QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO: ANÁLISE EM UMA AUTARQUIA FEDERAL Vanessa Pinto Machado e Silva, M.Sc. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio Av. Maracanã, 585 apto. 902 - Tijuca - 20511-000 - Rio de Janeiro - RJ Tel: +55 21 2040015 E-mail: [email protected] Ana Cláudia Morrissy Machado, M.Sc. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio Rua Nascimento Silva, 182 apto. 401 - Ipanema - 22421-020 - Rio de Janeiro - RJ Tel: +55 21 2675486 +55 21 5132023 E-mail: [email protected] Maria Angela Campelo de Melo, Ph.D. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio Rua Marquês de São Vicente, 225, s.958L - Gávea - 22435-900 - Rio de Janeiro - RJ Tel/Fax: +55 21 2590541 +55 21 2595296 E-mail: [email protected] ABSTRACT This article analyzes the quality of working life at DNER's Technological Development Directory. Extrinsic and intrinsic work properties are analyzed and the importance of the latter, due to their influence upon motivation, and, consequently, on the organization's efficiency and productivity, is emphasized. In the sequence, organizational culture's aspects, such as participation, communication, motivation and their impact on DNER's internal environment for attaining a better performance, are discussed. At the conclusion, the lack of human resourses policy, the political interference on DNER and their consequences are verified. KEYWORDS Quality of Working Life, Extrinsinc and intrinsic work properties, DNER RESUMO O objetivo deste artigo é analisar a qualidade de vida no trabalho na Diretoria de Desenvolvimento Tecnológico do DNER, com base nos resultados de uma pesquisa desenvolvida nesse órgão. Inicialmente, procurou-se investigar o conjunto de fatores que influenciam essa qualidade de vida. Analisando propriedades extrínsecas e intrínsecas do trabalho, sugere-se a importância de se atingir os fatores intrínsecos, que são os verdadeiros motivadores, para assim obter maior eficiência e produtividade. Busca-se, então, verificar na cultura organizacional aspectos como participação, comunicação e motivação, identificando seu impacto no ambiente interno e analisando como o órgão pode obter um desempenho mais satisfatório. Conclui-se que a ausência de uma política de recursos humanos bem como a própria interferência política dentro do órgão faz com que a qualidade de vida no trabalho seja negligenciada, retratando um órgão enfraquecido, com um quadro funcional desmotivado, o que acaba por prejudicar o próprio desenvolvimento do país. INTRODUÇÃO A busca por um melhor desempenho organizacional requer a adoção de novas posturas administrativas. Para sobreviver no atual ambiente de mudanças, em um mundo de economia globalizada, muitas organizações despertam para a importância do seu relacionamento com os funcionários. Organizações são, acima de tudo, equipes e, portanto, refletem o que são seus profissionais. Se uma empresa busca inovar, então precisará de profissionais criativos, além de propiciar um ambiente capaz de levá-los a desenvolver suas potencialidades. Por entender que as atitudes das pessoas são dinâmicas e afetadas também pelas condições de seu trabalho, a qualidade de vida no trabalho envolve elementos referentes ao ambiente físico e social do trabalho e ainda a própria tarefa em si. Pode-se perceber, assim, a importância do tema e porque ele se caracteriza como uma área de grande interesse e impacto para a sociedade. Entretanto, no Brasil, nota-se que o assunto vem sendo negligenciado a pretexto da crise econômica e da falta de recursos financeiros. Com um alto índice de desemprego, uma sociedade de profundas diferenças sociais e com um dos mais baixos salários mínimos do mundo, a preocupação com a qualidade de vida no trabalho é limitada a questões salariais, benefícios, segurança. A abrangência do assunto, entretanto, é bem maior. Esse trabalho apresenta a análise da qualidade de vida no trabalho em uma autarquia federal, o DNER. Os resultados aqui apresentados enfocam a situação da Diretoria de Desenvolvimento Tecnológico do DNER (DrDTc) e foram obtidos mediante observação direta, análise documental do acervo do próprio DNER, entrevistas e reuniões com seus funcionários. O período de pesquisa foi de 6 meses, referentes aos meses de agosto a dezembro de 1998. As entrevistas foram realizadas com a aplicação de um questionário, que foi elaborado de forma a incentivar a participação e o envolvimento dos funcionários nas respostas, a fim de que, por meio de uma discussão informal, fosse possível saber um pouco sobre a história dos funcionários entrevistados no órgão e, assim, entender suas idéias e opiniões a respeito dos problemas atuais do DNER. O objetivo era retratar, da maneira mais realística possível, o cenário atual do DNER. A DrDTc é composta, atualmente, por cerca de 90 funcionários pertencentes ao quadro do próprio DNER, além do pessoal contratado que trabalha no local. Participaram dessa pesquisa 38 funcionários do quadro dessa diretoria, de diversos níveis hierárquicos e de diferentes funções, o que representa uma amostra significativa. Apresentam-se aqui, inicialmente, a teoria dos fatores higiênicos e motivacionais desenvolvida por Herzberg. A qualidade de vida no trabalho envolve a otimização conjunta desses dois fatores. Segue-se uma discussão de fatores envolvidos na busca por um ambiente organizacional com maior qualidade de vida no trabalho, tais como empowerment, criatividade e o desafio de alcançar a motivação intrínseca. Conclui-se o artigo com a análise da situação observada na DrDTc no que se refere ao problema da qualidade de vida no trabalho e, apresentam-se sugestões que, espera-se, possam contribuir para