MANUAL DE HEPATITES VIRAIS Organização: Vanessa Salete de Paula Marcelle Bottecchia Livia Melo Villar Vanessa Faria Cortes Letícia de Paula Scalioni Débora Lopes dos Santos Marcia Terezinha Baroni Rachid Saab Cunha Tainá Pellegrino Martins 1 2 MANUAL de hepatites virais / Organização: Vanessa Salete de Paula, Marcelle Bottecchia, Livia Melo Villar, Vanessa Faria Cortes, Letícia de Paula Scalioni, Débora Lopes dos Santos, Marcia Terezinha Baroni, Rachid Saab Cunha, Tainá Pellegrino Martins. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Rede Sirius; OUERJ, 2015. 215 p. : il. ISBN 978-85-88769-90-8 (E-Book) 1. Hepatite por vírus. I. Título. CDU 616.61 Reitor Ricardo Vieiralves de Castro Vice-reitor Paulo Roberto Volpato Dias Sub-reitora de Graduação – SR1 Lená Medeiros de Menezes Sub-reitora de Pós-graduação e Pesquisa – SR2 Monica da Costa Pereira Lavalle Heilbron Sub-reitora de Extensão e Cultura – SR3 Regina Lúcia Monteiro Henriques Apoio Técnico da Rede Sirius Elir Ferrari Diagramação Tainá Pellegrino Martins 3 BIBLIOTECA DO OUERJ 4 Conselho Editorial Fernando Rodrigues Altino (UERJ) Júlio Nichioka (UERJ) Oscar Rocha Barbosa (UERJ) Rachid Saab (UERJ) Thereza Camello (UERJ) Conselho Executivo Carlos Eduardo Silva (ESS) Jackeline Bahe (ETFCS) Pierre Morlin (PETROBRAS) Manoel Rodrigues (UERJ) Nilo Koschek (INPA) Ricardo Fontenele (AMX) Pauli Garcia Almada (UFF) Ricardo Fermam (INMETRO) Roberto Carvalho (UNESP) Roberto de Xerez (UFRuRJ) Conselho Consultivo Afonso Aquino (USP) Ana Silvia Santos (UFJF) Carla Madureira (UFRJ) César Honorato (UFF) Cláudio Ivanoff (UERJ) Elcio Casimiro (UFES) Flávia Schenatto (CNEN) Guido Ferolla (FGV) Eduardo Felga (UFPr) Laís Alencar de Aguiar (CNEN) Luiz Gonzaga Costa (UFRuPa) Messias Silva (USP) NeddaMizuguchi (UFRuRJ) NivarGobbi (UNESP) Paulo Sérgio Soares (CETEM) Pauli Garcia Almada (UFF) Ricardo Fermam (INMETRO) Roberto Carvalho (UNESP) Roberto de Xerez (UFRuRJ) 5 A BIBLIOTECA OUERJ é composta por diversos volumes em diferentes áreas temáticas. Representa o trabalho de Pesquisa, Magistério, Consultoria, Extensão e Auditoria de inúmeros profissionais de diversas instituições nacionais e extra-nacionais. O objetivo da biblioteca é ser útil como instrumentação e base epistemológica dos Graduandos, Pós-graduandos e profissionais das áreas pertinentes aos temas publicados. Por ser um material didático público poderá ter uso público especialmente para treinamento, formação acadêmica e extensionista de alunos e profissionais. Evidentemente que cada caso da BIBLIOTECA OUERJ deve ser encarado dentro de um contexto a que foi inicialmente proposto. Especialmente deve-se levar em conta as limitações vigentes do estado d’arte, das circunstancias e da finalidade inicial a que foi proposta. As derivações e extrapolações podem ser adotadas desde que não se deixe de vislumbrar sempre, estes limites de escopo inicial que norteou estes trabalhos. Nós do OUERJ, agradecemos especialmente aos autores, a todos os profissionais que compõem os Conselhos Editoriais, Executivos e Consultivo do OUERJ. Agradecimento especial a REDE SIRIUS e a Pro Reitoria de Extensão e Cultura da UERJ que possibilita esta publicação. 6 Diretoria do OUERJ SUMÁRIO O QUE SÃO HEPATITES VIRAIS? HEPATITE A HEPATITE B HEPATITE C HEPATITE DELTA HEPATITE E DIAGNÓSTICO DAS HEPATITES VIRAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 8 16 48 70 100 118 142 152 7 INTRODUÇÃO 8 O QUE SÃO HEPATITES VIRAIS? Entende-se por hepatite os quadros que apresentam uma alteração difusa no parênquima hepático, caracterizadas por uma lesão necroinflamatória dos hepatócitos, de gravidade variável. Mesmo apresentando variações importantes de incidência e prevalência, de acordo com a região geográfica, as hepatites virais representam um problema sanitário da maior relevância, em praticamente todos os países do mundo. Agrupadas, muitas vezes, como doença única, em razão da similaridade de suas manifestações clínicas, as hepatites virais são doenças distintas causadas por diversos vírus que tem o DNA ou RNA como seu material genético, envelopados e não envelopados, com diferentes características funcionais e estruturais. Essas entidades são bem conhecidas e distintas, quanto à etiologia, epidemiologia, evolução, prognóstico e profilaxia (KOONIN & DOLJA, 1993; ZANOTTO et al, 1996). O conceito de hepatites virais, que é conhecido desde a época de Hipocrates, só foi estudado mais cientificamente após os casos ocorridos posteriormente a Segunda Guerra Mundial, mais precisamente após a vacinação de trabalhadores do estaleiro de Bremen (Alemanha) contra a varíola (vacina preparada com linfa humana). Dos trabalhadores vacinados, 15% se tornaram ictéricos, sendo evidente a associação desta enfermidade a um agente de transmissão parenteral (LURMAN, 1885). No inicio do século XX, foram relatados surtos de hepatite de “período de longa incu- 9 10 bação” (50 a 180 dias), os quais foram observados em muitos países e foram associados às transfusões de sangue, ao uso de medicação injetável com seringas e agulhas não esterilizadas e a administração de vacina, como por exemplo, o surto de hepatite/ icterícia ocorrido entre os militares que foram vacinados contra a febre amarela durante a Segunda Guerra Mundial. MacCallum, em 1947, designou os termos “vírus da hepatite A” (HAV) e “vírus da hepatite B” (HBV) referindo-se aos supostos agentes etiológicos das hepatites de período de curta incubação ou infecciosa (18 a 37 dias) e de período de longa in cubação ou soro-homologa (50 a 180 dias), respectivamente. Esta terminologia foi adotada pelo comitê das hepatites vi- rais da Organização Mundial de Saúde (OMS) e é utilizada ate hoje (KRUGMAN, 1989). Embora novos vírus tenham sido isolados e, em algum momento, associados as hepatites (Huang et al. 2000; Hinrichsen et al. 2002) tem-se como certa, a existência de cinco tipos de hepatites virais de importância médica (Tabela 1). O vírus da hepatite B foi o primeiro deles a ser identificado (1970), seguido pelo vírus da hepatite A (FEINSTONE et al, 1973), vírus da hepatite D (HDV) (RIZZETO et al, 1977), vírus da hepatite E (BALAYAN et al, 1983) e vírus da hepatite C (CHOO et al, 1989). Outros agentes foram identificados em indivíduos com hepatite pós-transfusional não A-E, porém uma relação causal entre infecção por estes ví- rus e hepatopatias ainda não pode ser confirmada. Dentre eles, destacam-se o vírus da hepatite G (HGV) (SIMONS et al, 1995), vírus TT (TTV) (NISHIZAWA et al, 1997) e SEN-V (TANAKA et al, 2001). 11 Figura 1. Localização do fígado no corpo humano 12 Diariamente, na clínica encontram-se casos de hepatites que não podem ser atribuídos a nenhum dos vírus conhecidos e por isso é importante o estudo dessa doença. Além disso, ainda existem várias hepatites relacionadas com vírus capazes de produzir quadros definidos (citomegalovírus, vírus do herpes, etc.) assim como vírus considerados exóticos (arenavirus, vírus ebola, etc.). Existem ainda as hepatites cuja origem é atribuída a agentes nocivos não virais, como por exemplo, a hepatite alcoólica que é causada pela ingestão em excesso de bebidas alcoólicas, hepatite medicamentosa que é causada pela ingestão em excesso de alguns medicamentos ou agentes químicos tóxicos para o fígado e as hepatites autoimunes que são causadas pela agressão do nosso próprio sistema imune (HOWARD et al, 1984). De acordo com seu mecanismo habitual de transmissão, as hepatites virais são comumente classificadas em dois grandes grupos: o primeiro corresponde àquelas cuja transmissão se faz pelas vias fecal e oral, englobando as hepatites A e E e no segundo, situam-se as que são transmitidas através de contato direto com o sangue contaminado, representadas pelas hepatites B, C e Delta. Das cinco hepatites virais conhecidas, as mais importantes para a saúde pública são, as causadas pelo HBV e HCV. Isso se deve à combina ção da epidemiologia e clínica dessas doenças. Epide miologicamente, a relevância dessas doenças deve-se à larga distribuição geográfica e ao enorme número de indivíduos mundialmente infectados. Do ponto de vista clínico, ambas apresentam elevado potencial de cronificação, o que pode levar á cirrose e ao câncer hepático (SHERLOCK & DOOLEY, 1997). A hepatite A tem alta prevalência em regiões onde é precário o saneamento ambiental, o que cria condições propícias para sua disseminação. Essa característica faz com que a hepatite A seja amplamente encontrado no Brasil, apesar de evidências de que a sua transmissão já não acontece tão precocemente quanto em décadas passadas, quando a quase totalidade das crianças tornava-se infectada até os 5 anos de idade (VITRAL et al, 1998). A OMS estima cerca de 400 milhões sejam portadoras crônicas da hepatite B (ZU- CKERMAN, 1999) e que existam de cerca de 170 milhões de portadores crônicos para a hepatite C, fato que tem levado as autoridades de saúde pública a considerar a hepatite C como a grande pandemia do século XXI (SHERLOCK & DOOLEY, 1997). A hepatite Delta possui associação obrigatória com a hepatite B, largamente disseminada em extensas regiões do território brasileiro – particularmente na Região Amazônica – e pelo grande potencial de gravidade clínica, esse tipo de hepatite reveste-se de grande importância no quadro sanitário nacional (BENSABATH et al, 1987). A hepatite E ocorre em numerosos países em desenvolvimento, onde tem sido associada à epidemias transmitidas por água contaminada com resíduos de 13 14 esgoto (SHERLOCK & DOOLEY, 1997). Normalmente não se associa a casos graves, uma vez que, como a hepatite A, não tem potencial de cronificação. Estudos recentes demonstram a presença da hepatite E em populações brasileiras, mas pouco se sabe sobre a história natural dessa doença no Brasil (TRINTA et al, 2001). É bem conhecido que as hepatites virais ocorrem em todo o mundo, com diferentes prevalências e vias de trans missão (Tabela 2). Entretanto, mesmo com todo o conhecimento acumulado nas últimas décadas, ainda existem lacunas importantes sobre a epidemiologia dessas doenças. Esse fato demonstra que existe ainda um longo caminho a ser trilhado para que se chegue a atingir um conhecimen- to pleno sobre a epidemiologia dessas viroses. Por essa razão, é importante a continuidade de investigações epidemiológicas. A persistência do HBV é freqüente em recém-nascidos (79%), incomum em adultos (<5%) e intermediária em crianças (THOMAS & ZOULIM, 2012). 15 Figura 2. Campanha de Conscientização do Governo Federal Fonte: Governo Federal 16 CAPÍTULO 1 HEPATITE A O vírus da hepatite A (HAV) é distribuído mundialmente, devido às mudanças epidemiológicas e os diferentes perfis de endemicidade a doença é um problema de saúde pública. Embora as vias de transmissão sejam bem compreendidas e exitirem vacinas eficazes e seguras, a epidemiologia esta mudando nos países com endemicidade intermediária, onde vem ocorrendo um aumento de pessoas sucetíveis a doença e consequentemente o aumento no número de surtos. Os focos da doença podem ser dificeis de serem controlados, principalmente, devido a casos assintomáticos que podem ocorrer entre as crianças menores de 5 anos de idade. Atualmente, a hepatite A esta se deslocando para as idades mais avançadas e casos em adultos e adolescentes vem ocorrendo com frequencia. Além das pessoas expostas a surtos, e que ingerem água e alimentos contaminados, pessoas que viajam para áreas endemicas e homens que fazem sexo com homens, usuários de drogas e profissionais que trabalham com crianças podem estar em risco se não tiverem imunidade contra o HAV. O quadro clínico é bem conhecida, na maioria das vezes a doença é autolimitada, mas casos de hepatite A fulminatante vem sendo descritos na literatura. No estado do Rio de Janeiro, assim como nos países em deselvolvimento, a prevalência da hepatite A esta relacionada com o perfil socio-economico da população e com as condições de saneamento básico. EPIDEMIOLOGIA A epidemiologia da hepatite A está intimamente relaciona- 17 18 da ao nível de desenvolvimento econômico, ao grau de saneamento básico e as condições de higiene. Portanto, uma relação inversa é encontrada entre o nível socioeconômico e a prevalência de anticorpos anti-HAV. Estes fatores levam a diferentes padrões epidemiológicos de hepatite A. Em populações onde as condições sanitárias são inadequadas ou mesmo inexistentes, a maioria das crianças se infecta nos primeiros anos de vida e desenvolve a forma assintomática da doença, de maneira que, acima dos 10 anos, a população quase toda já é imune ao vírus. Este padrão hiperendêmico é verificado nos países em desenvolvimento da Ásia, da África e em certos locais da América Latina. Por outro lado, quando se trata de países bem desenvolvidos, com alto padrão de higiene e saneamento básico, um padrão epidemiológico oposto é verificado, consequentemente existe um grande número de indivíduos suscetíveis, pois a infecção pelo HAV é totalmente ausente até a terceira década de vida. Nestes países as barreiras ambientais impedem o contato com o vírus na infância. Na Europa, observa-se que a prevalência de anticorpos contra o HAV é baixa em todas as faixas etárias, consequentemente, há um aumento de casos clínicos e de casos fatais da doença, pois a infecção atinge mais a idade adulta, onde a doença se desenvolve de forma sintomática. Em países com economia em transição, como em alguns países em desenvolvimento, aonde as condições de saneamento básico e de higiene vêm melhorando nas últimas décadas, encontra- -se um padrão epidemiológico de endemicidade intermediária. Nestes locais, vem ocorrendo a redução na prevalência de anti-HAV entre crianças e em adultos jovens e consequentemente o deslocamento da infecção pelo HAV para faixas etárias mais elevadas. Segundo dados do inquérito nacional conduzido em 27 capitais das cinco macrorregiões do Brasil, a prevalência global para a infecção pelo HAV (anti-HAV) foi de 39,5% em indivíduos com idade inferior a 20 anos no país. O percentual de crianças expostas ao HAV na faixa etária de 5 a 9 foi de 27,0% e de 44,1% para o grupo de 10 a 19 anos. Esses resultados apontam para o aumento da exposição com a idade e colocam o conjunto das capitais do Brasil como região de intermediária endemicidade. Apesar disso, o Brasil apresenta regiões com diferentes padrões de endemicidade. A região com maior soroprevalência para anticorpos anti-HAV em indivíduos com menos de 20 anos é a do Norte com 58,3%, seguido do Centro Oeste com 54,1%, Nordeste 53,1% e Distrito Federal com 41,6%. Todas essas regiões foram consideradas de endemicidade intermediária. Já a região Sul apresenta a menor soroprevalência com 30,8%, seguido da região Sudeste com 32,5%. Estas regiões são consideradas de baixa endemicidade. Como resultado, uma parcela cada vez maior da nossa população adulta permanece suscetível ao HAV, levando à ocorrência de surtos e casos esporádicos, uma vez que o vírus não foi eliminado do ambiente. Sendo assim, a infecção pelo HAV conti- 19 nua sendo a forma mais comum dentre as hepatites virais agudas. 20 ESTRUTURA VIRAL O HAV pertence a família Picornaviridae e é o único membro do gênero Hepatovirus. A partícula viral tem formato icosaédrico, não é envelopada e mede aproximadamente 27 a 32 nm de diâmetro. As partículas são bastante estáveis no ambiente, especialmente quando associadas com matéria orgânica, apresentando um elevado grau de resistência a pH baixos e temperatura elevadas, estas características facilitam a transmissão por via fecal-oral e água e alimentos contaminado. GENOMA VIRAL O genoma é dividido em três regiões: 1) uma região não codificante presente na extremidade 5’ (5’NC), com cerca de 735 nucleotídeos, corresponde a 10% do genoma e está covalentemente ligada à proteína viral VPg; que tem importante papel na iniciação da tradução e atua como sítio de entrada do ribossoma; 2) uma região de leitura aberta que codifica proteínas estruturais (componentes do capsídeo) e não estruturais (proteínas importantes para replicação e síntese de novas partículas virais) e 3) uma pequena região não codificante presente na extremidade 3’ com cerca de 63 nucleotídeos a qual é pós-transcricionalmente poliadenilada. A tradução da região de leitura aberta do genoma do HAV produz uma poliproteína com cerca de 2.225 a 2.227 aminoácidos, a qual leva à produção de precursores proteicos denominados P1, P2 e P3. A região P1 é processada em proteínas estruturais VP1, VP2, VP3, e a proteína viral VP4, que é essencial para a formação da partícula viral. A clivagem das regiões P2 e P3 leva à produção de proteínas não estruturais que estão envolvidas com o processo de replicação viral, desenvolvendo funções na síntese do RNA viral e na etapa de montagem do virion. Através da clivagem da região P2 são obtidas as proteínas 2A, que está associada com a morfogênese do nucleocapsídeo, 2B, que está envolvida com o aumento da permeabilidade das membranas celulares e 2C, envolvida na replicação do genoma viral. A P3 é clivada em quatro proteínas não estruturais, 3A, 3B, 3C e 3D. A proteína 3A é altamente hidrofóbica e tem função de ancorar as proteínas 3B e 3C. A proteína 3B é responsável pela iniciação do processo de replicação do genoma viral, a proteína 3C é a protease responsável pela clivagem das proteínas, e a proteína 3D tem a função de RNA polimerase dependente de RNA. 21 22 Figura 3. Vacina infantil contra Hepatite A. Fonte: Ministério da Saúde REPLICAÇÃO VIRAL A entrada do vírus no organismo ocorre através da ingestão de partículas virais que infectam o trato digestório, a replicação do HAV ocorre no fígado, no citoplasma dos hepatócitos. A replicação é iniciada com a interação do HAV a receptores específicos presentes na superfície da célula hospedeira, após o reconhecimento pelos receptores o vírus é internalizado por endocitose. No citoplasma da célula, o vírus perde o capsídeo proteico, e o genoma de RNA fita simples e polaridade positiva passa a atuar como RNA mensageiro (RNAm) para a síntese da poliproteína viral. O sítio de entrada interna do ribossomo (IRES), presente na região 5’NC, direciona a tradução do genoma viral usando a maquinaria ribossomal da célula hospedeira. A tradução da poliproteína se inicia com a ligação do IRES à subunidade 40S do ribossomo celular. Proteínas não estruturais do HAV (2B-3Dpol) sintetizam uma cópia do RNA complementar de polaridade negativa (replicativo intermediário), que servirá de molde para a síntese de novas fitas de polaridade positiva, que sintetizarão novas proteínas virais. Após a tradução e síntese das proteínas estruturais e não estruturais as fitas positivas são empacotadas para a formação de novas partículas virais e depois sofrem clivagem de maturação na região de junção entre as proteínas VP2 e VP4. Após este processo, a partícula viral é montada, as partículas completas são sintetizas contendo um capsídeo icosaédrico com 60 cópias de cada proteína estrutural e com o RNA de 23 polaridade positiva; as partículas incompletas são sintetizas sem o RNA do HAV, ambas as partículas são secretadas pelos hepatócitos. 