ASSISTÊNCIA DAS ADOLESCENTES GESTANTES NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA
FAMÍLIA
Ana Beatriz Fernandes dos Reis 1
Jorge Luiz Lima da Silva2
Marilda Andrade3
A adolescência é uma fase de
intensa
transformação,
onde
essa
adolescente não tem ainda preparo
fisiológico e psicológico adequados para
uma gestação saudável e muitas vezes são
gerados recém-nascidos de baixo peso. Além
da dificuldade e a burocratização no
atendimento público a maioria das mulheres
ficam desestimuladas e deixam de participar
dos programas oferecidos e, por outro lado,
existem adolescentes que por medo de
perderem sua liberdade, acabam deixando
sua gestação em segundo plano, assim
fugindo de suas responsabilidades.
A adolescência contém na sua
expressão a síntese das conquistas da
infância e as reformulações do caráter social,
sexual, ideológico e vocacional, impostas
por uma completa e radical transformação
corporal que impõe ao indivíduo a condição
de adulto.
Segundo o Programa de Saúde do
Adolescente – Prosad (BRASIL, 1993) o
processo
de
crescimento
e
o
amadurecimento
são
fortemente
influenciados pelos fatores genéticos e
ambientais, sendo que a fase da adolescência
se faz mais evidente a influência dos fatores
hereditários, tais como a época do início da
puberdade, a intensidade de determinadas
características sexuais ( pilosidade, tamanho
das mamas), a idade da menarca e outros.
A adolescência é o período que se
caracteriza pela transição da infância para a
idade adulta, ou seja, pela perda da
identidade infantil, busca da identidade
adulta, sendo, assim, uma fase de profunda
instabilidade emocional e mudanças
corporais. Considerando que a adolescência
é social e historicamente modelada, tal
afirmação remete à perspectiva de sua
significação no mundo contemporâneo
ocidental. (GOLDENBERG et al, 2004).
Neste período, estão propensas a
novas experiências que muitas vezes são
prazerosas e outras vezes não. Descobrindo
a sexualidade, com isso iniciando a vida
sexual e, é a partir daí que se dão os
primeiros passos para nova fase de sua vida,
onde terão que ser bem instruídas e desta
forma fazer suas próprias escolhas decisivas.
Diante dessas decisões, as adolescentes
criam fantasias e perspectivas, idealizando
assim um mundo egocêntrico, onde se
colocam como centros das atenções,
pensando que tudo está voltado aos desejos
delas, se intitulam com as intocáveis,
imbatíveis, como se nada as atingissem.
Neste momento, é que as maiorias
das adolescentes se defrontam com a
gravidez, surgindo então a maioria das
dúvidas, como exemplo: Será que dou
continuidade com a gestação ou faço um
aborto? Como contar para meus pais e meu
namorado? Isso quando não aparece a
dúvida sobre a paternidade.
Segundo pesquisa realizada pelo
Ministério da Saúde em 1996, 14% das
adolescentes na faixa etária de 15 a 19 anos
tinham pelo menos um filho. Diante deste
dado, fica uma dúvida: Será que essa
adolescente recebeu orientações corretas
sobre métodos contraceptivos ou fez a
escolha errada?
A atividade sexual na adolescência
está iniciando cada vez mais precocemente,
assim, podendo obter como resultado a
gestação, que geralmente é indesejada, não
planejada, podendo optar por um aborto
clandestino, como geralmente é realizado.
Quando não, essa gestação pode gerar
conseqüências imediatas ou em longo prazo,
já que seu corpo ainda não está totalmente
preparado para uma gestação, devido à
imaturidade física, psicológica, emocional e
psíquica, além de outros obstáculos que elas
deverão vencer como a aceitação da família.
Segundo o Prosad (BRASIL, 1993),
os tabus existentes, somados às normas
sociais
que não
aceitam algumas
manifestações sexuais, geram sentimentos
de culpa e conceitos nos adolescentes que se
refletem em um ajuste sexual acompanhados
de
preocupações,
ansiedades
e/ou
problemas.
O desenvolvimento sexual do
adolescente sofre as influências dele próprio,
da família, da cultura e de seus
companheiros, sendo que a pressão do grupo
é talvez o fator mais poderoso para
determinar seu comportamento.
