EDITORIAL
S
e olharmos de nossas janelas para a rua não vamos notar nada diferente na cidade. O movimento das pessoas e dos carros, no cotidiano vai e vem da vida, parece o mesmo; no entanto, quando setembro
chegou, vimos a inverossímel ficção dos filmes de ação e catástrofe esparramar-se diante de nossos olhos, confirmando Freud no que se refere à antecipação da arte.
Assim como as pessoas enlutadas, melancólicos e deprimidos descrevem excepcionalmente bem, o quanto tudo parece igual, embora algo
tenha mudado para sempre, sem saber dizer o quê exatamente.
Após a impossibilidade de acreditar, após o estarrecimento, tentamos, com dificuldade, compreender este salto da ficção para a realidade.
Procuramos rapidinho nossas referências para adaptar o acontecido ao nosso repertório de explicações do mundo. Podemos até, como na fantasia do
texto “Bate-se numa criança”, pensar que se o pai bate no irmãozinho (ele
deve ter merecido), então me ama! Mas esta é só a primeira fase da fantasia.
A que recalcamos é a segunda, revelando que nossa identificação com o
batido é maior do que gostaríamos de admitir.
Em nosso desamparo de sujeitos modernos, que dispensamos deus,
cabia a ilusão da invulnerabilidade e plena potência de alguns, os escolhidos; teria sido essa ilusão que desabou com as torres gêmeas (Então as
mulheres estão certas quando apontam que não há um que escapou à castração?)?
Nos perguntamos qual a relação possível entre o sujeito da modernidade, que privilegia o indivíduo, sua autonomia e liberdade, e o que se constitui ao redor de uma fé comum que não suporta a diversidade. Os ideais,
tanto de um quanto de outro, quando levados ao seu limite, tendem a fazer
do diferente o seu inimigo.
Talvez estejamos vivendo uma época de defesa exacerbada da experiência do outro, da mínima tolerância ao modo de gozar do nosso semelhante, que nada mais é do que defesa contra o real do desejo (nosso, claro).
Isso faz proliferar um apartaid social que começa na porta da nossa casa e
se estende, sem limites conhecidos.
C. da APPOA, Porto Alegre, n. 95, out. 2001
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EDITORIAL
NOTÍCIAS
Ver e rever mil vezes o espetáculo das terríveis explosões faz parte do
esforço de superar o traumático da cena. Mas também, nos fascina estar
assistindo a História on line como testemunha ocular (por enquanto), mesmo que ainda não possamos pensar seus efeitos. Tal qual na fantasia da
cena primária, só mais tarde a decifraremos e nos perguntaremos: o que eu
estava fazendo lá?
O papel da Psicanálise e, portanto, da Instituição Psicanalítica requer
ser pensada constantemente. Neste sentido, a APPOA procura abrir espaços de debate, como o da seção temática deste número, dedicada à Psicossomática, tema polêmico e atual, pois trata da violência que pode advir quando a palavra é calada.
Nosso trabalho institucional busca – na oposição ao fundamentalismo
das posturas que tentam impor aos outros seu saber, como única verdade –
apostar na posição neurótica, sempre às voltas com a castração, esse abalo
narcísico que pode nos permitir desejar, amar, ter dúvidas, precisar do outro.
Para derrubar o apartaid dos ideais, só dispomos desse trabalho que é poder
falar e saber ouvir o outro.
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C. da APPOA, Porto Alegre, n. 95, out. 2001
DEBATE SOBRE FRATERNIDADE COM
MARIA RITA KEHL E JEAN-JACQUES RASSIAL
No dia 25 de agosto, estivemos reunidos, na sede da APPOA, com
Maria Rita Kehl e Jean-Jacques Rassial para um debate sobre Fraternidade.
Maria Rita iniciou sua exposição problematizando a reflexão sobre a
Fraternidade, uma vez que considera o tema “centrípeto”, pois este se organiza para além da questão paterna – o que não equivale dizer que seja um
substitutivo da função paterna, mas, sim, complementar.
O interesse em estudar a fraternidade, nos conta Maria Rita, surgiu
por três vias distintas. A primeira foi o estudo sobre a determinação literária
do sujeito moderno, no qual constatou que grande parte das produções referiam-se a um saber sem pai, constituindo uma rede de vozes de sujeitos
desamparados pela própria conformação da sociedade moderna, o que se
tornava evidente pelos inúmeros personagens marcados por um fracasso. A
segunda remete a aparição dos movimentos de hip-hop nos subúrbios das
grandes cidades brasileiras, compostos por adolescentes marginalizados
que tentam, através do rap, de um apelo aos irmãos, marcar um lugar distinto dos que lhes são apresentados como possíveis na sociedade. A terceira,
e última via, diz respeito à questão do poder nas sociedades democráticas,
mais especificamente, a falência de figuras imaginárias fortes que sustentem o lugar do pai.
A partir destes elementos, propõe repensar a questão da culpa no
mito de Totem e Tabu, considerando o caráter coletivo da decisão do assassinato do pai da horda primitiva. Segundo Maria Rita, a fratria não deve ser
pensada como lugar da massa, mas sim como lugar de quebra da identidade
narcísica, ponto onde cada sujeito, ao se encontrar com os seus, tem que
se confrontar com sua posição singular, com a forma que foi marcado pelo
desejo paterno. Também levanta a discussão sobre a importante função desempenhada pelo grupo, ao possibilitar que os adolescentes compartilhem
suas experiências transgressoras, uma vez que estas podem ser interpretadas como tentativas de ressimbolização do pai, isto é, de separar a lei do
arbítrio do pai.
C. da APPOA, Porto Alegre, n. 95, out. 2001
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NOTÍCIAS
NOTÍCIAS
Após a fala de Maria Rita Kehl, Jean-Jacques salienta que devemos
ser cautelosos para não assumirmos uma visão muito otimista e, até mesmo, uma idealização do laço fraterno. Rassial propôs uma outra possibilidade de abordagem para a questão da fraternidade, relacionando o laço fraterno ao laço conjugal.
Segundo Rassial, o laço fraterno moderno não é um laço contra o pai,
mas sem o pai. Se pensarmos em qual é o mais bárbaro dos crimes, aquele
que mais nos choca, veremos que há um deslocamento, através da história,
do regicídio para o parricídio e, finalmente, nos dias atuais, para os crimes
contra a humanidade. Tal fato denota a importância que a representação da
fraternidade encontra na atualidade.
Rassial ainda comenta sobre estudos realizados, na França, a respeito da forma de constituição dos casais, os quais apontam que, nos anos 60,
a maioria dos casais se encontravam em ocasiões festivas, ao passo que, a
partir dos anos 80, estes encontros passam a se dar em atividades relacionadas ao trabalho. O que devemos perguntar, segundo Rassial, é o quanto
nesta forma moderna de constituição do par conjugal há uma evitação do
fato de que a castração não é a mesma para os dois sexos, ou seja, se hoje
em dia os casais não estariam realizando um ideal perverso/homossexual.
Nesta direção, Rassial coloca que devemos considerar algumas características peculiares dos grupos modernos como a rapidez com que se
constituem e se desfazem; a demarcação clara dos ‘inimigos’ – pois se é
possível unir pelo laço amoroso, é necessário deixar um de fora para constituir o inimigo e este, na maioria das vezes, é um vizinho, um semelhante; e
a ocorrência de atos de violência sexual, e, como exemplo, cita o fenômeno
dos estupros coletivos na França. Tais características explicitam, conforme
Rassial, o quanto estes grupos podem deslizar para uma fraternidade sem o
pai, que visa sustentar os atos de um sujeito. Há, então, a possibilidade de
retorno à horda primitiva sem o pai, que não é, bem sabemos, democracia,
nem socialismo, e sim barbárie.
A discussão que seguiu às falas de nossos colegas centrou-se em
torno da questão da violência decorrente deste possível retorno à horda primitiva, onde existe a prevalência de um Pai Imaginário que pode estar em
todo o lugar e, portanto, ameaçador e gerador de atos tão cruéis. Esse Pai
Imaginário remete a uma produção da mãe, o que gerou uma reflexão sobre
a posição da mulher, que pode vir a ocupar o lugar do mestre. Posição esta
que também pode ser a do capitalismo como um discurso que é instaurador
da barbárie, no sentido de que preconiza a realização de tudo o que estiver
ao seu alcance. Justamente, a problemática residiria na imposição de um
máximo de gozar.
Pois bem, a pergunta que resta como lógica a todos nós é: de que
forma a psicanálise pode intervir diante deste quadro? Algumas possibilidades se delineiam: reinventar o erotismo através de uma plasticidade nas
posições dos sujeitos que compõem o laço conjugal, e, fundamentalmente,
exercitar um elogio da posição neurótica de que a condição de um certo
gozo é a castração.
Enfim, este sábado de trabalho veio comprovar o vigor que a discussão sobre a fraternidade apresenta. Sem dúvida, temos um percurso promissor em construção.
C. da APPOA, Porto Alegre, n. 95, out. 2001
C. da APPOA, Porto Alegre, n. 95, out. 2001
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Maria Lúcia Muller Stein
GRUPO TEMÁTICO
“DIAGNÓSTICO SUBJETIVO NOS PRIMÓRDIOS DA INFÂNCIA”
Encontra-se em andamento o grupo temático “Diagnóstico subjetivo
nos primórdios da infância”, coordenado por Ana Marta Meira e Silvia Eugenia
Molina. O estudo e reflexão sobre este tema tem como referência o trabalho
clínico com crianças, através da observação e análise de vídeos. Salientamos que este grupo também tem como objetivo refletir acerca da clínica
psicanalítica com adultos, na qual encontram-se em jogo traços que na infância se inscrevem.
