéria que a incomoda. está limpo e em dia com a desinsetização e desratização. - O inspetor de alunos é um educador e precisa agir de modo respeitoso com os estudantes para que seja respeitado também. - Os alunos precisam ser instruídos para agirem com respeito e organização em momentos que envolvem um grande número de pessoas. - Os alunos podem ter uma área do conhecimento de sua preferência, entretanto a escola deve despertar seu interesse pelos diferentes assuntos e assegurar a apropriação do conhecimento das diversas áreas. - A interação entre os pares é parte fundamental do processo - Afetividade. - Características da adolescência. - Integração dos conjuntos funcionais com o predomínio da afetividade e do conhecimento. - Relação euoutro. - Grupo. 128 ensino-aprendizagem, os professores podem valorizar o trabalho em grupo para possibilitar uma melhor relação do estudante com o objeto de conhecimento. Situação desagradável – Repetir a 8ª série. Aulas de português e de Matemática. Estudar dois anos de manhã, muita bagunça, muitas pessoas bestas. A minha amiga saiu da escola. Aluna 22 Situação agradável – Bom, eu entrei na escola este ano e foi uma experiência muito Viviane boa. A minha situação agradável foi eu ter feito várias amizades, porque quando eu cheguei aqui ninguém gostava de mim, hoje eu falo com todo - Reprovação na 8ª série. - Não gosta das aulas de Português e de Matemática. - Não tem afinidade com os alunos. - Amiga saiu da escola. - Desanimada por repetir a 8ª e ter que estudar dois anos de manhã - Insatisfeita com as aulas de Português e de Matemática - Descontente com os colegas - Solitária por perder a amiga e não encontrar afinidade com outras pessoas. - Ter um amigo em quem confiar. - Sentir-se bem acolhida na escola em que estuda. - Aprender português e matemática. - Avaliação positiva da experiência na nova escola. - Fazer amigos. - Conquistar colegas que antes não conversavam com ela. - Conversar com os meninos do colegial. Sentiu-se - Confiante porque conquistou amigos e conheceu pessoas. - Alegre por estar próxima e conversar com os meninos mais velhos. - Ansiosa para viver - Ser aceita pelo grupo. - Conhecer pessoas novas. - Estabelecer relações cordiais com todos. - Relacionar-se com o sexo oposto. - Viver grandes - Quando um aluno não consegue corresponder às expectativas de ensino, e não vai bem na escola, é preciso entender o que acontece com ele. Repetir o ano, não ir bem em algumas matérias ou não conseguir se socializar com os colegas pode ocorrer por várias causas, é preciso conhecê-las para poder agir adequadamente com o estudante, buscando despertar seu interesse. - A escola precisa preocupar-se com a interação entre os alunos, pois a relação é parte fundamental do processo ensino-aprendizagem, quando um aluno se sente insatisfeito com as pessoas do lugar onde estuda pode perder o interesse em freqüentar as aulas, prejudicando o processo. - Os adolescentes sentem grande interesse pelos pares, a escola deve propiciar a interação entre os alunos, possibilitando espaço para isso, buscando conquistar o interesse deles também para outras questões. - Integração dos conjuntos funcionais com o predomínio da afetividade. - Relação euoutro. - Relação euoutro. - Características da adolescência. 129 Aluno 23 Danilo mundo. Outra situação agradável é conversar com os meninos do colegial. E que eu conheci mais gente na “Festa da Copa”, foi a festa mais legal que teve nesse ano. Por enquanto eu só tive poucas situações agradáveis, principalmente no romance, que é uma das situações mais agradáveis, apesar de que ultimamente as minhas amigas e eu só estamos de rolo. - Conhecer mais seus romances. pessoas na Festa da Copa, a festa mais legal. - Vivenciar poucas situações agradáveis na vida amorosa, que considera a parte mais agradável da vida. amores. - Estar com o outro. Situação desagradável – Esse ano três meninas já vieram para querer brigar comigo por causa de menino, só que eu não briguei nenhuma vez, pois não gosto de brigar. Bom, de situação ruim foi só isso, não teve mais nada. Situação agradável – Uma vez, quando tivemos o campeonato de voleibol entre escolas. Ficamos em 2º lugar, foi ótimo campeonato; pois teríamos aulas reduzidas para os