FUNDAMENTAÇÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO TECNÓLOGO: UMA EDUCAÇÃO PARA O SÈCULO XXI Oyana Rodrigues dos Santos IFG/ PUC Goiás Helvécio Goulart Malta de Sá PUC Goiás Júlio César Garcia IFGoiano/PUC Goiás Shirley Carmem da Silva IFG/PUC Goiás RESUMO: Neste artigo, resultado de uma pesquisa teórico-bibliográfica, discute-se a realidade da questão ambiental da atualidade, a fragilidade do discurso ambiental e o jogo de interesses nele envolvido. Para tanto, analisam-se os documentos que subsidiam propostas de mudanças e a importância dada à educação neste processo como o texto constitucional, a Política Nacional de Educação Ambiental e documentos paralelos. Problematiza-se a compreensão da Educação Ambiental no contexto de globalização da economia em que se assiste, ao acúmulo impactos ambientais negativos no planeta Terra, bem como a fragilidade da Ciência para contribuir de forma segura e eficiente para o atenuamento dos problemas sócio-ambientais. Defende-se, neste texto, a necessidade da revisão de paradigmas e adoção de novas metodologias para a apreensão do que chamamos de natureza e adoção de outras práticas cotidianas que sejam, socialmente justas, economicamente viáveis e ambientalmente sustentáveis. A partir do estudo dos documentos oficiais e seus estímulos à introdução da discussão ambiental, indaga-se a possibilidade e os possíveis re3sultados do desenvolvimento da prática em Educação Ambiental junto ao Ensino Profissionalizante, de nível superior, no Brasil. Assume-se aqui a defesa de uma educação profissional, que enfrentes o desafio de romper com a reprodução da ordem vigente e contribua com a instalação de novas práticas cotidianas voltadas para auxiliar na formação de futuros profissionais conscientes de sua responsabilidade na edificação de um mundo em que se vivencie em uma relação mais respeitosa entre os homens, que seja extrapolada para sua relação com a natureza. Defende-se a necessidade de atitudes e instrumentos inovadores, dentre eles a cobrança ético-política do enfrentamento dos problemas ambientais, o que implica na implementação de políticas de Educação Ambiental nas Instituições de Ensino Tecnológico e, através desta, a incorporação da discussão ambiental no ambiente de sala de aula. As conclusões, ainda que parciais desta investigação apontam, para o fato de que, apesar da existência de todo um conjunto de documentações que respaldam a obrigatoriedade da prática de Educação ambiental nas instituições de ensino, em todos os níveis, etapas e modalidades, nos Projetos Pedagógicos das Instituições de Ensino Tecnológico no Brasil, a incorporação da discussão da causa ambiental ainda se apresenta muito incipiente. Tal quadro evidencia a necessidade de compromisso político com a causa ambiental, por parte dos professores, gestores e demais profissionais envolvidos mais diretamente, no processo de ensino. A preocupação com o acúmulo de impactos ambientais negativos no planeta Terra e o reconhecimento de que isto pode ameaçar a sobrevivência do ser humano, ainda, não fazem parte das orientações curriculares que respaldam as práticas, no interior dos estabelecimentos de ensino tecnológico. Tal fato vai, na contra mão do que é exigido, de uma maneira geral, nos documentos norteadores da educação ambiental, que defendem que um profissional subsidiado ambientalmente é capaz de contribuir de forma segura e eficiente para o atenuamento dos problemas sócio-ambientais acumulados. Tal quadro requer de todos, que atuam na área da educação profissional, uma construção de novos paradigmas e posturas que possibilitem ao trabalhador formado nos cursos tecnológicos a apreensão de conceitos e valores que promovam a adoção de novas práticas socialmente justas, economicamente viáveis e ambientalmente sustentáveis. PALAVRAS CHAVE: Políticas Educacionais; Currículo; Educação Ambiental. 1. Introdução Este artigo, resultado de uma pesquisa teórico-bibliográfica, tem por objetivo discutir a realidade da questão ambiental e seu caráter subversivo à ordem vigente na atualidade, problematizando a fragilidade do discurso ambiental e o jogo de interesses nele envolvido. Para tanto, analisam-se os documentos internacional, nacionais e locais, que subsidiam propostas de mudanças e a importância dada à educação neste processo. A partir daí, pretende-se discutir o papel da fundamentação ambiental na formação do tecnólogo, na construção do perfil profissional de um trabalhador concatenado com as demandas do Século XXI. Com premência da causa ambiental, vários são os autores que versam sobre a questão, mais especificamente, sobre a Educação ambiental. Dentre estes, foram escolhidos para fundamentar este texto, alguns autores que se orientam pelo Materialismo Histórico Dialético: Santos e Gonçalves, para o entendimento da problemática ambiental no contexto da complexidade da sociedade contemporânea; Medina, no que se refere ao papel das instituições no avanço da causa ambiental; Dias, para a análise de políticas e instrumentos que possibilitem o avanço da causa ambiental no Brasil; Freire, com o possível perfil emancipador da educação e Ramos, na discussão do currículo na formação profissional. O Estado é aqui entendido, em uma perspectiva gramsciana, como composto pela sociedade política e sociedade civil. Defende-se a idéia que, com o agravamento da problemática ambiental, paulatinamente, estas duas esferas deverão ir se aproximando em torno de uma mesma causa, qual seja a mitigação dos danos, a despeito dos interesses econômicos majoritários na sociedade capitalista. Para lograr sucesso na explanação aqui proposta, este artigo está estruturado em subitens que particularizam determinadas abordagens sem, contudo, se desvincular da temática central, sendo eles: O Homem na natureza e a natureza do homem; O discurso científico e os desafios da problemática ambiental; Movimento Ambientalista e nele a Educação Ambiental; O Ensino profissionalizante. 