24 VARIABILIDADE GENÉTICA Os primeiros experimentos para verificar a variabilidade genética do vírus da hepatite A foram realizados através do sequenciamento da região VP1/2A. As distâncias genéticas encontradas entre as cepas do HAV sequenciadas foram distribuídas de forma desigual, permitindo a classificação do HAV em diferentes genótipos. Nesta região, os genótipos apresentam variabilidade nucleotídica superior a 15%. Inicialmente o HAV foi classificado em sete genótipos I a VII, mas posteriormente os genótipos da hepatite A foram reclassifica- dos em seis genótipos, I a VI, com base em sequências derivadas da região VP1 completa. Os genótipos I, II e III são divididos em subgenotipos A e B, com a diferença genética de 7 a 7,5% entre os subgenotipos da região VP1/P2A. Recentemente, um novo subtipo C foi proposta no genótipo I. Os genótipos I-III são associados com infecções em humanas, enquanto genótipos IV-VI estão associados com infecção em símios. Os genótipos do HAV e subgenotipos apresentam uma distribuição geográfica específica. Em todo o mundo, o genótipo I é o mais prevalente, e o subgenotipo IA é mais comum do que o subgenotipo IB. O subtipo IA circula na America do Norte e Sul, Ásia e África. O subtipo IB é predominante no Oriente Médio e África do Sul. No Brasil a co-circulação dos subge- notipos IA e IB foi observada. Os isolados do genótipo II foram inicialmente identificados na França em Serra Leoa na década de 70 e 80. No entanto, atualmente a detecção deste genótipo é raramente relatada. O subgenotipo IIA pode ter sido originado na África Ocidental. O genótipo III tem uma distribuição global, cepas pertencentes ao subtipo III, foram identificadas em países da Ásia e Europa, bem como em Madagáscar e Estados Unidos. Um aumento na distribuição do genótipo IIIA foi relatado recentemente na Coréia, Rússia e Estónia. Na Índia, surtos de hepatite A notificados foram causados pelo genótipo IIIA. No Japão, os subtipos IIIA e IIIB co-circulam amplamente com cepas dos genótipos IA e IB. TRANSMISSÃO A hepatite A é adquirida principalmente pela via fecal-oral, incluindo o contato pessoa-a-pessoa e ingestão de água ou alimentos contaminados por fezes de indivíduos infectados. Em raras ocasiões, o HAV também pode ser transmitida através da transfusão de sangue ou hemoderivados provenientes de doadores infectados e assintomáticos que doam sangue no período de viremia O HAV é altamente transmissível, portanto, a ocorrência de surtos é freqüentemente relatada, especialmente nos locais onde a imunidade na população é baixa. TRANSMISSÃO POR ÁGUA OU ALIMENTOS CONTAMINADOS O surtos de hepatite A por água ou alimentos con- 25 26 taminados a partir de um fonte única são caracterizados por um aumento brusco do número pessoas com icterícia em um curto período de tempo. À contaminação pela água ocorre comumente entre pessoas que bebem água contaminada ou nadam em águas contaminadas por esgoto. A transmissão de origem alimentar ocorre quando a pessoa que manipula o alimento esta contaminada e não tem medidas de higiene adequadas, principalmente quando não lava as mãos após ir ao banheiro, neste caso o HAV é transferido para os alimentos atráves da mão contaminada durante a preparação ou quando as plantas destinadas para alimentar torna-se contaminada com fezes durante colheita ou processamento antes de chegar ao estabelecimento de servi- ço de alimentação ou em casa. A contaminação por alimentos, também pode ocorrer através da ingestão de frutos do mar infectados, principalmentes ostras e mexilhões. A detecção e seqüenciamento de HAV RNA de amostras de água, alimentos e dos pacientes infectados são ferramentas úteis para a identificação da fonte de transmissão de HAV. TRANSMISSÃO PESSOA-PESSOA A forma mais comum de transmissão do HAV ocorre quando existe o contato pessoal prolongado e próximo entre individuos infectados e suscetíveis. A eliminação prolongada do HAV nas fezes, antes e depois o aparecimento dos sintomas, facilita a transmissão pessoa - pessoa. Este tipo de transmissão é comum ocorrer no contato intradomiciliar, em instituições fechadas, como escolas, creches e berçários, lugares que existem aglomerações de pessoas, compartilhamento de objetos, condições de higiene inadequadas e alta proporção de indivíduos suscetíveis à hepatite A. Surtos intradomiciliares ocorrem com frequência devido ao compartilhamento de objetos e contato das pessoas que vivem em uma mesma residência. As crianças assintomáticas facilitam a transmissão do HAV. Na transmissão pessoa-pessoa pode ser detectado apenas uma genotipo ou mais de um genótipo se diferentes fontes de infecçãoo estiverem envolvidas no surto. HOMENS QUE FAZEM SEXO COM HOMENS (HSH) A transmissão sexual por si só não é uma via de transmissão do HAV. Contudo a tranmissão pode ocorrer entre homens que fazem sexo com homens como conseqüência direta da relação sexual oral anal e o contato com fezes contaminadas pelo HAV. A eliminação dos vírus nas fezes ocorre antes do início dos sintomas e continua além da fase sintomática, a disseminação prolongada do HAV nas fezes facilita a transmissão através do contato oral-anal. USUÁRIOS DE DROGAS INJETÁVEIS (UDI) O aumento da transmissão do HAV entre os usuários de drogas pode ser associado com precarias condi- 27 28 ções sanitárias e de higiene pessoal, e fatores relacionados ao estilo de vida e comportamento sexual (sexual oral-anal). O HAV não é considerado um patógeno com transmissão através do sangue nas mesmas extensão que HBV e HCV. No entanto, a tranmissão percutânea não pode ser excluído devido ao compartilhamento freqüente de agulha e seringas entre usuários de droga. Na Noruega foi relatado surtos da hepatite A do subgenotipo IIIA entre usuários de drogas. QUADRO CLÍNICO A hepatite A é caracterizada como uma doença aguda e na maioria das vezes auto-limitante; os sintomas podem variar de uma forma assintomática rápida ou até hepatite fulminante (<1%). Após a infecção ocorre o período de incubação ou pré-clínico, geralmente neste período o paciente não apresenta os sintomas característicos de hepatite. Este período é caracterizado pelo tempo entre a exposição ao vírus e o início dos sintomas, esta fase pode variar de 15 a 50 dias, com uma média de 30 dias, onde ocorre a replicação viral ativa e excreção viral nas fezes. A transmissão do vírus pode ocorrer durante a fase pré-clínica devido à elevada carga viral que é excretada. A segunda fase, conhecida como fase prodomica, é caracterizada pelo aparecimento de sintomas não específicos e pode variar desde alguns dias até mais do que uma semana antes do início da icterícia. Em mais da metade dos pacientes, este período é caracterizado por anorexia, febre, fadiga, mal-estar, mialgia, náuseas e vómitos. Os sintomas inespecíficos como coriza, tosse, dor de cabeça e dor de garganta também podem estar presentes. Os sintomas observados na fase prodomica tendem a diminuir com o aparecimento da icterícia, contudo o mal-estar e a anorexia podem persistir. A terceira fase ictérica ou de hepatite viral aguda começa com o aparecimento de urina escura devido à excreção de bilirrubina, fezes claras e amarelamento da pele e mem- 29 30 branas mucosas. A fase ictérica começa dentro de 10 dias após os primeiros sintomas e é observada em mais de 85% dos casos de infecção pelo HAV. Entre as crianças com idade inferior a 5 anos de idade, apenas 50% apresentam sintomas de hepatite viral aguda, a maioria dos casos é assintomático o que facilita a transmissão silenciosa do vírus. A icterícia não é observada em todos os casos sintomáticos da hepatite A; hepatite anictérica pode ocorrer. O paciente geralmente se recupera completamente dentro de 2 meses. Na literatura não há registros de formas crônicas da doença, embora tenha havido casos em que a doença se estendeu por mais de 6 meses. Ocasionalmente, lesões mais extensas do fígado podem ocorrer, levando a lesão hepática grave, a que se refere à insuficiência hepática como aguda ou hepatite fulminante, que é uma complicação rara, caracterizada por febre alta, dor abdominal, vômitos e icterícia. A hepatite fulminante seguida de morte pode ocorrer, mas tais casos são raros, e tendem a ocorrer mais comumente em indivíduos mais velhos. Manifestações extra-hepáticas de HAV são incomuns, mas podem ser observadas. Aproximadamente 5-15% dos pacientes têm esplenomegalia. Existe também uma forma rara de hepatite, hepatite colestática e ictérica, que pode ser grave e pode persistir por vários meses antes da resolução completa da doença. Em alguns pacientes, a anorexia e diarreia ocorrem periodicamente. A recorrência da doença ocorre entre 3 e 20% de casos de hepatite aguda e pode ser mais ou menos grave do que a manifestação original, e geralmente acontece de 4-15 semanas depois que os sintomas iniciais foram resolvidos. Após o desaparecimento dos sintomas os pacientes podem continuar eliminando o HAV nas fezes em baixas quantidades. PATOGÊNESE A infecção por hepatite A geralmente ocorre após a ingestão do HAV em material contaminado com fezes. O HAV entra pela via gastrointestinal é absorvido e se prolifera na mucosa digestiva. Após a proliferação o HAV circula na corrente sanguínea e através da circulação portal e sistêmica chega ao fígado onde inicia a replicação viral nos hepatócitos. Nos hepatócitos o RNA do HAV tem função de RNA mensageiro e é utilizado para a síntese de novas partículas virais. As novas partículas virais são eliminadas pelos hepatócitos e chegam aos canalículos biliares; em seguida são encontradas na bile e no intestino, onde infectam as fezes com uma elevada concentração (109 a 1010 copies/mL). As partículas são eliminadas nas fezes no inicio da infecção, antes do aumento da alanina aminostransferase (ALT) e aparecimento dos sintomas ou icterícia. Os pacientes infectados com o HAV que são assintomáticos também eliminam os vírus das fezes e podem ser fonte de infecção da doença. Durante a infecção, no período de viremia o HAV é detectado no sangue com carga viral 31 32 de 2 a 4 logs menores do que é geralmente encontrado nas fezes. O vírus é eliminado na circulação sanguínea pela membrana basolateral. A viremia precede o aparecimento dos sintomas clínicos pelo menos duas semanas antes e os títulos virais declinam após o aparecimento dos sintomas, contudo o HAV RNA pode ser detectado no sangue até 10 semanas após o inicio da infecção. Estudos com infecção experimental em primatas detectaram o HAV-RNA nas glândulas salivares e na orofaringe sugerindo uma replicação inicial nesses locais. Contudo, a carga viral detectada na saliva foi menor do que a encontrada no sangue. Os estudos com primatas não humanos são importantes para esclarecer a patogênese do HAV, porém vários aspectos ainda precisam ser elucidados. O DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Diagnóstico bioquímico Os testes bioquímicos da função hepática podem ser usados como auxiliar para o diagnóstico da hepatite A, entretanto não é um teste especifico, apenas indica que o paciente apresenta alterações bioquímicas que podem estar relacionadas à inflamação no fígado. Entre os testes bioquímicos incluem a medição da bilirrubina total no soro, fosfatase alcalina (ALT) e aspartato aminotransferase (AST), mas apenas ALT é um teste específico para a hepatite. Em pacientes sintomáticos, as elevações de ALT e AST ocorrem com frequência. O diagnóstico labora- torial deve incluir hemograma completo, tempo de atividade da protrombina (ATP) e transaminases séricas. Em pacientes com falência hepática aguda três variáveis são avaliadas para definir o prognóstico da insuficiência hepática fulminante: (1) idade, menor que 11 anos ou maior de 40 anos; (2) duração da icterícia, antes do início da encefalopatia superior a 7 dias; e (3) elevação das enzimas séricas, bilirrubina e o tempo de protrombina que indicam um mau prognóstico. Tipicamente, os níveis totais de bilirrubina no soro permanecem abaixo de 10 mg/dl, mas os níveis de 20 mg/dl podem ocasionalmente ser observados. As concentrações de ALT e AST fornecem uma avaliação quantitativa de danos no fígado durante a infecção aguda. ALT está loca- lizada principalmente no fígado, e é limitado para o citosol dos hepatócitos, enquanto AST é encontrada na mitocôndria (80%) e citosol (20%). Esta compartimentalização das enzimas pode explicar parcialmente o padrão de transaminases observado em muitas formas de doenças hepáticas, uma vez que durante a hepatite aguda, os níveis de ALT são significativamente mais elevados do que os níveis de AST, resultando em uma maior proporção dos níveis de ALT/AST (> 1,4). A lesão hepatocelular torna-se evidente devido à acentuada elevação dos níveis das transaminases hepáticas, em muitas vezes maior do que 500 UI/L, logo após o período prodromico. No entanto, exceções podem ocorrer em situações em que o paciente de- 33 34 senvolve grave necrose tecidual, resultando em um aumento da liberação de AST no sangue. O aumento das transaminases ocorre na fase prodromica, atingindo um pico ao mesmo tempo em que ocorrem os sintomas clínicos, neste período as concentrações acima de 1.000 UI/L são comuns. Em dois meses, 60% dos pacientes têm testes bioquímicos normais, atingindo quase 100% em 6 meses. Como a albumina é a principal proteína secretora produzida pelo fígado, e é importante para a regulação de concentração osmótica, ela também é útil para acompanhar o prognóstico da doença. Os testes bioquímicos não permitem que a diferenciação da hepatite A de outras formas de hepatite aguda, de modo que os testes sorológicos são necessários para identificar o agente etiológico. O diagnóstico sorológico Ensaios imunoenzimáticos (ELISA) O diagnóstico laboratorial do vírus da hepatite A pode ser feito através de testes sorológicos específicos para a detecção de anti-HAV IgM. A presença destes anticorpos na maioria dos indivíduos aparece após o período de incubação viral e detecção do anti-HAV IgM é um dos testes mais importante para o diagnóstico da hepatite A. Os anticorpos anti-HAV da classe IgM são detectados por testes imunoenzimáticos (ELISA), a partir do início dos sintomas, geralmente aumentam rapidamente entre 4 e 6 semanas após a infecção e, em seguida, caem para níveis indetectáveis dentro de 4 a 6 meses, raramente persiste por mais de 12 meses, em média permanecem detectáveis durante 3 meses. A sensibilidade e a especificidade da detecção de anticorpos anti-HAV IgM nos testes comerciais geralmente são superiores a 99%. Na maioria dos casos as transaminases séricas normalizam antes de anti-HAV IgM se torna indetectável. Os anticorpos anti-HAV da classe IgG são detectados por testes imunoenzimáticos que detectam anti-HAV total, estes testes detectam anticorpos IgM e IgG simultaneamente. Os anticorpos anti-HAV IgG persistem por anos e fornecem proteção contra a reinfecção. Apesar da detecção deste anticorpo não distinguir infecção aguda recente de uma infecção passada, esses anticorpos indicam imunidade contra a doença, e sua detecção pode ser usado para estudos epidemiológicos de prevalência da infecção pelo HAV, bem como a avaliação de resposta vacinal. Os anticorpos anti-HAV IgM e IgG podem ser detectadas simultaneamente de 1 a 2 semanas após o início dos sintomas. Os títulos de anti-HAV IgG podem subir gradualmente, atingindo níveis elevados durante a fase de convalescência e diminuírem após a fase o aparecimento dos sintomas, contudo os títulos de anti-HAV IgG persistirem conferindo imunidade contra reinfecção. A detecção de anticorpos anti-HAV total é utilizado para determinar o estado imune de um indivíduo após a vacinação ou infecção. Pacientes imunocomprometidos e transplantados po- 35 dem desenvolver infecção aguda sem anti-HAV IgM. 36 Ensaio imunocromatográfico Os ensaios imunocromatográficos, conhecidos como teste rápido, podem ser utilizados para detecção de anti-HAV IgM e IgG, estes testes são eficazes quando aplicada ao diagnóstico clínico devido à sua simplicidade, rapidez e especificidade. Contudo, estes testes são mais indicados quando o paciente apresenta altos títulos de anticorpos. A maioria dos testes imunoenzimáticos para a detecção de anti-HAV total são ensaios competitivos e por isto detectam simultaneamente anti-HAV IgM e IgG, enquanto que o teste rápido detectam IgM e IgG separadamente. Diagnóstico molecular Os métodos moleculares como amplificação em cadeia da polimerase (PCR), PCR em tempo-real e sequenciamento não são utilizados rotineiramente no diagnostico da hepatite A, mas são ferramentas uteis para estudar o curso clínico da doença, genotipagem, caracterização viral do HAV e fazer um diagnóstico precoce e diferencial. Como o vírus da hepatite A é um vírus de RNA, para fazer a amplificação do HAV-RNA é necessário fazer uma reação de transcrição reversa antes da técnica de PCR e PCR em tempo-real. Estudos utilizando PCR de transcrição reversa (RT-PCR) têm demonstrado que HAV RNA pode ser detectado no sangue mais cedo do que os anticorpos, e que a viremia pode estar presente por um período muito mais longo que a fase de convalescência da hepatite A. A amplificação do RNA viral por PCR é realizada em duas reações (RT-PCR e nested PCR). Esta técnica é atualmente utilizada para a detecção de HAV RNA em diferentes tipos de amostras como em soro, plasma, saliva, suspensão fecal, água e alimentos contaminados. Embora seja observada uma carga viral elevada do HAV nas amostras de fezes, a detecção, quantificação e genotipagem do HAV RNA na maioria das vezes são realizadas em amostras de soro, devido à presença de inibidores de fezes que podem interferir com a detecção do material genético de HAV. A detecção por PCR ou PCR em tempo real tem um papel importante no diagnóstico preco- ce de infecção, especialmente no período de janela imunológica, durante surtos e em casos de hepatite aguda de etiologia desconhecida, atualmente estas são as técnicas mais sensíveis e específicas para a detecção do HAV em amostras clínicas. A detecção de RNA do HAV antes de IgM anti-HAV pode ser utilizado como um método de diagnóstico precoce durante surtos de hepatite A e ou em pacientes com sintomas de hepatite sem sorologia definida. Contudo, o diagnóstico molecular de hepatite A ainda não é usado em laboratórios clínicos e de bancos de sangue, como é atualmente realizado para hepatite B e hepatite C. O PCR em tempo-real permite a detecção e a quantificação simultânea do HAV e pode ser utilizado para o diagnóstico de pacientes 37 38 sem anticorpos específicos para hepatite A e para a monitorização da infecção em casos excepcionais ou em trabalhos de investigação sobre o HAV. A velocidade e a elevada sensibilidade desta técnica permite a análise rápida de amostras em larga escala, como em surtos epidêmicos. Estudos de correlação entre carga viral, marcadores sorológicos e bioquímicos são utilizados em estudos longitudinais para determinar a quantificação do RNA do HAV, duração viremia e período excreção do HAV nas fezes. O sequenciamento é utilizado para genotipagem viral e investigação de surtos epidemiológicos, onde amostras de pacientes, água e ou alimentos contaminados podem ser sequenciadas para inves- tigação da fonte de infecção. 39 Figura 4. Rotas dos Vírus Fonte: Revista Pesquisa (FAPESP) PREVENÇÃO E CONTROLE 40 Higiene Como o vírus da hepatite A é transmitida de pessoa para pessoa por via fecal-oral, bons hábitos de higiene como lavar as mãos após ir ao banheiro e antes de preparar os alimentos é fundamental para a prevenção, além de condições sanitárias favoráveis. As pessoas que viajam para áreas endêmicas devem evitar a exposição à hepatite A, evitando a ingestão de alimentos mal lavados e água não filtrada. Vacinação Atualmente existem vacinas atenuadas e inativadas para hepatite A. A vacina atenuada é utilizada na China. As vacinas que são mais utilizadas e licenciadas na maioria dos países é a inativada. Essas vacinas contêm partículas virais que são produzidas em cultura de células, purificadas e inativadas com formalina, e adsorvido a um adjuvante de hidróxido de alumínio. Devido ao lento crescimento do vírus e o baixo titulo em cultura celular a vacina tem um preço elevado. Contudo, o HAV apresenta apenas um sorotipo, as vacinas inativadas são altamente imunogênicas e protegem contra a infecção. Geralmente a vacina é administrada em duas ou três doses dependendo do fabricante. Os países desenvolvidos recomendam a vacinação contra hepatite A para as pessoas com maior risco de adquirir a doença, incluindo os viajantes para regiões de alta endemicidade de hepatite A, os usuários de drogas ilícitas, pessoas que estão em maior risco de desenvolver a doença fulminante, tais como pessoas com infecção crônica de HCV. Contudo, nos últimos anos, alguns países como Estados Unidos adotaram a imunização universal de crianças e os casos diminuíram em mais de 95%. Da mesma forma, em Israel, um país de endemicidade intermediária para o HAV, após a política de vacinação do HAV, foi observado em todo o país a diminuição na incidência de hepatite A e nas taxas de casos agudos, graves e fulminante. Nos países de endemicidade intermediaria onde as condições socioeconômicas e sanitárias estão melhorando e o número de indivíduos suscetíveis aumentou consideravelmente nas últimas décadas, existe uma grande discussão sobre a implementação da vacina no calendário infantil devido ao alto custo da vacina, mas estudos tem mostrado que a imunização universal impacta favoravelmente e que e o ônus com a doença é maior que os benefícios da vacina. Na Argentina apenas uma dose foi administrada na vacinação universal, as taxas de soroconversão foram satisfatórios e esta estratégia pode ser utilizada em países onde houve uma transição de alta para baixa endemicidade nas últimas décadas e onde o vírus ainda é encontrado no meio ambiente. No Brasil, a vacina está disponível na rede particular e recentemente foi aprovado a incorporação da vacinada da he- 41 42 patite A na rotina nacional do programa de imunização do sistema único de saúde (SUS). Assim como ocorreu nos outros países que já adotaram a vacina no calendário de vacinação infantil futuramente espera-se uma redução dos casos esporádicos de hepatite A e nos surtos epidêmicos. Nos países com alta endemicidade a vacinação não é recomendada, pois a maioria da população teve contato com o vírus na infância e adquiriram imunidade. Como mencionado acima, as recomendações para a vacinação estão diretamente relacionadas a prevalência e incidência da hepatite A; e as mudanças na epidemiologia da doença pode alterar a perspectiva de futuro sobre a imunização em países onde o saneamento está passando por uma rápida melhora. PREVENÇÃO DOS CASOS SECUNDÁRIOS DE HEPATITE Caso confirmado É o caso que corresponde à definição de caso clínico (paciente com doença aguda com um início discreto dos sintomas e icterícia ou níveis elevados de aminotransferases) e é confirmado laboratorialmente (anticorpos anti-HAV IgM reagente). Caso provável Pessoa assintomática ou com sintomas discretos e que tem uma relação epidemiológica com a pessoa com resultados laboratoriais confirmados de hepatite A ou esteve exposta a surto ou alimentos e água contaminada durante os 15-50 dias antes de início dos sintomas. Quando um caso clinico é confirmado, o caso índice e seus familiares devem receber orientação verbal e escrita sobre a importância de lavar as mãos após usar o banheiro e antes de preparar alimentos. É importante que todos os membros da família pratiquem os hábitos de higiene, pois alguns podem já ter adquirido a hepatite A e estar excretando o vírus da hepatite A nas fezes. Indivíduos cuja higiene pessoal é inadequada (por exemplo, crianças ou pessoas com graves dificuldades de aprendizagem) devem ser vigiados para garantir que eles lavam as mãos corretamente após a defecação. Objetos como copos, talheres, pratos, mamadeira, chupeta devem ser utilizados apenas pelo doente. A pessoa com hepatite A deve ser dispensada do trabalho, da 43 44 escola ou creche para evitar a disseminação do vírus e surtos entre os indivíduos suscetíveis. Uma avaliação deve ser realizada para tentar identificar a possível fonte de infecção; por exemplo, história de viagem à país endêmico ou história de contato com um caso conhecido de hepatite A durante o período de incubação, ingestão de água ou alimento contaminado. Se nenhuma fonte evidente de infecção for identificada, e o caso índice frequenta um ambiente de acolhimento de crianças de pré-escola ou na escola primária, a infecção pode ter sido adquirida de uma criança infectada assintomática. Nestas circunstâncias, podem ser necessárias medidas de saúde pública no ambiente onde há suspeita do foco da infecção onde esta ocor- rendo o surto da hepatite A. PROFILAXIA PRÉ-EXPOSIÇÃO • A vacinação da hepatite A pré-exposição oferece proteção contra a infecção pelo vírus da hepatite A (HAV). É recomendado para pessoas que estão em maior risco de infecção e para qualquer pessoa que pretenda obter imunidade. • Pessoas que buscam proteção imunológica, mas são alérgicas aos componentes da vacina devem receber Ig. A administração deve ser repetida se a proteção é necessária para períodos superiores a 5 meses. Para as pessoas que necessitam de repetidas doses de Ig, o rastreio do seu estado imunológico é útil para evitar doses desnecessárias de Ig. A PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO • Nas pessoas que tenham sido expostas ao HAV e que não tenham sido previamente vacinados deve ser administrada uma dose de Ig (0.02ml/kg) dentro de duas semanas após a exposição. Pessoas que receberam uma dose de vacina contra hepatite A pelo menos 2 semanas antes da exposição HAV não precisam receber Ig. • A vacinação em massa pós - exposição para conter a propagação de HAV em surtos tem se mostrado eficaz para bloquear a expansão do surto epidêmico. • A sorologia de triagem de contatos de pessoas infectadas para anti-HAV, antes de serem dadas Ig não é recomendada porque a triagem pode atrasar a sua administração. 