PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Regiane Rodrigues de Moraes
A escola vivida por adolescentes:
situações agradáveis e desagradáveis
MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
SÃO PAULO
2008
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
PUC-SP
Regiane Rodrigues de Moraes
A escola vivida por adolescentes:
situações agradáveis e desagradáveis
MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Dissertação
apresentada
à
Banca
Examinadora como exigência parcial para
obtenção do título de MESTRE em
Educação: Psicologia da Educação pela
Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª
Laurinda Ramalho de Almeida.
São Paulo
2008
BANCA EXAMINADORA
Data ____/____/______
Agradecimentos
Aos meus pais, Ana e Jacinto, por todo o incentivo, carinho, apoio e compreensão.
À minha estimada orientadora, Professora Doutora Laurinda Ramalho de Almeida,
por acreditar no meu trabalho e contribuir na ampliação do meu conhecimento e na
concretização desta pesquisa.
Às professoras Doutoras Abigail Alvarenga Mahoney e Wanda Maria Junqueira de
Aguiar, pelas contribuições dadas no exame de qualificação e por fazerem parte da
banca avaliadora.
Aos meus irmãos, Renata e Renan, pela cumplicidade, carinho, atenção, respeito e
paciência.
Ao Fernando, pelo companheirismo, atenção, carinho e confiança.
Aos meus familiares e amigos, pelos incentivos dados e por acreditarem no meu
trabalho.
Ao meu tio Geraldo, pelo incentivo e por me apresentar o universo da educação.
Aos alunos da 8ª série que participaram desta pesquisa.
À direção da escola onde a pesquisa foi realizada, por permitir a investigação.
À professora de Língua Portuguesa, por abrir espaço em sua aula e pela disposição
em contribuir.
Aos colegas do mestrado, em especial à Lílian, pela contribuição primordial, pelas
leituras e, claro, pelo estímulo. À Viviane e à Luciana, por compartilharem as
emoções e sentimentos vivenciados no mestrado, por todas as trocas que me
fizeram crescer.
Ao Cnpq pelo apoio financeiro.
Baila o trigo quando há vento
Baila porque o vento o toca
Também baila o pensamento
Quando o coração provoca.
Fernando Pessoa
Resumo
MORAES, Regiane Rodrigues de. A escola vivida por adolescentes: situações
agradáveis e desagradáveis. 2008. 142p. Dissertação (mestrado). Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo.
Esta pesquisa tem como objetivo identificar situações que agradam e que
desagradam ao aluno na escola, os sentimentos envolvidos nessas situações e as
implicações educacionais no processo ensino-aprendizagem. O estudo se justifica
por permitir a identificação de situações agradáveis e desagradáveis que acontecem
na escola, a partir do ponto de vista do aluno, possibilitando assim conhecer essas
situações e os sentimentos nelas envolvidos. A teoria psicogenética de Henri Wallon
foi o referencial para analisar os dados. Adotou-se uma abordagem qualitativa e o
instrumento para obtenção de informações foi a redação, realizada na aula de
Língua Portuguesa, em uma classe de 8ª série do Ensino Fundamental de uma
escola pública estadual em São Paulo, na qual estavam presentes 32 alunos. A
pesquisa permitiu conhecer a escola vivida por alunos adolescentes que relataram
situações agradáveis e desagradáveis envolvendo o ensino oferecido pela
instituição, o desempenho nas avaliações e nas competições, as possibilidades de
interação, a importância dos pares, os momentos de participação dos familiares na
escola, os campeonatos, os questionamentos sobre a situação da escola, a atuação
do grêmio e da direção e os inesperados que acontecem. As situações agradáveis
geraram sentimentos de satisfação, alegria, orgulho, segurança, aceitação, alívio e
confiança. As situações desagradáveis geraram sentimentos de insatisfação,
injustiça, indignação, vergonha, tristeza, frustração, raiva, irritação, angústia, tensão
e solidariedade. As situações relatadas revelaram que os alunos apresentam
interesse em participar ativamente do processo ensino-aprendizagem, valorizam a
escola onde estudam e por isso fazem críticas de alguns aspectos que poderiam ser
melhorados. Os relatos dos estudantes forneceram indicadores para se trabalhar
uma escola que atenda a seus interesses e suas necessidades.
Palavras-chave: adolescência, escola, afetividade, Henri Wallon.
Abstract
MORAES, Regiane Rodrigues de. The school experienced by teenagers:
pleasant and unpleasant situations. 2008. 142p. Dissertation (masters). Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo.
The objective of this research is to identify situations that please or not students at
school; feelings involved in these situations and the educational implications in the
teach-learning process were taken into account. The research justifies itself by
identifying pleasant and unpleasant situations that take place in school, from a
student point of view. Allowing us to (understand/analyze) these situations and
feelings involved. The psychogenetic theory of Henri Wallon was used as reference
to analyze the data, where a qualitative research was conducted along with an essay
question for 8th grade students during a Portuguese lecture in a São Paulo public
school, in which 32 students were present. The study allowed to identify pleasant and
unpleasant situations experienced by teenager students involving; the education
being offered, evaluation and competition performances, interaction possibilities,
peer importance, school moments involving families, championships, student
questioning
towards
school
situation,
grêmio´s
performance,
directors
and
unexpected situations. Pleasant situations generated feelings of satisfaction, joy,
pride, security, acceptance, relief and confidence. Unpleasant situations generated
feelings of dissatisfaction, injustice, outrage, shame, sadness, frustration, anger,
irritation, anxiety, tension and solidarity. The situations reported showed that students
show interest in participating actively in the teaching-learning process, valuing the
school where they study and therefore are critical of some aspects that could be
improved. This research provided indicators that students would rather work in a
school that serves their interests and their needs.
Keywords: adolescence, school, affectivity, Henri Wallon.
ERRATA
Na página 28, linha 22, onde se lê: tem início por volta dos três anos de idade, quando
a criança começa a fazer diferenciações entre o eu e o outro. Leia-se: Por volta dos
três anos de idade a criança começa a fazer diferenciações entre o eu e o outro.
Na página 37, linha 20, onde se lê: SZYMANKI. Leia-se: SZYMANSKI.
Na página 37, linha 23, onde se lê: SZYMANKI. Leia-se: SZYMANSKI.
Na página 38, linha 19, onde se lê: SZYMANKI. Leia-se: SZYMANSKI.
Na página 38, linha 26, onde se lê: SZYMANKI. Leia-se: SZYMANSKI.
Sumário
INTRODUÇÃO ............................................................................................................9
1. A TEORIA DE HENRI WALLON E A ADOLESCÊNCIA......................................22
1.1 O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO E A ADOLESCÊNCIA NA PERSPECTIVA
WALLONIANA ............................................................................................................22
1.2 A ESCOLA NA TEORIA WALLONIANA .......................................................................25
1.3 A IMPORTÂNCIA DO MEIO E DO OUTRO NA CONSTITUIÇÃO DA PESSOA DO
ADOLESCENTE..........................................................................................................27
1.4 AFETIVIDADE E ADOLESCÊNCIA ............................................................................31
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..............................................................35
2.1 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................35
2.2 OPÇÕES TOMADAS PARA A OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES .......................................36
2.2.1 Escolha dos participantes .........................................................................36
2.2.2 Escolha do instrumento.............................................................................36
2.3 OPÇÕES TOMADAS PARA A ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES .........................................37
3. ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................43
1. ESCOLA: ESPAÇO DE CONHECIMENTO.....................................................................43
1.1 O ensino oferecido .......................................................................................43
1.2 O desempenho dos alunos ..........................................................................50
2. ESCOLA: ESPAÇO DE INTERAÇÃO ...........................................................................56
2.1 A relação eu-outro........................................................................................56
2.2 Os momentos de descontração e lazer........................................................66
3. ESCOLA: ESPAÇO DE PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA ......................................................72
3.1 A forte presença da mãe na escola..............................................................72
4. ESCOLA: ESPAÇO DA PESSOA POR INTEIRO .............................................................76
4.1 As conquistas e derrotas em competições...................................................76
4.2 Fatores extra-escolares que interferem na atuação do aluno na escola ......82
5. ESCOLA: ESPAÇO DE REIVINDICAÇÃO E QUESTIONAMENTOS .....................................83
5.1 As falsas promessas ....................................................................................83
6. ESCOLA: ESPAÇO DE SITUAÇÕES INESPERADAS.......................................................86
6.1 Receber um prêmio......................................................................................86
6.2 Os acidentes ................................................................................................87
3.1 EM BUSCA DE UMA SÍNTESE .................................................................................90
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................97
REFERÊNCIAS.......................................................................................................102
ANEXOS .................................................................................................................107
ANEXO 1. QUADRO – EXPLICITAÇÃO DOS SIGNIFICADOS.............................................108
ANEXO 2. COMANDA DA REDAÇÃO APRESENTADA AOS ALUNOS ..................................137
ANEXO 3. EXEMPLOS DE REDAÇÕES ELABORADAS ....................................................138
9
Introdução
A afetividade é uma das dimensões humanas que pode ser definida como a
capacidade que o indivíduo possui de afetar o outro e ser afetado por ele; está
sempre presente nas relações, contagiando aqueles que nelas estão envolvidos.
Essas relações podem causar sensações de bem-estar ou de mal-estar. As
emoções, os sentimentos e a paixão fazem parte da dimensão afetiva.
Essa dimensão afetiva é um dos alicerces para o conhecimento; por isso, é
importante que os profissionais da educação valorizem o aspecto afetivo na sua
integração com o intelectual e com o social do indivíduo.
O contexto escolar é um espaço de intensas relações. Nele, alunos, professores,
coordenadores pedagógicos, diretor, equipe técnica e de apoio afetam-se
mutuamente. As vivências nessas interações estão carregadas de emoções,
sentimentos, valores e concepções, que podem dificultar ou facilitar o processo
ensino-aprendizagem (REIS, 2005). Sendo assim, faz-se necessário dar voz àqueles
que vivenciam o dia-a-dia da instituição. Nesta pesquisa, deu-se voz aos estudantes
da 8ª série do Ensino Fundamental.
Este trabalho desvela o olhar do aluno adolescente sobre as situações agradáveis e
desagradáveis vivenciadas por ele na escola. Tem como objetivo identificar
situações no contexto escolar que agradam e que desagradam aos alunos da 8ª
série do Ensino Fundamental, os sentimentos envolvidos nessas situações e as
implicações educacionais dessas situações no processo ensino-aprendizagem. Para
isso, investigou a seguinte questão: quais situações os alunos da 8ª série do Ensino
Fundamental consideram agradáveis e desagradáveis na escola?
A teoria psicogenética de Henri Wallon foi o referencial para analisar os dados
obtidos por meio de redações.
O interesse em pesquisar a afetividade do adolescente surgiu da minha experiência
pessoal na condição de aluna, aliada à profissional como professora.
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Minhas experiências nas instituições educacionais nas quais estudei sempre foram
boas, e em meu percurso estudantil, tive êxito nas atividades propostas. Porém, ao
me lembrar da minha vida na escola, as recordações estão mais ligadas às
sensações desagradáveis, pois sempre percebi o ambiente educacional como algo
frio e impessoal; não via respeito dos adultos para com as crianças e adolescentes.
Hoje, tenho a impressão de que, para os professores e outros funcionários das
escolas em que estudei, havia uma “massa” de alunos que deveriam ficar sentados,
recebendo ordens e conhecimentos necessários à formação. Percebo que a
afetividade era totalmente ignorada; nossos sentimentos, vontades e necessidades
eram desconsiderados. Na verdade, não tínhamos voz ativa; muitas vezes, tive a
sensação de que não éramos vistos, e o que pensávamos parecia não ter
relevância.
Poucos eram os professores que mostravam interesse e preocupação por aquilo que
os estudantes sentiam; mesmo assim, aprendi muito com os diferentes profissionais,
pois o fato de um docente não proporcionar situações agradáveis a seus educandos
não significa que seu trabalho não seja eficiente.
Essa reflexão sobre as relações existentes na escola começou com o meu ingresso
no Ensino Médio, quando optei pelo curso de magistério. Ao concluí-lo, tive dúvidas
quanto ao exercício da profissão; mesmo assim, prestei um concurso público para
professora de Ensino Fundamental I, em que fui aprovada e, enquanto aguardava
ser chamada, optei por investir em outras áreas. Trabalhei em algumas empresas de
diversos ramos e ingressei na faculdade de Jornalismo. Quando estava no segundo
ano, fui convocada para assumir o cargo concursado. Apesar das minhas dúvidas,
acreditei que pudesse ter uma experiência na educação.
Ao iniciar a carreira de professora do Ensino Fundamental I, na prefeitura de São
Paulo, busquei inspiração na minha experiência como aluna e em tudo o que eu
havia aprendido na teoria. Em minhas aulas, procurava considerar as opiniões e
sentimentos dos alunos, buscando compreendê-los. Trabalhei na Educação Infantil e
no Ensino Fundamental, no qual também exerci a função de Professora Orientadora
de Informática Educativa (POIE), no laboratório de informática.
11
Depois de concluir Jornalismo, cursei Pedagogia. Na graduação, descobri que já
existia uma discussão sobre a afetividade. Conheci a teoria de Henri Wallon e tive
contato com os estudos de Almeida (2004, 2005), Mahoney (2004, 2005), Dantas
(1992), Galvão (2002), entre outros autores que se dedicam a esse teórico.
Tratarei aqui de alguns aspectos da teoria walloniana que foram abordados por
essas autoras e que fundamentam meus questionamentos atuais. No entanto,
oportunamente, os tópicos levantados serão mais aprofundados.
Dantas (1992) pontua que a afetividade ocupa lugar central na teoria de Wallon,
tanto na constituição do sujeito como na construção do conhecimento. Ela afirma
que a emoção estabelece o vínculo entre as pessoas. No início da vida, é por meio
dela que o bebê comunica suas necessidades para o adulto: o choro pode anunciar
a fome, a dor ou algum outro desconforto.
De acordo com Mahoney (2004, 2005), essa teoria possibilita a compreensão do
sujeito na sua totalidade. Os conceitos, princípios e tendências, apresentados na
teoria walloniana são recursos que ajudam a entender o processo de constituição da
pessoa, que se dá na união das condições orgânicas e sociais. Na perspectiva de
Wallon, o desenvolvimento humano é um processo que ocorre ao longo da vida.
Para compreender esse processo, o autor estudou as várias etapas do indivíduo –
os estágios – e as suas dimensões: afetiva, cognitiva e motora.
Almeida (2004, 2005), por sua vez, aponta o grande interesse do teórico pela
educação, ressaltando suas colaborações para a organização do sistema escolar,
com derivações para o processo ensino-aprendizagem. A autora analisou o Plano
Langevin-Wallon, elaborado para a reforma do ensino francês, com o propósito de
estabelecer uma educação justa, para uma sociedade mais justa, no período pósguerra. Essa proposta estava fundamentada nos princípios de justiça, dignidade,
orientação e cultura geral. Além do Plano Langevin-Wallon, as idéias do autor sobre
educação foram expostas em artigos e conferências. Questões pedagógicas, como a
reforma da universidade, os princípios da Escola Nova, a formação do professor,
entre outras, foram reunidas em um número especial da revista Enfance, por ele
fundada (o qual posteriormente foi transformado no livro Psicologia e Educação da
Infância, 1973). Almeida mostra que a teoria de Wallon e sua atuação como
12
professor possibilitam ricas reflexões para a qualidade do processo ensinoaprendizagem.
Para Galvão (2002), as obras desse teórico apresentam expressivas reflexões
pedagógicas. De acordo com a autora, a teoria walloniana explica as características
das ações das crianças nas diversas etapas do desenvolvimento humano; por isso,
pode auxiliar a educação na estruturação de métodos e objetivos que atendam aos
interesses e às necessidades do aluno, promovendo o seu progresso em várias
dimensões, colaborando com a melhora da qualidade do processo educativo.
Nesse contexto de experiências vividas e no contato com as idéias das autoras,
surgiu o interesse pela questão da afetividade, que fez parte do meu Trabalho de
Conclusão de Curso - TCC.
O interesse pelo assunto foi crescendo na medida em que fui estudando e
debatendo com os colegas a importância de se pensar sobre as emoções e os
sentimentos no processo ensino-aprendizagem. Nas discussões, percebia que a
questão da afetividade era associada apenas às manifestações de carinhos físicos e
de elogios, sendo considerada como necessária somente para o professor que
trabalha com crianças pequenas.
Com a intenção de aprofundar meus estudos sobre esse tema, procurei o mestrado
em Educação: Psicologia da Educação. Inicialmente, apesar de não ter o problema
delimitado, sabia que queria dar voz aos alunos, pois eles têm muito para dizer, e
também discutir a adolescência, mostrando a importância da afetividade em
qualquer momento da vida.
A partir da revisão de literatura, tive contato com diversas produções acadêmicas da
área; alguns trabalhos que tratam da questão da afetividade e da adolescência na
escola foram selecionados e serão discutidos.
Ao mostrar os trabalhos produzidos, é possível ter um panorama do que está sendo
abordado a respeito da temática em questão. Desse modo, pode-se constatar as
lacunas presentes, buscando investigar o que ainda não foi contemplado pelas
pesquisas realizadas. Neste estudo, faz-se um recorte do tema adolescência e
escola, com a intenção de contribuir para o avanço das investigações nesse campo.
13
A partir de um levantamento realizado no Programa de Estudos Pós-Graduados em
Educação: Psicologia da Educação, da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo – PUC-SP, na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo –
FEUSP e em alguns periódicos da área de Psicologia e Educação, foram
encontrados vários autores que revelam a importância de se pensar na afetividade
na escola, bem como nas relações dos adolescentes com o contexto educacional.
Entre os trabalhos que abordam o tema desta pesquisa, foram selecionados aqueles
que tratam do contexto regular de ensino, tanto do Ensino Fundamental – ciclo II,
como do Ensino Médio.
É fundamental compreender a constituição da adolescência, sobretudo do ponto de
vista do próprio adolescente: como ele compreende esse momento da vida, como
percebe as relações que estabelece com outros jovens e adultos, como vê a escola,
o que sente e o que pensa sobre sua vida e seu futuro.
Com esse objetivo, Temponi (1997) realizou um estudo que caracterizava o aluno da
5ª série do primeiro grau. Nesse trabalho, os estudantes tiveram a oportunidade de
discutir diversos assuntos. Falaram de suas relações com a família, com os amigos
e com a escola. Além disso, discorreram também sobre eles mesmos, suas
preferências, afetividade, drogas, aids, sexualidade, planos futuros, entre outros
assuntos. Nas falas, os adolescentes forneceram elementos importantes para a
compreensão da fase pela qual estavam passando, oferecendo sugestões aos
professores e ao sistema de ensino. Os participantes da pesquisa mostraram a
compreensão de si no presente e, dentro das possibilidades da idade, projetaram-se
no futuro.
Também com o objetivo de compreender a adolescência, Dér (2001) procurou saber
qual a proposta de adolescência e de adolescente apresentada na teoria de Henri
Wallon. Nesse estudo, a pesquisadora analisou os escritos do autor e de outros
estudiosos de sua teoria a respeito da adolescência. Na análise, ao constatar as
comparações entre as atividades típicas dessa fase e as atividades desenvolvidas
nas etapas anteriores, pôde perceber que a adolescência é uma parte importante na
teoria walloniana, uma fase fundamental para a consolidação da identidade; é um
momento de escolhas e de definição dos valores morais.
14
Ozella e Aguiar (2007) também buscaram compreender esse momento da vida. Para
isso, realizaram um estudo com adolescentes entre 14 e 21 anos, de diferentes
classes sociais (A, B, C, D, E) e de três grupos étnicos (brancos, negros e orientais),
com o objetivo de apreender a concepção que os jovens apresentavam sobre
adolescência / adolescente e como entendiam a passagem para a idade adulta. Os
pesquisadores verificaram que os adolescentes reproduziram em seus discursos
concepções socialmente construídas sobre esse momento da vida, mostrando uma
percepção que naturaliza a adolescência. Os modos de significação apresentaramse distintamente conforme a classe social, o grupo étnico e a idade. De maneira
geral, foram atribuídas à adolescência características, tais como: momento de crise,
rebeldia, transitoriedade, turbulência, tensão, ambigüidade e conflito. Essa visão de
adolescência foi mais evidente nos grupos A e B. Nos outros grupos (C, D e E) de
menor poder aquisitivo, apareceu a preocupação de conseguir um trabalho e poder
sustentar a família. Os autores constataram que, para os participantes da pesquisa,
sair da adolescência implica responsabilidade, entendida de diferentes formas, como
mudanças de comportamentos, perda de coisas boas e de situações prazerosas.
Ozella e Aguiar (2007) observaram que a razão e a afetividade marcaram as
diferenças entre os gêneros. Os aspectos afetivos tiveram grande importância para
as jovens de todas as classes sociais, sendo que o sofrimento foi mais apontado
pelas jovens das classes C, D e E. Em contrapartida, os jovens valorizaram a
característica de observador e não mencionaram as questões afetivas. A pesquisa
possibilitou conhecer uma adolescência diversa da apresentada nos manuais de
psicologia, vivenciada de diferentes modos. Os pesquisadores apontaram a
importância de se compreender o adolescente real, situado em um contexto
histórico, social e cultural.
Os três trabalhos trouxeram colaborações para a compreensão da adolescência,
tanto do ponto de vista da teoria como do ponto de vista do próprio adolescente.
Outras pesquisas que serão apresentadas a seguir complementam os estudos
anteriores, pois tratam das emoções e sentimentos do jovem e da sua relação com a
escola.
Ardito (1999) realizou um trabalho com o objetivo de investigar as concepções do
adolescente frente à raiva no dia-a-dia escolar. Os jovens fizeram críticas
15
contundentes aos professores, à direção e aos outros funcionários da escola, pois
se sentiram desrespeitados, humilhados e acusados injustamente em diversas
situações do cotidiano escolar. Os participantes da pesquisa apontaram sugestões
para a melhora do trabalho de todos, tais como, o professor dialogar com o aluno,
colocar-se no lugar dele, permitir a troca entre os estudantes, deixar de ser
autoritário e ser mais sensível às necessidades dos educandos, buscar analisar os
fatos, corrigir o erro do aluno sem humilhá-lo e respeitá-lo em todas as situações.
Por outro lado, Gonçalves (2005) sentiu a necessidade de abordar o tema da alegria
na escola, acreditando que ela esteja presente no contexto escolar, e que exista o
lado prazeroso de estar na instituição. A investigação, que se utilizou de redações
para a coleta de dados, tinha como objetivo identificar e compreender o que
provocava a alegria em adolescentes na escola e qual era o impacto causado pela
alegria. Nas redações, os adolescentes revelaram também situações que causavam
tristeza, o que levou a pesquisadora a trabalhar também esse sentimento. Segundo
ela, a alegria esteve presente em várias situações do cotidiano escolar, fazendo
parte da realidade dos sujeitos pesquisados. As situações provocadoras do
sentimento e emoção alegria apontaram que o adolescente se preocupa consigo
mesmo e com o outro, e que precisa ter contato com o outro para individualizar-se.
Essas situações estavam relacionadas ao conhecimento, ao espaço e à rotina
escolar, aos amigos, professores e ao sexo oposto. Um elogio poderia despertar
alegria no aluno, assim como um bom desempenho nas provas.
Em uma outra perspectiva, Costa e Koslinsk (2006) buscaram conhecer a visão dos
alunos acerca da escola. Realizaram um estudo com adolescentes das 7ª e 8ª
séries, de três escolas públicas e duas privadas, de diferentes contextos sociais do
município do Rio de Janeiro. O objetivo desse estudo foi o de saber qual a
percepção do aluno sobre a educação escolar e a quais aspectos essa percepção
poderia estar associada. Os autores buscaram compreender se os fatores
socioeconômicos e familiares seriam responsáveis por baixas expectativas escolares
e de futuro e, conseqüentemente, pela menor adesão por parte dos alunos aos
procedimentos e comportamentos esperados pela escola.
Os pesquisadores observaram contrastes acentuados nas percepções dos alunos.
As expectativas de um futuro profissional e escolar foram bem distintas conforme as
16
origens socioeconômicas dos estudantes; uma mesma instituição mostrou
resultados diferentes. O valor da escola e dos estudos para o futuro, bem como a
necessidade da educação no presente, foram mais destacados pelos grupos que
reuniam os estudantes com boas notas, das melhores turmas, de melhores escolas
e de condições socioeconômicas mais favoráveis. Para alunos de condições menos
favorecidas, de escolas mais afastadas do centro e de turmas que não
apresentavam boas notas, a importância da escola para a definição do futuro e no
presente foi menor. Os resultados apontaram que as experiências escolares
interferem na relevância, em maior ou menor grau, que o aluno dá à escola.
Nesse sentido, percebe-se a importância de ouvir o que os alunos têm a dizer sobre
as emoções e sentimentos vivenciados por eles no espaço escolar e sobre a relação
com os colegas, professores e outros. Além disso, constata-se que é imprescindível
compreender o que está por trás dessas falas porque suas necessidades, desejos e
angústias oferecem subsídios aos profissionais para a elaboração de propostas de
ensino.
Almeida (1993) retrata a questão da afetividade e do desejo na relação ensinaraprender. Segundo ela, o processo ensino-aprendizagem só é possível quando há
interação entre as pessoas e a compreensão de que inteligência, afetividade e
desejos estão interligados. Nesse estudo, a autora se refere à relação alunoprofessor, mas não especifica se é uma relação presencial ou não. Quando se fala
em interação entre as pessoas, é preciso ter clareza de que ela não ocorre somente
na presença física do ser humano; a interação pode acontecer também por meio de
um livro, de uma música, do ensino a distância, da utilização das novas tecnologias,
como videoconferência, teleconferência e Internet. Todos esses recursos permitem a
interação entre as pessoas e a manifestação da afetividade.
De acordo com Almeida (1993), a afetividade é uma das dimensões fundamentais
presentes na relação ensino-aprendizagem e as condições de aprendizagem são
instituídas nessa relação independentemente do objeto de conhecimento. Ela
conclui que inteligência, afetividade e desejo devem estar articulados nas relações
professor-aluno, permitindo variadas possibilidades de ações pedagógicas.
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É pela interação com as diferentes possibilidades de troca entre os sujeitos que
ocorre o desenvolvimento do ser humano. Saber o que afeta o aluno na sua relação
com o conhecimento, colegas e professores é fundamental.
Com essa preocupação, Günter (1993) realizou uma pesquisa com alunos da 7ª
série do Ensino Fundamental com o objetivo de responder a três questões: 1) Quais
os eventos positivos e negativos relacionados às experiências escolares; 2) Como
se apresentam as relações sociais com os colegas; 3) Como se apresentam as
relações sociais com os professores. Os resultados mostraram componentes
relacionados aos eventos positivos e negativos na escola e às relações
interpessoais com os colegas e professores. Foram apontados como eventos
positivos: fazer parte de alguma equipe de esportes ou do coral, receber alguma
recompensa ou elogio por alguma realização na escola, ser influenciado por algum
professor, entrar na turma preferida e mudar para uma escola melhor. Não conseguir
fazer parte de uma equipe, envolver-se em algum problema na escola, ser suspenso
das aulas, ser reprovado, ser deixado de lado pelos amigos e mudar para uma
escola pior foram eventos considerados negativos. Na análise, a autora percebeu
que os alunos relataram mais eventos positivos do que negativos.
As relações interpessoais com os colegas e professores mostraram fatores de apoio
social e de estressores sociais. Na relação com os colegas, os indicadores de apoio
social foram: colega da escola entende como o jovem se sente, colega na escola
respeita a opinião do outro, colega na escola procura animar quem está triste ou
preocupado e é possível contar com a ajuda dos colegas. Os indicadores de
estressores sociais foram: discussões verbais com colega na escola, colega na
escola que deixa nervoso, colega que fica zangado ou perde a paciência com o
adolescente e troca de agressão física com algum colega na escola. Na relação com
os professores, os indicadores de apoio social foram: professor realmente entende
como o aluno se sente, o aluno pode contar com a ajuda do professor, o professor
respeita a opinião do aluno, o professor tenta animar o aluno quando ele está triste
ou preocupado e professores e alunos se divertem, riem ou brincam juntos. Os
indicadores de estressores sociais foram: professor fica com raiva e perde a
paciência, professor critica ou desaprova, professor deixa o aluno nervoso, professor
e aluno já tiveram discussões verbais e trocaram agressões físicas. Os resultados
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mostraram que a maioria dos participantes da pesquisa estava satisfeita com o seu
grupo.
Marriel et al. (2006) também procuraram compreender as relações interpessoais do
aluno com os colegas e com os professores. Buscando um outro aspecto dessa
relação, investigaram a associação entre auto-estima e a violência que acontece na
escola. O objetivo desse estudo foi mostrar algumas manifestações físicas e verbais
de violência que foram vivenciadas pelos alunos dentro da escola e verificar a
relação dessas experiências com a auto-estima dos educandos. Os pesquisadores
perceberam que todos os alunos estiveram sujeitos à violência na escola, pois em
suas falas apareceram formas sutis de violência. Os autores constataram que os
estudantes com baixa auto-estima apresentavam relacionamentos mais difíceis na
escola, freqüentemente se colocavam na posição de vítimas da violência e não se
sentiam bem na instituição. Houve tendência geral de bom relacionamento;
entretanto, a relação entre os pares foi considerada como mais positiva do que com
os professores. O bom relacionamento foi menos apontado por alunos com baixa
auto-estima. A relação com os professores foi uma questão bastante abordada; os
estudantes disseram que o autoritarismo dos educadores prejudica a relação,
fazendo com que os educandos se fechem. Agressões verbais por parte dos
professores também foram relatadas.
Para Marriel e colaboradores, a escola precisa refletir e discutir sobre a violência,
suas formas de prevenção e os possíveis reflexos no desenvolvimento da criança e
do adolescente. Eles ainda apontaram a importância de se pensar em ações para o
combate e a prevenção da violência na escola, mostrando a necessidade de o
professor criar condições que gerem bem-estar nos alunos, aliviando conflitos
vivenciados na adolescência. Concluíram que é preciso confiar e acreditar na
capacidade dos estudantes, produzindo situações nas quais eles possam se
expressar, possibilitando, desse modo, uma convivência prazerosa entre todos.
Além dos trabalhos apresentados, verificaram-se também dois estudos que
abordaram a afetividade na sala de aula. O primeiro discutiu a relação entre
interesse e as atitudes de atenção e desatenção dos adolescentes (Dér 1996). O
segundo mostrou a concepção do estudante sobre a relação entre professor e aluno
19
(Thomé 2001). Ambos fornecem informações importantes sobre o agradável e o
desagradável para o aluno na sala de aula.
Dér (1996) buscou compreender a relação entre o interesse e as atitudes de atenção
e desatenção dos adolescentes na sala de aula, na perspectiva de alunos e
professores. Em seu trabalho, a pesquisadora pôde perceber que não existe o aluno
atento e o desatento; são as situações que favorecem ou dificultam a atenção deles.
Os resultados mostraram que as atitudes de atenção e desatenção dos estudantes
estavam relacionadas com as necessidades do adolescente. Os conteúdos
apontados por eles como interessantes foram aqueles que colaboram para o
desenvolvimento da identidade. Pôde-se perceber que o interesse tem caráter
afetivo; ele desperta a atenção dos alunos, pois está ligado ao fato de os alunos
gostarem, ou não, de alguma matéria, professor ou aula. As atitudes de atenção dos
participantes da pesquisa apareceram como forma de retribuição aos professores
que mostraram interesse por eles. A autora ressaltou que a ligação afetiva na
relação professor-aluno pode contribuir para facilitar ou dificultar as atitudes de
atenção.
Assim como foi apontado na pesquisa de Ardito (1999), os estudantes entrevistados
por Dér também revelaram como qualidades do educador: ter bom humor, respeito,
amizade, gostar da classe e saber ouvir o que os alunos têm a dizer.
O trabalho de Thomé (2001) chegou a resultados semelhantes ao pesquisar a
concepção do adolescente sobre a relação entre professor e aluno. Nesse estudo,
os alunos apontaram características positivas e negativas do professor na sala de
aula. Dentre as positivas, estava a habilidade de manter a disciplina da classe,
sabendo lidar com os problemas dos alunos em diferentes situações. Para os
jovens, o educador deveria ter disposição para ouvi-los, valorizá-los, respeitá-los e
motivá-los a aprender. Desvalorização, desrespeito, não ouvir o que aluno tem a
dizer e falta de reciprocidade no relacionamento foram características apresentadas
como negativas e dificultadoras da aprendizagem. A autora ressaltou que, quando
há possibilidade de argumentação, o aluno deixa de ter medo de se posicionar,
ficando mais confiante.
20
Os estudos relatados evidenciam a importância de se pensar em uma escola que
exerça a sua função, garantindo o acesso e a apropriação pelo aluno dos bens
culturais produzidos pela humanidade independentemente da sua origem social,
econômica e cultural. Uma instituição capaz de estabelecer uma relação saudável
com os estudantes, facilitando o processo ensino-aprendizagem, poderá realizar seu
papel de forma mais eficiente.