Frequência: quinzenal – segundas feiras – das 20 às 21h30m in
Maiores informações na secretaria da APPOA
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NOTÍCIAS
NOTÍCIAS
GRUPO DE TRABALHO EM TOXICOMANIA
Constituiu-se, na APPOA, um grupo de trabalho dedicado à discussão de temas relacionados à toxicomania. Faz parte da proposta deste grupo instituir um fórum de debate e difusão de reflexões acerca das questões
clínicas, teóricas e sociais que envolvem a prática de consumo de drogas.
Não se trata de um trabalho de cartel, mas, sim, de um espaço onde
cartéis já existentes possam levar à discussão, perante um público mais
amplo, suas produções e indagações sobre este tema. Pretendemos também possibilitar outras formas de interlocução, como a apresentação de
trabalhos acadêmicos e relatos de experiências de práticas em instituições.
Nas discussões preliminares à formação deste grupo, outras propostas foram sugeridas, e deverão ser realizadas em seguida: encontros com
dirigentes de serviços de atendimento a toxicômanos, com o objetivo de
promover uma reflexão sobre a prática dessas instituições; encontros com
juristas e autoridades governamentais, para discutir aspectos legais e de
saúde pública relacionados com o consumo de drogas.
Trata-se de um grupo aberto à participação de todos os interessados,
e que definirá suas atividades a partir das iniciativas manifestadas por seus
integrantes. Convidamos aos colegas para nossa próxima reunião de trabalho:
Apresentação e discussão da tese de doutorado de Marta Conte, que
recebeu o título “A clínica psicanalítica com toxicômanos: o corte & costura
no enquadre institucional”
Data: 06 de outubro
Horário: 10h
Local: sede da APPOA
O resumo e um texto de apresentação da tese encontram-se a disposição dos interessados na secretaria da APPOA.
Participaram da formulação da proposta de constituição do Grupo de
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Trabalho em Toxicomania: Aline Santos e Silva, Caroline S. Brasil, Clarice
Sampaio Roberto, Eduardo Mendes Ribeiro, Janaína Bechler, Janete Nunes
Soares Constantinou, Janine Mallmann Carneiro, Marta Conte, Otávio Augusto
Winck Nunes, Sandra Djambolakdjian Torossian, Tatiane Reis Vianna, Walter
Firmo de Oliveira Cruz e Rose Mayer.
SEMINÁRIOS ESPETACULARES
A Casa de Cultura Mário Quintana e a APPOA, com o objetivo de
estimular uma reflexão crítica a respeito das transformações por que passa
a sociedade contemporânea, e de seus efeitos nos sujeitos que dela participam, organizaram um ciclo de encontros intitulado Seminários espetaculares, nos quais tem sido debatido o avanço de uma “cultura do espetáculo”
sobre diversos campos e/ou fenômenos sociais como religião, política, sofrimento, corpo, sexo, miséria, esporte, transgressão e notícia.
Em agosto, foi realizado o seminário A política como espetáculo, que
contou com a participação dos seguintes debatedores: Heloíza Mattos (doutora da Escola de Comunicação e Artes da USP), Jorge Almeida (doutor em
comunicação e cultura contemporânea da UFBA) e Alfredo Jerusalinsky (psicanalista, membro da APPOA).
Nesta ocasião, quem esteve presente teve a oportunidade de observar
um confronto de perspectivas sobre a prática política, marcadas pelas inserções em campos de atuação distintos. Jorge Almeida procurou demonstrar
o quanto a espetacularização é inerente ao exercício da política, afirmando
que estratégias voltadas à produção de imagens que seduzam o público
sempre foram utilizadas, em todas as culturas. Heloíza Mattos ressaltou a
importância de se pensar a prática política considerando as inter-relações
que se estabelecem entre os diversos atores sociais: políticos, “marqueteiros”,
mídia e público, em que o comportamento de cada um se define em função
das ações e expectativas dos demais. Alfredo Jerusalinsky, por sua vez,
enfatizou a dimensão ética da ação política, rejeitando sua redução a uma
lógica de mercado. Seguiu-se um debate com intensa participação do público, que lotou a sala do encontro.
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Os próximos seminários, que ocorrem na Casa de Cultura Mário Quintana, sala A2B2, sempre às 20h, serão os seguintes:
O Corpo como Espetáculo – 30 de outubro
Evandro Hazzy – “missólogo”
Maria Ângela Brasil – psicanalista, presidente da APPOA
Jaime Betts – psicanalista, membro da APPOA
Frank Tatoo – tatuador
O Sexo como Espetáculo – 27 de novembro
Lúcia Serrano Pereira – psicanalista, membro da APPOA
Fernando Seffner – historiador, pesquisador da sexualidade
Robin Manduré – relações públicas, empresário da noite e showman
FEIRA DO LIVRO
26 DE OUTUBRO A 11 DE NOVEMBRO DE 2001
LANÇAMENTOS
01/11 – quinta-feira – 20h
Abuso sexual – Lucia Mees, Artes e Ofícios, Coleção Letra Psicanalítica.
A invenção da vida – Abrão Slavutzky, Edson Sousa e Elida Tessler (org.),
Artes e Ofícios.
CENTENÁRIO DE DRUMOND
O Espaço Engenho e Arte e a Câmara do Livro estão organizando a exposição “tem um poeta no meio do caminho”, – com exemplares das primeiras
edições de cada obra do poeta, pertencentes à coleção Waldemar Torres –,
a realizar-se na 47ª Feira do Livro de Porto Alegre.
Diariamente, no local da exposição, ocorrerá a exibição, em vídeo, do documentário sobre Carlos Drummond de Andrade – vida e obra – dirigido e produzido por Luzimar Stricher.
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BIBLIOTECA DA APPOA
Informamos os novos horários de funcionamento da Bilioteca da APPOA:
de segunda à quinta-feira, das 18h30min às 21h30min.
FÓRUM MUNDIAL DE EDUCAÇÃO
Acontecerá, em Porto Alegre, de 24 a 27 de outubro de 2001, o Fórum
Mundial de Educação, promovido pela Prefeitura Municipal e suas Secretarias de Educação e da Cultura. É um evento preparatório ao II Fórum Social
Mundial. A APPOA está inscrita como instituição participante e contará com
o trabalho de vários de seus associados.
CONVERGÊNCIA NO BRASIL
A Comissão de Enlace Geral – CEG – da Convergência reuniu-se no
mês de agosto passado, em Recife, para avaliar o congresso que aconteceu
em Paris, em fevereiro último, e discutir os novos rumos do movimento. Dentre as decisões tomadas pelos representantes das trinta e sete instituições
presentes está o repúdio à tentativa de regulamentação da profissão de psicanalista e a confirmação da realização de um próximo congresso no Brasil,
mais precisamente no Rio de Janeiro.
A CEG da Convergência, Movimento Lacaniano por uma Psicanálise
Freudiana – esteve reunida nos dias 26 e 27 de agosto, em Recife (PE). A
reunião que congrega delegados de todas as instituições convocantes da
Convergência, que acontece uma vez por ano (alternando América e Europa), contou com a participação da grande maioria das quarenta e cinco associações que sustentam a proposta.
Dentre os diversos assuntos da pauta, podemos destacar a decisão
de realizar o próximo congresso no Rio de Janeiro, em 2004. Além disto, no
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cenário brasileiro, foi formalizada a entrada da Escola Lacaniana de Psicanálise do Rio de Janeiro que desde o ano passado, encontrava-se em trabalho de acolhimento junto a outras três instituições brasileiras convocantes
(APPOA, Práxis e IPB). Este trabalho de entrada da ELP-RJ levado a efeito
com outras associações tratou do estudo conjunto de um seminário de Lacan
(Angústia), assim como de uma série de discussões a respeito da leitura
que cada lugar fazia do texto e mesmo de todo o processo de integração e
seus percalços. Cada representante institucional não evitou uma discussão
importante sobre a diversidade das formas de trabalho e interpretação, assim como considerou-se um avanço importante nas relações a possibilidade
de troca destas diferentes maneiras de lidar como os efeitos do discurso do
analista.
Outra decisão saída da reunião da Comissão de Enlace Geral foi o
apoio ao movimento das instituições psicanalíticas brasileiras que lutam contra
o projeto evangélico de regulamentação. Um documento, escrito e assinado
pelas instituições convocantes da Convergência, manifesta seu repúdio a
esta tentativa de apropriar-se da psicanálise através do uso do parlamento e
de recursos jurídicos. Uma tentativa espúria de fazer a psicanálise submeter-se ao serviço dos interesses de determinados setores religiosos. Um
relato da situação em outros países mostrou que esta não é somente uma
preocupação dos brasileiros; pois mesmo em países vizinhos como Argentina e Uruguai as tentativas de fazer da psicanálise “propriedade privada” de
grupos com interesses religiosos ou políticos é uma realidade. Na Europa
(Espanha, França, Itália e Alemanha) apesar de não haver manobras de grupos religiosos como aqui, há uma tentativa de regulamentar ou fortalecer o
vínculo da prática psicanalítica como profissão junto ao Estado. Discussão
histórica que obriga lacanianos e psicanalistas de outras orientações a dialogar sobre os fundamentos da formação psicanalítica. Freud já dizia que
psicanálise não poderia ser um verbete no dicionário da medicina. Lacan
acrescentou que a religião e a ciência tinham seu futuro assegurado, restando saber se a psicanálise sobreviveria. Certamente não como verbete da
medicina, tampouco como acessório religioso.
RESPONSABILIDADE
A responsabilidade com o movimento psicanalítico foi uma das tônicas da discussão. A diretiva de apoiar a luta dos psicanalistas brasileiros em
preservar os fundamentos da prática e formação dos psicanalistas vem como
efeito do reconhecimento de que o futuro da psicanálise não está no reforço
do nacionalismo. O internacionalismo sempre foi um dos pressupostos da
psicanálise, coerente com a constatação de que o inconsciente não é uma
língua. Entretanto, há um consenso de que internacionalismo não é
globalização a qualquer preço; ou seja, não há mais espaço para que um
país seja a “sede” do discurso psicanalítico em detrimento de outros. Não
haverá futuro se os franceses, argentinos ou brasileiros ao fazerem a crítica
do imperialismo tiverem como ideal o lema “agora chegou a nossa vez”. Um
desafio e uma aposta estão colocados para fazer o exercício de sustentação
da multiplicidade de enlaces, simultaneamente ao reconhecimento das diferentes histórias de formação e efeitos que a transmissão de Freud e Lacan
provocou nos diversos países.