45 46 HEPATITE A NO RIO DE JANEIRO No Rio de Janeiro casos de hepatite A ocorrem com frequência, principalmente durante o verão, onde as pessoas tem mais contato com águas contaminadas, observa-se a ocorrência de surtos intradomiciliares, em creches, escolas e em comunidades fechadas. Assim como tem sido observado no Brasil, o Rio de Janeiro vive uma mudança do perfil epidemiológico da hepatite A e os casos estão se deslocamento para faixas etárias mais elevadas. Como a prevalência da doença esta relacionada com os padrões econômicos e de saneamento básico, é comum observar no Rio de Janeiro padrões de endemicidade diferentes de acordo com a população estudada, geralmente nos bairros e cidades onde o poder aquisitivo é maior a prevalência é menor. Contudo, com as melhorias no saneamento básico, mesmo nas populações menos favorecidas encontra-se um número elevado de crianças e jovens sem imunidade prévia ao HAV. Como descrito anteriormente, a hepatite A é auto-limitada e em crianças menores de 5 anos geralmente ocorre de forma assintomática; com a mudança no perfil epidemiológico de alta para médio-baixa endemicidade a doença ocorre em adolescentes e jovens-adultos onde a maioria dos casos é sintomático. Devido ao aumento de casos agudos também tem sido observado casos de hepatite A fulminante no Rio de Janeiro (<1%). No Rio de Janeiro ocorre a cocirculação dos genótipos IA e IB, os dois genótipos são en- contrados no meio ambiente e em surtos epidêmicos; contudo, nos casos esporádicos da doença a maioria dos pacientes se infectam com HAV do genótipo IA. Os casos de hepatite fulminante podem estar relacionados ao genótipo IA ou IB, mostrando que a gravidade da doença não esta associada ao genótipo do vírus e sim as características do hospedeiro. Para fins de vigilância epidemiológica são considerados dados confirmados de hepatite A, os casos notificados de indivíduos com anti-HAV IgM confirmado ou que preencham as condições de caso suspeito e ou que tenham vinculo epidemiológico com caso confirmado de hepatite A. Em estudo de base populacional foi encontrada uma baixa prevalência nas capitais da região Sudeste, entre indivíduos de cinco e 19 apenas 32,5% das crianças e jovens tinham anticorpos anti-HAV total. De acordo com o Sistema de notificação de agravos (SINAN), entre os casos confirmados de hepatite A de 2007 a 2012 na região sudeste, 34,9% ocorreram no Rio de Janeiro. Com a implementação da vacina no calendário infantil espera-se que o número de casos notificados diminua. 47 48 CAPÍTULO 2 HEPATITE B A hepatite B é a mais pe- rigosa das hepatites e uma das principais doenças do mundo. Os portadores da hepatite B podem desenvolver doenças hepáticas graves tais como a cirrose e carcinoma hepatocelular. O vírus provoca hepatite aguda em um terço dos atingidos, e um em cada mil infectados pode ser vítima de hepatite fulminante. Em 10% dos casos a doença torna-se crônica, sendo esta situação mais frequente em homens (WHO, 2014). Ao examinar milhares de amostras de soro de diferentes áreas geográficas do mundo foi observado que uma amostra de soro de um aborígene da Austrália continha um antígeno que reagia especificamente com um anticorpo presente no soro de um paciente hemofílico dos Estados Unidos. Estudos posteriores re- velaram que este “antígeno Austrália” era relativamente raro na população da America do Norte e no oeste europeu, porém era prevalente em algumas regiões africanas e asiáticas e entre pacientes com leucemia, síndrome de Down e hepatite aguda (BLUMBERG et al, 1967; BAYER et al, 1968). Em 1968 foi estabelecida a correlação entre o antígeno Austrália (agora designado antígeno de superfície do vírus da hepatite B ou HBsAg) e a infecção pelo vírus da hepatite B (PRINCE, 1968; OKOCHI & MURAKAMI, 1968). Posteriormente, a purificação do vírus da Hepatite B (HBV) foi realizada a partir do soro de portadores do HBsAg e a partícula completa (vírion) foi detectada por microscopia eletrônica (DANE et al, 1970). O HBV pertence à família 49 50 Hepadnaviridae, a qual compreende um pequeno numero de vírus que compartilham varias características em comum, tais como: o tamanho, ultraestrutura do vírion, organização genômica e um mecanismo particular de replicação do DNA viral. A separação dessa família é dada em dois gêneros: Orthohepadnavirus e Avihepadinavirus; este último representando os vírus que infectam as aves (patos, garças, gansos e cegonhas) e no primeiro, estão incluídos os vírus que infectam os mamíferos (seres humanos, esquilos, marmotas e primatas não-humanos) (KIDD- LJUNGGREN et al, 2002). Epidemiologia da infecção De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) aproximadamente 240 milhões de pessoas estão cronicamente infectadas pelo HBV no mundo. Estes portadores crônicos servem como fonte de infecção para outros indivíduos (WHO, 2014). A infecção pelo HBV exibe altas prevalências para o HBsAg (8% a 15%) no Sudeste asiático, China, Filipinas, África, bacia amazônica e Oriente Médio. Prevalência intermediaria (2-7%) é observada no leste europeu, Ásia central, Japão, Israel e ex-União Soviética, enquanto que prevalências baixas (<2%) são encontradas na América do Norte, Europa Ocidental, Austrália e sul da América Latina (MARGOLIS et al, 1991). 51 Figura 5. Distribuição Mundial do HBV Fonte: Adaptado do CDC (www.who.int/entity/ith/diseases/hepatitisB/en/). 52 O Brasil é atualmente considerado uma área de endemicidade intermediária para a infecção pelo HBV, porém observam-se taxas variáveis de prevalência em diferentes regiões do país, sendo então divididas em sub-regiões, uma vez que localidades vizinhas podem apresentar graus distintos de endemicidade. A OMS classifica a Região Sudeste como de baixa endemicidade. Todavia, os resultados do inquérito sugerem a ocorrência de baixa endemicidade (menor que 1%) da infecção pelo vírus da hepatite B no conjunto das capitais de cada macrorregião e do Distrito Federal (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO HEPATITES VIRAIS, 2011). Figura 6. Distribuição do HBV no Brasil Fonte: Ministério da Saúde ESTRUTURA GENÔMICA O HBV possui um mecanismo único entre os vírus que infectam o homem, o qual permite a produção de diferentes tipos de partículas virais. Em preparações para microscopia eletrônica do soro de indivíduos infectados podem ser observados três tipos de partículas: as completas infecciosas, as incompletas esféricas e as incompletas filamentosas (GANEM & SCHNEIDER, 2001) (Figura 3). As partículas incompletas são encontradas em excesso (em torno de 1013/ml) no soro de indivíduos infectados. Ambas as partículas subvirais, apresentam um diâmetro de 22nm. As partículas virais infecciosas são esféricas com diâmetro de aproximadamente 42nm. Estes vírions apresentam um envelope lipídico externo, composto pelas proteí- nas S (“small”), M (“middle”) e L (“large”), o qual constitui o HBsAg. O nucleocapsídeo possui simetria icosaeédrica e é constituído pela proteína do core (HBcAg) e pelo genoma viral (TIOLLAIS et al, 1985) GENOMA VIRAL O genoma do HBV é um dos menores entre os genomas virais que infectam o homem. Este genoma é composto por uma molécula de DNA de fita parcialmente dupla com 3.200 pb (Figura 5). A fita mais longa e complementar aos RNAs virais e possui polaridade negativa (GERLISH & ROBINSON, 1980). Na fita de polaridade positiva, que possui uma região de fita simples, a posição da extremidade 5’ terminal é fixa, enquanto que a posição da extremidade 3’ terminal e variável. Assim, o comprimento da fita positiva e variável, corres- 53 54 pondendo entre 50-90% do comprimento da fita complementar. Próxima as extremidades 5’ de ambas as fitas observa-se uma pequena seqüência de 11 nucleotídeos, que são diretamente repetidas e por isso são chamadas de direct repeats (DR1 e DR2). Essas seqüências são importantes para a iniciação da replicação viral (SEEGER et al, 1986; WILL et al, 1987). Todo o genoma do HBV é codificante, possuindo quatro fases de leitura aberta conhecidas como pré-S/S, pré-C/C, P e X (Figura 5). Todos os genes são codificados pela fita longa e possuem pelo menos uma região de sobreposição a outro gene. A sobreposição dessas quatro fases de leitura aumenta a capacidade de síntese protéica em aproximadamente 50% do esperado para a totalidade do genoma do HBV (GANEM & VARMUS, 1987). FASE DE LEITURA PRÉ-S/S O gene pré-S/S inclui as regiões pré-S1, pré-S2 e S, com três códons de iniciação na mesma fase de leitura. A maior proteína que compõe o HBsAg é a large (L), cujo códon de iniciação está localizado no inicio da região pré-S1 e é codificada pelas regiões pré-S1, pré-S2 e S. A proteína de tamanho intermediário conhecida como middle (M) é codificada pelas regiões pré-S2 e S. A partir do códon de iniciação localizado no inicio da região S, a menor proteína (small S) é sintetizada. Essas proteínas possuem o mesmo códon de terminação, o qual se localiza no final da região S. Essas proteínas podem se apresentar sob as formas glicosiladas e não glicosiladas (SEEGER & MASON, 2000). Os três tipos de proteínas não são distribuídos uniformemente entre as diferentes formas de partículas virais. Partículas subvirais de 22nm são compostas predominantemente por proteínas S, apresentando quantidades variáveis de proteína M e pouca ou nenhuma proteína L. Entretanto, as partículas completas (vírions) são enriquecidas de proteínas L. Uma vez que as proteínas L contém os sítios de ligação do HBV aos receptores específicos nos hepatócitos (NEURATH et al, 1986; KLINGMULLER & SCHALLER, 1993) este enriquecimento de proteínas L poderia prevenir as partículas subvirais, que são mais numerosas, de competir com os vírions pelos receptores presentes na superfície celular (GANEM, 1996). A proteína M também atua como elemento de ligação para a adsorção do HBV. A proteína S, que é a principal proteína que forma o HBsAg, é capaz de induzir resposta imunológica protetora (anti-HBs) contra o HBV, e é o antígeno utilizado na formulação de vacinas (GROB, 1998). Mutações em epítopos específicos, ocorrendo dentro do gene S, podem interferir na proteção vacinal, na análise de resultados sorológicos, bem como prejudicar a terapia baseada na utilização de anticorpos específicos para suprimir a infecção em indivíduos transplantados (BLUM, 1993; WALLACE & CARMAN, 1994). FASE DE LEITURA PRÉ-C/C A região pré-C/C possui dois códons de iniciação na mesma fase de leitura. O HBeAg é traduzido a partir de um único códon de iniciação da região pré- 55 56 -C. É produzido um polipeptídio precursor de 214 aminoácidos, sendo 29 aminoácidos pertencentes a região pré-C e os demais ao gene C. O produto é enviado para o reticulo endoplasmático rugoso onde é processado através da clivagem nas suas extremidades, o que resulta na formação do HBeAg com 159 aminoácidos. O HBeAg é então secretado na circulação sanguínea, sendo um indicador de replicação viral (GARCIA et al, 1988; NASSAL & RIEGER, 1993). O códon de iniciação do HBcAg está localizado a 87 nucleotídeos após o sítio de iniciação da região pré-C. O polipeptídio do core possui 185 aminoácidos. O nucleocapsídeo viral é formado por 180 monômeros desta proteína que espontaneamente se agrupam para formar uma partícula icosaédrica (NASSAL & SCHALLER, 1996). O HBcAg é ainda capaz de induzir a produção de anticorpos (anti-HBc) independentemente de células T, tanto na infecção natural pelo HBV quanto em animais imunizados (MILICH & MCLACHLAM, 1986). Diversas mutações na região pré-C/C tem sido descritas por vários autores (CARMAN et al, 1989; FIORDALISI et al, 1990; MARUYAMA et al, 2000; DE CASTRO et al, 2001). Uma das mutações mais freqüentes é a troca de uma guanina no nucleotídeo 1896 por uma adenina, alterando o códon 28 da proteína HBeAg, inicialmente UGG, em um códon de terminação (UAG) para a tradução protéica. Com isso, não ocorre a expressão do HBeAg. Os genótipos B, C, D e E apresentam uma uracila nesta posição, explicando assim, a alta prevalência de mutantes A1896 na Ásia e no Mediterrâneo onde os três primeiros genótipos são encontrados. A infecção pelo HBV mutante na região do pré-core, incapaz de secretar HBeAg, tem sido associada com hepatite fulminante (SATO et al, 1995), hepatite crônica severa (BRUNETTO et al, 1989) e também já foi descrita em pacientes assintomáticos (OKAMOTO et al, 1990). O GENE P O gene P cobre aproximadamente três quartos do genoma e codifica uma enzima com atividade de DNA polimerase transcripatse reversa e RNAse H. Existem quatro domínios na polimerase viral: o domínio aminoterminal, que atua como proteína terminal ou primase, o qual é necessário para o inicio da síntese da fita de DNA de polaridade negativa; uma região conhecida como espaçadora que aparentemente não possui nenhuma função em particular; o domínio de transcriptase reversa e o domínio C-terminal que possui uma atividade de RNAse H. Existe uma homologia entre a polimerase viral e outras transcriptases reversas, em particular essas enzimas compartilham o motivo YMDD (Tyr-Met-Asp-Asp), que é essencial para a atividade de transcrição reversa (TOH et al, 1983). O GENE X O gene X é o menor e codifica um peptídeo com aproximadamente 154 aminoácidos que somente pode ser detectado nos hepatócitos infectados. A seqüência do gene X é conservada entre os hepadnavirus que infectam mamíferos, mas está ausente nos vírus que infectam as aves. A função 57 58 exata desta proteína na infecção pelo HBV ainda não foi completamente definida, mas acredita-se que este gene não seja necessário para a encapsidação e replicação viral (FEITELSON & DUAN, 1997). O gene X é um gene regulador que pode ativar a transcrição de certos genes virais e celulares (HENKLER & KOSHY, 1996). REPLICAÇÃO DO HBV Os mecanismos e os primeiros eventos de adesão e entrada nos hepatócitos ainda não estão bem estabelecidos. Sabe-se que vários receptores estão envolvidos nesse processo. Uma vez no citoplasma, o nucleocapsídeo é transportado para o núcleo, aonde o genoma viral é liberado. O DNA viral de fita dupla parcial é convertido em um DNA circular de fita dupla covalentemente fe- chado (cccDNA) através da atuação da DNA polimerase (BOCK et al, 1994). O cccDNA é responsável pela perpetuação da infecção pelo HBV, uma vez que essas moléculas servirão de moldes transcricionais para a produção de RNA pré-genômico, o qual é essencial para a replicação viral e alguns RNA mensageiros (RNAm) que serão necessários para tradução de proteínas virais. Todo RNA viral é transportado para o citoplasma, onde sua tradução resultará no envelope viral, core, proteínas da polimerase assim como os polipeptídeos X e pré-core. Em seguida, os nucleocapsídeos são reunidos no citoplasma e, durante esse processo, uma única molécula de RNA genômico é incorporada na montagem do core viral. Uma vez que o RNA viral é encapsidado, a transcrição reversa é iniciada. A síntese da dupla fita do DNA viral é sequencial. A primeira fita é feita a partir do molde de RNA encapsidado. Durante ou após a síntese dessa fita, o RNA é degradado e a síntese da segunda fita é iniciada, utilizando-se a primeira fita recém sintetizada como molde. Alguns nucleocapsídeos, contendo o genoma maduro, são transportados de volta para o núcleo, onde seus DNAs genômicos podem ser convertidos em cccDNA para manter um estoque intranuclear estável de moldes transcricionais. A maioria, entretanto, passa pelo retículo endoplasmático rugoso para adquirir o envelope lipoproteico viral. Com o envelope formado pelas proteínas de superfície L, M e S, os vírions presentes nas vesículas do retículo endoplasmático rugoso são secretados (POLLACK & GANEM, 1993; PAPATHEODORIDIS et al, 2002; GANEM & PRINCE, 2004). 59 60 Tabela 1. Principais características dos vírus que causam Hepatite Fonte: Ministério da Saúde SUBTIPOS DO HBSAg Quatro determinantes antigênicos foram distinguidos baseados em diferenças nas partículas formadas pelo HBsAg small, são eles: d/y e w/r. A diferença entre eles é gerada pela substituição de amoniácidos nas posições 122 e 160, respectivamente (OKAMOTO et al, 1987a). Todos os subtipos descritos possuem em comum o determinante “a” e de acordo com COUROUCÉ e colaboradores (1976), existem oito serotipos: adr, ayr, ayw1, ayw2, ayw3, ayw4, adw2 e adw4. Pelo uso do determinante q+/q-, nove subtipos do HBsAg puderam ser descritos. GENÓTIPOS DO HBV OKAMOTO e colaboradores (1988) sugeriram que os subtipos poderiam ser um tipo de classificação das diferentes linhagens do HBV dentro de subtipos genéticos. Os genótipos do HBV divergem em 8% da seqüência nucleotídica do genoma completo. Não há uma correlação direta entre os genótipos e subtipos, pois alguns subtipos podem ser encontrados em mais de um genótipo diferente. Atualmente o HBV possui oito genótipos bem caracterizados (A-H) e dois em estudos (I e J) (SUNBUL, 2014). Os genótipos do HBV apresentam uma distribuição geográfica característica nas diferentes regiões do mundo. No Brasil, os genótipos mais encontrados são os A, D e F (BOTTECCHIA et al, 2008a). MUTAÇÕES NO GENOMA DO HBV 61 62 A substituição de nucleotídeos pode ter importantes conseqüências na patogênese, na imunoprofilaxia, na resistência aos fármacos e na persistência vírica (NORDER et al, 1992). A taxa de mutação do HBV foi estimada ser entre 1,4 e 3,2 x 10-5 substituições/sitio/ano. Esta taxa de mutação é mais alta do que a que normalmente acontece nos vírus de DNA e é mais próxima a certos vírus de RNA (OKAMOTO et al, 1987b). A taxa de substituições in vivo depende de vários fatores. Alguns deles são relativos ao HBV (genoma compacto e replicação por transcrição reversa), alguns ao seu hospedeiro (resposta imune) e outros aos tratamentos antivirais (KIDD-LJUNGGREN et al, 2002). TRANSMISSÃO O HBV é principalmente encontrado no sangue de indivíduos infectados. A carga viral pode ser maior que dez bilhões de vírions/mililitro de sangue em portadores com sorologia positiva para o HBeAg. Além disso, o HBV pode ser detectado em outros fluidos corporais, como na urina, saliva, fluido nasofaringeano, sêmen e fluido menstrual (ALTER et al, 1977; DAVISON et al, 1987). A transmissão do HBV ocorre pela exposição vertical, através da relação sexual, pela exposição ao sangue ou derivados, pelo transplante de órgão ou tecidos e através de seringas compartilhadas pelos usuários de drogas intravenosas (BEASLEY & HWANG, 1987). QUADRO CLÍNICO A hepatite B pode variar desde uma doença aguda autoli- mitada, até uma forma grave como a hepatite fulminante. Pode, ainda, apresentar um curso crônico com evolução para cirrose hepática ou, como acontece com os portadores sadios, cursará como patologia com baixíssima ou mesmo nenhuma agressão ao hepatócito. Cerca de 90-95% dos pacientes adultos infectados evoluem para a cura, e menos de 1% dos indivíduos desenvolvem uma hepatite fulminante. Entretanto, crianças infectadas através de transmissão vertical, apresentam mais de 90% de chance de se tornarem portadores crônicos (ALBERTI et al, 1983). O período de incubação da hepatite B é de 50-180 dias, com média de 75 dias. Após este tempo inicia-se o chamado período prodrômico (pre-ictérico), que dura vários dias e se caracteriza pelo aparecimento de fraqueza, anorexia e mal-estar geral. Nesta fase, os doentes podem sentir dores abdominais difusas, náuseas, intolerância a vários alimentos, desconforto abdominal e vômitos. O aparecimento de icterícia, com colúria e hipocolia fecal (período ictérico), ocorre em somente 20% dos doentes, sendo a hepatite B uma doença assintomática no restante dos casos. Quando aparece a icterícia, os sintomas gerais, como febre e mialgias, diminuem de intensidade. Neste momento se elevarão os níveis séricos das bilirrubinas, principalmente da fração direta. As transaminases estarão muito elevadas no soro, expressando a ocorrência de lesões hepatocíticas. Este quadro ictérico costuma durar cerca de 20 dias ou mais, e pode, às vezes, provocar pruridos cutâneos. O período de convalescência dura, em media, de 63 20 a 30 dias (MCINTYRE, 1990). 