Percebe-se que há um consenso entre esses pesquisadores a respeito da
necessidade de se falar da afetividade na adolescência e da relação do aluno com a
escola (ensino, colegas e profissionais). Em contrapartida, essa temática enfoca
diversas questões. Nos trabalhos selecionados, foi possível conferir características
dessa etapa do desenvolvimento humano e conhecer emoções e sentimentos, tais
como raiva e alegria, vivenciados pelos estudantes no contexto escolar.
Apresentaram-se manifestações de violência, sua relação com a auto-estima dos
estudantes e a necessidade de se pensar em ações que propiciem bem-estar aos
adolescentes na escola. Tratou-se ainda da importância da afetividade e do desejo
na relação ensino-aprendizagem, da relação entre interesse, atenção e desatenção
e da visão que o jovem tem da sua relação com o professor.
As pesquisas selecionadas mostram a importância de se dar voz ao jovem; suas
falas fornecem pistas das suas necessidades. Ouvi-los sobre o que têm a dizer da
escola que freqüentam pode oferecer pistas importantes aos profissionais que
trabalham com a educação independentemente do nível de ensino. Além disso,
novos dados fornecem sempre novas pistas, pois as diferentes realidades podem
mostrar diferentes relações.
Esses trabalhos foram importantes para esclarecer melhor o problema desta
pesquisa; serviram também para mostrar que a área possui lacunas; as
investigações apresentadas limitam o foco em um aspecto da relação do aluno com
a escola, abrindo espaço para que ele fale de um sentimento ou de um assunto
específico. Acredita-se que isso pode restringir o que o adolescente tem a dizer.
Portanto, as produções revelam que ainda é preciso pesquisar mais sobre as
emoções e os sentimentos vivenciados e as relações estabelecidas no espaço
escolar. Saber o que agrada e desagrada ao aluno pode fornecer subsídios para
ações que promovam uma relação mais agradável do jovem com a escola e,
21
conseqüentemente, com o conhecimento. No entanto, cabe ressaltar que uma
relação agradável não significa a isenção de conflitos e oposições, pois é preciso
compreender que isso faz parte do desenvolvimento e das relações humanas.
Diante do exposto, este trabalho está assim constituído:
Capítulo 1. A teoria de Henri Wallon e a adolescência – traz uma explanação acerca
da teoria de Henri Wallon, suas idéias sobre o processo de desenvolvimento
humano e sobre a adolescência. Nele, trata-se da importância do meio e do outro
para a constituição do adolescente e da importância de se pensar na totalidade do
indivíduo e nas suas diferentes dimensões afetiva, motora e cognitiva, ressaltando a
afetividade.
Capítulo
2.
Procedimentos
metodológicos
–
apresenta
os
procedimentos
metodológicos, explicitando os caminhos percorridos para a realização da pesquisa,
a delimitação do problema, as decisões tomadas para a obtenção de informações, a
opção pela redação como instrumento de pesquisa, e faz uma breve caracterização
da escola e dos participantes.
Capítulo 3. Análise dos dados – os dados são discutidos à luz do referencial teórico
e os resultados são comparados aos das pesquisas apresentadas na revisão de
literatura deste trabalho.
Capítulo 4. Considerações finais.
22
1. A teoria de Henri Wallon e a adolescência
1.1 O processo de desenvolvimento e a adolescência na perspectiva
walloniana
Na teoria de Henri Wallon, o desenvolvimento humano é um processo contínuo, de
transformações, decorrentes da integração organismo-meio. Tanto o organismo
como o meio social têm igual importância para o desenvolvimento.
Esse processo que vai do nascimento até a morte, comporta estágios, por Wallon
denominados: impulsivo emocional (0 a 12 meses), sensório motor e projetivo (1 a 3
anos), personalismo (3 a 6 anos) categorial (6 a 11 anos) e puberdade e
adolescência (a partir dos 11-12 anos). Suas características são estabelecidas pela
maturação orgânica e pelas condições materiais e culturais da existência humana;
não é a idade cronológica que possibilita a passagem de um estágio a outro, mas as
condições que se apresentam para o desenvolvimento. Em cada estágio existe uma
pessoa completa, resultante da integração de quatro conjuntos funcionais:
afetividade, ato motor, conhecimento e pessoa.
Há uma sucessão de preponderância entre afetividade, ato motor e conhecimento.
Dependendo
da
situação
vivenciada
pelo
indivíduo
em
um
determinado
espaço/tempo ou do estágio de desenvolvimento, haverá o predomínio de um dos
conjuntos funcionais. Sendo assim, o desenvolvimento segue em duas direções: há
estágios em que o indivíduo está voltado para o conhecimento de si mesmo –
direção centrípeta, e há estágios em que o indivíduo está voltado para o
conhecimento do mundo exterior – direção centrífuga. Pode-se dizer que a
constituição da pessoa será composta por momentos afetivos e cognitivos, porém
isso não se dará de forma separada, mas sim articulada. Nas palavras de Dantas:
Nos momentos dominantemente afetivos do desenvolvimento o que
está em primeiro plano é a construção do sujeito, que se faz pela
interação com os outros sujeitos; naqueles de maior peso cognitivo, é
o objeto, a realidade externa, que se modela, à custa da aquisição de
técnicas elaboradas pela cultura. Ambos os processos são, por
23
conseguinte, sociais, embora em sentidos diferentes: no primeiro,
social é sinônimo de interpessoal; no segundo, é o equivalente de
cultural. (DANTAS, 1992, p. 91)
Na adolescência, o jovem se volta para o conhecimento de si, pois o seu
desenvolvimento toma uma direção centrípeta. Esse estágio se inicia por volta dos
12 anos de idade e pode ser comparado ao do personalismo. No entanto, ambos
abrigam algumas diferenças. Enquanto no personalismo a criança tende a imitar o
adulto, na puberdade e adolescência, o jovem busca se diferenciar do adulto de
qualquer forma. As duas etapas são de grandes modificações subjetivas (WALLON,
1941/2005, 1973/1980a)1.
De acordo com Wallon (1973/1980a), o estágio da puberdade e adolescência marca
a última etapa da vida que separa a criança do adulto. Para ele (1956/1980), a
puberdade é um fato biológico; sua importância psicológica e social, bem como seus
efeitos variam conforme as diferenças sociais e os modos de vida de cada época. As
transformações corporais e psicológicas acentuam as diferenças entre os gêneros.
Essas mudanças têm significados próprios nas diferentes civilizações.
O desenvolvimento orgânico e psíquico possibilita o fortalecimento da compreensão
da consciência de si, da dimensão temporal e do pensamento categorial, que é a
capacidade de variar as classificações de acordo com as qualidades e definir suas
diferentes propriedades. (WALLON, 1973/1980b, p. 138). O jovem não necessita
mais do concreto e já pode pensar a partir do abstrato, o que permite o poder de
análise e reflexão dos fatos. Conforme escreveu o autor:
Em presença das mudanças que nele se operam, tem a impressão
do mistério, o que o torna mais indeciso nas suas relações sociais,
embora muitas vezes também agudize a sua actividade intelectual.
Saindo do positivismo raso da idade anterior, parece-lhe
indispensável a razão de ser das coisas e das pessoas, a sua origem
o seu destino. (WALLON, 1973/1980b, p. 139)
1
As datas correspondem respectivamente aos anos de publicação da obra e da edição usada na
pesquisa.
24
O adolescente passa a refletir sobre seu destino e suas responsabilidades, sobre a
razão e o valor de tudo o que está à sua volta. Busca o significado e a explicação
para as relações que manteve até então, questiona sobre si mesmo, sobre os
outros, sobre os valores morais, indo além do que está aparente. Deseja saber sobre
o problema da realidade e da origem dos fatos, procurando compreender as leis que
regem o mundo.
De acordo com Wallon (1973/1980a), nesse estágio, instala-se uma crise que
desequilibra de forma intensa a relação do adolescente com o seu meio. Vale
ressaltar que essa crise se manifesta de forma diferenciada, pois é conseqüência da
interação do indivíduo com seu meio e não da sua psicogênese. O autor deixa claro
que as “[...] divagações sentimentais não atingem em todos o mesmo grau. Podem
ser freadas pelas exigências da vida prática e pelo contacto directo com as
realidades da vida quotidiana [...]” (WALLON, 1973/1980a, p. 70).
Essa crise se inicia por uma oposição, “[...] mas que visa menos as pessoas do que,
através delas, os hábitos de vida de tal modo costumeiros, as relações de tal modo
inveteradas, que até aí a criança nem sequer parecia dar pela sua existência”.
(WALLON, 1941/2005, p. 208). O adolescente deixa de aceitar os hábitos que
adquiriu na infância e passa a não admitir o controle dos pais. Ele perde suas
próprias raízes, as de seu passado, de seus hábitos e de sua família. Tem a
sensação de que está se transformando em outra pessoa; não sabe se é ele ou o
seu entorno que está mudando. Ele deseja a mudança ao mesmo tempo em que a
teme. O jovem reconhece-se contraditório e preocupa-se com isso.
O adolescente busca por um par ideal, real ou imaginário, para ser o seu
complemento, e sente a necessidade de se unir a outros que possuem os mesmos
gostos e ideais; precisa compartilhar seus segredos com os amigos; além disso,
anseia por aventura, por ultrapassar a vida cotidiana, conhecer novos lugares, ir
além do que conhece (WALLON, 1973/1980a).
Segundo Wallon, esses desejos podem ser realizados por fantasias ou ações reais.
Desse modo, o adolescente pode unir-se a seus pares em função de valores éticos
ou criminosos. É um momento de opções, no qual o adolescente institui relações
25
com a sociedade, que podem ser aptas ou não, mas tudo isso dependerá da
orientação recebida do adulto e do seu meio.
Nesse sentido, a instituição educacional pode orientar os jovens em direção aos
valores pautados nos princípios da ética e do respeito. Como reforça Wallon:
É preciso utilizar esse gosto de aventura, esse gosto de ultrapassar a
vida quotidiana, esse gosto de se unir a outros que têm os mesmos
sentimentos, as mesmas aspirações, esse gosto de ultrapassar o
ambiente actual, para ajudar a criança a fazer a sua escolha entre os
valores em presença, que podem ser por vezes valores criminosos,
mas também valores sociais, valores morais. (WALLON, 1973/1980a,
p. 221)
Para ele, é preciso desenvolver nos adolescentes o espírito de responsabilidade
social. Pode-se concluir então que a escola precisa ter uma ação intencional,
planejada e sistematizada, e isso difere sua atuação dos demais meios de
socialização. A instituição deve garantir a apropriação dos conhecimentos
socialmente construídos, inserindo o aluno no mundo social e do trabalho. Ela tem
um papel fundamental na formação do cidadão, e suas ações devem ser traçadas
em função do sujeito que se pretende formar.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s (BRASIL, 1998) também acentuam
que é preciso ter coerência entre o que se faz na escola e o que se pretende ensinar
nela. Sendo assim, não se podem esperar mudanças de atitude em relação ao meio
ambiente se na escola não acontecem práticas pautadas nesse valor. Do mesmo
modo, não é possível ensinar valores éticos e morais se na escola não se
desenvolvem práticas pautadas em princípios éticos de justiça, solidariedade e
respeito. É preciso criar possibilidades reais de vivenciar tais atitudes e valores,
mostrando que são viáveis e possíveis de serem executados.
1.2 A escola na teoria walloniana
26
Para exercer plenamente sua função mediadora e socializadora, a instituição escolar
precisa compreender as especificidades do seu público: o que pensa, o que sente,
suas necessidades, desejos, angústias, o que espera do futuro, como percebe e
valora o espaço escolar. Ao conhecer os interesses e as necessidades do aluno, a
escola pode pensar em um ensino que lhes atenda adequadamente.
De acordo com Almeida (2004), Wallon mostrava grande respeito pela instituição
escolar. O autor tinha um ideal de escola e chegou a imprimi-lo em um projeto que
elaborou junto com o físico Paul Langevin para a reforma do ensino francês, o plano
Langevin-Wallon.
Os idealizadores do projeto (1969) acreditavam que a estrutura do ensino deveria
ser adaptada à estrutura social, considerando a diversidade cultural, étnica, social e
geográfica dos alunos. Propuseram uma escola para todos independentemente da
origem ou condição do indivíduo. Desse modo, alunos com deficiência, das classes
trabalhadoras ou de diferentes regiões geográficas tiveram suas necessidades
consideradas. Todos tinham direito ao desenvolvimento máximo, por isso o ensino
deveria oferecer possibilidades iguais, permitindo o acesso aos bens culturais.
O Plano entendia a escola como um centro de difusão da cultura que deveria
transmitir os conhecimentos historicamente construídos. Pretendia-se a formação
plena do cidadão, uma formação integral que visasse à humanização. Para isso,
pautava-se nos princípios de justiça, igualdade e orientação (escolar e profissional).
A escolarização era obrigatória entre 6 e 18 anos de idade. O ensino era dividido em
ciclos, cada um correspondendo a uma determinada faixa etária e organizado de
acordo com os interesses e necessidades desta, mas sempre levando em conta o
ritmo de cada indivíduo, buscando desenvolver as potencialidades do aluno
independentemente de sua origem social e econômica.
O primeiro ciclo escolar era destinado às crianças entre 7 e 11 anos; o segundo
atendia alunos entre 11 e 15 anos de idade e o terceiro, alunos entre 15 e 18 anos.
A proposta para o segundo e o terceiro ciclo estava voltada para a orientação e para
a escolha de uma área. No segundo ciclo, era preciso assegurar a aquisição dos
conhecimentos gerais e orientar os alunos conforme suas habilidades. Os
estudantes deveriam ser sistematicamente observados para que fosse possível
27
descobrir suas aptidões e assim orientá-los adequadamente. O terceiro ciclo era um
período de escolhas, entre estudos teóricos, profissionais ou práticos.
É importante ressaltar o quanto o plano Langevin-Wallon é atual: propõe uma escola
para todos, que considera a diversidade de seus alunos, forma o cidadão consciente
de seus direitos e deveres, possibilita o acesso à cultura, realiza a avaliação do
processo fundamentada na observação e no registro, com métodos ativos que
permitem a participação do estudante e o exercício de escolha. As idéias contidas na
proposta poderiam iluminar, influenciar, ou ao menos sugerir políticas públicas mais
eficazes de ensino.
1.3 A importância do meio e do outro na constituição da pessoa do
adolescente
Para Wallon, o indivíduo tem um potencial orgânico, mas é o meio em que ele vive
que possibilitará o desenvolvimento das funções afetivas, motoras e cognitivas.
Movimento, percepção, exploração do espaço, manipulação dos objetos, linguagem
e outras atividades podem ser bloqueados ou favorecidos pelo meio. Segundo o
autor:
A função precisa de excitantes apropriados, ainda que fictícios. É
durante este período que entra em ligação com diversas atividades –
perceptivas ou motoras – das quais poderão depender, em seguida,
aptidões por vezes consideradas autônomas, ao passo que devem a
sua eficiência ou sua deficiência a associações de base que se
formaram ou não anteriormente. (WALLON, 1979, p. 57-58)
Sendo assim, entende-se que o meio humano e físico precisa oferecer estímulos
variados, atividades adequadas e desafiadoras para o pleno desenvolvimento das
funções. A escola é considerada um meio no qual se deve privilegiar a aquisição dos
conhecimentos historicamente acumulados. Entretanto, é preciso ressaltar que para
fazê-lo, não pode esquecer de que se está tratando com indivíduos que possuem,
além da dimensão cognitiva, as dimensões afetiva e motora.
28
O contexto social, histórico e cultural em que o indivíduo vive tem grande
importância na teoria walloniana; não é possível compreender a constituição
humana fora da totalidade. Wallon afirma que:
A constituição biológica da criança ao nascer não será a lei única do
seu futuro destino. Os seus efeitos podem ser amplamente
transformados pelas circunstâncias sociais da sua existência, donde
a escolha pessoal não está ausente. (Wallon, 1973/1980a, p. 165)
Assim sendo, constata-se que o indivíduo possui um organismo que se desenvolve,
e o meio em que ele vive potencializará suas habilidades. O meio social estabelece
histórica, social e culturalmente as condições de existência coletiva e, desse modo,
oferece diferentes possibilidades aos sujeitos, que se constituem e se transformam a
partir das relações sociais.
Na perspectiva walloniana, o indivíduo é geneticamente social (WALLON,
1973/1980a, p. 159), humaniza-se e individualiza-se nas relações com os outros
indivíduos. No início da vida, o outro significa a sobrevivência, pois o recém-nascido
precisa do adulto para a satisfação das suas necessidades básicas, tais como a
alimentação, a higiene e a locomoção. Inicialmente, essas necessidades precisam
ser interpretadas pelo outro para que sejam atendidas. A partir das interações
estabelecidas com o adulto, o bebê fará associações entre a resposta obtida e a
necessidade atendida. É a partir da relação com o outro que a criança se percebe e
se constitui como pessoa.
O processo de constituição da personalidade2 permeia toda a vida. Tem início por
volta dos três anos de idade, quando a criança começa a fazer diferenciações entre
o eu e o outro. Essa constituição do eu não se dá de forma clara e passiva; na
tentativa de individualizar-se, busca expulsar o outro, opondo-se a ele, mas ao
mesmo tempo dependendo dele (WALLON, 1973/1980a).
2
“A palavra personalidade é considerada aqui no sentido do ser total, físico-químico e tal como ele se
manifesta pelo conjunto do seu comportamento”. (WALLON, 1873/1980b, p.131). No contexto desta
pesquisa personalidade será usada na acepção dada por Wallon.
29
Segundo Wallon (1973/1980a), na adolescência, essa diferenciação torna-se mais
evidente, pois o jovem procura se distinguir das idéias, costumes e valores que o
adulto representa. Ele vivencia um momento de questionamentos, de ressignificação
das relações estabelecidas até então, de consolidação de valores. Desse modo, o
outro exerce papel fundamental em sua vida. Os adultos representam o outro que o
adolescente tenta negar, quer se opor. Os grupos de amigos dos quais participa são
o apoio para que ele possa encontrar no outro um igual, alguém que está passando
pelo mesmo momento da vida. Nesse sentido, o outro acompanhará o indivíduo
desde seu nascimento, seja para uma relação de dependência, de complemento ou
de oposição.
O outro ou socius, na perspectiva de Wallon, não representa apenas uma pessoa,
mas sim toda a cultura e aquilo que é produzido por ela; portanto, um livro, uma
música ou um filme, por exemplo, podem participar ativamente do processo de
constituição da personalidade do indivíduo, ou do seu eu psíquico, como o autor
denomina. Para ele:
O socius ou o outro é um parceiro perpétuo do eu na vida psíquica. É
normalmente reduzido, inaparente, contido e como que negado pela
vontade de dominação e de integridade completa que acompanha o
eu. No entanto, toda a deliberação, toda a indecisão é um diálogo às
vezes mais ou menos explícito entre o eu e um objectante.
(WALLON, 1973/1980a, p. 159, grifo do autor)
Existe um diálogo entre o eu e o socius, que é um integrante do eu, mas que vem de
fora e aparece, na forma de posições contraditórias nas situações complicadas. Para
Wallon (1973/1980a), a fronteira entre o eu e o outro pode desaparecer em alguns
casos. Constata-se, desse modo, a estreita relação entre os indivíduos que, imersos
na cultura, muitas vezes não refletem sobre suas escolhas, se são guiadas por eles
mesmos ou pelas influências culturais. Escreveu Wallon:
As pessoas do seu meio não são em suma senão ocasiões para o
sujeito se exprimir ou se realizar. Mas se lhes pode dar vida e
consistência fora dele, é porque fez nele a distinção do seu eu e do
que dele é o complemento indispensável: esse estranho essencial
30
que é o outro. A distinção não é como que um decalque abstrato das
relações habituais que o sujeito pode ter tido com as pessoas reais.
Resulta da bipartição mais íntima entre os dois termos que não
poderia existir um sem o outro, embora ou porque antagonistas,
sendo a afirmação da identidade consigo próprio e resumindo o outro
o que se deve expulsar desta identidade para a conservar.
(WALLON, 1973/1980a, p. 158-159)
É no exercício de comparação e oposição ao outro que o indivíduo desenvolve a
consciência de si. Desse modo, o grupo é um importante referencial para a criança,
“[...] é o veículo ou o iniciador de práticas sociais [...]” (WALLON, 1973/1980a, p.
178). Para Wallon, a participação em um grupo (família, escola, amigos) permite o
desempenho de papéis variados e sua constituição se dará conforme a idade e as
necessidades do sujeito. Segundo ele:
Quer sejam temporários ou duradouros, todos os grupos têm
objectivos determinados e a sua composição depende dos mesmos
objectivos; do mesmo modo, a repartição dos cargos rege entre eles
as relações dos membros e, se necessário, a sua hierarquia. Pode
haver postos de iniciativa, de comando, de sustento, de submissão,
de oposição crítica, na repartição dos quais se podem jogar relações
interindividuais de caráter, não menos que as circunstancias.
(WALLON, 1973/1980a, p. 173)
Na adolescência, o grupo é formado em função de necessidades, tais como, ter
alguém para confiar e para compartilhar os segredos, desejos, vontades, angústias e
afinidades. O sentimento de amizade não se restringe aos pares; pode se estender
também aos adultos (pais, tios, professores ou ídolos) com os quais os jovens se
identificam. “É um ordenamento íntimo da pessoa que os grupos realizam fazendo
penetrar nela as diversas categorias de relações com os outros” (WALLON,
1973/1980a, p. 178-179).
A teoria walloniana deixa claro que é na interação que o sujeito se desenvolve e se
manifesta. Entende-se então a necessidade de se pensar em uma escola que
desenvolva nos estudantes uma personalidade segura e independente, favorecendo
que eles tenham consciência de suas escolhas. A respeito da escolha, é importante
esclarecer que “[...] o ato de escolher é uma das expressões únicas, singulares,
31
sociais e históricas do sujeito, revelador de sua subjetividade”. (AGUIAR, 2006, p.1314). De acordo com Aguiar (2006), as escolhas estão dentro de um contexto; fazem
parte de um processo histórico, social e cultural, mediado pelas relações sociais que
constituem o indivíduo e são constituídas por ele. Elas não se dão ao acaso ou de
um modo natural; são conseqüências de um processo vivenciado pelo sujeito.
Existem diferentes qualidades de escolhas e para entendê-las, é preciso perceber as
condições vividas pelos indivíduos.
1.4 Afetividade e adolescência
Afetividade, ato motor, conhecimento e pessoa são conjuntos ou domínios
funcionais que estão integrados e coexistem entre si. Neste trabalho, tratar-se-á do
conjunto afetividade.
A afetividade pode ser compreendida como a capacidade que o ser humano tem de
afetar e ser afetado pelo mundo interno e externo por sensações agradáveis ou
desagradáveis (Mahoney e Almeida, 2005), sensações que correspondem aos
estados de bem-estar e de mal-estar. A afetividade tem origem nas sensibilidades
interoceptiva, proprioceptiva e exteroceptiva3.
Esse domínio funcional é marcado por uma evolução que acompanha o decurso do
desenvolvimento do indivíduo, revelando-se de forma distinta nos diferentes estágios
da vida. As manifestações que inicialmente são inconscientes, involuntárias e
esporádicas tornam-se conscientes e voluntárias.
No processo de constituição humana, a emoção dá espaço à atividade cognitiva,
mas ambas se desenvolvem simultaneamente. Na perspectiva walloniana, “[...] a
razão nasce da emoção e vive da sua morte [...]” (DANTAS, 1992 p. 86).
3
Sensibilidade interoceptiva – sensações viscerais, reúne os sinais dos órgãos internos. Ex:
sensações de fome, cólica etc.
Sensibilidade proprioceptiva – sensações musculares, relacionadas ao movimento do corpo e ao
equilíbrio dele no espaço.
Sensibilidade exteroceptiva – sensações voltadas para o mundo exterior.
32
A representação reduz a emoção e possibilita uma imagem mais clara e definida das
situações e “Inversamente, sempre que prevaleçam de novo atitudes afectivas e a
emoção correspondente, a imagem perderá a sua polivalência, obnubilar-se-á,
desaparecerá” (WALLON, 1941/2005, p. 144). Independentemente da idade, isso
pode acontecer nos momentos novos e difíceis, “[...] derrota do raciocínio e das
representações objetivas pela emoção” (ibdem, p. 144).
A relação entre os fatores orgânicos e sociais dá origem ao desenvolvimento da
afetividade, que se desdobra em emoção, sentimento e paixão. A emoção é um
mecanismo de sobrevivência da espécie humana, e dentre os aspectos que
envolvem a afetividade, foi o que apresentou maior espaço nessa teoria. Nela, há
um predomínio orgânico incontrolável. É a expressão corporal e motora da
afetividade. No sentimento, existe o componente representacional; não envolve uma
reação direta e rápida como a emoção. Na paixão ocorre o autocontrole das
emoções e dos sentimentos.
A emoção contagia e estabelece a relação entre os sujeitos, possibilitando as
interações sociais e a constituição da consciência. É um meio de expressão que se
refina a partir das relações, um instrumento que possibilita a comunicação. Para o
autor:
As emoções, que são a exteriorização da afetividade, estimulam
mudanças que tendem, por um lado, a reduzi-las. [...] As relações
que elas tornam possíveis afinam os seus meios de expressão, e
fazem deles instrumentos de sociabilidade cada vez mais
especializados. Mas à medida que, tornando-se mais precisos, o seu
significado os torna mais autônomos, separam-se da própria
emoção. Em vez de serem a sua onda propagadora, tendem a
reprimi-la, a impor-lhe diques que quebram a sua potência
totalizadora e contagiante. (WALLON, 1941/2005, p. 143)
A emoção decorre da função postural e corresponde a variações viscerais e
musculares do tônus. Pode-se dizer que ela é a expressão ou atitude diante de uma
situação.
Segundo Wallon (1941/2005), existe um campo de percepção e de ação entre as
atitudes emocionais das pessoas, e esse campo se constitui nas relações. As trocas
33
e os ritos envolvendo as expressões dos indivíduos possibilitaram a compreensão de
uma determinada expressão, modificando-a e transformando-a de meio natural em
mímica convencional.
A adolescência é um estágio de preponderância afetiva no qual o jovem busca
compreender o que acontece com ele, voltando sua atenção para questões de seu
interesse. As mudanças corporais que ocorrem na puberdade provocam nos
adolescentes mudanças psíquicas; surge um sentimento de estranheza diante de si
mesmo. De acordo com Wallon (1973/1980a), os adolescentes sentem as mudanças
e ficam desorientados.
Tornam-se intolerantes para com os hábitos adquiridos na infância,
em relação ao controle exercido pelos pais sobre eles, em relação
mesmo à solicitude de que são alvo. A desorientação é
acompanhada de descontentamento, dum desejo de mudança, mas
inicialmente não sabem para o que dirigir. (WALLON, 1973/1980a, p.
218)
Na adolescência, a vida afetiva é muito intensa e fatos corriqueiros ganham um peso
extraordinário, revelando a preponderância da afetividade nesse estágio. A
ambivalência de sentimentos e atitudes marca essa etapa da vida, surgem
sentimentos de desacordo e inquietação, desejos de posse e sacrifício, oposição e
conformismo, renúncia e aventura. Ao mesmo tempo em que o adolescente deseja
seduzir, encantar e ser extravagante, sente-se intimidado e embaraçado com suas
atitudes.
O adolescente está vivenciando um momento importante da sua vida, de
transformações físicas e psíquicas que provocam necessidades afetivas. Respeito,
justiça e atenção são exemplos de expressões da afetividade exigidas e valorizadas
pelos jovens. Na perspectiva walloniana, a afetividade evolui tanto quanto a
inteligência: no início da vida, manifesta-se pelo contato físico, e ao longo do
desenvolvimento, as manifestações afetivas se refinam e dão lugar a outras formas
de expressão.
34
É fundamental que os gestores e professores conheçam as necessidades afetivas
dos alunos e compreendam a importância de considerá-las em todos os momentos.
35
2. Procedimentos metodológicos
Esta é uma pesquisa qualitativa que objetivou identificar, no contexto escolar,
situações que agradam e que desagradam aos alunos da 8ª série do Ensino
Fundamental, os sentimentos envolvidos nessas situações e as implicações
educacionais dessas situações no processo ensino-aprendizagem.
De acordo com Lüdke e André (1986), o estudo qualitativo desenvolvido no cotidiano
da escola “[...] é rico em dados descritivos, tem um plano aberto e flexível e focaliza
a realidade de forma complexa e contextualizada” (p. 18). Sendo assim, essa
abordagem
possibilita
uma
flexibilização
das
ações
implementadas
pelo
pesquisador, o qual pode participar do processo de pesquisa dentro do próprio
contexto do estudo, pois “O objectivo dos investigadores qualitativos é o de melhor
compreender o comportamento e experiência humanos” (BOGDAN E BUKLEN,
1994, p. 70).
2.1 Delimitação do problema de pesquisa
Este trabalho buscou responder à seguinte questão: quais situações os alunos da 8ª
série do Ensino Fundamental consideram agradáveis e desagradáveis na escola?
Objetivou-se:
- identificar, no contexto escolar, situações que agradam aos alunos da 8ª série do
Ensino Fundamental;
- identificar, no contexto escolar, situações que desagradam aos alunos da 8ª série
do Ensino Fundamental;
- identificar os sentimentos envolvidos nessas situações;
- identificar as implicações educacionais dessas situações no processo ensinoaprendizagem.
36
2.2 Opções tomadas para a obtenção de informações
2.2.1 Escolha dos participantes
O local da pesquisa foi uma escola pública da rede estadual de São Paulo, que
recebeu o nome fictício de Escola Estadual Machado de Assis. Localizada na
periferia da zona sul da capital, a instituição atende cerca de 1800 alunos do Ensino
Fundamental - ciclo II (5ª a 8ª séries) e do Ensino Médio. Divide-se em três turnos
com 16 salas cada, sendo que o primeiro é destinado às 8ª séries e ao Ensino Médio
(1ª a 3ª séries). Pela manhã, são quatro salas para cada série. O turno intermediário
atende as 5ª, 6ª e 7ª séries do Ensino Fundamental – ciclo II e a 1ª série do Ensino
Médio. No noturno, funciona apenas o Ensino Médio.
A escola recebe alunos do próprio bairro em que está situada e de bairros vizinhos.
Voltada ao público do Ensino Médio, recebe estudantes da rede municipal para o
ingresso nessa modalidade de ensino e mantém seus alunos que cursaram o ciclo II
do Ensino Fundamental. Bem avaliada pela comunidade externa, apresenta grande
participação dos pais; por isso, é muito procurada por famílias das classes
trabalhadoras que mostram uma preocupação com a qualidade da educação e
vislumbram um futuro universitário para seus filhos. Inclusive, alguns de seus alunos
concluintes do Ensino Médio ingressaram em cursos de administração, economia e
filosofia em universidades reconhecidas.
2.2.2 Escolha do instrumento
O instrumento utilizado foi a redação. A escolha pela produção de texto deu-se por
acreditar que este é um veículo de expressão no qual a exposição do sujeito é
menor, pois não precisa falar em público, possibilitando ainda o anonimato.
A comanda da redação foi: descreva uma situação agradável e outra desagradável
que foram marcantes para você na escola (Anexo 2).
37
A aplicação ocorreu no final do segundo semestre de 2006 como uma atividade
rotineira na aula de Língua Portuguesa. Portanto, os alunos estavam em situação
habitual de ensino. Vale ressaltar que a professora mostrou-se interessada pela
pesquisa, pois tem uma prática que considera a afetividade dos alunos, usando a
redação como um veículo de expressão da subjetividade do adolescente, a
professora costuma realizar atividades que envolvem a produção de texto para que
os estudantes expressem o que estão sentindo. Faz isso, inclusive, quando percebe
que o aluno apresenta problemas, mas não consegue aproximar-se dele.
Ficou a critério da professora a escolha da 8ª série que participaria da atividade de
produção de texto e, para não modificar o ambiente cotidiano, a pesquisadora não
participou da aplicação; só depois da atividade, conversou com os alunos,
explicando que gostaria de usar as produções para uma pesquisa acadêmica, se
concordassem. Todos o fizeram. Além disso, falou também com os pais dos
estudantes, que concordaram e mostraram interesse pelo trabalho.
Participaram da atividade os 32 estudantes presentes à aula. Eles entregaram as
redações e todas elas foram utilizadas para a análise de dados. Os nomes dos
participantes da pesquisa foram trocados por nomes fictícios, que serão usados no
decorrer da análise de dados (Anexo 3).
2.3 Opções tomadas para a análise das informações
A análise dos dados realizou-se com base nas orientações propostas por Szymanki,
Almeida e Prandini (2001): “Análise é o processo que conduz à explicitação da
compreensão do fenômeno pelo pesquisador. Sua pessoa é o principal instrumento
de trabalho, o centro [...]” (SZYMANKI, ALMEIDA E PRANDINI, 2001, p. 157). As
autoras indicam o procedimento de explicitação dos significados para compreender
melhor o discurso do participante da pesquisa. Dessa forma, são necessárias
leituras e releituras dos depoimentos para que seja possível apreender o todo. A
etapa seguinte é a compreensão das partes; é preciso desmembrar a fala do
depoente para buscar seus significados.