Neste sentido do exercício de uma responsabilidade, foi que os brasileiros propuseram o Rio de Janeiro como lugar para realização do próximo
Congresso. A iniciativa não será fácil; pois, no início dos trabalhos, havia
uma incerteza quanto ao futuro do próprio movimento e, na avaliação do
congresso de Paris (fevereiro/2001), surgiram as críticas ao dispositivo. Considerado muito complexo e de difícil operacionalização: havia, além de leitores, relatores de trabalhos. Os autores não apresentavam suas produções
pessoalmente. Mas, no andamento das discussões, pode-se acompanhar e
compartilhar os questionamentos a respeito da Convergência e, por conseqüência, do movimento psicanalítico em geral em diversos lugares do mundo. Foi-se construindo a constatação de que fazer a travessia dos fantasmas
e dificuldades que nos assolam é uma de nossas tarefas.
Como Convergência não se resume aos congressos, a criação de
uma função de informação e difusão que terá o encargo de fazer circular as
informações sobre a Convergência, além de incrementar as iniciativas que
se fazem de trabalho e enlace entre as instituições foi outro dos efeitos des-
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NOTÍCIAS
tas discussões acontecidas ao longo de dois dias de intenso trabalho. A
Comissão de Enlace de Buenos Aires terá esta responsabilidade durante
um ano, fazendo o rodízio da função com outra associação a partir da próxima reunião da Comissão de Enlace Geral, que deverá acontecer no continente europeu. Além disto, uma comissão composta por psicanalistas do
Brasil, Argentina e França está encarregada de redigir um documento evidenciando as diferenças entre psicanálise e psicoterapia, questão que vem
afetando os psicanalistas de todo mundo, mas principalmente os colegas
europeus.
No que tange as próximas atividades da Convergência no Brasil, já
está marcada para o próximo ano uma reunião de trabalho das associações
brasileiras. Salvador (BA), maio de 2002, será o local onde discutiremos “O
que quer uma análise?” E, no âmbito institucional, “Os impasses da transmissão”.
Robson de Freitas Pereira
EVGEN BAVCAR: O ESCRITOR DA LUZ
O mês de agosto foi luminoso para nossa cidade, pois tivemos a oportunidade de conhecer de perto Evgen Bavcar, o escritor de luz esloveno, que
nos mostra com seu trabalho e suas reflexões como somos herdeiros do
olhar ferido de Eros. Como ele mesmo diz, somos herdeiros da separação
entre Psyché e Eros. Bavcar gosta de pensar na aproximação da Psyché
com o dia e de Eros com a noite, nos mostrando que Eros, como deficiente
da luz, recusa a excessiva distância, pois precisa da aproximação para conhecer. Na noite, não sabemos de onde vem o olhar. Eros, vem portanto nos
visitar quando aceitamos a cegueira e a experiência das trevas. Bavcar, mostrou, no MARGS, uma inesquecível exposição que intitulou “ A noite, minha
cúmplice”. Quem viu a exposição pôde então descobrir o que Freud sempre
insistiu: de que são os sonhos que nos permitem acender pequenas luzes.
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Bavcar veio ao Brasil no espírito de um reencontro com suas próprias
origens eslovenas. Antes de pegar o avião, enviou-nos um texto sobre sua
visão do Brasil, intitulado “O Brasil no despertar do mundo” (Publicado no
Caderno de Cultura da Zero Hora de 18/8/2001). Seu texto começa assim:
“Lembro de ter ouvido pela primeira vez este nome mágico – Brasil – ligado
ao café que minha mãe esmagava num moinho ainda manual. Naquela época, o café era pouco. Para nós, era uma espécie de néctar dos pobres, uma
ambrosia consagrada a todos que porventura desejassem transformar o cotidiano em dia de festa, pousando sobe a mesa essa mercadoria tão rara”.
Suas imagens nos colocam diante do desejo de imagem que cada um pode
produzir a partir de suas origens.
Alguns colegas da APPOA tiveram a oportunidade de conhecer de
perto, como Eros, a Bavcar e podem, portanto, testemunhar da transmissão
que ele pode nos deixar em sua passagem por aqui.
Estivemos também em Pelotas, onde numa manhã sombria e chuvosa, se encantou com um cavalo. Depois de fotografá-lo, nos foi revelado que
o cavalo se chamava “Quero Ver”. Era, portanto, uma parte dele que o destino lhe fez encontrar. Contudo, trata-se de um encontro que diz respeito a
todos pois também precisamos desejar ver.
O colóquio “Imagens Possíveis” discutiu este desejo e possibilidades
de imagens. Recebemos também contribuições preciosas dos colegas Benjamin Mayer Foulkes, João Frayze-Pereira, Elida Tessler (todos com textos
no Correio da APPOA de agosto 2001), bem como dos colegas Rubens
Machado e Adauto Novaes. Foi um encontro que acredito sentiremos saudades, pois foi possível dar um lugar as noites que nos habitam e que pedem
sempre uma possibilidade de interlocução, de escuta, de testemunho.
Edson Sousa
MUDANÇA DE ENDEREÇO
Walter Firmo de Oliveira Cruz informa seu novo endereço: Rua Ramiro
Barcelos, 1954/604, Rio Branco, Porto Alegre, RS. Tel.: 3333.5275
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SEÇÃO TEMÁTICA
BROIDE, E. E. Psicossomática.
PSICOSSOMÁTICA
A
seção temática deste número do Correio procura trazer ao debate
diferentes formas de abordar a questão da psicossomática. Os textos que encontraremos a seguir partem de interrogações e/ou interpretações dos autores a partir de suas práticas clínicas, tanto privada quando institucional, com pacientes que apresentam sofrimentos orgânicos.
A pluralidade da psicossomática possibilita várias formas de discutir
este assunto. Adiante, a contribuição dos autores, alguns tomando uma posição de interrogação sobre o domínio e o campo específico da psicossomática, os limites da clínica psicanalítica de pacientes com padecimentos orgânicos e as relações existentes entre sofrimentos psíquicos e as afecções
orgânicas, que nos remetem ao início da própria psicanálise.
De outra forma, também somos contemplados, nesta sessão temática
do Correio, com artigos que abordam a questão da psicossomática de forma
mais interpretativa, apontando para os fatores constitucionais psíquicos na
eclosão dos fenômenos psicossomáticos.
Agradeço àqueles que contribuíram para a produção desta edição e
desejo a todos uma boa leitura!
Luciane da Luz Loss
Emília Estivalet Broide
N
o verbete sobre a psicossomática, do Dicionário de Psicanálise de
Roudinesco e Plon (1998)1, encontramos a referência à origem e a
paternidade da medicina psicossomática: “Nascida com Hi-pócrates,
a medicina psicossomática concerne simultaneamente ao corpo e ao espírito e, mais especificamente, à relação direta entre soma e psyqué. Descreve
a maneira como as doenças orgânicas são provocadas por conflitos psíquicos, em geral inconscientes”. (p. 624)
Os autores atribuem à psicossomática a possibilidade da introdução
da clínica psicanalítica nas instituições hospitalares uma vez que, esta disciplina, aborda os tratamentos dos sujeitos atingidos por doenças orgânicas
crônicas ou agudas (AIDS, câncer, hematologias, etc). E lembram, ainda, de
Groddeck, Alexander, Mitscherlich, Marty e M’ Uzan como precursores das
diversas correntes criadas na medicina psicossomática psicanalítica. Vale
ressaltar a demarcação histórica da produção do conhecimento psicanalítico no contexto hospitalar, contudo, sabemos que a abordagem dos fenômenos psíquicos associados às manifestações somáticas é, desde o início,
um elemento fundante da própria psicanálise.
Portanto, parto do entendimento de que não é a caracterização de
determinado tipo de doença como psicossomática, que fornecerá elementos
quanto à estruturação subjetiva dos sujeitos. Como mostra a investigação
clínica empreendida por Freud, junto às histéricas, à sintomatologia corporal
se articula uma forma específica de conflitiva psíquica. Sendo, então, a posição do sintoma em relação à trama discursiva adotada pelo sujeito que trará
as respostas às indagações de Freud. Desta forma, podemos pensar que
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ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1998.
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SEÇÃO TEMÁTICA
em uma doença de pele, uma cardiopatia, ou em uma úlcera gástrica, não é
possível atribuir um modo especial de estruturação subjetiva. Mas, pelo contrário, caberia pensar, como a estruturação psíquica do sujeito se liga a
determinada sintomatologia corpórea do mesmo.
O “DOMÍNIO” DA PSICOSSOMÁTICA
Ao designar-se determinada doença como psicossomática, atribui-se
um sentido e uma significação, um estatuto conceitual previamente definido.
Estabelece-se um domínio. Mas, é possível constatar que a designação
psicossomática é muitas vezes empregada, justamente, quando existe algo
no padecimento do sujeito que a clínica médica não consegue precisar. É
quando o médico encontra o ponto de interrogação quanto às causas de
determinadas enfermidades, que atribui a estas patologias a designação de
psicossomática, de forma que podemos constatar que neste campo cabe
todo tipo de padecimento.
Aqui os profissionais “psis” são chamados a intervir. Quer, nos diversos grupos constituídos por pacientes com uma mesma patologia física (grupo
de ostomizados, mastectomizados, pacientes portadores de HIV, etc), como
na criação de uma nova especialidade, qual seja a psicossomática. Entretanto, neste momento, em que não estamos a perseguir o ideal médico (tão
criticado) ao buscar dar conta de uma especificidade psíquica através de
uma contingência orgânica (seqüelados, queimados, amputados, etc), não
estaríamos a obturar o interrogante do sujeito à cientificidade moderna?
