VARIABILIDADE ESPIROMÉTRICA EM INDIVÍDUOS PNEUMOPATAS CRÔNICOS SUBMETIDOS AO EXERCÍCIO FÍSICO SUPERVISIONADO Ariane Siviero Scarpari*, Kelser De Souza Kock** *Aluno(a) do Curso de Graduação em Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina. **Professor do Curso de Graduação em Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina. RESUMO As doenças respiratórias constituem importante causa de adoecimento e morte em adultos e crianças no mundo. Dentre elas estão as doenças pulmonares crônicas que podem apresentar caráter restritivo, obstrutivo ou misto. A fisioterapia respiratória uma especialidade com ampla atuação no tratamento e prevenção de doenças respiratórias agudas ou crônicas, ela vem sendo usada com intuito de melhora do quadro clínico dos pacientes com doenças respiratórias, utilizando programas de reabilitação pulmonar (RP), o qual ajuda a diminuir a dispnéia, melhorar o condicionamento físico e reduzir as exacerbações. A avaliação espirométrica regular de pacientes submetidos à RP visa o acompanhamento da função pulmonar. O objetivo desse trabalho foi avaliar a variação da função pulmonar em indivíduos pneumopatas crônicos submetidos ao exercício físico supervisionado. A amostra foi compreendida por 8 pacientes atendidos pelo estágio supervisionado de fisioterapia cardiopulmonar da Clínica Escola de Fisioterapia, da UNISUL, Tubarão/SC, onde foram selecionados os melhores laudos espirométricos obtidos na base de dados das avaliações espirométricas entre o período de outubro de 2005 a setembro de 2007. O instrumento utilizado foi o espirômetro MultispiroTM sensor, analisado pelo software SX 252. Os resultados obtidos foram tratados através de média e desvio padrão e coeficiente de variação. Os dados foram expostos através de quadros e gráficos. Em geral, foi observada uma discreta variabilidade espirométrica. O parâmetro com maior variação foi o pico de fluxo expiratório (PFE), atingindo 10% do coeficiente de variação. Em suma, verificamos que pneumopatas crônicos que praticam exercício físico supervisionado regularmente, apresentam pouca variação da função pulmonar. Palavras-chave: variabilidade espirométrica, reabilitação pulmonar, pneumopatas. ABSTRACT The respiratory diseases constitute important illness cause and death in adults and children in the world. Among them are the chronic lung diseases that can present character restrictive, obstructive or mixed. Being the chest physiotherapy a specialty with wide performance in the treatment and prevention of chronic respiratory diseases, it has been used with intention of improvement of the patients with respiratory diseases, using programs of pulmonary rehabilitation (PR), which helps to reduce the dispneia, improves physical conditioning the decrease of exacerbations. The regular spirometric evaluation of patients submitted to PR seeks the accompaniment of the lung function. The objective of that work was to evaluate the variation of the lung function in individuals with chronic respiratory disease submitted to the supervised physical exercise. The sample was understood by 8 patients assisted by the supervised apprenticeship of chest physiotherapy of the Clinic School of Physiotherapy, of UNISUL, Tubarão/SC. Where the best spirometric decisions were selected obtained in the base of data of the spirometric evaluations among the period of October from 2005 to September of 2007. The used instrument was the spirometer sensor MultispiroTM, analyzed by the software SX 252. The obtained results were treated through average and standard deviation and variation coefficient. The data were exposed