Compre uma promoção e ganhe uma experiência! Uma perspectiva relacional entre ações promocionais e o consumo hedônico. Autoria: Jalmir Pinheiro de Souza Júnior, Viviane Santos Salazar, Ricardo Brauer Vigoderis, Monique do Val de Souza Resumo A experiência de consumo tem sido pouco explorada no que tange a algumas relações, sendo uma delas a estabelecida com a promoção de vendas. Esta investigação objetivou analisar tais relações no que diz respeito às perspectivas do consumidor de construir suas experiências. Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada por meio de entrevistas episódicas. A interpretação foi feita a partir das técnicas de análise de conteúdo e pragmática da linguagem. Observou-se a ocorrência da relação intrínseca entre o participar de uma promoção e a realização de uma experiência tanto positiva quanto negativa, guiada, na maioria das vezes, por fatores afetivos, hedônicos. Palavras-chave: Experiência de consumo, promoção de vendas, consumo hedônico 1 1. Introdução A sociedade, e como consequência o mercado, vem nas últimas décadas reestruturando suas bases e as relações estabelecidas em função das mudanças construídas pela evolução social, econômica e tecnológica. A queda do poder aquisitivo das classes média e alta e o aumento do poder de compra das classes mais baixas, bem como as novas configurações das famílias e o avanço das atividades associadas à internet trouxeram novas perspectivas ao comportamento do consumidor. Os concorrentes estão cada vez mais posicionados no mercado, oferecendo produtos de melhor qualidade, por um preço cada vez menor. O crescimento da economia e as facilidades de pagamentos para aquisição de bens de consumo tornaram o mercado de varejo um campo de disputas acirradas para conquistar e fidelizar clientes. Este processo de mutabilidade provocou nas empresas brasileiras, assim como nas empresas do resto mundo, a necessidade de aprofundamento nas questões relacionadas à gestão mercadológica, marketing de varejo e nas estratégias de promoção como alternativas para posicionar-se competitivamente, na satisfação de seus clientes, despertando novos desejos e alavancando as vendas. Dentro do mix de marketing, especificamente, promoções de vendas têm um dos mais fortes impactos no comportamento de consumo a curto prazo. As variáveis promocionais são muitas vezes utilizadas para impulsionar compras não planejadas (MCCLURE; WEST, 1969; INMAN et al, 1990), incentivar a compra de produtos novos (MULHERN; PADGETT, 1995), além de aumentar potencialmente a freqüência com que o consumidor se desloca até o mercado para realizar aquisições (WALTERS; RINNE, 1986). Há que se destacar também, que em alguns casos as promoções são utilizadas para encorajar os consumidores a estocar produtos, propiciando assim uma redução de custos de estocagem para o varejista (BLATTBERG et al., 1981). Pesquisas alertam para o fato de que os gastos dos fabricantes com promoções de vendas têm ultrapassado o gasto com publicidade, e que as empresas atuam, em média, com cerca de oito tipos diferentes de incentivos promocionais (BLATTBERG; NESLIN, 1990; M. LAROCHE et al, 2003) Mesmo diante do aumento da utilização estratégica das promoções de venda, pouco se sabe, ou se pesquisou, acerca desta ferramenta e das particularidades que a mesma estabelece em relação ao comportamento do consumidor, no que tange a estímulos hedônicos. Estudos têm focado em diferentes tipos de promoções, e preferencialmente analisando as respostas dos consumidores às mesmas ou os fatores utilitários associados à intenção em aderir à determinada promoção (SHIMP; KAVAS, 1984; HENDERSON, 1987;. LICHTENSTEIN et al, 1997). Embora reconheçam que antecedentes psicológicos são determinantes e podem variar de acordo com o tipo de oferta promocional, investigações cognitivas e efeitos afetivos das promoções de vendas foram surpreendentemente pouco estudados, e os raros estudos que abordam esta possibilidade têm o foco em um único tipo de promoção, cupons (SHIMP; KAVAS, 1984; MITTAL, 1994; BLATTBERG; NESLIN, 1990). Importante evidenciar que o consumo baseado em fatores utilitários refere-se apenas à aquisição de produtos cuja decisão de compra tenha sido motivada pelos aspectos funcionais dos mesmos. Quando, por sua vez, existem aspectos multisensoriais, fantasiosos e emotivos que levam a compra, tem-se o que se denomina consumo hedônico (HOLBROOK; HIRSCHMAN, 1982). Os consumidores envolvem-se na atmosfera de compra desde o momento em que os desejos lhes surgem à mente, e a partir daí mergulham em sensações e emoções representadas pelas experiências que são muito maiores do que a simples aquisição de um produto ou serviço (HOLBROOK; HIRSCHMAN, 1982; ADDIS; HOLBROOK, 2001; FILSER, 2002). Algumas pesquisas até sugerem que as promoções de vendas, de benefícios nãomonetários, como por exemplo, jogos promocionais, podem melhorar a experiência de 2 consumo e influenciar a decisão de compra (WAKEFIELD; BARNES, 1996; WARD; HILL, 1991). Para Ward e Hill (1991), participar de uma promoção de venda é para o consumidor algo como aproveitar oportunidades para ganhar prêmios e que esta perspectiva de ganhar pode induzi-lo a se imaginar ganhando (ou seja, a fantasia). No entanto, há pouca evidência empírica para apoiar a sua proposição (WARD; HILL, 1991; LAROCHE et al, 2003). Para facilitar a compreensão da linha de raciocínio utilizada nesta investigação, a mesma está assim dividida: referencial teórico, que subsidia o tema trabalhado através da teoria; procedimentos metodológicos, análise e discussão, propiciando confrontamento analítico entre as informações obtidas na investigação e a teoria já existente; e as considerações finais da pesquisa. Esta investigação objetiva, portanto, aprofundar-se um pouco mais nas relações existentes entre as promoções de vendas e o consumo hedônico, procurando analisar o comportamento do consumidor em relação a tais incentivos de compras. Trata-se pois de ir além da racionalidade como único fator importante na tomada de decisão e instigar a atenção para as dimensões envolvidas na concepção da experiência de consumo sob a ótica daquele que busca pela promoção. 