Acrescentaria ainda que, contemporaneamente, é necessário refletir
acerca das articulações entre sujeito, corpo e significante à luz do incremento da racionalidade administrativa presente nas instituições hospitalares. No
sentido que, o corpo e a doença encontram-se perpassados, não somente
pela posição subjetiva do sujeito e pelo substrato orgânico, mas também,
pela referência as relações sociais que atribuem, hoje, ao corpo e a doença
o estatuto de mercadoria. Sendo estas questões iniciais em meu percurso,
proponho neste texto formular perguntas, bem mais do que apresentar conclusões.
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BROIDE, E. E. Psicossomática.
A RACIONALIDADE DA GESTÃO
HOSPITALAR E O CORPO COMO MERCADORIA
Os hospitais, cada vez mais, estão marcados pelo moderno discurso
da racionalidade administrativa na gestão. Estas instituições vão perdendo,
aos poucos, o seu caráter assistencial e vão se tornando, aos olhos do
mercado, um negócio altamente rentável. Entretanto, tanto o discurso médico, quanto o discurso administrativo, se encontram amparados pelos mesmos pressupostos, qual seja, o ideário da ciência moderna. De modo que,
buscam dar conta das fraturas nos laços sociais a custa da impossibilidade
da aparição das subjetividades dos indivíduos, mantendo-os subsumidos a
lógica da instituição. As experiências de implantação dos sistemas de qualidade nos hospitais são exemplos destas propostas.
Com a entrada da racionalidade burocrática do discurso administrativo ocorre o incremento da objetalização do indivíduo. O que se torna fundamental é o funcionamento da engrenagem, bem mais do que o conhecimento da sua finalidade. O cumprimento da ordem justifica o não saber a que e a
quem está referida esta ordem. Desta forma, cada um executa uma parcela
de seu trabalho à custa da condução do doente à posição de objeto, ou
melhor, à condição de peça da engrenagem a ser restaurada. Neste sentido,
o embrutecimento dos vínculos humanos na instituição hospitalar e o incremento do surgimento das doenças, ditas psicossomáticas, podem ser decorrentes da exacerbação da objetalização do outro nos vínculos humanos.
No hospital, o doente recebe, hoje, uma nova nomeação: “cliente”. O
antigo trabalhador foi promovido à condição de “colaborador”, sendo que as
recepções dos hospitais assemelham-se as de vários resorts. Assim, o cliente chega para “passar uma temporada” e o “colaborador” deve se esforçar
ao máximo para que não reste dúvidas ao “cliente” que sua estada será
muito prazerosa e que o pequeno infortúnio que o levou até aquele local, logo
será solucionado. Da recepção à cozinha, o “cliente” encontra uma série de
opções para a sua permanência na instituição sendo induzido, com isto, a
uma ilusão quanto ao seu poder decisório.
Já o trabalhador, foi alijado da sua condição formal de trabalho. Alçado
ao patamar de colaborador deve ser atencioso, porém não intrusivo, deve ser
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SEÇÃO TEMÁTICA
prestimoso e cordial e não objetivar simplesmente o recebimento do seu
salário: deve colocar-se no lugar do outro, mesmo que a sua função seja
outra. Desta forma, o corpo do trabalhador recebe o impacto de ter sido
transformado em colaborador, sendo induzido a gerar a mais-valia sobre o
corpo do doente. E, aqui, vale ressaltar o expressivo aumento das ditas
doenças psicossomáticas entre os prestadores da assistência na instituição hospitalar. Mas, não poderíamos pensar o padecimento psicossomático
do “trabalhador-colaborador” como sintoma que vela e revela as mudanças
nas relações de trabalho, na instituição hospitalar?
Assim, o corpo, além de ser tomado enquanto aparato biológico, transforma-se em mercadoria, inserindo-se na lógica do mercado que determina
as relações sociais no sistema capitalista de produção. Neste sentido, é
necessário pensar o lugar que ocupam as doenças chamadas psicossomáticas, também, à luz das condições sociais do consumo e dos valores de
câmbio, cabendo-nos a análise dos efeitos psíquicos daí decorrentes.
MATTOS, P. R. Uma perspectiva de estudos...
UMA PERSPECTIVA DE ESTUDO:
A PSICOPATOLOGIA DOS FENÔMENOS
PSICOSSOMÁTICOS E OS CONFINS DA CLÍNICA
PSICANALÍTICA
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES E
CIRCUNSCRIÇÃO DO CAMPO TEMÁTICO
Paulo R. Mattos1
C
ircunscrito ao campo Psicanalítico, a perspectiva em questão toma
como referência a nossa experiência no âmbito da clínica privada e
institucional e segue pela via do aprofundamento de questões referentes às condições de inteligibilidade, no âmbito da psicopatologia, dos
fenômenos psicossomáticos – conceituados aqui como lesões de órgãos
que, desfiando o discurso médico, estão submetidas a influência de processo de subjetivação em termos de sua manifestação ou desaparecimento – e
suas conseqüências para a clínica psicanalítica. Intenta-se, particularmente, discutir aspectos virtuais, entendidos aqui como potencialidades passíveis de expansão, presentes tanto na obra freudiana, quanto nas obras dos
demais autores que, vinculados à Psicanálise, tomam o tema em pauta como
objeto de estudo. Pretende-se, por essa via, destacar a importância de se
discutir e delimitar parâmetros que propiciem a implementação de uma leitura consistente dos processos e dinamismos psíquicos subjacentes à produção de patologias que se inscrevem, com efetividade lesiva, no corpo e que,
admitindo uma estreita conexão com o funcionamento psíquico, ainda representam um desafio inconteste ao trabalho do psicanalista. Dentro dessa
1
Professor Adjunto IV do Departamento de Psicologia da Universidade Federal Fluminense.
Pesquisador do Laboratório de Psicopatologia Fundamental da PUC-SP. Coord. do curso de
Pós-Graduação Lato Senso “Fundamentos Transdisciplinares da Clínica Psicológica em
Hospital Geral GSI/HUAP/UFF”. Doutorando do Programa de Estudos Pós-Graduados em
Psicologia Clínica – Núcleo de Psicanálise da PUC-SP.
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SEÇÃO TEMÁTICA
linha de ação, almeja-se examinar as condições de positividade para a construção e emergência de alterações patológicas corporais que ressaltem a
interconexão com dinamismos críticos ao nível do funcionamento mental,
redundando na eleição de um órgão do corpo como locus de cristalização a
ponto de produzir efeitos lesivos.
Nessa linha de investigação, ressalta-se o fato de não se estar pleiteando considerar a existência humana pelo viés dualista, concepção que retrata um ideal de simplificação que tornaria um contexto complexo, como o
das intrincações existentes entre o corpo e psiquismo, passível de ser estudado sob a angulação de um modelo monocausal linear. Da mesma forma,
se esquiva de considerá-la como uma totalidade metafísica definida por petição de princípio. A presente perspectiva de trabalho traz a marca da preocupação de se elaborar um discurso aberto a intercomunicabilidade constante
com outros, que coloque em evidência dimensões indissociáveis capazes
de produzir, através de modulações específicas de seus elementos constitutivos, fenômenos psicopatológicos singulares. Além do mais, é produtivo
lembrar que Freud estabelece a sua teoria da subjetividade humana por uma
trilha que, longe de considerar o psiquismo e o corpo como realidades paralelas, onde buscar-se-ia estabelecer correspondências ponto a ponto, toma
a experiência humana como um objeto tridimensional que, admitindo pontos
de observação particulares, não se oferece a pertinência de leituras totalizantes a partir de uma única dimensão.
O desafio que tais fenômenos propiciam ao trabalho do psicanalista
parece indicar um caráter profícuo, se avanço considerável for obtido em
termos de se melhor escutá-los, o que, em última instância, acarretaria, por
derivação, no próprio alargamento da capacidade de escuta analítica.
SITUAÇÃO PROBLEMÁTICA
A própria relevância da abordagem proposta, aqui para o tema, pode
ser considerada a partir do fato da Psicanálise se achar convocada a responder às novas exigências de posicionamento teórico e de intervenção de forma consistente, a partir de horizontes concretizados pela vida moderna, que
ultrapassam os limites do contexto analítico tradicional. Novos espaços
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MATTOS, P. R. Uma perspectiva de estudos...
institucionais abertos ao psicanalista (hospitais gerais, por exemplo), parcerias de produção teórico-práticas com outras disciplinas, e principalmente
patologias em que, atualmente, se reconhece o tributo essencial às determinações inconscientes, implicando seu endereçamento ao tratamento psicanalítico, e que contudo continuam a desafiar o raio de ação do dispositivo
analítico. Nesse sentido, os fenômenos psicossomáticos despontam, dentre outros, como patologia relevante a ponto de demandar um aprofundamento
quanto aos limites e possibilidades de respostas consistentes oriundas do
campo psicanalítico.
Além desses aspectos, é importante ressaltar que, em nosso percurso de trabalho clínico e acadêmico, constantemente nos deparamos com
orientações diversas que promovem quer leituras reducionistas da psicanálise, quer o fomento de práticas baseadas no puro ideal de solicitude e benevolência como requisitos básicos para a sustentação do ato clínico no contexto institucional (Mattos, 1999: 24). Não é raro encontrar esse mesmo
posicionamento quando se trata de atender a pacientes, mesmo fora do
circuito institucional, que apresentem algum transtorno que afete o corpo de
maneira direta e efetiva. “Os discursos adormecedores estão na ordem do
dia e nunca deixam de sustentar o ‘terapeuta’ no lugar de ideal” (Bustamante,
1998: 51). Não é difícil se observar que a pesquisa psicanalítica enfrenta
obstáculos de grande monta, correndo o risco, por vezes até, de ser capturada pelo discurso médico quando, por exemplo, faz-se uso generalizado para
outro contexto de noções e conceitos que no mínimo mereceriam melhor
análise e detalhamento (Mattos, 1990). Por outro lado, há também que se
considerar que é no confronto direto com impasses ao exercício da Psicanálise que pode advir elementos renovadores de sua própria infra-estrutura teórica e clínica.