38
Retomando, nesta pesquisa, utilizou-se como instrumento a redação, escrita por
alunos da 8ª série do Ensino Fundamental. O primeiro procedimento para análise
dos depoimentos foi a leitura das redações. Para sistematizar as informações, optouse pela elaboração de um quadro (anexo 1). Os depoimentos foram organizados,
estabelecendo-se uma ordem na descrição das situações: transcreveu-se em
primeiro lugar a situação agradável e em segundo, a desagradável.
O quadro foi organizado em função dos objetivos propostos para esta pesquisa,
contendo as seguintes colunas: alunos (nome dos participantes da pesquisa);
redação (redação digitada na íntegra); explicitação dos significados (significados
captados pela pesquisadora); sentimentos (foram inferidos sentimentos envolvidos
nas situações descritas pelos alunos); necessidades (necessidades presentes nas
situações captadas pela pesquisadora); implicações educacionais (implicação
educacional de cada situação) e relação com a teoria (estabeleceu-se uma relação
com a teoria para facilitar a análise dos dados). Após a elaboração do conteúdo do
quadro, foram realizadas outras leituras das redações, com o intuito de desvelar o
depoimento do aluno, buscando compreender os significados presentes em seu
discurso e, assim, as colunas foram preenchidas.
Com base no material obtido, depois da preparação do quadro, passou-se à
definição das categorias. De acordo com Szymanki, Almeida e Prandini (2001):
A categorização concretiza a imersão do pesquisador nos dados e a
sua forma particular de agrupá-los segundo a sua compreensão.
Podemos chamar este momento de explicitação de significados.
Diferentes pesquisadores podem construir diferentes categorias a
partir do mesmo conjunto de dados, pois essa construção depende
da experiência pessoal, das teorias do seu conhecimento e suas
crenças e valores. (SZYMANKI, ALMEIDA E PRANDINI, 2001, p.
161)
Todos os relatos foram agrupados e foi possível estabelecer categorias e
subcategorias, definidas com base na explicitação dos significados dos depoimentos
dos alunos e com o respaldo do referencial de Henri Wallon, adotado nesta
pesquisa. Nem todas as categorias e suas respectivas subcategorias contemplam
39
situações agradáveis e desagradáveis; algumas se referem às duas situações;
outras, apenas às desagradáveis. As categorias definidas não são excludentes; o
mesmo depoimento pode estar incluído em mais de uma delas.
As categorias, subcategorias e seus respectivos conteúdos ficaram assim definidos:
1. Escola: espaço de conhecimento
Nesta categoria, estão contidas as falas dos alunos sobre o ensino oferecido pela
escola e o seu desempenho, envolvendo tanto as situações agradáveis como as
desagradáveis. As situações agradáveis estão relacionadas ao ensino oferecido pela
instituição, às possibilidades de aprendizagem encontradas e ao bom desempenho
do aluno. Inversamente, as situações desagradáveis citam o uso inadequado dos
recursos e espaços de que a escola dispõe e mostram a decepção por tirar notas
vermelhas ou repetir o ano.
Subcategorias
1.1 O ensino oferecido
1.2 O desempenho do aluno
2. Escola: espaço de interação
Esta categoria compreende as falas dos alunos no que diz respeito às interações
estabelecidas no espaço escolar. As situações agradáveis estão relacionadas à
possibilidade de conhecer pessoas, fazer amigos, contar com os professores. Os
momentos de descontração durante as festas e excursões também foram
lembrados. Em oposição, as situações desagradáveis relatam os desentendimentos
entre os adolescentes, a separação do amigo que sai da escola, o desrespeito por
parte dos colegas e de uma funcionária, a falta de colaboração para com o trabalho
do outro e para a preservação do espaço escolar, o desencontro em uma excursão e
a desconsideração dos interesses dos alunos nas decisões sobre festas e
excursões.
40
Subcategorias
2.1 A relação eu-outro
2.2 Os momentos de descontração e lazer
3. Escola: espaço de participação da família
Esta categoria compreende as falas dos alunos referentes à presença da família na
escola e revela a forte presença da mãe nesse espaço. As situações agradáveis
relatam a participação da família e da comunidade em uma festa e a presença das
mães na reunião de conselho e em um momento de premiação. Em oposição, as
situações desagradáveis relatam a presença da mãe na escola nos casos de
desentendimentos entre colegas.
Subcategoria
3.1 A forte presença da mãe na escola
4. Escola: espaço da pessoa por inteiro
Nesta categoria estão contidos relatos que descrevem conquistas pessoais e
eventos extra-escolares que interferiram na atuação de uma aluna na escola. Nas
situações agradáveis são citadas as participações e as vitórias em competições, a
premiação recebida e a possibilidade de representar a escola nos campeonatos. Em
oposição, as situações desagradáveis citam a derrota no campeonato, o
questionamento com relação aos critérios de uma competição e dois outros fatores:
estar no período de TPM e descobrir uma traição, que não aconteceram diretamente
na escola, mas interferiram na rotina escolar da aluna.
Subcategorias
4.1 As conquistas e derrotas em competições
4.2 Fatores extra-escolares que interferem na atuação do aluno na escola
41
5. Escola: espaço de reivindicação e questionamentos
Esta categoria compreende os depoimentos que abordam os questionamentos, as
desilusões e as reivindicações sobre o que acontece na escola; todos os relatos
estiveram relacionados com as situações desagradáveis.
Subcategoria
5.1 As falsas promessas
6. Escola: espaço de situações inesperadas
Esta categoria se refere aos relatos envolvendo situações inesperadas na escola.
Na situação agradável, encontra-se o depoimento de uma aluna sobre sua surpresa
ao saber que venceu um concurso de redação. Nas situações desagradáveis, foram
mencionados os acidentes na escola.
Subcategorias
6.1 Receber um prêmio
6.2 Os acidentes
Diante disso, no próximo capítulo, a análise dos dados será explicitada. É importante
ressaltar que as informações coletadas possibilitaram olhar para a escola do ponto
de vista do adolescente. Os dados permitiram verificar uma determinada escola,
vivida pelos participantes desta pesquisa, que certamente seria descrita de forma
diferente por indivíduos de outros contextos. Observaram-se, nesses participantes
adolescentes, características semelhantes àquelas apresentadas no estágio da
puberdade e adolescência proposto na teoria de Henri Wallon. Não se pretende,
com isso, universalizar essas características, nem generalizá-las a outros jovens de
outras escolas. Possivelmente, adolescentes de instituições pertencentes a outras
realidades (classes sociais, regiões ou países diferentes) descreveriam situações
diferentes. Conforme o autor escreveu na introdução de As origens do pensamento
42
na criança, obra que reúne os temas centrais dos cursos por ele ministrados no
Collége de France, e na qual divulgou pesquisas realizadas com crianças entre 6 e 9
anos de idade:
Esta pesquisa foi feita numa escola de Boulogne-Billancourt, onde se
encontravam representados todos os elementos componentes da
população dessa cidade. População semi-operária e semiburguesa:
Operários da mecânica e da mineração, pequena burguesia de
empregados e funcionários públicos. População que compreende,
também, uma certa proporção de engenheiros e, particularmente, de
italianos. É extremamente provável que, numa escola rural, por
exemplo, o conteúdo de respostas teria sido diferente, como as
relativas às plantas e à cultura. (Wallon, 1989, introdução, p. X)
43
3. Análise dos dados
1. Escola: espaço de conhecimento
1.1 O ensino oferecido
Uma situação agradável foi quando houve o trabalho da Copa, todos
participaram ajudando a concluir o trabalho, cada sala ficou
responsável por um país e pesquisar sobre ele. Outras coisas
agradáveis foram as palestras, que durante esse ano falaram sobre
orientação sexual, sobre drogas, coisas que hoje em dia vem
acontecendo. Marisa
As situações agradáveis descrevem um ensino que permite a participação ativa do
aluno em atividades diversificadas, atende a seus interesses, possibilita o trabalho
em equipe, favorece a pesquisa e oferece a oportunidade de mostrar o que se faz na
escola. Dez estudantes relataram o trabalho sobre a Copa4.
Ver a escola cheia de gente para apreciar os trabalhos dos alunos foi
recompensador para Kátia.
A situação mais agradável que eu tive aconteceu neste ano aqui na
escola, que foi quando teve uma exposição sobre a Copa de 2006.
Falamos sobre todos os países, mas cada sala teve um assunto para
pesquisar, foi realizada uma [exposição] na escola e em todos os
horários, foi um tempo de muito trabalho, mas que valeu a pena, pois
4
O trabalho sobre a Copa foi um projeto que envolveu todas as séries, turnos e disciplinas. Duas ou
três salas ficaram responsáveis por um dos países participantes da Copa de 2006; os representantes
dessas turmas participaram de um sorteio para definir o país de suas turmas. Houve uma integração
de toda a escola e salas da manhã fizeram o trabalho junto com salas da noite. Os professores
distribuíram as tarefas, direcionaram os trabalhos, ajudaram com o material e fizeram o elo de ligação
entre as turmas que tiveram de se comunicar para realizar os trabalhos. Os alunos fizeram pesquisas
na Internet e visitaram consulados de alguns países. Pesquisaram sobre os aspectos geográficos e
sociais, tais como: população, cultura, danças e comidas típicas. Foram destinadas duas aulas por
semana para a realização do projeto, que durou cerca de um mês. Para o encerramento, foi realizada
uma exposição na escola, aberta ao público em geral; nesse dia, houve apresentação dos trabalhos,
fantasias, objetos e danças típicas dos países.
44
no dia da exposição tivemos uma mini festa que foi muito bom, as
músicas foram as melhores, as salas estavam divinas e sem contar
que estava lotada a escola. Foi muito bom! Todos gostaram e falam
até hoje. Pra mim ficou guardado! Kátia
A possibilidade de compartilhar o momento festivo com os colegas e com a
comunidade e saber que todos gostaram e ainda fazem comentários sobre esse dia
foi motivo de alegria e satisfação para a aluna. Isso deixa claro que a escola precisa
valorizar as realizações dos estudantes e possibilitar espaços para divulgá-las, como
pode ser constatado nos outros depoimentos a seguir:
“Para mim, a situação agradável que eu passei na escola foi no dia que teve a
apresentação da Copa. Foi muito legal, todas as minhas amigas vieram para mostrar
os seus trabalhos”. Ana
“Uma situação que marcou a minha vida foi quando teve a apresentação da Copa,
que representei a República Tcheca. Foi muito bacana, teve muita música e
apresentações”. Luciana
Os depoimentos revelam que as alunas valorizam as situações de ensino quando
encontram sentido no que fazem. Ver a escola cheia de gente para apreciar a
exposição é agradável porque dá visibilidade ao que é produzido na escola,
possibilitando a valorização e o reconhecimento de um trabalho que envolveu
esforço coletivo.
Percebe-se assim que os estudantes valorizam atividades que permitam a
participação coletiva e o envolvimento de todos e possibilitem a construção do
conhecimento de forma ativa e dinâmica porque envolvem várias tarefas, como a
pesquisa,
confecção
de
cartazes,
elaboração
de
textos,
organização
da
apresentação. Esse tipo de trabalho possibilita uma troca constante entre os
45
educandos e entre eles e seus professores. É interessante observar que o Plano
Langevin-Wallon propõe um método de ensino ativo, assim descrito:
Los métodos a emplear son los métodos activos, o sea aquellos que
se esfuerzan por acudir para cada conocimiento o disciplina a las
iniciativas de los mismos ninõs. Alternarán o trabajo individual y el
trabajo de equipo, siendo uno y otro susceptibles de poner en acción
las diferentes aptitudes del ninõ, ya sea haciéndole enfrentarse con
los recursos que le son propios a las dificultades del estudio, ya sea
haciéndole elegir un papel particular y una responsabilidad personal
en la obra coletiva. De este modo se revelarán sus capacidades
intelectuales y sociales, y el lugar dejado a su espontaneidad hará de
la ensenãnza recebida una ensenãnza adecuada a ellos.
(LANGEVIN-WALLON, 1973, p. 180-181)
Ter o reconhecimento do trabalho, compartilhar o resultado daquilo que é feito na
escola, participar colaborando de forma ativa nas tarefas escolares, vivenciar
atividades diferenciadas foram necessidades satisfeitas com a realização do trabalho
sobre a Copa.
As palestras5 também foram relatadas como uma fonte de aprendizagem,
interessante, diferente e divertida. Segundo os adolescentes, abordaram assuntos
relevantes da atualidade que atenderam às suas necessidades.
“Outras coisas agradáveis foram as palestras, que durante esse ano falaram sobre
orientação sexual, sobre drogas, coisas que hoje em dia vem acontecendo”. Marisa.
Quando a adolescente se refere à possibilidade de participar da conversa sobre
“coisas que hoje em dia vem acontecendo”, aponta a necessidade de conhecer mais
sobre o assunto. Nessa afirmação, pode-se verificar o quanto é importante que a
equipe de profissionais da escola programe atividades diversificadas de ensino que
contemplem tanto os conteúdos programáticos, como também os interesses dos
5
As palestras não foram organizadas pela escola de forma intencional; um grupo externo propôs e
realizou esse trabalho.
46
estudantes. Alguns alunos ressaltaram a discussão de assuntos, como sexualidade,
drogas e saúde. Essas temáticas abordadas nas palestras devem estar inseridas na
grade curricular da escola, pois fazem parte das preocupações e demandas dos
adolescentes e estão propostas nos Temas Transversais, contidos nos Parâmetros
Curriculares Nacionais para o terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental
(BRASIL, 1998).
Assim, pode-se constatar que atividades extraclasse oferecem possibilidades
variadas de interação e de aprendizagem. As palestras promoveram a aprendizagem
de outro modo, fora do espaço da sala de aula, permitindo ao aluno o
esclarecimento de questões da atualidade que fazem parte de seus interesses,
possibilitando a construção de conhecimento. Nota-se que os alunos valorizam um
espaço diferenciado de aprendizagem. Como relata a aluna Márcia:
“[...] as palestras, umas das principais e interessantes sobre a saúde bucal e a
orientação sexual, falando também sobre as drogas. As palestras ajudaram bastante
os alunos”. Márcia
Nessa fala, observa-se que a aluna encontra na escola um outro espaço para
aprender e para discutir assuntos do seu interesse, que podem ajudar não só a ela
como também a seus colegas. A ajuda a que se refere certamente está relacionada
à necessidade de esclarecimento sobre sexualidade e drogas, assim como se
verifica no depoimento da outra estudante. Geralmente, essas questões não têm
espaço para serem discutidas, mas a palestra possibilita um debate aberto,
elucidando dúvidas.
De acordo com Wallon (1975/1980a), nesse momento da vida, o jovem está voltado
“[...] para a edificação da pessoa [...]” (p. 69), ou seja, para a consolidação de sua
personalidade. Portanto, ele dará mais atenção aos assuntos relacionados às suas
preocupações. A escola pode aproveitar esse ensejo, partindo de assuntos que são
mais importantes para o aluno, despertando-o para outros de menor interesse, mas
que fazem parte do processo ensino-aprendizagem e precisam ser apropriados
47
pelos estudantes. Conforme afirma Wallon (1973/1980b), é possível partir das
preocupações e interesses dos jovens e despertar neles a busca pelo conhecimento
científico e pela responsabilidade. A respeito das transformações na adolescência, o
autor escreveu:
O mundo ganha uma nova dimensão. Preocupação metafísica sem
dúvida, mas que, convenientemente alimentada e guiada, pode
tornar-se em preocupação científica das causas e em preocupação
das responsabilidades familiares e sociais. Assim podem ainda
alternar e combinar-se o espírito de dúvida e o de construção, de
invenção, de descoberta, de aventura e de criação. (WALLON,
1973/1980b, p. 139)
Todos os relatos sobre o evento da Copa e as palestras se referiram às situações
agradáveis, mostrando que os estudantes valorizam as situações de ensino quando
apresentadas com metodologias variadas.
Contrariamente, as situações desagradáveis relatadas referem-se a um ensino
desestimulante no qual os recursos disponíveis na escola não são utilizados de
maneira adequada, a participação do aluno não aparece de forma ativa e a inclusão
de todos os alunos nas aulas de Educação Física não é possível. É perceptível que
as necessidades dos alunos não foram satisfeitas.
“É desagradável não ter aula de informática, sendo que tem computadores e
também poderia ter aulas diferentes no laboratório, porque quando vamos para o
laboratório fazemos lições iguais fazemos na sala normal”. Marta
A situação relatada provavelmente deixou a aluna desestimulada por saber da
existência da possibilidade de ter uma aula diferenciada, e não tê-la. Marta
apresenta senso crítico com relação ao ensino oferecido pela escola; ela está atenta
para o fato de os professores não utilizarem os computadores e de não aproveitarem
adequadamente o laboratório. As estratégias de ensino planejadas por eles
48
poderiam ser mais diversificadas caso aproveitassem esses espaços existentes.
Sabe-se que nem sempre os educadores estão aptos a utilizar esses recursos; é
necessária a formação apropriada. Os gestores das instituições devem incentivar e
possibilitar que os professores busquem informação e aproveitem os diversos
espaços e recursos de que a escola dispõe para que possam organizar atividades
diversificadas de ensino.
Praticar atividade física em horários inadequados, assim como não poder participar
das aulas de Educação Física também foram considerados eventos desagradáveis
relacionados ao ensino.
“Quando está muito sol e temos que ficar na quadra pequena, que é descoberta, o
sol acaba me deixando com dor de cabeça e vermelha”. Patrícia
“Uma experiência muito desagradável é o fato de eu não poder participar das aulas
de educação física, por causa de um problema que eu tive no meu olho esquerdo, e
estou até hoje sem participar das aulas”. Flávio
Os alunos revelam que suas necessidades não foram satisfeitas, gerando
sentimentos de tristeza e impotência. Patrícia gostaria de praticar atividade física em
lugares apropriados. Flávio gostaria de participar das aulas de Educação Física. É
prudente que a escola se preocupe com a saúde de seus alunos; por isso, deve
organizar espaços adequados para a prática de atividade física e assegurar que esta
não ofereça risco à saúde. O fato de um estudante não poder participar das aulas de
Educação Física por motivo de doença revela que a escola não está preparada para
lidar com as adversidades nessas aulas. Os professores, em conjunto com a gestão
da escola, podem pensar em atividades que possibilitem a participação de alunos
que tenham algum tipo de impedimento, caso contrário o estarão excluindo. Além
disso, as aulas de Educação Física não precisam se restringir às atividades físicas
de alto impacto; jogos cooperativos e de tabuleiro também fazem parte dessa
modalidade de ensino e possibilitam a participação e interação de todos.
49
Pode-se verificar que os adolescentes desta pesquisa refletem sobre o que acontece
à sua volta, mostrando-se atentos com relação ao ensino oferecido. Assim como
observado por Wallon, possuem poder de análise e de argumentação sobre o que
lhes acontece. Para ele, na adolescência “[…] novas necessidades transformam
profundamente a pessoa e a inteligência da criança. Dão-lhe uma nova dimensão,
põem-lhe a questão do seu destino e das suas responsabilidades. Convidam-na a
reflectir sobre a razão e sobre o valor daquilo que a rodeia” (WALLON, 1975/1980a,
p. 70).
Nesta subcategoria, pode-se constatar a importância de um ensino que atenda às
necessidades dos alunos e que promova uma educação de qualidade, possibilitando
a apropriação dos conhecimentos historicamente acumulados pela humanidade. As
situações descritas pelos estudantes revelam a necessidade de participação ativa no
processo ensino-aprendizagem. Nesse sentido, o plano Langevin-Wallon traz
grandes contribuições. Conforme apresenta Almeida:
O pressuposto do Plano é que a escola deve dar a todos os alunos
uma base comum que seja alicerce para os estudos futuros; deve dar
oportunidade para as crianças e os jovens desenvolverem suas
tendências e serem atendidos em suas necessidades. Ou seja,
coerente com sua teoria de desenvolvimento, Wallon vai enfatizar
que as crianças e os jovens se formem na cultura; que a escola é
uma das responsáveis pela expansão da cultura; que todos os
alunos têm direito à cultura, independentemente de sua origem
étnica, religiosa ou social. (ALMEIDA, 2004, p. 121)
O Plano apresenta um ideal de escola com sugestões de programas, métodos,
horários, exames e formação de professores. Nele, a avaliação é compreendida
como parte importante do processo ensino-aprendizagem, por isso não é realizada
somente por meio de provas de conhecimento, mas também da constante
observação do conselho de professores, responsáveis pela orientação.
Como será visto a seguir, a avaliação faz parte das preocupações dos alunos e gera
situações agradáveis e desagradáveis no contexto escolar.
50
1.2 O desempenho dos alunos
“Agradável mesmo foi quando eu tirei o meu primeiro A”. Deise
Tirar o primeiro A. Dedicar-se aos estudos e melhorar as chances de passar de ano.
Surpreender-se com o bom desempenho. Ter notas melhores porque participou de
um trabalho. Foram situações agradáveis relatadas pelos alunos.
Eu tive uma situação agradável, foi nesse bimestre até. Eu me
esforcei bastante, me integrei nos estudos e no fim do bimestre tive
uma notícia boa, que minhas notas estavam todas boas. E com
essas notas boas eu tenho mais chance de passar de ano. Flávio
O estudante faz uma auto-avaliação positiva, pois se percebeu mais dedicado e
esforçado nos estudos, o que resultou em um bom desempenho e aumentou a
possibilidade de passar de ano. Compreende-se, então, que a dedicação e o
envolvimento com os estudos foram recompensados. Quando o aluno percebe que
seu esforço é reconhecido ou recompensado com boas notas, sente-se mais capaz
e motivado a dar continuidade ao seu empenho. Alegria e satisfação permeiam esse
processo.
Já Pedro revela surpresa e alívio ao saber de seu bom desempenho durante o
conselho de classe e por não ter nenhuma reclamação de seus professores.
Um dia que ia acontecer o conselho de classe, que era para os pais
irem junto com os alunos, eu fiquei com medo de tirar notas ruins. E
a minha mãe disse [que] se eu tirasse nota ruim eu ia ficar de
castigo. Chegou no conselho eu fiquei sentado lá na frente com
minha mãe, quando chamou o meu número eu fiquei com medo, mas
tive uma situação agradável, porque eu tive só as notas boas e não
tive reclamação nenhuma. E minha mãe me deu parabéns. Pedro
51
Na situação descrita pelo aluno, nota-se que o mesmo se sentiu aliviado porque
pôde corresponder às expectativas de sua mãe, foi parabenizado por ela e livrou-se
de um castigo por ter apresentado boas notas e se comportado bem. Observa-se a
contraposição medo e alívio por livrar-se de um castigo em função do bom
desempenho. Embora essa seja uma situação agradável, que gerou satisfação e
alegria pelo sucesso, verifica-se que Pedro sentiu medo, pois não sabia de suas
notas e temia ser castigado por sua mãe. Cabe lembrar que a ansiedade desse
estudante poderia ter sido amenizada, pois a avaliação é um processo do qual o
aluno faz parte e por isso deve estar ciente de seu desempenho durante o percurso
avaliativo. Nota-se que a afetividade foi desconsiderada nesse processo de
avaliação.
A afetividade perpassa todas as situações vivenciadas pelos alunos na escola;
precisa ser considerada e pensada intencionalmente, de forma importante no
processo ensino-aprendizagem, pois interfere fortemente na relação do aluno com o
conhecimento e com todas as situações que irá vivenciar na instituição. Não foi o
caso de Pedro, que vivenciou uma situação agradável, mas uma experiência de
fracasso ou uma exposição vexatória diante de todos pode marcar de forma
desagradável um estudante, prejudicando-o em atuações futuras, causando
ansiedade e desconforto nos momentos de avaliação e de divulgação das notas.
Segundo Wallon, “Um banal encontro entre um incidente qualquer e uma emoção é
o suficiente para que esta se ligue definitivamente ao incidente e para que a faça
renascer ao se auto-reproduzir o encontro, apesar da diversidade de situações”
(Wallon, 1971, p. 84).
Um outro aluno revela a possibilidade de melhorar as notas por meio de sua
participação em um trabalho.
“Uma coisa agradável foi quando os professores passaram um trabalho sobre a
Copa e esse trabalho foi bom para as minhas notas, que melhoraram”. Jorge
52
A melhora nas notas, decorrente da participação no trabalho, revela a satisfação do
aluno não só pelo bom desempenho, mas também pelo reconhecimento da sua
participação.
Na escola, entendida como espaço de aprendizagem onde o componente cognitivo
predomina, todas as funções estão presentes e o estudante precisa ser considerado
em todas as dimensões. O bom desempenho relatado pelos alunos provavelmente
possibilitou a aprendizagem; os momentos descritos ficaram marcados de forma
agradável, gerando alegria, satisfação e prazer.
Para Wallon (1941/2005), o indivíduo é visto de forma integrada; afetividade, ato
motor e conhecimento estão entrelaçados e sempre presentes em suas ações. Em
uma situação de avaliação, não são somente os conhecimentos adquiridos pelos
alunos que estão em jogo; afetividade e motricidade também estão presentes. Como
afirma Mahoney (2005): “Qualquer atividade motora tem ressonâncias afetivas e
cognitivas; toda disposição afetiva tem ressonâncias motoras e cognitivas; toda
operação mental tem ressonâncias afetivas e motoras” (MAHONEY, 2005, p. 15).
As situações descritas indicam que a avaliação é relevante para os alunos. Suas
experiências de sucesso e insucesso podem marcá-los profundamente, agindo na
constituição da subjetividade, contribuindo para o tipo de relação que terão com o
objeto de conhecimento e para a constituição da auto-imagem, facilitando ou
dificultando o desempenho.
Receber uma avaliação injusta gerou desconforto para Júlia, que relatou uma
situação desagradável.
Eu sou inteligente e não CDF6. Não faz muito tempo, aliás, acontece
sempre, existem alunos inteligentes e outros que são aqueles
chamados CDF’S. Quando nós, os alunos inteligentes, acertamos
tudo em uma prova, tiramos B, nessa mesma, os CDF’s tiram A, na
maioria das vezes isso acontece, só porque eles ficam colados na
cadeira o tempo todo. Eu acho que comportamento é uma nota e
avaliação é outra. Isso não significa que são melhores ou até mesmo
piores do que nós, os inteligentes. Júlia
6
CDF é uma gíria usada para classificar alunos que se dedicam excessivamente aos estudos.
53
O depoimento da aluna revela que os critérios de avaliação não estão claros. Júlia
se sente injustiçada e indignada por desconhecer esses critérios. Para ela, os
professores atribuem notas maiores aos alunos CDF’s, desvalorizando o rendimento
de outros que não apresentam esse perfil. Embora este seja um evento
desagradável, a estudante faz uma auto-avaliação positiva, pois se reconhece como
inteligente e não como CDF. Mas não acha correto que as notas sejam dadas em
função do comportamento e acredita que desempenho e comportamento devam ser
avaliados separadamente. Nota-se que é preciso trabalhar a representação de
avaliação que professores e alunos daquela instituição possuem, pois quando os
critérios de avaliação estão definidos de forma clara para todos, os alunos se sentem
menos injustiçados.
Outro aspecto a ser observado é a desconsideração da individualidade que parece
existir; a aluna apresenta uma situação em que se sente injustiçada por receber uma
nota diferente daquele aluno que está sempre sentado em seu lugar. Ignorar as
diferenças de comportamento entre os estudantes pode causar desinteresse pelas
atividades escolares, dificultando o processo ensino-aprendizagem.
De acordo com Wallon (1941/2005), na adolescência, “A pessoa parece ultrapassarse a si mesma. Procura um significado, uma justificação, para as diversas relações
de sociedade que outrora tinha aceite e onde se parecia ter apagado. Confronta
valores e avalia-se a si própria em relação a eles” (WALLON, 1941/2005, p. 208).
Portanto, o adolescente que se desenvolve em um ambiente no qual tem a
possibilidade de questionar e argumentar sobre os fatos, seguramente não aceitará
as imposições dos adultos sem a devida explicação. Júlia é incisiva em suas críticas,
revelando que os estudantes precisam ter espaço para serem ouvidos e
esclarecidos sobre suas dúvidas. Ela ainda reforça seus argumentos dizendo:
“Eu acho que ninguém consegue mudar esse meu pensamento, porque até hoje
nenhum dos que eu perguntei me convenceram com sua resposta, é sempre a
mesma coisa. Eu não quero ser melhor, nem pior, apenas diferente.” Júlia
54
Tirar a primeira nota vermelha marcou a vida de Deise.
“[...] a primeira nota vermelha, um “E” que tirei na prova de matemática, OBS –
nunca me dei bem em matemática [...]”. Deise
“Repetir a 8ª série. Estudar dois anos de manhã [...]” Luana
As duas alunas revelam descontentamento. Deise parece desanimada por não
conseguir apresentar um bom desempenho em Matemática, deixando claro que tem
a representação de que não é boa aluna nessa disciplina e que isso não vai mudar.
Luana apresenta desânimo por repetir o ano e ter de estudar novamente no período
da manhã. A reprovação parece uma situação muito desagradável para a estudante
porque teve de freqüentar novamente as aulas, além de permanecer no horário da
manhã por dois anos.
Os profissionais que trabalham na instituição de ensino precisam evitar que os
alunos construam representações negativas sobre seu desempenho. Quando um
estudante não consegue corresponder às expectativas de ensino e não vai bem na
escola, é preciso entender o que acontece com ele. Não ir bem em algumas
matérias ou repetir o ano pode ocorrer por várias causas; é preciso conhecê-las para
poder agir adequadamente com o aluno, despertando seu interesse pela busca do
conhecimento.
Como visto anteriormente, no Plano Langevin-Wallon, a avaliação aparece como
parte do processo de escolarização. Consta que nenhum exame deve ser feito antes
do final dos anos da escolaridade obrigatória. A proposta é levar em consideração
provas de conhecimento e apreciações das aptidões dos estudantes. O
agrupamento dos alunos nos ciclos depende de suas atividades anteriores e da
decisão do conselho de professores, responsáveis pela orientação. Conforme
ressalta Almeida (2004), a orientação dos alunos é um aspecto tão importante no
Plano que aparece como um de seus princípios. A autora escreveu:
55
O ciclo de orientação se revela então de excepcional valor [...] dá ao
professor uma responsabilidade muito grande na observação de seu
aluno. [...] A observação apura o olhar não só do professor em
relação ao seu aluno, mas em relação a si próprio: na medida em
que percebe o desenvolvimento do aluno, o seu jeito na sala de aula,
o seu interesse/desinteresse por certos tópicos, o ritmo do grupo
com/sem sua presença, o mal-estar do aluno em certos momentos
da aula, o professor está revendo seu próprio papel de professor.
(ALMEIDA, 2004, p. 134-135)
Os relatos deixam claro que as notas têm grande importância para os estudantes.
Como reforça Almeida (2004), a avaliação precisa ser compreendida como um
processo que se baseia na observação criteriosa. Cabe ao professor observar
detalhadamente as manifestações de seus alunos durante o processo ensinoaprendizagem, atentando para o que acontece na sala de aula, as reações dos
educandos diante de um conteúdo e de uma atividade, a atenção e desatenção, o
desempenho nas tarefas, as emoções e sentimentos que expressam. É preciso
mostrar-lhes que a nota recebida é conseqüência de um processo que foi
cuidadosamente acompanhado.
Na categoria Escola: espaço de conhecimento, viu-se que a participação ativa dos
alunos no processo ensino-aprendizagem é muito valorizada por eles; a avaliação e
o desempenho escolar fazem parte de suas preocupações. Assim como o bom
desempenho, o mau desempenho também é fato marcante. As situações agradáveis
referem-se a um ensino que extrapola o espaço da sala de aula, trata de assuntos
da atualidade e de interesse para os jovens, permite o trabalho em grupo; revelam
ainda que tirar boas notas é importante para o estudante. As situações
desagradáveis mencionam: o mau uso nas aulas dos recursos de que a escola
dispõe, a falta de locais apropriados para a prática de atividade física em dias de sol,
a exclusão nas aulas de Educação Física, os questionamentos dos critérios de
avaliação, o fato de tirar a primeira nota vermelha e o de repetir o ano.
56
2. Escola: espaço de interação
2.1 A relação eu-outro
Bom, acho que a coisa que mais marcou foi ter conhecido
professores, foram aqueles que deixaram e deixam sua marca, o
Maurício de história, a Marta de português e o Alberto de história.
Cleide
A boa relação com os professores é fato marcante de forma agradável para alguns
participantes da pesquisa. Eles citam como exemplos os bons professores, as
marcas que deixaram, a confiança que sentem e a possibilidade de uma relação
mais próxima.
