III Curso Nacional de Ventilação Mecânica SBPT, São Paulo, 2008 Como diagnosticar e tratar a hiperinsuflação pulmonar Marcelo Alcantara Holanda Prof Adjunto, Medicina Intensiva/Pneumologia, Universidade Federal do Ceará UTI respiratória do Hospital de Messejana, Fortaleza [email protected] O que vamos abordar ? • Como diagnosticar a hiperinsuflação em pacientes sob VM • Métodos tradicionais e pesquisas recentes para minimização da hiperinsuflação Prevalência de pacientes com DPOC ou asma sob VM • Asma – 2% das admissões UTI, 1 a 2% dos pacientes sob VM – Mortalidade: 10% • DPOC – 7 a 10 % dos pacientes sob VM – Mortalidade: 25% • III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica, J Bras Pneumol, 2007: Jezler S, Holanda MA, José A, Franca S – VM na Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica Barbas CSV, Pinheiro BV, Vianna A, Casati A, José A, Okamoto V – VM na crise de asma • Estebán A et al. Evolution of mechanical ventilation in response to clinical research. Am J Respir Critical Care Med, 2008 Eefeitos da hiperinsuflação Piora da mecânica auto PEEP auto PEEP + ~ 70% dos pacientes em VM têm PEEPi - DPOC / asma a PEEPi ~ 5,74 +/- 5,02 cmH2O UTIresp, Fortaleza, 2004. + DC retificação do diafragma Como detectar a hiperinsuflação? • Exame clínico • Pausa expiratória • Pressão esofágica ou transdiafragmática • Curvas de mecânica • Medida do volume ao final da inspiração • Imagem Como detectar a hiperinsuflação? • Exame clínico • Pausa expiratória • Pressão esofágica ou transdiafragmática • Curvas de mecânica • Volume pulmonar ao final da inspiração • Imagem Detecção da auto-PEEP pelo exame clínico Inspeção, palpação e ausculta Kress, O’Connor, and Schmidt AJRCCM 1999;159:290 • 503 observações – 71 pacientes • Inspeção, palpação e ausculta Examinador VPP VPN Médico 1,00 0,63 Residente 0,89 0,55 Aluno 0,93 0,53 Todos 0,95 0,58 É fácil diagnosticar a presença, difícil descartá-la Detecção da auto-PEEP pelo exame clínico Inspeção, palpação e ausculta Kress, O’Connor, and Schmidt AJRCCM 1999;159:290 A incidência de PEEPi é alta em outras situações clínicas além de DPOC ou asma Quando “desconfiar” de hiperinsuflação no paciente em VM: • História de DPOC, asma ou broncoespasmo • Pacientes com VE maior que 10L/min • Frequência respiratória > 20irpm (↓ Te) • Resistência elevada de vias aéreas (Raw>15cmH2O) • Hipotensão inexplicável revertida durante desconexões do ventilador Como detectar a hiperinsuflação? • Exame clínico • Pausa expiratória • Pressão esofágica ou transdiafragmática • Curvas de mecânica • Volume pulmonar ao final da inspiração • Imagem Aparecimento da auto-PEEP no manômetro zero fluxo P=0 0 Fluxo exp P=10 10 0 Pausa Expiratória Mensuração da Ppausa e da auto-PEEP Requer relaxamento muscular completo 12 = PEEPi 0 Pressão 35 Pausa expiratória P via aérea P alveolar Tempo Como detectar a hiperinsuflação? • Exame clínico • Pausa expiratória • Pressão esofágica ou transdiafragmática • Curvas de mecânica • Volume pulmonar ao final da inspiração • Imagem Pressão esofágica por experiência própria... Pes Fluxo Pva Vol Invasiva, complicada, reservada para pesquisas em fisiologia Como detectar a hiperinsuflação? • Exame clínico • Pausa expiratória • Pressão esofágica ou transdiafragmática • Curvas de mecânica, clássicas • Volume pulmonar ao final da inspiração • Imagem Um paciente com broncoespasmo intenso em VM invasiva Pva P resistiva tempo Curva fluxo vs volume em paciente com DPOC e broncoespasmo VCV, VC:400mL FLuxo:60L/min f:12 irpm PEEP:4cmH2O Exp Ins Pré-BD Pós-BD DPOC, PS:15, PEEP:5cmH2O Fluxo L /s 0 Fluxo expiratório - auto-PEEP Tempo, 12s Curva fluxo vs volume em paciente com DPOC e secreção CPAP PS: 15 cmH2O PEEP: 5 cmH2O Exp Ins Pós-aspiração DPOC, PS:15, PEEP:5cmH2O Fluxo L /s 0 Freqüência respiratória, TE Tempo, 12s Como detectar a hiperinsuflação? • Exame