jogadores. Sendo assim, eu como jogador não tive todas as aulas. -Desentendimento com outras garotas por causa dos garotos. - Não gosta de brigas. - Insatisfeita porque não gosta de brigar. - Manter um ambiente sem brigas, cordial para todos. - Justificar os acontecimentos, não brigou porque não gosta de brigar. - Conflitos e desentendimentos entre os alunos existem, entretanto a escola precisa trabalhar com eles que tudo pode ser resolvido com uma boa conversa, desenvolvendo o respeito ao outro. - Não ter todas as aulas por um motivo justo, ser jogador do time de vôlei da escola e disputar o campeonato, conquistando o 2º lugar. Sentiu-se - Satisfeito e realizado por ter aulas reduzidas e por ser jogador do time de vôlei. - Explicar o motivo da redução de aulas. - Justificar sua ausência nas aulas por ser jogador. - Característica - O envolvimento dos alunos com os campeonatos não deve da adolescência. prejudicar o andamento das atividades cotidianas. Reduzir o número de aulas para os jogadores pode prejudicar o desenvolvimento escolar. Nestes casos, os alunos deveriam ter as aulas repostas em outros momentos, ou ainda poderiam ser formados grupos de estudo com alunos que participaram das aulas para repor o que foi perdido. Situação desagradável – - Não considera correto - Prejudicado pelo - Ter todas as aulas. - O cancelamento das aulas, - Relação euoutro. - Características da adolescência. - Característica 130 Quando ficou sem água, tivemos muitas das nossas aulas cortadas. O mesmo ocorreu quando faltou eletricidade e por isso tivemos muito mais aulas cortadas. Aluna Situação agradável – 24 Aconteceu aqui mesmo no Machado de Assis, eu vim Roberta para a escola e era dia de eleição, nós usamos o computador na escola. Todos se prepararam para votar, mas algumas pessoas não levaram a cola e fizeram boca de urna. Aluno 25 João Situação desagradável – Foi no final do ano passado, eu tinha uma colega chamada Paola, a irmã dela se chamava Pamela e estudava na 6ª. Ela foi estudar no Santo Agostinho, eu a vi só uma vez na rua; ela disse que queria muito voltar para cá, mas o pai dela não quer. Ela era tão legal, mas a irmã dela não era tanto como ela. Fazer o quê, a vida é assim! Situação Agradável – Uma situação agradável foi quando eu comecei a estudar no Machado de Assis. Foi uma época muito boa, conheci pessoas muito legais que estão comigo até hoje. deixar de ter aula por falta de água e de energia. cancelamento das aulas. mesmo que por motivos imprevistos, deve ser reposto para não prejudicar o desenvolvimento dos alunos. da adolescência. - Característica da adolescência. - Participar das eleições Sentiu-se e usar o computador - Orgulhosa por para votar. poder votar. - Escolher um representante. - Usar um recurso que existe na escola e parece não ser usado com freqüência: o computador. - A organização de eleições para o grêmio possibilita que a escola trabalhe com o aluno a cidadania, a escolha de candidatos e a análise de propostas, preparando-o para as eleições dos candidatos que vão governar a sociedade da qual ele faz parte. - Perdeu o contato com a colega que tanto gostava. - Procurou saber o motivo da saída da colega. - Aceitação dos acontecimentos da vida: “fazer o quê, a vida é assim!”. - Desanimada por perder o contato com a colega que saiu da escola. - Desiludida por coisas que acontecem na vida e não estão ao seu alcance modificá-las. - Estar perto das colegas. - Buscar explicação para o que acontece. - Pode-se trabalhar a frustração - Característica da adolescência. sentida com uma perda, pois isso acontecerá em outros momentos da vida. - Iniciar em uma escola nova e conhecer pessoas legais que estão presentes até hoje em sua vida. Sentiu-se - Acolhido na nova escola. - Seguro e alegre por estar ao lado de pessoas legais. - Estar com o outro. - Sentir-se seguro e acolhido. - A escola deve se preocupar com o bom acolhimento dos novos alunos independentemente da idade. - Relação euoutro. - Afetividade. 