“Os incentivos dos professores [...] Quando pedi conselhos dos meus professores,
de alguns”. Deise
Constata-se nesses depoimentos que o professor tem papel fundamental na vida
dessas alunas, assim como observado por Wallon. Escreveu o autor:
Qual o papel do professor? Este papel parece-me essencial. [...] Um
professor,
que
tem
verdadeiramente
consciência
das
responsabilidades que lhe são confiadas, deve tomar partido das
coisas da sua época. [...] Deve, em colaboração com seus alunos,
conhecendo-os, se não nas particularidades da sua vida individual,
pelo menos segundo as classificações entre as quais é possível
distribuir as existências individuais, deve examinar com elas o meio
onde os encaminharão as suas diferentes profissões. Deve, desta
maneira, ser uma perpétua remodelação de idéias: deve modificar as
suas próprias idéias pelo contacto permanente com uma realidade
que é móvel, feita da existência de todos e que deve tender para o
interesse de todos. (WALLON, 1975/1980a, p. 223-224)
57
Isto posto, percebe-se a importância do papel do educador, pois este pode ser um
modelo para o educando. Para exercer plenamente seu papel, precisa ter
consciência política e social da realidade em constante mutação, preocupar-se com
sua formação, ser mediador dos conhecimentos e orientador de seus alunos.
Os dados coletados não permitem afirmar que na instituição pesquisada, o papel do
professor é cumprido integramente, conforme proposto por Wallon, pois seria preciso
uma investigação também com os docentes. Entretanto, verifica-se que, em parte,
os educadores lembrados pelas participantes da pesquisa agem conforme a
proposta. Os relatos revelam que as estudantes os admiram e estabelecem relações
de troca e confiança com eles. Quando Cleide fala das marcas deixadas por seus
professores, certamente se refere às aprendizagens proporcionadas por eles, que
provavelmente extrapolaram os conteúdos escolares e possibilitaram uma relação
mais próxima entre educador e educando. Deise também revela que foi afetada de
forma agradável, pois recebe incentivos e tem a liberdade de pedir conselhos;
possivelmente não tem a mesma liberdade para conversar abertamente com um
adulto em sua casa. Ambas apontam a necessidade de ter um modelo para se
espelhar, um adulto de sua confiança. Assim, deduz-se que sentimentos de
satisfação, alegria e prazer permearam as interações.
As duas estudantes revelam que seus professores foram e são modelos importantes
em suas vidas; falam das marcas que deixaram e da confiança que depositam neles.
Pode-se dizer que eles são os socius presentes na vida de Cleide e Deise,
contribuindo fortemente para a formação da personalidade delas. “O socius ou o
outro é um parceiro perpétuo do eu na vida psíquica” (WALLON, 1975/1980a, p.
159). Para Wallon, a relação eu-outro tem fundamental importância na constituição
da subjetividade do indivíduo. É na e pela interação social que o ser humano se
constitui como pessoa. Na perspectiva walloniana, o socius é o eterno parceiro do
eu, representa os indivíduos e a cultura da qual eles fazem parte. Os socius deixam
marcas culturais e sociais: hábitos, preferências, formas de pensar e de agir que
atuam diretamente na constituição do eu. É no exercício de identificação e
diferenciação com o outro que o indivíduo se constitui como pessoa. O autor
escreveu:
58
Observa-se correntemente que não podemos deixar de controlar em
nós próprios aquilo que notamos no outro, seja uma simples
negligência de aspecto, uma mancha no rosto ou uma rouquidão da
voz. A discriminação para com o outro tem por contrapartida uma
tendência inversa para a identificação. A força desta identificação, ao
mesmo tempo experimentada e recusada, além de que em
proporções variáveis, rodeia o sujeito de modelos que ele aprova ou
rejeita. Ela pode interessar as suas actividades mais humildes ou
mais elevadas e produzir-se a diferentes níveis da personalidade. A
influência que possui sobre a evolução desta é evidentemente
considerável. (WALLON, 1973/1980b, p. 92)
Os relatos dos participantes desta pesquisa exprimem o quanto o outro tem papel
essencial em suas vidas, como poderá ser constatado nos depoimentos seguintes.
Sentir-se acolhido na nova escola e fazer amigos foram eventos agradáveis para
três alunos.
Certo dia eu estava em casa meio triste, porque tinha deixado a
escola em que eu estudei quatro anos. Eu estava me preparando
para ir para a nova escola, imaginava que tudo daria errado para
mim, pelo fato de nunca ter estudado aqui, mas mesmo com esse
medo tomei banho, me arrumei e vim pra cá. Ao chegar aqui vi que
eu estava errado porque a escola era muito legal e eu conheci
pessoas maravilhosas, que me receberam de braços abertos. Para
mim, a coisa marcante nessa história foi ter conhecido meus amigos
e professores que vem me acompanhando desde a 5ª série e que,
além disso, são pessoas ótimas, que agora eu preciso ter no meu
dia-a-dia. Walter
“Uma situação agradável foi quando eu comecei a estudar no Machado de Assis. Foi
uma época muito boa, conheci pessoas muito legais que estão comigo até hoje”.
João
“Bom, eu entrei na escola este ano e foi uma experiência muito boa. A minha
situação agradável foi eu ter feito várias amizades, porque quando eu cheguei aqui
ninguém gostava de mim, hoje eu falo com todo mundo.” Viviane
59
Observa-se nos relatos que os alunos fazem uma avaliação positiva da nova escola,
onde foram bem recebidos e construíram amizades. Para Walter, o estabelecimento
de uma relação de confiança com os amigos e professores que o acompanham
desde a 5ª série é algo tão importante que a companhia deles é necessária em seu
cotidiano. Além disso, nota-se que ele percebeu a importância de enfrentar o medo
do novo, pois se surpreendeu com a escola que encontrou. Iniciar em uma nova
instituição educacional e ter a possibilidade de conhecer pessoas que estão
presentes até hoje em sua vida também é ressaltado por João. Já Viviane aponta a
importância da conquista de colegas que antes não conversavam com ela e valoriza
as relações com o sexo oposto.
Vivenciar romances é a sua preocupação:
Outra situação agradável é conversar com os meninos do colegial.
[...] Por enquanto eu só tive poucas situações agradáveis,
principalmente no romance, que é uma das situações mais
agradáveis, apesar de que ultimamente as minhas amigas e eu só
estamos de rolo.
O depoimento indica a necessidade de se relacionar com o sexo oposto e vivenciar
grandes amores. As divagações sobre a vida amorosa têm um grande peso na
adolescência. Segundo Wallon, “É a idade dos fervores religiosos, metafísicos,
políticos, ou estéticos. Depois vem a inquietação pelo ser ideal em quem possa
encontrar o complemento de sua própria pessoa, ser imaginário ou real, mas dotado
de méritos ou de atractivos desejáveis” (WALLON, 1975/1980a, p. 70).
Percebe-se que as necessidades de conviver bem com o outro, ser aceito e
estabelecer um grupo parecem ter sido satisfeitas, gerando situações de bem-estar.
Desse modo, sentimentos de acolhimento, segurança, alegria e surpresa foram
inferidos. A tristeza e o medo iniciais deram lugar ao conforto e à satisfação. Os
relatos revelam a importância de acolher bem os novos alunos independentemente
da idade. A escola deve valorizar e propiciar a consolidação de um grupo de
professores e amigos.
60
Essas relações interpessoais interferem na constituição da personalidade do
adolescente. Os laços afetivos positivos gerados nelas permitem ainda uma relação
de aprendizagem mais adequada entre o aluno e o objeto de conhecimento. Cabe
ressaltar que gerar laços afetivos positivos não anula a importância dos conflitos
para o desenvolvimento. Conforme aponta Wallon (1973/1980b), a evolução da
personalidade se constitui no meio social e é marcada por conflitos e oposições:
O meio mais importante para a formação da personalidade não é o
meio físico, mas o meio social. Alternadamente ela confunde-se com
ele e dele se dissocia. A sua evolução não é uniforme, mas feita de
oposições e de identificações. É dialética. (WALLON, 1973/1980b,
p.92)
Em relação às situações desagradáveis envolvendo o outro, os relatos abordam os
desentendimentos entre os adolescentes, a perda de contato com o amigo e a falta
de respeito.
Quebrar um trato com a colega foi uma situação ocorrida quando a aluna estava na
3ª série.
Eu e uma colega estávamos numa biblioteca da escola quando eu
propus um trato: eu cortava um pedaço do cabelo dela e depois ela
cortaria um pedaço do meu cabelo. Ela topou (ainda estávamos na
3ª série) e então eu cortei quase o cabelo todo dela e na hora de
cortar o meu eu não deixei. Fomos para a diretoria, eles convocaram
nossas mães e quando cheguei em casa levei foi uma bela bronca. E
no dia seguinte, a minha colega foi quase careca para a escola, mas
também a escola inteira ficou sabendo do acontecimento. Carla
No estágio anterior ao da adolescência, a criança conquista o pensamento
categorial. Desse modo, o jovem que participa de um ambiente que o incentiva a
refletir sobre suas ações desde a infância, analisando-as, com espaço para
apresentar suas argumentações, certamente desenvolverá o poder de análise e de
reflexão sobre os fatos, pois é na adolescência que se apresentam “[...] novas
61
aptidões de raciocínio e o poder de combinação, quer mentais quer materiais [...]”
(WALLON, 1973/1980b, p. 140).
O caso relatado por Carla aconteceu na 3ª série e marcou-a de forma desagradável,
talvez porque a aluna refletiu sobre ele e, provavelmente, sentiu-se arrependida e
envergonhada pelo trato que fez, seu rompimento e as conseqüências que isso
causou: a bronca, o cabelo da colega cortado, e principalmente porque todos da
escola ficaram sabendo do fato. Nota-se que nesse caso, a necessidade de cumprir
com o combinado não foi satisfeita; entretanto, mesmo sendo uma situação
desagradável, duas necessidades parecem ter sido satisfeitas: justificar-se perante o
outro e ter o acompanhamento familiar, no caso, da mãe. Esse fato revela ainda que
todos os profissionais que trabalham na escola são educadores e precisam agir
adequadamente.
O
responsável
pela
biblioteca
precisa
ficar
atento
aos
comportamentos e reações dos alunos enquanto utilizam esse espaço; é preciso
olhar o todo, zelando pela biblioteca e pelos educandos. Além disso, o respeito ao
outro e o cuidado consigo mesmo e com o outro podem ser trabalhados com os
alunos.
Brigar com o amigo por intrigas de outros ou presenciar a briga também foram
eventos lembrados.
“Quando eu e o meu amigo Fagner brigamos por causa de uma mentira do João e
do Roberto. Eles falaram para o meu amigo que eu xinguei a mãe dele. Então isso
foi muito desagradável”. Antônio
Uma coisa bem desagradável foi meus amigos brigarem. Eles
brigaram por besteira, por motivo nenhum, por um ter feito uma
brincadeira sem graça o outro não gostou e ficou muito irritado com
atitudes do outro e partiu para cima. Isso ficou marcado na minha
memória, por uma brincadeira sem graça fizeram dois amigos
brigarem. Wagner
62
Os participantes da pesquisa referem-se ao mesmo fato; um deles vivenciou a briga,
o outro presenciou. Intrigas de outros colegas fizeram com que Antônio brigasse
com um amigo. O desentendimento não foi o mais relevante; a injustiça sofrida foi o
fato marcante, mostrando a necessidade de justiça. Para Wagner, presenciar a briga
entre os amigos foi uma situação desagradável, revelando a necessidade de
conservar o grupo de amigos. Em ambos nota-se ainda a necessidade de
estabelecer laços de amizade. O desentendimento entre amigos pode causar um
sentimento de mal-estar, como a tristeza, por exemplo, e dificultar a participação dos
alunos nas aulas. Enquanto eles estiverem se sentindo chateados, não conseguirão
concentrar-se adequadamente. Além disso, a dissipação de um grupo pode
prejudicar as relações entre os alunos porque afeta a todos os integrantes daquele
grupo.
Wallon destaca a importância do grupo na constituição da subjetividade. “O grupo é
indispensável à criança não só para a sua aprendizagem social, mas também para o
desenvolvimento da sua personalidade e para a consciência que pode tomar dela”
(Wallon, 1975/1980a, p. 174).
A necessidade de estabelecer laços de amizade também aparece em outros
depoimentos.
Foi no final do ano passado, eu tinha uma colega chamada Amanda,
a irmã dela se chamava Anita e estudava na 6ª. Ela foi estudar no
Santo Agostinho eu a vi só uma vez na rua, ela disse que queria
muito voltar para cá, mas o pai dela não quer. Ela era tão legal, mas
a irmã dela não era tanto como ela. Fazer o quê, a vida é assim!
Roberta
“Também conhecer pessoas muito falsas, que você põe tanta confiança e acabam
nos traindo. São poucas as amizades de escola que acabam dando certo”. Cleide
Roberta se sente desanimada, porque perdeu o contato com a colega de quem tanto
gostava, e desiludida, porque existem fatos que não estão ao seu alcance modificá-
63
los. Ao mesmo tempo, percebe-se que há aceitação dos acontecimentos da vida
quando diz: “fazer o quê, a vida é assim!”. Cleide indica que são poucas as
amizades
escolares
que
persistem;
seu
depoimento
aponta
frustração
e
descontentamento com os falsos amigos que encontrou na escola.
O grupo é importante para o jovem, segundo Wallon (1975/1980a):
Quer sejam temporários ou duradouros, todos os grupos têm
objectivos e a sua composição depende desses mesmos objetivos;
do mesmo modo, a repartição dos cargos rege entre eles as relações
dos membros e, se necessário, a sua hierarquia. [...] Tal como os
objectivos do grupo, a sua constituição deve mudar de idade para
idade, de acordo com as aptidões físicas, intelectuais e sociais das
crianças. (WALLON, 1975/1980a, p. 173)
No grupo, cada membro possui um lugar definido, o que permite a vivência de
papéis e, conseqüentemente, o exercício da formação da personalidade. Como
ressalta Wallon, o grupo é formado em função de um objetivo; a cada idade irá
prevalecer um determinado critério para sua organização e formação. Nessa teoria,
a adolescência é um período de profundas mudanças subjetivas, de predominância
afetiva, em que o jovem está voltado para a afirmação de sua personalidade, e as
relações que estabelece com outros jovens são fundamentais para a sua
constituição. Portanto, o grupo de amigos será formado em função de seus
interesses que estão voltados para as relações de troca e de confiança com os
pares. Verifica-se nos relatos que as estudantes prezam essas relações, mostrando
que é essencial ter alguém em quem confiar.
A falta de respeito também é fato marcante e foi citada em alguns relatos.
Sentir-se desrespeitada por uma funcionária da escola foi recordado por duas
alunas.
Foi quando eu e minhas amigas estávamos na fila do refeitório e
estava um empurra, empurra. Foi quando a dona Maria, a inspetora
de aluno, chegou e me empurrou e caímos, eu e minhas amigas, no
64
chão, todo mundo deu risadas da gente, então não só foi marcante
pra mim e pra elas também. Janete
“[...] não gostamos da atitude que tomou empurrando quem não tinha a ver com a
bagunça na fila”. Tânia
As estudantes citam a mesma situação. O grande número de educandos
aguardando na fila do refeitório gerou tumulto; na tentativa de organizar o local, a
inspetora acabou se descontrolando e empurrou uma aluna, que caiu junto com
suas amigas. A atitude da funcionária foi inadequada e fez com que elas se
sentissem envergonhadas e desrespeitadas, pois foram alvos da atenção dos
colegas. Nota-se que Janete não julgou a atitude da inspetora; para ela, a queda no
meio dos colegas foi o fato mais marcante. Já Tânia julgou a ação incorreta,
sentindo-se injustiçada com o acontecimento. Cabe observar que todos os
profissionais que lidam com os alunos dentro da escola são educadores; o inspetor
deve saber lidar com as situações tumultuosas sem precisar agir de forma a causar
acidentes, cuidando sempre da integridade de todos, respeitando para ser
respeitado. Além disso, os alunos precisam ser instruídos para agirem com respeito
e organização em momentos que envolvem um grande número de pessoas.
Ser desrespeita pelos colegas foi relatado por duas alunas.
Quando fui usar o banheiro, isto quando fomos nos trocar no
banheiro, uma colega empurrou a porta com tanto impulso que
acertou a minha cabeça, no começo doeu, mas nem ao menos ela
me pediu desculpas, ao sair do banheiro já era intervalo, a Cristina
outra colega da mesma sala começou a ficar pálida, pois estava
saindo sangue, e eu nem percebi, só fui perceber quando eu vi a
minha camiseta que estava encharcada de sangue, ao subir para ir
para a sala a professora logo perguntou: Quem foi que empurrou a
porta na sua cabeça? Eu não quis responder, mas me direcionou ao
banheiro dos professores e lavou a minha cabeça [...] Deise
65
“Alguns colegiais destruíram a horta, jogando papéis e pisando nos vegetais. E esse
trabalho todas as 7ª e 8ª ajudaram a construir e eles, os colegiais, não colaboraram
em manter uma escola mais bonita e alegre”. Márcia
Os depoimentos revelam a importância de contar com a consideração e com o
respeito do outro. O relato de Deise destaca que não foi o incidente o fato mais
marcante, mas sim a desconsideração de sua colega, que não se desculpou. Mesmo
sentindo-se aborrecida, a aluna procurou mostrar lealdade e preservou a
identificação da colega envolvida. Já Márcia se sentiu desrespeitada ao ver que o
trabalho realizado pelas 7ª e 8ª séries, do qual fez parte, não foi valorizado pelos
alunos do Ensino Médio.
A necessidade de ser respeitada está presente nos depoimentos das alunas. Esta é
uma necessidade forte na juventude, pois, de acordo com Wallon, o estágio da
puberdade e adolescência é a última etapa que separa a criança do adulto e nele
“São as necessidades do eu que parecem absorver e abarcar as disponibilidades do
sujeito” (WALLON, 1973/1980b, p. 139). Esse é um momento de transição entre a
infância e a vida adulta, no qual o jovem não pode e não quer mais apresentar as
mesmas reações da infância, mas ainda não pode viver como um adulto; por isso,
vivencia um momento de transição no qual tentará se firmar como pessoa, mostrar
que é diferente dos outros, único, que precisa ter seu espaço preservado e que é
digno de respeito e de consideração pelo outro.
Ver o espaço escolar ser desrespeitado também gera insatisfação para Márcia. A
falta de colaboração dos estudantes para conservar a escola a preocupa, como
pode ser observado:
[...] Alguns alunos da escola não colaboram em deixar a escola
limpa, jogam papel de bala no chão, rabiscam as mesas, e deixam as
salas sujas. Se todos colaborassem, nós teríamos uma escola
melhor, não para um e sim para todos. E com uma grande
consciência cada vez melhor. Márcia
66
A aluna revela uma preocupação com o bem-estar coletivo; sua inquietação não se
limita ao desrespeito por seu trabalho, mas também ao de seus colegas e ao espaço
em que estuda. Observa-se em seu discurso que a escola é um espaço coletivo, por
isso deve ser valorizado e agradável para todos. Para que os alunos possam
respeitar e valorizar a escola em que estudam é preciso desenvolver um sentimento
de pertencimento à instituição, trabalhar com eles a noção de responsabilidade para
com o outro, para consigo mesmo e para com o espaço. Sobre a responsabilidade
Wallon escreveu:
A responsabilidade é, na verdade, tomar a seu cargo o êxito de uma
acção que é executada em colaboração com outros ou em proveito
de uma colectividade. A responsabilidade confere um direito de
domínio, mas comporta também um dever de sacrifício. (WALLON,
1975/1980a, p. 222)
Wallon reforça que é preciso desenvolver nos adolescentes o sentimento de
responsabilidade adquirido pelo exercício da vida em sociedade, “Não a
responsabilidade para com um grupo fechado, como podem ser os “gangs” [...] mas
a responsabilidade em relação a tarefas sociais que a criança terá de executar”
(WALLON, 1975/1980a, p. 223).
2.2 Os momentos de descontração e lazer
Para mim foi quando fui ao playcenter, foi muito “loko”, zoei até umas
horas. Fui eu e minhas amigas, pra mim foi muito marcante porque
foi um dia que todas ficaram juntas sem brigar, e foi demais. Janete
As excursões e as festas foram situações agradáveis lembradas pelos alunos.
67
“Para mim as excursões que têm aqui no Machado de Assis foram todas
agradáveis”. Marta
“As festas que tiveram, todas foram muito legais. Também foram agradáveis as
excursões, a do sesc foi legal, todas as excursões [...]” Rodolfo
Passeios e festas promovem a interação de forma descontraída entre os alunos.
Para Janete, o passeio ao parque não foi o mais relevante, mas a possibilidade de
estar junto com as amigas e aproveitar um dia inteiro sem brigas fizeram com que
esse dia fosse lembrado. Rodolfo e Marta também citaram os passeios,
provavelmente porque tiveram a oportunidade de ir a lugares que ainda não
conheciam ou que só conseguiriam ir com a escola.
Produzir a festa foi um evento marcante para Cleide.
“As festas que foram produzidas por nós. A da copa foi uma apresentação bonita e
produtiva”. Cleide
O trabalho sobre a Copa foi encerrado com uma festa para exposição das atividades
dos estudantes, e a participação da aluna na organização desse evento foi marcante
porque fez com que ela se sentisse responsável por ele. Nota-se que ela diz: “foram
produzidas por nós”, indicando um empenho coletivo para a realização do evento.
Sabe-se que alguns estudantes só têm acesso às festas e aos passeios por meio da
escola; por isso, é importante propiciar também atividades como essas, que
quebram a rotina e envolvem a interação. Os relatos revelam a satisfação de
necessidades, tais como, estar junto com o grupo de amigos, participar de festas e
ter momentos de lazer e descontração. Ao supri-las, a instituição pode estabelecer
um relacionamento mais próximo com os estudantes, promovendo uma melhor
68
socialização entre os adolescentes e uma melhor relação deles com os funcionários
e com o espaço escolar, facilitando, dessa forma, a consolidação do grupo.
Para Wallon (1971), a emoção estabelece a relação entre os sujeitos, contagiando
todos os envolvidos em uma situação. Sobre as emoções o autor afirma:
A emoção necessita suscitar reações similares ou recíprocas em
outrem e, inversamente, possui sobre o outrem um grande poder de
contágio. Torna-se difícil permanecer indiferente às suas
manifestações, e não se associar a esse contágio através de
arrebatamentos do mesmo sentido, complementares ou antagônicos.
(WALLON, 1971, p. 91)
Nesse sentido, entende-se que momentos de descontração contagiam os
estudantes, geram satisfação e alegria e permitem a valorização do espaço escolar
em que vivem, contribuindo para desenvolver nos alunos o sentimento de
pertencimento à instituição de ensino e, por conseguinte, a adesão por parte deles
aos projetos oferecidos pela instituição.
As situações desagradáveis envolvendo os momentos de descontração referem-se à
desconsideração dos interesses dos adolescentes quanto à escolha do tema das
festas e dos locais das excursões. Além disso, circunstâncias envolvendo o
cancelamento de uma festa e o desencontro em um passeio também foram citadas.
Sentir-se insegura por estar sozinha foi uma das situações lembradas.
A situação que eu passei que foi muito desagradável, foi quando teve
uma excursão para o playcenter, quando eu estava na sexta série.
No começo até que foi legal, todas as minhas amigas estavam
comigo, toda a turma reunida, mas de pouco em pouco fomos nos
separando, até que quando estava escurecendo eu já estava
sozinha, aí os monstros começaram a chegar, o meu pé começou a
doer e eu não sabia nem como chegar ao ônibus. Mas no final,
quando já eram umas nove horas da noite, eu encontrei uns meninos
que vieram no mesmo ônibus que eu e eu fui embora para o ônibus
com eles. Mas foi horrível. Ana
69
A aluna relata um dia que começou bom e se tornou ruim, mas teve um bom
desfecho. Aos poucos, ela foi se separando de suas amigas e quando percebeu,
estava sozinha e já era noite. Ela precisou enfrentar os monstros do parque e uma
dor no pé sem ninguém ao seu lado. Ana sentiu-se apreensiva e tensa por se perder
de suas amigas, insegura por estar sozinha e não saber voltar para o ônibus, e
cansada por andar tanto tempo. O alívio e reconforto só foram possíveis quando a
estudante encontrou alguns colegas e pôde voltar com eles para o ônibus. Nota-se
em sua fala a importância que o outro tem para ela; as amigas eram o apoio para o
cansaço e a diversão só poderia ser completa junto delas.
Conforme visto na subcategoria 2.1 A relação eu-outro, a interação é de
fundamental importância para a constituição da pessoa. Na perspectiva de Henri
Wallon, o ser humano é geneticamente social; desde a infância, busca diferenciar-se
do outro para individualizar-se. Esta discriminação ocorre de acordo com os
indivíduos e com o contexto e contribui para a formação da personalidade. Segundo
Wallon:
Esta discriminação possui graus sucessivos que são impossíveis de
enumerar aqui. A maneira como se processa pode variar conforme
os sujeitos e as circunstâncias e não deixa de ter influência na
formação da personalidade. Nas suas diferentes etapas, junta
diferentemente o indivíduo ao meio. Porém, jamais rompe a estreita
solidariedade do sujeito com os seus parceiros habituais ou
ocasionais. (WALLON, 1973/1980b, p. 92)
Três alunas citaram as festas como eventos desagradáveis na escola, sendo que
duas se reportaram à festa junina.
“As festas que tem aqui no Machado de Assis são desagradáveis”. Marta
“[...] Comemoração da festa junina deveria ter mais a ver com o tema e não ficar
inventando coisa”. Marisa
70
A mesma estudante ainda comentou sobre a escolha dos passeios.
“Esse ano de 2006 houve poucas excursões, pelo menos podia haver excursão para
lugares interessantes que a gente gostasse”. Marisa
As alunas revelam que a organização das festas não satisfaz seus interesses. No
discurso de Marisa, é possível constatar que a festa junina se distancia da temática
central, e a escolha dos locais para as excursões não contempla o que ela gostaria
de ver.
Sentir-se injustiçada com a atitude de uma colega que provocou o cancelamento de
uma festa gerou insatisfação para uma das alunas.
Aconteceu no ano de 2004 na escola, uma vez por mês, aos dias de
sábado, a escola promovia à noite uma festa para os alunos e para a
comunidade. Isso se estendeu o ano todo, mas no começo das
aulas, em fevereiro de 2005, teve a última festa. Por causa de
besteira, uma aluna da escola disse para a mãe que viria para a
festa, mas era mentira, a mãe pediu para ela estar em casa à meia
noite e deu uma hora e ela não chegava, a mãe veio até a escola e
fez com que todo mundo saísse para ver se encontrava a filha, mas
ela não encontrou e por causa desse fato a diretoria proibiu a festa. E
isso foi muito chato para todos. Leila
Leila não julgou incorreta a ação da direção que proibiu a festa, mas sim a atitude da
aluna que mentiu para a mãe e com isso causou o cancelamento das festas
mensais, atrapalhando a sua diversão e a dos outros adolescentes.
Nos depoimentos das estudantes, verifica-se que os momentos destinados à
descontração e diversão tornaram-se cansativos e desagradáveis porque não
supriram seus interesses e necessidades. Provavelmente elas se sentiram
desvalorizadas, irritadas e injustiçadas, pois participar da organização dos eventos e
da escolha dos locais das excursões, ver justiça diante dos fatos, ter espaço para
71
conversar sobre as decisões da equipe gestora e docente foram necessidades não
satisfeitas.
Aparentemente, os estudantes daquela instituição não são ouvidos sobre como
vêem os eventos organizados pela escola (festas e passeios) e sobre as decisões
tomadas para a sua organização. As falas deixam claro que quando os adolescentes
têm espaço para falar sobre o que pensam, podem contribuir muito para a melhora
do espaço escolar, seja com relação ao ensino oferecido ou aos eventos propostos
pela instituição.
Os depoimentos reforçam que os jovens querem ter suas necessidades
consideradas, pois vivenciam um momento em que se voltam para dentro de si,
conforme foi ressaltado anteriormente na subcategoria 2.1 A relação eu-outro; são
as necessidades do eu que consomem parte das preocupações do jovem.
As situações relatadas na categoria Escola: espaço de interação permitem constatar
que a relação entre os pares tem relevância para o adolescente. Das 32 redações
escritas pelos participantes desta pesquisa, em 22 foram relatadas situações
envolvendo o outro, nove descreveram situações agradáveis e 13 referiram-se a
situações desagradáveis. Dessa forma, compreende-se que a relação eu-outro é
fundamental para o jovem e evidencia momentos importantes de sua trajetória
escolar. O maior número de relatos envolvendo os eventos desagradáveis ratifica
esta compreensão, pois revela que a ausência do outro é mais sentida do que sua
presença; as brigas, a falta de alguém em quem confiar e a perda de um amigo que
saiu da escola marcam profundamente os alunos.
As situações agradáveis relatam a possibilidade de conhecer pessoas, contar com
os professores, fazer amigos, relacionar-se com o sexo oposto, estabelecer um
grupo, vivenciar momentos de descontração e lazer em festas e passeios. As
situações desagradáveis apontam os desentendimentos entre os pares, brigas e
discussões, a separação de uma colega que saiu da escola, o desrespeito por parte
dos colegas e de uma funcionária, a falta de colaboração para com o trabalho do
outro e para com a preservação do espaço escolar, o desencontro em uma excursão
e a desconsideração dos interesses dos alunos na organização das festas e dos
passeios.
72
3. Escola: espaço de participação da família
3.1 A forte presença da mãe na escola
[...] a festa da copa, que foi aberto para todos os horários, aos pais
dos alunos e a várias pessoas. Gisele
Apresentar o trabalho para a comunidade marcou de forma agradável duas alunas.
“Foi [a] apresentação dos nossos trabalhos, com o título de trabalho da Copa. As
pessoas, os nossos pais e os alunos puderam estar vendo os nossos trabalhos, pra
mim foi o melhor trabalho da escola”. Silvana
As estudantes fazem uma avaliação positiva pois se sentiram valorizadas com a
oportunidade de mostrar suas realizações aos pais, aos colegas e à comunidade em
geral. Constata-se que a instituição educacional pode valorizar as realizações dos
alunos organizando mostras de seus trabalhos, aproveitando esses momentos para
promover a aproximação entre família e escola.
A família tem fundamental importância para o desenvolvimento da criança e do
adolescente. O grupo familiar é responsável por inseri-los em outros grupos nos
quais poderão estabelecer interações variadas, pois a “[...] família é o grupo cuja
acção é muito variada, mas não é o modelo de todas as relações que se poderão
encontrar nos grupos onde a seqüência da sua existência poderá introduzir o
indivíduo” (WALLON, 1975/1980a, p.168). Para Wallon:
Ao contrário de outros grupos mais ou menos facultativos, a família é
um grupo natural e necessário. Não porque tenha uma estrutura
imposta pela Natureza e universal. Sabemos que existiram tipos de
família diferentes do nosso onde, por exemplo – o que nos parece
fundamental –, não existia identidade de pessoa entre os genitores e
73
os que tinham o título de papel de pais. Hoje mesmo podemos
observar nas relações familiares variações que se produzem sob os
nossos olhos, devido a condições que são próprias dos diversos
meios ou em relação às diversas ideologias. No entanto, a família é
um grupo natural no sentido em que para a criança a razão ‘de ser
ou não ser’ se encontra colocada pelo nascimento em um grupo
distinto que lhe assegura a alimentação, a segurança necessária, a
primeira educação. (WALLON, 1975/1980a, p.168)
Wallon lança um olhar para a família de sua época, com uma estrutura composta por
pai, mãe e filhos; o autor menciona a existência de variações nas relações
familiares, mas sabe-se que na década atual, essas variações são bem diferentes.
Atualmente, a família pode ser composta apenas por mãe e filhos, avós e netos, dois
pais e filho e outras tantas formas de composições. É na família que as primeiras
interações sociais são estabelecidas. De acordo com o autor, as relações familiares
possibilitam a vivência de papéis e cada um de seus membros ocupa um lugar
determinado nesse grupo. Wallon chama a atenção para o fato de que o olhar do
adulto sobre essas relações interfere no desenvolvimento da criança e na sua forma
de interagir com os outros. Ele afirma:
[...] não preciso de insistir no facto de as relações das crianças entre
si dependerem não só do seu lugar na família, mas também da
maneira como os pais podem interpretar o papel ligado a este lugar,
havendo a possibilidade de quererem impor as conseqüências disso
à criança. (WALLON, 1975/1980a, p. 210)
Portanto, é importante que os familiares respeitem as diferentes formas de agir de
cada criança e adolescente e tomem cuidado com as exigências que fazem deles.
Ser reconhecido por sua mãe é a necessidade de Pedro, que relatou:
“[...] Chegou no conselho eu fiquei sentado lá na frente com minha mãe, quando
chamou o meu número eu fiquei com medo, mas tive uma situação agradável,
porque eu tive só as notas boas e não tive reclamação nenhuma. E minha mãe me
deu parabéns”. Pedro
74
O aluno descreve uma situação em que sentiu medo, pois se não conseguisse
apresentar um bom desempenho, seria castigado por sua mãe; ele mostra alegria e
alívio porque conseguiu corresponder às expectativas dela, foi parabenizado pelo
desempenho apresentado e livrou-se de um castigo.
Ser acompanhada pela mãe para a entrega de um prêmio foi marcante para uma
aluna.
“Eu fiquei super feliz, minha mãe (que naquela época ainda era viva) me
acompanhou e eu peguei o meu prêmio que era um rádio gravador, até hoje eu
tenho”. Carla
Carla descreve uma situação na qual foi vencedora de um concurso de redação
promovido pela escola. A estudante revela felicidade por ganhar o primeiro lugar e
também por ter a companhia da mãe nessa ocasião importante, que foi marcante
porque ela pôde contar com sua presença. Nota-se que guardar o prêmio pode ser
também uma forma de recordar o momento que passou com a mãe quando ainda
era viva.