64 PREVENÇÃO E TRATAMENTO A prevenção da hepatite B visa reduzir os casos de hepatite, tanto aguda quanto crônica e, conseqüentemente, as complicações desencadeadas pelo agravamento desta infecção. Estes fatores dependem da seleção e controle de doadores de sangue, sêmen, tecidos e da educação da população em relação às formas de transmissão, através de programas de conscientização e treinamento de profissionais de saúde. O modo mais eficaz de prevenir a hepatite B e através das vacinas, incluindo programas de vacinação que englobam crianças e adolescentes em todo mundo, além de adultos que constituam uma população sob especial risco para esta infecção (HOLLINGER & LIANG, 2001). No Brasil, a vacina contra hepatite B foi implementada em 1992. A mesma faz parte do calendário infantil de imunizações do Ministério da Saúde e está disponibilizada nos postos de saúde para pessoas até 37 anos e a indivíduos sob especial risco em qualquer faixa etária. Os objetivos do tratamento de pacientes infectados pelo HBV são: reduzir o nível de viremia e a melhora da disfunção hepática. Atualmente existem dois tipos de tratamento para a infecção pelo HBV: interferon e os antivirais. Pelo fato do HBV não codificar sua própria protease ou integrase (como no HIV) e que o seu mecanismo primário é precariamente entendido, a polimerase viral torna-se o alvo mais importante no desenvolvimento de terapias anti-HBV. A polimerase do HBV é essencial para a replicação viral e o bloqueio de sua atividade irá interromper a replicação viral completamente (LEE et al, 2002). Interferon Por muitos anos, a administração do Interferon α (IFNα) foi o principal instrumento da terapia. Cerca de 30% dos pacientes que toleraram esse regime tiveram a perda do HBeAg, o desenvolvimento de anticorpos anti-HBe e o declínio dos níveis séricos das enzimas hepáticas. Com a soroconversão para anti-HBe e a normalização dos níveis de ALT a melhora é bem sucedida depois que a terapia é descontinuada (WONG et al, 1993). No entanto, os efeitos colaterais causados pelo tratamento com IFN- α (febre, mialgias, trombocitopenia e depressão) o torna difícil para muitos pacientes. Além do mais, em muitos pacientes ocorre uma lesão hepática aguda durante o uso do medicamento, freqüentemente, um pouco antes ou durante a diminuição do HBeAg (GANEM & PRINCE, 2004). 65 Análogos de Nucleosídeos/ Nucleotídeos Na década de 90, a terapia contra o HBV teve um grande impacto pelo sucesso das drogas que bloqueiam diretamente a replicação viral. Todas as drogas desenvolvidas até o momento são análogos de nucleotídeo/nucleosídeo que atu- am na transciptase reversa viral. 66 Lamivudina A lamivudina (3TC) foi o primeiro análogo de nucleotídeo com eficácia contra o HBV, sendo muito utilizada também contra a infecção causada pelo HIV. Essa droga pode inibir a atividade RNA e DNA dependente da DNA polimerase do HBV (BESSESEN et al, 1999). Atualmente a emergência da resistência a lamivudina já e bem reconhecida, sendo elas: rtV173L, rtL180M e rtM204V/I (BOTTECCHIA et al. 2007). BENHAMOU e colaboradores (1999) encontraram ruptura de viremia relacionada aos “mutantes que escapam” no motivo YMDD em 53% dos pacientes após dois anos de tratamento. Esse estudo indica que esses tipos de mutantes irão ocorrer eventu- almente na maioria dos pacientes durante a monoterapia com lamivudina e que a emergência da resistência é acelerada pelos altos níveis de replicação viral. Adefovir Demonstrou boa eficácia contra HBV em pacientes HBeAg positivos, com uma redução média dos níveis séricos do HBV DNA. A freqüência de soroconversão para HBeAg é intensa e há uma melhora histológica no fígado (MARCELLIN et al, 2003). A eficiência de inibição de replicação não só dos mutantes do HBV resistentes a lamivudina in vitro e in vivo é boa. Foram identificadas cepas mutantes, entretanto, a taxa de desenvolvimento de resistência é baixa. Após um tratamento prolongado, a mutação rtN236T foi isolada (ANGUS et al, 2003). Em pacientes infectados com o genótipo A2 do HBV e que possuem o polimorfismo na posição rtL217R, a eficácia do adefovir é diminuída Adefovir possui uma atividade de resgate em pacientes previamente tratados com lamivudina e que possuem mutações de resistência a lamivudina (BOTTECCHIA et al, 2008b). Entecavir Entecavir é um análogo de nucleotídeo deoxyguanina, que inibe a replicação do HBV de 651.600 vezes a mais que a lamivudina (LEVINE et al, 2002). As mutações de resistência ao entecavir só se desenvolvem em cepas que contenham mutações pré-existentes de resistência a lamivudina. As mutações relacionadas ao entecavir são divididas em dois grupos: I) rtV173L+rtL180M+rtM204V que selecionam as mutações rtM250V+rtI169T e II) rtL180M+rtM204V que selecionam as mutações rtrtT184+rtS202, as quais foram observadas em pacientes que passaram a utilizar o entecavir como droga de resgate (XU & CHEN, 2006). Sendo assim, o entecavir é uma boa opção apenas para pacientes nunca tratados. Tenofovir Possui uma atuação similar tanto em pacientes co-infectados (HBV/HIV) quanto em pacientes mono infectados pelo HBV. O tratamento com tenofovir leva a uma diminuição da carga viral em 4-6 log, e de 30-100% dos pacientes tiveram o HBV DNA indetectável por PCR a partir da 24a semana de tratamento (WONG & LOK, 2006). AMINI-BAVIL-OLYAEE e colaboradores (2009) descreveram que a mutação rtA194T causa re- 67 68 sistência ao tenofovir. Essa mutação é difícil de ser selecionada, fazendo com que o tenofovir demonstre excelentes resultados no tratamento da hepatite B crônica e seja o medicamente de primeira escolha para tratar pacientes previamente tratados ou não. VACINAÇÃO A vacina para hepatite B é composta principalmente pela proteína S do envelope viral e tem mostrado eficácia, segurança e proteção a todos os subtipos conhecidos do HBV. A primeira vacina foi licenciada no inicio da década de 80 e era produzida a partir de plasma humano de portadores crônicos do HBsAg (SZMUNESS et al, 1980). A possibilidade de transmissão de outros agentes infecciosos também transportados pelo sangue motivou o desenvolvimento da vacina recombinante que, produzida a partir da técnica de DNA recombinante para a expressão do HBsAg em leveduras, tem demonstrado uma boa imunogenicidade contra o HBV. O esquema vacinal indicado é de três doses nos meses 0, 1 e 6 via intramuscular. A detecção de títulos de anticorpos anti-HBs ≥10UI/L, aparecendo de um a dois meses após a última dose, confere imunidade contra o HBV. Predisposição genética, indivíduos do sexo masculino, tabagismo, obesidade, idade superior a 40 anos, tratamento hemodialítico, infecções pelo HIV e HCV são alguns dos fatores que tem sido atribuído a uma não-resposta vacinal (ASSAD & FRANCIS, 2000). 69 70 CAPÍTULO 3 HEPATITE C ESTRUTURA VIRAL Na década de 70, com o desenvolvimento dos testes sorológicos para a detecção de marcadores da infecção pelos vírus das hepatites A e B (HAV e HBV), foram observados vários casos de hepatite por transmissão sanguínea que não eram causadas pelo HAV e HBV (FEINSTONE et al, 1975) e, assim estabeleceu-se o conceito de hepatite não-A, não-B (NANB). Foi observado que pelo menos 10% das transfusões sanguíneas resultavam em hepatite NANB (AACH et al, 1991), causando dano hepático persistente e evoluindo em pelo menos 20% dos casos para cirrose hepática nas infecções crônicas. Além disso, uma parcela dos casos ocorria esporadicamente na comunidade e não estava associada necessariamente à transfusão sanguí- nea e à recepção de derivados do sangue (ALTER et al, 1982). Em 1989, o principal agente etiológico das hepatites NANB foi descrito por Choo e colaboradores (1989) a partir do isolamento de vários clones de cDNA por meio de hibridações que se justapunham, utilizando estudos de clonagem e sequenciamento genético. Este agente foi definido como o vírus da hepatite C (HCV) e classificado dentro do gênero Hepacivirus, na família Flaviviridae (CHOO et al, 1991; SIMMONDS, 2004). A partícula viral tem diâmetro aproximado de 70nm (HE et al, 1987; SIMMONDS, 2004), estrutura tridimensional análoga à dos Flavivírus e simetria icosaédrica, com espículas de 6-8 nm em sua superfície (PRINCE et al, 1996). As partículas virais apre- 71 72 sentam elevada heterogeneidade bioquímica pela sua associação com anticorpos ou lipoproteínas (ROINGEARD et al, 2004). Os vírions podem circular na corrente sanguínea complexados às lipoproteínas de baixa densidade, às imunoglobulinas, ou como partículas livres (LINDENBACH, 2013). GENOMA VIRAL O HCV possui estrutura genômica composta por uma fita simples de RNA de polaridade positiva com aproximadamente 9.400 nucleotídeos (CHOO et al, 1991; LI et al, 1995). A análise estrutural do vírus revelou que o material genético é envolto por um nucleocapsideo, composto principalmente por proteínas do core, e ainda protegido por um envelope lipídico (RO- SENBERG et al, 2001). O envelope lipídico contém duas glicoproteínas principais incorporadas a sua estrutura, proteína do envelope 1 (E1) e 2 (E2) (DRUMMER et al., 2004; VIEYRES et al, 2014). O genoma é constituído por uma única fase de leitura aberta (ORF – open reading frame), que codifica uma poliproteína de cerca de 3000 aminoácidos (3010 – 3033 aa) e durante e após a tradução, sofre uma série de clivagens por proteases virais e do hospedeiro produzindo proteínas estruturais (E1, E2 e core) e não estruturais (p7, NS2, NS3, NS4A, NS4B, NS5A e NS5B) (CHOO et al,1991) (Figura 1). Além disso, é flanqueado por duas regiões não traduzidas (RNT): a extremidade 5’, que é a mais conservada do genoma viral e contém o sitio interno de entrada ribossomal (IRES – internal ribossome entry site) e a extremidade 3’ que apresenta a cauda poli-U, critica no início da replicação viral (CHOO et al, 1991). A poliproteína precursora é clivada em diversas proteínas individuais mediante a ação de proteases virais e celulares. O segmento amino terminal da fase de leitura aberta é processado pela peptidase sinal do hospedeiro para então produzir a proteína do nucleocapsídeo (core), duas glicoproteínas do envelope (E1 e E2), representando 25% do genoma localizado na porção aminoterminal. Os 75% restantes codifica as proteínas não estruturais p7, NS2, NS3, NS4A, NS4B, NS5A e NS5B as quais sofrem ação das proteases virais (LOHMANN, 2013). Figura 6. Genoma e Poliproteína do HCV Fonte: Adaptado de LYRA at al., 2004 73 74 As proteínas estruturais são representadas pelo core e envelope. A proteína do core é composta por 191 aa (peso molecular ~21 kDa) constituintes do capsídeo viral que associam-se, provavelmente, pela porção N-terminal ao RNA genômico para formar o nucleocapsídeo (DRAZAN, 2000). É o primeiro domínio expresso durante a síntese da poliproteína. Não é glicosilada e comparada a outras proteínas do HCV, é a mais conservada. Resultados de analises de sequencias obtidas de diversas cepas demonstraram homologia de 81% a 88% em sequencias nucleotídicas e 96% em sequencias de aminoácidos (SIMMONDS et al, 1994; DAVIS et al, 1999). A proteína madura é constituída por uma região de ligação RNA-terminal (Domínio I, ~120 aminoácidos) e uma região C-terminal de ligação a membrana (Domínio II, ~50 aminoácidos). As proteínas do core formam homodímeros e multímeros que são estabilizados por ligações intermoleculares de dissulfeto (KUSHIMA et al, 2010) sendo capaz de se agrupar espontaneamente para formar o capsídeo viral e interagir com as glicoproteínas do envelope E1 e E2 (FORNS et al, 1999). Em sua região C-terminal há uma sequência de 20 aa com função de sinalização que direciona a glicoproteína E1 ao retículo endoplasmático granular (FORNS et al, 1999). As glicoproteínas do envelope viral E1 (35 kDa) e E2 (70 kDa) são as principais proteínas estruturais expressas na superfície das partículas virais do HCV, são produzidas a par- tir de clivagem enzimática e estão envolvidas nos processos de interação com o receptor e fusão celular (GRAKOUI et al, 1993; TAKIKAWA et al, 2000). Em termos antigênicos, a proteína E2 apresenta uma região hipervariável (HVR1) que pode induzir a produção de anticorpos neutralizantes, funcionando como um mecanismo de escape, evadindo desta forma da resposta imune do hospedeiro (BUKH et al, 1995; PENIN et al, 2004; LYRA et al, 2004). A HVR1 desempenha papel importante na evolução da infecção pelo HCV. Os casos de resolução na fase aguda apresentam menor variabilidade (nas sequências de E2) dentro de um mesmo paciente em relação àqueles casos que evoluem para hepatite crônica (CHEN & WANG, 2007). Além disso, a proteína E2 apresenta um sítio de ligação para CD81, que é uma proteína de membrana (26 kDa), encontrada em diversas células, incluindo hepatócitos, células do sistema imune, fibroblastos e células endoteliais e, podem participar do processo de penetração do HCV nessas células. Além da interação das proteínas E2 com CD81 para penetração nos hepatócitos, o HCV ainda utiliza o receptor de lipoproteína de baixa densidade (LDL-R) (CHEN & WANG, 2007). A ligação com LDL-R e SRB1 leva a mudanças conformacionais na partícula viral permitindo o envolvimento de outros co-receptores de membrana do hepatócito (CD 81, claudina-1 e ocludina) (JAHAN et al, 2011). As proteínas E1 e E2 ainda são os principais alvos para produção 75 76 de vacinas e têm sido bastante estudadas quanto à sua variabilidade, sendo a proteína E1 também utilizada em propósitos clínicos de diagnostico em testes de genotipagem (CHEN & WANG, 2007). A proteína p7 é um polipeptídeo de 63 aa que é parcialmente clivado a partir de E2. É composto por um pequeno fragmento hidrofóbico (hexâmeros) que tem atividade de canal iônico e pode ter um importante papel na maturação e liberação da partícula viral (SAKAI et al, 2003; ROINGEARD et al, 2004; AWEYA et al, 2013). Inicialmente, a proteína p7 é necessária para a montagem do vírus por meio da interação com NS2 (JIRASKO et al, 2010; BOSON et al, 2011; MA et al, 2011; POPESCU et al, 2011; STAPLEFORD & LINDENBACH, 2011; TEDBURY et al, 2011). Seu segun- do papel importante envolve sua capacidade de oligomerizar e formar canais iônicos hexaméricos e heptaméricos específicos para cátions (MONTSERRET et al, 2010). Dessa forma, a proteína p7 é capaz de equilibrar o pH dentro dos compartimentos secretórios e endolisossomais das células produtoras de vírus (WOZNIAK et al, 2010). Foi observado que na ausência desta proteína, as partículas virais não foram produzidas, sugerindo fortemente que sua atividade de canal iônico (atuação como viroporina) protege as partículas virais da exposição prematura ao baixo pH durante a maturação e saída do vírus (WOZNIAK et al, 2010). A proteína NS2 é uma proteína não-estrutural zinco-dependente de 23 kDa que contém três domínios aminoterminais transmembrana e um domínio cisteína protease carboxiterminal (JIRASKO et al, 2010). É a primeira protease viral ativada pelo polipeptídeo e responsável pela clivagem (ação cis) da junção NS2/NS3 (NS2/NS3 protease) e pela maturação das proteínas não estruturais restantes (DUMOULIN et al, 2003). Sabe-se também, que a atividade de protease da NS2 é fundamental para que ocorra a replicação completa do HCV in vivo, entretanto a mesma é dispensável para replicação do vírus in vitro (ROINGEARD et al, 2004, JIRASKO et al, 2008). A proteína NS3 (serina protease específica) é uma proteína não-estrutural hidrofílica de aproximadamente 70 kDa. Apresenta atividade serina-protease (NS3/4A) na região N-terminal, porém para que a clivagem (ação trans) da poliproteína seja eficiente, é necessária a presença do cofator NS4A, principalmente no sítio NS4B/NS5A (BRASS et al, 2006). Além disso, apresenta atividade de helicase (RNA-helicase/ NTPase) na extremidade C-terminal com função de separar o RNA de cadeia dupla o que é essencial para a replicação do RNA (DE FRANCESCO et al, 2000; RANEY et al, 2010; SALAM et al, 2014). A proteína NS4A é composta por aproximadamente 54 aa (8 kDa) e funciona como cofator para serina protease NS3 e é também incorporada como componente integral do core (ROINGEARD et al, 2004). A proteína NS4B (p27) (23 kDa), por sua vez, é a proteína viral do HCV menos caracterizada, porém, alguns estudos sugeriram que ela seja responsável por induzir a 77 78 alterações nas membranas celulares denominada “teia membranosa” (ROINGEARD et al, 2004). A proteína NS5A é uma fosfoproteína de ligação ao RNA que apresenta três domínios e desempenha papel essencial na montagem da partícula viral em grande parte por seu domínio III (TELLINGHUISEN et al, 2008; KIM et al, 2011). A montagem de partículas virais requer o recrutamento de NS5A pelas gotas lipídicas, onde interage com proteínas do core (MASAKI et al. 2008), apolipoproteína (apo) E e anexina A2 (BENGA et al, 2010; CUN et al, 2010; BACKES et ai, 2010). A região NS5B possui uma sequência semi conservada que codifica uma RNA-polimerase dependente de RNA. Essa enzima não apresenta mecanismos de reparo, o que acar- reta uma elevada porcentagem de erros devido a incorporação de nucleotídeos durante a replicação do RNA, o que torna o genoma viral susceptível a inúmeras substituições de nucleotídeos (FORNS & BUKH, 1999). Os sítios para a atividade da proteína NS5B possuem especial afinidade de ligação com segmentos de poli U, como aquele presente na extremidade da região 3’ NC do HCV. A existência de um elemento de replicação cis no seu domínio C-terminal, em conjunto com a região 3’NC, garante a iniciação da replicação do genoma completo a partir da região 3’NC (YOU et al, 2004). REPLICAÇÃO VIRAL A replicação do HCV, mesmo com os avanços no desenvolvimento de cultivos celulares, ainda está pouco esclarecida e o modelo aceito mais utilizado para estudo é aquele baseado na similaridade do ciclo dos vírus pertencentes à família Flaviviridae. O início da replicação ocorre na membrana do hepatócito com a adsorção da partícula viral. Acredita-se que o receptor de LDL e glicosaminoglicanas realizam a ligação celular inicial de baixa afinidade (BARTH et al, 2003), antes da interação das proteínas E1 e E2 com os receptores SR-BI (scavenger receptor class B type I) e CD81 (SCARSELLI et al, 2002). Fatores adicionais como o receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) e receptor de efrina A2 são importantes para a entrada do HCV, e possivelmente modulam a interação entre CD81 e CLDN1 (LUPBERGER et al, 2011). As moléculas claudi- na-1 (CLDN1) e ocludina (OCLN) também foram relacionadas a entrada do vírus (EVANS et al, 2007; PLOSS et al, 2009). Contudo, a associação entre virion e colesterol parece estar relacionada à fase tardia de entrada do HCV, durante ou antes da fusão, através da interação com o receptor de absorção do colesterol NPC1L1 (SAINZ et al, 2012). A adsorção do vírus ocorre por endocitose mediada por clatrina, enquanto a fusão requer o pH baixo encontrado nos endossomos (TSCHERNE et al, 2006). Após internalização e desnudamento, o genoma viral é exposto para assim iniciar a tradução e replicação. O RNA do HCV tem função de RNA mensageiro (RNAm), logo a tradução é iniciada a partir do reconhecimento do sitio interno de entrada ribosso- 79 80 mal (IRES) localizado na região 5’ NC. A poliproteína resultante é clivada por proteases celulares e virais (NS2/NS3 e NS3/NS4A), produzindo dez proteínas. Enquanto ocorre a tradução, a atividade de RNA-polimerase RNA - dependente (transcriptase) gera uma fita de RNA, de polaridade negativa, complementar ao RNA viral, que serve também de molde para que haja a síntese de novas fitas de RNA de polaridade positiva que servirão para a formação de novos vírus (PAWLOTSKY,2004;PENINetal,2004). A montagem do vírus é um processo associado a síntese de lipídios da célula (BARTENSCHLAGER et al, 2011). Após a clivagem, a proteína do core madura passa da membrana do RE para gotículas lipídicas citoplasmáticas (CLDS) com auxílio da molécula diacilglicerol aciltransferase-1 (DGAT1) (HERKER et al, 2010). A formação do nucleocapsídeo envolve a interação da proteína NS5A com a proteína do core. O direcionamento do RNA para os locais de montagem do nucleocapsídeo é coordenado através da interação entres as glicoproteínas NS2, p7, NS3 e NS5A e uma série de sinais são responsáveis pela translocação das proteínas de envelope E1 e E2 pelo RE (JIRASKO et al, 2010; POPESCU et al, 2011). Após termino da etapa de montagem, a partícula viral montada é então transportada, via complexo de golgi (CG), para ser exocitada da célula hospedeira (PAWLOTSKY, 2004). 