131 Aluno 26 Denis - Ficar de castigo por ter - Insatisfeito porque levado uma ficou de castigo. convocação. Situação agradável – O meu momento agradável são todos os meus amigos, colegas, os professores. Todas as minhas amizades que eu conquistei na escola. Esse foi o meu momento agradável. - Os amigos, colegas e professores. - Conquistar amizades na escola. Sentiu-se - Satisfeito por estar com os professores, amigos e colegas. - Alegre por conquistar amizades. - Acidente com o vicediretor. - Compadecido pelo - Colocar-se no lugar acidente com o vice- do outro. diretor. - Participar das festas e excursões oferecidas pela escola. Sentiu-se - Satisfeito com as festas e passeios. - Ter momentos de descontração e alegria. - Afetividade. - A escola precisa propiciar também momentos de descontração entre os alunos. Alguns estudantes só têm acesso a eventos como festas e passeios por meio da escola, ao suprir esta necessidade ela pode estabelecer um relacionamento mais próximo com os estudantes, possibilitando a aderência deles aos projetos oferecidos. - Acidente com o Jerônimo. - Compadecido com o acidente e suas - Colocar-se no lugar do outro. - Quando ocorre um acidente na escola os alunos podem Situação desagradável – O meu momento desagradável foi quando o vice-diretor: senhor Jerônimo caiu de cima do telhado do pátio. Aquele foi o dia mais desagradável que eu tive na escola. Aluno Situação agradável – Foram 27 as festas aos sábados que tinham. As festas que Rodolfo tiveram, todas foram muito legais. Também foram agradáveis as excursões, a do sesc foi legal, todas as excursões etc. Situação desagradável – Foi o acidente do Francisco, - Ter liberdade e não ser castigado. - Estar com o outro. - Sentir-se aceito. - Pode-se trabalhar com os estudantes o respeito ao outro e às normas e que toda ação gera consequências. As regras podem ser desenvolvidas com a participação dos alunos para que haja mais aderência por parte deles. - A escola é espaço de ensino, aprendizagem, interação e também de descontração entre os alunos e entre eles e seus professores, isso pode ser considerado e valorizado por todos. - Características da adolescência. Situação desagradável – Uma situação desagradável foi quando eu tomei uma convocação, fiquei de castigo. - Características da adolescência. - Relação euoutro. - Quando ocorre um acidente - Características da adolescência. na escola os alunos podem - Afetividade. sentir-se desorientados e com isso as atividades rotineiras são prejudicadas. - Características da adolescência. 132 quando ele caiu da telha, ele passou muito [mal] e teve que ir até no medico. Aluno Situação agradável – Uma 28 coisa que ninguém esperava, mas a nossa sala Luciano chegou a semifinal do campeonato da escola e fomos vice-campeões no campeonato de futsal. Situação desagradável – Quando acabou a água na escola e ficamos sem beber água, ficamos na seca. Porém, fomos embora mais cedo por causa da falta de água na escola. Aluna Situação agradável – Uma 29 situação que marcou a minha vida foi quando teve a Luciana apresentação da Copa, que representei a República Tcheca. Foi muito bacana, tiveram muita música e apresentações. Situação desagradável – Uma situação que marcou a minha vida foi quando estava tendo campeonato de futebol, quando eu levantei para ir ao intervalo caí. Além de todo mundo rir da minha cara, a outra menina caiu em cima de mim e deslocou o meu pé. Por causa desse acontecimento fui ao hospital e descobri que tinha conseqüências. sentir-se desorientados e com isso as atividades rotineiras são prejudicadas. - A escola deve valorizar o desempenho de seus alunos nos campeonatos, independentemente da colocação conseguida, para que eles possam compreender que o importante é competir e representar a instituição. - Afetividade. - Características da adolescência. - Afetividade. - Surpreendeu-se com o desempenho do seu time, que chegou a semifinal do campeonato de futsal e foi vice-campeão. Sentiu-se - Admirado com o desempenho do time. - Alegre pelo vicecampeonato. - Ser reconhecido pelo desempenho inesperado no campeonato. - Não ter água para beber na escola, em compensação ir mais cedo para casa. - Insatisfeito por não ter água para beber. - Aliviado por ir embora mais cedo. - Ter uma necessidade - A escola precisa ter uma boa infra-estrutura para receber orgânica satisfeita. seus alunos, imprevistos ocorrem, como a falta de água, mas não podem prejudicar a saúde do aluno e o andamento das aulas. - Ter o trabalho - A escola deve valorizar as