Os depoimentos revelam que os alunos tiveram necessidades satisfeitas, tais como,
ter o reconhecimento de suas ações, contar com o acompanhamento da família e
apresentar aos familiares um bom desempenho. Mostram que a presença da família
e da comunidade na escola para acompanhar suas realizações é importante para
eles. Nas festas, mostras, reuniões e entregas de prêmios, os jovens têm a
oportunidade de divulgar o que fazem na escola.
Nos relatos, observa-se que o papel da mãe na vida dos alunos é constante. Ela
esteve presente tanto nos momentos agradáveis como nos desagradáveis.
A estudante Carla, que relatou uma situação agradável envolvendo a presença de
sua mãe, também descreve uma situação desagradável, manifestando com isso a
forte participação da figura materna em sua vida.
75
“[...] eles convocaram nossas mães e quando cheguei em casa levei foi uma bela
bronca”. Carla
A aluna conta um evento ocorrido na 3ª série: ela e uma colega fizeram um trato no
qual uma cortaria o cabelo da outra. Carla quebrou o trato, pois não deixou que seu
cabelo fosse cortado, por isso elas se desentenderam e suas mães foram chamadas
pela escola. Essa situação gerou um sentimento de vergonha porque levou uma
bronca de sua mãe e todos da escola ficaram sabendo do acontecimento.
Outra aluna cita uma situação desagradável em que esteve envolvida em um
acidente e sua mãe foi informada.
“[...] ligaram para a minha mãe, minha mãe ficou pianinha, nervosa”. Deise
Deise descreve um acidente em que a colega empurrou a porta do banheiro
acertando sua cabeça; a mãe foi avisada sobre o acidente e ficou muito nervosa ao
saber da notícia.
Os relatos de Deise e Carla indicam que, mesmo se tratando de uma situação
desagradável, a necessidade de ter o acompanhamento de um responsável, no caso
a mãe, foi suprida.
Compreende-se, desse modo, que a presença dos familiares na vida escolar do
adolescente é importante e faz com que ele se sinta valorizado. Os estudantes
passam parte do seu dia na escola que, de acordo com Wallon, é um meio composto
por diversos grupos. Portanto, as ações da família e da escola deverão ter como
objetivo o desenvolvimento do indivíduo. Ambas as instituições precisam se unir
para uma educação mais adequada dos jovens, mas é importante que cada uma
dessas instituições tenha seu papel claramente definido, preservando seu espaço de
atuação.
76
Na categoria 3. Escola: espaço de participação da família, observa-se a forte
presença da figura materna. Em nenhuma das situações descritas pelos alunos o pai
foi citado especificamente. Aparentemente, na escola pesquisada, é a mulher que
acompanha a vida escolar dos filhos em todos os momentos. As situações
agradáveis referem-se à participação da família e da comunidade para apreciar a
apresentação dos alunos, à presença da mãe no conselho de classe e na entrega de
um prêmio. As situações desagradáveis mencionam a presença da mãe na escola
quando alunas se envolveram em desentendimentos com colegas.
4. Escola: espaço da pessoa por inteiro
4.1 As conquistas e derrotas em competições
Uma coisa bem agradável para mim foi quando o meu time foi
campeão no campeonato da escola. O meu time fez a melhor
temporada. Eu fiquei muito feliz, fiz 3 gols e fui considerado um dos
melhores jogadores, pela minha raça e meu vigor, porque se eu errei
eu não vou abaixar a cabeça, vou continuar em frente. Wagner
Ser reconhecido pela dedicação e esforço no campeonato. Sentir-se aceito. Mostrar
que pode vencer desafios. Participar de competições e atividades extraclasse.
Representar a escola onde estuda. Participar do campeonato de um esporte que
aprecia. Essas foram necessidades satisfeitas com a participação dos alunos nos
campeonatos que geraram situações agradáveis.
O estudante Wagner faz uma avaliação positiva do seu desempenho na competição,
revelando alegria e satisfação não só pela vitória, mas também por sua atuação no
time que fez a melhor temporada, e porque foi considerado um dos melhores
jogadores. Seu depoimento aponta a capacidade de enfrentar desafios, pois
menciona a importância de persistir sempre.
Conforme já observado neste estudo, o estágio da puberdade e adolescência é rico
em modificações subjetivas e está voltado para a constituição da pessoa do
77
adolescente. “A adolescência já só tem então de assegurar o equilíbrio entre as
possibilidades psíquicas confusas e as realidades do amanhã” (WALLON,
1973/1980a, p. 71). Sendo assim, a tarefa principal desse momento da vida é a
consolidação da personalidade que irá prevalecer na vida adulta. O relato de
Wagner mostra que o jovem quer provar que merece respeito e que suas ações são
dignas de reconhecimento e valorização. Ser reconhecido e valorizado é relevante
porque contribui para a consolidação de uma auto-imagem positiva.
A satisfação com o próprio desempenho também foi descrita por outras alunas.
Receber uma medalha foi uma conquista inesquecível para Júlia.
Futsal, que esporte esse, está em 2º lugar entre os meus favoritos. É
raro ter um campeonato, mas quando tem eu aproveito. O último que
teve foi antes das férias de julho, meu time ficou em 2º lugar, foi o
máximo. Foi uma honra pra mim, receber aquela medalha de prata
das mãos do professor Alberto. Essa está pendurada acima da
minha cama e será guardada para sempre com muito carinho,
quando olho para ela recordo de cada jogo, com muito carinho. Júlia
Representar a escola da qual sente orgulho foi um fato marcante para Leila.
Uma situação muito agradável aconteceu este ano, no mês de
agosto, assim que nós voltamos de férias. O nosso professor de
Educação Física organizou um campeonato de vôlei e passou nas
salas de aula chamando os alunos para participarem. Eu me escrevi,
a única menina da sala, como o vôlei é o meu esporte predileto eu
estava muito contente em participar. Jogamos cinco vezes e
perdemos no último instante, ficamos com o segundo lugar, mas pelo
menos eu representei a escola, não só eu, mas todo o meu time. No
mês de outubro, no dia 31, fomos receber as medalhas e o troféu
que ficou com a escola, pois o campeonato era entre escolas. Eu e o
pessoal do meu time ficamos muito tristes em termos ficado em
segundo lugar, mas ficamos contentes também por não termos sidos
desclassificados, pelo menos representamos a escola que nós tanto
nos orgulhamos. Para mim essa foi uma situação bastante
agradável. Leila
78
As duas alunas mostram interesses diferentes quanto à modalidade esportiva. Júlia
prefere o futebol de salão e Leila, o vôlei; entretanto, no depoimento de ambas,
percebe-se que a organização de campeonatos não está presente na rotina escolar.
Para Júlia, os campeonatos são raros e a possibilidade de participar de um deles é
muito gratificante. Fazer parte do time que chegou ao segundo lugar já é uma vitória.
A aluna se sente honrada por ganhar uma medalha; essa conquista representa o
reconhecimento do seu esforço e uma lembrança querida. Para Leila, saber sobre o
campeonato de vôlei foi uma boa surpresa. A possibilidade de representar a escola
em uma competição do seu esporte predileto fez com que ela se prontificasse a
jogar no time, mesmo sendo a única menina de sua sala. A aluna ressalta a
importância de representar bem a instituição da qual tanto se orgulha e faz uma
avaliação positiva da atuação de sua equipe, que não foi desclassificada e pôde
participar até o momento final do campeonato. Nota-se que para a estudante, vencer
não é mais importante do que representar a escola; em seu relato, percebe-se o
respeito e a admiração que sente pela instituição onde estuda.
Competir em um campeonato que tradicionalmente é disputado entre os meninos, o
futebol de salão, foi uma situação agradável para uma estudante.
“Quando o professor Alberto deixou as meninas participarem do campeonato de
futsal”. Patrícia
Verifica-se no relato da estudante que a organização de um campeonato feminino na
modalidade futebol de salão é uma novidade; a possibilidade de participar desse
evento foi marcante para Patrícia, pois é um esporte que aprecia. Constata-se que a
escola precisa promover campeonatos femininos e masculinos nas várias
modalidades, permitindo a participação de todos que mostram interesse pelo
esporte, independentemente do gênero, buscando, dessa forma, possibilitar a
igualdade de oportunidades entre meninos e meninas.
Os relatos revelam que não é a vitória o mais importante para os alunos, e sim a
participação, a oportunidade de mostrarem que podem vencer desafios, e o esforço
79
para representarem bem a escola. Já foi visto nesta pesquisa que para Wallon
(1973/1980a), o meio social e as interações que nele se estabelecem constituem o
indivíduo. Desse modo, o outro tem grande importância para a constituição da
subjetividade, que se processa nas relações ao longo da vida. A criança, o
adolescente que cresce em um ambiente que o respeita e possibilita experiências
diversas, no qual encontra apoio e orientação dos adultos, certamente terá mais
oportunidades de constituir uma personalidade segura, que valoriza e respeita a si
mesmo e ao outro.
Com relação às situações desagradáveis, foram citados a derrota sofrida e um
acidente nos campeonatos e a Olimpíada de Matemática7.
Perder o campeonato foi uma situação desagradável para uma estudante.
“Quando eu perdi o campeonato”. Renata
A aluna revela insatisfação por ter perdido o campeonato que disputou, apontando
uma valorização máxima da vitória. Ao promover campeonatos, a escola precisa
trabalhar com seus alunos a importância do espírito esportivo e da participação.
Sofrer um acidente e ficar fora do jogo marcou de forma desagradável o aluno
Walter.
7 A Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas é promovida pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em parceria com o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e com a
Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). É direcionada aos alunos de 5ª à 8ª séries do Ensino Fundamental e aos alunos do
Ensino Médio de escolas públicas (municipais, estaduais e federais), que concorrem a prêmios conforme a classificação
(professores, escolas e municípios também concorrem a prêmios). A Olimpíada é disputada por meio de provas; as escolas
participantes recebem uma prova que deve ser aplicada para todos os alunos inscritos; aqueles que apresentam melhor
desempenho são classificados para a segunda fase e assim por diante.
Informações obtidas no site http://www.obmep.org.br – consultado em 23 de março de 2008.
80
“Eu estava lá no gol, era semifinal de campeonato, o jogo já estava acabando, foi
quando veio a bomba, ao tentar pegar a bola me desequilibrei e acabei pegando
errado e acabou quebrando o meu dedo”. Walter
A situação descrita mostra a insatisfação do aluno por ter que sair do campeonato
no último momento. Por causa de um acidente quebrou o dedo e não conseguiu
cumprir seu papel de goleiro. Walter sentiu-se frustrado por não poder participar
mais dos jogos e triste por se machucar e não cumprir sua função, pois não
conseguiu defender a bola. O aluno mostra a necessidade de desempenhar bem
seu papel. Nesse episódio, é importante ressaltar que a escola deve estar preparada
para prestar socorro no caso de acidentes e alertar os estudantes e seus familiares
quanto a eventuais ocorrências. No caso de Renata e Walter, também se pode
trabalhar a frustração sentida com a perda, porque isso pode acontecer em outras
situações da vida; é importante valorizar a participação do aluno, mesmo quando ele
é eventualmente impedido de continuar a jogar.
Desacreditar nos critérios de uma competição também gerou situação desagradável.
“A Olimpíada de Matemática, que foi uma verdadeira farsa”. Silvana
A estudante provavelmente questiona os critérios de organização da Olimpíada de
Matemática quando afirma não acreditar na competição. Nota-se a necessidade de
se ter clareza dos critérios de organização e participação em competições. Constatase que essa necessidade não foi satisfeita, gerando desconfiança, fazendo com que
a adolescente se sentisse irritada e injustiçada.
Ao inscreverem os alunos em uma competição ou concurso, os responsáveis
precisam informá-los sobre os critérios de seleção, participação e organização dos
eventos. Depois da participação, é preciso abrir um espaço para que os estudantes
falem como foram suas experiências, pontos positivos e negativos, para que equipe
gestora, professores e alunos decidam juntos se futuras participações valerão ou
81
não a pena. Conforme já observado neste estudo, no estágio da puberdade e
adolescência, o jovem está mais atento ao que acontece à sua volta, buscando
compreender as relações que estabelece; por isso, é importante ouvir o que ele tem
a dizer.
A organização de competições possibilita a participação de alunos de diferentes
salas e turnos de uma mesma escola ou de várias escolas, permitindo assim a
interação entre eles; promove o espírito esportivo e de equipe e possibilita a
construção e consolidação do sentimento de pertencimento, fortalecendo o grupo. A
escola deve valorizar o desempenho de seus alunos nos campeonatos,
independentemente da colocação conseguida, para que eles possam compreender
que o importante é competir e representar a instituição.
Nos relatos, percebe-se que a escola é um espaço muito amplo, de conhecimento,
interação e realização, no qual o aluno se manifesta por inteiro. Nesse sentido, a
teoria walloniana contribui para uma visão integrada do indivíduo e permite
considerá-lo nas dimensões afetiva, motora e cognitiva. Os campeonatos podem
promover ganhos nessas três dimensões.
Os alunos têm ganhos afetivos, porque podem lidar com a alegria de interagir com
os pares, de mostrar que são capazes, de conquistar uma boa colocação, e com a
tristeza e frustração de sofrer derrotas e acidentes nas competições. Na dimensão
motora, as atividades físicas promovem o desenvolvimento motor e possibilitam o
reconhecimento do esquema corporal, muito importante nessa fase da vida. O
adolescente tem um corpo que se transforma rapidamente e precisa se ajustar a ele.
Como ressalta Wallon, as modificações morfológicas produzem modificações
psíquicas; com isso, “A criança sente-se como que desorientada em relação a si
mesma, tanto do ponto de vista físico como do ponto de vista moral” (WALLON,
1973/1980a, p. 218). Portanto, é importante possibilitar ao aluno adolescente o
reconhecimento das possibilidades e limites do seu próprio corpo. Na dimensão
cognitiva, os avanços também podem ocorrer; além do conhecimento das regras dos
jogos, os professores podem realizar atividades interdisciplinares, aproveitando na
sala de aula o que acontece durante o campeonato, criando tabelas das rodadas,
montando revistas ou tablóides com textos sobre os acontecimentos nos jogos,
82
entrevistas com os destaques, trabalhando as reações físicas e químicas do corpo
durante a prática de atividades físicas.
Os estudantes mostram um grande interesse pelos campeonatos, que foram
relatados como situações agradáveis em 10 redações. Percebe-se nos depoimentos
que as competições proporcionaram conquistas consideráveis; tanto a vitória como o
vice-campeonato foram lembrados pelos educandos nas situações agradáveis,
deixando claro que o importante é competir e representar a escola. Compreende-se
que eles valorizam o bom desempenho, buscando o reconhecimento de suas
atuações, seja por meio de notas, como pôde ser observado na subcategoria 1.1 O
bom desempenho, seja por meio da apresentação dos trabalhos à família e à
comunidade, como visto na categoria 3. Escola: espaço de participação da família,
ou esforçando-se para apresentar uma boa atuação nos jogos.
4.2 Fatores extra-escolares que interferem na atuação do aluno na escola
Uma situação desagradável foi quando eu estava de TPM e
chegando na escola participei de todas as aulas até chegar uma que
fiquei pra fora da sala, então foi o fim, tive que subir para o pátio e
fiquei lá, foi quando a diretora me pegou e me levou para a sala dela,
sorte que não houve nada, mas o meu nome ficou no livro. Depois,
quando desci tinha descoberto que tinha sido traída pelo meu ficante.
Nossa! Aí me acabei mesmo, comecei a chorar e não parava, até
pedi para a professora para eu ir respirar um pouco. Lembro como se
fosse hoje, nunca vou esquecer, foi na segunda-feira de setembro de
2006. Kátia
A aluna relata um dia difícil que começou antes mesmo de sair de casa, pois estava
de TPM. Provavelmente, estava sentindo mal-estar, e mesmo assim foi para a
escola; mas, ao chegar lá, revela que passou por momentos complicados. Ficar fora
de uma das aulas e ir para a diretoria não foram os fatos mais relevantes; o que
marcou o dia de Kátia foi a descoberta de uma traição, que parece tê-la tirado do
sério. Um momento no qual a emoção arrebata o sujeito, a situação fica confusa,
deixando-o desestabilizado. Wallon relata:
83
O outro encolerizado em breve conhece apenas o seu
arrebatamento; esquece os verdadeiros motivos dessa cólera e
perde a noção daquilo que o envolve. O que pode conservar de
idéias e de pensamentos outra coisa não é senão o reflexo mais ou
menos fantástico de suas veleidades emotivas. Abandonando-se aos
transportes máximos do seu furor opera-se, então, uma obnubilação
total da percepção e da inteligência. (WALLON, 1971, p. 79)
Kátia aponta duas necessidades: uma orgânica, pois seu organismo não estava
bem; a outra, ser respeitada pelo momento que estava passando e ficar sozinha
para respirar. A situação revela a importância de se considerar o aluno como um
indivíduo que se manifesta por inteiro. O orgânico e o afetivo interferem de forma
significativa no plano cognitivo. Nesta subcategoria, apenas uma situação
desagradável foi verificada.
As situações relatadas na categoria 4. Escola: espaço da pessoa por inteiro revelam
a importância de pensar no aluno em sua totalidade, considerando a integração
organismo-meio e as dimensões afetiva, motora e cognitiva. As situações agradáveis
citam o bom desempenho individual e coletivo nas competições, as possibilidades de
participar dos campeonatos, conquistar uma medalha e representar a escola. As
situações desagradáveis referem-se à derrota e a um acidente nos campeonatos, ao
questionamento dos critérios de participação na Olimpíada de Matemática e a dois
fatores extra-escolares, estar de TPM e saber de uma traição, que interferiram na
rotina escolar de uma aluna.
5. Escola: espaço de reivindicação e questionamentos
5.1 As falsas promessas
As falsas promessas do grêmio. Desagradável também é a situação
das carteiras nas últimas salas, são muito velhas. Esse ano de 2006
houve poucas excursões, pelo menos podia haver excursão para
lugares interessantes que a gente gostasse. A falta de ronda escolar
na entrada e na saída de cada período. Comemoração da festa
junina deveria ter mais a ver com o tema e não ficar inventando
84
coisa. O dia da independência do Brasil, nem sequer cantou o hino
nacional do nosso país. Marisa
O não cumprimento das promessas do grêmio e da direção, as más condições da
escola e a falta de limpeza foram situações desagradáveis relatadas pelos alunos.
A insatisfação pela limpeza inadequada da escola foi citada por duas alunas; uma
delas escreveu.
“Tiveram coisas que o diretor prometeu que iria fazer e não fez. O banheiro da
escola é um verdadeiro lixeiro”. Silvana
As alunas fazem observações sobre a condição da escola. Marisa revela senso
crítico com relação à situação em que a instituição se encontra: carteiras velhas e
falta de ronda escolar. Além disso, julga como falsas as promessas do grêmio. Para
ela, as excursões organizadas não satisfazem os interesses dos alunos e a festa
junina se distancia da temática. A aluna aponta ainda uma desvalorização do dia da
Independência do Brasil, pois o hino nacional não foi cantado. Por sua vez, Silvana
questiona as promessas da direção e enfatiza a falta de limpeza no banheiro.
Provavelmente, as promessas da direção estiveram voltadas para a limpeza e
organização do colégio, mas no relato, percebe-se que aluna não acredita nessas
promessas e se sente desrespeitada e indignada pela falta de limpeza.
Nos relatos, nota-se a importância de se cumprir o que é prometido aos
adolescentes; quando não há a possibilidade, eles devem ser informados; caso
contrário, sentir-se-ão enganados e deixarão de acreditar na instituição. Esse
descrédito pode abalar a relação do aluno com a escola e, conseqüentemente, a
adesão dele aos eventos da instituição. É importante que a escola valorize seus
alunos. Preocupar-se com a organização desse espaço é uma forma de mostrar o
cuidado que a instituição tem para com eles, pois “Na escola, os alunos aprendem
se são, ou não, dignos de respeito e valorização pela própria qualidade do espaço
85
físico que lhes é destinado e do cuidado na organização e no funcionamento
escolar” (BRASIL, 1998 p. 126).
As falsas promessas do grêmio também desapontaram outros dois alunos.
“O grêmio prometeu fazer bastante coisas para os alunos, colocar música na hora do
intervalo, colocar cortina nas salas e acabou fazendo nada”. Márcia
"Um dia que teve uma votação para os grupos que falaram que iriam arrumar a
escola, colocar tal coisa. Eram vários grupos, eu votei para o grupo que dizia que iria
melhorar a escola, mas no fim ganhou e não fez nada que prometeu”. Pedro
Os depoimentos mostram que houve quebra de confiança, pois os estudantes
votaram em um grupo que não correspondeu às suas expectativas. A ação da chapa
eleita gerou neles insatisfação, decepção, frustração e indignação. Nota-se então
que as necessidades de ter expectativas cumpridas e poder confiar nas promessas
não foram satisfeitas.
Quando a escola possibilita a criação de um grêmio, precisa acompanhar suas
realizações e instruir os alunos para reivindicar seus interesses. Podem-se
aproveitar as eleições para o grêmio e discutir com eles questões sobre ética,
valores, cidadania, direitos e deveres, incentivando-os a acompanharem as
realizações da chapa ganhadora e a fazerem as devidas cobranças daquilo que foi
prometido, mas não foi cumprido. “É preciso ter sempre o cuidado de cultivar em
cada criança o conhecimento das coisas sociais nas quais terá de participar”
(WALLON, 1975/1980a, p. 223). É importante considerar os questionamentos dos
adolescentes e desenvolver neles o interesse por essas questões, aproveitando o
momento de questionamentos, a busca de consolidação de valores, o desejo de
conhecer o novo e de estar junto dos pares para a orientação. A respeito disso,
Wallon afirma que:
86
Há, ao lado de sonhos vãos, verdadeiros riscos. Mas há também
elementos positivos e é esta parte positiva que o educador deve
esforçar-se por pôr em evidência. É preciso utilizar esse gosto de
aventura, esse gosto de ultrapassar a vida quotidiana, esse gosto de
se unir a outros que têm os mesmos sentimentos, as mesmas
aspirações, esse gosto de ultrapassar o ambiente actual, para ajudar
a criança a fazer a sua escolha entre os valores em presença, que
podem ser por vezes valores criminosos, mas também valores
sociais, valores morais. (WALLON, 1973/1980a, p. 221)
A categoria 5. Escola: espaço de reivindicação e questionamentos refere-se
somente às situações desagradáveis. Os relatos revelam que os alunos precisam ter
um espaço para serem ouvidos sobre como vêem a escola em que estudam.
Apontam que questões sobre o desempenho do grêmio, a organização e a limpeza
da escola, a decisão sobre os locais das excursões, as temáticas da festa junina e o
desconhecimento da aluna sobre o motivo de não se cantar o hino nacional no dia 7
de setembro devem ser debatidas com os estudantes para que todos tenham
clareza das decisões tomadas pela equipe gestora e docente da escola. Quando os
alunos são ouvidos e suas opiniões são consideradas, a instituição pode buscar
caminhos para melhorar junto com eles, dando a oportunidade de cobrar e de ser
cobrada por suas ações, possibilitando assim o desenvolvimento da ética e da
cidadania.
6. Escola: espaço de situações inesperadas
6.1 Receber um prêmio
Num certo dia, havia uma redação para fazer sobre o filme:
“Fulaninho”, eu fiz essa redação no maior capricho, mas eu nem
imaginava que aquela redação fazia parte de um concurso e que
toda a escola estava concorrendo. Então um dia eu cheguei na
escola e me avisaram que eu havia ganhado o primeiro lugar, e que
era para eu ir buscar meu prêmio no “TEATRO IMPRENSA”. Eu
fiquei super feliz, minha mãe (que naquela época ainda era viva) me
acompanhou e eu peguei o meu prêmio que era um rádio gravador,
até hoje eu tenho. Carla.
87
A aluna revela surpresa ao saber que a redação feita com cuidado fazia parte de um
concurso o qual ela venceu. Quando Carla elaborou sua redação, não sabia que
participava de um concurso; mesmo assim, empenhou-se para escrever o texto
sobre o filme; por isso, a notícia da premiação foi inesperada. A situação citada
mostra o quanto a afetividade está presente em todos os momentos do contexto
escolar. Havia um compromisso da aluna com a escola, pois ela realizou a atividade
com competência, mesmo sem saber que concorria a uma premiação. Carla sentiuse alegre e orgulhosa por ter ganhado o concurso, cujo prêmio era um rádio
gravador, e principalmente, por ter contado com a companhia de sua mãe que a
acompanhou em um momento feliz. Nota-se que a necessidade de ser reconhecida
pelo que faz está presente também nesta situação, confirmando assim que a escola
deve valorizar as realizações dos alunos, aproveitando as oportunidades para
divulgá-las interna e externamente, por meio da participação em concursos, mostras
de trabalhos e competições.
A escola possibilitou que a aluna vivesse um momento importante em sua vida, uma
experiência de êxito e também a recordação de uma pessoa querida que esteve
presente nesse momento. Além disso, essa experiência permitirá que a aluna se
sinta segura para realizar outras atividades semelhantes. Conforme escreveu Wallon
(1971), “A emoção pela importância exclusiva conferida a uma circunstância ou a um
objeto pode, por conseguinte ser fator de êxito”. (p. 83)
Nesta subcategoria, apenas esta situação agradável foi relatada.
6.2 Os acidentes
Uma situação que marcou a minha vida foi quando estava tendo
campeonato de futebol, quando eu levantei para ir ao intervalo caí.
Além de todo mundo rir da minha cara, a outra menina caiu em cima
de mim e deslocou o meu pé. Por causa desse acontecimento fui ao
hospital e descobri que tinha deslocado meu pé e fiquei uma semana
com o pé enfaixado sem poder sair de casa. Luciana
88
Sofrer um acidente na escola ou presenciá-lo foram situações inesperadas e
desagradáveis.
Para Luciana, sofrer uma queda diante dos colegas e ser motivo de risadas foi uma
situação embaraçosa. Além disso, o acidente gerou uma conseqüência grave, pois a
aluna machucou seu pé e teve de ficar afastada em casa por uma semana. A
adolescente ficou em evidência de forma desastrosa, o que gerou vergonha, e ter
que ficar uma semana com o pé enfaixado provavelmente causou irritação porque
ela não pôde sair de casa durante esse período.
Levar uma rasteira do colega enquanto jogava bola foi outra situação descrita por
um aluno.
“Foi quando na física, eu jogando bola passei do moleque e ele me deu um rodo e
eu levei 4 pontos no queixo”. Roberto
Verifica-se que Roberto não faz um julgamento da ação do colega, talvez por
acreditar que dar uma rasteira faça parte do jogo e machucar-se também. Porém,
pode-se deduzir que o aluno sentiu tristeza e frustração por se machucar e não
poder continuar jogando. O relato apresenta a necessidade de não se machucar e
poder continuar participando do jogo na aula de Educação Física. Em situações
como essas, nas aulas de Educação Física, em que o movimento corporal é mais
intenso, a escola precisa estar preparada para lidar com um aluno ferido, prestando
socorro ou chamando o serviço especializado. Além disso, deve preparar os
estudantes e seus familiares para evitar desentendimentos, explicando que
acidentes acontecem.
Presenciar um acidente também é uma situação desagradável. Dois alunos relatam
o mesmo episódio.
89
“O meu momento desagradável foi quando o vice-diretor: Senhor Francisco caiu de
cima do telhado do pátio. Aquele foi o dia mais desagradável que eu tive na escola”.
Denis
“Foi o acidente do Francisco, quando ele caiu da telha, ele passou muito [mal] e teve
que ir até no médico”. Rodolfo
Os relatos revelam atitude solidária para com o próximo. A preocupação dos
estudantes aponta a necessidade de se colocar no lugar do outro. Denis e Rodolfo
ficaram compadecidos com o acidente e suas conseqüências, por isso a situação
marcou-os de forma desagradável.
Segundo Wallon, a ambivalência de sentimentos e atitudes é uma das
características da adolescência e as manifestações dos sentimentos e das atitudes
são definidas conforme as situações. Como afirma o autor:
É a idade em que os sentimentos possuem a mais evidente
ambivalência: timidez e arrogância, vaidade e gozo dos outros
alternam e muitas vezes combinam-se. O mais absoluto egoísmo e o
sacrifício pessoal andam a par; só as circunstâncias parecem por
vezes decidir qual dos dois prevalecerá. (WALLON, 1973/1980b, p.
139)
Wallon (1975/1980a) ainda ressalta que o adulto precisa aproveitar a disposição que
o jovem tem para dominar e se sacrificar e desenvolver nele o espírito de
responsabilidade para com o outro e com a sociedade.
As situações relatadas na categoria 6. Escola: espaço de situações inesperadas
revelam que a escola é também um espaço de situações imprevistas, que
surpreendem os alunos. A situação agradável mostra a surpresa de uma aluna por
vencer um concurso de redação. As situações desagradáveis referem-se aos
acidentes na escola que os alunos vivenciaram ou presenciaram.
90
3.1 Em busca de uma síntese
A análise das categorias apresentadas mostra que a afetividade permeou todos os
momentos vivenciados pelos alunos na escola. Constata-se que os adolescentes
apresentam
necessidades
de
participar
ativamente
do
processo
ensino-
aprendizagem, de ter o acompanhamento da família e o reconhecimento pelo seu
trabalho e esforço. As situações agradáveis descritas por eles relataram o bom
desempenho, a possibilidade de trabalhar em grupo e de ter aulas diferenciadas, os
momentos de descontração, a importância dos pares e do professor em suas vidas,
os eventos promovidos pela instituição, a presença da família e da comunidade, as
conquistas e participações em campeonatos. As situações desagradáveis apontaram
o mau desempenho, a utilização inadequada nas aulas dos recursos que a escola
possui, os desentendimentos com os pares, a presença da família por causa de
envolvimentos em problemas, os questionamentos com relação aos critérios de
avaliação e de participação em uma competição, a derrota no campeonato, a
situação precária em que a escola se encontra, as falsas promessas da direção e do
grêmio estudantil e os acidentes ocorridos na escola.
Os resultados permitem constatar que a presente pesquisa corrobora os estudos
apresentados na Introdução deste trabalho e contribui com novos resultados. Os
participantes, ao descreveram uma situação agradável e outra desagradável que
foram marcantes na escola, evidenciaram o que os afeta e o que os afetou no
decorrer de sua vivência na instituição de ensino. Desse modo, foi possível
identificar situações agradáveis e desagradáveis no contexto escolar, bem como
alguns dos sentimentos vivenciados nesse espaço e as implicações educacionais
dessas
situações
descritas.
Os
relatos
forneceram
contribuições
para
a
compreensão da adolescência e da relação do jovem com a escola em que estuda.
Como visto na Introdução deste trabalho, o estudo de Dér (2001) revela a
compreensão do estágio da adolescência na teoria de Henri Wallon ao analisar os
escritos do autor e de outros estudiosos de sua teoria. Conforme ressaltou a autora,
a adolescência é um momento de escolhas e de definição dos valores morais. Os
participantes da presente pesquisa mostraram uma grande preocupação com os
valores morais e com a ética, apontando a necessidade de respeito, não só ao outro
91
e a si mesmo, como pelo espaço em que estudam. Apresentaram críticas sobre a
atuação do grêmio estudantil e da direção, questionaram os critérios de avaliação,
deixando claro que é preciso respeitar as diferentes formas de agir dentro da sala de
aula. Assim como verificado no estudo de Ardito (1999), os alunos também se
sentiram desrespeitados nessas situações. Na pesquisa em questão, os estudantes
também elogiaram as palestras, que abordaram temáticas como drogas, sexualidade
e saúde, assuntos que possibilitam o esclarecimento de questões que muitas vezes
não podem ser discutidas em casa, mas que constituem a personalidade do
indivíduo e permitem que eles decidam por uma ou outra forma de agir.
Conforme foi apontado por Ozella e Aguiar (2007), os relatos dos estudantes
possibilitaram a compreensão de um adolescente concreto, que se manifesta em um
tempo/espaço
determinado
histórica,
cultural
e
socialmente.
Não
houve
oportunidade de verificar a concepção que o adolescente tem de si mesmo, mas
percebeu-se que os jovens vivenciam esse momento de suas vidas dentro das
próprias possibilidades. Provavelmente, em seu entorno, não existe um ideal de
adolescência; aparentemente é um momento respeitado pela instituição, mas
poderia ser mais explorado tendo em vista o desenvolvimento da habilidade de
argumentação. Nas duas pesquisas, foi constatado que a afetividade tem
importância. Em Ozella e Aguiar, observou-se diferenciação entre os gêneros quanto
à manifestação da afetividade; no estudo em questão, não foi possível perceber a
diferenciação, pois ambos os gêneros descreveram situações que permitiram
compreender a importância da afetividade.