through pictures and graphs. In general, a discreet spirometric variability was observed. The parameter with larger variation was the peak of flow expiratory, reaching 10% of the variation coefficient. In highest, we verified that individuals with chronic respiratory disease that practice physical exercise supervised regularly, present a little variation of the lung function. Key-words: spirometric variability, pulmonary rehabilitation, chronic respiratory individuals. INTRODUÇÃO As doenças respiratórias constituem importante causa de adoecimento e morte em adultos e crianças no mundo. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), estas doenças representam cerca de 8% do total de mortes em países desenvolvidos e 5% em países em desenvolvimento. No Brasil, as doenças respiratórias agudas e crônicas também ocupam posição de destaque, entre as principais causas de internação no Sistema Único de Saúde – SUS. (TOYOSHIMA; ITO; GOUVEIA, 2005). Importantes informações das doenças respiratórias são obtidas exclusivamente ou, pelo menos, com maior precisão, com a realização dos testes de função pulmonar (TFP). Exemplificam-se detecção precoce de obstrução das vias aéreas, determinação da severidade da disfunção pulmonar, presença e grau de resposta ao broncodilatador, presença de restrição ventilatória, distúrbios das trocas gasosas, avaliação da resposta terapêutica e avaliação do risco cirúrgico. (SILVA; RUBIN; SILVA, 2000). A fisioterapia respiratória é uma especialidade que tem ampla atuação nas doenças respiratórias agudas ou crônicas. Dentre as condutas estão a reabilitação pulmonar (RP) e teste da função pulmonar com a espirometria. Através do espirômetro pode se medir e monitorar diversas variáveis funcionais pulmonares, fazendo-se mensurações objetivas não apenas do dano gerado pela doença, mas também para avaliar a recuperação proporcionada pela terapêutica. A reabilitação pulmonar (RP), que envolve exercícios físicos supervisionados, é um programa multidisciplinar de cuidados para pacientes com doenças respiratórias crônicas, utilizado para aperfeiçoar o desempenho físico e social e a autonomia desses pacientes, sendo que a RP promove melhora na capacidade funcional do exercício, na qualidade de vida, reduz a dispnéia e a freqüência de durações das internações, além de reduzir a freqüência das exacerbações. (ZANCHET; VIEGAS; LIMA, 2005). Com isso, o presente estudo tem como objetivo geral, avaliar a variação da função pulmonar em indivíduos pneumopatas crônicos submetidos ao exercício físico supervisionado, sendo estes pacientes atendidos no estágio supervisionado de fisioterapia cardiopulmonar na Clínica Escola de Fisioterapia da UNISUL, campus Tubarão-SC. Já os objetivos específicos: Observar a variabilidade da capacidade vital forçada (CVF); Comparar a variabilidade do volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1); Identificar a variabilidade do índice de Tiffenau (VEF1 / CVF); Identificar a variabilidade do pico de fluxo expiratório (PFE); Observar a variabilidade do fluxo expiratório forçado entre 25% e 75% da CVF (FEF25-75%). MATERIAS E MÉTODOS Com relação ao tipo de pesquisa esta é considerada descritiva quanto ao nível, quantitativa quanto à abordagem e estudo documental quanto ao procedimento de coleta de dados. A população da referente pesquisa foi constituída pelos pacientes atendidos na Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina-UNISUL, campus Tubarão, obtida na base de dados das avaliações espirométricas entre o período de outubro de 2005 a setembro de 2007. A amostra foi compreendida por 8 pacientes atendidos pelo