81 Figura 7. Principais etapas de replicação do HCV Fonte: Adaptado de PAWLOTSKY & GISH, 2006 82 VARIABILIDADE GENÉTICA A replicação do HCV apresenta alta taxa de erros o que gera mutações em uma taxa de aproximadamente 10-5 por nucleotídeo por replicação, proporcionando uma elevada diversidade viral. As regiões 5´NC, core, região hipervariável 1 e NS5B são as regiões mais utilizadas para genotipagem do HCV (STUMPF & PYBUS, 2002). A partir do sequenciamento e analise filogenética da região NS5 do HCV foi possível classificar o vírus em genótipos (homologia de 65,7% a 68,9%) e subtipos (homologia de 76,9% a 80,1%). Atualmente existem 7 genótipos (1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7), sendo cada um subdividido em subtipos nomeados alfabeticamente, de acordo com a sua ordem de descoberta (SIMMONDS et al, 1994; MURPHY et al, 2007; SMITH et al, 2014). O genótipo 1 do HCV é o mais prevalente em todo mundo sendo responsável por 46% de todos os casos de infecção entre adultos, seguido pelo genótipo 3 (22%), 2 (13%), 4 (13%), 6 (2%), e 5 (1%). O subtipo 1b é o mais comum entre os subtipos (GOWER et al, 2014). A presença de um único genótipo com numerosos subtipos em uma região geográfica é um padrão sugestivo de um longo período endêmico de infecções. Por outro lado, a presença de mais de um genótipo do vírus, com cada um deles representado por apenas poucos subtipos pode indicar introdução recente destes isolados em áreas endêmicas (SMITH et al,1997; LAMPE et al, 2010). No Brasil, o genótipo 1 é o mais prevalente seguido do genótipo 3, e em menor propor- ção pelo genótipo 2; porém, já foram descritos os genótipos 4 e 5 em alguns estudos (CAMPIOTTO et al, 2005; RIBEIRO et al, 2009; PEREIRA et al, 2009; LAMPE et al, 2013; GOWER et al, 2014). A heterogeneidade genética do HCV faz com que este apresente quasispécies, que são vírus com genomas muito semelhantes, porém com homologia entre 90,8% a 99% nas sequências de nucleotídeos (UEDA et al, 2004). Esse fenômeno apresenta importante papel no curso da infecção pelo HCV, uma vez que a pressão imunológica seleciona variantes resistentes no hospedeiro (PLAUZOLLES et al, 2013). A elevada variabilidade genética do HCV apresenta implicações clínicas que incluem: I) patogenicidade da doença hepática, uma vez que a infecção pelo genótipo 1 ou presença de múltiplas quasispécies parece se correlacionar com a maior gravidade; II) influência na resposta antiviral, seja devido aos genótipos 1 e 4 ou presença de cepas com mutações de resistência (RAV- resistant-associated variants) (TONG et al, 2008). Recentemente, um estudo realizado na região Norte do Brasil demonstrou que pacientes com hepatite C crônica infectados pelo genótipo 1 apresentam maior atividade necroinflamatoria e grau de fibrose comparado aos pacientes com genótipo 3 do HCV (FECURY et al., 2014). Estudos realizados por sequenciamento direto de amostras de pacientes não tratados demonstraram presença de RAVs pré-existentes aos inibidores de 83 84 protease (substituições nas posições D168, Q80, R155, T54, V36 V55 e V170) (PERES-DA-SILVA et al., 2010). As mutações nas posições R155K e A156T da região NS3 estão associadas à elevada resistência aos inibidores de protease. (COURCAMBECK et al, 2006). Outro inibidor de protease avaliado foi o simeprevir, onde estudos in vivo e in vitro demonstraram mutações de resistência nas posições Q41R, V36M, F43S, T54S, Q80K/R/L, R155K, A156T/V, e D168N/ A/V/E/H/T (WU et al, 2013). Quanto a região NS5, a mutação S282T tem sido associada a resistência ao sofosbuvir (inibidor de polimerase) (LAM et al, 2012). No entanto, esta mutação não é encontrada com frequência em pacientes com HCV não tratados (KUNTZEN et al, 2008). Para a re- gião NS5A, o fármaco em processo mais avançado é o daclastavir, que apresentou mutações de resistência nas seguintes posições L31V, P32L, Q54L, Y93H, M28T, Q30H, Q30R, L31M, L31V, P32L e Y93C (GAO et al, 2010; LEMM et al, 2010; FRIDELL et al, 2010). A distribuição do perfil mutação é diferente entre as populações do mundo e vai se tornar bastante importante na elaboração de diretrizes regionais, que certamente terão suas particularidades de acordo com a distribuição e perfil de mutação de cada região, a fim de se obter uma eficácia máxima apesar da variabilidade genética e diferentes regimes de tratamento. TRANSMISSÃO A exposição parenteral é a forma mais eficiente de trans- missão do HCV. Com a inclusão dos testes de detecção de anticorpos anti-HCV em bancos de sangue, a transmissão do vírus diminui bastante em transfusões de sangue e derivados. Com isto, grande maioria das infecções por HCV está associada à utilização de drogas injetáveis e, por isso, a prevenção deste comportamento de risco irá eliminar grande parte das infecções. O uso de drogas intravenosas (DIV) é uma das principais formas de transmissão do HCV nos últimos 40 anos em países como os Estados Unidos e a Austrália, e atualmente este é o principal fator de risco em países desenvolvidos (ALTER, 2002; DORE et al, 2003; KLEVENS et al, 2012; HAGAN et al, 2013). Nesses países, o uso de DIV responde por cerca de 70% a 80% das contamina- ções pelo HCV ocorridas nos últimos 30 anos (ALTER, 2002; DORE et al, 2003; HAGAN et al, 2013; KLEVENS et al, 2012). Outras formas de infecção pelo HCV incluem os procedimentos médicos e exposição nosocomial, transplante de órgãos, exposição ocupacional, transmissão vertical e sexual (KLEVENS et al, 2012). Procedimentos com equipamentos ou seringas contaminadas se apresentam como uma forma possível de transmissão. Estima-se que aproximadamente 2 milhões de indivíduos se infectem por esta via. Em países subdesenvolvidos, muitas vezes ocorre a reutilização de material ou ausência de esterilização. Além disso, muitas terapias são realizadas em ambiente doméstico por indivíduos não habili- 85 86 tados o que aumenta significativamente o risco de infecção pelo HCV (HAURI et al, 2004). Acredita-se que entre os anos de 1960 e 1991, antes da introdução dos testes sorológicos nos bancos de sangue, 5% a 15% dos receptores de hemoderivados infectaram-se com HCV e, atualmente, após a adoção dos testes de rastreamento, o risco de infecção por transfusão sanguínea está em torno de 0,001% por unidade de sangue transfundida. A prevalência do anti-HCV em doadores de órgãos, varia de 4,2% a 5,1% dependendo do teste realizado. Receptores de órgãos sólidos de doadores anti-HCV positivos apresentam elevadas taxas de soroconversão. Em estudo realizado com transplantados renais, 35% dos receptores de doadores com anti-HCV reagente desenvolveram doença hepática no pós-transplante, e 74% apresentaram evidências de viremia. Apesar desses dados, as evidências ainda são limitadas e são necessários novos estudos para avaliar o impacto do transplante de órgãos na prevalência do HCV (MARTINS et al, 2011). Quanto aos acidentes ocupacionais, os acidentes perfurocortantes são uma forma bem documentada de transmissão do HCV, apresenta taxas de soroconversão após uma única exposição percutânea com objeto sabidamente contaminado variando entre 3% e 10% (MITSUI et al, 1992; SARRAZIN et al, 2010; MARTINS et al, 2011). A transmissão vertical apresenta taxas variando entre 0% a 20%, com média em torno de 5% na maioria dos estudos (TALER et al,1991, MARTINS et al, 2011). Por fim, o papel da transmissão sexual ainda não foi bem estabelecido (SY & JAMAL 2006), constituindo este um fato controverso na epidemiologia da hepatite C devido à divergência entre resultados (KLEVENS et al, 2012). A maioria dos trabalhos afirma que as chances de transmissão são baixas ou quase nulas e as porcentagens oscilam entre 0% e 3% (ALTER et al, 1989; KLEVENS et al, 2012). PATOGÊNESE Apesar do HCV apresentar baixa infectividade e lenta taxa de replicação, 80 a 85% dos pacientes desenvolvem infecção assintomática persistente, que pode progredir para cirrose e carcinoma hepatocelular (MAASOUMY et al, 2012; HAJARIZADEH et al, 2013). Depois da inoculação do HCV, o período de incubação é variável. O RNA do HCV no sangue (ou fígado) pode ser detectado por PCR dentro de vários dias a oito semanas. Os níveis de aminotransferases começam a se elevar aproximadamente 6 a 12 semanas depois da exposição (de 1 a 26 semanas) e esta elevação varia consideravelmente entre os indivíduos, mas tende a ser mais de 10-30 vezes superior ao limite normal (que é em torno de 800U/L). Os anticorpos anti-HCV são encontrados no soro por ensaio imunoenzimático em 8 semanas depois da exposição, porém podem ser detectados por meses em alguns casos (FORMAN & VALSAMAKIS, 2011; GUPTA et al, 2014). Baixos níveis de anticorpos anti-HCV durante a fase aguda da doença da infec- 87 88 ção são associados com resolução espontânea da infecção (LEWIS-XIMENEZ et al., 2010). A maioria dos novos casos será assintomática e com um curso clinicamente não aparente ou moderado. A icterícia ocorre em menos de 25% dos pacientes com hepatite C aguda e não será notada na maioria dos pacientes (VOGEL et al, 2009). Outros sintomas que podem ocorrer são: náusea, dor no quadrante superior direito e fadiga. Em pacientes que apresentam sintomas de hepatite aguda, a doença tem duração de 2 a 12 semanas. Com a resolução dos sintomas, os níveis de aminotransferases normalizam em cerca de 40% dos pacientes e a perda de HCV RNA indicando cura ocorre em menos de 20% dos casos independente da normalização das aminotransferases. A hepatite fulminante devido a hepatite C é rara (FORMAN & VALSAMAKIS, 2011; GUPTA et al, 2014). Nos indivíduos com infecção aguda não resolvida, 70-80%, evoluem para a forma crônica, onde o vírus replica-se persistentemente e é possível detectar o RNA viral no soro ou tecido hepático, na presença de resposta imune (BLACKARD et al. 2008). A hepatite C crônica é definida pela presença do RNA do HCV por mais de 6 meses e nestes casos a taxa de resolução espontânea é baixa. A diversidade genética do HCV e sua alta taxa de mutação podem estar associadas ao escape do reconhecimento imune. Por outro lado, fatores do hospedeiro podem estar associados a resolução espontânea do HCV, entre eles: a resposta de linfócito TCD4 especifica para HCV, altas taxas de anticorpos neutralizantes contra proteínas estruturais do HCV, o polimorfismo do gene da IL28B e alelos específicos HLA-DRB1 e DQB1 (LAUER et al, 2001; THOMAS et al, 2009; RAUCH et al, 2010). A maioria dos pacientes com hepatite C crônica é assintomática ou apresentam sintomas não específicos leves (KLEVENS et al, 2012; MAASOUMY et al, 2012; HAJARIZADEH et al, 2013). O sintoma mais frequente é fadiga e os menos frequentes são náusea, fraqueza, mialgia, artralgia e perda de peso. Os níveis de aminotransferases podem variar consideravelmente durante o curso natural de infecção crônica. Cerca de um terço dos pacientes tem níveis normais de ALT (MARTINOT-PEIGNOUX et al, 2001, PUOTI et al, 2002). Cerca de 25% dos pacientes tem concentração sérica de ALT entre 2 a 5 vezes acima do limite superior normal. Há pouca correlação entre as concentrações de aminotransferases e histologia hepática, pois até mesmo pacientes com níveis normais de ALT demonstram evidencia histológica de inflamação crônica na maioria dos casos (MATHURIN et al, 1998). Dos indivíduos cronicamente infectados, aproximadamente 15 a 20% desenvolvem cirrose num período de 10 a 30 anos e, por ano, 1-5% destes doentes desenvolve hepatocarcinoma (HCC) (KLEVENS et al, 2012; MAASOUMY et al, 2012; HAJARIZADEH et al, 2013). Cerca de 30 a 40% dos pacientes com hepatite crônica apresentam manifestações extra-hepáticas entre elas: manifestações hematológicas (crioglobulinemia mista e linfoma), doenças 89 autoimunes (tireoidite, presença de vários autoanticorpos), doença renal (glomerulonefrite membranoproliferativa), doenças dermatológicas (porfiria cutânea tardia e lichen planus) e diabetes mellitus (ZIGNEGO & CRAXI, 2008). 90 EPIDEMIOLOGIA A ferramenta mais utilizada para estimar a prevalência da hepatite C são estudos de soroprevalência realizados em doadores de sangue (DE ALMEIDA-NETO et al, 2013; NISHIYA et al, 2014), usuários de drogas (OLIVEIRA-FILHO et al, 2014; SANTOS CRUZ et al, 2013) e pacientes submetidos à hemodiálise (FREITAS et al, 2013; BOTELHO et al, 2008). No entanto, por se tratar de populações com características específicas (grupos de risco para hepatite C), estes estudos podem não representar a prevalência real da infecção pelo HCV. Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) demonstram que 130 a 170 milhões estão infectados pelo HCV o que significa uma prevalência de 2,2 a 3% sobre a população mundial (WHO, 2014). A cada ano, mais de 350000 pessoas morrem de doenças no fígado relacionadas com a hepatite C (WHO, 2014). A prevalência global do HCV é igual a 1,6% correspondendo a 115 milhões de infecções, e a prevalência de viremia é igual a 1.1% correspondendo a 80 milhões de casos (GOWER et al, 2014). Embora o HCV tenha distribuição mundial, existe um elevado grau de variação geográfica em sua prevalência (GOWER et al, 2014). A prevalência de anti-HCV é alta na Ásia Central (5,4%), Leste Euro- peu (3,3%), Meio Oeste da região Norte da África (3,1%) e regiões Central e Oeste da África Subsaariana (4,2 e 5,3%, respectivamente). Prevalências intermediárias são encontradas no sul da África Subsaariana (1,3%), Europa Central (1,3%), Austrália (1,4%), America Latina (1-1,25). Baixas prevalências são observadas na Oceania (0,1%), Caribe (0,8%) e Oeste Europeu (0,9%) (GOWER et al, 2014). Os países com as taxas mais altas de infecção crônica são: Egito (22%), Paquistão (4,8%) e China (3,2%) sendo o principal modo de transmissão nesses países atribuído às injeções usando seringas contaminadas (WASLEY & ALTER 2000; WHO 2014). Estima-se que o número de pacientes HCV RNA positivos seja de 80 a 90% dos indivíduos com positividade para anti-HCV. Alguns grupos são mais afetados: usuários de drogas, hemodialisados, pessoas que receberam transfusão antes de 1991. Na Europa e nos Estados Unidos, a hepatite C crônica é a causa mais comum de doença crônica de fígado e a maioria dos transplantes de fígado são para os casos de hepatite C crônica (KLEVENS et al, 2012). No período de 1999 a 2011, foram notificados no SINAN 82.041 casos confirmados de hepatite C no Brasil, onde a maioria estava localizada nas regiões Sudeste (67,3%) e Sul (22,3%) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012). A taxa média de número de casos foi de 5,4 casos por 100 mil habitantes e a maioria dos indivíduos apresentavam faixa etária de 55 a 59 anos de idade (15,8 casos/100 mil hab). O coeficiente 91 92 de mortalidade por hepatite C é de um óbito a cada 100 mil habitantes em 2010. A principal fonte de infecção é o uso de drogas (27,4%), seguido da transfusão sanguínea (26,9%) e contato sexual (18,5%) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012). Em estudo realizado na população brasileira entre 10 e 69 anos residente nas 5 regiões geográficas brasileiras, a prevalência de anti-HCV é igual a 1,38%. Em indivíduos com mais de 20 anos de idade, a soropositividade para anti-HCV foi igual a 0,97% na região Nordeste, 1,64% na região Centro Oeste, 1,63% na região Sudeste, 1,7% na região Sul e 3,22% na região Norte (PEREIRA et al, 2009). No Brasil, a prevalência de anti-HCV também varia de acordo com o grupo estudado com 0,6% em usuários de crack, 0,8% em profissionais de beleza, 1% em homens que fazem sexo com homens, 1,4% em motoristas de caminhão e 6,9% em indivíduos infectados pelo HIV (FREITAS et al., 2010; SANTOS-CRUZ et al, 2013; VILLAR et al, 2014a,b; SOARES et al., 2014; FREITAS et al, 2014). No período de 1999 a 2011 foram notificados 4694 casos de hepatite C no Estado do Rio de Janeiro. Em 2010, a taxa de detecção de hepatite C por 100.000 habitantes no Estado do Rio de Janeiro foi igual a 5,8, o que é superior a média nacional (5,4). Neste mesmo ano, o coeficiente de mortalidade por hepatite C por 100.000 habitantes foi 1,8 no Estado do Rio de Janeiro (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012). Estudos realizados em alguns grupos no Rio de Janeiro demonstraram prevalências de anti-HCV de 0,2% entre crianças (VILLAR et al., 2014), 0,5% em gestantes (LEWIS-XIMENEZ et al., 2002), 1,09% em doadores de sangue (ANDRADE et al., 2006), 6,6% em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (COSTA et al., 2002) e 10,1% em usuários de drogas intravenosas (OLIVEIRA et al., 2009). PREVENÇÃO Até o momento não existe uma vacina disponível contra a hepatite C. Desta forma, a eliminação dos comportamentos de risco é fundamental para que as taxas de incidência da infecção sejam reduzidas e, consequentemente, diminuição dos casos de doença hepática. Para erradicar o HCV, a transmissão deve ser eliminada de três modos: triagem de casos de HCV e consequente conscientização destes indivíduos para que evitem a infecção de outros indivíduos, tratamento dos indivíduos positivos e mudança de política e comportamento para prevenir novas infecções e reinfecções (HAGAN & SCHINAZI, 2013). A exposição percutânea a sangue contaminado com o HCV é um dos principais modos de transmissão do vírus. Com o advento da triagem sorológica para HCV em bancos de sangue, o uso de drogas injetáveis é um dos principais modos de transmissão em todo mundo, logo medidas educativas voltadas para redução de transmissão neste grupo, tais como não compartilhamento de seringas e agulhas, poderiam reduzir a transmissão do HCV. A transmissão do HCV também pode ser minimizada pelo não compartilhamento de outros objetos perfurocortantes, tais como laminas de barbear, alicate de unha e ou- 93 94 tros (HAGAN & SCHINAZI, 2013). A transmissão sexual do HCV ainda é controversa, particularmente em casais heterossexuais e monogâmicos com taxas de 0 a 0,6% de novas infecções por ano (RUSSELL et al, 2009). Entretanto esta via de transmissão é a terceira mais relatada entre os casos de hepatite C documentados no Brasil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012). Logo, estratégias de educação sexual com encorajamento de uso de preservativos e práticas seguras podem auxiliar na prevenção da transmissão do HCV. Nas últimas duas décadas, vários candidatos a vacinas profiláticas e terapêuticas baseadas em diversas estratégias (indução de anticorpos vs. resposta de células T), usando diferentes veículos (proteínas recombinantes, peptídeos, DNA, partículas semelhantes a vírus, vetores virais e leveduras) e para diferentes regiões da poliproteina do HCV tem sido desenvolvidas em modelos animais incluindo roedores e chimpanzés. Algumas destas vacinas já estão em fase II de avaliação e os estudos têm demonstrado respostas vigorosas de células TCD4 e TCD8, entretanto ainda não está claro se estas respostas podem ser capazes de prevenir a infecção crônica e se é efetiva para todos os genótipos do vírus (DRUMMER, 2014). TRATAMENTO Por muitas décadas, o tratamento padrão da infecção crônica pelo HCV consistia na administração da combinação de interferon peguilado alfa-2a ou alfa-2b (PEG-IFN) e ribavirina (FRIED et al. 2002). Os pacientes que respondem ao tratamento devem apre- sentar resposta virológica sustentada (RVS) determinada pela ausência de RNA viral no período de seis meses após o tratamento (PAWLOTSKY, 2009). O tratamento com PEG-IFN e ribavirina ainda é recomendado no Brasil e a duração do mesmo varia de acordo com o genótipo infectante. Indivíduos infectados pelo genótipo 1 devem receber PEG-IFN e RBV, durante 48 a 72 semanas, assim como os indivíduos infectados pelos genótipos 4 e 5. O esquema recomendado para o tratamento de indivíduos infectados pelos genótipos 2 e 3, na inexistência de fatores preditores de baixa RVS como, fibrose avançada ou cirrose e carga viral superior a 600.000UI/mL, é a associação de IFN convencional e RBV, durante 24 semanas. Na existência desses fatores, o esquema recomen- dado é a associação de PEG-IFN e RBV, durante 24 a 48 semanas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011). O tratamento com IFN e ribavirina é eficaz em aproximadamente 80% dos doentes infectados com o genótipo 2 ou 3 e menos de 50% dos doentes com o genótipo 1 (PAWLOTSKY, 2009). Alguns fatores já foram relacionados a falta de resposta ao tratamento com interferon peguilado e ribavirina, entre eles, os níveis de colesterol LDL, taxa de alfafetoproteina, níveis de ácido hialurônico, polimorfismo de base única da interleucina 28B (IL-28B), níveis basais de vitamina D (VILLAR et al., 2013; WADA, 2014). Os principais efeitos adversos do tratamento convencional para hepatite C são: alterações hematológicas, sintomas semelhantes a gripe, dor de cabeça, fadiga, fe- 95 96 bre e mialgia (relacionados ao interferon) e anemia hemolítica, tosse, dispneia, gota, náuseas, erupções cutâneas e teratogenicidade (relacionados a ribavirina) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011). Devido a baixa taxa de resposta ao tratamento com dupla terapia, agentes antivirais de ação direta (DAAs) têm sido desenvolvidos. Estes agentes pertencem a diferentes classes de medicamentos, tais como inibidores da atividade da protease NS3/4A (telaprevir, boceprevir, simeprevir, faldaprevir, asunaprevir, danoprevir, vaniprevir, ABT-450-ritonavir, MK5172 e GS9451), inibidores do complexo de replicação de NS5A (daclatasvir, lidipasvir, ABT-267, GS-5816, e MK-4782), inibidores nucleotidicos e não nucleosidicos da polimerase (GHANY et al. 2011; GENTILE et al, 2014; FEENEY et al, 2014; KANDA et al, 2014). Até o presente momento, telaprevir, boceprevir, simeprevir e sofosbuvir já foram licenciadas para o uso. Atualmente no Brasil, a terapia tripla (IFN + ribavirina + telaprevir ou boceprevir) é recomendada para pacientes com genótipo 1 que não responderam ao tratamento com terapia dupla ou com fibrose avançada (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013). Estas drogas demonstraram taxas de RVS de 67%- 75% em estudos de fase III com pacientes infectados pelo HCV genótipo 1 (POORDAD et al, 2011; JACOBSON et al, 2011). Em relação aos efeitos adversos, foram observados para Boceprevir, anemia, pele seca e disgeusia e para o Telaprevir, anemia, náuseas, exantema, diarreia, prurido e sinto- mas anorretais (MS, 2012). Por ser uma proteína essencial para a montagem e replicação viral, inibidores de NS5A são antivirais potentes e atuam em concentrações picomolares, embora apresente resposta diferente nos genótipo 1a e 1b (WANG et al, 2012). Daclatasvir, lidipasvir, ABT-267, GS-5816, e MK-4782 são inibidores de NS5A sendo testados em estudos de fase II-III, com alguma probabilidade de licenciamento em curto período de tempo. Estes agentes têm demonstrado reações adversas mínimas, porém já foram encontradas as seguintes mutações de resistência M28T, L31M / V, e Y93C / N (FEENEY et al, 2014). A RNA-polimerase dependente de RNA (NS5B) é responsável pela replicação do RNA do HCV. Tal como acontece com os inibidores da transcriptase reversa do HIV, existem duas classes principais de inibidores de NS5B. Estes são os inibidores de nucleosídeos (s), que se ligam ao local ativo da enzima e causa a terminação prematura da cadeia, ou nucleotídeos (t), que se ligam fora do sitio ativo, mas causam uma alteração conformacional que inibe a atividade da RNA polimerase (FEENEY et al, 2014; WELZEL et al, 2014). Nos últimos anos, a pesquisa clínica na área de novos tratamentos para a hepatite C crônica tem se dedicado ao desenvolvimento de regimes baseados em antivirais de ação direta, com o objetivo de aumentar a eficácia do tratamento e melhorar a tolerabilidade e segurança. O sofosbuvir é o primeiro composto que tem sido avaliado em regimes combinados livre 97 98 de interferon. Este medicamento pertence aos inibidores de nucleotídeos do genoma viral e atua na polimerase como um terminador de cadeia durante o processo de replicação do HCV, e exibe atividade antiviral pan-genotípica com uma elevada barreira à resistência (DEGASPERI & AGHEMO, 2014). Estudos clínicos demonstraram taxas de resposta de 83 a 96% em pacientes infectados com genótipos 1, 2 e 3 Outros medicamentos inibidores da polimerase que ainda estão sendo testados são: mericitabine (t), VX-135 (t), desabuvir (s), BMS-791325 (s), GS-9669 (WELZEL et al, 2014; FEENEY et al, 2014). O desenvolvimento de formulações com doses fixas tem reduzido a interação entre os medicamentos e reduzido a duração da terapia (8-12 semanas) o que pode facilitar a aplicação de novos regimes com DAAs. Entretanto, o alto custo destes medicamentos ainda é um dos grandes empecilhos para o uso rotineiro na prática clinica. 