Almeida (1993) ressalta a importância da afetividade na relação entre aluno e
professor, pois as condições de aprendizagem são instituídas nessa relação. Os
resultados deste estudo confirmam a afirmação da autora, pois as condições de
aprendizagem foram instituídas na relação entre professores e alunos. Notou-se nas
falas a preferência por uma ou outra matéria, como Geografia, Português, História e
Educação Física, por exemplo. Possivelmente, os docentes dessas disciplinas
afetaram positivamente seus alunos e conseguiram estabelecer uma relação mais
próxima com eles, facilitando a comunicação. Verificou-se que os participantes
ressaltaram a importância dos professores em suas vidas, pois eles foram citados
mais vezes nas situações agradáveis.
92
Esta pesquisa permitiu notar a relevância do professor para o adolescente. Os
estudantes mencionaram os bons professores ao descreverem as situações
agradáveis; escreveram sobre a possibilidade de conversar abertamente com eles,
pedir conselhos, receber incentivo, e sobre as marcas deixadas por eles. Fizeram
ainda referência ao seu ensino, deixando clara a existência de um bom
relacionamento entre educador e educando. Esses resultados colaboram com as
pesquisas de Gunter (1993), Thomé (1996), Dér (1996), Temponi (1997), Ardito
(1999) e Marriel et al (2006). Nesses estudos, os estudantes atribuíram
características para o bom professor e para o relacionamento educador-educando
semelhantes às dadas pelos participantes do presente estudo. Diferentemente
desses trabalhos, os estudantes não fizeram referência ao autoritarismo,
intolerância, desrespeito e agressões físicas ou verbais por parte do educador. Nas
situações desagradáveis, alguns estudantes apontaram os professores, mas não
especificaram o porquê. Há somente um relato que menciona o constrangimento por
presenciar uma discussão entre uma professora e um colega de classe.
A interação no contexto escolar foi um aspecto relevante desta pesquisa; a relação
entre os pares foi descrita com mais freqüência do que a relação com os adultos.
Não só os momentos de descontração com os amigos e a boa convivência foram
lembrados; os momentos de tensão, desentendimentos, brigas e discussões
apareceram na maior parte dos relatos, revelando que não ter a possibilidade de
contar com o amigo é marcante para o adolescente. Constatou-se que a
consolidação de um grupo é importante para o jovem. Esses resultados ratificam as
pesquisas de Günter (1993), Temponi (1997), Gonçalves (2005) e Marriel et al
(2006).
Os participantes do presente estudo descreveram situações agradáveis e
desagradáveis no contexto escolar semelhantes aos eventos positivos e negativos
na escola, apontados na pesquisa de Günter (1993). Em relação aos eventos
positivos e às situações agradáveis, foram citados: a participação nos trabalhos em
grupo e em competições, as boas notas, os incentivos e a valorização por parte dos
professores. Nos eventos negativos e nas situações desagradáveis, foram relatados:
repetir o ano, mudança de escola, o envolvimento em algum tipo de problema, a
quebra de um trato na biblioteca e receber uma convocação. Assim como na
pesquisa de Temponi (1997), a relação com os colegas foi relatada pelos estudantes
93
que evidenciaram as atividades em grupo. Conforme constatado por Gonçalves
(2005), o bom desempenho escolar, o conhecimento, o espaço e a rotina escolar, as
relações com os pares e com o sexo oposto provocam sentimento de alegria. Além
disso, neste estudo, a participação em campeonatos, as excursões e a premiação
em um concurso de redação foram lembradas pelos alunos e possibilitaram
momentos de alegria. Assim como visto em Marriel et al (2006), houve uma
tendência geral de bom relacionamento interpessoal. Desentendimentos, discussões
e brigas também foram relatados pelos participantes desta pesquisa, mas não foi
especificado o tipo de discussão, se houve ou não agressões físicas ou verbais.
Diferentemente dos estudos, não foram observados relatos de exclusão ou de
dificuldade para constituir um grupo de amigos (Günter 1993), e as manifestações de
violência não foram enfatizadas pelos estudantes (Marriel et al 2006). Entretanto,
assim como constatado em Marriel et al (2006), percebeu-se que, em alguns casos,
a violência esteve presente nas relações entre os pares; brigas entre amigos e a
falta de respeito por parte dos colegas podem ser consideradas manifestações de
violência se envolveram agressões físicas ou verbais.
Os participantes desta pesquisa atribuíram importância à instituição educacional
como um espaço fundamental em suas vidas; relataram experiências agradáveis e
desagradáveis que envolveram o ensino, a aprendizagem, o desempenho nas
avaliações e nas competições, o relacionamento interpessoal, os momentos de
interação e descontração. Esses resultados ratificam o estudo de Costa e Koslinsk
(2006), no qual constataram que as experiências escolares interferem na relevância
que o aluno dá à escola.
Nesta pesquisa, a escola apareceu como espaço importante na vida do aluno:
ambiente de aprendizagem no qual ele estabelece relações, desfruta de momentos
de descontração, vivencia situações agradáveis e desagradáveis que geram
sentimentos diversos; instituição que o adolescente valoriza e critica, buscando sua
melhora.
Os relatos dos participantes permitiram identificar as implicações educacionais das
situações descritas; suas falas apresentaram indicadores para uma escola que
94
atenda aos interesses e necessidades dos alunos, contribuindo, desse modo, para a
melhoria do trabalho de professores e gestores.
Indicadores para os professores:
•
Aulas ativas que mostrem a realidade concreta do jovem, atendam a seus
interesses e necessidades, possibilitem o trabalho individual e em equipe e
permitam a participação efetiva dos alunos por meio de atividades variadas
das quais eles participem do planejamento e da execução.
•
Aulas que possibilitem a discussão de assuntos ligados ao momento de
transformação que os adolescentes atravessam e que relacionem a vida da
escola com o que acontece fora dela.
•
Aulas que aproveitem todos os recursos e espaços dos quais a escola dispõe
(sala de informática, laboratório, quadra, etc), que extrapolem o espaço da
sala de aula e possibilitem a participação em atividades dentro e fora dela.
•
Aulas de Educação Física em espaços adequados, que incluam todos os
alunos. É preciso organizar atividades que permitam a participação dos
estudantes que tenham algum tipo de impedimento, possibilitem a prática
segura de atividades esportivas e a interação entre todos os estudantes.
•
Aulas que valorizem o aluno pelo seu esforço e o estimulem para o estudo.
•
Critérios de avaliação claros para professores e alunos. O educando precisa
ter ciência de seu desempenho durante o percurso avaliativo. É preciso
atentar para o fato de que a avaliação tanto mostra o desempenho do
estudante como colabora para o desenvolvimento da sua auto-estima; por
isso, deve ter cuidado e atenção especiais.
•
Enfim, não se esquecerem de que o professor tem papel importante na vida
do adolescente e em muitos casos, torna-se um adulto de sua confiança. O
bom relacionamento educador-educando possibilita um bom relacionamento
do aluno com o objeto de conhecimento.
95
Indicadores para os gestores:
•
Valorizar as realizações dos estudantes e dar visibilidade aos seus trabalhos,
possibilitando espaços para divulgá-los dentro e fora da escola, em mostras,
feiras, festas, exposições, concursos, entre outros.
•
Promover campeonatos femininos e masculinos de diferentes modalidades
esportivas, dentro e fora da escola. Neles, os alunos encontram uma
oportunidade para mostrarem seu esforço e empenho, interagirem com os
pares e desenvolverem o sentimento de pertencimento à instituição onde
estudam.
•
Receber
bem
os
novos
alunos,
criando
um
ambiente
acolhedor
independentemente da idade.
•
Promover momentos de descontração e socialização (festas, passeios,
campeonatos) entre os alunos para a consolidação do grupo, um referencial
fundamental para o jovem.
•
Conscientizar os alunos e os próprios profissionais (limpeza, secretaria,
inspetores) que trabalham na escola de que estes também são educadores e
precisam agir adequadamente com os estudantes, respeitando-os para que
sejam respeitados.
•
Promover a integração entre escola e comunidade, abrindo o espaço escolar
para compartilhar com a família as realizações dos estudantes e também as
dificuldades encontradas no cotidiano. É necessário preservar o espaço de
atuação da escola e da família, lembrando aos responsáveis o quanto é
importante que acompanhem a vida escolar dos alunos.
•
Considerar as dimensões afetiva, cognitiva e motora dos estudantes, pois a
escola é um espaço onde eles se manifestam por inteiro.
•
Informar os alunos, ao inscrevê-los em competições ou concursos, sobre os
critérios de seleção, participação e organização dos eventos, para que saibam
quais as suas chances de ganhar, com quem irão competir e, com isso,
poderem se preparar.
96
•
Preparar os educandos para participarem das excursões, esclarecendo os
objetivos da visita, estejam eles relacionados aos conteúdos trabalhados em
sala de aula ou ao lazer.
•
Disponibilizar espaço para que os alunos sejam ouvidos sobre como vêem a
escola em que estudam. É importante que a instituição conheça seus
estudantes e saiba como eles julgam o que é ofertado nesse espaço. Ao ouvilos, a escola pode buscar caminhos para melhorar junto com eles, oferecendo
a oportunidade de cobrarem e serem cobrados por suas ações, possibilitando
assim o desenvolvimento da responsabilidade, da ética e da cidadania.
97
4. Considerações finais
Esta pesquisa buscou responder, do ponto de vista do aluno, à seguinte questão:
quais situações os alunos da 8ª série do Ensino Fundamental consideram
agradáveis e desagradáveis na escola? Seu objetivo era identificar situações, no
contexto escolar, que agradam e que desagradam aos alunos da 8ª série do Ensino
Fundamental, os sentimentos envolvidos nessas situações e as implicações dessas
situações para o processo ensino-aprendizagem. Para isso, foi feita uma pesquisa
qualitativa cujo instrumento foi redação, na qual o aluno descreveu uma situação
agradável e uma desagradável que foram marcantes para ele na escola.
A teoria psicogenética de Henri Wallon subsidiou a análise dos dados, ampliando o
olhar da pesquisadora para um indivíduo completo que se manifesta por inteiro.
Afetividade, conhecimento e motricidade se entrelaçam e constituem a pessoa.
Compreender que o desenvolvimento humano faz parte de um processo, com
avanços e retrocessos, que depende fundamentalmente do meio em que o sujeito
vive, das condições materiais e das relações que estabelece com outros indivíduos
foi de capital importância.
Os relatos obtidos permitiram a compreensão da instituição escolar do ponto de vista
do adolescente, como ele vivencia, percebe e significa esse espaço. A análise do
material possibilitou constatar que a escola é um espaço vital para os participantes
deste estudo. As experiências vivenciadas pelos jovens desta pesquisa contribuíram
de forma significativa para a constituição de sua personalidade, permitindo que eles
alternassem momentos variados de interação, tensão e descontração nas diversas
situações da rotina escolar. Eles não julgaram as situações agradáveis e
desagradáveis como boas ou más; todavia, discorreram sobre situações que foram
marcantes, ou seja, que os afetaram de algum modo importante a ponto de serem
lembradas, mesmo que alguma situação tenha ocorrido em outra escola há muito
tempo. Alguns relatos descreveram situações ocorridas no 3º e no 5º ano do Ensino
Fundamental, deixando claro que os profissionais que lidam com a educação devem
estar sempre atentos para o que acontece com os alunos, que pode marcá-los
profundamente, seja de forma positiva ou negativa.
98
As situações descritas pelos estudantes mostraram que momentos agradáveis e
desagradáveis fazem parte da vida; as alegrias, os desentendimentos e as
frustrações foram experiências vividas e estarão presentes em outras circunstâncias
da vida dos adolescentes. As situações agradáveis se referiram ao ensino oferecido
pela escola, aos professores, ao bom desempenho escolar, às possibilidades de
interação e descontração, não só com os pares, como também com professores e
familiares, os momentos de festas e passeios. A relação com os pares foi ressaltada
pelos estudantes e apareceu em vários relatos, assim como a participação em
campeonatos. A premiação em um concurso de redação foi lembrada por uma
aluna. As situações desagradáveis foram relacionadas aos desentendimentos entre
os adolescentes, o que revela a importância da relação entre os pares, pois as
brigas e discussões foram mencionadas em vários relatos. A desconsideração dos
interesses e necessidades dos estudantes, a derrota em um campeonato, os
acidentes na escola, a presença do responsável para resolver problemas de
desentendimentos entre alunos, o desrespeito e o mau desempenho escolar
também foram referidos. Os relatos apontaram que necessidades satisfeitas geram
situações agradáveis, mas nem sempre necessidades não satisfeitas geram
situações desagradáveis; observou-se em alguns relatos que a necessidade de ser
acompanhado pela família foi satisfeita, mesmo nas situações desagradáveis.
A afetividade esteve presente em todos os momentos, evidenciando que professores
e gestores devem considerá-la parte importante do processo ensino-aprendizagem.
Várias situações desagradáveis ocorreram por falta de diálogo, o que mostra que o
espaço para a conversa é essencial independentemente da idade, sobretudo com os
jovens, que precisam aprimorar a habilidade de argumentação e de posicionamento
diante dos fatos, para que possam compreender a realidade em que vivem,
apresentar suas idéias de forma objetiva, respeitando as idéias do outro. Os
professores e gestores precisam trabalhar para o desenvolvimento da cidadania e
dos valores morais e éticos. A consolidação desses valores só é possível quando há
espaço para o diálogo e argumentação, para que os alunos tenham mais confiança
de se posicionar. Além disso, a conversa consente que ambos os lados entendam as
ações uns dos outros. Quando a direção da escola, junto com o corpo docente e os
outros funcionários, apresenta para os alunos os motivos de suas decisões, mostra a
eles que o objetivo de todas as ações dentro de uma escola é a melhora da
99
qualidade do ensino, é a tentativa de oferecer um ambiente e uma educação
adequados aos estudantes. Da mesma forma, quando os educandos são ouvidos, é
possível compreender suas ações e questionamentos e adequar as propostas de
ensino.
A instituição pesquisada poderia dar mais espaço para seus estudantes, pois eles
fizeram algumas críticas pertinentes, tais como, o desrespeito por parte dos colegas,
a má conservação da escola, a precária atuação do grêmio estudantil, o não
cumprimento de uma promessa da direção, o desconhecimento de alguns critérios
de avaliação, de participação em competições e de escolha dos locais de passeio.
Se essas questões fossem consideradas, poderiam contribuir de forma significativa
para a melhora da instituição, possibilitando o desenvolvimento da responsabilidade
do estudante para com o espaço escolar.
Nesta pesquisa, de um modo geral, a escola apareceu como um espaço
fundamental na vida dos alunos, que representa o conhecimento, a interação entre
os sujeitos, a convivência com grupos de amigos, a possibilidade de vivenciar
momentos em festas e passeios, a qual alguns alunos não têm em casa; é o local
que proporciona o reconhecimento e a valorização do trabalho dos alunos, a
diversão e, sobretudo, a aprendizagem. Os dados evidenciaram que a escola vivida
pelos participantes desta pesquisa é um espaço que eles valorizam, respeitam, do
qual eles gostam e sentem orgulho e, por isso, apresentam críticas de aspectos que
poderiam ser melhorados.
Quando me propus a realizar este estudo, ouvi de muitos colegas que o problema de
pesquisa já estava respondido da seguinte forma: nas situações agradáveis, os
jovens descreveriam o adiamento das aulas e a ausência do professor; iriam
valorizar somente as situações de descontração com os pares; eles diriam que a
escola é um lugar de que não gostam e pelo qual não têm interesse. Nas situações
desagradáveis, relatariam a obrigação de ir para a escola, ter aulas, os professores,
o processo ensino-aprendizagem como um todo. Ao contrário de representações
que naturalizam a adolescência, entendendo-a como um momento de crises e de
rebeldia, de choque constante com os adultos, nesta pesquisa, pude constatar que
os estudantes valorizam o espaço escolar e as relações interpessoais, tanto com os
100
pares como com os adultos, apresentam interesse pelo conhecimento e buscam o
reconhecimento de suas ações.
Como visto, este trabalho corrobora estudos anteriores, contribuindo com os
resultados expostos no capítulo da análise de dados. As pesquisas apresentadas na
revisão de literatura, juntamente com o trabalho em questão, mostram que, quando
se pretende compreender um fenômeno, é preciso observá-lo do ponto de vista
daquele que vivencia a situação. Ou seja, para entender como o adolescente
percebe o ensino e a instituição escolar como um todo, é preciso dar oportunidade
para que ele fale a respeito do que pensa e sente nesse contexto. De modo algum
se esgotaram as possibilidades de pesquisa da temática adolescência e escola.
Percebo que outras investigações devam ser desenvolvidas, buscando ouvir alunos
que participam de outras realidades culturais, sociais e econômicas, e também os
profissionais de ensino, tais como professores, direção, coordenação e outros.
Realizar uma pesquisa que contou com a participação de alunos adolescentes foi
bastante gratificante, pois tive a oportunidade de ler depoimentos contagiantes que
revelaram quanto os estudantes valorizam e respeitam a instituição investigada.
Conheci, dentro de um contexto específico e único, a escola vivida pelo aluno
adolescente. Encontrei um espaço de intensas relações, permeado por emoções,
sentimentos e representações que dão vida e constituem a escola estadual
investigada.
Este estudo possibilitou minha reflexão como pesquisadora e como professora. Na
condição de pesquisadora, permitiu que eu encontrasse algumas respostas para o
problema da minha pesquisa. Como docente, olhei para o aluno que se manifesta
por inteiro; suas falas forneceram indicadores para a melhora do meu trabalho na
sala de aula e revelaram o quanto a escola é significativa para o adolescente. Essa
experiência consentiu que eu vivenciasse sentimentos de alegria, satisfação e
orgulho por trabalhar na educação, por ter a certeza de que contribuímos para a boa
formação do ser humano e de que deixamos marcas significativas em nossos
alunos.
Encerro esta pesquisa, dando voz a uma das alunas participantes, pois seu
depoimento exemplifica o quanto a escola é vital.
101
Os incentivos dos professores, as palestras e os trabalhos, as
brincadeiras, as conversas, as paqueras. Agradável mesmo foi
quando eu tirei o meu 1º A na escola. Os meus colegas que conheci
que se tornaram grandes amigos. Quando eu conheci o Paulo
Antônio. Quando ajudei alguns colegas da classe. Quando pedi
conselhos dos meus professores, de alguns. Quando mostrei que
sou capaz de fazer a diferença e outras coisas muito, muito, muito
agradáveis é quando acordo e me olho no espelho e percebo que
tenho que melhorar mais e mais. E é isso que me levanta e me deixa
com muito ânimo. Deise
102
Referências
AGUIAR, Wanda Maria Junqueira de. A escolha profissional: contribuições da
psicologia sócio-histórica. Psicologia da Educação, São Paulo, n. 23, p. 11-25, 2º
sem/2006.
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Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. (orgs). Henri Wallon: Psicologia e
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_________________. Ser professor: um diálogo com Henri Wallon. In: MAHONEY,
Abigail. Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. (orgs). A constituição da
pessoa na proposta de Henri Wallon. São Paulo: Edições Loyola, 2004, cap. 7, p.
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103
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Secretaria
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Educação
Fundamental.
Parâmetros
Curriculares
Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: apresentação dos
temas transversais/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF,
1998. 174 p.
_________________.
Secretaria
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Educação
Fundamental.
Parâmetros
Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental:
introdução aos parâmetros curriculares nacionais/ Secretaria de Educação
Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. 436 p.
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Anexos
Anexo 1
Quadro – explicitação dos significados
Alunos
Redação
Aluna 1 Situação agradável - O
campeonato de futsal.
Júlia
Futsal, que esporte esse,
está em 2º lugar entre os
meus favoritos. É raro ter um
campeonato, mas quando
tem eu aproveito. O último
que teve foi antes das férias
de julho, meu time ficou em
2º lugar, foi o máximo. Foi
uma honra pra mim, receber
aquela medalha de prata das
mãos do professor Alberto.
Essa está pendurada acima
da minha cama e será
guardada para sempre com
muito carinho, quando olho
para ela recordo de cada
jogo, com muito carinho.
Situação desagradável - Eu
sou inteligente e não CDF.
Não faz muito tempo, aliás,
acontece sempre, existem
alunos inteligentes e outros
que são aqueles chamados
CDF’S. Quando nós, os
alunos inteligentes,
acertamos tudo em uma
prova, tiramos B, nessa
mesma, os CDF’s tiram A,
na maioria das vezes isso
Explicitação dos
significados
- Campeonatos são
raros na escola.
- Ganhar uma medalha
pelo 2º lugar no
campeonato de futsal
foi uma honra.
- A medalha recebida é
o reconhecimento do
esforço e uma
lembrança querida.
- Auto-avaliação
positiva: “sou inteligente
e não CDF”.
- Os professores dão
nota maior para os
CDF’s por causa do
comportamento,
desvalorizando o
rendimento do outro –
isto não é correto.
- Os critérios de
avaliação não estão
Sentimentos
captados pela
pesquisadora
Sentiu-se
- Satisfeita, alegre e
com prazer por
participar do
campeonato de
futsal e conquistar o
2º lugar.
- Orgulhosa por
receber a medalha.
- Indignada e
injustiçada pela
forma como é
avaliada e por
desconhecer os
critérios de
avaliação.
Relação com a
teoria
Necessidades
Implicações Educacionais
- Ser reconhecida pelo
esforço.
- Participar de
competições e de
atividades extraclasse.
- Estar com o outro.
Os campeonatos promovem a
interação entre os alunos dos
diferentes anos. Incentivam a
participação deles nos eventos,
possibilitando maior
participação dos estudantes
nas demais atividades
escolares. Desenvolve o
espírito esportivo e de equipe.
- Integração dos
conjuntos
funcionais.
- Característica
da adolescência.
- Ter uma avaliação
justa, em função do
rendimento escolar.
- Buscar explicação
para os fatos.
- Ser aceita como
indivíduo único,
diferente dos demais.
- Desconsiderar as diferenças
de comportamentos entre os
alunos pode causar
desinteresse pelas atividades
escolares, dificultando o
processo ensino-aprendizagem
e gerando neles uma sensação
de previsibilidade, já que a
nota, aparentemente, é dada
em função de um
comportamento e não do
desempenho. É preciso
-Característica
da adolescência.
108
acontece, só porque eles
ficam colados na cadeira o
tempo todo. Eu acho que
comportamento é uma nota
e avaliação é outra. Isso não
significa que são melhores
ou até mesmo piores do que
nós, os inteligentes. Eu acho
que ninguém consegue
mudar esse meu
pensamento, porque até hoje
nenhum dos que eu
perguntei me convenceram
com sua resposta, é sempre
a mesma coisa. Eu não
quero ser melhor, nem pior,
apenas diferente.
Aluna 2 Situação agradável - Num
certo dia, havia uma redação
Carla para fazer sobre o filme:
“Fulaninho”, eu fiz essa
redação no maior capricho,
mas eu nem imaginava que
aquela redação fazia parte
de um concurso e que toda a
escola estava concorrendo.
Então um dia eu cheguei na
escola (Joaquim Fernandes)
e me avisaram que eu havia
ganhado o primeiro lugar, e
que era para eu ir buscar
meu prêmio no “Teatro
Imprensa”.
Eu fiquei super feliz, minha
mãe (que naquela época
ainda era viva) me
acompanhou e eu peguei o
meu prêmio que era um
rádio gravador, até hoje eu
tenho.
trabalhar a representação que
alunos e professores têm da
avaliação. Os estudantes
precisam ter espaço para
serem ouvidos sobre esta
questão e terem suas dúvidas
esclarecidas, os cirtérios de
avaliação devem estar claros
para todos.
claros.
- Redação feita com
cuidado, sem saber que
participava de um
concurso.
- Ganhar o primeiro
lugar no concurso e ir
com a mãe (que ainda
era viva) receber o
prêmio no Teatro
Imprensa.
- Surpresa ao saber que
a redação feita fazia
parte de um concurso
que venceu.
Sentiu-se
- Orgulhosa e alegre
pelo prêmio e
porque a mãe a
acompanhou.
- Ter reconhecimento
por parte da escola e
da família
- A escola deve valorizar as
realizações dos alunos.
Aproveitar as oportunidades
para divulgá-las e participar de
concursos.
- Afetividade.
Obs: guardar o prêmio
pode ser também uma
forma de recordar o
momento que passou
com a mãe que ainda era
viva. As duas situações
lembradas pela aluna
envolveram a
participação de sua mãe.
109
Situação desagradável - Eu
e uma colega estávamos
numa biblioteca da escola
quando eu propus um trato:
eu cortava um pedaço do
cabelo dela e depois ela
cortaria um pedaço do meu
cabelo. Ela topou (ainda
estávamos na 3ª série) e
então eu cortei quase o
cabelo todo dela e na hora
de cortar o meu eu não
deixei. Fomos para a
diretoria, eles convocaram
nossas mães e quando
cheguei em casa levei foi
uma bela bronca. E no dia
seguinte, a minha colega foi
quase careca para a escola,
mas também a escola inteira
ficou sabendo do
acontecimento.
- Trato entre colegas:
cortar o cabelo uma da
outra na biblioteca da
escola.
- Romper o trato com a
colega e não deixá-la
cortar o seu cabelo,
mesmo tendo cortado o
cabelo dela.
- As mães foram
convocadas pela
escola.
- Levou bronca da mãe.
- Não ficou com o
cabelo cortado, mas
toda a escola ficou
sabendo do fato.
- Arrependida pelo
trato que fez.
- Envergonhada por
todos da escola
ficarem sabendo.
- Ter o
acompanhamento da
família.
- Cumprir com o
combinado
- Refletir sobre as
conseqüências do que
se faz.
- Características
- Todos os profissionais que
lidam com os alunos dentro da da adolescência.
escola são educadores. O
reponsável pela biblioteca
precisa ficar atento aos
comportamentos e reações dos
alunos enquanto utilizam o
espaço. É preciso olhar o todo,
zelando a biblioteca e os
alunos. Pode-se também
trabalhar com os alunos o
respeito ao outro e o cuidado
consigo mesmo e com o outro.
Aluno 3 Situação agradável –
Quando fomos viceAntônio campeões de vôlei na AABB.
Foi um ótimo dia só não
fomos campeões porque não
jogamos bem, mas
chegamos até a final então
está ótimo.
- Participar do
campeonato de vôlei e
ser vice-campeão.
- Julgamento adequado
do desempenho no
jogo: “só não fomos
campeões porque não
jogamos bem”;
aceitação precisa do 2º
lugar.
Sentiu-se
- Satisfeito e alegre
por participar do
campeonato e
chegar a final.
- Participar dos
eventos extraescolares.
- Estar com o outro e
sentir-se aceito.
- A participação em eventos
- Características
da adolescência.
inter-escolares possibilita a
interação entre os alunos das
diferentes instituições. Promove
o espírito esportivo e de equipe,
permitindo o desenvolvimento
do sentimento de
pertencimento a uma
instituição, possibilitando que o
aluno zele e lute por sua
escola.
- Sentir-se mal por
- Injustiçado pela
- Fazer justiça.
- O desentendimento entre
Situação desagradável –
- Características
110
Quando eu e o meu amigo
Fagner brigamos por causa
de uma mentira do João e do
Roberto. Eles falaram para o
meu amigo que eu xinguei a
mãe dele. Então isso foi
muito desagradável.
Aluno 4 Situação Agradável - Uma
coisa bem agradável para
Wagner mim foi quando o meu time
foi campeão no campeonato
da escola. O meu time fez a
melhor temporada. Eu fiquei
muito feliz, fiz 3 gols e fui
considerado um dos
melhores jogadores, pela
minha raça e meu vigor,
porque se eu errei, eu não
vou abaixar a cabeça, vou
continuar em frente.
Situação desagradável Uma coisa bem
desagradável foi meus
amigos brigaram. Eles
brigaram por besteira, por
motivo nenhum, por um ter
feito uma brincadeira sem
graça o outro não gostou e
ficou muito irritado com
atitudes do outro e partiu
para cima. Isso ficou
marcado na minha memória,
brigar com um amigo
mentira dos amigos.
por causa de intrigas de
outros dois amigos.
amigos pode dificultar a
da adolescência.
participação do aluno nas aulas
durante o período em que
estiver brigado.
- Participar do time que
fez a melhor temporada
do campeonato da
escola e ser campeão.
- Fazer três gols.
- Ser considerado um
dos melhores jogadores
pela raça e vigor.
- Capacidade de
enfrentar desafios: “se
eu errei, eu não vou
abaixar a cabeça, vou
continuar em frente”.
Sentiu-se
- Alegre e satisfeito
consigo mesmo pelo
desempenho em
favor do time e por
ser firme.
- Ser reconhecido pela
dedicação e esforço no
campeonato.
- Sentir-se aceito.
- Estar com o outro.
- Mostrar que pode
vencer desafios.
- Presenciar uma briga
entre amigos por causa
de uma brincadeira que
considerou sem graça:
um amigo fez uma
brincadeira e o outro
ficou irritado com as
atitudes e partiu para
briga.
- Aborrecido e triste
por presenciar a
briga entre amigos
do seu grupo.
- Conservar o grupo de - O desentendimento entre
- Os grupos.
amigos.
amigos pode causar um
sentimento de mal-estar e
dificultar a participação dos
alunos nas aulas. Enquanto
eles estiverem se sentindo
chateados não conseguirão
concentrar-se adequadamente.
Além disso, a dissipação de um
grupo pode prejudicar as
relações entre os alunos
porque afeta todos os
- A participação do aluno em
atividades extracurriculares que
envolvem a equipe possibilita o
fortalecimento do grupo, do
espírito esportivo e da
valorização da escola como um
espaço que vai além da sala de
aula.
- Já que os campeonatos
agradam tanto os alunos os
profª poderiam realizar
atividades interdisciplinares,
aproveitando na sala de aula o
que acontece durante o
campeonato, criando tabelas
das rodadas, montando revistas
ou tablóides com textos sobre o
que aconteceu nos jogos,
entrevistas com os destaques
etc.
- Integração dos
conjuntos
funcionais, com o
predomínio da
afetividade.
111
por uma brincadeira sem
graça fizeram dois amigos
brigarem.
Aluna 5 Situação Agradável – Bom,
acho que a coisa que mais
Cleide marcou foi ter conhecido
professores, foram aqueles
que deixaram e deixam sua
marca, o Maurício de
História, a Marta de
Português e o Alberto de
História. As festas que
“foram” produzidas por nós.
A da Copa foi uma
apresentação muito bonita e
produtiva.
Situação desagradável – Foi
quando eu caí na escola, era
um dia de chuva a escada
estava molhada, minha
bunda ficou encharcada.
Também conhecer pessoas
muito falsas, que você põe
tanta confiança e acabam
nos traindo. São poucas as
amizades de escola que
acabam dando certo.
integrantes daquele grupo.
- Conhecer professores
que deixaram e deixam
as suas marcas.
- Participar da produção
de festas.
- Festa da Copa
possibilitou uma
apresentação bonita e
produtiva.
- A escola possibilita
diferentes espaços de
interação e participação
da aluna.
Sentiu-se
- Satisfeita e alegre
por conhecer
professores que
deixaram suas
marcas.
- Com prazer por
participar da
produção e da festa
da copa.
- Ter o reconhecimento
do trabalho.
- Aprender com o
outro.
- Participar da criação
dos eventos escolares.
- Sentir-se como um
integrante da
instituição, coconstrutor.
- Afetividade.
- O bom relacionamento da
aluna com alguns professores
possibilita um bom
relacionamento da aluna com o
objeto do conhecimento.
- A participação da aluna na
criação e organização de
eventos na escola possibilita o
desenvolvimento do sentimento
de pertencimento do espaço
escolar, faz com que ela se
sinta responsável por este
espaço, pelo evento e incentiva
a participação da estudante na
realização das atividades já que
elas têm um objetivo concreto:
a apresentação na festa da
copa.
- Cair na escada da
escola que estava
molhada por causa do
dia chuvoso.
- Conhecer pessoas
falsas, depositar
confiança nelas e ser
traída por elas.
- Na escola poucas
amizades dão certo.
- Envergonhada pelo
acidente.
- Traída por pessoas
em que tinha
confiança.
- Frustrada porque
são poucas as
amizades escolares
que persistem.
- Não ficar em
evidência de forma
desastrosa (não “pagar
mico”).
- Estabelecer laço de
amizade duradouro.
- Ter alguém em quem
confiar.
- Não ser traído.
- O aluno pode sentir-se
desorientado neste dia e não
conseguir concertar-se nas
aulas de forma apropriada.
- Quando um aluno se sente
deslocado ou não encontra um
grupo para se apoiar pode se
isolar e deixar de participar de
atividades que exijam o contato
com o grupo, com isso ele
deixa de se desenvolver
socialmente e não encontra na
escola um lugar de interações
com os pares,
conseqüentemente, perde o
gosto por atividades que
envolvam o grupo.
- Características
da adolescência.
- Relação euoutro.
112
Aluna 6 Situação agradável – A
situação mais agradável que
Kátia eu tive aconteceu neste ano
aqui na escola, que foi
quando teve uma exposição
sobre a Copa de 2006.
Falamos sobre todos os
países, mas cada sala teve
um assunto para pesquisar,
foi realizada um [exposição]
na escola e em todos os
horários, foi um tempo de
muito trabalho, mas que
valeu a pena, pois no dia da
exposição tivemos uma mini
festa que foi muito bom, as
músicas foram as melhores,
as salas estavam divinas e
sem contar que estava
lotada a escola. Foi muito
bom! Todos gostaram e
falam até hoje. Pra mim ficou
guardado!