estágio supervisionado de fisioterapia cardiopulmonar da Clínica Escola de Fisioterapia, da UNISUL, campus Tubarão/SC. Onde o programa de exercícios supervisionados são realizados pelos acadêmicos que estão no estágio da disciplina de cardiopneumo na Clínica Escola, sendo o protocolo de programa de exercícios supervisionados realizados: Treinamento aeróbico em bicicleta ou esteira ergométrica na intensidade de 70% da freqüência cardíaca máxima (correspondendo a 40% do tempo total do atendimento); Alongamento geral (correspondendo a 20% do tempo total do atendimento); Fortalecimento muscular (correspondendo a 20% do tempo total do atendimento); Exercícios respiratórios (correspondendo a 20% do tempo total do atendimento). Com freqüência de duas a três vezes por semana com duração de cinqüenta minutos As avaliações espirométricas foram realizadas pelos estagiários que estavam cursando a disciplina no período entre outubro de 2005 a setembro de 2007. Foram selecionados os melhores laudos espirométricos (de acordo com as diretrizes de testes de função pulmonar descritos por Rubin, 2002), dos pacientes que realizaram as avaliações entre os períodos: Outubro de 2005 a março de 2006; Abril de 2006 a setembro de 2006; Outubro de 2006 a março de 2007; Abril de 2007 a setembro de 2007. Os critérios de inclusão para o estudo foram os seguintes: ter diagnóstico de pneumopatia crônica; serem atendidos na “Clinica Escola de Fisioterapia”, da Universidade do Sul de Santa Catarina-UNISUL na cidade de Tubarão, ter realizado no mínimo uma espirometria em cada período. Como procedimento para coleta de dados utilizou-se o banco de dados obtidos pelo espirômetro da marca MULTISPIRO sensorTM, analisado pelo software SX 252. Avaliaram-se os valores espirométricos absolutos e percentuais previstos, coletados através dos laudos espirométricos dos seguintes parâmetros: Capacidade vital forçada (CVF); Volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1); Relação entre o volume expiratório forçado no primeiro segundo e a capacidade vital forçada (VEF1/ CVF); Pico de fluxo expiratório (PFE); Fluxo médio expiratório forçado 25% à 75% da capacidade vital forçada (FEF25-75%). Com base nos objetivos, os resultados obtidos foram tratados através de média, desvio padrão e coeficiente de variação. Os dados foram expostos através de quadros e gráficos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados gerais da amostra dos pacientes, com idade média de 47,33 ± 21,5 anos composta de 6 mulheres e 2 homens, constam no quadro 1. Idade Gênero Diagnóstico Disfunção Pulmonar Indivíduo 1 48 Feminino DPOC Obstrução Grave Indivíduo 2 43 Feminino Bronquiolite Obliterante Obstrução Grave Indivíduo 3 72 Feminino DPOC/Asma Obstrução Moderada Indivíduo 4 56 Masculino DPOC Misto Moderado Indivíduo 5 48 Feminino Fibrose Pulmonar Idiopática Restrição Moderada Indivíduo 6 65 Feminino DPOC Misto Moderado Indivíduo 7 62 Masculino DPOC Obstrução Leve Indivíduo 8 33 Feminino DPOC/Asma/Bronquiectasia Obstrução Moderada Quadro 1 – Demonstração da amostra de acordo com idade, gênero, diagnóstico e disfunção ventilatória. Através dos laudos espirométricos obteve-se a média e desvio padrão dos valores previstos, em cada uma das quatro avaliações, de cada um dos cincos parâmetros e apresentando também a media e desvio padrão geral desses parâmetros. Os resultados referentes às quatro avaliações espirométricas realizadas pelos oito pacientes são demonstrados no quadro 2 e no gráfico 1. AVALIAÇÃO 1 AVALIAÇÃO 2 AVALIAÇÃO 3 AVALIAÇÃO 4 Média geral CVF 59,94 ± 22,51 58,73 ± 21,49 61,24 ± 21,93 62,38 ± 18,19 60,64± 2,30 VEF1 42,73 ± 16,75 45,49 ± 16,89 46,17 ± 16,4 46,76 ± 15,23 45,27±1,79 VEF1/CVF 71,71 ± 15,89 78,01 ± 13,13 76,93 ± 16,94 75,24 ± 13,07 74,43± 2,78 PFE 54,74 ± 19,94 67,48 ± 26,06 55,41 ± 11,4 61,53 ± 15,54 59,79± 5,96 FEF25-75 22,56 ± 15,32 26,81 ± 15,26 26,16 ± 14,15 25,72 ± 14,01 25,31±1,89 Quadro 2 – Média e desvio padrão dos valores percentuais previstos obtidos nas avaliações espirométricas. 