sua resolução, permitindo um melhor desempenho tanto da DrDTc como do próprio DNER, pois, expressam as necessidades e opiniões de seus funcionários. Espera-se que as reflexões aqui apresentadas ajudem em uma recuperação do DNER, que se faz necessária e urgente e, ainda, que se aprofundem as discussões sobre a relevância de se investir em qualidade de vida no trabalho. Isso deve ser uma meta de qualquer organização e do próprio governo, uma vez que representa o caminho da eficiência, da produtividade, do crescimento e de uma sociedade mais justa. A CONTRIBUIÇÃO DE HERZBERG As mudanças ocorridas na sociedade industrial em relação ao trabalho refletem a evolução da psicologia industrial neste século, contribuindo para a formação de um arranjo mais complexo que incorpora o bem-estar do funcionário à eficiência e produtividade (Warr e Wall, 1975). Uma das mais interessantes colaborações na área de organização do trabalho deve-se à Frederick Herzberg, que reconheceu na sua teoria que o conhecimento a respeito da natureza do homem, seus motivos e suas necessidades seriam extremamente valiosos para as organizações e seus indivíduos (Blanchard e Hersey, 1974). Em sua teoria dos dois fatores, Herzberg concluiu que os fatores que causavam satisfação e insatisfação no trabalho eram de natureza distinta, enquadrando-os em duas categorias diferentes, independentes entre si e que influenciavam o comportamento do trabalhador de diferenciadas formas. Verificou que pessoas insatisfeitas no trabalho preocupavam-se com o ambiente onde trabalhavam, e as pessoas satisfeitas ligavam-se ao trabalho propriamente dito. Herzberg concluiu que cinco variáveis pareciam determinantes para a satisfação no trabalho: realização, reconhecimento, crescimento/desenvolvimento, responsabilidade e o trabalho em si. Tais fatores foram denominados motivadores, porque pareciam capazes de ter um efeito positivo com relação à satisfação no trabalho e isso, freqüentemente, resulta em um aumento da capacidade total de produção de uma pessoa. São fatores intrínsecos ao desempenho do trabalho e que representam a verdadeira fonte de satisfação motivacional (Blanchard e Hersey, 1974). Em contraste, fatores como política e administração, supervisão, relações interpessoais e condições de trabalho foram fortemente relacionados à insatisfação no trabalho. Tais fatores foram chamados de higiênicos, pois sem eles não existe um ambiente saudável. São fatores extrínsecos ao desempenho no trabalho, relacionados com as condições sob as quais uma tarefa é executada, e cujo papel é simplesmente o de manter a insatisfação das pessoas no nível o mais baixo possível, não provocando crescimento da capacidade de produção do trabalhador (Warr e Wall, 1975). Os fatores higiênicos e motivacionais são apresentados na tabela 1. Tabela 1 - Fatores de Higiene e Motivação Fatores de Higiene O ambiente Programas e Administração Supervisão Condições de trabalho Relações interpessoais Dinheiro, status, segurança Fatores Motivacionais O trabalho Realização Reconhecimento Trabalho que é desafio Maior responsabilidade Crescimento e desenvolvimento Fonte: Blanchard e Hersey, 1974, p.70. Quando satisfeitas, as necessidades de higiene tendem a eliminar a insatisfação e a restrição no trabalho, mas fazem pouco para motivar o indivíduo em termos de realização ou capacidade. Já a satisfação dos motivadores permitirá o crescimento do indivíduo, seu desenvolvimento, permitindo muitas vezes, um aumento da sua capacidade. Conclui-se que é necessário buscar enriquecer a tarefa, o que significa o aumento intencional de responsabilidade, amplitude e desafio no trabalho (Blanchard e Hersey, 1974). Esse dicotomia proposta por Herzberg, de acordo com Warr e Wall (1975), entra em conflito com a idéia tradicional de que qualquer fator de trabalho pode causar satisfação ou insatisfação, dependendo do seu grau de presença ou ausência. ANÁLISE DE FATORES ENVOLVIDOS NA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO De acordo com Davis e Cherns (1975), o surgimento do tema qualidade de vida no trabalho deve-se a uma significativa mudança na visão dos benefícios da industrialização e seus custos sociais. Segundo Faunce e Dubin (1975), qualidade de vida no trabalho é, geralmente, definida em termos de autonomia, oportunidade de criatividade e reconhecimento na realização do trabalho. Davis e Cherns (1975) acrescentam, ainda, responsabilidade individual e interdependência. Esses elementos podem ser otimizados conjuntamente ou com outros valores sociais. Qualidade de vida no trabalho engloba, portanto, fatores extrínsecos e intrínsecos do trabalho, analogamente aos fatores higiênicos e motivacionais de Herzberg. Assim, percebe-se que o tema vai muito além de exigências contratuais envolvendo também, necessidades psicológicas que devem ser atendidas, conforme Trist apresenta na tabela 2. Tabela 2 - Propriedades do Trabalho Extrínsecas Pagamento justo e adequado Segurança no trabalho Benefícios Segurança Saúde Processo adequado Condições de emprego sócio-econômicas Intrínsecas Variedade e Desafio Aprendizagem contínua Autonomia/liberdade de ação Reconhecimento e apoio Contribuição social significativa Futuro desejável O trabalho em si: psico-social Fonte: Trist, 1981, p.30. Essa preocupação com a qualidade de vida já pode ser constatada em países desenvolvidos. Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, nota-se que necessidades básicas como saúde, segurança, salário e condições de emprego ainda não são satisfatórias, ficando portanto, a qualidade de vida no trabalho prejudicada. Com pretextos como crise econômica e falta de recursos, a qualidade de vida no trabalho nesses países vem sido tratada como assunto marginal e sido negligenciada. Entretanto, para sobreviverem no atual mundo de economia globalizada, devem começar a incentivá-la e compreender que a qualidade de vida no trabalho leva à eficiência organizacional, à inovação e ao aumento de produtividade. De acordo com Davis e Cherns (1975), a qualidade de vida no trabalho é um produto do modo de organização do trabalho com eficiência e lucrabilidade. A meta não é somente um melhor funcionamento do modo como o trabalho é organizado, mas também, uma sociedade melhor e, portanto, deveria ser uma meta do governo. Acima de tudo, a qualidade de vida no trabalho é uma questão de respeito ao trabalhador e de reconhecimento da sua importância no contexto organizacional, na geração de recursos e como peça-chave na produtividade. EMPOWERMENT: O CAMINHO PARA UM MELHOR DESEMPENHO Segundo Walker (1975), cada vez mais evidencia-se que diferentes distribuições de poder e estruturas de trabalho resultam não somente em um ambiente de trabalho melhor, mas também, em uma maior eficiência organizacional. O empowerment, com sua filosofia não-burocrática e orientada à participação, vem sendo considerado, nos anos 90, como a solução para o problema de operações ineficientes (Bowen e Lawler III, 1995) O empowerment não é simplesmente delegação de tarefas, e sim, uma questão de poder, de quem o exerce e como. O empowerment trata de reconhecer o valor dos funcionários e delegar-lhes poder de decisão suficiente e responsabilidade para que possam desempenhar suas tarefas e resolver problemas sozinhos (Morris e Haigh, 1997). Apesar dos esforços na busca do empowerment, diversos estudiosos, como atesta Argyris (1998), ainda percebem a existência de muitas dúvidas sobre esse tema, sobre onde e como implementá-lo, sobre seu próprio funcionamento. O autor observa que a presença do antigo modelo de "comando e controle" ainda é muito significativa. Ao mesmo tempo que as empresas buscam enfatizar a importância de uma maior autonomia para os funcionários, ainda mantêm o controle de sistemas de informação, estratégias, condições de mercado, processos e ferramentas. Os funcionários precisam sentir o que é o empowerment e, para isso, é necessário que as organizações mudem suas políticas, práticas e estruturas, a fim de criar e sustentar o empowerment (Bowen e Lawler III, 1995). Percebe-se que, em meio a transição para o próximo século, ainda há muita tradição a ser superada, fazendo com que o verdadeiro potencial do empowerment fique desperdiçado. A CRIATIVIDADE NAS ORGANIZAÇÕES É fundamental haver estímulo à criatividade nas organizações a fim de que se produza um ambiente proprício ao desenvolvimento de novas idéias, à resolução criativa de problemas organizacionais com um melhor aproveitamento das potencialidades de seus recursos humanos e materiais. Entretanto, segundo Alencar (1995), o que se tem observado é que muitas empresas vêm estimulando mais a dependência e passividade do que a iniciativa e a criatividade. Essa autora destaca que a presença do autoritarismo, da intransigência e a ausência do espírito de equipe, de reconhecimento e segurança são um grave empecilho à criatividade. Motta e Netto (1994) destacam a necessidade de estimular-se, no ambiente organizacional, uma alta qualidade nas relações interpessoais, pois isso facilita o uso de novas ferramentas de trabalho e o desenvolvimento do formas mais criativas de trabalho. Alencar (1998) ressalta que se um funcionário sente que pode ser punido, criticado, ridicularizado ou ameaçado por sua idéias, ou ainda, percebe-se pouco valorizado no ambiente de trabalho, dificilmente irá expressar idéias novas e utilizar seu potencial criativo a favor da organização. Locais de trabalho onde há excesso de burocracia e um precário sistema de comunicação e não se encontra iniciativa, variedade, espírito de equipe e integração, tornam-se ambientes sem possibilidades do funcionário encontrar significado no trabalho, motivação, qualidade de vida e estímulo para usar seu potencial criativo (Valenti e Silva, 1995). OS FATORES MOTIVACIONAIS Um dos maiores desafios atuais é fazer com que as pessoas contribuam, com o máximo de suas capacidades e talento, para o sucesso organizacional e, para isso, vem-se questionando o próprio comportamento humano (Caudron, 1997). As teorias motivacionais acusam dois enfoques diferentes em relação ao estudo do comportamento humano, conforme descreve Bergamini (1998). No enfoque behaviorista, ou comportamentalista, as pessoas são consideradas praticamente iguais umas às outras e, portanto, sujeitas ao mesmo tipo de reações. Assim, no contexto organizacional, os funcionários deveriam ter seu comportamento mudado com a adoção de comportamentos pré-determinados pela orientação da organização. Logo, seria necessário encontrar um meio de estimular o comportamento capaz de resolver, eficazmente, todos os problemas de falta de motivação. Daí o surgimento de controladores extrínsecos como prêmios e punições. Essa diretriz ainda é muito utilizada. O outro enfoque surge a partir dos estudos de Herzberg, no decorrer da década de 70. Fatores extrínsecos ao indivíduo não oferecem motivação, pois somente garantem seu bem-estar físico. Para alcançar a verdadeira motivação, deve-se buscar as necessidades internas dos indivíduos, pois a motivação intrínseca é oriunda do mundo interior de cada um (Bergamini, 1998). Para Hackman e Lawler III (1979), o que se deve procurar, portanto, é estabelecer uma maior congruência da necessidade de satisfação individual e o avanço das metas organizacionais. O que o funcionário deseja não é um guia infalível para a qualidade de vida, mas deve haver um consenso multilateral, já