- Ver a escola cheia de
gente para apreciar a
exposição da Copa de
2006, resultado de
muito trabalho por parte
dos alunos.
- Compartilhar o
momento festivo com os
colegas e com a
comunidade. Ter para
isso uma mini-festa e
músicas.
- Saber que todos
gostaram e ainda
comentam sobre o dia.
Sentiu-se
- Satisfeita por fazer
parte do trabalho e
ter a possibilidade
de mostrá-lo a
todos.
- Alegre por
compartilhar o
resultado do
trabalho e o
momento festivo
com todos.
- Ter reconhecimento
pelo trabalho que
envolveu pesquisa.
- Compartilhar o
resultado do trabalho
não só com os colegas
e professores, mas
com toda a
comunidade.
- Celebrar um
momento importante.
- A escola precisa valorizar as
- Integração
realizações dos alunos e
cognitiva-afetiva.
possibilitar espaços para
divulgá-las à comunidade.
- A equipe escolar precisa
planejar atividades e eventos
que envolvam os alunos para
suas realizações. Não
restringindo o trabalho somente
ao espaço da sala de aula.
Situação desagradável –
Uma situação desagradável
foi quando eu estava de
TPM e chegando na escola
participei de todas as aulas
até chegar uma que fiquei
pra fora da sala, então foi o
fim, tive que subir para o
pátio e fiquei lá, foi quando a
diretora me pegou e me
levou para a sala dela, sorte
que não houve nada, mas o
meu nome ficou no livro.
Depois, quando desci tinha
descoberto que tinha sido
traída pelo meu ficante.
- Ter um dia difícil:
- ir para a escola com
TPM e participar de
todas as aulas;
- ficar fora da sala em
uma das aulas e por
isso ter que ir para o
pátio;
- ser vista pela diretora
e ir para a diretoria, sem
conseqüências mais
graves, mesmo assim
teve o nome registrado
no livro;
- depois de tudo,
descobrir uma traição
- Irritada, triste, com
raiva, angustiada,
nervosa e frustrada
pelos
acontecimentos do
dia.
- Orgânica, porque o
organismo não estava
bem.
- Ser respeitada pelo
momento que estava
passando e ficar
sozinha para respirar.
- É preciso considerar o aluno
como um indivíduo que se
manifesta em todas as
dimensões: afetiva, cognitiva e
motora. O orgânico e o afetivo
interferem de forma significativa
no plano cognitivo.
- Integração dos
conjuntos
funcionais, com o
predomínio da
afetividade.
113
Nossa! Aí me acabei
mesmo, comecei a chorar e
não parava, até pedi para a
professora para eu ir respirar
um pouco. Lembro como se
fosse hoje, nunca vou
esquecer, foi na segundafeira de setembro de 2006.
Aluno 7 Situação Agradável - Foi
quando eu vim para a escola
Roberto na 5ª série. Foi quando
começou, nos primeiros dias
eu só conhecia uma pessoa,
é o Fagner, que por acaso
ainda estuda na mesma
escola. Então essa é a
situação agradável, quando
eu cheguei na escola e
conheci todos os meus
colegas.
Situação desagradável - Foi
quando na física, eu jogando
bola passei do moleque e ele
me deu um rodo e eu levei 4
pontos no queixo.
do “ficante” e por isso
chorar incessantemente
a ponto de pedir à
professora para sair da
aula e ir respirar.
- Ter a possibilidade de
conhecer novos colegas
na nova escola, pois
nos primeiros dias de
aula conhecia apenas
uma pessoa.
- Levar uma rasteira do
colega enquanto jogava
bola e machucar o
queixo, precisando de
quatro pontos no corte.
- Não fez um
julgamento da ação do
outro, talvez por
acreditar que dar uma
rasteira faça parte do
jogo e machucar-se
também.
Aluno 8 Situação agradável - Eu tive - A dedicação e o
uma situação agradável, foi
envolvimento com os
estudos possibilitaram
Flávio nesse bimestre até. Eu me
ao aluno tirar boas
esforcei bastante, me
integrei nos estudos e no fim notas, aumentando as
do bimestre tive uma notícia chances de passar de
boa, que minhas notas
ano.
Sentiu-se
- Seguro e aceito por
conhecer os
colegas.
- Sentir segurança
diante do novo.
- Ser aceito pelo
grupo.
- É importância pensar no
acolhimento de novos alunos,
independentemente da idade.
- Afetividade.
- Grupo.
- Triste e frustrado
por machucar-se e
não continuar
jogando.
- Participar do jogo na
aula de educação
física.
- Características
da adolescência.
Sentiu-se
- Satisfeito pelo
desempenho.
- Alegre por ter a
chance de passar de
ano e por participar
de atividades
- Passar de ano.
- Mostrar que é capaz
de tirar boas notas.
- Vivenciar atividades
diferenciadas das
rotineiras.
- Nas aulas de educação Física
em que o movimento corporal
está presente com mais
intensidade a escola precisa
estar preparada para lidar com
um aluno ferido, prestando o
socorro ou chamando o serviço
especializado. Além disso, deve
preparar os estudantes e seus
familiares para evitar
desentendimentos, explicando
que acidentes acontecem.
- Quando o aluno percebe que
seu esforço para melhorar o
desempenho foi reconhecido ou
recompensado com boas notas
sente-se mais capaz e
motivado a dar continuidade ao
seu esforço.
- Integração
afetiva- cognitiva.
- Relação euoutro.
114
estavam todas boas. E com
essas notas boas eu tenho
mais chance de passar de
ano. [Outra situação foi] o
dia Agradável do agita
galera, foi muito da hora
porque teve várias gincanas,
ao invés de aulas e coisas
que nós fazemos aqui na
escola, foi muito divertido
esse dia, muito marcante.
- Auto-avaliação
positiva: percebeu-se
mais dedicado e
esforçado nos estudos.
- Boa notícia: ter o
conhecimento de que
as notas melhoraram no
fim do bimestre.
- Ter um dia divertido na
escola, vivenciando
uma rotina diferente da
habitual.
- Participação em
atividades que não
costuma ter no dia-a-dia
escolar.
variadas.
- Com prazer por
vivenciar um dia
diferente.
Situação desagradável –
Uma experiência muito
desagradável é o fato de eu
não poder participar das
aulas de Educação Física,
por causa de um problema
que eu tive no meu olho
esquerdo, e estou até hoje
sem participar das aulas.
- Não participar das
aulas de Educação
Física por motivo de
doença é uma
experiência
extremamente
desagradável.
- Ficar fora das aulas de
Educação Física é estar
excluído.
- Triste e impotente
por não poder
participar das aulas
de educação física
por causa de uma
doença.
- Atividades que quebram a
rotina e envolvem a interação
dos alunos possibilitam uma
melhor socialização do grupo e
uma melhor relação do aluno
com os funcionários e com o
espaço escolar de um modo
geral, ampliando sua visão da
escola não só como espaço do
conhecimento, como também
de diversão, nos momentos
apropriados. Permite, ainda,
que o estudante valorize mais o
espaço em que vive.
- Participar de
atividades esportivas.
- Participar das aulas
de Educação Física
como todos os outros
colegas.
- A escola precisa pensar
- Relação euoutro.
também em atividades que
possibilitem a participação dos - Afetividade.
alunos com algum tipo de
impedimento, caso o contrário
estará excluindo.
- A Educação Física também é
um espaço para trabalhar as
relações interpessoais. As
aulas desta disciplina não
podem se restringir às
atividades físicas de alto
impacto; os jogos cooperativos
e os de tabuleiro também
fazem parte desta modalidade
de ensino e possibilitam a
participação e a interação de
todos. Além disso, o aluno
poderia participar das aulas de
forma alternativa, exercendo
outras funções nos jogos, como
a de árbitro, por exemplo.
115
Aluno 9 Situação Agradável - Certo
dia eu estava em casa meio
Walter triste, porque tinha deixado a
escola em que eu estudei
quatro anos. Eu estava me
preparando para ir para a
nova escola, imaginava que
tudo daria errado para mim,
pelo fato de nunca ter
estudado aqui, mas mesmo
com esse medo tomei
banho, me arrumei e vim pra
cá. Ao chegar aqui vi que eu
estava errado porque a
escola era muito legal e eu
conheci pessoas
maravilhosas, que me
receberam de braços
abertos. Para mim, a coisa
marcante nessa história foi
ter conhecido meus amigos
e professores que vem me
acompanhando desde a 5ª
série e que, além disso, são
pessoas ótimas, que agora
eu preciso ter no meu dia-adia.
Situação desagradável - Eu
estava lá no gol, era
semifinal de campeonato, o
jogo já estava acabando, foi
quando veio a bomba, ao
tentar pegar a bola me
desequilibrei e acabei
pegando errado e acabou
quebrando o meu dedo.
- O estabelecimento de
uma relação de
confiança com os
amigos e professores
que o acompanham
desde a 5ª série é algo
tão importante que é
necessário em seu diaa-dia.
- Percebeu a
importância de enfrentar
o medo do novo, pois
se surpreendeu com a
nova escola, além de
ser bem recebido,
conheceu pessoas
admiráveis.
Sentiu-se
- Bem acolhido,
seguro e alegre por
conhecer pessoas
na nova escola.
- Surpreso por
descobrir uma
escola diferente da
que imaginava.
- Conviver com os
amigos e professores.
- Ser aceito.
- Estabelecer um
grupo de convívio.
- Afetividade.
- A importância de se acolher
bem os novos alunos,
independentemente da idade.
- A escola deve valorizar e
propiciar a consolidação de um
grupo de professores e amigos.
Os laços afetivos gerados
nestas relações permitem uma
relação de aprendizagem mais
adequada entre o aluno com o
objeto do conhecimento.
- Sair do campeonato
no último momento e
não poder cumprir o
papel de goleiro porque
quebrou o dedo ao
defender uma bola.
- Frustrado por não
poder participar mais
dos jogos.
- Triste por se
machucar e não ter
cumprido o papel de
goleiro porque não
conseguiu defender
a bola.
- Ter condições para
participar do
campeonato.
- Desempenhar bem o
papel de goleiro.
- A escola deve estar preparada - Afetividade.
para prestar socorro no caso de
acidentes e alertar os
estudantes e seus familiares
para as eventuais ocorrencias.
Deve-se valorizar a
participação do aluno, mesmo
quando ele é impedido de
continuar a jogar.
- É preciso trabalhar a
frustração sentida com a perda
porque isso pode acontecer em
116
outras situações da vida.
Aluno
10
Pedro
Aluna
11
Deise
Situação Agradável - Um dia
que ia acontecer o conselho
de classe, que era para os
pais irem junto com os
alunos, eu fiquei com medo
de tirar notas ruins. E a
minha mãe disse [que] se eu
tirasse nota ruim eu ia ficar
de castigo. Chegou no
conselho eu fiquei sentado lá
na frente com minha mãe,
quando chamou o meu
número eu fiquei com medo,
mas tive uma situação
agradável, porque eu tive só
as notas boas e não tive
reclamação nenhuma. E
minha mãe me deu
parabéns.
- Surpreender-se com o
seu desempenho.
- Conseguir
corresponder às
expectativas da mãe e
ser parabenizado pelo
desempenho
apresentado.
- Ficar sabendo, junto
com a mãe, das boas
notas e não ter
nenhuma reclamação
de seus professores.
- Livrar-se de um
castigo porque
apresentou boas notas,
reveladas durante o
conselho de classe.
Sentiu-se
- Aliviado após o
medo do castigo por
causa do seu bom
desempenho.
- Alegre por
corresponder às
expectativas da mãe
e não receber
castigo.
- Ansioso porque
não sabia das notas.
- Corresponder às
expectativas da mãe.
- Ter o reconhecimento
do seu trabalho por
meio das notas
apresentadas e dos
comentários a respeito
do desempenho.
- É preciso levar em conta que - Afetividade.
a avaliação é um processo do
- Família.
qual o aluno faz parte e por isso
deve estar ciente de seu
desempenho durante o
percurso avaliativo. Os critérios
de avaliação devem estar
claros para todos.
Situação desagradável - Um
dia que teve uma votação
para os grupos que falaram
que iriam arrumar a escola,
colocar tal coisa. Eram
vários grupos, eu votei para
o grupo que dizia que iria
melhorar a escola, mas no
fim ganhou e não fez nada
que prometeu.
Situação agradável – Os
incentivos dos professores,
as palestras e os trabalhos,
as brincadeiras, as
conversas, as paqueras.
Agradável mesmo foi quando
eu tirei o meu 1º A na
escola. Os meus colegas
- Quebra da confiança
por votar em um grupo
que não correspondeu
suas expectativas.
- Acreditou em falsas
promessas para
melhoraria da escola.
- Frustrado,
decepcionado e
desapontado por
acreditar em falsas
promessas.
- Ter expectativas
correspondidas.
- Poder confiar nas
promessas.
- Ser respeitado
- Ver o cumprimento
das promessas.
- Quando a escola possibilita a - Características
instituição do grêmio precisa
da adolescência.
acompanhar suas realizações e
instruir os alunos para
reivindicar seus interesses.
A escola é:
- espaço vital, onde a
aluna estabelece
relações de troca e de
confiança, ajuda os
colegas, recebe
incentivos de seus
professores e tem a
Sentiu-se
- Alegre por
estabelecer relações
de confiança e de
ajuda com os
colegas e
professores.
- Satisfeita por
- Mostrar que faz a
diferença.
- Ser reconhecida pelo
que faz.
- Estar com o outro.
- Refletir sobre o que
faz para poder
melhorar.
- A escola precisa reconhecer
que os alunos se expressam
por inteiro e que não é um
espaço somente de
aprendizagem, mas de
relações, por isso, deve
construir junto com os
estudantes o sentimento de
- Integração
afetiva-cognitivamotora.
- Relação euoutro.
- Os grupos.
117
que conheci que se tornaram
grandes amigos. Quando eu
conheci o Paulo Antônio.
Quando ajudei alguns
colegas da classe. Quando
pedi conselhos dos meus
professores, de alguns.
Quando mostrei que sou
capaz de fazer a diferença e
outras coisas muito, muito,
muito agradáveis é quando
acordo e me olho no espelho
e percebo que tenho que
melhorar mais e mais. E é
isso que me levanta e me
deixa com muito ânimo.
liberdade de pedir
conselho para alguns
deles;
- lugar para divertir-se,
conhecer pessoas,
fazer amigos e
paquerar.
- lugar de
conhecimento, com a
possibilidade de
aprender em diversas
atividades, palestras e
trabalhos;
- Julgamento positivo de
suas ações, que fazem
a diferença.
- Consciência de que
pode melhorar mais a
cada dia.
acreditar que suas
ações fazem a
diferença.
- Com prazer por
compartilhar
momentos felizes
com as pessoas.
- Acreditar na
possibilidade de
melhorar mais a cada
dia.
- Não viver na
mesmice.
pertencimento e de valorização
positiva deste local.
Situação desagradável –
Quando fui usar o banheiro,
isto quando fomos nos trocar
no banheiro, uma colega
empurrou a porta com tanto
impulso que acertou a minha
cabeça, no começo doeu,
mas nem ao menos ela me
pediu desculpas, ao sair do
banheiro já era intervalo, a
Cristina outra colega da
mesma sala começou a ficar
pálida, pois estava saindo
sangue, e eu nem percebi,
só fui perceber quando eu vi
a minha camiseta que estava
encharcada de sangue, ao
subir para ir para a sala a
professora logo perguntou: Quem foi que empurrou a
- Desconsideração por
parte da colega que não
se desculpou após um
incidente: empurrou a
porta do banheiro com
muita força que bateu
na testa da aluna e fez
um corte que causou
uma cicatriz.
- Mesmo sentindo-se
aborrecida procurou
mostrar lealdade e
preservou a identidade
da colega envolvida.
- Julgamento das ações
de um colega que
considerava mau aluno.
- Atitude desrespeitosa
por parte do colega fez
com que procurasse a
- Indignada pela
atitude da colega
que não se
desculpou.
- Irritada pela atitude
desrespeitosa do
colega.
- Orgulhosa por ser
a responsável pela
saída do aluno da
escola.
- Desapontada por
tirar uma nota
vermelha e não
conseguir
apresentar um bom
desempenho em
matemática.
- Ser respeitada.
- Fazer justiça diante
do que considera
errado.
- Apontar que não vai
bem em matemática.
- Quando um aluno se machuca
os funcionários da escola
precisam prestar os primeiros
socorros e informar os pais
sobre o ocorrido.
Pode-se trabalhar com os
alunos o respeito ao outro,
alertando-os para tomarem
cuidado com suas ações.
- Um aluno saiu da instituição, é
preciso tomar cuidado com
relação ao padrão de aluno que
a escola está estabelecendo: o
bom e o mau, aquele que não
corresponde ao padrão de bom
é expulso, fazer com que os
alunos acreditem nisso pode
perpetuar uma situação de
exclusão.
- A escola deve evitar que os
- Características
da adolescência.
- Integração dos
domínios
funcionais com
predomínio da
afetividade e do
conhecimento.
118
Aluna
12
Márcia
porta na sua cabeça? Eu
não quis responder, mas me
direcionou ao banheiro dos
professores e lavou a minha
cabeça, ligaram para a
minha mãe, minha mãe ficou
pianinha, nervosa. Até hoje
tenho essa cicatriz. Outro
caso desagradável ao entrar
para a sala um “colega”
começou com a falta de
respeito, eu fiquei tanto
irritada que sai da sala sem
a permissão da professora,
fui falar com o Joaquim, até
que finalmente eu consegui
tirar ele da escola, aliás, ele
sempre foi um mau aluno. E
também a primeira nota
vermelha um “E” que tirei na
prova de Matemática, OBS –
nunca me dei bem em
Matemática, professor
“Cristiano”.
Situação agradável – A
apresentação dos trabalhos
sobre a Copa, o agita galera
deste ano, os campeonatos
de vôlei e de futebol, as
palestras; umas das
principais e interessantes
sobre a saúde bucal, a
orientação sexual, falando
também sobre as drogas. As
palestras ajudaram bastante
os alunos.
estudantes construam
representações negativas sobre
seu desempenho. A aluna disse
que nunca se deu bem em
matemática e parece acreditar
que a situação não vai mudar.
direção e a mobilizasse
para tirar o aluno da
escola.
- Tirar a primeira nota
vermelha, que foi na
prova de Matemática.
- Não conseguir
apresentar um bom
desempenho nesta
matéria.
- Representação de
que não é boa aluna em
Matemática e de que
isso não vai mudar.
- A diversidade de
situações vivenciadas
na escola possibilita à
aluna encontrar outros
espaços de
aprendizagem e para a
discussão de assuntos
do seu interesse, que
ajudam a aluna e seus
colegas (as palestras).
- Oportunidade de
participar de eventos
diferenciados, que
possibilitam a interação
entre os alunos, como a
apresentação dos
Sentiu-se
- Satisfeita por
participar de
diferentes eventos.
- Ter contato com
assuntos que fazem
parte de seus
interesses e
esclarecem suas
dúvidas.
- Participar de eventos.
- A escola pode aproveitar os
interesses de seus alunos para
construir conhecimentos a partir
deles.
- Os eventos que envolvem a
participação dos alunos
possibilitam a interação e a
constituição de um grupo sólido
que se preocupa em preservar
o local onde estuda.
- Integração
afetiva-cognitivamotora.
.
119
trabalhos da Copa, o
agita galera e os
campeonatos
esportivos.
Situação desagradável – O
grêmio prometeu fazer
bastante coisas para os
alunos, colocar música na
hora do intervalo, colocar
cortina nas salas e acabou
fazendo nada. Alguns
colegiais destruíram a horta,
jogando papéis [e] pisando
nos vegetais. E esse
trabalho todas as 7ª e 8ª
ajudaram a construir e eles,
os colegiais, não
colaboraram em manter uma
escola mais bonita e alegre.
Eu acho que, pelo menos,
deveríamos ter cantado o
hino nacional no dia 7 de
setembro, a independência
do Brasil. Alguns alunos da
escola não colaboram em
deixar a escola limpa, jogam
papel de bala no chão,
rabiscam as mesas, e
deixam as salas sujas. Se
todos colaborassem, nós
teríamos uma escola melhor,
não para um e sim para
todos. E com uma grande
consciência cada vez
melhor.
Aluna Situação agradável –
13
Quando o professor Alberto
deixou as meninas
Patrícia participarem do campeonato
- As promessas feitas
pelo grêmio não foram
cumpridas.
- O trabalho realizado
pelas 7ª e 8ª não foi
valorizado pelos alunos
do ensino médio.
- Falta colaboração por
parte dos alunos para
manter uma escola
limpa, bonita e alegre.
- Desvalorização do dia
da Independência do
Brasil. O hino nacional
não foi cantado.
- A escola é um espaço
coletivo que deve ser
valorizado e agradável
para todos.
- Indignada e
frustrada pela falta
de ação do grêmio e
pelo desrespeito dos
alunos para com o
espaço escolar e o
trabalho dos
colegas.
- Preocupada com a
desvaloriação do dia
7 de setembro.
- Ver o espaço escolar
valorizado e
respeitado.
- Ver o seu trabalho e
dos demais colegas
respeitado.
- Desenvolver a
consciência da
importância do
coletivo.
- Os alunos precisam ter
espaço para serem ouvidos
sobre como vêem a escola em
que estudam. Questões sobre o
desempenho do grêmio, falta
de colaboração para manter a
escola limpa, desrespeito por
parte de alguns alunos para
com o trabalho de outros e o
desconhecimento da aluna dos
motivos de não se cantar o hino
nacional no dia 7 de setembro
são assuntos que devem ser
debatidos com os alunos para
que todos tenham clareza das
decisões tomadas pela direção
e professores da escola.
Quando os alunos são ouvidos,
a instituição pode buscar
caminhos para melhorar junto
com eles, dando a
oportunidade de cobrarem e de
serem cobrados por suas
ações. Deste modo, pode-se
desenvolver nos alunos o
respeito, a responsabilidade e o
sentimento de pertencimento à
escola.
- Relação euoutro.
- Característica
da adolescência.
- Possibilidade de
competir em um
campeonato
tradicionalmente
Sentiu-se
- Alegre por
participar do
campeonato.
- Praticar futsal.
- Participar do
campeonato de um
esporte que aprecia.
- A escola precisa desenvolver
a igualdade entre os gêneros,
promover campeonatos
femininos e masculinos nas
- Características
da adolescência.
- Afetividade.
- Integração dos
120
Aluna
14
Janete
de futsal.
disputado entre os
meninos, o futebol de
salão.
Situação desagradável –
Quando chove muito e
ficamos trancados na escola.
Quando o Antônio discutiu
com a professora de
geografia. Quando está
muito sol e temos que ficar
na quadra pequena, que é
descoberta, o sol acaba me
deixando com dor de cabeça
e vermelha. Existe muito
preconceito.
- Não ter a possibilidade
de sair da escola por
causa de uma forte
chuva.
- Presenciar uma
discussão entre o
colega e a professora.
- Desconforto por
praticar atividades na
quadra descoberta em
dias muito ensolarados;
além de causar dor de
cabeça a pele fica
vermelha e, com isso,
acaba sendo alvo de
brincadeiras pejorativas.
- Revela a existência de
preconceito por causa
da aparência.
- Estar junto com as
amigas e aproveitar um
dia inteiro sem brigas.
Situação agradável – Para
mim foi quando fui ao
playcenter, foi muito “loko”,
zoei até umas horas. Fui eu
e minhas amigas, pra mim
foi muito marcante porque foi
um dia que todas ficaram
juntas sem brigar, e foi
demais.
Situação desagradável – Foi
quando eu e minhas amigas
estávamos na fila do
refeitório e estava um
empurra, empurra. Foi
quando a dona Maria, a
inspetora de aluno, chegou e
- Ser empurrada pela
inspetora de alunos
enquanto estava na fila,
cair e derrubar as
amigas.
- Ser alvo de atenção e
motivo de risadas
várias modalidades é um
caminho.
conjuntos
funcionais.
- Descontente por
não poder sair da
escola por causa da
chuva.
- Constrangida por
presenciar uma
briga entre aluno e
professor.
- Preocupada por
ser vítima de
preconceito.
- Sair da escola
quando termina o
horário da aula para
fazer outras atividades
ao longo do dia.
- Estar em um
ambiente seguro e
sem brigas.
- Praticar atividades
em lugares
adequados.
- Ser aceita como é,
independentemente da
aparência que o sol
provoca.
- A escola precisa preservar a
saúde e a segurança de seus
alunos. É prudente cuidar para
que não saiam da instituição
em dias de temporais, por
exemplo. Deve-se, ainda,
organizar espaços adequados
para a prática de esportes.
- É preciso trabalhar com os
alunos o respeito às diferenças
de gênero, etnia etc.
- Características
da adolescência.
- Afetividade.
Sentiu-se
- Alegre e satisfeita
por estar junto com
as amigas em um
momento
descontraído.
- Estar em harmonia
com o grupo de
amigas.
- As excursões podem ser
momentos de socialização
entre os alunos e consolidação
do grupo.
- Os grupos.
- Todos os profissionais que
lidam com os alunos dentro da
escola são educadores, o
inspetor de alunos deve saber
lidar com as situações
tumultuosas sem precisar agir
de forma a causar acidentes,
- Características
da adolescência.
- Não ser alvo da
- Envergonhada e
atenção pública de
inadequada porque
forma desastrosa.
caiu e derrubou as
amigas na frente dos
colegas.
121
me empurrou e caímos, eu e
minhas amigas, no chão,
todo mundo deu risadas da
gente, então não só foi
marcante pra mim e pra elas
também.
Aluna
15
Leila
Situação agradável – Uma
situação muito agradável
aconteceu este ano, no mês
de agosto, assim que nós
voltamos de férias. O nosso
professor de Educação
Física organizou um
campeonato de vôlei e
passou nas salas de aula
chamando os alunos para
participarem. Eu me escrevi,
a única menina da sala,
como o vôlei é o meu
esporte predileto eu estava
muito contente em participar.
Jogamos cinco vezes e
perdemos no último instante,
ficamos com o segundo
lugar, mas pelo menos eu
representei a escola, não só
eu, mas todo o meu time. No
mês de outubro, no dia 31,
fomos receber as medalhas
e o troféu que ficou com a
escola, pois o campeonato
era entre escolas. Eu e o
pessoal do meu time ficamos
muito tristes em termos
ficado em segundo lugar,
mas ficamos contentes
também por não ter sido
desclassificados, pelo menos
porque caiu e derrubou
as amigas na fila cheia
de gente.
- Não julgou a atitude
da inspetora porque a
queda no meio dos
colegas foi o fato mais
marcante.
- Agradável surpresa
saber sobre o
campeonato de vôlei
organizado pelo
professor de Educação
Física
- Única menina da sala
que se prontificou a
participar do
campeonato.
- Possibilidade de
participar do
campeonato de seu
esporte predileto, o
vôlei.
- Representar, junto
com o time, a escola
que tanto orgulha.
- O time não foi
desclassificado do
campeonato.
- Importância de
representar bem a
escola até o último
momento, mesmo não
vencendo.
- Receber uma medalha
e um troféu pelo
segundo lugar.
- Julgamento adequado
da derrota sofrida no
campeonato: o time não
Sentiu-se
- Contente por
participar do
campeonato de seu
esporte predileto.
- Alegre porque o
time não foi
desclassificado em
contraposição à
tristeza sofrida pela
derrota no último
momento.
- Com orgulho por
representar a escola
onde estuda.
- Representar a escola
onde estuda e da qual
se orgulha.
- Participar de eventos
esportivos e extraescolares.
- Mostrar que vencer
não é mais importante
do que representar
bem a escola.
zelando sempre pela
integridade de todos. Pode-se
trabalhar a questão do respeito
ao outro e os alunos devem ser
alertados para tomarem
cuidado em situações que
envolvem um número maior de
pessoas.
- A participação em
campeonatos entre escolas
possibilita a interação dos
alunos de diferentes
instituições, promove o espírito
esportivo e de equipe e
possibilita a construção e
consolidação do sentimento de
pertencimento a uma
instituição.
- Características
da adolescência.
- Integração dos
conjuntos
funcionais.
122
Aluna
16
Ana
representamos a escola que
nós tanto nos orgulhamos.
Para mim essa foi uma
situação bastante agradável.
ganhou, mas não foi
desclassificado e pôde
representar bem a
escola.
Situação desagradável –
Aconteceu no ano de 2004
na escola, uma vez por mês,
aos dias de sábado, a escola
promovia à noite uma festa
para os alunos e para a
comunidade. Isso se
estendeu o ano todo, mas no
começo das aulas, em
fevereiro de 2005, teve a
última festa. Por causa de
besteira, uma aluna da
escola disse para a mãe que
viria para a festa, mas era
mentira, a mãe pediu para
ela estar em casa à meia
noite e deu uma hora e ela
não chegava, a mãe veio até
a escola e fez com que todo
mundo saísse para ver se
encontrava a filha, mas ela
não encontrou e por causa
desse fato a diretoria proibiu
a festa. E isso foi muito
chato para todos.
Situação agradável – Para
mim, a situação agradável
que eu passei na escola foi
no dia que teve a
apresentação da copa. Foi
muito legal, todas as minhas
amigas vieram para mostrar
os seus trabalhos. Mas a
melhor parte foi no final,
quando o Silvio colocou funk
- Considerou ruim o
cancelamento das
festas mensais por
causa da mentira que
uma aluna contou para
sua mãe: disse que ia à
festa, mas não foi.
- Julgamento da atitude
da aluna que mentiu
para mãe, considerando
uma besteira o que fez
porque atrapalhou a
diversão dos outros
adolescentes.
- Irritada pela
proibição da festa.
- Injustiçada porque
o cancelamento
ocorreu por causa
da atitude mentirosa
de uma aluna.
- Características
- Divertir-se
- Fatos isolados não podem
da adolescência.
- Ver justiça diante dos servir como referência para a
tomada de decisões sobre o
fatos.
que acontece na escola.
Quando as decisões que
afetam os alunos são tomadas
sem a devida explicação, os
estudantes podem sentir-se
injustiçados e desconsiderados.
- Mostrar os trabalhos
na apresentação da
copa.
- Divertir-se junto com
as amigas.
- Melhor parte no final,
dançar junto com as
amigas.
Sentiu-se
- Alegre por
compartilhar o
momento com as
amigas.
- Estar com o outro e
divertir-se.
- A escola precisa valorizar as
realizações dos alunos,
organizando mostras e
possibilitando momentos de
interação e descontração entre
os estudantes.
- Integração dos
conjuntos
funcionais com
predomínio da
afetividade.
- Relação euoutro.
123
pra gente dançar, eu me
diverti muito.
Situação desagradável – A
situação que eu passei que
foi muito desagradável, foi
quando teve uma excursão
para o playcenter, quando eu
estava na sexta série. No
começo até que foi legal,
todas as minhas amigas
estavam comigo, toda a
turma reunida, mas de pouco
em pouco fomos nos
separando, até que quando
estava escurecendo eu já
estava sozinha, aí os
monstros começaram a
chegar, o meu pé começou a
doer e eu não sabia nem
como chegar ao ônibus. Mas
no final, quando já eram
umas nove horas da noite,
eu encontrei uns meninos
que vieram no mesmo
ônibus que eu e eu fui
embora para o ônibus com
eles. Mas foi horrível.
Aluna Situação agradável – Foi [a]
17
apresentação dos nossos
trabalhos, com o título de
Silvana trabalho da Copa. As
pessoas, os nossos pais e
os alunos puderam estar
vendo os nossos trabalhos,
pra mim foi o melhor trabalho
da escola. Também tiveram
os campeonatos de futebol e
de vôlei, que foram muito
divertidos. E por último teve
- Separar-se do grupo
de amigas durante uma
excursão, ver-se
sozinha e perceber que
a noite já chegara.
- Enfrentar os monstros
do parque e uma dor no
pé sem ninguém por
perto.
- Ficar perdida e não
saber voltar ao ônibus.
- Depois de um dia
estressante conseguir
encontrar com meninos
conhecidos e poder ir
embora com eles foi
reconfortante.
Obs: contraposição: um
dia que começou legal e
se tornou horrível.
- Apreensiva e tensa
por se perder das
amigas.
- Cansada por ficar
andando e sentir dor
no pé.
- Insegura por estar
sozinha e não saber
voltar ao ônibus.
- Aliviada porque
encontrou colegas
que conheceu no
ônibus e foi embora
junto com eles.
- Aproveitar o passeio
na companhia das
amigas.
- Não se sentir
sozinha.
- Sentir-se segura.
- Quando há passeios os
- Relação eualunos precisam ser alertados
outro.
para a ocorrência de
imprevistos como perder-se do
grupo, por exemplo, e
orientados para as possíveis
ações que devem tomadas, tais
como: combinar um ponto de
encontro no início do passeio,
informar-se sobre como
anunciar que está procurando
alguém ou ligar para um
número de celular específico de
um dos organizadores da
excursão.
- Valorização da
diversidade de
atividades oferecidas
pela escola.