90,00 80,00 % do Previsto 70,00 CVF 60,00 VEF1 50,00 VEF1/CVF 40,00 PFE 30,00 FEF25-75 20,00 10,00 0,00 AVALIAÇÃO 1 AVALIAÇÃO 2 AVALIAÇÃO 3 AVALIAÇÃO 4 Gráfico 1 – Média dos valores percentuais previstos obtidos nas avaliações espirométricas. Em relação à capacidade vital forçada (CVF), o coeficiente de variação observado foi 3,7%. De acordo com Costa (1999), capacidade vital forçada (CVF), é o volume de ar que pode ser expirado, tão rápido e completamente possível, após uma expiração profunda máxima. Silva; Rubin e Silva (2000), afirmam que, as principais variáveis espirométricas são obtidas pela manobra da CVF. O gráfico 2 ilustra através da média geral, média e desvio padrão dos valores percentuais do previsto algumas medidas de variabilidade desse parâmetro. 90,00 80,00 % do Previsto 70,00 60,00 50,00 CVF 40,00 MÉDIA GERAL 30,00 20,00 10,00 0,00 AVALIAÇÃO 1 AVALIAÇÃO 2 AVALIAÇÃO 3 AVALIAÇÃO 4 Gráfico 2 – Média geral, média e desvio padrão dos valores percentuais previstos da CVF obtidos nas avaliações espirométricas Quanto ao volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1), o coeficiente de variação obtido foi 4%. Volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) é o volume máximo que um indivíduo consegue expirar no primeiro segundo de uma expiração máxima. Esse valor exprime o fluxo aéreo da maior parte das vias aéreas, sobretudo as de maior calibre. (COSTA, 1999). Estudo realizado por Upton MN. et al (2000), que relatou as deficiências na qualidade de mensuração da função pulmonar encontrou coeficientes de variação de 3%, tanto para a VEF1 quanto para a CVF. Segundo Silva, Rubin e Silva (2000), o VEF1 varia em estrita correlação com a CVF, medindo preferencialmente o fluxo das vias aéreas de grosso e médio calibres. Pela simplicidade de sua obtenção, pela sua reprodutibilidade e pelas suas características, é o parâmetro mais usado para avaliação do fluxo expiratório nas doenças obstrutivas (asma e DPOC). Trabalhos realizados por Gabriel Sánchez R. (1997); Paul L. Enright et al (2004), demonstraram que a variabilidade atribuível aos parâmetros espirométricos foram encontradas em CVF e VEF1. Sendo que pacientes com moderada à grave disfunção da função pulmonar, medida pelo VEF1, exibiram maior variabilidade, quando expressa em termos de percentagem, comparada com pacientes com função pulmonar normais. Estudos realizados por Herpel LB. et al (2006), contataram que, as mudanças na VEF1 são utilizadas para determinar se os doentes com doenças pulmonares tem melhorado ou piorado seu quadro clinico entre os testes de espirometria. Estudos anteriores sugeriram que os pacientes com DPOC podem ter uma maior variabilidade dentre os testes sessões de espirometria do que os indivíduos com funções pulmonares normais. O gráfico 3 demonstra através da média geral, média e desvio padrão dos valores percentuais do previsto algumas medidas de variabilidade desse parâmetro. 