Especificamente, em termos dos fenômenos psicossomáticos, observa-se que apesar dos avanços alcançados pelo pensamento psicanalítico, há indicações claras (Sami-Ali, 1995; Dejours, 1991; Guir, 1988, dentre
outros) quanto ao caráter restrito dos progressos observados no âmbito da
compreensão dos processos subjacentes às manifestações psicossomáticas
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SEÇÃO TEMÁTICA
MATTOS, P. R. Uma perspectiva de estudos...
e das conseqüentes possibilidades de ação terapêutica. Que um sofrimento
se acha inscrito no sujeito com tal contorno psicopatológico é inegável, entretanto, tal sofrimento vem revestido por uma textura peculiar que o coloca
em um estado de aparente cristalização. É possível se pensar que uma dor
silenciosa se instala sem contudo ter o poder de interpelar o sujeito quanto a
sua própria natureza e seus desdobramentos temporais e históricos. Um
lamento queixoso, freqüentemente, se eterniza, não engendrando um engajamento do sujeito com um interlocutor inclinado a dar o estatuto da palavra
a esse sofrimento, até então, mudo. No máximo, um apelo monocórdio para
que se proceda a uma manobra objetivante como aquela que o médico sustenta quando responde, com um procedimento padronizado, devidamente
mapeado pelo discurso da medicina, ao conjunto de sinais apresentados
pelo paciente.
Um impasse então emerge: na maioria dos casos, o paciente, diante
de alguém que pretende escutá-lo em termos da singularização de sua dor,
requisita procedimentos objetivantes como aqueles que são sustentados pelos
representantes do discurso médico (Claveul,1983). Esquece que ali se encontra, diante de um psicoterapeuta ou de um psicanalista, por indicação de
um profissional da medicina. Diante da oferta que lhe é feita, não mais orientada por ideais puramente objetivos de ingresso em uma experiência com
um outro agora atento a sua palavra e a sua posição subjetiva, em prol da
busca de um saber que diga respeito a sua dor, o sujeito responde declinando de tal empreitada e, não raramente, dispensa a possibilidade de se fazer
ouvir. Aquilo que, em última instância, atinge o seu corpo próprio não lhe
acarreta uma experiência de pertencimento, não reconhece ali mais uma
das possibilidades de escrituração de seu destino e, não se implicando com
seu próprio sofrimento, delega ao outro a tarefa de fazê-lo retornar a condição anterior a da eclosão de sua dor. Dessa maneira, tal trajetória se contrapõe àquelas que se vislumbram em outras circunstâncias da clínica, quando
o sujeito toma quaisquer manifestações corporais, efetivas ou não, como
expressão de um enigma presente em sua própria vida – bem verdade que
situada em um espaço mais além da sua capacidade de apreensão em dado
momento, mas que, mesmo assim, não deixa de lhe dizer respeito e fomentar uma busca compartilhada.
Por outro lado, não se pode desconhecer que a emergência de fenômenos psicossomáticos não se limita a pacientes que apresentam uma conformação psíquica como a descrita acima. Há circunstâncias outras em que
o fenômeno psicossomático desponta. Isso implica na amplificação do problema, que passa, também, a marcar sua presença em circunstâncias inusitadas. Constata-se que no curso de um tratamento clínico, em que o paciente se acha respondendo satisfatoriamente às exigências de trabalho do dispositivo analítico, pode ocorrer o aparecimento de fenômenos psicossomáticos, inscrevendo uma dinâmica particular ao momento de sua eclosão.
A resposta do sujeito às condições de trabalho se modificam e um obstáculo
se instaura fazendo com que o sujeito vacile quanto a continuar se utilizando
das condições, até então suficientes, oferecidas pelo tratamento em curso
para prosseguir na elaboração de sua dor. Dejours (1998) confirma tais achados clínicos, inclusive sublinhando o caráter surpreendente e trágico que
teve tal constatação em sua própria experiência clínica.
Ora, por um lado, poder-se-ia pensar que sujeitos que apresentam
fenômenos psicossomáticos denotam particular conformação existencial, tese
sustentada por renomados pesquisadores membros da Escola de
Psicossomática de Paris (Marty, M’Uzan, Fain, dentre outros). Nessas condições, as pesquisas teriam como primado investigar a rota constitucional,
em termos psicopatológicos, desses sujeitos, para que se viabilizasse, a
partir do conhecimento do seu itinerário, a criação de estratégias clínicas
capazes de oferecer resposta adequada a essa forma de sofrimento. Tal
perspectiva não se mostra inconteste, pois é interpelada pelo fato dos fenômenos psicossomáticos incidirem também em sujeitos que teoricamente
não estariam predispostos aos mesmos, por conta de não apresentarem
organização psíquica conforme aquelas que se considerariam ligadas, intimamente, as condições de sua produção. Por outro ângulo, ao se constatar
que os fenômenos psicossomáticos não se circunscrevem àqueles que apresentam determinados atributos substantivos em termos da vida mental, atu-
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aliza-se o desafio ao entendimento que tais eventos representam e, de certa
forma, ficam sob suspeita as concepções que procurariam condicionar o
aparecimento deles a determinadas formas gerais e constantes de organização psíquica.
Portanto, não sem razão, observa-se o desdobramento de indagações importantes para o avanço do conhecimento do fenômeno psicossomático, a saber: sob que circunstâncias particulares o sujeito estaria suscetível de produzir tais incidências, não sendo as mesmas privilégio de determinada conformação psíquica? No momento da eclosão do fenômeno
psicossomático, qual é a forma de organização psicopatológica que responde pela relação do sujeito com o mundo e com o outro? Qual a direção do
tratamento nessas condições? O dispositivo clínico psicanalítico encontraria
limites intransponíveis diante do momento de emergência de fenômenos dessa
natureza? Ou a consolidação desses fenômenos teria a participação da transferência? E no mesmo sentido, no momento de sua eclosão quais as suas
repercussões sobre o vínculo transferencial?
O cotidiano atual da clínica psicanalítica mostra que as possibilidades de intervenção em termos dos fenômenos psicossomáticos são restritas e de difícil efetividade, apesar da vasta produção teórica sobre o tema,
sendo que o exame dos referenciais que as sustentam constata a não
conclusividade e a multiplicidade de concepções a respeito da natureza
psicopatológica dos mesmos. Fato esse que pode vir a implicar em uma exigência de se reposicionar, até mesmo, a própria matriz do pensamento que
rege as contribuições direcionadas ao campo dos fenômenos psicossomáticos.
MATTOS, P. R. Uma perspectiva de estudos...
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24
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SEÇÃO TEMÁTICA
LOSS, L. da L. Melancolia e doenças orgânicas.
MELANCOLIA E DOENÇAS ORGÂNICAS
Luciane da Luz Loss
N
estes tempos de depressão, no qual inúmeros sofrimentos são diagnosticados sob esta denominação e indiscriminadamente medicados com antidepressivos, parece-me pertinente fazer algumas considerações, no sentido de situarmos as relações existentes, entre aquilo
que Freud denominou de melancolia e as afecções orgânicas, pois a primeira acompanha ou é acompanhada de vários quadros clínicos orgânicos.
Dado que nos propomos a circunscrever as relações existentes entre
a melancolia e as afecções orgânicas, não poderíamos deixar de lado esta
“tradição organopsíquica”, termo cunhado de Lambotte que está presente na
melancolia, e que encontramos inicialmente no texto de Freud ao tentar
classificar este estado psíquico. (1997: 59)
A melancolia é uma estado psíquico de difícil classificação. Para Freud
(1917 [1915]) a sua definição pode variar, sendo que uma das formas de
apresentação “sugerem afecções antes somáticas do que psicogênicas” (p.
275). Entretanto, o autor deteve-se em nos descrever este estado psicopatológico a partir de transtornos de origem indiscutivelmente psíquicas.
Desta forma, não estaremos caracterizando a doença orgânica como
um fenômeno psicossomático, pois não estamos de acordo com as diversas
teorias psicanalíticas sobre psicossomática que buscam uma origem psíquica para o surgimento da doença orgânica ou “psicossomática”. Estas, no
meu entendimento estão identificadas com o discurso médico no sentido de
buscar a causa da doença. Além disso, já desenvolvemos em outro texto1 o
“obscurantismo” que o próprio termo psicossomática convoca tanto no campo médico como psicanalítico.
1
LOSS, L. da L. A psicoptologia do orgânico. Correio da APPOA, n. 90, maio 2001.
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Após este preâmbulo introdutório, é importante também ressaltar que
trabalharemos aqui com o conceito freudiano de melancolia, ou seja, com a
perspectiva de perda do objeto e suas subsequentes alterações no eu. Portanto, não abordaremos a melancolia como estrutura psíquica, leitura que
pode ser feita a partir do pensamento lacaniano e proposta por Lambotte
(1997).
No entanto, não deixamos de compartilhar com Mees (2001) a idéia
de que aquilo que é denominado de depressão hoje é a nomenclatura moderna da histeria de ontem, ou seja de que a depressão é o substituto da histeria e de outras neuroses.
Freud (1914) associa a condição do homem enfermo ao estado de
melancolia. Utiliza-se de uma metáfora, parafraseando Wilhelm Busch referindo-se ao poeta que sofre de dor de dentes: “Concentrada está a sua alma
no estreito orifício do molar” (1914 a: 98).
A alma do sujeito está centrada na dor – uma dor aguda, neste caso.
Portanto, não é de se esperar que um sujeito dolorido tenha algum outro
ânimo. A libido está voltada para o eu do indivíduo. Somente após a sua
recuperação, este pode retorná-la a algum outro objeto que não seja o próprio eu.