A falta de conhecimento sobre sexo
e o constrangimento provocado pelo tema,
faz com que pais, que também são
educadores sexuais não assumam esse papel
e freqüentemente o adolescente inicia uma
atividade sexual em um momento onde não
estão preparados.
Antigamente as famílias não
aceitavam o sexo antes do casamento, assim
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gerando dificuldade para o adolescente, mas
hoje em dia essa nova situação não é mais
vista como um tabu, já que a sociedade em si
está evoluindo com o passar do tempo. Por
outro lado, não se pode esquecer o contexto
social no qual a adolescente está inserida.
Então através de um pré-natal bem
realizado, onde essas adolescentes serão
acompanhadas e orientadas por enfermeiros
que as ajudarão a compreender melhor as
mudanças que ocorrem em seu corpo
durante a gestação e promovendo uma
conscientização das adolescentes em relação
a sua nova condição de vida.
Dentre os inúmeros benefícios do
pré-natal pode ser destacado: aumento do
interesse pelo aleitamento materno, aumento
do laço afetivo entre mãe e filho, maior
segurança da mãe em relação aos cuidados
com seu filho e baixo custo.
O fato de a mãe ser adolescente é
um caso que não pode passar despercebido,
pois é visto como um dos possíveis itens que
leva a dificuldade de vínculo da díade
mãe/bebê.
Relato
como
dores,
indisponibilidade de tempo, dúvidas, medo
da responsabilidade e falta de apoio familiar,
são alguns dos exemplos que podem servir
de justificativa para essas mães para não
aderir ao pré-natal e a dificuldade de assumir
a gestação.
Segundo Melson e cols. (2002), a
gravidez impõe riscos as adolescentes
devido a sua imaturidade física e
psicológica, há a possibilidade de ocorrer
complicações gestacionais, a falta de
assistência ao pré-natal e a inexistência de
sistemas de apoio social e financeiro.
A responsabilidade precoce imposta
pela gravidez, paralela a um processo de
amadurecimento, ainda em curso, resulta em
uma adolescente mal preparada para assumir
as responsabilidades psicológicas, sociais e
econômicas que a maternidade envolve. A
instabilidade das relações conjugais também
acaba por contribuir para a ocorrência de
prejuízos emocionais, e até mesmo de
transtornos de ordem afetiva, muitas vezes
agravados por um ambiente familiar pouco
acolhedor e muito mobilizado pela notícia da
gestação. Alguns estudos também mostram
que o risco dos filhos serem vítimas de
maus-tratos é maior, especialmente nos
casos em que a gravidez foi indesejada
(Motta; PINTO, 1994).
A assistência do enfermeiro é de
fundamental
importância,
pois
este
profissional orientará as mães e seus
familiares, esclarecendo as suas dúvidas e
fazendo com que estejam cientes dos
benefícios que obterão em aderir ao prénatal. O enfermeiro deve realizar sua
assistência a essas mães de forma ética,
evitando subjulgar.
A gravidez passou a ser
considerada uma problemática no contexto
social, onde não só a adolescente, mas
também as famílias estão envolvidas neste
processo. Na maioria das vezes, a
adolescente é julgada pela família e afasta-se
da mesma, renegando a sua gestação,
aumentando assim o risco para sua gravidez
já conturbada.
A maternidade precoce é um
problema por si só, ainda mais por trazer
dificuldades econômicas, sociais e por
muitas, abandono dos estudos e como
resultados devastadores em longo prazo para
a adolescente e seu filho.
O enfermeiro tem por dever acolher
e assistir bem essa adolescente que chega
para as consultas com receio, realizando
consultas explicativas, informando-as sobre
seu estado e de seu filho, assim atuando
como educador, transmitindo informações
sobre métodos contraceptivos, aleitamento
materno, orientações sobre o puerpério à
dentre tantas outras, pois um paciente bem
informado torna-se seguro e colaborativo.
Conforme o Ministério da Saúde, a atuação
dos profissionais da saúde no que se refere
ao planejamento familiar, deve estar pautada
no artigo 226, parágrafo 7 da constituição da
República federativa do Brasil.
A atuação na assistência à anticoncepção
envolve necessariamente três tipos de
atividades:
- Atividade educativa
- Aconselhamento
- Atividade clínica
Todas essas atividades devem ser
desenvolvidas
de
forma
integral,
considerando o indivíduo como um todo,
respeitando os princípios do Sistema único
de
Saúde
(SUS), a
integralidade,
universalidade e equidade.