que uma empresa é uma aliança de indivíduos, que podem ter interesses divergentes (Walker, 1975). Algumas características do trabalho podem propiciar a motivação intrínseca dos funcionários. Hackman e Lawler III (1979) enfatizam que uma maior autonomia faz com que os funcionários sintam-se mais responsáveis pelo seu trabalho e conscientes que sucessos e falhas são resultado direto do seu trabalho. Os autores ainda ressaltam que o trabalho deve gerar resultados significativos para o indivíduo, fazendo-o desenvolver suas habilidades, seu talento. Isso pode ser obtido por meio de uma maior variedade no trabalho. Um dos maiores erros cometidos pelas organizações, de acordo com Argyris (1994), é querer adotar a motivação intrínseca quando ainda estão comprometidas com o antigo sistema de valores extrínsecos. A COMUNICAÇÃO No caso da comunicação organizacional, deve-se criar canais fáceis de usar para que os funcionários possam, além de serem ouvidos, expor suas dúvidas e preocupações. Linhas diretas com os funcionários, caixas de sugestões, levantamentos, sessões de debate, reuniões em grupos são alguns instrumentos que podem ser utilizados pelas empresas de forma a incentivar uma comunicação mais aberta, mais informal (Caudron, 1997). Deve-se garantir aos funcionários todas as informações de que precisem para fazer um bom trabalho, incluindo as metas globais e a missão da empresa. A necessidade de feedback também deve ser destacada. Para Caudron (1997), o feedback proporciona aos empregados uma forma de medir seu desempenho, além de mostrar que a organização interessa-se pela opinião dos seus funcionários. Brown (1976) ressalta que informar a um funcionário sobre seus resultados, sobre seu progresso, aumenta sua eficiência pessoal, servindo de incentivo. Cada vez mais, deve haver oportunidade dos empregados participarem e expressarem sua opinião. Funcionários que se sentem valorizados por seus esforços, ou seja, que são reconhecidos por sua contribuição, tornam-se suportes positivos e entusiasmados em relação a todos os aspectos da organização (Reynierse, 1994). Brown (1976) ainda alerta sobre a dimensão da linha de comunicação, que não deve ser extensa, caso contrário possibilita que informações cheguem distorcidas aos funcionários. O SISTEMA DE INCENTIVOS Outro fator que afeta a qualidade de vida no trabalho é o sistema de compensação, que deve procurar ser justo e adequado, avaliando fatores como o treinamento necessário, responsabilidade da função, condições de trabalho etc... De acordo com Cherns (1976, in Melo, 1997), os sistemas de suporte social, como recompensas e promoções, devem ser compatíveis com os objetivos da organização e devem ser projetados de modo a reforçá-los. A grande maioria das organizações usa algum tipo de programa para motivar seus empregados mas, atualmente, a crença de que as pessoas farão um melhor trabalho caso lhes seja prometido algum tipo de incentivo é posta em dúvida, segundo Kohn (1995), o qual considera que as recompensas têm sucesso em assegurar, apenas, uma submissão temporária. Quando se trata de produzir mudanças duradouras, de atitude e de comportamento, recompensas e punições mostram-se ineficazes, pois uma vez que tais incentivos desaparecem, as pessoas voltam aos seus antigos comportamentos. Isso explica-se pelos incentivos serem motivadores extrínsecos e, logo, não alterarem e nem criarem condições de haver um compromisso duradouro, só funcionando temporariamente. Além disso, Brown (1976) ressalta que programas de incentivo podem induzir conflitos e provocar uma rivalidade entre os funcionários, ameaçando o senso de cooperação no grupo, de equipe. Todas as pessoas preocupam-se com aspectos financeiros e, quanto menos se recebe, maiores as preocupações. Entretanto, isso não significa que o dinheiro seja um motivador, como se acredita como um reflexo da cultura "monetarizada". De acordo com Brown (1976), exceto sob condições de salários muito baixos ou durante períodos de inflação, o dinheiro é um dos incentivos menos poderosos. Como Kohn (1995) enfatiza, não é porque pouco dinheiro irrita e desmotiva que mais dinheiro conseguirá aumentar sua motivação. Não se deve concluir que dobrar o pagamento de uma pessoa pode resultar em um trabalho melhor. Há muito mais coisas a serem consideradas. O salário não pode substituir um bom ambiente de trabalho. Pfeffer (1998) adota uma simples filosofia: se um funcionário vai trabalhar em uma empresa só por dinheiro, também a deixará pelo dinheiro. Portanto, as empresas devem procurar que seus funcionários permaneçam ligados ao trabalho, à cultura e ao grupo, e não à alguma coisa, como dinheiro, o que qualquer outra empresa também pode oferecer. Assim, enfatizar o pagamento como a principal recompensa encoraja as pessoas a permanecerem na organização pelas razões erradas. Mais importante é o que a pessoa faz, seu papel na organização e não quanto custa. Para Caudron (1997), deve-se pagar as pessoas de forma competitiva pois, se os empregados sentirem que foram adequadamente recompensados, não ficarão tão preocupados com seus salários e, assim, a empresa poderá obter o máximo com suas recompensas não financeiras. O salário, porém, tem significativo valor simbólico, sinalizando o que e quem é valorizado na organização. Desse modo, o salário ajuda a disseminar a cultura organizacional e as empresas devem se certificar que a mensagem enviada por sua prática salarial é compreendida. Não é possível, por exemplo, incentivar grupos de trabalho à cooperação, proporcionando uma política salarial com base no desempenho individual (Pfeffer, 1998). Segundo Pfeffer (1998), tornar pública a política salarial também oferece uma mensagem