2. O Homem na natureza e a natureza do homem O desenvolvimento da humanidade vem se dando no planeta Terra, cuja existência a antecede e a vem comportando, atendendo a todas as suas necessidades básicas. Pertencendo ao mundo natural, o homem organiza-se socialmente produzindo sua existência, mediado pelo trabalho. Com a ampliação de sua capacidade de intervir na natureza, motivadas pela ampliação de suas necessidades, estas intervenções alcançam o planeta de forma devastadora. Cassete (1999) aponta que neste contexto, os detentores das técnicas, detém também privativamente parcelas de natureza, transformando-as e legitimando-as como mercadoria. A apreensão deste fato e conseqüências resultantes, só em parte alcançou a reflexão intelectual, destacando-se Marx e Durkheim, quando registraram o entendimento do mundo natural como um fator causal decisivo na história humana. Neste sentido, vale destacar ainda, Tomas Huxley (1862) em seu ensaio Evidências sobre o lugar do homem na natureza, que trata das interdependências entre os seres humanos e os demais seres vivos. Esta obra influenciou posteriormente, Perkin Marsh no O homem e a natureza, na qual documentou como os recursos do planeta estavam sendo esgotados, prevendo que tais ações não continuariam sem exaurir a generosidade da natureza. Na atualidade, constata-se que o modo de produção capitalista caracteriza-se simultaneamente pelo alto consumo de recursos naturais e de desperdício, que se distribuem desigualmente pelos diferentes segmentos sociais, culminando em um quadro de desequilíbrio sócio-ambiental nunca conhecido. As condições ambientais caóticas constituem-se em expressão concreta do outro lado do projeto de vida do homem contemporâneo cuja existência é, em boa parte, reduzida paulatinamente a intercâmbios mercadológicos. Sobre esta realidade Mészaros (2008) contribui: Vivemos numa ordem social na qual mesmo os requisitos mínimos para a satisfação humana são insensivelmente negados a esmagadora maioria da humanidade, enquanto os índices de desperdício assumiram proporções escandalosas, em conformidade com a mudança da reivindicada destruição produtiva, do capitalismo no passado, para a realidade, hoje predominante, da produção destrutiva. (...) (MÈSZAROS, 2008, p.73). Avolumam-se os alertas e relatos sobre as inúmeras formas de degradação que o planeta vem sofrendo e da necessidade da sociedade humana “rever” sua rota e buscar novos caminhos, apesar da resistência efetivada por parcela da elite mundial dominante economicamente e influente politicamente. Este contexto aponta para o reconhecimento de que somos contemporâneos a uma crise estrutural global do capital e do modelo sociedade baseado na produção industrial. Segundo Mészaros (2008), estamos em uma época histórica de transição de uma ordem social existente para outra, qualitativamente diferente em que os processos educacionais assumem papel muito importante. 3 . O discurso científico e os desafios da problemática ambiental Compreendendo que são nos momentos de crise que se redefinem rotas, no meio cientifico com a persistência do avanço da degradação da natureza e das cobranças pela sociedade organizada, da erradicação dos danos, a comunidade científica se coloca em um verdadeiro impasse, pois é chamada a dar respostas que em parte, não as tem para dar. A Ciência Moderna foi responsável por oferecer subsídios para a edificação de aparato tecnológico, que possibilitou o acesso a uma série de instrumentos que, revolucionaram situações e hábitos devido à rapidez e grandiosidade das transformações atingidas. Reconhece-se que pelo viés econômico, a sociedade atingiu sucesso, mas peloo viés sócio-ambiental, é possível perceber do preço pago estar aonde estamos e da periculosidade de continuarmos a fazer o que fazemos. Este contexto vem motivando discussões em busca da construção de novo modelo de Ciência, que adote metodologias de apreensão do real em uma perspectiva de totalidade, ou seja, que procure apreender a realidade concreta, em suas múltiplas determinações. Esta é uma necessidade que atinge o meio científico indistintamente, se não por questão ética, por questão técnica, pois se com os instrumentos disponíveis não se consegue dar a resposta à resolução dos problemas apresentados, tem-se que trabalhar na construção de novos, com bases diferenciadas. De acordo com Guevara (1998) a reflexão sobre a relação entre o natural e o artificial, sobre como a revolução científica e industrial levaram o homem a se ver dissociado de seu meio natural e de como as fronteiras e interfaces entre o natural e o artificial estão se tornando cada vez mais difusas, tornaram-se imprescindíveis neste contexto de necessária mudança. Isto exige reflexões sobre a necessidade de se procurar novo sentido de vida compatível, com novos conhecimentos, paradigmas e valores que possibilitem outras formas de relações entre os humanos e entre estes e a natureza. Refletindo tal situação, Guevara faz a seguinte recomendação: (...) Precisamos ir além do naturalismo ingênuo de Rousseau e da própria visão holística da ecologia integral, procurando dentro de uma ética da diversidade, mecanismos que facilitem a sobrevivência e estimulem a procura da transcendência. Precisamos procurar formas de recuperar valores humanos e espirituais para adentrar solidariamente na nova era do conhecimento. (GUEVARA, 1998, p.50) No seio das Ciências Ambientais emergem estudos, que chamam para a necessidade de revisão de paradigmas, metodologias e métodos de entendimento e atuação, como a necessidade de reformulação da concepção de natureza e da superação da antítese