reconhecido. realizações dos alunos - Ver o resultado do organizando eventos para que faz na escola. apresentação dos trabalhos. - Características da adolescência. - Não ficar em evidência de forma desastrosa (não “pagar mico”). - Estar com os amigos. - Características da adolescência. - Apresentação da Copa Sentiu-se e a comemoração deste - Satisfeita por dia. apresentar o trabalho do país que representou e com a comemoração deste dia. - Sofrer um acidente na frente de todos do colégio. - Foi motivo de risada para todos da escola. - Ao cair derrubou outra menina que caiu em cima do seu pé e o deslocou. - Ficar uma semana sem poder sair de casa. - Envergonhada porque caiu na frente de todos. - Irritada porque ficou uma semana com o pé enfaixado sem poder sair de casa. - Em dias de eventos que reúnem um grande número de alunos juntos a escola precisa preparar-se para a ocorrência de acidentes e a devida prestação de socorro. - Integração dos conjuntos funcionais, com o predomínio da afetividade e conhecimento. 133 deslocado meu pé e fiquei uma semana com o pé enfaixado sem poder sair de casa. Aluna Situação agradável – Uma 30 situação agradável que passou na minha vida foi Renata quando teve o campeonato, e quando tiveram as apresentações da Copa, foi ótimo. E principalmente as excursões que tiveram, foram maravilhosas. E tiveram outras coisinhas a mais que foram boas. E as festas de dia de sábado também. E as amizades que são ótimas. Situação desagradável – Quando eu perdi o campeonato, quando eu tirei notas vermelhas, quando eu subi para a diretoria. E muitas coisas na minha opinião que são desagradáveis. - Festa da Copa, excursões, campeonatos e amizades. - A escola possibilita diferentes espaços de interação e aprendizagem. Sentiu-se - Satisfeita com as diferentes possibilidades encontradas na escola. - Estar com o outro - Participar de eventos variados. A escola pode valorizar as realizações dos alunos organizando mostras de seus trabalhos e oferecer possibilidades variadas de interação e de aprendizagem para facilitar a relação do aluno com o conhecimento. - Integração dos conjuntos funcionais. - Relação euoutro. - Perder o campeonato. - Tirar notas vermelhas. - Ir para a diretoria. - Insatisfeita por ter perdido o campeonato, ter tirado notas vermelhas e ido para a diretoria. - Vencer disputas. - Tirar boas notas. - Não ir para a diretoria. - Ao promover os campeonatos a escola precisa trabalhar com seus alunos a importância do espírito esportivo e da participação. Não se pode incentivar a valorização máxima da vitória. Pode-se trabalhar com os alunos a frustração sentida após uma perda, pois isso acontecerá em outros momentos da vida. O aluno precisa estar ciente de seu processo de avaliação, sabendo das possibilidades de seu desempenho e como melhorá-lo. O respeito às normas escolares pode ser trabalhado e que toda ação gera consequências. As regras podem ser desenvolvidas com a participação dos alunos para - Afetividade. - Integração dos conjuntos funcionais. 134 que haja mais aderência por parte deles. Aluno 31 Jorge Aluna 32 Marisa Situação agradável – Uma coisa agradável foi quando os professores passaram um trabalho sobre a Copa e esse trabalho foi bom para as minhas notas, que melhoraram. Sentiu-se - Melhora nas notas, - Satisfeito pela decorrente da participação no trabalho melhora das notas. sobre a Copa. - Ter notas boas. - Ver o reconhecimento da sua participação nos trabalhos. Situação desagradável – Uma coisa desagradável é que as férias só começam em dezembro, as férias tinham que começar em novembro. - Demora na chegada das férias que deveriam ser iniciadas em novembro. - Cansado e desestimulado com a escola. - Aflito para o fim das aulas. - Livrar-se da escola. - Realizar outros interesses fora da escola. Situação agradável - Uma situação agradável foi quando houve o trabalho da Copa, todos participaram ajudando a concluir o trabalho, cada sala ficou responsável por um país e pesquisar sobre ele. Outras coisas agradáveis foram as palestras, que durante esse ano falaram sobre orientação sexual, sobre drogas, coisas que hoje em dia vem acontecendo. Os campeonatos de futsal também são legais, tanto o feminino quanto o masculino. - O trabalho sobre a Copa