O Globo, 13/Mar/01 Remédios brasileiros pagam maior carga tributária mundial Martha Beck BRASÍLIA, 12 (Globo On Line) - O consumidor brasileiro paga hoje R$ 2,50 em impostos para cada R$ 10 gastos na compra de um medicamento. O país tem a maior carga tributária do mundo para a fabricação de remédios. Segundo o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos de São Paulo (Sindusfarma), essa carga de 25% faz com que um produto que sai da fábrica por US$ 10 chegue às prateleiras das farmácias por US$ 22,73. Já no Reino Unido, onde a carga tributária é zero, o medicamento que sai da fábrica por US$ 10, chega ao consumidor por US$ 11,43. Estes dados estão numa pesquisa do Sindusfarma feita com 20 países.Pelo trabalho, na Argentina, onde a carga tributária é de 12%, o medicamento sai da fábrica por US$ 10 e chega ao consumidor por US$ 17,51. Pela mesma comparação, em Portugal, onde a carga é de 4,7%, o produto chega às farmácias por US$ 14,58. Dos 20 países pesquisados, cinco apresentam carga tributária zero para a fabricação de medicamentos. - O governo diz que os medicamentos são produtos essenciais, mas na hora de cobrar os tributos, impõe uma carga tributária alta demais - afirmou o vice-presidente executivo do Sindusfarma, Gabriel Tannus. O advogado tributarista Ives Gandra explicou que a carga tributária no Brasil corresponde a 30% do PIB. Segundo ele, essa carga é um dos fatores responsáveis pela dificuldade de a população carente ter acesso a medicamentos no país. A partir de abril, a alíquota de PIS e Cofins será zero para a fabricação de mais de 1.200 medicamentos de uso contínuo e antibióticos. Com isso, o governo espera reduzir os preços destes produtos em até 10%. Esta é a primeira medida na área tributária para beneficiar os consumidores. O governo tenta ainda negociar com os governos estaduais uma redução do ICMS de 17% para 12% para a fabricação de medicamentos. - A carga tributária no Brasil é realmente alta e o governo já está buscando sua redução. Mas a diferença entre o preço que sai do laboratório e que chega ao consumidor também aumenta por causa da margem de lucro das farmácias e das próprias indústrias - disse um técnico do Ministério da Saúde. As contribuições PIS e Cofins têm hoje uma incidência de 12,5% para a fabricação, distribuição e venda de produtos (3,25% para cada etapa), enquanto o ICMS têm incidência de 17% em média (18% em São Paulo). Segundo o técnico, o governo está tentando fazer com que os estados reduzam o ICMS para 12% porque para um valor abaixo deste percentual, seria preciso que houvesse a aprovação dos secretários do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), o que atrasaria os efeitos da medida. O presidente do Confaz, Ednilton Soarez, disse que a negociação para reduzir a alíquota do ICMS ainda não foi levada às reuniões do conselho. Mas explicou que os secretários de fazenda precisam calcular que impostos vão subir para compensar uma possível redução no ICMS. Até agora, segundo Soarez, apenas São Paulo e Minas Gerais demonstraram disposição em reduzir o ICMS para remédios. - Este assunto deverá ser discutido na próxima reunião do Confaz no final de março disse Soarez. Gabriel Tannus destacou que a medida do governo é positiva, mas lembrou que também é preciso que haja uma redução ainda maior na cobrança do ICMS para que os efeitos de diminuição da carga tributária sejam melhores. Segundo os cálculos do Sindusfarma, se a alíquota de PIS e Cofins fosse zero e o ICMS passasse de 17% para 7%, o produto poderia sair do laboratório por US$ 10 e chegar ao consumidor por US$ 16,39. Já com a redução do ICMS para 12% (alíquota zero para PIS e Cofins), os produtos poderiam sair do laboratório por US$ 10 e chegar aos consumidores por US$ 18,87. Tannus lembrou que na Dinamarca, onde a carga tributária é próxima à brasileira (20%), o medicamento que sai do laboratório por US$ 10, chega ao consumidor por US$ 17,92. Segundo ele, isso ocorre porque naquele país, a alta carga tributária é compensada pela pressão que os planos de saúde fazem nos laboratórios para que essas empresas reduzam os preços de medicamentos. Na Dinamarca, os planos reembolsam os consumidores na hora das compras de medicamentos. No entanto, o técnico da Saúde destacou que o governo brasileiro também está estudando a possibilidade de obrigar os planos a reembolsar os consumidores. A pesquisa do Sindusfarma também revelou que a indústria é responsável por 44% do preço do medicamento no Brasil. Estão incluídos neste caso os custos com produção, mão de obra, material, comercialização e lucro. Já o varejo é responsável por 21% do preço e as distribuidoras por 10%.