homem-natureza. Para a superação disto, alguns estudiosos propõem a adoção da Dialética da Natureza, dentre eles temos Quaini (1979), que aponta para eficiência do materialismo histórico na superação da antítese homem-natureza, pois como teoria científica indissociável, considera simultaneamente a relação do homem com a natureza e do homem com o próprio homem, enaltecendo a historicidade da natureza e a naturalidade da história. Segundo este mesmo autor, a interface entre o físico e o não-físico esteve sendo negada pelas ciências ambientais e a integração entre natureza e sociedade, como unidade, só nos últimos tempos ganha corpo, a partir do avanço dos estudos dialéticos. Paulatinamente avolumaram-se os estudiosos favoráveis a necessidade de se livrarem dos discursos irracionais, adotados em nome da eficiência e modernização, captando a dimensão histórica das sociedades em busca da liberdade do homem, apontado à necessidade de romper com a alienação resultante do modelo de racionalidade do pensamento iluminista. Estes teóricos, segundo Quaini (1979) devem, se proporem a romper com o antinaturalismo, pois quanto mais o homem se afasta da natureza, mais longe fica de sua essência, legitimando sua própria alienação. Eles se propõem a resignificação do conceito de natureza em uma perspectiva dialética, na qual se procura compreender as relações processuais entre homem e a natureza, na concreticidade das relações sociais de produção e respectivas superestruturas ideológicas que legitimam a apropriação privada da natureza. O homem ao se compreender como um ser natural, pode tomar consciência de que a natureza lhe pertence como substrato material e recurso necessário à sua sobrevivência. Esta consciência podendo contribuir para a construção de atitudes coletivas de contestação a toda forma de alienação, o que implicaria na rediscussão do conceito de propriedade dos meios de produção, levando à necessária compreensão da essência ambiental. Segundo Casseti (1999) ao possibilitar o entendimento da relação entre o mundo natural e o histórico-humano numa perspectiva interdisciplinar, a dialética da natureza possibilita a aproximação dos diferentes ramos do conhecimento humano, divididos tanto pela metafísica quanto pela ciência positivista. Nesta abordagem epistemológica, a especialidade seria entendida como necessidade do conhecimento sem perder a perspectiva do todo, o que promoveria maior responsabilidade da ciência com o pensamento crítico e comprometido com uma prática voltada para construção de maior justiça social a partir da libertação do homem da alienação imposta como forma de dominação. Ao se promover, segundo Quaini (1979) o diálogo entre as ciências na perspectiva dialética da natureza, vislumbra a possibilidade de aproximação entre as questões científicas e filosóficas, pois a crise dos fundamentos do conhecimento científico liga-se a crise dos fundamentos do conhecimento filosófico, convergindo as duas na crise ontológica do Real, para nos confrontar com o problema da crise dos fundamentos do pensamento. Segundo este mesmo autor, teóricos que adotam a dialética da natureza reconhecem a insuficiência, tanto da filosofia como da ciência para produzir, isoladas, um conhecimento, que dê respostas às questões sociais relevantes para a sobrevivência da espécie humana e consequentemente de seu meio natural. Estes teóricos consideram imprescindível a integração entre as duas, partindo do princípio de que falar em dialética envolve necessariamente, pensar no movimento, na contradição, e na sua integração numa totalidade, implicando portanto, partir do pressuposto filosófico para entender a materialidade do conhecimento científico em sua essência. A partir do momento em que o homem compreender a relação dialética entre natureza e sociedade, não existirão mais motivos para o antagonismo de classes e apropriação dilapidadora da natureza, nos moldes observados atualmente. Mas para tal, é imprescindível a superação da alienação do homem real. Neste processo, Cassete contribui: Num primeiro momento, o homem tem necessidade de se conscientizar de que é natureza, o que estiolará a concepção da natureza como objeto universal de trabalho. A partir de então, a natureza (com a incorporação do homem) entendida, como sujeito e objeto ao mesmo tempo, permitirá a compreensão da existência da dialética da natureza, pondo fim à dicotomia histórica que se constitui em argumento ideológico para a manutenção dos antagonismos de classes (burguesia e proletariado), de crenças (grecoromana e hebraico-cristã) e de raças (apartheid e as diferentes formas de discriminação), além de desmistificar o problema ambiental como necessidade resultante do progresso. (CASSETI, 1999, p.131). Na atualidade, devemos reconhecer que as mudanças desejadas estão atreladas às mudanças dos instrumentos responsáveis pela formação da consciência social. E segundo Casseti (1999), este é um momento em que a ciência deverá assumir importância fundamental, procurando através de uma postura crítica, resgatar o erro histórico de ter auxiliado o legitimar dos interesses do sistema de produção camuflada por uma pretensa neutralidade científica. Para tal, fundamentada na lógica dialética, ela deverá contribuir para evidenciar a relação homem-natureza no processo histórico, onde os diferentes modos de produção respondem pelas formas diferenciadas de apropriação da natureza. Nesta abordagem teórica, as relações processuais são analisadas em sua totalidade, onde o homem e natureza integram-se de forma completa, justificando as razões da lógica dialética e da importância do processo de superação da alienação para a verdadeira libertação. Assim defende-se que para a ciência atingir o avanço necessário para assumir seu caráter social irrestrito, é necessário uma ruptura epistemológica fundamental para a transformação das ciências ambientais. Devemos reconhecer também que embora nos processos educativos gerais, acessíveis ao cidadão desde tenra idade, não se tenha como objetivo levar até o educando as discussões científicas puras, os conteúdos de sala de aula bebem nestes originalmente. Desta forma, as crises que atingem o âmbito científico, acabam por repercutir no cotidiano dos processos educativos. Assim, se o discurso das Ciências Ambientais está repleto de fragilidades, não é de se entranhar que em educação ambiental, esta fragilidade também apareça. 