É
de
responsabilidade
do
profissional manter relação de confiança
entre os pacientes e a equipe de saúde,
promovendo assim uma interação entre eles
de forma a permitir a participação de todos
envolvidos nas atividades oferecidas e além
do enfoque principal do planejamento
familiar que até então é a anticoncepção,
deve haver principalmente respeito integral à
saúde da mulher e sua individualidade e a
todos outros envolvidos.
O enfermeiro deve agir de forma
imparcial no cuidado com os pacientes e
com sua equipe, respeitando e agindo de
forma ética, sempre a beneficiar à saúde e ao
bom relacionamento com sua equipe.
O profissional deve ser um
instrumento para que a gestante adquira
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Assistência
das
adolescentes gestantes na
estratégia
saúde
da
família
autonomia no agir, aumentando a capacidade
de enfrentar situações de estresse, de crise e
decida sobre a vida e s saúde. E um dos
momentos da vida da adolescente, que
vivencia uma gama de sentimentos, é
durante a gravidez que se deseja alegria e se
não esperada pode gerar surpresa, tristeza e
até mesmo negação. Ansiedade e dúvidas
sobre as modificações pelas quais vai passar,
sobre o desenvolvimento da criança, medo
do parto de poder amamentar, são também
sentimentos comuns presentes na gestante.
A realização de ações educativas no
decorrer de todas as etapas do ciclo grávidopuerperal é muito importante, mas é no prénatal que a mulher deverá ser melhor
orientada para que possa viver o parto de
forma positiva e ter menos riscos de
complicações no puerpério e mais sucesso
na amamentação.
Segundo Rios e Vieira (2004), no
pré-natal, a enfermeira deve ficar atenta para
também, interpretar a percepção que a
gestante tem com relação a sua experiência
da maternidade no contexto mais amplo, por
ser essa uma experiência única.
Com isso, percebe-se que deve
desconsiderar a realidade da cliente, caso
isto aconteça, as orientações poderão ser
adotadas por incompatibilidade com essa
realidade. Conhecer as necessidades de
aprendizagem das gestantes no período do
pré-natal é considerar a importância da
cliente na determinação do autocuidado.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Políticas atenção integral à da mulher: princípios e diretrizes.
Brasília, 2004. 82 p.
BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente, Lei 8.069, 13 de julho de 1990. Brasília,
1990.
BRASIL. Ministério da Saúde. Assistência em planejamento familiar – Manual Técnico.
Brasília, 4.ed, n. 40, p. 60, 2002.
BRASIL, Ministério da Saúde. Planejamento familiar: pesquisa mostra que brasileiros
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BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional que amplia o acesso ao Planejamento
Familiar.
BRASIL. Ministério da Saúde. Programa de Assistência à Saúde da Mulher. Brasília,1984.
GOLDENBERG, P. Gravidez na adolescência, pré-natal e resultados perinatais em montes
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Reichman e Affonso, 2002.
RIOS, T.F.R.; VIEIRA, N.F.C. Ações educativas no pré-natal: reflexão sobre a consulta de
enfermagem como um espaço para educação em saúde. Revista Ciência Saúde Coletiva, Rio
de Janeiro, v. 12 n. 02, 2007.
MOTTA, M; PINTO e SILVA, J.L. Gravidez na adolescência. Campinas: Núcleo de Estudos
de População, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 1994.
REFERÊNCIA DO TEXTO:
REIS, A.B.F.; SILVA, J. L. L.; ANDRADE, M. Assistência das adolescentes gestantes na
estratégia saúde da família. Informe-se em promoção da saúde, v.5, n.2.p.23-25, 2009.
1
Enfermeira. Especialista em Promoção da Saúde pelo Curso de Especialização em Enfermagem e Promoção da
Saúde com ênfase em PSF/ Uff.
2
Enfermeiro. Mestre em Enfermagem (Unirio). Professor Colaborador do Curso de Especialização em Enfermagem
e Promoção da Saúde/ Uff.
3
Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora Adjunta do
Departamento de Enfermagem Médico-cirúrgica da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa Uff.
Coordenadora do Curso de Especialização em Enfermagem e Promoção da Saúde/ Uff.
Informe-se em promoção da saúde, v.5, n.2.p.23-25, 2009.
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