JORNAL DA associação médica Página 10 • Fevereiro/Março 2014 ESPE Pesquisa com seres humanos am Os progressos científicos e tecnológicos na área da saúde ampliam as discussões sobre o limite destes avanços, suas aplicações e a ética. Classe médica e sociedade estão diante de questões cada vez mais polêmicas apresentadas pela imprensa e levadas direto aos consultórios. Dentre os temas estão fertilização in vitro, clonagem, tratamentos com medicamentos e procedimentos ainda em testes, transgênicos e transplantes. Mas até que ponto há de se considerar as experimentações com seres humanos em seu benefício? Quais as regras a serem seguidas por médicos e cientistas em suas pesquisas e aplicações? Arquivo SBB Shutterstock A necessidade de uma normatização envolvendo testes com seres humanos deu origem, em 1948, ao Código de Nuremberg, resultado do julgamento dos crimes contra a humanidade. Posteriormente revisto pela Associação Médica Mundial (WMA), procedeu, em 1965, na Declaração de Helsinque. Já em 1995, foi criada a Sociedade Brasileira de Bioética (SBB). Sua presidente, a epidemiologista e doutora em bioética, Regina Ribeiro Parizi, explica que a SBB apoia pessoas e instituições interessadas em fomentar a discussão e a difusão da bioética, estimulando a produção do conhecimento, projetos, pesquisas e eventos. Ela ressalta a importância do médico neste contexto e afirma: “estamos na era da informação e da comunicação, cuja fidedignidade faz parte do pressuposto básico na relação médico- paciente, seja como clínico e/ou pesquisador”. Para Parizi, em grande parte, é a confiança no médico que tem mobilizado a colaboração dos seres humanos com as pesquisas e com a veracidade dos resultados. A presidente reforça, ainda, que o profissional deve agir com o máximo de transparência com o seu paciente, em relação aos interesses, motivações, limitações e riscos que envolvem os estudos, seja de produtos e/ou procedimentos. Além de orientar que ele deve participar do experimento somente com o consentimento livre e esclarecido. “É imprescindível que o indivíduo seja informado sobre os métodos, seus riscos e possíveis benefícios, podendo recusar sua participação, em qualquer momento.” A presidente da SBB, Regina Ribeiro Parizi, valoriza a atuação dos médicos nas pesquisas e na qualidade dos resultados Quanto às dificuldades éticas relacionadas com a pesquisa em humanos, Parizi conta que estão pautadas na transparência e na gestão dos diferentes anseios que permeiam os trabalhos. “Toda experimentação também envolve riscos (efeitos colaterais) e diferentes interesses, nem sempre fáceis de conciliar, entre a indústria de insumos, pesquisadores e sujeitos de pes- quisa”, alega. Por outro lado, afirma a especialista, a história das ciências mostra que a investigação é fundamental para a sobrevivência dos humanos, o que, segundo ela, pode ser verificado na diminuição da mortalidade, aumento da expectativa de vida e, mais recentemente, com a incorporação de tecnologias nas doenças crônicas. Nesse cenário, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) criou, em 1996, a Resolução 196, que instituiu a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). Sua principal atribuição é examinar os aspectos éticos dos trabalhos que envolvem seres humanos, além de coordenar a rede de Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) das instituições, atualmente 690 regularizados em todo o país. Os comitês são multidisciplinares, com representantes de praticamente todas as áreas do conhecimento: saúde, justiça, teologia, sociologia, filosofia etc. De acordo com declaração enviada pela entidade ao Jornal da Associação Médica, sua principal preocupação é com o resguardo dos direitos dos participantes de pesquisa e a garantia de eticidade por parte dos pesquisadores e patrocinadores. Dentre suas principais demandas, a entidade citou as pesquisas com coordenação e/ou patrocínio originados fora do Brasil; as que envolvem áreas de genética humana e as que abrangem as populações indígenas. Em números, desde sua implementação, são 85.513 projetos aprovados pelos CEPs e pela Conep. Encontram-se em apreciação ética 8648, além de 58.378 projetos em edição pelos respectivos pesquisadores responsáveis. CFM aborda novas técnicas Critérios de protocolos e avaliação para o reconhecimento de novos procedimentos e terapias médicas foram contemplados na Resolução Nº 1.982/2012, do Conselho Federal de Medicina (CFM). Conforme o documento, novos métodos e terapias precisam ser submetidos a uma avaliação quanto à segurança, conveniência e benefício aos pacientes, antes da sua utilização de forma usual. Trabalhos considerados inéditos devem ser reconhecidos pelo CFM, que avalia e aprova a capacitação técnica necessária do médico para sua realização e as condições hospitalares adequadas para sua ocorrência. A análise de um protocolo de pesquisa em seres humanos leva em conta a relevância e os resultados dos estudos pré-clínicos submetido aos Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs). Quando envolve atuação médica, esta deve ser notificada à Comissão de Ética Médica devidamente registrada no CRM. A participação de médicos nas etapas clínicas da pesquisa é pautada pelas disposições do Código de Ética Médica. Cabe à Comissão de Ética Médica fiscalizar a conduta dos envolvidos na elaboração, execução e análise da pesquisa. A Resolução está disponível na íntegra no site: www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/2012/1982_2012.htm