4. Movimento Ambientalista e nele a Educação Ambiental A Revolução Industrial se constituiu em marco da degradação ambiental, visto que a partir dela, instalou-se um processo contínuo de ampliação do grau de intervenção humana na natureza, por meio da aplicação eficiente qualitativa e quantitativamente das técnicas disponíveis, extrapolando sua capacidade natural de autorregeneração. A constatação dos danos ambientais, principalmente nos centros urbanos dos países industrializados, gerou na década de 1960, a eclosão do movimento ambientalista, que seria considerado posteriormente um marco rumo à luta pela superação da degradação dos elementos naturais. Como movimento de massa, foi neste período nos EUA (inserido no clima de descontentamento com o prolongamento da Guerra de Vietnã) que este movimento teve surgimento para logo ser exportado aos demais países ricos. Nestes países o avanço da causa ambiental, se deu pela verificação dos danos deixados pela produção industrial pelo uso da herança tecnológica da II Guerra Mundial. A causa ambiental foi ganhando força e adeptos, com as denúncias, que acabariam por ameaçar à ordem vigente. Tal evolução constituiu-se motivo para a realização em 1972 em Estocolmo da Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, a primeira reunião de líderes mundiais para discutir os problemas ambientais. Neste contexto, nasceram a defesa e as bases do que chamamos hoje de educação ambiental, pois cedo, detectou-se a necessidade de um processo educativo que, possibilita-se ao cidadão um entendimento da relação homem/natureza mais responsável, a fim de promover ações cotidianas menos danosas à sobrevivência humana. Em praticamente todos os eventos em que foi discutida a causa ambiental, se reservou espaço à educação ambiental, que passa a gozar do reconhecimento unânime de sua necessidade. Assim, em 1972 na Conferência de Estocolmo, deliberou, pela necessidade do desenvolvimento da educação ambiental junto à população, vista como elemento auxiliar na superação dos problemas ambientais, com papel especial às escolas. Nesta reunião, deliberou-se pela realização de evento específico de Educação Ambiental, que foi preparado pela conferência de Belgrado (1975), quando foi produzida a Carta de Belgrado, com os elementos norteadores da Educação Ambiental. Em Tbilissi (1977 na Geórgia/Rússia), cumpriu-se o deliberado efetivando-se a Primeira Conferência Mundial de Educação Ambiental, onde foi homologado a Carta de Belgrado e o Programa Internacional de Educação Ambiental – PIEA -, apresentando objetivos, princípios orientadores e estratégias para seu desenvolvimento no âmbito mundial. No informe final desta conferência, ficou estabelecido que: A Educação Ambiental é parte integrante do processo educativo. Deve girar em torno de problemas concretos e ter um caráter interdisciplinar. Sua tendência é reforçar o sentido dos valores. Contribuir para o bem-estar geral e preocupar-se com a sobrevivência da espécie humana. Deve ainda, aproveitar o essencial da força da iniciativa dos alunos e de seu empenho na ação, bem como se inspirar nas preocupações tanto imediatas quanto futuras. (BRASIL, 1998, p.33). Considera-se a década de 1980 como de consolidação do movimento ambientalista junto à sociedade mundial, dentre outros, pela repercussão da publicação do relatório “Nosso Futuro Comum”, que estabeleceu paralelo entre a erradicação da pobreza e desenvolvimento sustentável. Neste, enfatizou-se a necessidade de se rever a relação da sociedade com a natureza, sob pena de, em um espaço de tempo curto, exaurirem-se, os recursos naturais do planeta colocando em risco a sobrevivência da espécie humana. O referido documento, ratificado na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CONUMAD), realizada no Rio de Janeiro em 1992, passou a influenciar outros textos, elaborados no mesmo período, dentre eles a Agenda 21, este faz a defesa do agir local concatenado com o geral, sendo necessário o investimento na consolidação de uma nova postura do cidadão frente à natureza. Nele, a educação ambiental mostra-se presente. Neste contexto na versão brasileira, na Seção IV (meios de implementação) e capítulo 36, encontra-se a defesa da necessidade da promoção do ensino, da conscientização e do treinamento em Educação Ambiental. Vale destacar o fato de neste período, a maioria das organizações no interior das Nações Unidas, já atuarem em educação ou formação ambiental, como a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), OIT (Organização Internacional para o Trabalho), UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), BIRF (Banco Internacional de Reconstrução e Fomento), OMS (Organização Mundial de Saúde), OMM (Organização Meteorológica Mundial), PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Na atualidade, observa-se, paralelamente, o avanço do movimento ambientalista, e o aumento da demanda por matérias primas e conseqüentemente da pressão sobre os recursos naturais. Tal quadro evidencia, dentre outros, que em uma disputa de forças, a elite dominante economicamente, mesmo que reconheça a existência do problema, não está disposta a abrir mão de sua lucratividade. Vale