possibilitou o envolvimento de todos os alunos. - Participação coletiva para concluir as pesquisas. - As palestras sobre orientação sexual e drogas abordaram assuntos relevantes na vida dos adolescentes. - Os campeonatos feminino e masculino de futsal são legais. Sentiu-se - Realizada e satisfeita por fazer parte do trabalho. - Valorizada por ter palestras que tratam de assuntos atuais: “coisas que hoje em dia vem acontecendo”. - Estimulada e animada por ter eventos variados. Situação desagradável – As - Falsas promessas do falsas promessas do grêmio. grêmio. Desagradável também é a - Senso critico da - Frustrada pelas falsas promessas. - Desvalorizada pela - A escola precisa valorizar as realizações dos alunos organizando mostras de seus trabalhos e possibilitando formas variadas para o bom andamento do processo ensino-aprendizagem. - Nem todos os alunos se interessam por tudo o que a escola oferece e possibilita, por isso alguns se sentem desestimulados. É preciso conhecer os estudantes, saber de seus interesses, convidá-los a participar de forma mais ativa das atividades escolares. - Participar e colaborar A escola pode valorizar as nas atividades realizações dos alunos escolares. organizando mostras de seus - Ter o reconhecimento trabalhos, possibilitando do seu trabalho e momentos de interação e participação. descontração entre os - Vivenciar estudantes e oferecer aprendizagens possibilidades variadas de diferenciadas. interação e de aprendizagem - Interagir com o outro. para facilitar a relação do aluno com o conhecimento. - Ter as expectativas correspondidas. - Fazer parte de uma - Integração dos conjuntos funcionais: afetividade e conhecimento. - Afetividade. - Integração dos conjuntos funcionais com o predomínio da afetividade e conhecimento. - Relação euoutro. - Pode-se aproveitar a criação - Características do grêmio para discutir da adolescência. questões de cidadania, direitos, 135 situação das carteiras nas últimas salas, são muito velhas. Esse ano de 2006 houve poucas excursões, pelo menos podia haver excursão para lugares interessantes que a gente gostasse. A falta de ronda escolar na entrada e na saída de cada período. [A] comemoração da festa junina deveria ter mais a ver com o tema, e não ficar inventando coisa. O dia da independência do Brasil, nem sequer cantou o hino nacional do nosso país. situação em que a escola se encontra: carteiras velhas e falta de ronda escolar. - Excursões não satisfazem os interesses dos alunos. - Festa junina se distância da sua temática. - Desvalorização do dia da independência. O hino nacional não foi cantado. desconsideração de seus interesses. - Indignada e preocupada com a situação da escola e com a desvalorização da independência do Brasil. escola valorizada e organizada. - Ter seus interesses contemplados nas excursões oferecidas pela escola. - Valorizar seu país. participação etc, incentivando que os alunos acompanhem as realizações da chapa ganhadora e façam as devidas cobranças daquilo que não foi cumprido. - Quando a escola faz uma excursão deve preparar seus alunos para o que será visto e qual será o trabalho desenvolvido a partir do passeio. Além disso, os passeios realizados também precisam atender aos interesses dos alunos, caso contrário não haverá a participação deles. - Os alunos precisam ter espaço para serem ouvidos, questões sobe o desempenho do grêmio, excursões que não satisfazem seus interesses, falta de ronda escolar, temas das festas juninas e o fato de não se cantar o hino nacional são assuntos que devem ser debatidos com os estudantes para que todos tenham clareza das decisões tomadas pela direção e corpo docente da escola. Quando os alunos são ouvidos e suas opiniões são consideradas a instituição pode buscar caminhos para melhorar junto com eles, dando a oportunidade de cobrar e serem cobrados por suas ações, possibilitando, assim, o desenvolvimento da ética e da cidadania. 136 137 Anexo 2 Comanda da redação apresentada aos alunos Nome: ______________________________________________________________ Descreva uma situação agradável e outra desagradável que foram marcantes para você na escola. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 138 Anexo 3 Exemplos de redações elaboradas 139 140 141 142