TRANSDISCIPLINARIDADE
Florence de Faria Brasil Vianna
CCS/UFRJ
Disciplinaridade:
Multi... / Pluri...
Inter... / Trans...
PROCESSOS DE AQUISIÇÃO DE CONHECIMENTO
• Fase predisciplinar
• Não havia distinção entre:
Arte
Conhecimento Filosófico
Conhecimento Científico
Conhecimento Religioso
Ex.: certas cerimônias indígenas atuais, nas quais todos esses
elementos são integrados.
• Desaparece sob a influência do paradigma newtoniano-cartesiano:
Visão mecanicista de mundo
Predomínio de racionalismo científico
Conhecimento fragmentado em disciplinas
PROCESSOS DE AQUISIÇÃO DE CONHECIMENTO
• Fase de fragmentação multi e pluridisciplinar
1. Nível do Ser:
Separação entre sujeito e objeto
Separação entre conhecedor, conhecimento e conhecido
2. Nível do Sujeito
Razão
Intuição
Sensação
Separam-se por um processo de
condicionamento e educação
Sentimento
Homo sapiens – o que conhece
Homo faber – o que faz
Pensador
Transformador da natureza
PROCESSOS DE AQUISIÇÃO DE CONHECIMENTO
(Fase de fragmentação multi e pluridisciplinar)
3. Nível do Conhecimento:
Conhecimento Puro
(conhecimento pelo conhecimento)
Conhecimento de métodos e técnicas de ação
( tecnologia)
4. Nível do Objeto Conhecido:
Matéria (sólida, líquida, gasosa, etc.)
Vida (vegetal, animal e humana)
Programação (informações identificadas com matéria e vida)
Observação: segundo a física quântica, tudo indica que essas
sejam três manifestações da mesma energia.
PROCESSOS DE AQUISIÇÃO DE CONHECIMENTO
(Fase de fragmentação multi e pluridisciplinar)
• Desenvolvem-se especializações
- cada vez mais específicas
Características da
multidisciplinaridade
- sem nenhuma conexão entre elas
Observação:
Quando várias disciplinas coexistem em um mesmo ramo, como
as especializações da medicina ou da engenharia, costuma-se
falar em pluridisciplinaridade, quando há tentativas de trabalho em
equipe.
PROCESSOS DE AQUISIÇÃO DE CONHECIMENTO
• Fase interdisciplinar
• Movida pela força holística
• Tende a reunir, em conjuntos abrangentes, o que a mente
humana dissociou.
• Nasceu da ingovernabilidade do número excessivo de
disciplinas.
• Manifesta-se no esforço de correlacionar as disciplinas.
• Parece mais freqüente em aplicações tecnologias industriais e
comerciais (pressão dos mercados) do que no meio acadêmico.
• Cada vez mais, dá origem a novas disciplinas (biologia + física =
biofísica).
• Vocabulário característico: universal , global, rede, sistêmico,
transnacional, metassistema [...].
Observação – Seus protagonistas descobrem que todas as
disciplinas são INTER-RELACIONADAS.
PROCESSOS DE AQUISIÇÃO DE CONHECIMENTO
• Fase transdisciplinar
• Primeira vez em o termo transdisciplinar foi empregado:
por Jean Piaget (1970):
•Segundo autor a utilizar o termo: Erich Jantsch (1972):
• Edgar Morin (1980): fala em transdisciplinaridade antiga e
nova.
A Ciência jamais seria a ciência se não fosse a
transdisciplinaridade.
Observação - A ciência transdisciplinar se desenvolve a partir das
comunicações entre as ciências.
PROCESSOS DE AQUISIÇÃO DE CONHECIMENTO
• Transdisciplinaridade Geral:
Definida na Declaração de Veneza, da Unesco (1987)
Comum entre ciência, filosofia, arte e tradição, que inclui as
tradições espirituais.
Leva à visão holística por meio de abordagem também
holística, desde que praticada.
• Transdisciplinaridade Especial:
Comum a várias disciplinas dentro das ciências, das
filosofias, das artes ou das tradições espirituais.
Ex.: entre cristianismo e hinduismo, biologia e física, etc.
PROCESSOS DE AQUISIÇÃO DE CONHECIMENTO
PROCESSOS DE AQUISIÇÃO DE CONHECIMENTO
• Hoje, já se fala em uma 6a. Fase, a
Fase holística:
• É uma volta a primeira fase – a fase
predisciplinar, enriquecida pelos últimos estágios
da ciência moderna.
• Mobiliza as funções ligadas ao cérebro direto e
esquerdo e sua sinergia.
• Busca equilíbrio entre as quatro funções
psíquicas de Jung (sensação, sentimento, razão e
intuição).
O QUE É ENTENDIDO POR DISCIPLINA?