destacar que repensar a relação homem/natureza significa questionar a economia globalizada e nela, sua forma abusiva de apropriação dos meios materiais e humanos. Isto acaba por criar um cenário de embates e choques constantes entre os adeptos da mudança e os da manutenção da ordem vigente. Sempre presente nos eventos ambientais internacionais, o Brasil só muito recentemente testemunhou maior envolvimento da população e governantes com a causa ambiental, mesmo que esta consciência esteja presente mais no discurso do que na prática. Segundo Drumoond apud Philippi (2004), este atraso se deu em grande parte devido às “seqüelas” do Golpe Militar de 64, momento em a consciência ambientalista foi prejudicada pelos cerceamentos dos processos democráticos. A desmobilização da sociedade civil resultou numa atuação estatal tímida e particularmente voltada para a preservação do chamado ambientalismo geográfico, naturalista. A década de 1970 foi de baixo impacto do movimento ambientalista sobre a opinião publica brasileira. Nos anos 1980, apesar da crise econômica, observou-se uma melhora neste quadro, mesmo a área ambiental constituída como um setor do aparelho governamental e desempenho deficiente. A homologação da Constituição Federal (CF/1988) representou um marco para a política ambiental brasileira, ao assegurar um capítulo dedicado ao meio ambiente, versando detalhadamente sobre elementos naturais. No Art. 225 do texto legal, lê-se: Todos têm direito a um ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial a sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para os presentes e futuras gerações. (BRASIL, 1998) No desdobramento deste artigo, no inciso VI CF/1988, reserva-se um espaço para destacar a importância da educação ambiental e necessidade de sua implantação em todo o território nacional, por meio dos sistemas de educação, envolvendo tanto o ensino formal quanto não formal, onde se lê: “Promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.” (BRASIL, 1998) A realização da Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CONUMAD), no Brasil em 1992, lança as bases sobre as quais os países do mundo deveriam empreender ações concretas para a melhoria das condições sociais e ambientais, tanto no âmbito local como planetário. Apesar da importância política, este evento não conseguiu discutir profundamente as causas estruturais dos problemas ambientais. Esta situação repetindo-se, dez anos depois em Johanesburgo (África do Sul) na “Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável” e também, em 2012, no Rio de Janeiro, na Rio + 20, cuja fragilidade dos mesmos pode ser abstraída da leitura dos documentos finais destes eventos. Pelo mundo, o movimento ambientalista veio demonstrando crescente integração com outros movimentos sociais. Seu amadurecimento permitiu evidenciar que, por trás da degradação ambiental, encontram-se, estruturas econômicas globalizadas, o que exige estratégias políticas de enfrentamento global para garantir a construção e a consolidação das sociedades sustentáveis. Neste contexto, destacando o papel da educação enquanto estratégia política na superação ou manutenção de quadros vigentes, Mészaros diz: O que está em jogo aqui não é simplesmente a deficiência contingente dos recursos econômicos disponíveis, a ser superada mais cedo ou mais tarde, como já foi desnecessariamente prometido, e sim a inevitável deficiência estrutural de um sistema que opera através dos seus círculos viciosos de desperdício e escassez. È impossível romper esse círculo vicioso sem uma intervenção efetiva na educação, capaz, simultaneamente, de estabelecer prioridades e de definir as reais necessidades, mediante plena e livre deliberação dos indivíduos envolvidos. Sem que isso ocorra, a escassez pode ser - e será – reproduzida numa escala sempre crescente em conjunto com uma geração de necessidades artificiais, absolutamente devastadora, como tem ocorrido a serviço da insanamente orientada autoexpansão do capital de uma contraproducente acumulação. (MÈSZAROS, 2008, p.74) Ainda como reflexo da realização da Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no Brasil e a participação assídua do país nas conferências específicas de educação ambiental, criou-se um clima político favorável para em 1999 ser aprovada a Política Nacional de Educação Ambiental, por meio da Lei nº. 9.795, regulamentada em 2002. Esta Lei traz na Seção II a fundamentação legal para a educação ambiental. O Artigo 9º trata de sua prática no ensino formal (apresentando a educação profissional) e o Artigo 10º regulamenta a educação ambiental, no ensino não formal, com destaque para a responsabilidade do poder público no incentivo ao desenvolvimento de práticas ambientalmente respaldadas. Em uma ação conjunta do Ministério do Meio Ambiente e da Educação, lançouse o Programa Nacional de Educação Ambiental – PRONEA -, dando eficácia ao mandato constitucional e compromissos internacionais. Várias linhas de ação são expressas orientando no desenvolvimento da educação ambiental formal e não formal. Na Linha de Ação I, este documento registra um dos objetivos do respectivo programa: Capacitar o sistema de educação formal, supletivo e profissionalizantes, em seus diversos níveis e modalidades, visando à formação da consciência, a adoção de atitudes e difusão do conhecimento técnico e prático, voltado para a proteção do meio ambiente e a conservação dos recursos naturais. (BRASIL, 1997, p. 8) Na década de 1990 os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs são lançados pelo Ministério da Educação, com o objetivo de nortear as discussões pedagógicas na escola e subsidiar a elaboração de projetos, planejamento das aulas, reflexões sobre a prática educativa e para a análise de material didático. Desta