clínico • Pausa expiratória • Pressão esofágica ou transdiafragmática • Curvas de mecânica, clássicas • Volume pulmonar ao final da inspiração • Imagem Volume pulmonar ao final da inspiração Tuxen DV: Am Rev Respir Dis 1989, 140:5-9. Medida do volume pulmonar ao final da inspiração (VEI) Apnéia de 20 a 40s após inspiração normal VEI > 1,4L → hiperinsuflação significativa Como detectar a hiperinsuflação? • Exame clínico • Pausa expiratória • Pressão esofágica ou transdiafragmática • Curvas de mecânica • Imagem Visualização da hiperinsuflação no Raio-X Antes Após BD + desinsuflação >24,7cm, Hiperinsuflação* * Johnson MM et al. Radiographic assessment of hyperinflation. Chest, 1998 Como tratar a hiperinsuflação no paciente em VM ? • Estratégias ventilatórias: – No momento da intubação – Na fase de ventilação controlada – Na fase de suporte parcial da ventilação • Terapias adjuvantes – Administração de broncodilatadores – Aspiração de secreções respiratórias Como tratar a hiperinsuflação no paciente em VM ? • Estratégias ventilatórias: – No momento da intubação – Na fase de ventilação controlada – Na fase de suporte parcial da ventilação • Terapias adjuvantes – Administração de broncodilatadores – Aspiração de secreções respiratórias Efeito da ventilação manual com ambu em animal auto-PEEP Hiperinsuflação iatrogênica Blanch L, Bernabé F, Lucangelo U. Measurement of airtrapping, intrinsic PEEP and dynamic hyperinflation in mechanically ventilated patients. Resp Care, 2005 Como tratar a hiperinsuflação no paciente em VM ? • Estratégias ventilatórias: – No momento da intubação – Na fase de ventilação controlada – Na fase de suporte parcial da ventilação • Terapias adjuvantes – Administração de broncodilatadores – Aspiração de secreções respiratórias III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica VENTILAÇÃO MECÂNICA NA DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC) Coordenador: Sérgio Jezler (BA) Relator: Marcelo A. Holanda (CE) Objetivos clínicos Diminuição da hiperinsuflação Reversão do broncoespasmo Objetivos da VM (monitorização) Manter: Ppico < 45 cmH2O Ppausa < 30 cmH2O PEEPi < 10 cmH2O Raw < 20 cmH2O Estratégias ventilatórias Ti e Te VC:6 a 9mL/kg Fluxo: 40 a 80l/min f < 10 a 12 irpm 7,40 > pH > 7,20 Hipercapnia permissiva Titular a PEEP? 30 0 Pressão Pva Palv P max P alveolar 30 0 Aumento de fluxo na VCV Fluxo Volume Tempo, (s) 30 P max P alveolar 30 0 0 Pressão Pva Palv Aumento de Volume corrente - VCV Texp necessário p/ exalação do VC Fluxo Volume Tempo, (s) Qual a melhor combinação de ajustes da VM em um paciente em estado de mal asmático? VC mL 500 f rpm 15 Fluxo L/min 30 Ti (s) 1 Te (s) 3 I:E 500 15 60 0,5 3,5 1:7 1:3 O Te é o principal determinante do alçaponamento de ar 500 12 60 0,5 4,5 1:9 500 20 60 0,5 2,5 1:5 Como tratar a hiperinsuflação no paciente em VM ? • Estratégias ventilatórias: – No momento da intubação – Na fase de ventilação controlada – Na fase de suporte parcial da ventilação • Terapias adjuvantes – Administração de broncodilatadores – Aspiração de secreções respiratórias A modelo da queda d’água para explicação do efeito da PEEPe em pacientes com PEEPi Efeito da PEEP facilitando o disparo em paciente com PEEPi por hiperinsuflação Baixos níveis de PEEP são benéficos para interação paciente x ventilador Marini, 1989 Dessincronia paciente x ventilador e VPS na DPOC Fluxo Pressão Tobin, NEJM, 2001 Tassaux et al. Am J Respir Crit Care Med, 2005 - O uso de VPS (ciclagem em geral com 25% do pico de fluxo) em pacientes com DPOC pode gerar dessincronia -Qual o impacto fisiológico da elevação do limiar de fluxo inspiratório para a ciclagem da PS ? -Métodos: -10 pacientes intubados com DPOC – interação otimizada -Teste com limiares de 10 a 70% do pico de fluxo inspiratório -Monitorização fisiológica Tassaux et al. Am J Respir Crit Care Med, 2005 