2 – O composto de Marketing e a Promoção de Vendas Para compreender o foco de desta investigação, é preciso um breve resgate conceitual que vai desde composto promocional ou mix de marketing até a promoção de vendas, onde se concentrarão as atenções e análises aqui realizadas. A noção da existência de um composto de marketing foi introduzida por Neil Borden em 1953, com base no trabalho de James Culliton que considerava ser o gestor de um empreendimento alguém com a capacidade de combinar diferentes e variados ingredientes com vistas a obter uma resposta positiva do mercado (WATERSCHOOT , 1992). A esta composição de ingredientes, deu-se então a denominação de composto de marketing que compreende as muitas decisões que a empresa precisa tomar sobre as variáveis controláveis, divididas em quatro grupos conhecidos como os quatro P’s do marketing: Produto, Preço, Promoção e Praça (distribuição), com o intuito de atingir seu mercado-alvo (WATERSCHOOT , 1992; MCCARTHY, 1996). Enquanto que nos demais componentes do composto de marketing os objetivos diretos estão relacionados à busca por maiores lucros e participação de mercado, no elemento promoção, foco desta investigação, pretende-se, principalmente, gerar mudança de comportamento nos consumidores a curto e longos prazos (SANDHUSEN, 2003). O elemento promoção, dentro do mix de marketing, além de informar aos consumidores a respeito dos produtos objetiva também formar uma imagem da empresa. Para a consecução de tais objetivos podem ser utilizadas várias ferramentas, dentre as quais, as mais importantes são a propaganda, a venda pessoal, o merchandising, relações públicas e a promoção de venda. (LEVY; WEITZ, 2000; ETZEL; WALKER; STANTON, 2001; LAS CASAS, 2005). Para se promover um produto ou serviço é necessário utilizar-se de todas as já referidas ferramentas de promoção com intuito de informar aos clientes sobre os produtos e serviços que são oferecidos, motivar e persuadir, ressaltando os pontos fortes e atraindo o interesse dos mesmos e sobretudo, trabalhar a lembrança, a memória, já que em meio a tantas opções existentes, há a possibilidade de optarem por outros locais caso não tenham fixos em suas mentes as razões de escolha (LEVY; WEITZ, 2000). Dentre as ferramentas de promoção, este estudo estará focado na promoção de vendas, pois se acredita ser a que melhor traduz a palavra promover, em seu sentido original, do latim promovere que significa mover em direção a e pode ser traduzido como o ato de impulsionar, conduzir, avançar. 3 Segundo Kotler e Keller (2006), promoção de vendas consiste em um conjunto de ações de incentivo, a maioria de curto prazo, projetadas para estimular a compra mais rápida ou em maior quantidade de produtos e serviços específicos por parte do consumidor ou do comércio, como: amostras, cupons, descontos, pacotes promocionais, prêmios, brindes, recompensas por preferência, demonstrações no ponto de compra, concursos, sorteios e jogos. Neste artigo serão abordados especificamente os sorteios e concursos, que são possibilidades dadas aos clientes para concorrerem a prêmios usando habilidades ou por meio da sorte, formando assim entusiasmo e consciência a respeito do produto, e os prêmios que consiste em oferecer um presente gratuito ou a um preço baixo para induzir os consumidores a comprar ou experimentar o produto (LEGRAIN; MAGAINS, 1992; NICKELS; WOOD, 1999; SHIMP, 2011). Trata-se, portanto, de uma estratégia focada no evento de marketing cujo objetivo é criar um impacto sobre o comportamento dos clientes, que seja positivo em relação à empresa (BLATTBERG; NESLIN, 1990). Porém, alguns aspectos importantes devem ser ressaltados no sentido de complementar tal definição: (1) promoções de vendas envolvem algum tipo de incentivo que oferece algo extra condicionado ao ato de comprar (SCHULTZ; ROBINSON, 1982), (2) e este incentivo representa o elemento-chave em um programa promocional, pois deve ser um componente a mais do que os benefícios básicos já oferecidos marca, de forma a mudar, temporariamente, o preço e o valor percebido da mesma. (STRANG, 1983). (3) Também é visto como uma ferramenta projetada para acelerar o processo de venda e maximizar o volume de saídas (NESLIN et al., 1984). Dentre os vários tipos de promoções de vendas existentes, as ditas não-monetárias, tais como concursos e sorteios, consolidam uma tática popular, muito utilizada (FEINMAN, BLASHEK; MCCABE, 1986; WAKEFIELD; BARNES, 1996). No entanto, mesmo com tamanha popularidade pouco se sabe sobre como e por que os consumidores respondem a estas iniciativas muito mais do que às promoções monetárias (CHANDON et al, 2000;. WARD; HILL, 1991). Há também os que classificam as promoções de vendas como ativas ou passivas (SCHNEIDER; CURRIM, 1991). Para estes autores, promoções como cupons requerem busca ativa por parte