coleção, um dos fascículos foi dedicado à educação ambiental e recebeu a denominação de Meio Ambiente. A educação ambiental foi tratada como tema transversal, reforçando o contido nas recomendações internacionais da década de 1970, que solicitava a implantação do trabalho com a educação ambiental nas escolas e que não abalizava a sua concretização como disciplina curricular. Deste modo a sua, implantação e desenvolvimento, ficou sob responsabilidade de toda a comunidade escolar e não só do professor. Este documento foi considerado importante para o avanço da materialização das práticas vinculadas à área no ensino formal. Tal ação obteve reconhecimento, internacional na Conferência Mundial de Educação Ambiental de 1997 em Tessalonic (Grécia), passando o Brasil a ser referência para os demais países. Reconhecemos que internacionalmente, o Brasil tem se destacado em transformar rapidamente as orientações das Conferências Internacionais, de maneira geral, em leis federais, estaduais e municipais, na área da educação ambiental. Tal postura não sendo comum à maioria dos países do mundo, que normalmente levam tempo para homologarem as orientações internacionais. Devemos reconhecer nisto um mérito para a população brasileira, mas se por um lado devemos nos orgulhar, por outro devemos ver com a cautela devida o fato destes documentos não ter sido materializado em íntegra na prática, no fazer pedagógico cotidiano, tanto no ensino formal quanto no não formal. Segundo Dias (2002), registros manifestando preocupação com os efeitos da Revolução Industrial na Inglaterra sobre o ambiente, efetivados por Patrick Geddes, colocou-o como um dos precursores da questão ambiental e posteriormente pai da educação ambiental. Pondera-se que a partir de sua leitura, grupos passaram a apregoar a necessidade de pensarmos diferente para mudarmos a nossa forma de agir. O atendimento a esta necessidade ainda se mostra hoje como o grande desafio para educadores e educandos, pois está aí um dos elementos principais a contribuir para a superação do quadro sócio-ambiental caótico. È comum nos textos oficiais como o da Política Nacional de Educação Ambiental, Programa Nacional de Educação Ambiental etc., literaturas específicas de Educação Ambiental e mesmo e entre educadores, o reconhecimento de que a educação ambiental objetiva auxiliar o desenvolvimento de conceitos que lhes possibilitem empreender uma compreensão crítica e global do meio, a fim de promover a revisão de valores e o desenvolvimento de atitudes que lhes permitam a adoção de posicionamento crítico e participativo frente à sociedade, que serão fomentados por meio da construção de um conhecimento integrado da realidade e da investigação dos problemas ambientais que utilize metodologias e procedimentos de pesquisa multidisciplinares. A educação ambiental, como processo de educação política, deve ir, em busca de oferecer uma formação adequada para que a cidadania seja exercida, por meio do incentivo da ação transformadora e da oferta de instrumentos para que o indivíduo e a coletividade contribuam para melhorar a qualidade de vida. No texto da Lei nº. 9.795, a educação ambiental é definida como: (...) processos por meio dos quais os indivíduos e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos e habilidades, atitude e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999). Diante deste quadro, é fundamental que se construa uma proposta de educação ambiental, subversiva à ordem vigente, que saia do papel e chegue a prática, que possibilitem a formação de cidadãos, agente na edificação de uma sociedade de bases mais justas em que homem e natureza sejam respeitados. Para que não incorramos no erro de desperdiçarmos ações, István Mészarós (2008) adverte para o perigo de os educadores ambientais caírem na armadilha de se resignar em ser apenas “Reformistas do sistema do capital”, não conseguindo ir além dele. Precisamos nos precaver, construindo e divulgando uma percepção de mundo assentada em bases diferentes, que atenda aos ideais dos cidadãos de uma maneira geral e dos educadores em particular. O cenário à frente é de trabalho e perseverança e passa, pelo revisitar dos currículos escolares, reconhecendo-o como produção social e cuja materialização junto ao aluno gera conseqüências, dentre elas a manutenção ou transformação da realidade vigente, pois como produto histórico, o currículo é resultado de um conjunto de forças sociais, políticas e pedagógicas que expressam e organizam saberes que norteiam as práticas escolares na formação dos sujeitos que por sua vez são históricos e sociais. 5. Ensino profissionalizante Resgatando a história do ensino profissionalizante no Brasil, tem-se o fato que o assistencialismo marcou a origem deste modelo de ensino, tendo seu início em 1809, buscando amparar os desvalidos economicamente (Casas de Educandos e Artífices), oferecendo-lhes um mínimo de formação que lhes permitissem desenvolver uma atividade que lhes gerassem ganhos, contribuindo para a diminuição da pressão social sobre as elites. Segundo Lima Filho (2006), quando o país inicia sua industrialização, ocorre uma relativa mudança de seu perfil, assumindo a função de formar operários para a indústria e trabalhadores para a agricultura (Escolas de Aprendizes e Artífices). Nascida com o objetivo de educar para o trabalho, educação profissional tem sua evolução marcada pela proximidade com as demandas histórico-sociais de cada época e pela diferenciação entre educação técnica e educação propedêutica, duas características em tempos atuais, embora atenuadas, ainda presentes no cotidiano de parcela das instituições de ensino. A dualidade histórica entre educação técnica e propedêutica foi marcada pelo estereótipo de que a primeira estaria voltada para a capacitação