simbólica poderosa. Sistemas de pagamento mais abertos e transparentes transmitem uma mensagem positiva sobre eqüidade do sistema e confiança da empresa nos seus funcionários. É uma tarefa difícil gerir a atividade humana em uma sociedade como a brasileira, que atravessa um grave problema de desemprego, na qual o salário mínimo é um dos mais baixos do mundo e que apresenta profundas diferenças sociais. Fazer com que as pessoas se ajustem à nova realidade mundial de mudanças, flexibilidade, competitividade é, sem dúvida, um dos grandes desafios do próximo século. Mas, o que se pode concluir é que se o objetivo for o desenvolvimento, o aumento da produtividade, a eficiência, a inovação, deve-se ter em mente que nada supera a motivação intrínseca e a qualidade de vida no trabalho deve ser prioridade organizacional e nacional. A DIRETORIA DE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO DO DNER Para compreender o quadro atual do DNER, é necessário conhecer sua história. A história moderna do rodoviarismo no Brasil, de acordo com Cavalcanti (1995), inicia-se no governo de Washington Luís (1926-1930), com a criação do Fundo Especial para a Construção e Conservação de Estradas de Rodagem Federais. Entretanto, o governo de Washington Luís não cogitou da criação de uma organização pública especializada e permanente, necessária para gerenciar o setor rodoviário. Em 1937, pela Lei n.o 467, Getúlio Vargas transforma a até então existente Comissão de Estradas de Rodagem Federal em departamento autônomo, que passou a constituir o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem - DNER. Até 1945, no entanto, o DNER ainda não havia sido organizado estruturalmente, não contando sequer com um regimento interno para delimitar suas áreas de atuação. Assim, em 1945, a Lei Joppert veio a reorganizar o DNER, dando-lhe autonomia administrativa e financeira e criando, também, o Fundo Rodoviário Nacional, que destinava recursos para a construção, conservação e melhoramentos rodoviários, provenientes da arrecadação do imposto único sobre combustíveis líquidos e lubrificantes líquidos e gasosos, importados ou não. Em 1968 e 1969, a Fundação Getúlio Vargas executou estudos da reforma administrativa do DNER, com o objetivo de aumentar sua eficiência, ou seja, desenvolver sua capacidade operacional para captar e processar recursos e, com isso, cumprir satisfatoriamente as metas atribuídas pela Política Nacional de Transportes (FGV, 1968). Como resultado, essa Fundação obteve informações necessárias para a compreensão do Sistema DNER, o que possibilitou propor mudanças que provocaram redefinição de objetivos, reformulação e desdobramentos de unidades no DNER, além de promover a implantação acelerada da rede rodoviária federal. Em 1971, com a aprovação do Regimento do DNER, contendo as diretrizes fundamentais para a ação institucional do órgão, consolidou-se o processo de reforma administrativa orientada pela Fundação Getúlio Vargas. Segundo Cavalcanti (1995), no período compreendido entre 1970 e 1973 a euforia rodoviária assolava o país, privilegiando o setor em detrimento de outros. A ênfase dada às rodovias concentrou poder e prestígio no DNER. Era o auge do DNER. Em 1973, inicia-se a crise do petróleo no Oriente Médio e o DNER vê desaparecer seus recursos. As estradas começam a se deteriorar e a organização não consegue reverter a situação. Marca-se o início da decadência do DNER (Cavalcanti, 1995). O DNER chega aos anos 90, ressalta Cavalcanti (1995), em situação crítica. Sua imagem torna-se desgastada junto à sociedade, devido ao estado deteriorado das estradas, que provoca desgaste prematuro dos veículos, altos custos operacionais e acidentes, e também por decisões autoritárias e irritantes para o usuário, como foi a implantação do selo pedágio. Internamente, constata-se um quadro funcional desmotivado por falta de perspectivas funcionais claras e por uma estrutura organizacional imensa. Ainda segundo Cavalcanti (1995), no período áureo do DNER, em decorrência de uma contratação acelerada de estudos e projetos, houve uma ampliação da oferta de serviços de consultoria, fazendo com que as empresas buscassem mão-de-obra especializada para atenderem à demanda de serviços. Isso provocou uma grande migração de técnicos experientes do DNER para a iniciativa privada, provocando um esvaziamento considerável no quadro de pessoal do órgão. Para atenuar essa questão, promoveram-se concursos públicos para a contratação de pessoal, que ao ser contratado, não recebeu treinamento adequado e transferência de conhecimentos do pessoal experiente remanescente. Cavalcanti (1995) também observa que, mesmo com os concursos, o déficit de pessoal continuava elevado. Isso incentivou o processo de contratação de empresas com a finalidade de fornecer mãode-obra para suprir tais deficiências. Essa prática, que deveria ser passageira, provocou um aumento contínuo e desordenado de contratações, colaborando para um conseqüente quadro futuro de desmotivação, imobilismo e desestímulo dos funcionários. Em 1990, reformas inesperadas impostas pelo Governo Collor atingiram um DNER enfraquecido e foi determinada a transferência da sede do DNER para Brasília que trouxe, pelo menos, dois efeitos negativos: a divisão física da Administração Central em duas unidades distintas, com parte funcionando no Rio de Janeiro e parte em Brasília, e o crescente acirramento das disputas entre os grupos do Rio e Brasília, ao menos no período inicial de transição. Cortes de pessoal foram feitos e aposentadorias daqueles em condição de fazê-lo foram, por sua vez, estimuladas, acrescenta Cavalcanti (1995), provocando conseqüências de grande impacto no universo técnicoorganizacional