•
•
Origem no latim, com três significados básicos:
a)
Domínio particular do conhecimento; matéria de
ensino = sentido comum de um campo específico de
conhecimento.
b)
Conjunto de regras de conduta; obediência a essas
regras = método de comportamento.
c)
Regra de conduta que o indivíduo se impõe =
específica de certas coletividades.
Ação disciplinada refere-se à instrução e à direção.
“Constitui um corpo específico de conhecimento ensinável, com
seus próprios antecedentes de educação, treinamento,
procedimentos, métodos e áreas de conteúdo”.
(Juntsch, apud CHAVES, 1988, p. 5).
“É um tipo de saber específico e possui um objeto determinado e
específico, bem como conhecimentos e saberes relativos a
esse objeto e métodos próprios (MAHEU, 2000)
Características da disciplinaridade:
•
Aprofundamento e ampliação de conhecimentos
de uma mesma área.
•
Métodos próprios de investigação.
•
Especialização cada vez maior.
•
Limites bem estabelecidos pela área de
conhecimento.
•
Caminho normal para a evolução da ciência.
Logo, a disciplinaridade refere-se, no máximo, a um
nível de realidade.
Na maioria dos casos está somente preocupada
com os fragmentos de um nível de realidade.
OS CAMINHOS DE
MULTI, PLURI, INTER E TRANSDISCIPLINARIDADE
JUSTIFICATIVA: “A linguagem disciplinar [...] não deu conta de
provocar a interação entre os conhecimentos das várias
disciplinas criadas pela ciência moderna.” (BARBOSA, 2001)
MULTIDISCIPLINARIDADE:
•
Estuda um tópico de pesquisa, a partir de diversas disciplinas,
simultaneamente.
•
Extravasa as fronteiras disciplinares, mas a meta permanece
limitada à estrutura da pesquisa disciplinar.
Ex.: a) Um quadro de Giotto pode ser estudado dentro da história da arte,
da história da religião, da história Européia, e da geometria.
b) A filosofia marxista pode ser estudada com uma visão para mesclar
a psicologia com física, economia, psicanálise ou literatura.
Ocorre quando “para a solução de um problema, torna-se
necessário obter informação de duas ou mais ciências ou
setores do conhecimento, sem que as disciplinas envolvidas
no processo sejam elas mesmas modificadas ou
enriquecidas” (Piaget apud CHAVES, 1988, p. 5).
Os caminhos da
MULTI, PLURI, INTER E TRANSDISCIPLINARIDADE
PLURIDISCIPLINARIDADE:
•
A diferença entre multi para pluri é ‘quase’ nula:
Multi = conjunto de disciplinas trabalhadas simultaneamente,
sem relações explícitas.
Pluri = justaposição de várias disciplinas no mesmo nível
hierárquico, cujas relações são aparentes.
Ex.: Trabalhos de ecologia, especificamente para o estudo da
biocenose, necessitam de várias disciplinas, como fisiologia
vegetal, botânica, zoologia e meteorologia.
“Ocorre quando se verifica convergência dos recursos de várias
fontes do conhecimento para o estudo específico de
determinado fenômeno” (KORTE, 2000, p. 28).
Os caminhos da
MULTI, PLURI, INTER E TRANSDISCIPLINARIDADE
INTERDISCIPLINARIDADE:
•
Transfere métodos de uma disciplina para outra.
•
É o resultado da articulação entre duas ou mais disciplinas com
objetivos pedagógicos comuns. Divide-se em:
1.
grau epistemológico: os métodos da física nuclear são transferidos para a
medicina e isso leva para o aparecimento de novos tratamentos para o câncer;
2.
grau de aplicação: transfere métodos da lógica formal a área de lei geral gerar
alguma análise interessante da epistemologia da lei;
3.
grau de geração de novas disciplinas: por exemplo, dos métodos da física
transferidos para biologia, nasce a biofísica; e da transferência de métodos
computacionais para a arte, a arte computacional é gerada.
•
Extravasa as disciplinas, mas sua meta ainda permanece
dentro da estrutura da pesquisa disciplinar.
Designa “o nível em que a interação entre várias
disciplinas ou setores heterogêneos de uma mesma ciência conduz a
interações reais, a uma certa reciprocidade no intercâmbio
levando a um enriquecimento mútuo”.
(Piaget, apud CHAVES, 1988, p. 5).
Os caminhos da
MULTI, PLURI, INTER E TRANSDISCIPLINARIDADE
TRANSDISCIPLINARIDADE:
•
•
•
•
•
Refere-se à dinâmica engendrada pela ação simultânea de
diversos níveis de realidade. Está entre as disciplinas,
através de diferentes disciplinas e além de todas as
disciplinas.
É alimentada pela pesquisa disciplinar e seus pilares são
três: a) múltiplos níveis de realidade, b) lógica do meio
incluída e c) complexidade.