70,00 % do Previsto 60,00 50,00 40,00 VEF1 30,00 MÉDIA GERAL 20,00 10,00 0,00 AVALIAÇÃO 1 AVALIAÇÃO 2 AVALIAÇÃO 3 AVALIAÇÃO 4 Gráfico 3 – Média geral, média e desvio padrão dos valores percentuais previstos do VEF1 obtidos nas avaliações espirométricas. O coeficiente de variação do índice de Tiffeneau (VEF1/CVF), em nossa pesquisa foi 3,6% Segundo Costa (1999), o índice de Tiffeneau (VEF1/CVF): significa o resultado da fração que representa o VEF1 em relação à CVF, sendo que esse valor deverá estar de 68% à 80% da CVF. A maioria literatura sobre esse item tem adotado o percentual de 80% como referencial para a normalidade; baixo disso, considera-se que há deficiência obstrutiva. O gráfico 4 expõe através da média geral, média e desvio padrão dos valores percentuais do previsto algumas medidas de variabilidade desse parâmetro. 100,00 90,00 % do Previsto 80,00 70,00 60,00 VEF1/CVF 50,00 MÉDIA GERAL 40,00 30,00 20,00 10,00 0,00 AVALIAÇÃO 1 AVALIAÇÃO 2 AVALIAÇÃO 3 AVALIAÇÃO 4 Gráfico 4 – Média geral, média e desvio padrão dos valores percentuais previstos da VEF1/CVF obtidos nas avaliações espirométricas. Com relação ao pico de fluxo expiratório (PFE) observou-se que o coeficiente de variação foi de 10%. Segundo Silva; Rubin e Silva (2000), o pico de fluxo expiratório (PFE): é o fluxo correspondente ao extremo superior da curva expiratória, devendo ser obtido por um esforço máximo e explosivo inicial. A medida do PFE depende estritamente do esforço realizado e que não terá valor se a técnica não for adequada. Como reflete o calibre das vias aéreas proximais na fase precoce da expiração, pode ser normal ou pouco alterado, mesmo em casos de obstrução acentuada, o que pode tornar pouco sensível sua medida para avaliar a variabilidade do fluxo, a monitoração do grau de obstrução e a resposta ao tratamento. Estudos realizados por Hegewald MJ. et al (2007), relataram que o pico de fluxo expiratório (PFE) e VEF1, são medidas espirométricas utilizadas para diagnosticar e controlar doenças pulmonares. Esses estudos mostram também que a variabilidade do PFE está associada à correspondente da variabilidade na VEF1 durante uma única sessão teste e que PFE tem um maior grau de variabilidade intrínseca do que VEF1 e alterações na PFE não têm um efeito significativo sobre VEF1. O gráfico 5 explicita através da média geral, média e desvio padrão dos valores percentuais do previsto algumas medidas de variabilidade desse parâmetro 100,00 90,00 % do Previsto 80,00 70,00 60,00 PFE 50,00 MÉDIA GERAL 40,00 30,00 20,00 10,00 0,00 AVALIAÇÃO 1 AVALIAÇÃO 2 AVALIAÇÃO 3 AVALIAÇÃO 4 Gráfico 5 – Média geral, média e desvio padrão dos valores percentuais previstos do PFE obtidos nas avaliações espirométricas. Em relação ao fluxo expiratório forçado entre 25 à 75% (FEF25-75%) o coeficiente de variação foi de 7,5%. Segundo Costa (1999), fluxo expiratório forçado médio (FEF25%-75%), é o fluxo médio de ar que ocorre no intervalo entre 25% e 75% da CVF. Esta tem sido considerada uma das mais importantes medidas de fluxos na avaliação de permeabilidade das vias aéreas, por representar a velocidade com que sai o ar exclusivamente dos brônquios. Estima-se que neste momento da expiração o ar que estava contido nas vias aéreas superiores e laringe já tenha saído. Segundo Silva, Rubin e Silva (2000), dividindo-se a CVF em quarto partes, obtém-se o FEF25%-75% desprezando-se a primeira e a última. Seu valor normal varia bastante, sendo o limite inferior situado entre 60% e 65% do previsto. Se o VEF1 e a relação VEF1/CVF estiverem reduzidos, já esta caracterizado a presença de obstrução. A variabilidade do seu valor normal é bem ampla, considerando-se ainda dentro da normalidade uma redução até a faixa de 60%-65% do previsto. Se o FEF25%-75% tiver valor superior a 1,5 e a CVF for normal, considera-se que os fluxos são “supra normais”, o que pode ser indício de doença restritiva incipiente. O gráfico 6 mostra através da média geral, média e desvio padrão dos valores percentuais do previsto algumas medidas de variabilidade desse parâmetro. 