99 CAPÍTULO 4 100 HEPATITE DELTA O vírus da hepatite D ou Delta (HDV), descoberto em 1977 por Rizzetto e colaboradores é reconhecido como o mais patogênico e infeccioso entre os vírus hepatotrópicos (PONZETTO et al, 1987; FONSECA, 1993). Ele possui um antígeno denominado delta (HDAg), que é o componente interno de uma partícula virus-like, composta por uma pequena molécula de RNA e pelo HDAg, envoltos pelo antígeno de superfície do HBV (HBsAg). Já que o HBsAg é essencial para a entrada nos hepatócitos e dispersão célula-célula, o HDV só pode infectar portadores crônicos do HBV (superinfecção) ou coinfectar indivíduos simultaneamente com o HBV (coinfecção) (RIZZETTO et al, 1991). O HDV possui um poder notável de dominância e supressão, apresentando efeito inibitório sobre a síntese dos antígenos virais do HBV durante a superinfecção, particularmente sobre o HBsAg e o HBcAg (RIZZETTO et al, 1977), além de ser o responsável pela exacerbação e agravamento da doença hepática em indivíduos infectados pela hepatite B (RIZZETTO et al, 1980). O HDV está classificado como a espécie protótipo do gênero Deltavirus que, até o momento, é um gênero separado, não sendo classificado taxonomicamente em nenhuma família de vírus (ICTV, 2012). EPIDEMIOLOGIA DA INFECÇÃO A infecção pelo HDV representa um grave problema de saúde pública principalmente em áreas endêmicas para o HBV, estimando-se que aproximada- 101 102 mente 18 milhões de pessoas no mundo estejam infectadas pelo HDV (Figura 1). Ser portador crônico da hepatite B é principal fator epidemiológico, o que poder ser observado nas populações nativas da Amazônia brasileira (BENSABATH et al, 1987; FONSECA et al, 1988; FONSECA et al, 1994; BRAGA et al, 2001), peruana (CASEY et al, 1996), venezuelana (HADLER et al, 1983) e, em determinadas áreas da África (LESBORDES et al, 1986). O fato de ser HBsAg positivo também se aplica como fator epidemiológico aos grupos susceptíveis de infecção para hepatite B, como os toxicômanos, os hemodializados e os politransfundidos (RIZZETTO et al, 1977; FONSECA, 1993). Curiosamente na Ásia a incidência para o HDV é baixa, independente de possuir uma alta prevalência de portadores do HBV. Uma possível explicação para o observado seria 1) o HDV ainda não está difundido nessa população, ou 2) essa população é resistente á infecção pelo HDV (CHEN et al, 1992). Já em países com baixa prevalência de infecção pelo HBV, a infecção pelo HDV ocorre principalmente os grupos mais suscetíveis (RIZZETTO et al, 1977; FONSECA, 1993). Estudos europeus mostraram uma prevalência maior do que 20% nos indivíduos HBsAg positivos. Com um maior conhecimento sobre o vírus delta e seu modo de transmissão, houve a implementação de medidas preventivas como o uso de seringas, agulhas e material médico descartáveis, além da introdução dos programas de vacinação para HBV, o que diminuiu significativamente a incidência para cerca de 5 a 10% (GAETA et al, 2000). Entretanto, estudos demonstram que os imigrantes seriam um reservatório residual de HDV no sul da Europa (RIZZETTO & CIANCIO, 2012). Nos Estados Unidos, os usuários de drogas são uma grande reocupação (KUCIRKA et al, 2010). 103 Figura 7. Distribuição do HDV Fonte: Adaptado de PASCARELLA & NEGRO, 2010 104 Como já foi citado, O HDV é endêmico nas populações nativas da Amazônia brasileira, onde está associado a manifestações mais graves de doença hepática (BENSABATH & DIAS, 1983; BENSABATH et al, 1987; GOMES-GOUVÊA et al, 2008, 2009; MENDES-CORREA et al, 2011). Na região amazônica, os anticorpos anti-HDV podem ser encontrados em até 34% dos indivíduos portadores do HBsAg (Fonseca et al, 1988; MENDES-CORREA et al, 2011). De acordo com o Ministério da Saúde, no período de 1999 a 2011, foram notificados 2.197 casos de hepatite D no Brasil. A maioria dos casos concentra-se na região Norte (76,4%). (Ministério da Saúde, 2012) Os programas de vacinação para o HBV foram introduzi- dos como controle da infecção e estão sendo efetivos reduzindo o número de portadores do HBV e, consequentemente os portadores de HDV na Bacia Amazônica (RIZZETTO & CIANCIO, 2012). Nunes e colaboradores, em 2007, não encontraram nenhum marcador para o HDV em um estudo realizado em uma reserva indígena no Pará. Em regiões não endêmcias, os dados sobre a prevalência do HDV são escassos. ESTRUTURA GENÔMICA O HDV é um vírus híbrido e defectivo, sendo o único vírus satélite que depende do envelope do helper HBV para dar suporte à montagem e liberação de novas partículas de HDV e contribuir para a capacidade dessas partículas em se ligar e infectar células susceptíveis (RIZZETTO et al, 1977). Sendo assim, o HDV não é um vírus hepatotrópico autônomo. Apesar de se replicar nos hepatócitos, até o momento não foram identificados receptores para o HDV nestas células. Considerado como subvírus satélite do HBV, o HDV é classificado como a espécie protótipo do gênero Deltavirus que, até o momento, é um gênero separado, não sendo classificado taxonomicamente em nenhuma família de vírus (ICTV, 2012). Suas partículas são pequenas, variando de 30 - 36 nm de diâmetro, esféricas e envelopadas. O genoma é composto por uma molécula de RNA de fita simples, circular e polaridade negativa, envolvido por cerca de 70 a 200 moléculas de HDAg (WANG et al, 1986; RYU et al, 1993; GUDIMA et al, 2002). O envelope viral é formado pelas proteínas de envelope do HBV (HBsAg), em todas as suas formas (large, middle e small) (SUREAU, 2006), além de lipídios da célula hospedeira (HUGHES et al, 2011) que são adquiridos durante a coinfecção com o HBV. GENOMA VIRAL O HDV RNA possui um tamanho reduzido, estrutura circular e replicação através do mecanismo de círculo rolante. O genoma do HDV (~1700 nt) codifica para o antígeno delta (HDAg) (FLORES et al. 2012). No entanto, estudos mais específicos do genoma viral propõem que ele compreenda um domínio viroide-like de aproximadamente 350 nt, contendo ribozimas cruciais para sua replicação, fusionado a outro domínio, contendo a região codificante para o HDAg. O genoma do 105 106 HDV é menor do que o de qualquer outro agente infeccioso de animais e a sua sequência nucleotídica rica em citocinas (C) e guaninas (G) permite um alto grau de pareamento intramolecular de bases, o que gera a formação de uma estrutura em forma de bastonete, não ramificada (WANG et al, 1986; HUGHES et al, 2011). A célula infectada pelo HDV contém o genoma, uma fita complementar e um RNA linear, de aproximadamente 800 nt. A fita complementar possui a sequência aberta de leitura da única proteína do HDV, entretanto, esta proteína de 195 aminoácidos (aa) é traduzida a partir de um RNA mensageiro (RNAm) (TAYLOR, 2012). O terceiro RNA que surge durante a replicação do HDV possui a mesma polaridade da fita complementar, porém de forma linear, com a extremidade 5´ capeado e a extremidade 3´ poliadenilada (GUDIMA et al, 2000). Esse RNA, que funciona como RNAm, tem aproximadamente 800 nt e codifica para a única proteína codificada pelo vírus, o HDAg. REPLICAÇÃO DO HDV Acredita-se que o receptor no hepatócito seja o mesmo que o do HBV, já que ambos os vírus possuem o mesmo envelope. A infecciosidade do HDV depende da ligação de um domínio na região N-terminal da porção pré-S1 da proteína large do HBsAg ao receptor no hepatócito (BARRERA et al, 2005; ENGELKE et al, 2006). Uma segunda região localizada no loop antigênico das três proteínas de envelope do HBV também é necessária para infecciosidade (ABOU-JAOUDÉ & SUREAU, 2007; SALISSE & SUREAU, 2009), porém ainda não está claro se o loop antigênico e os determinantes pré-S1 atuam sinergicamente ou independentemente na entrada viral. Longarela e colaboradores (2013) demonstraram que a entrada do HDV nos hepatócitos depende também de uma interação com glicosaminoglicanos (GAG), mais especificamente o heparan sulfato localizado na matriz extracelular das células hepáticas. O vírus perde o envelope após entrada no hepatócito e um sinal de localização no HDAg transloca o nucleocapsídeo para o núcleo celular (XIA et al, 1992). Para que haja a replicação, o vírus utiliza RNA polimerases da célula do hospedeiro, que reconhece o genoma como um DNA fita dupla, devido a sua estrutura dobrada em forma de bastonete (LAI, 2005). Três tipos de RNA são produzidos durante a replicação: RNA genômico circular, RNA antigenômico complementar ao circular e um RNA antigenômico poliadenilado linear de 0,8 kb, que é o RNA mensageiro contendo a fase de leitura aberta que codifica o HDAg. 107 79,2% 3,2% 108 3,2% 8,8% 5,7% Figura 8. Prevalência da infecção pelo HDV em 2010 Fonte: Governo Federal (http://www.aids.gov.br/publicacao/2012/boletim_de_hepatites_virais_2012). Sugere-se que a RNA polimerase II é a responsável pela replicação do HDV; entretanto um estudo mostrou que as RNA polimerase I e III também interagem com o HDV RNA (GRECO-STEWART et al, 2009). A replicação do HDV RNA circular ocorre através de um mecanismo de círculo rolante (rolling-circle), que é único entre os vírus que infectam animais, porém comum aos viróides de plantas. O HDV RNA é primeiramente sintetizado como uma molécula linear, contendo muitas cópias do genoma, mas no RNA genômico e na fita complementar, uma sequência de 85 nucleotídeos atua como ribozima, que tem a capacidade de auto-clivar o RNA linear em monômeros (WU et al, 1989). Esses monômeros se ligam para que haja a formação de um RNA circular, mas o papel da RNA ligase do hospedeiro nesse processo ainda é controverso. O HDAg é a única proteína conhecida que é codificada pelo genoma do HDV. Ela se apresenta em duas isoformas: L-HDAg (large) de 27 kDa com 214 aminoácidos e a S-HDAg (small) de 24 kDa com 195 aminoácidos. A sequência N-terminal das duas isoformas é a mesma, sendo diferenciadas apenas por 19 aminoácidos na porção C-terminal da isoforma L-HDAg. A fase de leitura aberta da fita complementar gera ambas as isoformas devido a uma heterogeneidade no códon 196 (WEINER et al, 1988). Um stop códon nessa posição leva a tradução da isoforma S-HDAg; entretanto, quando a enzima celular adenosina-deaminase-1 edita o RNA, ocorre uma mu- 109 110 dança na sequência UAG => UGG e então, a isoforma L-HDAg é produzida (WANG et al, 1986; JAYAN & CASEY, 2002), fazendo com que a isofroma S-HDAg retorne ao núcleo para dar suporte à replicação viral (TAYLOR,2006; YAMAGUCHI et al, 2001). A isoforma L-HDAg atua como um regulador negativo da replicação do HDV, sendo imprescendível para a montagem do vírion (CHANG et al, 1994). Portanto, a edição do RNA é fundamental para o ciclo replicativo do HDV, controlando os níveis de cada isoforma e, consequentemente, o balanço entre síntese viral e montagem da partícula. Figura 9. Representação esquemática da partícula de HDV Fonte: FONSECA, 2002 Algumas modificações após a tradução da isoforma L-HDAg, principalmente a prenilação do resíduo de cisteína na porção C-terminal, é essencial para sua capacidade de ligação ao HBsAg e montar a partícula viral (GLENN et al, 1992). A metilação do S-HDAg por arginina metiltransferase na arginina-13 (um domínio de ligação do RNA) é essencial para a translocação do S-HDAg para o núcleo e para replicação da fita de RNA complementar, para que haja a formação do RNA genômico (LI et al, 2004). Por isso, modificações pós-traducionais determinam o balanço do ciclo de vida viral e são alvos terapêuticos importantes no desenvolvimento de novas drogas. Uma vez no núcleo, as moléculas L-HDAg formam complexos com S-HDAg e novas construções de RNA genômico, que serão exportados para a membrana de Golgi através de um sinal na porção C-terminal da isoforma L-HDAg. Na membrana, estes complexos se associam as proteínas de envelope do HBV para criação do vírion infeccioso (BARRERA et al, 2005; WANG et al, 1991). A interação da porção C-terminal da isoforma L-HDAg com a cadeia pesada de clatrina da rede trans-Golgi é essencial para a montagem viral (HUANG et al, 2007). VARIABILIDADE DO HDV Análises de diferentes isolados demonstraram que o tamanho do genoma varia entre 1672 e 1697 nt, mas que apesar disso, as sequências são altamente variáveis (CASEY & GERIN, 1995; RADJEF et al, 2004; DENY, 2006). A divergência de sequências dentro de um mesmo genótipo pode che- 111 112 gar a até 18% e entre genótipos diferentes varia de 20-40% (Hughes et al, 2011). Em um indivíduo, a população viral circulante pode ser bem variada (quasispecies) (Deny, 2006), o que se deve a não atividade de leituta das RNAs polimerases. A taxa de mutação na região não-codificante do genoma do HDV é de 3,52x10-3 substituições de base/sítio do genoma/ano, enquanto que para a região codificante é de 1,49x10-3 para substituições não sinônimas, e 0,67x10-3para substituições sinônimas (KRUSHKAL & LI, 1995). No entanto, essa variabilidade não é homogênea por todo genoma, as regiões da ribozima auto-catalítica e o domínio de ligação do HDAg ao RNA são extremamente conservadas, enquanto a região C-terminal da proteína LHDAg é bastante divergente. Até a introdução de técnicas de biologia molecular para a genotipagem, a mesma era realizada por análise imuno-histoquímica do tecido hepático (HSU et al, 2000) ou pelo polimorfismo no comprimento de fragmentos de restrição (RFLP) de produtos de reação em cadeia da polimerase (PCR) (WU et al, 1995). Atualmente a genotipagem é realizada através do sequenciamento direto e análise molecular de árvores filogenéticas, demonstrando a existência de oito diferentes genótipos (RADJEF et al, 2004; LE GAL et al, 2006). GENÓTIPOS DO HDV Baseado na divergência em 20 - 40% da sequência nucleotídica do genoma completo, atualmente o HDV é dividido em 8 genótipos (LE GAL et al, 2006; DENY, 2006; HUGHES et al, 2011). O genótipo 1 é o mais prevalente no mundo (SHAKIL et al, 1997). O genótipo 2 (previamente conhecido como 2a) é encontrado no Japão, Taiwan e em algumas regiões russas (ZHANG et al. 1996; WU et al, 1998; IVANIUSHINA et al, 2001). O genótipo 3 (o mais divergente de todos) é encontrado na região da Bacia Amazônica (PARANÁ et al, 2006), enquanto que o genótipo 4 (previamente conhecido como 2b) é encontrado em Taiwan e no Japão (SAKUGAWA et al, 1999). Já os genótipo 5-8 foram descritos em africanos, incluindo seus descendentes que migraram para o norte da Europa (RADJEF et al, 2004; LE GAL et al, 2006). DOMINÂNCIA VIRAL Tanto a coinfecção quanto a superinfecção HBV/HDV supri- mem a replicação do HBV em pacientes e em sistemas modelos. Cerca de 80% dos pacientes são HBeAg negativos, e a maioria possui baixos níveis de HBV no soro (SAGNELLI et al, 2000; CROSS et al, 2008; ZACHOU et al, 2010; WEDEMEYER & MANNS, 2010). Uma das explicações para a dominância do HDV seria que as proteínas codificadas pelo HDV regulam negativamente a replicação do HBV, reprimindo a atividade de duas regiões enhancer do HBV. Outra explicação é que a proteína L-HDAg transativa o gene MxA induzido por interferon-α, inibe a replicação do helper HBV reduzindo a exportação do RNAm viral a partir do núcleo (WILLIAMS et al, 2009; WEDEMEYER & MANNS, 2010). Apesar da influência do HDV sobre o HBV, aproximadamente 20% dos pacientes com he- 113 patite D são HBeAg e/ou HBV-DNA positivo (HUGHES et al, 2011). 114 TRANSMISSÃO Assim como o HBV, o HDV é transmitido via parenteral através da exposição ao sangue ou fluidos corpóreos contaminados (FARCI, 2003). Testes em chimpanzés demonstraram que uma pequena inoculação é suficiente para transmitir a infecção (PONZETTO et al, 1987). Dessa forma, as taxas de transmissão continuam elevadas entre usuários de droga intravenosa. A transmissão intrafamiliar ocorre e parece ser comum em regiões de elevada prevalência, sendo conhecida como transmissão parenteral inaparente, principalmente relacionada com pequenas lesões na pele por picadas de insetos ou através de mucosas. A transmissão perinatal do HDV é incomum. Devido à triagem de produtos do sangue, novas infecções em pacientes hemofílicos, receptores de transfusão de sangue, e pacientes que recebem hemodiálise não são mais vistos em países desenvolvidos (HSIEH, 2006). TRATAMENTO O principal objetivo do tratamento da hepatite Delta não é apenas a eliminação do HDV, mas também controlar a infecção da hepatite B. Portanto, o principal desafio em definir a terapia ideal é a complexidade em ter como alvo duas infecções persistentes. O HDV utiliza exclusivamente enzimas fornecidas pelos hepatócitos do hospedeiro para a replicação viral. Dessa forma, o HDV não possui enzimas virais específicas que poderiam ser usadas como alvo terapêutico para inibir a sua replicação. Até o momento, o interferon-α parece ser a única droga disponível com atividade antiviral significativa contra o HDV (HEIDRICH et al, 2013), mas algumas questões permanecem sem resposta, como por exemplo, a duração do tratamento. Terapias mais longas parecem estar associadas com maiores taxas de resposta, mas ainda não está claro quais pacientes podem interromper com segurança o tratamento após 1 ano (GUNSAR et al, 2005). Um melhor entendimento da biossíntese viral e das interações HDV-hospedeiro e HDV/HBV são cruciais para a identificação de novos agentes terapêuticos. Até o momento não existem drogas que atuem diretamente no RNA viral ou no HDAg e abordagens experimentais como inibição da ribozima ainda estão muito longe dos ensaios clínicos. A etapa de montagem das novas partículas é essencial para uma infecção bem sucedida e este processo envolve uma modificação pós-traducional do L-HDAg. Alguns estudos mostraram que, prevenindo a prenilação, a interação do L-HDAg com o HBsAg é interrompida e a síntese de novos vírions é bloqueada. Em modelo animal, esses inibidores demonstraram-se efetivos na eliminação viral (BORDIER et al, 2003). Outras formas de modificações pós-traducionais da proteína HDAg, como acetilação, fosforilação e metilação também podem ser úteis como alvos para novos compostos terapêuticos. Estudos demostraram que peptídeos sintéticos específicos para a região N-terminal do domínio 115 116 pré-S1 do HBsAg são capazes de inibir a ligação viral e, portanto, a infecciosidade do HDV, chamando atenção para um alvo terapêutico alternativo (BARRERA et al, 2005; GLEBE et al, 2005; GRIPON et al, 2005; SCHULZE et al, 2010, HUGHES et al, 2011). Drogas capazes de interferir nos processos cruciais para o ciclo replicativo parece ser o futuro para o tratamento da infecção causada pelo HDV. PREVENÇÃO E CONTROLE Uma vez que a infecção do HDV é relacionada ao HBV, as estratégias de prevenção são as mesmas: vacinação para a hepatite B e a profilaxia pós-exposição (HSIEH et al, 2006). Vacinas profiláticas contra o HDV ainda estão sendo estudadas. A he- patite D crônica, adquirida por superinfecção, é uma doença grave, entretanto, uma vacina pode ser importante para proteger portadores do HBsAg da superinfecção pelo HDV (ROGGENDORF, 2012). 