dos consumidores, enquanto as do tipo leve dois e pague um' envolvem uma pesquisa limitada,restrita ao ambiente da loja, de forma que muitas vezes o consumidor não tenha que dispender maiores esforços para se beneficiar. Promoções de vendas também foram dicotomizadas em categorias orientadas em relação ao preço e extrapreço (LICHTENSTEIN et al., 1995). O benefício final das promoções de preços para o consumidor é uma compra com valor final mais baixo (ex: descontos), enquanto outras promoções focam em outros benefícios que vão além do preço. Há, desta forma, uma série de fatores que estão associados ao momento em que o consumidor opta por participar ou não de uma promoção de vendas, que podem ter origem em questões meramente racionais ou estar vinculado a algo mais afetivo, emocional, conforme estabelecem as discussões apresentadas por diversos autores nas seções a seguir. 3 - Fatores Racionais associados à promoção de venda Assim como há vários tipos de promoção de vendas, há diferentes tipos de reações dos consumidores a cada uma delas e, neste aspecto, alguns pesquisadores sugerem que a sensibilidade a diferentes tipos de promoções de vendas pode explicar diferentes respostas promocionais (SCHNEIDER; CURRIM, 1991; HENDERSON, 1987). Há que se ressaltar que algumas características individuais são preponderantes e merecem ser observadas, como por exemplo, ser um cliente esperto é um indicativo de propensão a se deixar atrair por promoções monetárias, o que não ocorrerá com um comprador impulsivo, que tenderá a ser levados pelas iniciativas não-monetárias (BLATTBERG; NESLIN, 1990). 4 Não obstante ao já abordado, há que se levar em consideração também que existem também aspectos cognitivos e racionais que podem levar o consumidor a fazer uso ou não de uma promoção. Estudos afirmam existir sim um fator racional na fase inicial de resposta do consumidor a um estímulo promocional (SHIMP; KAVAS, 1984; MITTAL, 1994; BURTON et al, 1998). Existem situações em que o consumidor busca ativamente informações acerca do potencial da promoção, com objetivo de se fazer avaliações generalizadas e especificamente da relação custo/benefício envolvida na utilização de uma compra promocional, e desta forma maximizar a utilidade. (KALWANI; YIM, 1992; MITTAL, 1994; SHIMP; KAVAS, 1984). Muitos pesquisadores, diante deste fator de racionalidade, realizaram investigações que contemplavam analisar a percepção e expectativa do consumidor em relação ao fator preço, onde puderam constatar que a reação dos consumidores a uma determinada promoção depende não apenas do benefício associado diretamente a uma redução de preços, mas também sobre a comparação que realizam em relação ao ganho que teriam em estocar o produto, necessário rotineiramente, e que posteriormente pudesse ter seu preço elevado, ou seja, o consumidor utiliza o preço promocional como referência para optar ou não por antecipar compras de produtos utilizados com certa frequência. (KALWANI;YIM, 1992; FOLKES; TRIGO, 1995). Mas não são apenas os fatores racionais os que se relacionam à escolha por aderir a uma promoção de vendas. O consumidor também pode ser estimulado por questões afetivas, o que será mais detalhado na próxima seção deste estudo. 4 – Fatores Afetivos associados à promoções de Venda Shoemaker (1979) em seu estudo intitulado Uma análise das reações dos consumidores às promoções de produtos, foi um dos primeiros pesquisadores a investigar os efeitos das promoções de venda no comportamento do consumidor e a comprovar que as promoções propiciam de certa forma uma aceleração nas vendas, e embora tenha identificado preponderantemente fatores racionais de intenção, surgiu preliminarmente o fato de que, em nível individual, algumas pessoas viam nas promoções uma possibilidade de distração, inibindo os pensamentos negativos que pudessem surgir sobre a marca. Outros estudiosos foram mais além e defendem a idéia de que o valor que têm as promoções de vendas para as marcas está relacionado com o valor ou benefícios, que têm as promoções de vendas para os consumidores, e estes por sua vez, buscam por uma série de benefícios hedônicos que não se vinculam apenas à redução de preço ou desconto financeiro (CHANDON; WANSINK; LAURENT, 2000). Além disso, os consumidores tendem a relacionar o gosto pessoal por promoções de vendas específicas à inclinação para comprar produtos utilizando estas promoções, garantindo um incentivo psicológico particular (isto é, sentir-se bem sobre o uso da promoção) para desempenhar um papel importante no direcionamento do comportamento (LICHTENSTEIN et al. 1995, 1997). Assim sendo, os benefícios da promoção de vendas pode ser definido como o valor percebido, ligado à experiência de promoção de vendas, que pode incluir tanto a exposição à promoção (por apenas ver a promoção de um produto) e o seu uso (por exemplo, resgatando um cupom ou a compra de um produto promovido). Esta definição implica que os consumidores respondem às promoções de vendas pelo que ela pode proporcionar além de um benefício tangível, pelo seu valor para o cliente (KELLER, 1993). Para Chandon, Wansink, e Laurent (2000), existem alguns benefícios que podem estimular os consumidores a aderirem a uma promoção de vendas, e a maioria deles não são associados a fatores monetários e utilitários, mas sim à questões emocionais: (1) possibilitar o consumo de produtos novos que estejam em evidência no mercado; (2) proporcionar uma chance para reafirmar qualidades pessoais como inteligência, esperteza. (3) Criar ambientes 5 dinâmicos, bem elaborados que podem proporcionar ao consumidor bem estar, sensação de ser valorizado pela marca; (4) Proporcionar simples momentos de divertimento, de lazer. Estes fatores afetivos que estimulam o consumidor a fazer uso de determinada promoção são os mesmos que podem levá-lo a vivenciar uma experiência de consumo, relação esta que pode ser apreendida a medida em que se compreende melhor o elemento hedônico envolvido no processo de consumir, conforme esclarecem os autores de diversos estudos apresentados na seção seguinte. 