do DNER. Assim sendo, o DNER, então um órgão debilitado institucionalmente, conforme constata Cavalcanti (1995), foi submetido à Reforma Administrativa do Governo Collor, que tratou de reduzir sua estrutura, colocou funcionários em disponibilidade e transferiu sua sede para Brasília. Com isso, constata-se que a orientação do governo de enxugamento da máquina pública federal predominou na reforma do DNER, implementando uma nova ordem organizacional e desconsiderando aspectos relevantes como coordenação intra-organizacional, estrutura e as pessoas que trabalham no órgão. De acordo com as estatísticas mais recentes do DNER, que datam de 1995, a rede rodoviária federal apresenta-se com 7,5% do total em péssimo estado, 18% em mau estado, 34,3% em estado regular e, apenas 40,2% em bom estado. Focalizando-se agora a unidade pesquisada, é conveniente mencionar que a Diretoria de Desenvolvimento Tecnológico (DrDTc) era denominada de Instituto de Pesquisas Rodoviárias (IPR) até 1990, quando a reforma administrativa do Governo Collor alterou sua denominação (DNER, 1994). Utilizar-se-á essa nova denominação, embora a Diretoria seja conhecida, inclusive internacionalmente, pela antiga sigla. É importante destacar que a DrDTc é uma diretoria do DNER, localizada no Rio de Janeiro e dividida em: Divisão de Capacitação Tecnológica, Divisão de Apoio Tecnológico e Divisão de Pesquisas, sendo que cada divisão tem seus setores específicos. A DrDTc tem como função a programação e a elaboração de estudos e pesquisas para o desenvolvimento tecnológico do setor rodoviário. ANÁLISE Deve-se destacar que a maior parte das observações aqui relatadas é reflexo na DrDTc de problemas comuns que atingem o órgão como um todo e, portanto, muitas vezes, o órgão será referido por entender-se que a abrangência da questão mencionada ultrapassa os limites da DrDTc. A questão política representa um dos fatores mais significativos no contexto do DNER. Segundo seu regimento interno, o DNER é uma autarquia federal, o que significaria ter autonomia administrativa, operacional e financeira. Embora seja uma autarquia de direito, não o é de fato, tamanha é a interferência política nos assuntos do órgão. Todas as diretorias, por exemplo, são ocupadas mediante indicações políticas, sendo cargos em comissão. Portanto, nem sempre são ocupadas por pessoal de carreira do próprio DNER, podendo assim vir a ocupar um posto de diretor uma pessoa que não pertença ao quadro do órgão, que desconheça seus problemas e dificuldades, enfim, a própria cultura organizacional. Além disso, as mudanças de governo geralmente implicam substituição dos cargos em comissão, o que pode acarretar descontinuidade administrativa. Ressalta-se ainda que o DNER não conta com recursos próprios, cabendo ao governo a aprovação do seu orçamento, o que é feito, em geral, sem considerar as reais necessidades do órgão. A falta de recursos devido às restrições orçamentárias fez com que, no segundo semestre de 1998, praticamente todo o programa de cursos ministrados pela Diretoria de Desenvolvimento Tecnológico fosse interrompido, prejudicando não só o treinamento e aperfeiçoamento do pessoal jovem, como também a reciclagem dos mais antigos. Toda essa interferência governamental nos assuntos internos do DNER tem reflexos consideráveis sobre seu pessoal, gerando uma desmotivação generalizada. Os funcionários da DrDTc ressentem-se de uma política salarial defasada e distorcida, da ausência de um plano de carreira estabelecido, além da falta de autonomia no seu trabalho, fator esse que freia suas atividades em andamento e limita-os intelectualmente. Praticamente, tudo é afetado em função de decisões do governo e as restrições orçamentárias limitam as iniciativas dentro do órgão. Os funcionários sentem-se marginalizados do processo decisório, que fica a cargo do governo. Na DrDTc observou-se uma falta de interação entre suas divisões e, quase não há reuniões, atividades que reunam todo o grupo, dificultando assim, uma maior integração da unidade e a participação dos funcionários, o que colabora para o enfraquecimento desta. Tratando-se do funcionalismo público, percebe-se que o velho modelo de "comando e controle" é ainda muito forte, a burocracia muito presente e as distâncias hierárquicas muito marcantes, centralizando o poder nas mãos de uma minoria. Todos esses fatores restringem a participação, a integração, o senso de equipe, a autonomia e a criatividade. Com a inibição de um processo criativo é impossível que os funcionários desenvolvam novas idéias para resolverem os problemas encontrados no seu trabalho. E, não se pode esquecer, que ninguém conhece melhor os problemas de uma empresa que seus próprios funcionários. Com relação ao fluxo de informações dentro do órgão, os funcionários percebem-no deficiente e registram a dificuldade, na DrDTc, de obter informações, de saber o que está acontecendo dentro de uma organização de abrangência nacional, como o DNER, identificando um fluxo de informação indireto, burocrático, lento e a falta de boletins informativos. Nesse contexto, 60% dos funcionários entrevistados declararam não estarem satisfeitos com suas atividades, sentindo necessidade de uma maior valorização profissional, de reconhecimento financeiro por meio de uma política salarial corrigida e da disponibilidade de recursos para poderem realizar seus serviços de maneira adequada. Com relação aos salários, os servidores do DNER, como funcionários públicos federais, reclamam de uma política salarial defasada, não reajustada há mais de quatro anos e, com sérias distorções. Para se ter idéia, atualmente, o salário inicial de engenheiro do DNER não chega a R$ 700,00. Como