117 118 CAPÍTULO 5 HEPATITE E No início da década de 80, testes sorológicos desenvolvidos para o vírus da hepatite A, confirmaram a existência de um novo vírus de transmissão entérica até então desconhecido, associado à ocorrência de um surto ocorrido em Nova Déli, Índia, em 1955 (WONG et al, 1980; BRADLEY, 1990). Àquela época, os testes realizados demonstraram que os indivíduos acometidos no surto, causado por um problema de contaminação do abastecimento de água potável, já eram imunes ao vírus da hepatite A, já bem caracterizado desde 1973. O agente associado à hepatite entérica não-A não-B, denominação adotada desde então, foi posteriormente caracterizado através de estudos de caracterização morfológica e molecular (REYES, 1990; TAM, 1991). A he- patite E, doença causada pelo vírus E da hepatite (HEV), classificação adotada após os referidos estudos, foi reconhecida como endêmica ou epidêmica em países da África, da Ásia e no México (PURCELL & EMERSON, 2001). Em 1997, a descoberta da circulação do HEV em suínos, contribuiu para uma revisão sobre a epidemiologia da hepatite E, visto que, casos autóctones foram descritos em regiões previamente consideradas livres da circulação do HEV (MENG et al,1997). Ao longo dos últimos anos, diferentes espécies foram descritas como possíveis reservatórios do HEV, dinamizando a discussão sobre aspectos epidemiológicos, patogênicos e clínicos sobre este agente, hoje considerado como único dentre os principais vírus causadores de hepatite, cuja transmissão 119 120 além de entérica pode ser zoonótica (MENG, 2013). Outras formas menos freqüentes de transmissão envolvem a via parenteral e a transmissão vertical (KHUROO et al, 2004; PATRA et al, 2007). A OMS estima dos 20 milhões de casos de hepatite E anuais, 56000 resultam em óbitos relacionados à complicações da doença (WHO, 2014). CLASSIFICAÇÃO E MORFOLOGIA Em 1983, durante um surto de hepatite entérica não-A não-B ocorrido próximo a Moscow, o Dr. Balayan realizou o transporte de amostras a serem investigadas através da autoinfecção por ingestão de amostras de fezes de pacientes. Nas semanas subseqüentes, ele desenvolveu um quadro agudo de hepatite e realizou coletas seriadas das fezes para observação em microscopia e infecção experimental em macacos do gênero cynomolgus (WONG et al, 1980; BRADLEY, 1990). O HEV foi caracterizado a partir da detecção de partículas semelhantes a vírus (VLPs) por imunoeletromicroscopia (IEM) (BALAYAN et al, 1983). O Dr. Balayan já havia sido previamente exposto ao HAV não apresentou resposta sorológica para este vírus nem para o vírus da hepatite B (HBV), mas desenvolveu anticorpos para VLPs recuperados de suas fezes. Inicialmente, o HEV foi classificado na família Caliciviridae devido às semelhanças morfológicas compartilhadas com outros membros dessa família. No entanto, em 2004, após extensas avaliações de dados obtidos após a caracterização de diferentes genomas, o comitê internacional de taxonomia viral (ICTV) determinou a criação do gênero hepevirus e da família Hepeviridae para reclassificação de isolados do HEV (FAUQUET et al, 2005). Análises de difração em raio-X demonstraram que o VHE apresenta uma partícula não envelopada e esférica, com aproximadamente 32-34 nm de diâmetro e uma superfície indefinida com leves depressões (YAMASHITA et al, 2009). O genoma do HEV consiste de uma fita simples de RNA de polaridade positiva com a presença de cap (7-metilguanosina) e de uma cauda poli-A, com aproximadamente 7200 nucleotídeos (nt). O genoma viral possui duas regiões não-codificantes (NC) nas extremidades 5´ e 3´, que são altamente conservadas e possuem 35 e 68-75 nt, respectivamente. Estas regiões são elemen- tos cis regulatórios envolvidos na replicação do genoma viral, na tradução e encapsidação, como observado em outros vírus com genoma constituído de RNA. T rês fases abertas de leitura (ORFs), descontínuas e parcialmente sobrepostas, organizadas na ordem 5´- ORF1-ORF3-ORF2 -3´ compõem o genoma ((MENG et al,1997; AHMAD, 2011). A ORF1 compõe a maior unidade codificante, é localizada na extremidade 5´ e possui aproximadamente 5000 nucleotídeos. As proteínas codificadas estão envolvidas no processo replicativo do genoma viral como a metiltransferase, uma protease semelhante à papaína, a helicase e a RNA polimerase RNA dependente (KOONIN et al, 1992; AGRAWAL et al, 2001). Alguns domínios homólogos a outros vírus RNA de 121 122 polaridade oriundos de plantas e animais foram identificados na ORF1 (PUDUPAKAM et al, 2011). Uma região não codificante hipervariável da ORF1 apresenta uma diversidade genética significativa e pode estar envolvida na eficiência da replicação do HEV. As diferenças entre genomas observadas para os variados isolados estão concentradas nesta região de hipervariabilidade (HUANG et al, 2004). A ORF2 codifica uma proteína de 660 aminoácidos, única estrutural que compõe o capsídeo viral, e contêm uma seqüência sinal típica próxima à região 5´ terminal, seguida de uma região com cargas altamente básicas do genoma viral. Esta região está envolvida na encapsidação do transcrito genômico. A ORF2 é altamente imunogênica e possui diversos epito- pos (REYES, 1990; MUSHAHWAR et al, 1996; AHMAD, 2011). Essa região é alvo para o desenvolvimento de uma vacina, além de codificar outros epítopos secundários na região central da proteína. A ORF3 codifica para uma fosfoproteína capaz de se associar ao citoesqueleto da célula, possivelmente servindo como sítio de ancoragem (OKAMOTO, 2007). Além disso, essa proteína pode estar envolvida na interação com a proteína fosfatase quinase ativada por mitogênese e outras quinases extracelulares promovendo a sobrevivência celular através da ativação da cascata de sinalização intracelular (KORKAYA et al, 2001; NAGASHIMA et al, 2011). Apesar de apenas um sorotipo ter sido proposto a variabilidade entre os isolados do VHE é diversa (PURCELL, 1994; OKAMOTO, 2007). Estes agrupam-se em pelo menos quatro genótipos principais. As classificações são baseadas na análise de seqüências completas e/ ou parciais (ORF1 e ORF2) (ZANETTI et al, 1999; SCHLAUDER & MUSHAHWAR 2001; LU et al, 2006). De acordo com a classificação atual, os quatros principais genótipos são subdivididos em subtipos definidos em reconstruções filogenéticas (LU et al, 2006). O genótipo 1 é subdividido em cinco subtipos; 1a-e, o genótipo 2 em dois subtipos; 2a-b, o genótipo 3 em dez subtipos; 3a-j, e o genótipo 4 em sete subtipos; 4a-g. No genótipo 1 estão agrupados isolados da Ásia e da África associados à ocorrência endêmica e epidêmica da hepatite E nessas regiões. Recentemente, foi identificado em casos esporádicos na Venezuela e Uruguay e em pequenos surtos em Cuba (ECHEVARRÍA et al, 2013; MIRAZO et al, 2014). O genótipo 2 possui uma amostra protótipo proveniente de um surto ocorrido no México em 1986, e outras provenientes do continente africano (Chad e Nigéria) que foram caracterizadas nos últimos anos. O genótipo 3, foi determinado quando em 1997, um grupo dos EUA fez a primeira descrição de um isolado do HEV em suínos (MENG et al,1997). Este isolado demonstrou estar relacionado a casos autóctones de hepatite E aguda nos EUA. Estudos subseqüentes realizados em áreas não endêmicas levaram a caracterização de outros isolados suínos e humanos relacionados à uma mesma região geográfica e também classificados nesse genótipo. 123 124 O genótipo 4, o mais recente caracterizado, também inclui isolados suínos e de casos humanos autóctones, porém com circulação mais restrita à países orientais do Leste da Ásia e da Europa central (HAKZE-VAN et al, 2011). A hipótese sobre a transmissão zoonótica deste vírus levou a uma série de investigações da circulação em outras espécies. Até 2010, além do HEV suíno, o vírus foi identificado também em javalis, cervos e aves. Recentemente, outros vírus relacionados, denominados HEV -like, foram identificados em ratos, coelhos, ferrets, visons, raposas, morcegos e alces, além de um agente distante relacionado isolado de amostras de salmonídeos (MENG, 2011; KUMAR et al, 2013). O crescente número de seqüências do HEV ou de vírus rela- cionados (HEV -like), e o aumento de novos genótipos ou genogrupos em potencial, tem levantado discussão acerca do atual sistema de classificação do gênero Hepevirus (OLIVEIRA-FILHO et al, 2013; SMITH et al, 2013). ASPECTOS CLÍNICOS A hepatite E pode desenvolver desde quadros assintomáticos até quadros de hepatite fulminante (AGGARWAL, 2011). Em regiões endêmicas, onde circulam os genótipos 1 e 2, a taxa de mortalidade varia de 0,5 a 4%. A maioria dos casos é de quadros assintomáticos ou associados à hepatite aguda auto-limitada. Nessas regiões, a taxa de ataque é maior entre jovens e adultos (médias de 30 anos) (KUMAR et al, 2007), sendo um dado peculiar considerando o perfil epidemiológico padrão para doenças de transmissão fecal-oral em áreas endêmicas. Após um período de incubação de 2 a 8 semanas, o sintomas são observados em torno de 20% dos casos e podem incluir uma fase prodrômica com anorexia, hepatomegalia, febre, fraqueza e vômito seguida de sintomas clássicos como icterícia, acolia fecal e colúria. Além dos sintomas, o aumento dos níveis de enzimas hepáticas como bilirrubina, alanina aminotransferase e aspartase aminotransferase é característico da fase aguda da doença (ZHU et al, 2010; REIN et al, 2012). Durante as epidemias quando circulam os genótipos 1 e 2, foi observada uma taxa de 25% de mortalidade entre mulheres no terceiro trimestre de gestação, associada desenvolvimento de quadros fulminantes da hepatite (TANIGUCHI et al, 2009). Em regiões de baixa endemicidade, a maior ocorrência de casos se dá entre faixas etárias mais avançadas e indivíduos do sexo masculino. É possível que este padrão epidemiológico esteja associado à hábitos de consumo (ex: embutidos; carne mal-cozida) (PAVIO & MANSUY, 2010). Embora a hepatite E seja uma doença aguda, alguns casos de persistência do vírus (casos crônicos) vêm sendo descritos nos últimos anos como associados à pacientes submetidos ao tratamento de imunosupressão para transplante e também indivíduos imunocomprometidos pela infecção do HIV ou por apresentar distúrbios como linfoma ou leucemia (LE COUTRE et al, 2009; SCHLOSSER et al, 2012; KOENECKE et al, 2012). À exceção desses casos, apenas um caso foi descrito rela- 125 tando um indivíduo imunocompetente com hepatite E arrastada por um ano. Outras complicações como pancreatite e desordens neurológicas também já foram observadas para casos agudos e crônicos (DALTON et al, 2008). 126 TRANSMISSÃO O principal modo de transmissão durante os surtos de hepatite E é a via entérica, em particular pela ingestão de água contaminada. Os indivíduos que eliminam vírus entericamente durante a fase aguda da doença, sintomáticos ou não, são provavelmente aqueles que mais contribuem para a manutenção do vírus no ambiente, com a quantidade de vírus excretada chegando a 108 cópias de genoma por miligrama de fezes. Indivíduos que eliminam HEV nas fezes por um período prolongado também podem contribuir para esta manutenção (TEO, 2007). A transmissão pessoa-a-pessoa e vertical não é comum, mas os riscos de infecção pelo HEV e a mortalidade de crianças nascidas de mães infectadas pelo HEV é alta (AGGAEWAL & NAIK, 1992; TESHALE et al, 2010) Tendo em vista o curto período da fase virêmica da infecção, admite-se que a probabilidade de transmissão parenteral seja baixa. A ocorrência de transmissão do HEV por transfusão de sangue em áreas endêmicas foi demonstrada em receptores infectados a partir de doadores com infecção subclínica e viremia (KHUROO et al, 2004; GOTANDA et al, 2007; TAKEDA et al, 2010). A transmissão do HEV tem sido relatada como associada a veiculação hídrica em grandes e pequenas epidemias. A co-infecção com o vírus da hepatite A (HAV) também tem sido relatada (PURCELL, 1994). As epidemias estão associadas aos genótipos 1 e 2 do HEV. No entanto, o HEV já foi identificado em amostras de esgoto e de água do mar países industrializados, sendo o genótipo 3, o principal, podendo ter uma papel significante na transmissão entre humanos (CLEMENTE-CASARES et al, 2003; ISHIDA et al, 2012; MASCLAUX et al, 2013). A viabilidade do HEV no ambiente e em esgoto ainda é desconhecida (YUGO & Meng, 2013). Atualmente, a hepatite E é considerada uma doença zoonótica e transmitida a partir de reservatórios animais, principalmente suínos. Nesses casos, a transmissão está associada aos genótipos 3 e 4 do HEV (TEI et al, 2003; TEO, 2010). O HEV permanece infeccioso mesmo quando submetido a temperaturas até 60°C, o que sugere a transmissão pelo consumo de alimentos crus ou mal cozidos (YUGO & Meng, 2013). Uma série de 29 casos esporádicos de hepatite E aguda, descritos no Japão, identificou nove pacientes com história recente de consumo de porções de fígado de suíno grelhado (YAZAKI et al, 2003). A pesquisa pelo HEV-RNA em fígados de suínos comercializados em mercearias próximas às residências dos respectivos pacientes revelou algumas amostras eram positivas para presença do genoma do HEV. Um estudo realizado posteriormente demonstrou que pacientes diagnosticados com hepatite E possuíam histórico recente de consumo de porções de fígado cru ou mal cozido de suíno, e metade 127 128 destes pacientes também haviam consumido porções de intestino de suíno (MIZUO et al, 2005). Nos EUA, amostras de fígado de suíno para consumo foram positivos para presença do genoma do vírus. Um estudo experimental demonstrou ainda que as partículas permaneciam infecciosas sob aquelas condições de armazenamento (FEAGINS et al, 2007). No Japão, casos esporádicos de hepatite E, e casos provenientes de surtos foram descritos como associados à ingestão de carnes de javalis e de cervos cruas ou mal cozidas. (TAMADA et al, 2004). A transmissão zoonótica a partir de contato direto com animais também já foi descrita. Fazendeiros, veterinários, e funcionários que manipulem diretamente os animais representam grupos de risco (MENG et al, 2002; RENOU C, CADRANEL et al, 2007). Um surto de icterícia em Cruzeiro foi descrito, durante o qual 33 passageiros estavam infectados pelo HEV. Neste estudo de caso-controle verificou-se que o consumo de bivalves era o fator de risco significativo (SAID et al, 2009). Moluscos bivalves vêm sendo associados à transmissão de vírus entéricos como os adenovírus, rotavírus, norovírus e vírus da hepatite A (RIGOTTO et al, 2005; SINCERO et al, 2006). Em países com boa disponibilidade de saneamento básico, o papel do ambiente como fator contribuinte para transmissão e manutenção da endemicidade do HEV ainda é pouco esclarecido, ao contrário das regiões endêmicas, onde esta forma de transmissão já é bem caracterizada e reconhecida (IPPAGUNTA et al, 2007). Estudos desenvolvidos na Espanha e na Holanda demonstraram a correlação entre amostras de origem humana, suína e ambiental para a mesma região geográfica (CLEMENTE-CASARES et al, 2009; RUTJES et al, 2009). Na Espanha, um estudo prospectivo demonstrou o impacto das melhorias sanitárias na circulação de HAV em regiões onde programas de vacinação foram estabelecidos desde o ano de 1999. No entanto, estas medidas não influenciaram a circulação do HEV, cuja proporção de detecção permaneceu constante nos últimos anos, o que pode sugerir a sua manutenção em reservatórios animais (RODRIGUEZ-MANZANO et al, 2010). O risco de transmissão zoonótica do HEV é hoje extensivamente estudado, com a des- crição de novas espécies reservatórias, revelando um potencial problema para saúde pública. EPIDEMIOLOGIA DA HEPATITE E NO MUNDO A hepatite E sempre foi considerada endêmica ou hiperendêmica em países da Ásia como Índia e China. A ocorrência da doença está associada à transmissão fecal-oral somente e humanos e em sua maioria associada ao genótipo 1 do HEV. No México, em 1986, a partir de um grande surto envolvendo 26 mil indivíduos, o genótipo 2 foi caracterizado classificando o país como endêmico. No entanto, o genótipo 2 foi somente observado em casos autóctones em alguns países da África ocidental após algumas décadas (Lu et al, 2006; TEO, 2010). 129 130 Em regiões consideradas não endêmicas, a hepatite E não era investigada visto que casos relacionados não eram diagnosticados. Estudos de soroprevalência realizados demonstraram que nessas regiões a prevalência de anticorpos contra o VHE era maior do que se previa para esse cenário epidemiológico. Assim, algumas hipóteses surgiram, dentre elas, a possibilidade de um vírus relacionado estar circulando, desvios relacionados à sensibilidade dos testes desenvolvidos para áreas endêmicas, ou mesmo a possibilidade de manutenção do vírus em reservatórios animais. Esta última foi demonstrada pela primeira vez em 1997 com a caracterização do VHE suíno (MENG et al, 1997). Portanto, em regiões consideradas não endêmicas, relatos de casos esporádicos de he- patite E envolvem viajantes para regiões endêmicas, associados ao genótipo 1, e casos autóctones, associados à transmissão zoonótica dos genótipos 3 e 4. A maioria dos casos associados à transmissão zoonótica do VHE são por consumo de carne crua ou mal cozida de suínos, javalis e cervos (COLSON et al, 2010; BERTO et al, 2013). As soroprevalências em áreas endêmicas pode variar de 25 à 40%, durante epidemias e nas regiões não endêmicas pode variar de 1 à 4%, podendo chegar até 29%, dependendo do estudo realizado (MUSHAHWAR, 2008; TEO 2009). A identificação de novos reservatórios animais do HEV está contribuindo para dinamização da epidemiologia do vírus que tende a ser atualizada ao longo dos próximos anos (MENG, 2000, IZOPET et al, 2012). 131 132 EPIDEMIOLOGIA DA HEPATITE E NAS AMÉRICAS E NO BRASIL A primeira evidência de infecção pelo HEV na América do Sul foi registrada na Venezuela em 1994 (PUJOL et al, 1994). As diferentes prevalências observadas nos estudos de soroprevalência realizados refletem a diversidade de metodologias utilizadas incluindo diferenças para os critérios de amostragem (BENDALL et al, 2010). A maioria das prevalências observadas para populações urbanas ou rurais variaram de 1% a 10%. Os sintomas da infecção aguda pelo HEV não podem ser distinguidos de outras formas de hepatites virais. A infecção pelo genótipo 1 do HEV pode ser grave durante a gravidez, mas casos de hepatite fulminante em mulheres grávidas nunca foram relatados entre mulheres grávidas na América Latina. A infecção pode ser subclínica quando o indivíduo é exposto a pequenos inóculos do vírus, permanecendo assim não identificado. No entanto, esse tipo de infecção pode induzir imunidade parcial, com viremia e eliminação do vírus nas fezes (PURDY & KHUDYAKOV, 2011). Surtos da infecção pelo HEV foram relatados no México em 1986, no entanto, a prevalência observada para este país não é significantemente superior a outros países da América Latina (VELAZQUEZ et al, 1990). Estudos de caracterização molecular identificaram o único protótipo do genótipo 2ª, porém estudos subseqüentes demonstraram a circulação do genótipo 3 em 2009. Surtos e casos esporádicos foram descritos em Cuba. Em alguns casos, a infecção estava associada a infecção pelo HAV e em outros casos foi identificado o genótipo 1 (MONTALVO et al, 2005). Portanto, os genótipos 1, 2 e 3 podem circular em populações do México e da região do Caribe. Recentemente, um estudo realizado na Venezula, confirmou a co-circulação dos genótipos 1 e 3 em pacientes positivos para anti-HEV IgM, em pacientes menores de 20 anos, também infectados pelo HAV (MONTALVO et al, 2008). Outros países da América do sul, incluindo Argentina, Brasil, Chile, Peru e Uruguay, diagnosticaram pacientes com hepatite E aguda através da detecção de anti-HEV IgM e/ou detecção de HEV RNA. Apenas na Argentina, o genótipo 1 foi identificado em casos importados. Nos outros países, casos autóctones foram associados ao genótipo 3 (LOPES DOS SANTOS et al, 2010a; MUNNE et al, 2011; MIRAZO et al, 2011) No Brasil, alguns estudos de soroprevalência demonstraram a evidência de anticorpos anti-HEV em diferentes grupos populacionais como em mineiros na Bacia Amazônica (6,1%) (PANG et al, 1995). Em São Paulo, pacientes submetidos à hemodiálise apresentaram prevalência de 4,9% de anti-HEV (FOCACCIA et al, 1995). Prevalências de 2% entre doadores de sangue e de 29% dos casos de hepatite viral aguda foram observadas em Salvador, Bahia (PARANA et al, 1999). No Laboratório de Referência Nacional para Hepatites Virais / Fiocruz / RJ (CRNHV), entre janeiro de 1994 e dezembro de 1996, foram diagnosticados 147 casos 133 134 de hepatite viral aguda não A-C, com prevalência de anti-HEV de 2,1% (TRINTA et al, 2001). No Rio de Janeiro, foi observada prevalência de 2,4% para anti-HEV na comunidade de Manguinhos (SANTOS et al, 2002). Estudos realizados com usuários de drogas não-injetáveis e injetáveis, também deste estado, revelaram prevalências de 6,5% e 11,8%, respectivamente (TRINTA et al, 2001). Em Londrina, o marcador anti-HEV IgM foi detectado concomitantemente em quatro pacientes com hepatite A e em um paciente com hepatite aguda não A-C sugerindo a hepatite E como etiologia provável de alguns casos de coinfecção ou de casos não esclarecidos (LYRA et al, 2005). Um estudo realizado em São Paulo demonstrou pela primeira vez a circulação do HEV em suínos no Brasil (PAIVA et al, 2007). Em seguida, outros estudos realizados em animais do Rio de Janeiro, Mato Grosso, Pará e Londrina, demonstraram a circulação do genótipo 3 nessas populações (SANTOS et al, 2009; DE SOUZA et al, 2012). As amostras foram classificadas entre protótipos de outras regiões não-endêmicas onde amostras de casos humanos foram descritas como relacionadas a amostras circulantes em suínos para uma mesma região geográfica. No Rio de Janeiro, o mesmo grupo realizou uma investigação com 64 amostras de soro de casos agudos de hepatite não A-C atendidos no núcleo de hepatites virais do Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz. Dentre as amostras, foi identificado um paciente que apresentou soro- conversão (anti-HEV IgM) e viremia, sendo a amostra deste paciente também classificada no genótipo 3 (LOPES DOS SANTOS et al, 2010a). Na análise filogenética, esta amostra demonstrou estar relacionada a amostras de suínos. Esta foi a primeira vez em que se comprovou um caso agudo de hepatite E no Brasil e sua associação com amostras de suínos pode sugerir a transmissão zoonótica deste vírus no país. Recentemente, foi descrito um caso de hepatite E crônica em uma criança transplantada que apresentava aumento recorrente dos níveis de enzimas hepáticas e rejeição celular aguda (PASSOS-CASTILHO et al, 2014). Apesar do dados crescentes, a epidemiologia da hepatite E no Brasil ainda possui lacunas a serem preenchidas com outros estudos de soroepidemiológicos e moleculares. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de HEV é baseado na detecção de anticorpos específicos (IgM e IgG), mas a sensibilidade e especificidade dos diferentes testes comerciais disponíveis não são otimizadas. Técnicas de amplificação do genoma (HEV RNA) também podem ser utilizadas como diagnóstico. Esta abordagem pode identificar casos agudos, além de confirmar resultados sorológicos. Diversos ensaios com essa abordagem foram descritos para detecção do HEV RNA em amostras de soro, plasma ou amostras fecais: reação em cadeia da polimerase precedida por transcrição reversa (RT-PCR), nested-PCR; PCR em tempo 135 136 real, e amplificação isotérmica. Os diferentes protocolos incluem ensaios genéricos estabelecidos para a detecção dos genótipos 1-4. Embora, atualmente, haja mais dados sobre a epidemiologia e patogênese do HEV, alguns fluxogramas de diagnóstico foram propostos e o critério de padronização ainda é crítico. Ainda não é existente um consenso sobre as melhores metodologias para pesquisas sorológicas e diagnósticas de infecção aguda. A partir de dados obtidos de casos agudos esporádicos e de surtos, é sabido que o anti-HEV IgM é detectável 4 dias após o aparecimento dos sintomas e permanece por até 5 meses. No entanto, reações positivas robustas são raras após 3 meses. Em média, 90% dos pacientes possui anti-HEV IgM detectável por 2 semanas após o início dos sintomas e o anti-HEV IgG é detectável logo após o aparecimentos do anti-HEV IgM. O anti-HEV IgG pode permanecer por até 14 anos após a infecção. Os testes comerciais apresentam uma variabilidade significativa em termos de sensibilidade e especificidade, o que pode justificar a discrepância entre os estudos de soroprevalência. A freqüência de resultados falso positivos de testes para detecção de IgM pode alcançar 2,5% e isso se deve ao fato de que as metodologias de diagnóstico serem baseadas em antígenos genótipo específicos. Apesar da variabilidade genética que leva a modificações importantes em sítios antigênicos, os 4 genótipos compartilham domínios de reação cruzada na proteína constituinte do capsídeo (ORF2). Em geral, os testes incluem antígenos ou peptídeos imunodominantes das regiões da ORF2 e ORF3 para detecção de imunoglubulinas de diferentes classes. Recentemente, os testes desenvolvidos são baseados na expressão da proteína da ORF2 em sistemas recombinantes como de baculovirus ou Escherichia coli. Embora essa abordagem tenha aprimorado a sensibilidade, a especificidade ainda precisa ser avaliada especialmente considerando aqueles testes utilizados em regiões de baixa endemicidade, onde a freqüência de resultados IgM falso positivos é maior. Além das inconsistências observadas para sensibilidade e especificidade dos diferentes testes, a reatividade cruzada dos testes para detecção do IgM foi observada para outros vírus hepatotrópicos como Epstein-Barr (EBV) e Citomegalovírus (CMV). O diagnóstico de infecção aguda pelo HEV utilizando testes comerciais em casos de pacientes imunocomprometidos pela infecção pelo HIV, quadros de linfoma ou leucemia, e também doadores de órgãos, deve ser avaliado de forma criteriosa considerando que nesses pacientes a soroconversão pode ser tardia ou mesmo ausente. Alguns estudos demonstraram que testes para detecção de IgM apresentaram maior sensibilidade e especificidade comparados a testes voltados para detecção IgG nesses grupos. Entretanto, a detecção molecular de HEV RNA ainda é essencial para o diagnóstico de um quadro agudo. De um modo geral, a utilização de técnicas para detecção de HEV RNA como marcador de 137 138 infecção aguda ainda é um tema de discussão considerando a variabilidade no desempenho dos diferentes testes sorológicos. No entanto, a sensibilidade para detecção do RNA viral depende de fatores como o momento da coleta (estágio da infecção), transporte e armazenamento da amostra. A infecção pelo HEV não pode então ser excluída caso o genoma não seja detectado. A detecção do HEV RNA em amostras biológicas é o padrão-ouro para confirmação de casos agudos de hepatite E, uma vez que, as técnicas de detecção de ácido nucléico podem de forma acurada identificar uma infecção corrente. No entanto, o custo dessas técnicas restringe sua aplicação em uma rotina laboratorial de diagnóstico. Técnicas com diferentes abordagens para detec- ção dos 4 genótipos conhecidos já foram descritas, mas também apresentam grande variabilidade, em especial, as técnicas não comerciais (“in-house”). Esse fato se dá especialmente porque os protocolos não são padronizados considerando as diferentes regiões do genoma utilizadas para o rastreamento. R e c e n temente, a organização mundial de saúde desenvolveu um estudo para seleção de padrões internacionais a serem utilizados em ensaios moleculares para detecção do HEV RNA. Após a seleção de alguns candidatos, estes foram utilizados para validação de kits comerciais desenvolvidos para detecção de HEV RNA. Os padrões foram selecionados por representarem a maioria dos subtipos do genótipo 3 circulantes em países industrializados. No entanto, também nesse caso, a variabilidade observada para a sensibilidade entre esses ensaios, realça a necessidade da padronização de metodologias genótipo específicas e o desenvolvimento de protocolos capazes de detectar todos os genótipos existentes do HEV. PREVENÇÃO E CONTROLE A hepatite E é uma doença aguda auto-limitada em pacientes imunocompetentes. Em pacientes imunocomprometidos ou com outras hepatopatias associadas, a infecção pelo HEV pode levar ao desenvolvimento do quadro de hepatite fulminante ou falência hepática. Nesses casos, o tratamento com ribavirina por um curto período demonstrou colaborar para recuperação completa do paciente e evitar a necessidade de transplante (PÉRON et al, 2011). Atualmente, o transplante de fígado é a única opção de tratamento validado para pacientes com falência hepática fulminante. Medidas profiláticas para se evitar a infecção pelo HEV, especialmente em grupos de risco como mulheres grávidas, indivíduos imunocomprometidos, e indivíduos transplantados, estão sendo desenvolvidas. Até o momento, dois tipos de vacinas recombinantes estão em desenvolvimento e em testes. A primeira desenvolvida pela GlaxoSmithKline (Brentford, UK) e o Instituto de Pesquisas do Exército Walter Reed (Washington, DC, USA) foi testada no Nepal demonstrando bons níveis de eficácia e segurança após a administração de 3 doses. No entanto, essa vacina teve 139 140 sua produção suspensa (SHRESTHA et al, 2007). A segunda vacina, conhecida como HEV 239, foi licenciada na China em 2011 e está aprovada para administração em grupos de alto risco e será disponibilizada para países endêmicos (ZHU et al, 2010). As duas vacinas são baseadas no genótipo 1, e desta forma seriam eficazes para prevenir a infecção em mulheres grávidas e viajantes para áreas endêmicas. A prevenção para outros genótipos circulantes em regiões não endêmicas ainda é questionável. O desenvolvimento de vacinas voltadas para outros genótipos, em especial o genótipo 3, deve ser considerada pois pode prevenir a infecção crônica pelo HEV. 141 142 CAPÍTULO 6 DIAGNÓSTICO DAS HEPATITES VIRAIS ASPECTOS GERAIS DO DIAGNÓSTICO DAS HEPATITES VIRAIS O diagnóstico das hepatites de uma forma geral é inicialmente sorológico por métodos imunoenzimáticos onde ocorre a detecção de antígenos virais ou de anticorpos produzidos contra estes antígenos; isso quando se trata do diagnóstico voltado para dizer ao paciente se ocorre infecção ou não por um dos agentes virais hepáticos (Hepatites A, B, C e Delta). Uma excessão ocorre para o vírus da hepatite C (HCV); no qual para confirmação do resultado sorológico inicial é necessário realizar-se também a detecção do ácido nucléico viral. As partículas virais relativas às hepatites causadas pelos vírus B, C e Delta não podem ser cultivadas em culturas de células convencionais para isolamento como outros agentes virais, como por exemplo os adenovírus respiratórios em células Hep2 (Human epithelial type 2), e por isso este tipo diagnóstico para fins de pesquisa não é aplicado para estes vírus. Ao contrário, o vírus da hepatite A (HAV) pode ser cultivado em linhagem celular continua FRhK4 (fetal rhesus monkey kidney), produzindo inclusive efeito citopático-CPE (citopatic effect). Os métodos moleculares tais como a reação de PCR (polymerase chain reaction) qualitativo ou quantitativo (PCR em tempo real), é aplicado para todas as hepatites virais e têm um papel importante, principalmente para a epidemiologia molecular desses vírus que está bastante relacionada a diversos aspec- 143 144 tos e também de grande importância para o perfil da infecção em um determinado portador do vírus. Também é importante para definição de conduta medicamentosa ou terapêutica/antiviral. Há hepatites virais que não apresentam métodos sorológicos de fácil aquisição, principalmente em postos de saúde públicos, tais como a hepatite E, que é detectada no sangue do paciente, exclusivamente através da pesquisa do ácido ribonucléico viral (RNA viral), como o método de detecção inicial. A microscopia eletrônica pode ser aplicada com bastante dificuldade em preparações purificadas dos virus hepáticos citados, e por isso praticamente só em teoria é detectado por esta ferramenta, principalmente com relação ao HCV. Quando a parti- cula do vírus da hepatite B (HBV) foi identificada por Dane, em 1970, a microscopia foi aplicada para nesta identificação, a partir de preparações purificadas do plasma humano. No entanto, com a introdução da vacina contra o HBV, recombinante e amplamente utilizada, soros contendo as partículas do HBV completas ou incompletas, tornaram-se raros, reflexo de um bom controle da infecção e cobertura vacinal. Finalmente, é importante ressaltar no diagnóstico das hepatites virais, a importância dos marcadores bioquímicos, os quais indicam o estado das funções hepatáticas e contribuem para o bom entendimento dos resultados virus-específicos laboratoriais. Como marcadores bioquímicos temos principalmente as transaminases (AST e ALT), bilirrubinas e enzimas canaliculares (fostatase alcalina, gama glutamil transpeptidases. ESPÉCIME VIRAL A detecção de qualquer agente viral causador de uma virose está na dependência da qualidade, quantidade e do momento em que é realizada a coleta da amostra a ser testada. A preservação da amostra é fundamental devido a necessidade de manter-se a estabilidade das partículas virais compostas dos antígenos e do material genético viral. Anticorpos específicos produzidos em específicos momentos da infecção viral, como proteínas que são, desnaturam na presença de altas temperaturas, impedindo a devida detecção. Por isso toda amostra viral a ser conduzida ao laboratório deverá ser pre- servada, de altas temperaturas. Para as principais hepatites virais (A, B, C e Delta) o principal espécime viral é o soro ou plasma. No entanto o sangue total pode ser enviado ao laboratório que realizará a detecção e lá será realizado os procedimentos específicos de preparo da amostra. Neste caso, para sangue total não é necessário manter a amostras no gelo, desde que seja enviada ao laboratório em um prazo de um dia. Em testes sorológicos de detecção de antígenos/anticorpos o volume da amostra é muito importante, pois muita vezes é necessária a re-testagem, e porque geralmente são utilizados volumes em torno de 100 a 200L para cada teste sorológico a ser realizado. Para a detecção dos genomas virais por métodos molecula- 145 146 res, um mesmo volume utilizado para um único teste sorológico pode ser utilizado para em torno de 10 amplificações moleculares (por exemplo por PCR). Os tubos de coleta para sangue total necessitam de anticoagulante. Os mais utilizados são aqueles contendo EDTA (ethylenediaminetetraacetic acid), identificados com tubos com tampa roxa. Os tubos de tampa verde contendo heparina ou aqueles contendo solução de citrato de dextrose (acid citrate dextrose), de tampa amarela também podem ser utilizados. É importante ressaltar que alguns anticoagulantes não são recomendados para a coleta com o objetivo de detecção molecular por PCR, como é o caso da heparina, a qual inibe a enzima Taq DNA polimerase de realizar a polimerização da cadeia de ácido desoxiribonucléico (DNA). Para espécimes de soro, os tubos não devem conter nenhum anticoagulante e, neste caso, são tubos de tampa vermelha ou dourada. MÉTODOS SOROLÓGICOS Vamos considerar como método sorológico principalmente os ensaios imunoenzimáticos ELISA (enzyme linked immunosorbent assay). No entanto, também podem ser utilizados os testes rápidos que têm como base a imunocromatografia (também conhecida pelo termo em ingles lateral flow) e testes como o RIBA (recombinant immunoblot assay). A hepatite causada pelo HAV apresenta aspectos clínicos que irão comungar com algumas infecções hepáticas, inclusive as que ocorrem com menor frequência como a causada pelo citomegalovirus (CMV), por isso, o sangue total na primeira semana do aparecimento dos sintomas clínicos, deverá ser coletado e submetido ao ensaio imunoenzimático para detecção de IgM (imunoglobulina M) para confirmar uma infecção recente. Caso o teste seja negativo, a presença de imunoglobulinas totais deverá ser investigada. A positividade para imunoglobulinas totais anti-HAV permanecerá pelos próximos 7 a 10 dias. A sorologia da infecção pelo HBV é de extrema importância para definir o curso da infecção (aguda ou crônica). Vários marcadores são considerados para a interpretação. O primeiro marcador, bastante importante é a detecção do principal antí- geno do HBV, o antígeno de superfície do virus da hepatite B (hepatitis B surface antigen-HBsAg). A presença deste antígeno significa que houve infecção e sua permanência deverá ser verificada nos próximos seis meses porque o prognóstico para a forma crônica da infecção está condicionada a presença deste marcador por mais de seis meses no sangue do paciente. O marcador anti-HBs pode ser fruto de uma resposta vacinal e por isso é necessário verificar-se a presença de um terceiro marcador, o anticorpo contra a proteína do core do HBV, chamado de anti-HBc (hepatitis B core antibody). Neste caso, os testes do tipo ELISA, detectam anticorpos totais. O anti-HBc é produzido quando o paciente têm contato com as partículas virais comple- 147 148 tas de 42nm, uma vez que são produzidos contra a proteína do cerne viral HBcAg (hepatitis C core antigen). Outros dois marcadores têm também grande importância: HBeAg (hepatitis B “e“ antigen) e o correspondente anticorpo anti-HBe. O HBeAg é produzido somente quando está havendo replicação ativa do vírus, uma vez que a produção desse antígeno é a partir da mesma região codificante para a síntese da proteina do cerne viral (HBcAg), a qual utiliza um alternativo códon de iniciação. O anti-HBe tem portanto similar interpretação. Cada um dos marcadores citados aparecem em um determinado momento da infecção, no entanto este “modelo” não pode ser considerado um padrão, porque existem mutações nas regiões codificantes para a síntese das proteínas do HBsAg e do HBcAg/HBeAg que resultam em antígenos e anticorpos, ou ausências de produção de HBeAg e anti-HBe, que confundem a interpretação. Os vírus mutantes HBsAg são chamados de mutantes de escape e são problemáticos para o diagnóstico. A hepatite B é uma doença séria que acomete a população mundial e pode levar o indivíduo a morte. É uma doença sexualmente transmissível, mas também pode ser disseminada pelo sangue contaminado e por isso foi necessário o desenvolvimento de métodos rápidos que detectam o HBsAg em somente uma gota de sangue. Um exemplo é o teste rápido que tem como base a fixação do anti-HBs em um papel de filtro (cromatografia de papel) que pode reagir quando na presença do HBsAg contido na gota de sangue a ser testada. A detecção do HCV sorologicamente, é somente um método inicial de triagem, uma vez que a detecção molecular é confirmatória e os ensaios imunoenzimáticos não apresentam especificidade de 100%. Para triagem é utilizado o ELISA para detectar anticorpos no soro do pacientes com suspeita de infecção pelo HCV, e que são específicos para a proteina do cerne e proteinas não estruturais NS3, NS4 e NS5 do HCV. Adicionalmente a testagem para a presença de anticorpos no soro pode ser realizada utilizando o método RIBA, o qual, da mesma forma irá detectar, assim como o ELISA, anticorpos para antígenos virais. O método RIBA não é um método confirmatório e também é necessário que seja realizada a testagem pelo método molecular caso haja positividade de uma determinada amostra. Neste caso somente a detecção do RNA do HCV, para atestar que um determinado paciente está infectado. Em casos que ocorre um resultado negativo para uma determinada amostra no ELISA, porem a mesma amostra apresentou resultado positivo para o RIBA e negativo para a detecção de RNA do HCV; o significado dessa situação é que o paciente em questão foi infectado pelo HCV, mas de alguma forma conseguiu resolver a infecção pelo HCV. Finalmente falando da sorologia para hepatite Delta (Delta hepatitis-HDV), é importante lembrar que estes vírus utilizam a proteína do HBsAg do HBV como proteína de envelope e 149 150 sendo assim, toda amostra HBsAg positiva, originária de áreas endêmicas para a infecção pela hepatite Delta deveria também ser testadas para os marcadores sorológicos Anti-HD IgM e HDAg. O marcador Anti-HD IgM pode apresentar títulos baixos e tardiamente durante a infecção, por isso, o método sorológico deve ser complementado com o método molecular (detecção de RNA do HDV) e com o método ELISA para detecção do HDAg. MÉTODOS MOLECULARES O PCR atualmente é o método molecular mais amplamente utilizado para detecção de genomas das hepatites virais que estamos tratando. Atualmente é um método relativamente acessível e bem mais barato do que 10 anos atrás. O sequenciamento nucleotídico, que corresponde a sequenciar regiões específicos ou todo o genoma viral, fornece importantes informações: 1.Presença de mutações que conferem resistência a uma séria de antivirais utilizados, principalmente para controlar a infecção pelo HBV e/ou controlar/ eliminar a infecção pelo HCV; 2. Fundamental para determinar genótipos circulantes; 3.Definir susceptibilidade a determinados medicamentos moduladores (HCV); entre outras aplicações. Por isso é uma técnica tão importante. No entanto esta técnica nem sempre está disponível para toda a rede laboratorial pública e muitas vezes, nem tão pouco para as privadas. A técnica de sequenciamento nucleotídico é complexa no que diz respeito a análise pós reação. A tabela a seguir apresenta os métodos moleculares mais utilizados para as principais viroses hepáticas que estão sendo discutidas neste capítulo. 151 152 REFERÊNCIAS AACH, R.D.; STEVENS, C.E.; HOLLINGER, B.; et al. (1991). Hepatitis C virus infection in post-transfusion hepatitis. N Engl J Med, 325(19):1325-29. ABOU-JAOUDÉ G, MOLINA S, MAUREL P, SUREAU C. (2007). Myristoylation signal transfer from the large to the middle or the small HBV envelope protein leads to a loss of HDV particles infectivity. Virology 365:204–09. AGGAEWAL R & NAIK SR. (1992). Hepatitis E: does person-to-person spread occur? Indian J Gastroenterol 11(3):109–112 AGGARWAL R. tion of hepatitis (2011). E. Virus Clinical presentaRes 161(1): 15–22. AGRAWAL S, GUPTA D, PANDA SK. (2001). The 3′ end of hepatitis E virus (HEV) genome binds specifically to the viral RNA-dependent RNA polymerase (RdRp). Virology 282(1):87–101. AHMAD I, HOLLA RP, JAMEEL S. (2011). Molecular virology of hepatitis E virus. 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