- Julgamento das
atividades
desenvolvidas na
escola, considerando
que a melhor foi o
trabalho da copa, que
deu visibilidade às
atividades realizadas
Sentiu-se
- Alegre por
participar dos
eventos.
- Satisfeita porque
seu trabalho foi
mostrado aos
colegas, pais e
comunidade.
- Mostrar suas
realizações aos pais,
colegas e toda a
comunidade.
- Ter contato com
atividades variadas.
- A escola pode valorizar as
realizações dos alunos
organizando mostras de seus
trabalhos e oferecer
possibilidades variadas de
interação e de aprendizagem
para facilitar a relação do aluno
com o conhecimento.
- Integração dos
conjuntos
funcionais:
afetividade, ato
motor,
conhecimento e
pessoa.
124
Aluna
18
Marta
a palestra do sorridente, foi
divertido.
pelos alunos.
- Apresentar o trabalho
da Copa para os pais,
colegas e outras
pessoas.
- Campeonatos de
futebol e vôlei e a
palestra do sorridente
possibilitaram diversão.
Situação desagradável –
Tiveram coisas que o diretor
prometeu que iria fazer e
não fez. O banheiro da
escola é um verdadeiro
lixeiro. A Olimpíada de
Matemática, que foi uma
verdadeira farsa.
- Não acredita nas
promessas do diretor e
na organização da
Olimpíada de
Matemática.
- Falta limpeza
adequada no banheiro
da escola.
- Frustrada pelas
falsas promessas da
direção.
- Irritada e
injustiçada porque
não acredita na
organização das
olimpíadas de
matemática.
- Indignada e
desrespeitada por
ver o banheiro da
escola muito sujo.
Situação agradável – Para
mim as excursões que têm
aqui no Machado de Assis
foram todas agradáveis. O
- Julgamento positivo da
escola: excursões,
ensino oferecido; aulas
de Educação Física,
Sentiu-se
- Satisfeita com as
possibilidades que
encontra na escola.
- Poder confiar nas
promessas e vê-las
cumpridas.
- Ser respeitada.
- Ter clareza dos
critérios de
organização das
competições.
- As promessas da direção
devem ser cumpridas, quando
não há possibilidade os
estudantes devem ser
informados, caso contrário se
sentirão enganados e deixarão
de acreditar na instituição. Esse
descrédito pode abalar a
relação do aluno com a escola
e, conseqüentemente, a
aderência dele aos eventos
propostos pela instituição.
- É preciso informar com
clareza aos alunos os critérios
de seleção, participação e
organização de eventos dos
quais irão participar. Deve-se
abrir um espaço para ouvir os
estudantes depois das
participações nos eventos para
saber como foram as
experiências deles, os pontos
positivos e negativos para
decidir, junto com eles, se
futuras participações valem ou
não a pena.
- Participar de
- Os alunos precisam ter
passeios.
espaço para serem ouvidos
- Ter acesso ao ensino sobre como vêem a escola em
de boa qualidade.
que estudam, é importante que
- Características
da adolescência.
- Integração dos
domínios
funcionais.
125
estudo daqui da escola, pelo professores,
menos para mim. As aulas
alimentação.
de educação físicas são
agradáveis para mim. Alguns
professores são agradáveis
para mim. A alimentação é
agradável, e muito.
Situação desagradável – As
festas que têm aqui no
Machado de Assis são
desagradáveis. Certos
professores são
desagradáveis para mim. A
limpeza, a maioria das
vezes, é desagradável. É
desagradável não ter aula de
informática, sendo que tem
computadores e também
poderia ter aulas diferentes
no laboratório, porque
quando vamos para o
laboratório fazemos lições
iguais fazemos na sala
normal.
Aluna
19
Gisele
- Senso crítico com
relação ao que é
ofertado pela escola:
- organização das
festas;
- não gosta de alguns
professores;
- limpeza deixa a
desejar;
- não tem aula de
informática mesmo
havendo computadores
na escola;
- o espaço do
laboratório é usado da
mesma forma que o
espaço da sala de aula,
não tem a possibilidade
de participar de uma
aula diferente neste
espaço.
Situação agradável - As
- Festa da Copa aberta
coisas que me agradaram
para todos os horários,
foram: a festa da Copa, que para os pais e
comunidade em geral.
foi aberto para todos os
horários, aos pais dos alunos - As palestras
e a várias pessoas. Mas não apresentadas.
só isso me agradou, também - O ensino oferecido.
quando tiveram as palestras - Os bons professores.
na escola, estudos, e alguns - Eleição na escola.
bons professores que eu
tive. E a eleição que teve na
- Alimentar-se
- Explorar as diversas
possibilidades de
ensino que a escola
pode oferecer.
a instituição conheça seus
alunos e saiba como eles
julgam o que é ofertado neste
espaço.
- Insatisfeita e
desanimada com as
festas oferecidas,
com alguns
professores e com a
limpeza da escola.
- Desestimulada por
saber que existe a
possibilidade de ter
aulas diferenciadas,
mas não tem.
- Ser ouvida sobre as
possibilidades
diferenciadas que a
escola pode oferecer.
- Os alunos precisam ter
espaço para serem ouvidos e
devem ser convidados a
participarem da organização
dos eventos promovidos pela
escola.
- Os professores devem ter
possibilidade para utilizarem os
diversos espaços da escola,
buscando investigar os
interesses de seus alunos e
partir deles para construir
outros conhecimentos,
organizando atividades
diversificadas de ensino.
- Integração dos
conjuntos
funcionais.
- Características
da adolescência.
Sentiu-se
- Valorizada por
poder apresentar o
trabalho na festa.
- Satisfeita por
assistir palestras, ter
bons professores e
participar das
eleições na escola.
- Confiante com o
ensino oferecido
- Ser reconhecida e
valorizada pelo que
faz.
- Apresentar para os
pais e a comunidade
seu trabalho.
- Participar de
atividades
diferenciadas.
- Confiar no ensino
oferecido pela escola
- A escola pode valorizar as
realizações dos alunos
organizando mostras de seus
trabalhos e oferecer
possibilidades variadas de
interação e de aprendizagem
para facilitar a relação do aluno
com o conhecimento.
- A organização de eleições
para o grêmio possibilita que a
escola trabalhe a cidadania
- Integração dos
conjuntos
funcionais com o
predomínio da
afetividade e do
conhecimento.
- Família.
126
escola.
Situação desagradável –
Para mim uma coisa
desagradável foi quando eu
fui comer na escola tinha um
fio de cabelo. E também as
festas juninas da escola são
muito desagradáveis que me
marcaram. E quando
apareceu um rato na escola.
- Interromper a refeição
por encontrar um fio de
cabelo na comida.
- Festas juninas
desagradáveis.
- Rato na escola.
pela escola e por
fazer parte das
decisões tomadas
na escola por meio
das eleições.
em que estuda.
- Ter uma relação mais
próxima com seus
professores.
com os alunos, a escolha de
candidatos e a análise de
propostas, preparando-o para
as eleições dos candidatos que
vão governar a sociedade da
qual ele faz parte.
- Com mal-estar por
encontrar o fio de
cabelo na comida.
- Insatisfeita com as
festas juninas
- Com medo por
encontrar um rato na
escola.
- Alimentar-se sem
receio do que pode ser
encontrado na comida.
Ser ouvida sobre as
festas juninas.
- Sentir-se segura na
escola.
- Integração dos
- A preparação de alimentos
deve seguir um rigoroso critério conjuntos
funcionais.
de higiene. A cozinha precisa
ser espaço restrito de acesso
somente aos funcionários que
cuidam da alimentação. Os
alunos também devem ser
orientados para tomarem
cuidado, prendendo o cabelo,
por exemplo, quando circulam
no refeitório, próximo da área
que recebem a comida.
- Os alunos precisam ter
espaço para serem ouvidos
sobre a escola em que
estudam. O descontentamento
da estudante com relação às
festas juninas poderia ser
modificado se fossem
explicados os critérios de
seleção e organização das
festas. Além disso, suas
opiniões e a de outros colegas
poderiam ser compartilhadas e
consideradas nas próximas
organizações.
- A segurança e saúde dos
alunos enquanto estão dentro
da instituição devem ser
asseguradas por responsáveis
pela escola, que precisam
tomar os devidos cuidados de
higiene, verificando se o local
127
Aluna
20
Tânia
Aluna
21
Luana
Situação – Eu não sei o que
escrever, mas o que
aconteceu não sei se foi
agradável ou desagradável.
Foi que todo mundo subiu
apressado pra ser o primeiro
da fila do refeitório, para
comer a famosa comida da
tia, “macarrão”. Estava uma
muvuca, um empurra,
empurra, tava uma baderna.
A Maria, que é a inspetora
de alunos, ficou gritando
para todos fazerem [fila]
única e ninguém quis
obedecer e empurrava ela.
Aí ela empurrou a Janete e
caímos a Janete, eu, Silvia,
Fernanda e Leila. Tinha que
ver! Foi uma comédia bem
dá hora, caiu uma em cima
da outra. Foi legal, mas não
gostamos da atitude que
tomou empurrando quem
não tinha a ver com a
bagunça na fila. Mas a nossa
oportunidade vai chegar de
se vingar dela. Tô zoando.
Situação agradável – Muito
agradável a aula de
Geografia. Muita amizade
legal, muito menos pessoas
bestas. Poucos dias de aula
de Matemática.
- Confusão na fila do
refeitório.
- Inspetora de alunos
que pediu ordem, não
foi atendida e acabou
empurrando uma aluna,
que caiu em cima das
outras.
- Julgou incorreta a
ação da inspetora por
ter empurrado uma
aluna que não estava
no meio do tumulto.
- Não tem clareza com
relação ao fato ocorrido,
se é agradável ou
desagradável, pois
achou o que aconteceu
engraçado no momento,
mas não aprovou a
atitude da inspetora.
Sentiu-se
- Confusa para
avaliar a situação
como agradável ou
desagradável.
-Injustiçada com
relação a postura da
inspetora.
- Ver justiça para com
a colega.
- Aula de Geografia.
- Estabelecer relação de
amizade com os alunos.
- Encontrar pessoas
mais interessantes, com
as quais tem afinidade.
- Menos aulas de
Matemática por
semana.
Sentiu-se
- Satisfeita com as
aulas de geografia.
- Alegre por ter
menos aulas de
matemática.
- Animada por fazer
amizades e
encontrar pessoas
interessantes.
- Ter amizades
confiáveis.
- Sentir-se bem
acolhida na escola em
que estuda.
- Ter interesses de
aprendizagem
correspondidos.
- Livrar-se da matéria
que a incomoda.
está limpo e em dia com a
desinsetização e desratização.
- O inspetor de alunos é um
educador e precisa agir de
modo respeitoso com os
estudantes para que seja
respeitado também.
- Os alunos precisam ser
instruídos para agirem com
respeito e organização em
momentos que envolvem um
grande número de pessoas.
- Os alunos podem ter uma
área do conhecimento de sua
preferência, entretanto a escola
deve despertar seu interesse
pelos diferentes assuntos e
assegurar a apropriação do
conhecimento das diversas
áreas.
- A interação entre os pares é
parte fundamental do processo
- Afetividade.
- Características
da adolescência.
- Integração dos
conjuntos
funcionais com o
predomínio da
afetividade e do
conhecimento.
- Relação euoutro.
- Grupo.
128
ensino-aprendizagem, os
professores podem valorizar o
trabalho em grupo para
possibilitar uma melhor relação
do estudante com o objeto de
conhecimento.
Situação desagradável –
Repetir a 8ª série. Aulas de
português e de Matemática.
Estudar dois anos de manhã,
muita bagunça, muitas
pessoas bestas. A minha
amiga saiu da escola.
Aluna
22
Situação agradável – Bom,
eu entrei na escola este ano
e foi uma experiência muito
Viviane boa. A minha situação
agradável foi eu ter feito
várias amizades, porque
quando eu cheguei aqui
ninguém gostava de mim,
hoje eu falo com todo
- Reprovação na 8ª
série.
- Não gosta das aulas
de Português e de
Matemática.
- Não tem afinidade
com os alunos.
- Amiga saiu da escola.
- Desanimada por
repetir a 8ª e ter que
estudar dois anos de
manhã
- Insatisfeita com as
aulas de Português
e de Matemática
- Descontente com
os colegas
- Solitária por perder
a amiga e não
encontrar afinidade
com outras pessoas.
- Ter um amigo em
quem confiar.
- Sentir-se bem
acolhida na escola em
que estuda.
- Aprender português e
matemática.
- Avaliação positiva da
experiência na nova
escola.
- Fazer amigos.
- Conquistar colegas
que antes não
conversavam com ela.
- Conversar com os
meninos do colegial.
Sentiu-se
- Confiante porque
conquistou amigos e
conheceu pessoas.
- Alegre por estar
próxima e conversar
com os meninos
mais velhos.
- Ansiosa para viver
- Ser aceita pelo
grupo.
- Conhecer pessoas
novas.
- Estabelecer relações
cordiais com todos.
- Relacionar-se com o
sexo oposto.
- Viver grandes
- Quando um aluno não
consegue corresponder às
expectativas de ensino, e não
vai bem na escola, é preciso
entender o que acontece com
ele. Repetir o ano, não ir bem
em algumas matérias ou não
conseguir se socializar com os
colegas pode ocorrer por várias
causas, é preciso conhecê-las
para poder agir
adequadamente com o
estudante, buscando despertar
seu interesse.
- A escola precisa preocupar-se
com a interação entre os
alunos, pois a relação é parte
fundamental do processo
ensino-aprendizagem, quando
um aluno se sente insatisfeito
com as pessoas do lugar onde
estuda pode perder o interesse
em freqüentar as aulas,
prejudicando o processo.
- Os adolescentes sentem
grande interesse pelos pares, a
escola deve propiciar a
interação entre os alunos,
possibilitando espaço para isso,
buscando conquistar o
interesse deles também para
outras questões.
- Integração dos
conjuntos
funcionais com o
predomínio da
afetividade.
- Relação euoutro.
- Relação euoutro.
- Características
da adolescência.
129
Aluno
23
Danilo
mundo. Outra situação
agradável é conversar com
os meninos do colegial. E
que eu conheci mais gente
na “Festa da Copa”, foi a
festa mais legal que teve
nesse ano. Por enquanto eu
só tive poucas situações
agradáveis, principalmente
no romance, que é uma das
situações mais agradáveis,
apesar de que ultimamente
as minhas amigas e eu só
estamos de rolo.
- Conhecer mais
seus romances.
pessoas na Festa da
Copa, a festa mais
legal.
- Vivenciar poucas
situações agradáveis na
vida amorosa, que
considera a parte mais
agradável da vida.
amores.
- Estar com o outro.
Situação desagradável –
Esse ano três meninas já
vieram para querer brigar
comigo por causa de
menino, só que eu não
briguei nenhuma vez, pois
não gosto de brigar. Bom, de
situação ruim foi só isso, não
teve mais nada.
Situação agradável – Uma
vez, quando tivemos o
campeonato de voleibol
entre escolas. Ficamos em
2º lugar, foi ótimo
campeonato; pois teríamos
aulas reduzidas para os
jogadores. Sendo assim, eu
como jogador não tive todas
as aulas.
-Desentendimento com
outras garotas por
causa dos garotos.
- Não gosta de brigas.
- Insatisfeita porque
não gosta de brigar.
- Manter um ambiente
sem brigas, cordial
para todos.
- Justificar os
acontecimentos, não
brigou porque não
gosta de brigar.
- Conflitos e desentendimentos
entre os alunos existem,
entretanto a escola precisa
trabalhar com eles que tudo
pode ser resolvido com uma
boa conversa, desenvolvendo o
respeito ao outro.
- Não ter todas as aulas
por um motivo justo, ser
jogador do time de vôlei
da escola e disputar o
campeonato,
conquistando o 2º lugar.
Sentiu-se
- Satisfeito e
realizado por ter
aulas reduzidas e
por ser jogador do
time de vôlei.
- Explicar o motivo da
redução de aulas.
- Justificar sua
ausência nas aulas por
ser jogador.
- Característica
- O envolvimento dos alunos
com os campeonatos não deve da adolescência.
prejudicar o andamento das
atividades cotidianas. Reduzir o
número de aulas para os
jogadores pode prejudicar o
desenvolvimento escolar.
Nestes casos, os alunos
deveriam ter as aulas repostas
em outros momentos, ou ainda
poderiam ser formados grupos
de estudo com alunos que
participaram das aulas para
repor o que foi perdido.
Situação desagradável –
- Não considera correto
- Prejudicado pelo
- Ter todas as aulas.
- O cancelamento das aulas,
- Relação euoutro.
- Características
da adolescência.
- Característica
130
Quando ficou sem água,
tivemos muitas das nossas
aulas cortadas. O mesmo
ocorreu quando faltou
eletricidade e por isso
tivemos muito mais aulas
cortadas.
Aluna Situação agradável –
24
Aconteceu aqui mesmo no
Machado de Assis, eu vim
Roberta para a escola e era dia de
eleição, nós usamos o
computador na escola.
Todos se prepararam para
votar, mas algumas pessoas
não levaram a cola e fizeram
boca de urna.
Aluno
25
João
Situação desagradável – Foi
no final do ano passado, eu
tinha uma colega chamada
Paola, a irmã dela se
chamava Pamela e estudava
na 6ª. Ela foi estudar no
Santo Agostinho, eu a vi só
uma vez na rua; ela disse
que queria muito voltar para
cá, mas o pai dela não quer.
Ela era tão legal, mas a irmã
dela não era tanto como ela.
Fazer o quê, a vida é assim!
Situação Agradável – Uma
situação agradável foi
quando eu comecei a
estudar no Machado de
Assis. Foi uma época muito
boa, conheci pessoas muito
legais que estão comigo até
hoje.
deixar de ter aula por
falta de água e de
energia.
cancelamento das
aulas.
mesmo que por motivos
imprevistos, deve ser reposto
para não prejudicar o
desenvolvimento dos alunos.
da adolescência.
- Característica
da adolescência.
- Participar das eleições Sentiu-se
e usar o computador
- Orgulhosa por
para votar.
poder votar.
- Escolher um
representante.
- Usar um recurso que
existe na escola e
parece não ser usado
com freqüência: o
computador.
- A organização de eleições
para o grêmio possibilita que a
escola trabalhe com o aluno a
cidadania, a escolha de
candidatos e a análise de
propostas, preparando-o para
as eleições dos candidatos que
vão governar a sociedade da
qual ele faz parte.
- Perdeu o contato com
a colega que tanto
gostava.
- Procurou saber o
motivo da saída da
colega.
- Aceitação dos
acontecimentos da vida:
“fazer o quê, a vida é
assim!”.
- Desanimada por
perder o contato
com a colega que
saiu da escola.
- Desiludida por
coisas que
acontecem na vida e
não estão ao seu
alcance modificá-las.
- Estar perto das
colegas.
- Buscar explicação
para o que acontece.
- Pode-se trabalhar a frustração - Característica
da adolescência.
sentida com uma perda, pois
isso acontecerá em outros
momentos da vida.
- Iniciar em uma escola
nova e conhecer
pessoas legais que
estão presentes até
hoje em sua vida.
Sentiu-se
- Acolhido na nova
escola.
- Seguro e alegre
por estar ao lado de
pessoas legais.
- Estar com o outro.
- Sentir-se seguro e
acolhido.
- A escola deve se preocupar
com o bom acolhimento dos
novos alunos
independentemente da idade.
- Relação euoutro.
- Afetividade.
131
Aluno
26
Denis
- Ficar de castigo por ter - Insatisfeito porque
levado uma
ficou de castigo.
convocação.
Situação agradável – O meu
momento agradável são
todos os meus amigos,
colegas, os professores.
Todas as minhas amizades
que eu conquistei na escola.
Esse foi o meu momento
agradável.
- Os amigos, colegas e
professores.
- Conquistar amizades
na escola.
Sentiu-se
- Satisfeito por estar
com os professores,
amigos e colegas.
- Alegre por
conquistar
amizades.
- Acidente com o vicediretor.
- Compadecido pelo - Colocar-se no lugar
acidente com o vice- do outro.
diretor.
- Participar das festas e
excursões oferecidas
pela escola.
Sentiu-se
- Satisfeito com as
festas e passeios.
- Ter momentos de
descontração e
alegria.
- Afetividade.
- A escola precisa propiciar
também momentos de
descontração entre os alunos.
Alguns estudantes só têm
acesso a eventos como festas
e passeios por meio da escola,
ao suprir esta necessidade ela
pode estabelecer um
relacionamento mais próximo
com os estudantes,
possibilitando a aderência deles
aos projetos oferecidos.
- Acidente com o
Jerônimo.
- Compadecido com
o acidente e suas
- Colocar-se no lugar
do outro.
- Quando ocorre um acidente
na escola os alunos podem
Situação desagradável – O
meu momento desagradável
foi quando o vice-diretor:
senhor Jerônimo caiu de
cima do telhado do pátio.
Aquele foi o dia mais
desagradável que eu tive na
escola.
Aluno Situação agradável – Foram
27
as festas aos sábados que
tinham. As festas que
Rodolfo tiveram, todas foram muito
legais. Também foram
agradáveis as excursões, a
do sesc foi legal, todas as
excursões etc.
Situação desagradável – Foi
o acidente do Francisco,
- Ter liberdade e não
ser castigado.
- Estar com o outro.
- Sentir-se aceito.
- Pode-se trabalhar com os
estudantes o respeito ao outro
e às normas e que toda ação
gera consequências. As regras
podem ser desenvolvidas com
a participação dos alunos para
que haja mais aderência por
parte deles.
- A escola é espaço de ensino,
aprendizagem, interação e
também de descontração entre
os alunos e entre eles e seus
professores, isso pode ser
considerado e valorizado por
todos.
- Características
da adolescência.
Situação desagradável –
Uma situação desagradável
foi quando eu tomei uma
convocação, fiquei de
castigo.
- Características
da adolescência.
- Relação euoutro.
- Quando ocorre um acidente
- Características
da adolescência.
na escola os alunos podem
- Afetividade.
sentir-se desorientados e com
isso as atividades rotineiras são
prejudicadas.
- Características
da adolescência.
132
quando ele caiu da telha, ele
passou muito [mal] e teve
que ir até no medico.
Aluno Situação agradável – Uma
28
coisa que ninguém
esperava, mas a nossa sala
Luciano chegou a semifinal do
campeonato da escola e
fomos vice-campeões no
campeonato de futsal.
Situação desagradável –
Quando acabou a água na
escola e ficamos sem beber
água, ficamos na seca.
Porém, fomos embora mais
cedo por causa da falta de
água na escola.
Aluna Situação agradável – Uma
29
situação que marcou a
minha vida foi quando teve a
Luciana apresentação da Copa, que
representei a República
Tcheca. Foi muito bacana,
tiveram muita música e
apresentações.
Situação desagradável –
Uma situação que marcou a
minha vida foi quando estava
tendo campeonato de
futebol, quando eu levantei
para ir ao intervalo caí. Além
de todo mundo rir da minha
cara, a outra menina caiu em
cima de mim e deslocou o
meu pé. Por causa desse
acontecimento fui ao hospital
e descobri que tinha
conseqüências.
sentir-se desorientados e com
isso as atividades rotineiras são
prejudicadas.
- A escola deve valorizar o
desempenho de seus alunos
nos campeonatos,
independentemente da
colocação conseguida, para
que eles possam compreender
que o importante é competir e
representar a instituição.
- Afetividade.
- Características
da adolescência.
- Afetividade.
- Surpreendeu-se com o
desempenho do seu
time, que chegou a
semifinal do
campeonato de futsal e
foi vice-campeão.
Sentiu-se
- Admirado com o
desempenho do
time.
- Alegre pelo vicecampeonato.
- Ser reconhecido pelo
desempenho
inesperado no
campeonato.
- Não ter água para
beber na escola, em
compensação ir mais
cedo para casa.
- Insatisfeito por não
ter água para beber.
- Aliviado por ir
embora mais cedo.
- Ter uma necessidade - A escola precisa ter uma boa
infra-estrutura para receber
orgânica satisfeita.
seus alunos, imprevistos
ocorrem, como a falta de água,
mas não podem prejudicar a
saúde do aluno e o andamento
das aulas.
- Ter o trabalho
- A escola deve valorizar as
reconhecido.
realizações dos alunos
- Ver o resultado do
organizando eventos para
que faz na escola.
apresentação dos trabalhos.
- Características
da adolescência.
- Não ficar em
evidência de forma
desastrosa (não “pagar
mico”).
- Estar com os amigos.
- Características
da adolescência.
- Apresentação da Copa Sentiu-se
e a comemoração deste - Satisfeita por
dia.
apresentar o
trabalho do país que
representou e com a
comemoração deste
dia.
- Sofrer um acidente na
frente de todos do
colégio.
- Foi motivo de risada
para todos da escola.
- Ao cair derrubou outra
menina que caiu em
cima do seu pé e o
deslocou.
- Ficar uma semana
sem poder sair de casa.
- Envergonhada
porque caiu na
frente de todos.
- Irritada porque
ficou uma semana
com o pé enfaixado
sem poder sair de
casa.
- Em dias de eventos que
reúnem um grande número de
alunos juntos a escola precisa
preparar-se para a ocorrência
de acidentes e a devida
prestação de socorro.
- Integração dos
conjuntos
funcionais, com o
predomínio da
afetividade e
conhecimento.
133
deslocado meu pé e fiquei
uma semana com o pé
enfaixado sem poder sair de
casa.
Aluna Situação agradável – Uma
30
situação agradável que
passou na minha vida foi
Renata quando teve o campeonato,
e quando tiveram as
apresentações da Copa, foi
ótimo. E principalmente as
excursões que tiveram,
foram maravilhosas. E
tiveram outras coisinhas a
mais que foram boas. E as
festas de dia de sábado
também. E as amizades que
são ótimas.
Situação desagradável –
Quando eu perdi o
campeonato, quando eu tirei
notas vermelhas, quando eu
subi para a diretoria. E
muitas coisas na minha
opinião que são
desagradáveis.
- Festa da Copa,
excursões,
campeonatos e
amizades.
- A escola possibilita
diferentes espaços de
interação e
aprendizagem.
Sentiu-se
- Satisfeita com as
diferentes
possibilidades
encontradas na
escola.
- Estar com o outro
- Participar de eventos
variados.
A escola pode valorizar as
realizações dos alunos
organizando mostras de seus
trabalhos e oferecer
possibilidades variadas de
interação e de aprendizagem
para facilitar a relação do aluno
com o conhecimento.
- Integração dos
conjuntos
funcionais.
- Relação euoutro.
- Perder o campeonato.
- Tirar notas vermelhas.
- Ir para a diretoria.
- Insatisfeita por ter
perdido o
campeonato, ter
tirado notas
vermelhas e ido para
a diretoria.
- Vencer disputas.
- Tirar boas notas.
- Não ir para a
diretoria.
- Ao promover os campeonatos
a escola precisa trabalhar com
seus alunos a importância do
espírito esportivo e da
participação. Não se pode
incentivar a valorização máxima
da vitória. Pode-se trabalhar
com os alunos a frustração
sentida após uma perda, pois
isso acontecerá em outros
momentos da vida. O aluno
precisa estar ciente de seu
processo de avaliação,
sabendo das possibilidades de
seu desempenho e como
melhorá-lo. O respeito às
normas escolares pode ser
trabalhado e que toda ação
gera consequências. As regras
podem ser desenvolvidas com
a participação dos alunos para
- Afetividade.
- Integração dos
conjuntos
funcionais.
134
que haja mais aderência por
parte deles.
Aluno
31
Jorge
Aluna
32
Marisa
Situação agradável – Uma
coisa agradável foi quando
os professores passaram um
trabalho sobre a Copa e
esse trabalho foi bom para
as minhas notas, que
melhoraram.
Sentiu-se
- Melhora nas notas,
- Satisfeito pela
decorrente da
participação no trabalho melhora das notas.
sobre a Copa.
- Ter notas boas.
- Ver o
reconhecimento da
sua participação nos
trabalhos.
Situação desagradável –
Uma coisa desagradável é
que as férias só começam
em dezembro, as férias
tinham que começar em
novembro.
- Demora na chegada
das férias que deveriam
ser iniciadas em
novembro.
- Cansado e
desestimulado com
a escola.
- Aflito para o fim
das aulas.
- Livrar-se da escola.
- Realizar outros
interesses fora da
escola.
Situação agradável - Uma
situação agradável foi
quando houve o trabalho da
Copa, todos participaram
ajudando a concluir o
trabalho, cada sala ficou
responsável por um país e
pesquisar sobre ele. Outras
coisas agradáveis foram as
palestras, que durante esse
ano falaram sobre orientação
sexual, sobre drogas, coisas
que hoje em dia vem
acontecendo. Os
campeonatos de futsal
também são legais, tanto o
feminino quanto o masculino.
- O trabalho sobre a
Copa possibilitou o
envolvimento de todos
os alunos.
- Participação coletiva
para concluir as
pesquisas.
- As palestras sobre
orientação sexual e
drogas abordaram
assuntos relevantes na
vida dos adolescentes.
- Os campeonatos
feminino e masculino de
futsal são legais.
Sentiu-se
- Realizada e
satisfeita por fazer
parte do trabalho.
- Valorizada por ter
palestras que tratam
de assuntos atuais:
“coisas que hoje em
dia vem
acontecendo”.
- Estimulada e
animada por ter
eventos variados.
Situação desagradável – As - Falsas promessas do
falsas promessas do grêmio. grêmio.
Desagradável também é a
- Senso critico da
- Frustrada pelas
falsas promessas.
- Desvalorizada pela
- A escola precisa valorizar as
realizações dos alunos
organizando mostras de seus
trabalhos e possibilitando
formas variadas para o bom
andamento do processo
ensino-aprendizagem.
- Nem todos os alunos se
interessam por tudo o que a
escola oferece e possibilita, por
isso alguns se sentem
desestimulados. É preciso
conhecer os estudantes, saber
de seus interesses, convidá-los
a participar de forma mais ativa
das atividades escolares.
- Participar e colaborar A escola pode valorizar as
nas atividades
realizações dos alunos
escolares.
organizando mostras de seus
- Ter o reconhecimento trabalhos, possibilitando
do seu trabalho e
momentos de interação e
participação.
descontração entre os
- Vivenciar
estudantes e oferecer
aprendizagens
possibilidades variadas de
diferenciadas.
interação e de aprendizagem
- Interagir com o outro. para facilitar a relação do aluno
com o conhecimento.
- Ter as expectativas
correspondidas.
- Fazer parte de uma
- Integração dos
conjuntos
funcionais:
afetividade e
conhecimento.
- Afetividade.
- Integração dos
conjuntos
funcionais com o
predomínio da
afetividade e
conhecimento.
- Relação euoutro.
- Pode-se aproveitar a criação
- Características
do grêmio para discutir
da adolescência.
questões de cidadania, direitos,
135
situação das carteiras nas
últimas salas, são muito
velhas. Esse ano de 2006
houve poucas excursões,
pelo menos podia haver
excursão para lugares
interessantes que a gente
gostasse. A falta de ronda
escolar na entrada e na
saída de cada período. [A]
comemoração da festa
junina deveria ter mais a ver
com o tema, e não ficar
inventando coisa. O dia da
independência do Brasil,
nem sequer cantou o hino
nacional do nosso país.
situação em que a
escola se encontra:
carteiras velhas e falta
de ronda escolar.
- Excursões não
satisfazem os
interesses dos alunos.
- Festa junina se
distância da sua
temática.
- Desvalorização do dia
da independência. O
hino nacional não foi
cantado.
desconsideração de
seus interesses.
- Indignada e
preocupada com a
situação da escola e
com a
desvalorização da
independência do
Brasil.
escola valorizada e
organizada.
- Ter seus interesses
contemplados nas
excursões oferecidas
pela escola.
- Valorizar seu país.
participação etc, incentivando
que os alunos acompanhem as
realizações da chapa
ganhadora e façam as devidas
cobranças daquilo que não foi
cumprido.
- Quando a escola faz uma
excursão deve preparar seus
alunos para o que será visto e
qual será o trabalho
desenvolvido a partir do
passeio. Além disso, os
passeios realizados também
precisam atender aos
interesses dos alunos, caso
contrário não haverá a
participação deles.
- Os alunos precisam ter
espaço para serem ouvidos,
questões sobe o desempenho
do grêmio, excursões que não
satisfazem seus interesses,
falta de ronda escolar, temas
das festas juninas e o fato de
não se cantar o hino nacional
são assuntos que devem ser
debatidos com os estudantes
para que todos tenham clareza
das decisões tomadas pela
direção e corpo docente da
escola. Quando os alunos são
ouvidos e suas opiniões são
consideradas a instituição pode
buscar caminhos para melhorar
junto com eles, dando a
oportunidade de cobrar e serem
cobrados por suas ações,
possibilitando, assim, o
desenvolvimento da ética e da
cidadania.
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Anexo 2
Comanda da redação apresentada aos alunos
Nome: ______________________________________________________________
Descreva uma situação agradável e outra desagradável que foram marcantes para
você na escola.
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Anexo 3
Exemplos de redações elaboradas
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140
141
142
Download

Regiane Rodrigues de Moraes A escola vivida por adolescentes