SOMOS TODOS CAPIAUS - 2 DNER OU DNIT – MUDOU O NOME E A PORCARIA CONTINUOU Aristoteles Rodrigues Professor e Psicólogo, Mestre em Ciência da Religião. Membro do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa” da UFJF. [email protected] Dirijo veículos há 50 anos. Tenho carteira de habilitação para tanto há 47 anos. Não me vejo como um piloto, mesmo tendo dirigido muitos anos no Paraná, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Rondônia, em Minas Gerais, além de poucos anos em outros Estados do Brasil. Considerava o DNER abaixo de qualquer crítica; quando mudaram seu nome para DNIT, lembrei-me da velha piada que fizeram sobre o Dauphine e o Gordini, seu sucessor: mudou o nome e continuou a mesma porcaria. Talvez o DNIT tenha conseguido superar a piada dos veículos de boa memória, da Renault: as placas que indicam a distância que ainda existe até, por exemplo, a praça de pedágio, invariavelmente mentem. Não confio no DNIT, como não confiei no DNER, enquanto administrador das estradas federais do Brasil: nenhum dos dois jamais soube a velocidade que um carro de passeio pode atingir em retas, curvas, curvas perigosas, lançantes, subidas etc. O veículo que uso tem três anos de idade e não é sofisticado; é verdade que mantenho seus pneus em bom estado. Invariavelmente, posso fazer a curva, com indicação de velocidade máxima de 80km/h com pelo menos 30km a mais, sem qualquer indício de risco. A velocidade indicada sugere, sempre, que seja para veículos grandes, como caminhão ou ônibus, ignorando a diferença de estabilidade que há entre estes e aquele. Há mais de 20 anos, um engenheiro rodoviário comentou que na França a manutenção das estradas é feita por um homem, que tem a seu encargo um trecho, pelo qual é responsável: com uma lambreta que o carrega, mais algumas ferramentas e dois pequenos baldes de piche quente, ele percorre diariamente seu trecho, de ida e volta. Para em qualquer pequeno buraco que tenha aparecido e preenche-o, o que o impede de virar buracão. As obras do DNER/DNIT são sempre monumentais, caras, longas, porque os buraquinhos terão virado buracões (excetuados, por uma questão de justiça, aqueles produzidos por incêndios, acidentes, banhos de ácido, de gasolina). Ele não entendia por que no Brasil não se fazia a mesma coisa. A estrada que liga Juiz de Fora a Belo Horizonte (BR-040) tem tido trechos duplicados; seu traçado é um dos mais indecentes que conheço, sem razão aparente, ainda que possa ter outras razões, que não desejarão que fiquem aparentes. A estrada que liga Cuiabá a Porto Velho, a BR-364, tem um trecho (apenas um) que resistiu não menos que 10 anos à construção, sem precisar de reparos: fica logo abaixo de Vilhena. De início, pareceu que o responsável fosse o solo, mas após alguns anos deu para perceber que era o leito: a estrada foi construída por diversas empresas e esse era de uma, em particular (ainda que eu não lembre o nome de nenhuma delas). O trecho da BR-040 que liga Petrópolis a Juiz de Fora levou alguns anos, desde a concessão, até o ano passado, para ter o final duplicado pela concessionária – é um trecho pequeno, que vai da entrada sul da cidade até seu limite, na direção Belo Horizonte, algo como 15km. Mas o contrato exigia um prazo bem menor, que foi sendo postergado, postergado, postergado. Essa mesma estrada é considerada como tendo um dos melhores traçados, entre as do Brasil. Ainda assim, seu pedágio é absurdamente caro, seja considerando a distância que percorre (oficialmente, 160km), seja o volume de veículos que recebe. Quando se entra no Estado do Paraná, passando por Presidente Prudente, depara-se com um pedágio proibido de funcionar, por decisão judicial. A decisão referese à estrada alternativa, que deveria ser mantida pelo consórcio, mas não foi. Anuncia-se que este trecho da BR-040, que liga Juiz de Fora a Belo Horizonte, receberá um número enorme de radares (alguns, já em funcionamento). A velocidade, já assinalada em alguns trechos, foge de qualquer raciocínio – há locais em que se ordenam 100km/h e 100m à frente abaixa para 80km/h. A falta de senso poderia ser vista como uma pegadinha, não fosse o valor das multas que os radares geram, com lucro para todos, incluída a eventual subconcessionária dos mesmos. O valor arrecadado em multas pelos níveis de governo deve ser investido em educação no trânsito, o que definitivamente não é feito. DNER OU DNIT: pode ser poço de corrupção, pode ser poço de ignorância, pode ser poço do que se queira que seja. Mas mudou o nome e a porcaria continuou. E vai continuar, enquanto não nos tornarmos urbanos, porque estrada com traçado feito por pessoas que estudaram para isso, coberta por camada impermeável, é coisa de cidade. Não pode dar certo, porque somos capiaus.