4 – A experiência de consumo e os elementos hedônicos A abordagem de uma experiência na perspectiva do consumidor é analisada preliminarmente por Holbrook e Hirschman (1982), que trazem este novo enfoque para as pesquisas, onde até então predominavam estudos cujo foco era dado ao tratamento racional e utilitário envolvido no consumo. Os autores evidenciam então a existência do aspecto emocional, caracterizado por um fluxo de fantasias, sentimentos e diversão, associados diretamente ao processo de consumir. Esta associação é traduzida, de acordo com tais autores, pelo que se denomina consumo hedônico, que designam as facetas do comportamento do consumidor que se relacionam com os múltiplos aspectos sensoriais que podem evocar uma variedade de significados relacionados a gostos, sons, cheiros, impressões táteis e imagens visuais (HOLBROOK; HIRSCHMAN, 1982). O consumo é visto, portanto, como um estado subjetivo de consciência acompanhado por significados simbólicos. À racionalidade são incorporadas variáveis anteriormente negligenciadas que permitem reconhecer claramente o papel das emoções no comportamento, passando o consumidor a ser compreendido como sendo muito mais uma criatura de sensações e emoções do que de ação, dando orígem ao consumo simbólico, necessidades de prazer e diversão que vão além do ato da compra, do uso do produto e da escolha da marca (ADDIS; HOLBROOK, 2001). Na verdade, a experiência de consumo não é uma inovação, já que, mesmo quando sob a dimensão funcional e utilitária da compra, é factual que o consumidor sempre buscou algo a mais, uma gratificação, uma vivência particular e marcante, em variados aspectos (HOLBROOK, 2000). O que inova é a concepção da importância de se compreender o fenômeno como um todo, legitimado pelo estabelecimento da união de um conjunto de variáveis que, até então, vinham sendo analisadas isoladamente (FILSER, 2002). De acordo com Barbosa (2006), o que se percebe é que quanto mais organizada e contemporânea é a sociedade, mais aumenta o medo das relações se tornarem enfadonhas e, com isso, busca-se por experiências que possam proporcionar momentos marcantes. O comportamento do consumidor quando experimenta algo é subjetivo e caracteriza-se pela intensidade das respostas emocionais (positivas ou negativas) decorrentes do ato individual de consumir (THOMPSON, LOCANDER; POLLIO, 1989), porém esta experiência pode ser apreendida no momento do consumo, por meio de seu conteúdo emocional, ou após o consumo por meio da análise de valor (FILSER, 2002). A experiência do consumidor, portanto, reúne componentes que podem não ser especificamente experienciais (serem utilitaristas), com componentes que sejam experienciais, de forma a produzir um comportamento que não estejam restritas a esferas limitadas de consumo (HOLBROOK, 2000) A Figura 1 apresenta os principais conceitos apresentados e discutidos pelos autores da área, com vistas à melhor compreender os componentes envolvidos na experiência de consumo. 6 Figura 1. Evolução cronológica do construto experiência de consumo. As atitudes dos consumidores têm, portanto, componentes utilitários e emocionais (hedônicos), e a distinção entre eles, para o consumidor, é determinante na tomada de decisão de compra, bem como na satisfação pós compra (Mano e Oliver, 1993). De acordo com Oliver (1996), esta satisfação é, pois, a resposta completa do consumidor, o julgamento de que o produto ou serviço foi capaz de atingir um nível de prazer relativo ao sentido de plenitude com a ação de consumo. O mesmo autor ainda descreve como satisfação, diferentes respostas emocionais, como felicidade, deleite, prazer e alívio. O prazer deve ocorrer quando as expectativas do consumidor são superadas ou inesperadas, já o deleite será resultante de vivenciar uma surpresa memorável (OLIVER, 1996). Já Evrard e Aurier (1996) defendem a existência de uma relação entre os consumidores e o objeto de consumo (bens ou serviços) e entender esta relação significa responder as questões chaves na última década no que se refere ao comportamento do consumidor. O processo de consumir é resultante da interação entre funções hedônicas, simbólicas e utilitárias de um produto e as motivações de quem o irá consumir. (EVRARD e AURIER, 1996). No entanto, a experiência para o consumidor só existirá quando este conscientemente lhe der sentido singular, dentro da subjetividade específica e governada apenas por si próprio (BENAVENT; EVRARD, 2002). Holt (1995) afirma que, embora a experiência esteja ligada a uma percepção individual (BENAVENT; EVRARD, 2002), a interação com outros indivíduos pode facilitar a sua realização, e que esta sociologia do consumo permite ao consumidor produzir seu status social, distinguindo de uma parte as motivações extrínsecas e intrínsecas do consumo e uma orientação para si ou para os outros. Csikszentmihalyi (2000) considera o encantamento como uma experiência ótima e faz