profissional, destinada aos filhos de trabalhadores e a segunda voltada para a formação clássica, humanística e científica, portanto oferecida para quem não precisava trabalhar ou poderia postergar seu ingresso no mercado de trabalho, os filhos da elite. Esta dualidade estrutural da educação brasileira segundo, segundo Lima Filho (2006), encontra explicação na cisão entre produção intelectual e material, entre teoria e prática e a subordinação da prática à teoria, em uma perigosa hierarquização de saberes e fazeres. A superação disto é desafio que vem acompanhando ensino profissionalizante no país, em especial o praticado na rede federal, desde antes de se constituir como tal com as Escolas de Artífices, passando pelas Escolas Técnicas, Centros Federais, chegando até aos mais recentes Institutos Federais. Tal intento, na atualidade passa pela adoção de práticas vanguardistas em que o desenvolvimento da educação ambiental, com suas características de propiciar uma apreensão crítica da realidade e cobrar um posicionamento dos envolvidos no processo educativo, no interior destas instituições pode constituir-se em grande ajuda. Na atualidade, dado a diversidade de público e condições destas instituições espalhadas pelo Brasil, podendo ser exemplificada com o caso do Estado de Minas Gerais, com 38 campi e Bahia com 25, conforme dados do site do MEC (2012), indícios apontam para o fato de algumas delas ainda esbarram na condição de reprodutoras das políticas educacionais fracionadoras de diversos governos e dirigentes, refletindo os interesses dos empregadores. Elas oferecem, em muitos casos, uma formação reduzida às questões técnicas e tecnológicas demandadas pelo mercado em uma formação instrumental e reducionista, dificultando o próprio exercício da cidadania, por parte do trabalhador egresso destas Instituições Tal quadro mostra-se preocupante, pois mesmo com dificuldades apresentadas na Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica (RFEPCT), suas escolas apresentam-se geralmente, no contexto das localidades em que são edificadas, em boas condições para, a implementação de práticas mais vanguardistas, concretizadas por currículos e projetos pedagógicos de cursos, que auxiliem no despertar do cidadão trabalhador. Nelas encontram-se condições objetivas de trabalho que poderia lhes permitir ir muito além da formação técnica e desenvolver um trabalho sistemático com os educandos, que contribua no desenvolvimento de instrumentos intelectuais que lhes possibilitem uma reflexão autônoma e a compreensão do mundo em suas múltiplas facetas, com a criticidade que deve ser inerente à postura do trabalhador consciente. Isto encontra explicação no fato de que boa parte da melhoria efetivada nestas Instituições de formação profissional, em tempos recentes, estar inserida nas necessidades das reformas neoliberais, patrocinadas por organismos internacionais. A imposição do oferecimento de um ensino mais integrado com o sistema produtivo, mais flexível, de menos custo e duração em relação aos cursos tradicionais, vem se constituindo em grande desafio a ser transposto, para os profissionais que atuam nestas instituições e que acreditam na possibilidade de em suas atividades cotidianas junto aos educandos, contribuir para a transformação social. É neste contexto, de busca da (re) construção das identidades destas Instituições assentado em um referencial de qualidade educacional neoliberal, compromissado com os interesses das elites econômicas e não dos trabalhadores, que a obrigatoriedade do trabalho em educação ambiental se constitui, e é ai, neste mesmo contexto que é encontrado brecha para a legitimação da discussão ambiental e da própria educação ambiental. Pela rigidez da legislação ambiental e a cobrança das grandes empresas possuírem Sistemas de Gestão Ambiental para conseguirem novos mercados no exterior, somado ao fato de no mercado interno ter um grupo de consumidores, dispostos a pagar mais por um produto “verde”, a adesão à causa ambiental por parte do empresariado vem se mostrando promissora. Isto constituindo em ponto de pressão junto às instituições, para a formação de profissionais que os ajudem a se diferenciarem dos concorrentes, o os possibilite a aquisição de certificações ambientais, quando as ações de sensibilização ambiental, junto aos colaboradores, são obrigatórias. O reconhecimento desta realidade na esfera empresarial e de suas necessidades específicas no mercado atual, devem ser considerada estímulo ao cumprimento da legislação na implantação e desenvolvimento da educação ambiental no cotidiano das instituições de ensino profissionalizante. Aliando estas duas demandas, mais facilmente seria possível nas instituições, transformando-as em verdadeiros laboratórios de práticas ambientais, a implantação de políticas ambientais em seus interiores e a partir destas, um sistema de gestão ambiental próprio (SGA), que para tal, pelo necessário envolvimento do público alvo neste processo, em si já se constituiria em motivação significativa para o avanço da educação ambiental. Apesar disto, tudo indica, por pesquisa ainda não concluída. que a educação ambiental apresenta-se com grande possibilidade de estar ainda em estágio embrionário em parcela das instituições que compõem a RFEPCT, mas cuja comprovação se mostra dificultada por desconhecer-se, até então, por vias oficiais, o nível de comprometimento das instituições públicas com a incorporação das questões ambientais em seus cursos, o que só em si já constitui um indicativo de que o desenvolvimento da educação ambiental não mostra-se como uma prioridade. Pelo site do Ministério da Educação (20012), existem 366 campi da RFEPCT, e destes 147 oferecem cursos na área ambiental, mas pelos estudos ainda parciais efetivados, isto não implica