PODER E CONTROLE NAS
ORGANIZAÇÕES
CONTEMPORÂNEAS: FACES
APARENTES E OCULTAS
Marcio Rodrigues
Então voltaste, ó tratante, ó intrometido? Queres
novamente nos aborrecer e importunar, queres
novamente expor nossos corações sempre a
novas decisões? Eu estava tão feliz, eu podia
chafurdar na lama e aquecer-me ao sol, eu podia
comer e beber, grunhir e guinchar, e estava livre
de meditações e dúvidas: O que devo fazer, isto
ou aquilo? Por que vieste? Para jogar-me outra
vez na vida odiosa que eu levava antes?
Lion Feuchtwanger (versão apócrifa da Odisséia)
PODER E FONTES DE PODER:
DEFINIÇÕES GERAIS
“Toda a questão se reduz a isto: pode
a mente humana dominar o que a
mente humana criou?” (Paul Valéry).
PODER
Disposições iniciais
As organizações podem ser vistas como arenas políticas complexas
onde os indivíduos buscam preservar seus interesses por intermédio
das estruturas e das regras burocráticas
Os interesses caracterizam-se por um conjunto complexo de
predisposições que envolvem objetivos, valores, desejos, expectativas
e outras orientações e inclinações que levam a pessoa a agir em uma e
não em outra direção.
Poder é o meio do qual as divergências de interesses são resolvidas
O poder é um ato: algo utilizado ou exercido
O poder não existe isoladamente
Assim,
Aqueles a quem o poder se dirige são importantes para
determinar se ocorreu um ato de poder
Dois resultados do ato de poder podem ser: a obediência ou
o conflito
PODER
A natureza do poder (Weber, 1991)
– Probabilidade de um ator impor sua vontade a outro,
mesmo contra a resistência deste (pode haver o uso da violência).
- Poder
- Influência – Ocorre quando, em um determinado momento,
um ator identifica-se com outro e obedece a sua ordem.
- Autoridade - Probabilidade que alguém tem de contar com a
obediência dos que devem obedecê-lo.
Poder ≠ Autoridade
Legitimidade
Reconhecimento, por aqueles que obedecem, das
ordens que lhe são dadas (obediência)
PODER
Para Weber, a autoridade proporciona poder, mas nem
sempre ter poder significa ter autoridade.
Deste modo, se autoridade proporciona poder, o poder
conduz a dominação.
Quando uma ordem influencia a conduta dos dominados
e se transforma em uma norma de conduta aceita pelos
subordinados (regulação do comportamento)
Outros conceitos de poder
Para Dahl (1961) A tem poder sobre B na medida em que
pode fazer com que B faça algo que de outra forma não faria.
Para Parsons (1960), o poder é derivado da autoridade. E
essa autoridade legitima o direito dos líderes de esperar o
apoio dos membros da coletividade.
PODER
Tipos de Autoridade
(WEBER, 1991)
Autoridade Tradicional – Crença cotidiana na santidade das tradições
vigentes desde sempre e na legitimidade daqueles que, em virtude
dessas tradições, representam a autoridade. Ex: Monarquias
Autoridade Carismática – Baseada na veneração da santidade, do
poder heróico ou do caráter exemplar de uma pessoa e das ordens por
essa reveladas ou criadas. Ex: João Paulo II
Autoridade Racional-Legal – Baseada na legitimidade das ordens
legalmente asseguradas e no direito de mando daqueles que estão no
direito de exercer a dominação.
Este tipo de autoridade é o mais comum nas
organizações contemporâneas. Ex: Relação gerente –
funcionário
BASES E FONTES DE PODER
(MORGAN, 1996)
1 – Autoridade formal
2 – Controle sobre recursos escassos
3 – Uso da estrutura organizacional, regras e regulamentos
4 – Controle do processo de tomada de decisão
5 – Controle do conhecimento e da informação
6 – Controle das fronteiras
7 – Alianças interpessoais, redes e controle da “organização
informal”
8 – Simbolismo e administração do significado
9 – Sexo e administração das relações entre os sexos
CONTROLE ORGANIZACIONAL:
DEFINIÇÕES GERAIS E
EVOLUÇÕES
CONTROLE ORGANIZACIONAL
“Processo pelo qual o comportamento de pessoas e
coisas é circunscrito aos objetivos das organizações”.
(TANNENBAUM, 1968).
“O conceito de controle está intimamente relacionado
àquele de poder no sentido de que pressupõe a ação
de alguém ou algo sobre o comportamento de um outro
e reflete os interesses presentes na organização assim
como as posições dominantes capazes de impor
concepções da realidade” (WARHURST, 1998).