uma distinção entre este sentimento e aquilo que é considerado o reflexo do mero prazer, sendo este ultimo visto como o resultado de um reflexo-resposta, construído dentro da gênese da preservação das espécies. No entanto, não necessariamente todas as experiências são interpretadas da mesma forma, com isso, uma mesma experiência pode ser entendida diferentemente, dependendo de cada consumidor. Trata-se de uma experiência de completa imersão, uma sensação holística que as pessoas sentem quando agem com total envolvimento em determinada atividade denominada fluxo (CSIKSZENTMIHALYI, 1990, 1997). Quando em fluxo, um indivíduo encontra-se tão envolvido pela atividade que perde a noção do que o circunda. Para este autor, o elemento chave dessa experiência reside na peculiar característica de ser autotélica, ou seja, uma atividade válida por si própria, não necessitando de uma recompensa externa. No que se refere ao ambiente onde uma experiência ocorre, sua composição, constitui também numa importante vertente, já que possibilita agregar esforços à tentativa de influenciar a percepção do consumidor o máximo possível, criando uma atmosfera que possa proporcionar sensações diferenciadas e positivas que terão interpretação simbólica 7 individualizada e impacto na decisão de compra (BÄCKSTRON; JOHANSON, 2006; MATHEWW; BONN; SNEPENGER, 2009). Não obstante aos estudos já apresentadas, é importante ressaltar que uma experiência de consumo não se reduz unicamente ao ato de comprar, ao momento da compra em si, no ponto de venda (FALK; CAMPBELL, 1997). Carú e Cova (2003), sugerem que há estágios pelo qual o consumidor passa, que se apresentam de forma bem distinta e que constituem objetos complexos de análise, quais sejam: experiência pré-consumo; experiência de compra; experiência de consumo central (inclui a sensação, a saciedade, a satisfação/insatisfação, irritação, transformação) e; experiência pós-consumo. A importância de se compreender a experiência para os estudiosos do comportamento do consumidor se legitima no fato de que este fenômeno une um conjunto de variáveis que, até então, vinham sendo analisadas isoladamente (FILSER, 2002). Analisando os principais conceitos é possível inferir que a experiência de consumo envolve fatores cognitivos e emocionais resultantes da interação pessoa-objeto-situação, e vai além da decisão de compra, já que também pode ser vivenciada pós efetivação através do valor percebido. Uma boa experiência é aquela considerada extraordinária, ou seja, memorável, capaz de marcar significativamente (LASALLE; BRITTON, 2003), e para isto, os componentes do mix devem ser reencantados através de uma releitura que propicie transformar a experiência vivida numa lembrança importante na mente do consumidor (DEPUIS; SAVREUX 2004), o que, portanto, passa a ser uma ferramenta estratégica importante denominada marketing experiencial (CARÚ; COVA, 2006). 5 - Procedimentos Metodológicos Para esta investigação, optou-se pela realização de uma pesquisa qualitativa básica, caracterizada por apresentar características específicas que resultam num menor número entrevistas, cujo critério é descrito como reconhecendo a existência de intencionalidade; num conteúdo composto de descrição, interpretação e entendimento; identifica padrões recorrentes na forma de temas ou categorias e pode delinear um processo de situações relativas aos dados coletados do sujeito em análise com citações objetivas sobre suas experiências, atitudes, hábitos, credos e pensamentos. (LEININGER, 1994; MERRIAM, 1998; CRESWELL, 2007). Foram entrevistadas seis pessoas, que puderam expressar sua visão acerca da temática abordada, que após serem transcritas, geraram um corpus de pesquisa (BAUER; AARTS, 2008) composto por quarenta e duas laudas. Embora a pesquisa qualitativa não estabeleça a priori critérios rígidos para seleção dos entrevistados, no que se refere à escolha dos mesmos, estudiosos (CRESWELL, 2002; MOUSTAKAS, 1994) convergem em pelo menos dois pressupostos essenciais, que foram adotados também nesta investigação: 1) sejam pessoas que possuam experiência vivida do fenômeno a ser estudado, ou seja, que tenham participado intencionalmente de alguma promoção de vendas e; 2) tenham capacidade de articular e externar conscientemente suas experiências acerca do vivido no fenômeno em questão. A fim de selecionar as pessoas para serem entrevistadas, após a identificação do primeiro respondente, utilizou-se a técnica chamada snowball sampling (amostragem por bola de neve), na qual um participante da pesquisa é conhecido do pesquisador (MALHOTRA; ROCHA; LAUDISIO, 2005) e, posteriormente, o investigador solicita aos respondentes a indicação de sujeitos sociais que possam contribuir para a pesquisa (MCDANIEL; GATES, 2003). o número de entrevistados foi constituído por meio do critério de saturação das respostas das entrevistas (MILES; HUBERMAN, 1994). Para obter as informações junto aos entrevistados foram utilizadas entrevistas episódicas, técnica que procura a contextualização das experiências possibilitando compreender o episódio da vida como um construto da própria vida social (BAUER; 8 GASKELL, 2002; CRESWEL, 2002). Para condução das entrevistas foi utilizado um roteiro elaborado pelos pesquisadores, apresentado na Figura 2, e as mesmas foram realizadas nos cenários das situações sociais do mundo real (MATTOS, 2005). 