Dessincronia paciente com DPOC e ventilador, retardo na ciclagem da PS Tassaux et al. Am J Respir Crit Care Med, 2005 Esforços ineficazes Ciclagem (%-PFI) : 10% 25% Traçado de um paciente representativo 50% 70% Tassaux et al. Am J Respir Crit Care Med, 2005 Esforço muscular respiratório Tassaux et al. Am J Respir Crit Care Med, 2005 O incremento do limiar de ciclagem da PS melhora a sincronia e pode reduzir a auto-PEEP. Significado clínico ? Paciente com DPOC grave, difícil desmame, transferido para UTI-Respiratória • Necessitando sedação frequente por agitação no ventilador • Uso de m. abdominal Fluxo 20% Pressão Esforço exp Paciente com DPOC grave, difícil desmame, transferido para UTIR • Re-ajuste da VPS - ciclagem Fluxo 45% Pressão Paciente com DPOC grave, difícil desmame, transferido para UTIR Melhor tolerância à VPS. Desmame com sucesso Impacto do re-ajuste do critério de ciclagem? Paradoxical responses to positive end-expiratory pressure in patients with airway obstruction during controlled ventilation Maria Paula Caramez e col. HC, São Paulo, CCM, 2005 8 pacientes em VM Modo Controlado f: 6 irpm e VC:6mL/kg Raw > 20cmH2O PEEPi > 5cmH2O 4 - Asma, 4 - DPOC Medidas: - CRF - P pausa - PEEP total:i + e - Curvas de fluxo isovolumétricas - Gases sangüíneos -Dados hemodinâmicos Intervenção: Aplicação de PEEP até 150% da PEEPi Ajustes variados de f (rpm) e VC (mL/kg) 6 6 9 9 6 9 9 6 Paradoxical responses to positive end-expiratory pressure in patients with airway obstruction during controlled ventilation Maria Paula Caramez e col. HC, São Paulo, CCM, 2005 Volume minuto: f x VC 36mL/kg 54mL/kg 54mL/kg f:6 f:9 Monitorização da Capacidade Residual Funcional 81mL/kg Paradoxical responses to positive end-expiratory pressure in patients with airway obstruction during controlled ventilation Maria Paula Caramez e col. HC, São Paulo, CCM, 2005 Tipos de resposta: Paradoxal 54mL/kg Bifásico Hiperinsuflação 54mL/kg 81mL/kg f:6 f:9 f:9 Efeito da PEEPe sobre os fluxos expiratórios ZEEP Paciente com DPOC, UTIrespiratória- Hospital de Messejana PEEP 8 Efeitos da CPAP (5, 10 e 15cmH2O) por VNI sobre o parênquima pulmonar de pacientes com DPOC Análise dos cortes de pulmão por TCAR agrupando as regiões de ápice, hilo e base) + + Simone Fortaleza, Mestrado HUWC, UFC, 2006 Hiperinsuflação: 17% 22% 19% 18% CPAP: CPAP: 5cmH 010cmH cmH22O O O CPAP: 15cmH 22 O Simone Fortaleza, Georgia Winkeler, Ricardo Reis, Eanes Pereira, Marcelo A Holanda HUWC, UFC, 2006 Distribuição heterogênea da hiperinsuflação e possíveis efeitos da PEEP/CPAP 4 10 10 4 PEEPi 6 6 PEEP 6 2 8 8 2 Unidades com diferentes PEEPi são inter-relacionadas Efeitos da CPAP (5, 10 e 15cmH2O) por VNI sobre o 33 parênquima pulmonar de pacientes com DPOC estável 32 % áreas hiperaeradas 31 30 SEM CPAP CPAP 5 cmH2O 29 CPAP 10 cmH2O CPAP 15 cmH2O 28 27 26 0 5 10 15 Simone Fortaleza, Mestrado HUWC, UFC, 2006 25 Nível de CPAP Como aplicar uma PEEPe em paciente com auto-PEEP? PEEPe em paciente com PEEPi ZEEP PEEP 5 PEEPi+e total 13 PEEPi total 12 PEEP 10 PEEP 7 PEEPi+e total 14 PEEPi+e total 19 Abordagem da hiperinsuflação em paciente sob VM invasiva ventilação controlada Otimizar ajustes VC: 6 a 9mL/kg f < 10 a 12 irpm Fluxo: 60L/min PEEP 3 a 5cmH2O Raw > 20cmH2O Otimizar terapia broncodilatadora Raw < 20cmH2O Auto-PEEP < 10cmH2O P pausa < 30cmH2O pH > 7,20 Manter parâmetros Auto-PEEP > 10cmH2O P pausa > 30cmH2O Teste de desinsuflação com PEEPe UTI respiratória, Hosp Messejana, Fortaleza Abordagem da hiperinsuflação em paciente sob VM invasiva transição para desmame Otimizar ajustes PS conforme: VC 5 a 6mL/kg f respiratória < 20 irpm CPAP: 3 a 5 cmH2O Dificuldade de disparo Esforços ineficazes + Titular PEEPe Conforto e sincronia OK Manter parâmetros Esforço muscular expiratório ++ Ajuste fino da PS ↑ % de ciclagem UTI respiratória, Hosp Messejana, Fortaleza