Freud acrescenta ainda, que o que é psicologicamente notável no estado de melancolia é a superação da pulsão que compele todo ser vivo a se
apegar a vida. Este empobrecimento pulsional se estende a toda a vida do
sujeito, acarretando processos de inibição que também são encontrados em
sujeitos organicamente enfermos.
Desta forma, é interessante notar que em muitas situações de dores
crônicas, como cefaléias, por exemplo, o estado de melancolia é uma constante – o sujeito fica resignado a dor e a prostração, qualquer “movimento”
parece impossível de ser realizado. Porém, é somente através da escuta
psicanalítica destes pacientes que podemos conhecer o sentido destes estados melancólicos, ou seja, em que estatuto se encontra a perda do objeto.
Na clínica médica, o tratamento das cefaléias é baseado nos antidepressivos, que são os medicamentos prescritos invariavelmente, pois possu-
C. da APPOA, Porto Alegre, n. 95, out. 2001
27
SEÇÃO TEMÁTICA
LOSS, L. da L. Melancolia e doenças orgânicas.
em propriedades analgésicas, portanto indicados no tratamento de diversas
dores. Porém, esta medicação possui uma outra propriedade que vai ao
encontro dos estados de desamparo, tristeza, inibição e empobrecimento
pulsional destes pacientes, ou seja, anestesiando uma dor, que está ligada
também a dor da existência.
No texto Luto e Melancolia (1917 [1915]), Freud traça uma comparação entre a melancolia e os estados normais e patológicos do luto. Diz-nos
que o luto, de modo geral, é a reação que o indivíduo tem à perda de um ente
querido, podendo ser um país, a liberdade ou o ideal de alguém, e assim por
diante. Vai propor a melancolia como uma versão de um luto patológico.
Pois, a melancolia constitui-se também a partir da perda de um objeto amado, uma perda de natureza mais ideal, uma perda inconsciente de objeto,
porém o sujeito não sabe claramente o que perdeu. (1974)
Dentro desta perspectiva, podemos considerar que a melancolia, em
algumas situações, é decorrente do processo de adoecimento, pois ao adoecer surge uma perda de objeto. A perda pode ser de várias ordens, é uma
perda de algo amado, de natureza mais ideal. O ideal perdido na doença é o
ideal de saúde, de perfeição do corpo, da imortalidade, ou seja, há a perda
de uma condição, que leva o sujeito a recorrer à ciência na tentativa de
reconstituir o estado de coisas anterior ao aparecimento do sintoma ou da
doença.
O paciente organicamente enfermo apresenta uma resignação frente
ao destino, à doença, ao discurso médico, às intervenções cirúrgicas e medicamentosas. A posição do sujeito é de submissão à demanda do Outro –,
trata-se de seres impossibilitados de fazer frente às determinações, sanções e prescrições. Pois o saber está suposto no Outro, o médico encarna
este lugar nomeando a perda através do seu discurso científico.
Com efeito, evidencia-se a íntima relação existente entre a melancolia
e as doenças orgânicas, uma vez que o próprio adoecer traz uma perda, uma
perda subjetiva específica, relativa ao próprio eu. Inclusive, este estado melancólico pode agravar as enfermidades orgânicas, como nos aponta Berlinck
(1999), ao afirmar que o desamparo autodestrutivo do melancólico tem a
capacidade de acelerar a ação de doenças auto-imunes. A vulnerabilidade à
doença reflete que a insuficiência imunológica revela-se psíquica na melancolia.
Nesta perspectiva, podemos considerar que os estados melancólicos
podem estar acelerando os processos de doenças auto-imunes, haja visto,
que em diversos casos de pacientes com Aids, a condição psíquica em que
o sujeito se encontra, a forma como este consegue enfrentar a doença e seu
tratamento, é uma condição necessária na sua capacidade de reação imunológica.
De outra forma, o adoecimento coloca o sujeito em uma condição de
assujeitamento à doença, desencadeando alterações na libido do eu, fazendo que o indivíduo fique voltado para si e para seus males corpóreos, além de
encerrar uma perda que é sentida como a perda do eu, do eu “saudável”,
podendo acarretar um estado de melancolia.
Portanto, situar um espaço de fala para os pacientes com afecções
somáticas remonta aos primórdios da psicanálise, com Freud e suas histéricas. Desta forma, fazer “vibrar” a dor de pacientes com dores crônicas, por
exemplo, é uma possibilidade que a clínica psicanalítica pode oferecer ao
paciente.
Ana sofria de enxaquecas fortíssimas. Em muitas situações a dor era
tão intensa que ela colocava a cabeça para “gelar”, literalmente: colocava a
cabeça dentro da geladeira. O “gelo” começa a derreter à medida que Ana
começa a derramar lágrimas pela morte do pai, algo que não tinha feito até a
sua chegada em análise, sendo que este já havia falecido há mais de um
ano.
Neste caso, a palavra dada à paciente circunscreve uma dor, a dor
pela perda do pai. A elaboração do luto passa a colocar o objeto em um outro
estatuto, diluindo as dores da paciente.
Neste pequeno recorte clínico, o que importa ressaltar são as ligações existentes entre a organização psíquica e a sintomatologia corpórea da
paciente, concomitante aos desdobramentos destes sofrimentos como se
apresentam na clínica. O mais importante na condução de um tratamento
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SEÇÃO TEMÁTICA
OLIVEIRA, A. de. Vínculo primordial: função materna...
VÍNCULO PRIMORDIAL:
FUNÇÃO MATERNA E ASMA INFANTIL
psicanalítico, não é se a melancolia é a causa, a origem das doenças orgânicas, como argumentam diversas teorias psicanalíticas sobre psicossomática.
Adriana de Oliveira 1
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A
organização psicossomática remete à constituição da vida psíquica
do ser humano desde o seu primórdio. Ela emerge da relação
estabelecida entre a mãe e seu bebê, e com a inserção do pai, que
compõem a trama familiar. Ao ser lançado no mundo, mundo mais circunscrito à mãe em um primeiro momento, o bebê necessita, para constituir-se
enquanto sujeito desejante, que a função paterna se inscreva e o relance
assim em um mundo social e cultural repleto de significações, possibilitando
a ele novas formas relacionais. Assim, o bebê sairá de um mundo restrito à
relação materna para ganhar Outro, e carregará consigo a marca da história
que o precede. Cabe a mãe, inicialmente, ajudar seu filho a significar seu
mundo circundante. Entretanto, com o decorrer do tempo, a criança poderá
buscar seus próprios recursos para significar os elementos provenientes da
cultura.
A mãe, escreve Molina (2001), possui uma força libidinal, representada pela hipersensibilidade afetiva materna. O que está em jogo é o “metabolismo significante”, referindo-se à capacidade materna de, através de um
registro perceptivo, interpretativo e comunicativo, efetuar tênues discriminações advindas do bebê. Enfatiza que, desde o primeiro dia de vida do bebê,
a voz materna possui um caráter organizante e tranquilizador. Isso evidencia
que o cérebro humano, desde já, está pronto para ser motivado por
enlaçamentos significantes.
Como afirma Mannoni (1982/1986), o bebê, devido a sua prematuração
fisiológica ao nascer, deixará de receber da mãe o oxigênio através do cordão umbilical e necessitará fazer uso dos pulmões para poder respirar. As-
1
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C. da APPOA, Porto Alegre, n. 95, out. 2001
Psicóloga, Mestrada em Psicologia do Desenvolvimento na UFRGS e professora da URI.
C. da APPOA, Porto Alegre, n. 95, out. 2001
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SEÇÃO TEMÁTICA
OLIVEIRA, A. de. Vínculo primordial: função materna...
sim, ao ter o seu cordão umbilical rompido bruscamente, haverá a privação
do oxigênio no cérebro, o que fará com que a respiração se instale. Desta
forma, é essa precipitação do adulto que produz no recém-nascido a associação entre angústia e respiração. Esta trajetória foi explanada por Goldeszer
et al. (1993), a partir da transformação da respiração em uma constante, o
bebê passa a se tornar escravo do ar. É uma encruzilhada na qual, a partir da
anoxia, o bebê acede ao mundo exterior através do ar, rompendo, dessa
forma, o circuito fechado mãe-bebê e dando acesso à matéria da voz. Esse
ar constitui a primeira sonoridade que antecede a voz.
A dinâmica relacional entre a mãe e o recém-nascido tem um papel
preponderante na sua vida psíquica. É como um “maestro” no seu funcionamento somato-psíquico, regendo-o. As possibilidades de a mãe ser, para
seu filho, suporte dos seus sofrimentos, sejam estes psicológicos ou físicos, servem de base para a formação da representação psíquica materna e
imbricam-se com o processo de somatização. Quando esta relação é satisfatória, a mãe torna-se um “porto seguro” para seu filho, onde é possível para
ele “atracar” quando se inunda de sofrimentos físicos e/ou mentais. Entretanto, quando a mãe não consegue ocupar esse lugar de referência, isso
poderá trazer como conseqüência uma representação corporal arcaica onde
os contornos corporais, o investimento nas zonas erógenas e a diferenciação entre o corpo da criança e o da mãe não é nítida.
Assim, a doença asmática é tomada a partir da esfera relacional, e
portanto, passa por uma incursão no campo psicanalítico. Mc Dougall (1989/
1996) escreve que o funcionamento psicossomático está pautado em uma
sexualidade mais primitiva, aquém dos conflitos edipianos e que é compreendida como defesa contra vivências mortíferas.
Segundo Infante (1997), é necessário diferenciar o fenômeno psicossomático, propriamente dito, das manifestações da primeira infância ditas
psicossomáticas. Essas manifestações podem servir como luz para a compreensão dos fenômenos psicossomáticos, entretanto, não se relacionam a
uma fixação de gozo, por este não possuir correspondência no bebê. As manifestações no bebê apresentam características de instabilidade emocional,
labilidade, devido ao fato de as inscrições pulsionais que lhe são dirigidas
estarem em andamento. Sabemos que a organização pulsional ocupa um
papel preponderante nas contingências somáticas e na sua relação de dependência constitutiva. De acordo com Ranña (1997), o bebê se torna bastante vulnerável às somatizações: “... as excitações provenientes das urgências somáticas e das experiências interativas invadem o seu ainda precário
e embrionário aparelho psíquico, não tendo aí como serem escoadas para as
estruturas psíquicas, de representações; vão circular de volta para o somático,
sobrecarregando-o, podendo dar origem a distúrbios de variados graus de
gravidade” (p.109).