1 – Razões e expectativas consideradas na escolha por participar ou não de uma promoção de vendas 2 – O que considera como vivência positiva ou negativa em relação a uma promoção de vendas 3 – O significado de uma promoção de vendas para o consumidor Figura 2. Roteiro de entrevista As entrevistas tiveram duração média de quarenta e sete minutos (a de menor tempo foi trinta e seis minutos e a de maior, setenta e sete minutos) e foram realizadas no período de dezoito a vinte e nove de novembro em horários e locais escolhidos pelo entrevistado, com objetivo de deixá-lo o mais a vontade possível. Todas as entrevistas foram gravadas em áudio e transcritas. Para análise e interpretação das respostas utilizou-se preliminarmente a técnica de análise de conteúdo segundo Bardin (2002), que consistiu numa pré-análise por meio de leitura flutuante (primeiras leituras de contato com a teoria de apoio), a escolha dos documentos (os relatos transcritos), a formulação dos objetivos (relacionados ao problema de pesquisa), e a elaboração dos indicadores e categorias (a freqüência de aparecimento). Visando aprofundar e explorar ao máximo as informações disponibilizadas pelos entrevistados utilizou num segundo momento, para interpretação, a análise do significado semântico-pragmático da conversação, proposta por Mattos e Lincoln (2005), visando a compreensão dos significados de macrotextos (significado nuclear), dos significados incidentais relevantes, digressões e outros elementos mal contextualizados na fala, mas de alto interesse; e, ainda dos significados de contexto, pressupostos ou implicados em cada resposta ou emergente da relação de várias respostas. No que se refere à qualidade e confiabilidade, que se faz importante também numa abordagem interpretativista, foram utilizadas notas de campo (realizadas antes e após cada entrevista) e realizada a triangulação das respostas por meio de distintas fontes de informação, primárias e secundárias. (BAUER; GASKELL, 2002; MILES; HUBERMAN, 1994) 6 – Análises e Discussões. Conforme mencionado no tópico anterior, para buscar dados relativos a opinião dos consumidores sobre as relações entre a promoção de vendas e a experiência de consumo, foi utilizado um roteiro contendo três tópicos, que serviram como estímulo para as conversações. Os entrevistados tinham entre 21 e 31 anos, sendo três do sexo masculino e três do sexo feminino. Os dados obtidos são apresentados a seguir com suas respectivas analises. 6.1 - Razões e expectativas consideradas na escolha por participar ou não de uma promoção de vendas Os consumidores avaliam os produtos com base nos benefícios que eles proporcionam, e de acordo com a importância dada por eles a tais benefícios. Esta importância varia em função do produto em si, das ocasiões de compra, do valor percebido como extra-produto (EAGLY; CHAIKEN, 1993; MEYER; KAHN, 1991). Espera-se que os consumidores creditem mais peso aos benefícios utilitários quando tiverem tomado a decisão de realizar uma compra utilitária, assim como os benefícios emocionais tenham mais peso quando a decisão for por uma compra hedônica. Dentro desta lógica, a eficácia de uma promoção de vendas será maior quando os seus benefícios forem congruentes com o que o consumidor estiver procurando na ocasião (CHANDON; WANSINK; LAURENT, 2000). Porém, nem sempre esta lógica ocorre, e são encontradas 9 situações em quem as razões que motivam a utilização de uma promoção de vendas são muito mais hedônicas do que a utilidade envolvida na aquisição do produto associado (CHANDON; WANSINK; LAURENT, 2000), como fica evidenciado em depoimentos como: Eu participo de promoções porque me deixa feliz. Eu tenho uma sensação muito boa, um prazer que eu não sei te explicar entendeu (respondente 2, masculino, 26 anos). É mais pela esperança de poder ganhar. Ou até pelo fato de concorrer que é emocionante, você ficar esperando aquele dia chegar, do sorteio, e depois entrar lá na internet e vê (respondente 6, masculino, 31 anos). Há situações em que a expectativa envolvida na atitude do consumidor em buscar por promoções não está ligada a querer ganhar efetivamente o benefício extra na aquisição do produto (SCHNEIDER; CURRIM, 1991), mas sim auto-afirmar qualidades pessoais, como inteligência e esperteza, ou até mesmo para demonstrar aos pares a capacidade de fazer uso das oportunidades adequadas para obter algum tipo de vantagem (CHANDON; WANSINK; LAURENT, 1999) Eu acho que tem uns dois anos que eu não ganho nada em promoções. Isso é triste mas não desanimei, até porque estou sempre competindo com uns conhecidos e aproveitando tudo que aparece de promoção antes deles (respondente 2, masculino, 26 anos). Eu sou aquele tipo de pessoa que nunca desiste, sou brasileira, nunca desisto... (respondente 5, feminino, 24 anos). Promoção pra mim é tudo que eu possa comprar alguma coisa e que possa assim, ganhar alguma coisa muito maior. Ganhar alguma coisa em cima de uma compra. E isso me deixa... só pela possibilidade de isso acontecer eu fico muito feliz (risos) (respondente 3, feminino, 21 anos). Mas tem também os que vêem nas promoções de vendas apenas razões racionais, utilitárias para de fato conseguir algum benefício tangível, e utilizam-se das mesmas estrategicamente no momento de fazer compras ditas rotineiras (SHIMP; KAVAS, 1984; MITTAL, 1994; BURTON et al, 1998), sendo portanto, maisinfluenciados por uma promoção relativamente utilitária e monetária do que por uma relativamente hedônica e não-monetária (CHANDON; WANSINK; LAURENT, 2000). Os relatos abaixo se destacam por reforçar este tipo de posicionamento: Eu também participo de promoções