“Processo de busca de redução de incerteza”
(SILVA, 1999)
TIPOLOGIAS DE CONTROLE
(CARVALHO, 1999)
TIPOS DE
CONTROLE
MEIOS
ONDE SE
MODELOS
TIPO DE
EXERCE
DE ANÁLISE
EMPRESA
•Imposição de
DIRETO
ordens
Organizações
•Vigilância
totais (prisões)
Taylorismo
Pequenas
empresas
expressa
•Normas
•Regulamentos
ESTRUTURAL
Grandes
Tipo ideal de
Grandes empresas
burocracias
burocracia
capitalistas
•Pressupostos
Organizações
Anarquias
Organizações
culturais
normativas
organizadas
institucionalizadas
•Hierarquia
•Critérios de
seleção
DIFUSO
TIPOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES E
MECANISMOS DE CONTROLE
(ETZIONI, 1967)
TIPO DE
ORGANIZAÇÃO
TOTAL
ECONÔMICA
IDEOLÓGICA
ALVO DO
CONTROLE
Corpo físico
Comportame
nto
Visão do
mundo
BASE DO
ENGAJAME
NTO
PROTÓTIPO
DAS
ORGANIZAÇ
ÕES
MEIOS DE
CONTROLE
EXEMPLOS
Coercitivo
Prisões
Asilos
Força
Ameaças
Sanções
Demissões
Negócios
Burocráticas
Prêmios
Supervisão
Regras
Tecnologia
Pagamento
por peça
Promoção
Comissão
Política
Religiosa
Objetivos
Atrativos
Persuasão
Sentido de
participação
Visão da
administração
Propaganda
Cálculo
Identificação
DOMINAÇÃO IDEOLÓGICA
“De onde ele pegou tantos olhos, com os quais
ele vos olha, se vós não os abrir para ele?
Como tem ele tantas mãos para bater em vós,
se ele não as toma de vós? Os pés com os
quais ele pisa vossas cidades de onde ele os
tem, se não são os vossos? Como tem ele
algum poder sobre vós senão por vós? Como
ousaria ele vos atacar, se não estivesse em
combinação convosco? (Etienne de la Boétie)
CONTEXTUALIZAÇÃO INCIAL
Condição pós-moderna (BAUMAN, 2001)
 Empresa emerge como a organização que fornece
sentido para a vida dos trabalhadores;
 Define os princípios que servem de referência
universal;
 Produtora do discurso dominante.
CONTEXTUALIZAÇÃO INCIAL
(“Parte” Técnica)
Emergência do modelo pós-fordista de produção
(necessidade de flexibilizar as organizações, mas
manter o controle);
Intensificação ou reinvenção de mecanismos que
facilitem e tornem invisível (internalizado, ideológico,
despersonalizado) o controle, tais como:
 Normas e regras;
 Cultura;
 Treinamento;
 Profissionalização.
EMPRESAS HIPERMODERNAS
As modernas empresas (hipermodernas) são gerenciadas a partir
de um sistema de princípios cujo criador da regra não tem
necessidade de participar do jogo, de influenciar os participantes
ou de lhes dar ordens para exercer seu poder; esse é atualizado
pelo próprio jogo, desde que os jogadores respeitem as regras,
pois as regras são a própria condição do jogo (internalização das
normas) (PAGÈS et al. 1987).
Como isso é realizado?
Ênfase no controle difuso
+
Estratégias de mediação
Mediação econômica;
Mediação política;
Mediação ideológica;
Mediação psicológica.
EMPRESAS HIPERMODERNAS
Processo de subordinação à lógica da organização
 Abstração – estabelecimento da superioridade da lógica
mercantil
 Objetivação – Determina a medida de utilidade do
indivíduo;
 Desterritorialização – desenraiza o indivíduo de seus
laços sociais e culturais;
 Canalização – transforma a energia do indivíduo em
força de trabalho.
“Através de sua submissão a metas organizacionalmente
estabelecidas e através da absorção gradual dessas metas em
suas próprias atitudes, aquele que participa da organização
adquire uma personalidade de organização, bastante diferente de
sua personalidade como indivíduo” (GUERREIRO RAMOS, 1989, p.
109).
EMPRESAS HIPERMODERNAS
É o surgimento de uma nova fé, de uma nova religião; a
qual, calcada nos valores do capitalismo flexível, é
elaborada dentro das organizações hipermodernas e
que se consubstancia na adesão a um sistema de
valores e crenças, o qual, por sua vez, incita as pessoas
a se dedicarem de “corpo e alma” a seu trabalho
(PAGÈS et al. 1987).
Criação de uma nova fé
Criação de uma nova igreja
 Conjunto de crenças que formam
um dogma;
 Confissão: as entrevistas de
avaliação;
 Escrituras sagradas e ritos;
 Missa: os encontros;
 Organização hierarquizada;
 Massa de fiéis compartilhando a
mesma fé.
 Batismo: a admissão;
 Catecismo: a formação;
 Liturgia: as regras.
EMPRESAS HIPERMODERNAS
“A organização tende a se tornar fonte de
sua angústia e de seu prazer. Este é um
dos aspectos mais importantes do seu
poder. Seu domínio está a sua capacidade
de influenciar o inconsciente, de ligá-lo a
ela de forma quase indissolúvel, com
mais força e de toda maneira de modo
diferente que no caso da empresa
clássica” (PAGÈS et al. , p. 144).