Uma das manifestações possíveis em uma infância precoce é a asma
infantil, que permite, devido a esta precocidade, apreender ao vivo a continuidade de sua expressão desde a infância primordial.
Kreisler (1977/1978) chama a atenção para a persistência, em diversos casos de asma, de um comportamento dependente por parte da criança, concomitante a uma proteção materna desmedida. Para o autor, o ambiente circundante da criança asmática é especial, “... fechado em si mesmo,
de acesso difícil, de que as tentativas de aproximação psicológica terminam
quase sempre por ruptura, uma vez que a mãe e o pai não podem suportar a
idéia de se sentirem desapossados do filho” (p. 84). Há a existência de uma
relação exclusiva com a mãe, referida pela experiência pediátrica como
“superprotetora” e parece responder a motivações de origem inconsciente: o
filho não é admitido na separação e sim, admirado enquanto bebê, mantendo-se, deste modo, fora da situação triangular. A mãe do bebê asmático se
apresenta numa relação “hipernormalizante” que oculta sua dificuldade de
investir em outro objeto que não seja seu filho, devido à impossibilidade de
prosseguir o rumo normal de investimento materno, ou seja, fazer a passagem para outro objeto amoroso, seu parceiro, ocupando novamente seu lugar de mulher, de amante. Referindo-se ao aspecto superprotetor da mãe,
Winnicott (1988/1990) diz que é importante entender o impacto que tem na
criança o inconsciente materno. Sugere que a asma surge, freqüentemente
relacionada a situações de intensa pressão para a criança, como o nasci-
C. da APPOA, Porto Alegre, n. 95, out. 2001
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SEÇÃO TEMÁTICA
OLIVEIRA, A. de. Vínculo primordial: função materna...
mento de outra criança ou situações emocionais insuportáveis para sua condição psíquica. A instalação da asma advém de fatores profundos, conscientes ou não. Debray (1987/1988) concorda com essas particularidades encontradas na criança asmática, e acrescenta que esse excessivo investimento materno, que impede no bebê qualquer instalação de falta, irá bloquear o “prelúdio da vida fantasmática”, bem como a instauração da “censura do
amante”. Essa relação estabelecida poderá ser, em alguns casos, transitória; e em outros, se estenderá como forma de um funcionamento arraigado,
onde a asma tem uma propriedade auto-reguladora do equilíbrio do organismo. Observa-se, com relativa freqüência, que a pessoa asmática sustenta
um lugar, na dinâmica do casal parental, de responder a algo que os complete. Pode ocupar o espaço deixado pela ausência de um irmão (morte ou
afastamento), do sexo desejado que difere do dela, ou ocupar o lugar de
figuras parentais ou depositários afetivos. Nesse contexto, não dará as passadas por suas próprias pernas.
A crise asmática infantil coloca a criança numa situação limite de
total dependência, limite que lança seu corpo para dentro de um furacão, e,
como este, se realiza e se presentifica por um determinado período de tempo, até cessar. Na crise, a criança se sufoca. De que se trata? Pode-se
pensar que há, nesse momento, uma abertura que lhe possibilite, mesmo às
custas de sofrimento, um canal de liberação da angústia? Ou há, contrariamente, a sinalização de um excesso, manifestado no corpo através da dificuldade de expirar, que, ao não conseguir outra saída, rompe bruscamente
por meio de uma crise, como uma forma desesperada de lidar com o excedente? Pode-se pensar que a presença maciça materna aponta para um
naufrágio do potencial de simbolização da criança, tanto maior quanto mais
essa presença se registre no nível da necessidade.
Um aspecto interessante, enfatizado por Kreisler (1978/1981), é a ausência de angústia, no decorrer das crises em crianças asmáticas, o que
contrasta com a conduta de seus familiares, que vivenciam esses momentos como uma ameaça de asfixia. Há a manutenção do estado geral e de
seu humor, apesar de incomodado por uma dispnéia importante, por exem-
plo, sendo possível vê-lo brincar sob a tenda de oxigênio. Esse fenômeno
tem sido utilizado como um argumento para o diagnóstico de asma. Contrariamente, Debray (1987/1988) observa que a angústia materna é elevada. É
importante ressaltar que uma crise respiratória aguda é impressionante e
pode gerar uma ansiedade na mãe, como ocorre nas verdadeiras crises de
asma.
A economia psicossomática do bebê é separada por uma linha tênue
e, às vezes, imprecisa, com a psicossomática materna. Em algumas situações, pode existir uma repercussão quase que imediata sobre o bebê. Apesar disso, os fatores indicados como desencadeantes de crise nos serviços
de saúde parecem reconhecer pouco essa imbricação, havendo a prevalência
de fatores ambientais.
O paciente asmático institui uma forma de se relacionar que é pautada, freqüentemente, por uma exigência massiva direcionada ao outro, de
acordo com Andrade (1998), muitas vezes levando à exaustão, tendo como
horizonte a sua completude, de tornar-se um. Conforme Bélot-Fourcade (1998),
a asma pode ser considerada “uma manifestação do laço com a mãe” (p.
39), a asma participa de uma certa constituição do sujeito e de uma forma de
relação estabelecida com o mundo. Parece ser possível especular que a
asma é uma forma de apelo dirigido ao Outro, um apelo traduzido no corpo.
É uma enfermidade que faz sofrer intensamente a quem dela padece, colocando o sujeito em constante contato com uma insuficiência, com a morte,
com a falta (de ar?). Pode-se pensar que a falta de ar no sujeito asmático
está no lugar das palavras?
C. da APPOA, Porto Alegre, n. 95, out. 2001
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O sujeito, o real do corpo e o casal parental (pp. 18-27). Salvador, BA: Ágalma.
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atmosfera”. Em A. B. Teixeira (Org.), O sujeito, o real do corpo e o casal parental
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35
SEÇÃO TEMÁTICA
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um referencial lacaniano. Em F. C., Ferraz, & R. M., Volich, (Orgs.), Psicossoma:
Psicossomática Psicanalítica. São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.
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(Trabalho original publicado em 1977).
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publicado em 1978).
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WINNICOTT, D. W. (1990). Em D. L. Bogomoletz (Trad.), Natureza Humana. Rio
de Janeiro, RJ: Imago. (Trabalho original publicado em 1988).
SEÇÃO DEBATES
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Ana Marta Meira
O
filme Inteligência Artificial, de Steven Spielberg, apresenta a história de um menino-robô, David, personagem extraído de contos do
escritor de ficção científica Brian Aldiss, intitulados “Superbrinquedos
duram o verão todo”, “Superbrinquedos quando vem o inverno” e “Superbrinquedos em outras estações.”1
O pequeno andróide, produzido com uma aparência humanizada, é o
que o autor, B. Aldiss, nomeia como sendo um superbrinquedo, ocupando o
lugar vazio de casais que não tem filhos e desejam tê-los. O encontro com o
desejo materno, de que seja humano, não se realiza, e David é abandonado.
Na busca que se instala pelo reencontro de sua “mãe”, acaba por
procurar traços de uma história que desta escutara: Pinóquio, sobre “o menino de brinquedo que a fada azul transforma em um menino real”. Ao reencontrar seu criador, defronta-se com a série de robôs que o personificam. Deseja
ser singular, mas encontra-se diante da padronização a que é remetido. No
conto Superbrinquedos em outras estações, David, ao se deparar com seus
semelhantes, deixa de movimentar-se. “Viu-se diante de mil Davids. Todos
iguaizinhos. Mil réplicas de si mesmo”. (p.55) O esforço por se singular vai
ser feito na direção de encontrar, nesta fada, a possibilidade de se humanizar.
Metáfora que fala da posição que a criança assume diante do desejo de ser
amada. David é a encarnação deste desejo ao extremo, e ao mesmo tempo
do desencontro que a automatização produz. Os brinquedos, no filme, são
super, remetidos ao real. Falam, se movimentam, acompanham as crianças.
Teddy, o ursinho, representa este brinquedo que acaba ocupando o lugar que
seria digno de ser ocupado por outra criança. É o companheiro de brincadeiras, o confidente, o apoiador.
1
Em Superbrinquedos duram o verão todo e outros contos do futuro, Brian Aldiss, Ed.
Companhia das Letras, SP, 2001.
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SEÇÃO DEBATES
MEIRA, A. M. Inteligência artificial.
Neste universo futurístico, David representa, para o autor, o retrato do
menino que nunca foi capaz de agradar à mãe, que o rejeita.(p.18) Destes
contos, Kubrick, e depois Spielberg, escrevem o roteiro do filme que inclui a
história de Pinóquio. A procura pela fada azul, que o humanizaria e o levaria
a encontrar o amor materno é uma travessia que leva o menino a confrontarse com sua posição de máquina, planejada apenas para ser instrumento do
outro.
As mil réplicas que surpreendem David são a metáfora dos milhões de
réplicas a que as crianças hoje são confrontadas. A padronização de comportamentos, a indiferenciação dos brinquedos que lhes são oferecidos 2 ,
marcam a infância na contemporaneidade. Mais que isto, não podemos fechar os olhos à angústia que irrompe nas crianças quando se defrontam com
a demanda fragilizada do Outro que as lança em busca de uma referência
simbólica que acabam por não encontrar no social. Para além desta busca,
o que muitas vezes encontram são os inúmeros objetos que lhes são oferecidos incessantemente por seus pais, no lugar das palavras que poderiam
lhes dirigir.