onde o preço do produto é mais baixo. Por exemplo, mês passado quando fui comprar meu anticoncepcional que custa normalmente R$ 24,00, estava saindo por 17,50. Como sei que nos próximos 30 anos vou precisar usar isso, comprei logo 10 (respondente 1, feminino, 31 anos). Olha, as vezes eu nem conheço o produto, mas se for um produto por exemplo um suco, eu sei que vou beber suco, mesmo sendo de uma marca nova. Por exemplo, biscoito, eu gosto muito de biscoito. Mas como tava na promoção e biscoito é uma coisa que eu como, comprei da marca A. Deixei de comprar das outras marcas. Comprei da Marca A. Entendeu? Então eu vou substituindo. Eu não vou comprar coisas que eu não consumo. Mas se for uma coisa que eu consumo, arroz, feijão, eu mudo de marca na época da promoção, pra tirar alguma vantagem (respondente 5, feminino, 24 anos). Nos discursos acima é possível observar que tanto fatores utilitários quanto hedônicos podem levar um consumidor a utilizar uma promoção de vendas, e que a expectativa do mesmo em relação a esta iniciativa nem sempre esta associado a querer ganhar algo tangível, mensurável. 6.2 – Vivências positivas ou negativas em relação a uma promoção de vendas Para Oliver (1996) a satisfação é a resposta completa do consumidor. E o julgamento de que o produto ou serviço forneceu um nível de prazer relativo ao sentido de plenitude com o ato de consumo. Complementando, Baker e Crompton (2000) colocam que o grau de satisfacao diz respeito ao fato das expectativas do consumidor relacionadas a experiência 10 vivida terem sido atendidas corretamente ou que o resultado tenha sido melhor que o esperado. A interpretação do ato de compra a partir do marketing experiencial (SCHMITT, 1999; PINE;GILMORE, 1999) coloca que o consumidor adquire os produtos menos pelos seus atributos funcionais e mais pelas experiências emocionais que o ato proporciona. Neste aspecto, consumidores podem por meio de uma promoção de vendas experimentar tanto momentos positivos quanto negativos, conforme apontam os depoimentos abaixo: A do mp4 foi a que mais me surpreendeu, porque foi assim era aquele tipo de promoção que você não tem que esperar o sorteio pra saber que você ganhou. É da promoção que é tipo assim tem o sistema do computador central que a cada tantos números sorteia alguém. Ai no caso, dessa promoção a cada 200 inscrições recebidas uma seria premiada, múltiplos de 200. Aí lá estava eu em casa sem fazer nada. Foi de produtos da perdigão. Ai você tem que comprar lasanha, pizza e eu adoro comer essas coisas, então eu comprei. E tinha lá o código pra mandar. O que foi que eu fiz? Eu não estava fazendo nada, comecei a mandar, daqui a pouco a Dani chega, tocou o interfone, ela me atrapalhou, mas fazer o que? Aí ela foi embora, aí a minha mãe liga e me atrapalhou? Mas foi tudo combinando para que chegasse o numero 200 entendeu? Ai enquanto eu estava falando com a minha mãe mandando lá, apareceu a mensagem, você foi ganhadora e eu fiquei lá. E não tava nem entendendo o que a minha mãe tava falando. E fiquei assim, abestalhado, aí li uma outra vez. E deixei o celular e fui ler palavra por palavra. E ai quando caiu a ficha eu anotei o numero do código antes que acontecesse alguma coisa com a pagina. Ai eu peguei o telefone e comecei a gritar eu ganhei, eu ganhei, enchi o saco da minha mãe (respondente 4, masculino, 25 anos). Tinha que comprar salgadinhos. E eu gosto de comer salgadinhos. Da marca B que é o melhor. Aí tinha que comprar dois salgadinhos pra ter um cupom. Aí eu comprei 40 salgadinhos. Que é assim, uma outra coisa que digo pra o meu marido. Veja só. Hoje em dia eu comprar uma coisa. Daqui a um mês ela tá valendo uma coisa mais cara. Então se eu comprar em quantidade hoje e fizer durar um mês, to ganhando dinheiro. Daí quando cheguei em casa, a noite, meu marido vem e fala que comprei um monte de salgadinhos que venciam em três dias, fiquei muito irritada (respondente 5, feminino, 24 anos). Teve a promoção da Jhonson e Jhonson pra copa, não pra o panamericano. A cada medalha de outro que o Brasil ganhasse, haveria um sorteio de um monte de prêmios. E sim, o Brasil nesse ano tinha tudo pra ganhar trocentas medalhas e de Diego Hypolito, da irmã e da Daine dos Santos, mas no final das contas deu tudo errado e perderam, ele caiu um monte de coisas assim e o Brasil só ganhou 4 medalhas de ouro. Mas eu comprei tanta coisa, tanta coisa, tanta coisa, que no final das contas tive que dar aos outros pra não perder dinheiro, menos o absorvente... (respondente 1, feminino, 31 anos). O consumo experiencial é um ato subjetivo de consciência acompanhado de simbolismos e respostas hedônicas. Nos exemplos acima é possível perceber que os consumidores são de fato os responsáveis pela produção da experiência, e fazem isso por meio do tratamento e interpretação dos produtos e serviços que o mercado lhe propõe (HOLBROOK; HIRSCHMAN, 1982), bem como das promoções, das quais decide participar, tirando destas lembranças positivas, mas também negativas. Observa-se também que o elemento hedônico em algumas situações é tão intenso que proporciona ao consumidor momentos de total imersão, de saída temporária do mundo real e mergulho intenso na dinâmica da atividade promocional, de forma a caracterizar o fluxo descrito por Csikszentmihalyi, 1990. 