UM FUTURO DISTANTE...
“Não há razão, sem dúvida, para que os novos
governos totalitários se assemelhem aos antigos.
Governos baseados no porrete e no pelotão de
fuzilamento, na miséria artificial, não são apenas
desumanos (hoje ninguém se preocupa muito com
isso); são ineficientes por demonstração e, numa
época de tecnologia avançada, a ineficiência é pecado
contra o Espírito Santo. Um estado totalitário
realmente eficaz seria aquele em que o executivo
todo-poderoso constituído de chefes políticos e de
um exército de administradores, controlasse uma
população de escravos que não precisassem ser
forçados, porque teriam amor à servidão” (HUXLEY,
2001).
DAS SOCIEDADES
DISCIPLINARES ÀS SOCIEDADES
DE CONTROLE
O PANÓPTICO DE BENTHAN
O dispositivo é um edifício. O edifício é circular. Sobre
a circunferência, em cada andar, as celas. No centro, a
torre. Entre o centro e a circunferência, uma zona
intermediária. Cada cela volta para o exterior uma
janela feita de modo a deixar penetrar o ar e a luz, ao
mesmo tempo que impedindo ver o exterior - e para o
interior, uma porta, inteiramente gradeada, de tal
modo que o ar e a luz cheguem até o centro. Desde as
lojas da torre central se pode então ver as celas. Em
contraposição, anteparos proíbem ver as lojas desde
as celas. O cinturão de um muro cerca o edifício. Entre
os dois, um caminho de guarda. Para entrar e sair do
edifício, para atravessar o muro do cerco, só uma via é
disponível. O edifício é fechado.
O PANÓPTICO DE BENTHAN
SOCIEDADE DISCIPLINAR
(MICHEL FOUCAULT)
Panóptico - metáfora da sociedade moderna
 Encarceramento
 Lugares amplos
Características:  Tempo ordenado
 Isolamento
Objetivos
 Tornar o exercício do poder o menos custoso possível
(economicamente e politicamente pela sua descrição, invisibilidade
e o pouco de resistência que suscita).
 Fazer que seus efeitos sejam levados à máxima intensidade e
estendidos a todo corpo social;
 Fazer crescer, ao mesmo tempo, a docilidade e a utilidade de
todos os elementos do sistema, ou seja, criar indivíduos dóceis e
úteis.
SOCIEDADE DISCIPLINAR
(MICHEL FOUCAULT)
Conseqüências
 Produz nas pessoas um comportamento previsível, sempre
orientado para as normas;
 Objetiva
produzir
indivíduos
obedientes,
disciplinados
(docilizados) e, portanto, úteis para os padrões da sociedade em
questão;
 O indivíduo torna-se prisioneiro de si próprio pela auto-regulação
de seus atos.
"Não há necessidade de braços, violência física, constrangimentos
materiais. Somente um olhar. Um olhar inspecionador, um olhar no
qual cada indivíduo sob o seu peso acabará por interiorizá-lo ao
ponto de que cada um é seu próprio vigia, cada um exercendo
vigilância sobre, e contra, si mesmo. Uma fórmula soberba: poder
exercido continuamente e pelo que vem a ser um custo mínimo"
(FOUCAULT, 1980).
SOCIEDADE DE CONTROLE
(GILLES DELEUZE)
 Evolução das Sociedades Disciplinares;
 Controle despersonalizado e contínuo, através do uso
de tecnologias de informação.
O poder pode se mover com a velocidade do sinal
eletrônico. Em termos práticos, o poder se tornou
verdadeiramente extraterritorial, não mais limitado, nem
mesmo desacelerado, pela resistência do espaço (o
advento do telefone celular serve bem como ‘golpe de
misericórdia’ para ilustrar isso). Não importa mais onde
está quem dá a ordem (BAUMAN, 2001).
SOCIEDADE DE CONTROLE
(GILLES DELEUZE)
Essa é uma das diferenças entre essas duas formas de sociedade.
Atualmente, não importa mais o espaço (local de confinamento),
não importa se o indivíduo está distante ou perto da “torre”, hoje
ela não tem rosto, está despersonalizada, impessoalizada, está em
todos os lugares, em todos os indivíduos que fazem parte do jogo
(sociedade de organizações)
“Nas sociedades de disciplina não se parava de recomeçar,
enquanto nas sociedades disciplinares nunca se termina nada, a
empresa, a formação, o serviço sendo os estados metaestáveis e
coexistentes de uma mesma modulação” (DELEUZE, 2007).
DE VOLTA A ODISSÉIA...
A verdade que torna os homens
livres é, na maioria das vezes, a
verdade
que
os
homens
preferem não ouvir...
(Herbert Sebastian Agar)
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Marcio