resultado, uma grande parte dos aprovados no último concurso público já deixou o órgão. Um levantamento feito pelo DNER em 1998 constata uma preocupação com falta de pessoal, pois o quadro técnico atual do DNER apresentam total de 70% do pessoal com menos de 5 ou com mais de 20 anos de serviço no órgão, havendo apenas 30% do pessoal na faixa de 6 a 20 anos de serviço. A faixa que vai de 22 até 30 anos de serviço é a que concentra maior número de pessoal ativo, representando 36,5%. Ainda há cerca de 5% do pessoal ativo com mais de 30 anos de serviço e que ainda não se aposentou. A situação é difícil, uma vez que não estão ocorrendo concursos públicos para a admissão de novos técnicos para o DNER, os baixos salários oferecidos, por sua vez, não atraem nem mantêm novos técnicos no órgão e uma grande quantidade de técnicos está próxima da aposentadoria. A qualidade de vida no trabalho envolve a otimização conjunta de fatores extrínsecos e intrínsecos ao trabalho. Os extrínsecos, analogamente aos fatores higiênicos de Herzberg garantem um ambiente de trabalho saudável, já os intrínsecos motivam os funcionários e garantem que estes realmente estarão envolvidos nas suas tarefas e, assim, a empresa terá o que há de melhor nos seus funcionários, será mais eficiente, produtiva e competitiva. Como pode-se observar na análise apresentada, os fatores higiênicos de Herzberg ainda não estão consolidados no órgão, fazendo com que a preocupação com o ambiente de trabalho supere a preocupação com o trabalho em si. A insegurança, o problema salarial, a falta de integração e participação elevam o nível de insatisfação dos funcionários e não proporcionam um ambiente saudável. A própria cultura organizacional tem atuado negativamente na estrutura do DNER. Característica muito presente no funcionalismo público, o modelo de "comando e controle", a cultura hierárquica que valoriza uma estrutura burocrática, aumenta o distanciamento entre os funcionários e sua chefia, promove a centralização do poder nas mãos de uma minoria e a falta de participação de grande parte dos funcionários no processo decisório, não desenvolve senso de equipe, autonomia e criatividade, impedindo portanto o desenvolvimento de fatores intrínsecos importantes. Deve-se ressaltar ainda os reflexos da situação do DNER perante a sociedade. Toda a influência externa no órgão restringe sua atuação, dificultando o estabelecimento de metas e desgastando sua imagem junto à sociedade, devido ao péssimo estado de conservação da grande maioria das estradas. Por sua vez, o DNER ressente-se da falta de recursos próprios, sem o qual é impossível administrar a malha rodoviária e, da influência política no setor rodoviário, que faz com que, muitas vezes, fatores políticos prevaleçam sobre fatores técnicos. Assim, em decorrência de alterações político-econômicas, da redução de seus recursos e da ausência de uma política nacional de gestão de transportes, que permite que interesses regionais e políticos interfiram na atuação do órgão, constata-se que o DNER vem perdendo a capacidade de gerir a malha rodoviária federal. O momento atual do DNER é de grande expectativa. Seus servidores não sabem ao certo qual será o futuro do órgão. Especula-se que haverá um novo processo de reestruturação que transforme o DNER em uma Agência Governamental. Na DrDTc, nota-se um clima de grande desmotivação, apreensão, medo e resistência. CONCLUSÃO O panorama do DNER é preocupante e torna-se imprescindível a mudança desse quadro, afinal, a infra-estrutura rodoviária é essencial para a economia brasileira. Buscar uma melhoria nas condições de qualidade de vida no trabalho é um passo para o crescimento e desenvolvimento do órgão. Se não houver empenho administrativo na melhora dos chamados "fatores higiênicos", a fim de se obter um ambiente de trabalho saudável, a insatisfação continuará sendo um grande problema e, cada vez mais, ter-se-á uma estagnação em termos de crescimento e desenvolvimento do órgão. Devido a sua característica de "comando e controle", a cultura organizacional tem atuado de forma negativa no órgão, sendo necessário iniciar uma mudança cultural, conscientes de que uma mudança dessa ordem, em qualquer órgão, é extremamente complexa pois as culturas organizacionais não se modificam prontamente, sendo um processo difícil, lento e que requer grande empenho administrativo. Deve-se alertar que mudanças são fundamentais e imprescindíveis à sobrevivência de uma organização. Entretanto, um processo de mudança liderado por fatores políticos, externos ao órgão e que negligenciem a importância do fator humano no contexto organizacional estão, certamente, condenados ao fracasso. O quadro atual do DNER é um bom exemplo disso. Destacam-se, no entanto, dois problemas que limitam uma possível tentativa de reestruturação no órgão: de um lado, uma máquina administrativa completamente dependente das decisões políticas e engessada dentro do DNER e, do outro, uma mão-de-obra, que, apesar de qualificada, mostra-se desmotivada e insegura quanto ao seu próprio futuro. Tratar desses dois problemas concomitantemente seria uma solução para que não só a DrDTc, mas também o DNER como um todo, voltassem a funcionar com mais eficácia e de acordo com sua missão, mas, para isso, há um grande entrave que é a burocracia governamental. O DNER e, portanto, também a DrDTc vêem-se tolhidos em suas ações por serem totalmente dependentes dos recursos e da decisão governamental para a realização de qualquer serviço. Uma medida prioritária seria resgatar a posição de direito de autarquia federal do órgão, buscando junto ao governo, mais autonomia, recursos e reconhecimento para o DNER. Para isso, um maior empenho administrativo