necessariamente em um diferencial frente aos demais, no que se refere à adoção de práticas subisidiadas ambientalmente em seus cotidianos. Isto ocorrendo apesar obrigatoriedade de sua efetivação estar fundamentada legalmente no Artigo 225 do texto da Constituição Federal (CF 88), e na Política Nacional de Educação Ambiental regulamentada por meio da Lei nº 9.795 e do Programa Nacional de Educação Ambiental, em que se apresentam os caminhos a serem percorridos, pelas instituições e sistemas educacionais. A Lei nº 9.795 de 1999, em sua Seção II respalda o espaço da Educação Ambiental, o Artigo 9º trata de sua implantação no Ensino Formal (onde encontra a educação profissional). O Artigo 10º regulamenta a Educação Ambiental no Ensino não Formal, com destaque para a responsabilidade do poder público no incentivo ao desenvolvimento de práticas ambientalmente respaldadas. Além da fundamentação legal, a necessidade da Educação Ambiental é reforçada pela concepção da educação ambiental, enquanto processo de educação política, que visa oferecer formação para a cidadania, por meio de incentivo da ação transformadora, e da oferta de instrumentos para que o indivíduo e a coletividade melhorarem a qualidade de vida. Embora reconhecendo o poder de transformação que a educação ambiental e de seu potencial para a construção de uma realidade mais justa, vale destacar que ela sozinha não nos levaria a atingir o objetivo de transformação do cotidiano do ensino nas escolas profissionalizantes, e da própria sociedade em que está inserida. Para tal se faz necessário, considerar Leff (2001), quando aponta que a formação ambiental discute os métodos tradicionais de ensino, colocando novos desafios à transmissão do saber, onde existe uma estreita relação entre pesquisa, docência, difusão e extensão do saber, a Educação Ambiental exige, pois, novas atitudes dos professores e dos alunos, novas relações sociais para a produção do saber ambiental, novas formas de inscrição da subjetividade nas práticas pedagógicas. O grande desafio reside em além de tomar conhecimento do teor textos oficiais, desencadear um processo que prime por estudá-los, contextualizá-los, submetê-los a criticidade, elemento balizador das possibilidades de pô-los em prática. Cumpre preparar a comunidade escolar conceitualmente para ousar, na construção de instrumentos e práticas que possibilitem ações efetivas junto ao educando, materializados nos Projetos Políticos Pedagógicos e nos currículos, objetivando a construção de nova mentalidade. Esta devendo ser levada para além das instituições por meio do futuro exercício profissional do aluno colocando-o na condição de agente na transformação de mentalidades, como também de transformador de sua própria realidade, sendo que para tal não existem ações menores e nem maiores, apenas ações necessárias. 6. Considerações Finais Diante do quadro de crise geral, em que se encontra a sociedade contemporânea, nos aspectos econômicos, sociais e políticos, direta ou indiretamente influenciados pelo agravamento dos problemas ambientais, aponta para o fato de historicamente sermos contemporâneos a um período decisivo na definição de novas rotas a serem percorridas pela sociedade humana. Neste contexto, se faz necessário rever paradigmas, concepções de mundo, reformular conceitos, alterar hábitos cotidianos, etc., precisamos mais do que nunca investir na mudança, pois se pretendemos para o futuro uma realidade diferente da presente, precisamos adotar hoje novas práticas, pois só assim assumiremos a condição de agentes edificadores de uma realidade mais favorável a sobrevivência com qualidade da humanidade, quando neste quadro a Educação Ambiental assume espaço especial. A causa ambiental traz em si um grande potencial de subversão à ordem vigente que é repassado ao conjunto de documentos a subsidiar da Educação Ambiental, originários tanto das esferas internacional, nacional como local, pois detentores de uma qualidade aceitável, em sua grande maioria lançam bases para edificação de uma nova sociedade. Para isso se aposta em uma ação educativa voltada para o fomento de uma nova mentalidade, que fruto de reflexão autônoma, que propicie a adoção por parte dos indivíduos de um posicionamento responsável, frente à construção de uma nova realidade. Para a adoção no cotidiano escolar de práticas ambientalmente corretas, socialmente justas e economicamente viáveis, impõe-se aos educadores, o desafio de conhecer estes documentos, além de investir em uma melhor fundamentação que os possibilite ousar na implantação da Educação Ambiental em seus cotidianos educativos, propondo e efetivando as alterações necessárias, assim como o devido acompanhamento e participação das discussões sobre esta temática no meio científico. Levando em consideração o tipo e qualidade do ensino, oferecidos pelas escolas de formação profissional e principalmente o grau de inserção dos egressos na sociedade, é possível vislumbrar o potencial transformador do cidadão trabalhador que, fundamentado também na área ambiental, consciente de seus direitos e deveres, atuará como agentes auxiliares na edificação de uma sociedade mais justa nos aspectos econômicos, políticos, sociais e ambientais. O texto Constitucional e a própria Política Nacional de Educação Ambiental, materializam-se em instrumentos significativos na preparação deste profissional diferenciado que se reconhecendo cidadão, antes de tudo, ao atuar em prol da natureza atuará respectivamente em prol de uma sociedade mais responsável em sua relação com a natureza, como reflexo de uma relação mais respeitosa entre os próprios homens. Referências Bibliográficas ARROYO. Miguel G. - Experiência de inovação educativa: o currículo na prática da escola. 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