A meta - o entendimento do mundo atual - não pode ser
realizada em uma estrutura de pesquisa disciplinar, por isso
há que extravasar fronteiras.
É uma forma de auto-transformação orientada para o autoconhecimento, para a unidade do conhecimento e para a
criação de uma nova arte de viver em sociedade.
É globalmente aberta; reconcilia ciências exatas, humanas,
arte, literatura, poesia, experiência anterior.
O conceito envolve “não só as interações ou reciprocidade entre
projetos especializados de pesquisa, mas a colocação dessas
relações dentro de um sistema total, sem quaisquer limites rígidos
entre as disciplinas”.(Piaget, apud CHAVES, 1988, p. 5).
Caminhos da
MULTI, PLURI, INTER E TRANSDISCIPLINARIDADE
Ex: A PSICOPEDAGOGIA
na utilização de todos os arcos do conhecimento:
1.
2.
3.
4.
5.
Disciplinaridade – “como uma disciplina no quadro
científico atual”;
Multidisciplinaridade – “quando encontra profissionais de
psicologia, neurociências, fonoaudiologia e educação para
auxiliar no diagnóstico de dificuldades de aprendizagem;
Pluridisciplinaridade – “quando contribui, como mais uma
disciplina, para o estudo da aprendizagem”;
Interdisciplinaridade, “quando se propõe a integrar
conhecimentos de várias disciplinas para compreender o
processo de aprender”;
Transdisciplinaridade, “quando se propõe a construir
pontes entre a objetividade e a subjetividade, entre a ciência
e a consciência, entre a efetividade e a afetividade na
compreensão do ser que aprende e no significado dessa
aprendizagem para a sua humanização.”
(BARBOSA, 2001)
CONCLUSÃO
Como bem lembrou o Editorial da Revista Nature Neuroscience
(2000), no tempo de Darwin, era possível escrever um livro que
fosse ao mesmo tempo um relatório científico e um best seller, hoje
uma possibilidade remota, pois é tão difícil comunicar idéias
científicas para o público em geral quanto há crescente dificuldade
dos próprios cientistas se fazerem entender uns aos outros.
Sabe-se que “O mundo acadêmico é o mundo das disciplinas.
O avanço da ciência e o progresso tecnológico devem, em boa
parte, à verdadeira explosão da pesquisa disciplinar. A
complexificação dos problemas tornou necessária a
aproximação e a associação gradual das disciplinas, em
diferentes graus, do mais simples - o da multidisciplinaridade,
ao mais completo - o da transdisciplinaridade.” (CHAVES, 1988,
p. 5)
Segundo Magalhães (2005), em um mundo de velocidade,
imediatismo e tempo real na socialização do conhecimento, no
qual os indivíduos têm, mais e mais, necessidade de reter uma
grande quantidade de informações, as práticas pedagógicas
disciplinares precisam ser repensadas.
PRINCIPAIS REFERÊNCIAIS TEÓRICOS
BARBOSA, Laura Monte Serrat. 2001. O manifesto da transdisciplinaridade.
Disponível em
<www.psicopedagogia.pro.br/Ambito_da_Sociedade/Resenhas/Transdisciplinari
dade/transdisciplinaridade.html>. Acesso em 15 nov. 2005.
CAPES. Multidisciplinaridade.
CHAVES, Mário M. Complexidade e transdisciplinaridade: uma abordagem
multidimensional do setor saúde. 1988. Disponível em
<www.ufrrj.br/leptrans/3.pdf>. Acesso em 29 de out. 2005.
KORTE, Gustavo. 2000. Introdução a metodologia Transdisciplinar. Disponível em
<http://www.gustavokorte.com.br/publicacoes/Metodologia_Transdiciplinar.pdf>.
Acesso em 28 nov. 2005.
MAGALHÃES, Everton Moreira. Interdisciplinaridade: por uma pedagogia não
fragmentada. Disponível em
<www.ichs.ufop.br/AnaisImemorial%20do%20ICHS/trab/e3_3.doc>. Acesso em
15 nov. 2005.
MAHEU, Cristina d’Ávila. 2000. Interdisciplinaridade e mediação pedagógica.
Disponível em < www.nuppead.unifacs.br/artigos/Interdisciplinaridade.pdf>.
Acesso em 15 nov. 2005.
MASETTO, Marcos Tarciso. Multi, Inter e Transdisciplinaridade. Palestra. Abeno –
Camboriú, 2005.
Nature Neuroscience Editorial February 2000 Volume 3 Number 2 p 97 <
http://www.nature.com/neuro/>
NICOLESCU, Basarab. The transdisciplinary evolution of learning. Disponível em
<www.learndev.org/dl/nicolescu_f.pdf>. Acesso em 8 nov. 2005.
WEILL, Peirre; D’ANBROSIO, Ubiratan; CREMA, Roberto. Rumo à nova
transdisciplinaridade. São Paulo: Summus, 1993.
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