e político das diretorias do DNER, inclusive da DrDTc faz-se necessário. Os recursos poderiam vir por meio da criação de algum mecanismo de arrecadação de fundos para o DNER, que viessem diretamente para seu caixa, e não para uma caixa única do governo para posterior distribuição. Dessa forma, o DNER não ficaria tão suscetível a mudanças do governo e teria mais autonomia, não dependendo tanto de decisões externas. Além disso, seria necessária a discussão junto ao governo sobre salários e plano de carreira dos seus funcionários. Essa discussão seria necessária para que os funcionários, principalmente os de terceiro grau, passassem a receber salários dignos e compatíveis com as funções que eles ocupam. A questão do plano de carreira, por sua vez, é importante para que as pessoas sintam seus trabalhos valorizados e tenham uma perspectiva do que podem vir a alcançar ao longo de sua vida profissional. Em relação ao plano de carreira, faz-se necessário que o governo reveja a questão da ocupação de cargos de confiança do DNER, como as diretorias, por pessoas alheias ao meio rodoviário. É certo que a disputa política existe e, em parte, possibilita a realização de muitos ajustes e a obtenção de certos recursos, mas entende-se que é insustentável a ocupação de cargos de direção por pessoas que não sejam afeitas à área rodoviária, desconheçam seus problemas e que, muitas vezes, nem mesmo tenham uma formação acadêmica na área tecnológica. Percebe-se a necessidade de melhorar a comunicação interna do órgão, por meio da implantação de um sistema de boletins informativos mensais, visando uma atualização dos acontecimentos dentro não só da própria DrDTc com também do restante do DNER. Esse sistema de comunicação deve ter um caráter dinâmico e incentivar a participação dos funcionários representando, assim, um meio destes expressarem suas dúvidas e opiniões. É de extrema importância que o DNER busque desenvolver um fluxo de informação direto, aberto e confiável, o que evitaria um ambiente de rumores e boatos, o qual favorece a distorção de fatos. Percebe-se na DrDTc que a maioria dos funcionários sente falta de uma maior integração, o que dificulta sua participação e o fluxo de informações. A constante falta de recursos limita as iniciativas dentro do órgão e inibe o processo criativo na medida que as pessoas sentem-se desmotivadas com o enfraquecimento do DNER. Com a inibição do processo criativo, é impossível que os funcionários desenvolvam novas idéias para buscar solucionar os problemas encontrados e, não se pode esquecer que ninguém conhece melhor os problemas de uma empresa que seus próprios funcionários. O DNER, como um todo, precisa resgatar sua imagem junto à sociedade. A sociedade quer ver resultados: rodovias conservadas, modernas e seguras. Os problemas do DNER, tais como o esvaziamento do seu quadro técnico, a interferência política que atrapalha a gestão do órgão e a falta de recursos financeiros para executar uma malha rodoviária moderna e segura têm de ser levados ao conhecimento da sociedade, que é diretamente afetada pela situação precária do sistema rodoviário. Poder-se-ia fortalecer o contato do órgão com universidades, escolas técnicas, outras empresas, estabelecendo-se parcerias, convênios, estágios, palestras, cursos, de modo a mobilizar cada vez mais a sociedade na questão dos transportes no país, incentivando pesquisas, buscando soluções para enfrentar tais problemas. Uma grande vantagem competitiva está no fato de saber gerenciar os recursos humanos de forma a conseguir um melhor desempenho organizacional. As organizações que investirem em qualidade de vida no trabalho estarão melhor preparadas para o futuro, tratando-se portanto, de uma questão de produtividade e, principalmente, de sobrevivência. Para isso, faz-se necessário um esforço do órgão investindo em comunicação, autonomia, treinamento, criatividade, espírito de equipe e sistemas de compensação adequados. O sucesso organizacional vem do aproveitamento das capacidades e talentos do seu conjunto de funcionários. Sabe-se que a incorporação das sugestões aqui mencionadas será uma tarefa difícil, mas cabe ao DNER e seus técnicos estudar meios de viabilizá-las, por meio de uma administração mais voltada para os recursos humanos, fator essencial para fortalecer o órgão e torná-lo mais apto a enfrentar os desafios futuros. De fato, o Brasil parece ter-se esquecido da importância do DNER no desenvolvimento do país, muito embora a maior parte do produto nacional seja transportado por via rodoviária. O mau estado de conservação em que se encontra a infra-estrutura rodoviária brasileira representa um grave empecilho ao desenvolvimento econômico brasileiro. Percebe-se uma degradação da imagem do DNER, aliada a perda de poder e prestígio do órgão. É importante que o DNER se faça mais presente no cenário político e econômico do país, mostrando seu trabalho e tornando públicas suas necessidades e limitações. Essa pode ser uma maneira de recuperar a confiança e a compreensão dos cidadãos e, paulatinamente, retomar o lugar de destaque que já ocupou no cenário brasileiro. BIBLIOGRAFIA ALENCAR, E.L.S. (1995) - Desenvolvendo a Criatividade nas Organizações: O Desafio da Inovação, in Revista de Administração de Empresas, 35(6), pp.06-11. ALENCAR, E.L.S. (1998) - Promovendo um Ambiente Favorável à Criatividade nas Organizações, in Revista de Administração de Empresas, 38(2), pp.18-25. ARGYRIS, C. (1994) - Good Communication That Blocks Learning, in Harvard Business review, 72(4), pp.77-85. ARGYRIS, C. (1998) - Empowerment: The Emperor's New Clothes, in Harvard Business Review, 76(4), pp.98-105. 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