58 E Agora, Doutor? Pretende, simultaneamente, ser um desafio ao conhecimento do médico e ajudá-lo a manter-se atualizado. Por meio de casos clínicos, serão criadas situações que demandam a tomada de decisões, envolvendo condutas diagnósticas e terapêuticas. Dessa forma, passo a passo, as orientações cabíveis serão apresentadas, servindo de guia ou de atualização de conhecimentos ao leitor. Alberto Goldenberg Editor Associado da einstein Caso Clínico David Salomão Lewi1, Moacyr Silva Junior 2 1 2 Professor Adjunto da Disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP (SP). Médico Infectologista. Pós-Graduando da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP (SP). MAS, 32 anos, branco, casado, natural e procedente de São Paulo, técnico de enfermagem. QD: Mal-estar geral há quatro dias. HMA: Paciente relata que há quatro dias apresenta mal-estar geral, associado a náuseas e inapetência, nega febre ou mialgia. Apresenta há um dia alteração da coloração da urina (escurecida). Interrogatório complementar: ndn Antecedentes pessoais e epidemiológicos: Nega comportamento de risco, uso de drogas, tabagismo e etilismo. Nega viagens recentes, nega contato com água de enchente. Reside em casa com saneamento básico e água encanada. Relata, há 20 dias, acidente com material biológico picada com agulha - após colher sangue de um paciente internado na Unidade de Terapia Intensiva; na ocasião, não procurou assistência médica. Exame físico: normal, exceto por icterícia leve. E agora, Doutor, diante do quadro clínico descrito, qual o provável diagnóstico e qual propedêutica laboratorial devem ser usados para a confirmação diagnóstica? No presente caso, observa-se uma síndrome ictérica aguda em um paciente jovem sem nenhuma co-morbidade. einstein. 2005; 3(1):58 Chamam atenção o antecedente epidemiológico de acidente ocupacional e a negligência quanto à procura de orientação no serviço de medicina ocupacional. Os exames laboratoriais demonstraram: hemograma normal, bilirrubina total de 4,2 com bilirrubina direta de 3,0 , TGO=460 e TGP=790, GGT e fosfatase alcalina normais. Neste caso, estamos diante de um paciente com hepatite aguda provavelmente viral, pelos níveis elevados de transaminases. As sorologias foram negativas para HIV, hepatite B, C e com IgG positiva para hepatite A. O paciente internado na UTI apresentava como diagnóstico hepatite C e aguardava transplante hepático. Como faríamos para confirmar o diagnóstico? Neste caso, para confirmação do diagnóstico deve ser solicitado PCR (HCV-RNA) qualitativo para hepatite C, cujo resultado foi positivo. E importante ressaltar que os testes sorológicos apresentam soroconversão entre a 4ª semana e a 10ª semana. E agora, Doutor, qual o tratamento de eleição para o paciente? Até recentemente não havia tratamento específico, preconizando-se apenas a observação clínica, com risco de desenvolvimento de forma crônica da hepatite C em cerca de 70-85% dos acidentes ocupacionais (figura 1). Jaeckel et al.(1) demonstraram que o uso precoce de interferon em pacientes com soroconversão recente poderia levar a negativação da mesma em 98% dos casos (44 pacientes-43 com PCR negativo pós-tratamento). O paciente recebeu tratamento com interferon alfa 2b – 5 milhões de unidades subcutâneas diariamente durante as primeiras quatro semanas e, posteriormente, Hepatite aguda Resolução (15-30%) Cirrose (20-30% em 10-20 anos) Hepatite cronica (70-85%) Doença leve/moderada Complicações da cirrose (Hemorragia digestiva, encefalopatia, hepatocarcinoma, etc) Transplante hepático Morte Figura 1. História natural da hepatite viral C 59 por mais 16 semanas três vezes por semana com a mesma dose. Foi realizada monitorização da carga viral no primeiro mês, terceiro, sexto e décimo segundo mês e as enzimas hepáticas e o hemograma após 15 dias do início do tratamento e mensalmente. E agora, Doutor, tem cura? Neste caso, houve o diagnóstico e tratamento precoce, havendo normalização das transaminases após o primeiro mês do tratamento e negativação da carga viral no terceiro mês sendo mantida indetectável, impedindo a evolução crônica e risco de cirrose e hepatocarcinoma(2-3). Referências 1. Jaeckel E, Corneberg M, Wedemeyer H, Santantonio T, Mayer J, Zankel M, et al. Treatment of acute hepatitis C with interferon alfa 2b. N Engl J Med. 2001;345(20):1452-6. 2 . Thomas DL, Lemon SM. Hepatitis C. In: Mandel GL, Bennett JE, Dolin R, editors. Principles and practice of infectious disease. 3th ed. New York: Churchill Livingstone; 1996. 3 . CDC - Center for Disease Control and Prevention. Recommendations for Prevention and Control of Hepatitis C Virus (HCV) Infection and HCV-Related Chronic Disease. MMWR Recomm Rep. 1998;47(RR-19):1-39. Refletindo Sobre o Novo Esta parte da einstein tem como objetivo atualizar o leitor de forma concisa. As áreas a serem abordadas neste setor são: clínica médica, cirurgia, materno-infantil, pediatria, ginecologia/obstetrícia, medicina de urgência/medicina intensiva, administração em saúde, medicina baseada em evidências, pesquisa científica, pedagogia em saúde, oncologia e transplantes. Eduardo Weltman Editor Associado da einstein Prognostic factors in high-grade osteosarcoma of the extremities or trunk: an analysis of 1,702 patients treated on neoadjuvant cooperative osteosarcoma study group protocols Fatores prognósticos em osteossarcoma de alto grau das extremidades e do tronco: análise de 1.702 pacientes tratados segundo protocolos de quimioterapia neo-adjuvante Bielack SS, Kempf-Bielack B, Delling G, Exner GU, Flege S, Helmke K, Kotz R, Salzer-Kuntschik M, Werner M, Winkelmann W, Zoubek A, Jurgens H, Winkler K. J Clin Oncol. 2002;20(3):776-90. Comentado por: Olavo Pires de Camargo. Professor Associado Livre-Docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - Departamento de Ortopedia e Traumatologia - São Paulo (SP). Nos últimos 20 anos houve um grande progresso no tratamento do osteossarcoma, com aumento da sobrevida global e do controle local com cirurgias de conservação do membro em mais de 60% dos pacientes. Este artigo, com 1.702 casos tratados pelo Grupo Cooperativo envolvendo Alemanha, Áustria e Suíça, define os fatores prognósticos desses pacientes submetidos à Quimioterapia pré e pós-operatória e cirurgia com ressecção ampla e reconstrução. É importante notar que os resultados obtidos não diferiram dos nossos casos do Grupo Cooperativo Brasileiro, apesar das dificuldades ainda presentes em nosso país em termos de diagnóstico precoce, já que em média o volume tumoral de nossos pacientes é maior. einstein. 2005; 3(1):59