6.3 - O significado de uma promoção de vendas para o consumidor 11 O significado de uma promoção de vendas para o consumidor pode ser associado ás dimensões de uma experiência ordinária e de uma experiência extraordinária. A primeira situação ocorre quando a estas estão associadas, na mente do consumidor, características meramente utilitárias, rotineiras (GUPTA; VAJIC, 2000), enquanto que a segunda se caracteriza por conter um alto nível de intensidade emocional, sendo identificada como um evento fora do comum e altamente prazeroso. Os depoimentos abaixo podem ser ilustrativos para ambas as situações: quando o significado da promoção associa-se a algo extraordinário ou quando se associa a algo ordinário, utilitário, e também em situações que é possível identificar ambas as características. ... o absorvente, aquela coisa que eu sei que vou usar até digamos os meus 50 anos de idade e eu passei os próximos 3 anos sem comprar absorvente. Aí na época me disseram isso é muita coisa. Não, mas daqui a três anos o absorvente vai estar mais caro. Eu estou lucrando de alguma forma. Eu posso não ter ganho, mas ganhei dinheiro, porque comprei uma coisa que não é perecível que vai durar nos próximos três anos e nos próximos três anos ele ia ter aumento e eu ia estar pagando aquele mesmo preço. (respondente 1, feminino, 31 anos). Eu faço coisa que normalmente o pessoal não faz ou tem vergonha de fazer, como por exemplo, pedir embalagens aos outros, pagar embalagens, e uma coisa que meu marido fica muito, mas muito assim irritado quando eu faço. Mas eu normalmente procuro fazer quando ele não esta por perto. Eu vou procurando no chão as embalagens, e normalmente toda vez que eu passo perto de um lixo, eu olho por que se tiver lá dentro não tem problema nenhum eu vou pegar. Pode tá sujo, pode tá do jeito que tá, ta entendendo?(sic) Eu vou pegar. Eu pego sem problema nenhum. Gosto, me sinto feliz as vezes ate ando com um saquinho dentro da bolsa pra ir guardando as embalagens. (respondente 5, feminino, 24 anos) Como se pode verificar pelas colocações acima, existem motivos diversos que levam os consumidores a aderir a uma promoção de vendas, e tais motivos são individuais e com percepções que podem ser conduzidas para algo ruim ou algo muito bom de ser lembrado. 7 – Considerações Finais O que se pode extrair como considerações finais relativas a esta investigação é que pelas características especificas da promoção de vendas quando apresentada ao consumidor, bem como em relação a sua percepção pelos mesmos, é possível ter uma experiência de consumo associada com significações predominantemente hedônicas, mesmo em situações em que as características utilitárias possam parecer serem preponderantes. Apesar de alguns componentes de caráter utilitário terem surgido em alguns depoimentos, a percepção geral é que a experiência de consumo relacionada a uma ou mais promoção de venda foi interpretada como extraordinária pelos entrevistados. Conforme colocam Lasalle e Britton (2003) nem todas as experiências devem ou tem que ser consideradas como extraordinárias, mas podem ser vistas como valorosas para o consumidor. E, de fato, as promoções de vendas podem ser instrumento bastante eficiente no sentido de conduzir a tal caminho. O valor atribuído pelos consumidores às características utilitárias, ou ganhos monetários, revela componentes que vão alem do valor econômico em si, como a busca por justificar algo que em lapsos de consciência julguem ser errado, ou correspondente a um comportamento que possa ser visto pelos pares como inadequado. Por mais que o consumidor apresente justificativas racionais e utilitárias, seu discurso aponta para elementos que são mais afetivos e emocionais, que sustentam até atitudes por vezes, exageradas, que embora não sejam compreendidas com tanta facilidade pelos que o circundam, são plenamente possíveis e justificáveis pelo mesmo. Importante ressaltar que o julgamento positivo ou negativo da experiência construída a partir do momento em que o consumidor faz sua adesão a uma promoção de vendas estará 12 atrelado a um processo de construção e percepção individual influenciado pela expectativa existente ou até mesmo por comparações com vivências passadas, mas, na maioria das vezes, de caráter íntimo e pessoal. A relação estabelecida entre a promoção de vendas e a experiência de consumo demonstra, diante das análises feitas e com o confrontamento com a literatura pertinente, ser intrínseca, ou seja, diretamente ligada pelos elementos hedônicos construídos pelo consumidor antes, durante e após o momento em que realiza a compra e adere, portanto, a determinada promoção de vendas. Este artigo busca então contribuir para o aprofundamento da teoria de marketing na medida em que proporciona ampliar as discussões acerca das estratégias de promoção de vendas e da relação que estas estabelecem com a construção de experiências de consumo, a partir do relato daqueles que vivenciaram o fenômeno. Tem suas limitações no tamanho do corpus de pesquisa e nos critérios de validade e confiabilidade, já que constituem interpretações de um único pesquisador, mesmo que as informações sejam de fontes trianguladas. Fica então o estímulo para que novas pesquisas sejam feitas de forma a ampliar ainda mais o arcabouço teórico destes dois construtos, procurando entender melhor o tipo de experiência que pode ser obtida com a utilização de promoções de venda. 8 - Bibliografia ADDIS, M; HOLBROOK, M. B. On the Conceptual Link Between Mass Customization and Experential Consumption: An explosition of subjectivity. Journal of Consumer Research, v. 1, n. 1, p. 50-66, 2001. AGAMBEN, G. 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