45,00 40,00 % do Previsto 35,00 30,00 25,00 FEF25-75 20,00 MÉDIA GERAL 15,00 10,00 5,00 0,00 AVALIAÇÃO 1 AVALIAÇÃO 2 AVALIAÇÃO 3 AVALIAÇÃO 4 Gráfico 6 – Média geral, média e desvio padrão dos valores percentuais previstos do FEF2575 obtidos nas avaliações espirométricas. Em geral podemos observar que houve pouca variação dos parâmetros espirométricos. A maior variabilidade foi, de acordo com nosso estudo, atribuída ao pico de fluxo expiratório (PFE), atingindo o coeficiente de variação de 10%. Contudo vários estudos mostram que indivíduos portadores de pneumopatias crônicas não apresentam melhora significativa de sua função pulmonar, quando engajados em programas de reabilitação pulmonar. Estudos realizados por Zanchet, Viegas e Lima (2005); Galvez DS. et al (2007); Rodrigues, Viegas e Lima (2002); Kunikoshita LN. et al (2006), comentam que programas bem direcionados de RP promovem melhora na habilidade de realização das atividades cotidianas e na capacidade de realizar exercícios. Reduzem os sintomas respiratórios, a ansiedade e os sintomas depressivos dos pacientes, promovendo melhora na capacidade funcional de exercício e na qualidade de vida. Diminuem a dispnéia, a freqüência e duração das internações, além de reduzir a freqüência das exacerbações. A RP consegue quebrar o ciclo vicioso das doenças crônicas, porém não altera a função pulmonar desses pacientes, não beneficia o paciente no seu quadro de obstrução ao fluxo de ar, mas auxilia-o, diminuindo as deficiências e disfunções sistêmicas conseqüentes aos processos secundários da doença pulmonar. CONSIDERAÇÕES FINAIS A avaliação da função pulmonar é largamente utilizada como medida de classificação, prognóstico e tratamento das doenças respiratórias crônicas. Em nosso estudo, procuramos relacionar as medidas espirométricas em termos de variabilidade em pacientes que realizavam exercício físico supervisionado. Como resultados, observamos uma maior variabilidade no pico de fluxo expiratório, corroborada pela literatura como maior parâmetro de variação. No entanto, encontramos um número mínimo de estudos que relacionassem reabilitação pulmonar e variabilidade espirométrica. Outras poucas pesquisas relacionavam apenas a capacidade vital forçada e o volume expiratório forçado no primeiro segundo como medidas de variação. Em geral, verificamos que pneumopatas crônicos que praticam exercício físico supervisionado regularmente, apresentam discreta variação em sua função pulmonar. Como sugestão para outras pesquisas, uma maior amostragem e mais avaliações comparativas seriam de grande valia na detecção de alterações ventilatórias que, talvez, passaram despercebidas em nosso trabalho. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Paulo de; et. al. Bronquiolite Obliterante na Forma Modular. J. Pneumologia. n. 6, nov. 2002. v. 28. AZEREDO, Carlos A Caetano; MACHADO, Maria da Glória Rodrigues. Fisioterapia respiratória moderna. 4. ed. ampl. e rev. São Paulo: Manole, 2002. CERQUEIRA, Ramos; Crepaldi A. L. Qualidade de vida em doenças pulmonares crônicas: aspectos conceituais e metodológicos. J Pneumol. 2000. Consenso Brasileiro Sobre Espirometria I. Jornal de pneumologia. Porto Alegre, v. 28, n. 2. Out. 2002. Consenso Brasileiro no Manejo da Asma III. Revista ANRIGS. Porto Alegre, v. 46, n. 3, jul./ dez. 2002. COSTA, Dirceu. Fisioterapia respiratória básica. São Paulo: Atheneu, 1999. DOURADO, Victor. Z; GODOY, Irmã. 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