É nas palavras da fada azul, de um pequeno conto, que foi por David
escutado, mas que a ele não foi dirigido, que ele consegue dar fim a sua
angústia. Após encontrar a fada azul, com a ajuda de um computador nomeado Dr. Know, que lhe dá referências de onde encontrá-la através de um
poema, o menino acaba por realizar um desejo que pede à fada. Depois de
ter vivido um dia como desejara, junto a sua mãe, passa a sonhar.
Podemos pensar em quantas crianças, hoje, encontram-se nesta posição, de buscar histórias para além das imagens a que são incessantemente remetidas pelo universo dos meios de comunicação3 , e pelos inúmeros
objetos que o social lhes oferece. Neste filme, os brinquedos acabam por
ocupar um lugar de prevalência, onde as crianças não tem, com eles, nem o
trabalho de brincar. E que acabam por ocupar o lugar vazio deixado pela
ausência de seus pais. Mesmo sendo uma história de ficção, e o menino um
robô, não se pode deixar de encontrar nesta história metáforas do que hoje
se instala no social em relaçào à infância e ao sujeito contemporâneo. As
faces dos andróides, inspirados em “Blade Runner”, são o espelho dos ideais de perfeição e beleza que marcam o social. As casas, o espelho do
funcionamento clean. Os objetos, colocados no lugar de tótens.
Outras leituras podem ser feitas sobre este filme, inclusive quando
nos remetemos à rejeição que uma criança que apresenta quadros de deficiência ou alterações psíquicas graves encontra no social. Neles, vemos, muitas
vezes, travessias que os remetem ao abandono, onde acabam por criar amigos imaginários, pequenos “Teddy”, que os acompanham na busca do desejo materno ali onde não o encontram. E que encontram o sono reparador, e
os sonhos, depois de terem sido inscritos em uma história.
O mérito do filme “Inteligência Artificial” talvez seja o de evocar, de
forma fictícia mas ao mesmo tempo atual, o quanto hoje a sociedade caminha na direção oposta à singularização, onde o sujeito é apagado em nome
de ideais que revelam a prevalência da tecnologia e do domínio sobre os
objetos. Os brinquedos de hoje, metáforas do social, são cada vez mais
marcados por estes ideais. E as crianças acabam por ter que realizar verdadeiras epopéias para encontrarem, no meio deste universo de estereotipias,
uma história que venha a lhes cobrir de palavras ali onde estão submersas
em um universo interminável de objetos.
No filme “A vida é bela”, analisado por Contardo Calligaris em um
artigo da Folha de São Paulo4 , o pai que encontra-se em um campo de concentração dedica-se a apagar, para seu filho, os traços da guerra. Propõe,
repetidamente, brincadeiras e piadas ali onde seu filho lhe pergunta sobre o
2
Em As crianças do Ready Made, de Alfredo Jerusalinsky, publicado no Correio da APPOA
– Psicanálise e Ato Criativo – n.78, Associação Psicanalítica de Porto Alegre, 2000.
3
Em Palavras Mágicas – As crianças de hoje, escrevo sobre esta posição das crianças na
contemporaneidade. Trabalho publicado na revista da APPOA n. 13, Sintomas da Infância,
Ed. Artes e Ofícios, 1997.
38
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4
A vida não é tão bela assim, Contardo Calligaris, publicado na Folha de São Paulo de 21/3/
99.
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SEÇÃO DEBATES
KESSLER, C. H. O quanto é correto...
que está acontecendo. Neste artigo, o autor escreve que o pai acaba sendo
um grande “artífice da mentira feliz que seria a vida”, acabando por produzir,
em seu filho, uma confinação que o afasta da possibilidade de entender o
que se passa à sua volta. Estes efeitos de encobrimento, os encontramos
nos pais modernos que buscam proteger os filhos de qualquer intempérie,
transformando-os em pequenos David, totalmente colados ao seu olhar. Que
fecham as janelas diante de qualquer ruído que venha a quebrar a sintonia da
perfeição narcísica em que buscam se situar. No conto de Brian Aldiss, na
casa de David não há janelas. Há simulacros de imagens de paisagens belas, que encobrem a vida que lá fora se passa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALDISS, B. Superbrinquedos duram o verão todo e outros contos de um tempo
futuro, Ed. Companhia das Letras, SP, 2001.
CALLIGARIS, C. A vida não é tão bela assim , Folha de São Paulo, SP, 21/3/1999.
JERUSALINSKY, A. As crianças do Ready Made, Correio da APPOA, Psicanálise
e ato criativo, n.78, APPOA, abril de 2000.
MEIRA, A. M. Palavras Mágicas – As crianças de hoje, Revista da APPOA n. 13,
Sintoma na Infância, Ed. Artes e Ofícios, Porto Alegre, 1997.
Caderno Mais– Mentes que brilham – Folha de São Paulo, SP, 2 de setembro de
2001.
O QUANTO É CORRETO O “POLITICAMENTE CORRETO?”
(OU: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE
O SEXUAL EM TEMPOS DE AIDS)
Carlos Henrique Kessler
O
corre-me efetuar algumas provocações ao, assim dito, pensamento
politicamente correto. Não que se trate de combater muitas de suas
até, como diz o nome, “corretas” intenções, mas de colocar questionamentos, tensionar certos consensos, muitos dos quais às vezes me parecem que acabam sendo propostos de uma forma intransigente, impositiva e
imperativa. Ainda, propor a reflexão sobre quais os pressupostos implícitos
que poderiam fundamentar determinadas posições e prescrições.
Neste momento, parto de três ocorrências, mais ou menos concomitantes, que me levaram a reparar em um fato que parece já ter assumido
consideráveis proporções: a maioria dos que “se iniciaram” sexualmente nos
últimos 15 anos – se ‘constituiram’ completamente imersos sob a referência
dos cuidados com a Aids. Toda sua vivência sexual ‘adulta’ se dá acompanhada pela presença de uma espécie de espectro, que paira permanentemente, se manifestando através de frases como, por exemplo: “sem camisinha não dá1”. Isto é perceptível em relatos, seja na clínica, seja em meras
1
Há menos de 20 anos atrás, ainda me lembro de ter presenciado a manifestação de um
outro consenso: em um curso sobre sexualidade humana, um ginecologista argumentava
que sem sombra de dúvida seria melhor o verdadeiro bombardeio hormonal causado pela
ingestão regular da pílula anticoncepcional – prescrita sem vacilar e de forma generalizada
-, mesmo para garotas cada vez mais jovens (idade em que sabidamente o dinamismo
hormonal tem uma dimensão decisiva para o futuro delas), que se iniciavam na vida sexual,
do que submetê-las aos riscos de uma gravidez e seus desdobramentos, ou de eventuais
doenças venéreas. Outras possíveis alternativas de anticoncepção (entre as quais a camisinha) e proteção não eram levadas seriamente em consideração. Aqui não havia nenhuma
originalidade do médico, apenas repercutia a que era a posição disseminada então e aceita
sem muitos questionamentos.
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C. da APPOA, Porto Alegre, n. 95, out. 2001
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SEÇÃO DEBATES
KESSLER, C. H. O quanto é correto...
conversas cotidianas, de quaisquer pessoas de uma faixa etária de até aproximadamente 30 anos. Assim, se J. J. Rassial chegou a propor uma nova
divisão do mundo, não mais entre homens e mulheres, mas entre fumantes
e não fumantes, poderíamos pensar no mundo dos últimos anos dividido
entre os “com” e os “sem”... camisinha.
Bem, “passemos aos fatos”.
Participei em reunião de um grupo de pessoas que trabalham seriamente, envolvidos com a assim chamada “redução de danos”. Nela são apresentados dados dando conta da progressiva incidência da epidemia de Aids
em mulheres casadas/com parceiros fixos/uniões estáveis. Segundo o relato, a incidência deve-se em razoável medida por estes seus parceiros serem
usuários de drogas injetáveis. A preocupação central era com o
compartillhamento de seringas (onde a distribuição massiva destas poderia
‘reduzir os danos’). Na reunião dizia-se ainda que era impressionante a
proliferaçãoda Hepatite B, embora esta não fosse tão divulgada. Se não for
demasiado, proporia tomar os dados desta reunião como sendo “os fatos”.
No dia seguinte, assisti a um programa de televisão voltado ao público
jovem, onde pode-se perceber a “versão” que, na mídia, tem o fato. Os “casais” devem também ‘se cuidar’. Várias pessoas são entrevistadas: ‘jovens
quaisquer’, ‘personalidades da mídia’, ‘especialistas da área’. A questão
investigada é sobre quando seria o momento de usar e/ou parar de usar
camisinha: nos primeiros encontros, nos primeiros meses, até fazerem ambos um teste, sempre. Surgem as várias opções, opiniões, justificativas,
comentários. Diz mais ou menos assim o psicólogo de plantão, como que
colocando um ponto definitivo: “Não se deve confiar em ninguém. Prova de
amor ao outro? De confiança? Antes de tudo deves ter amor, respeito, por
você próprio”.
Próximo àqueles dias, uma reportagem de jornal (FSP, 20/05/2001)
noticiava sobre uma campanha que tenta apontar para um possível “lado
afetivo” da camisinha. Tratam-se, no fim das contas, de tentativas baseadas
em uma perspectiva behaviorista, buscando propor novas associações: a
camisinha deve passar a ser vista como “prova de amor verdadeiro”, respeito.
Não mais ser vinculada a lugares suspeitos, escapadas fortuitas e prevenção de doenças. Chega-se a propor que o dia 12/06, dia dos namorados,
fosse também o “dia nacional da camisinha”.
Qual hipótese poderia tornar pensáveis tais coisas? Parece remeter a
uma reação não só do pensamento higienista, mas mesmo de uma lógica
puritana, que tenta como que anular, cancelar tudo que Freud e (a partir
dele?) o século XX – talvez com maior força desde os chamados anos 60 –
possa ter produzido em termos de alterações do posicionamento relativo à
sexualidade, ao progressivo alargamento dos horizontes e de experiências.
Tudo que possa implicar em uma busca de proximidade, intimidade, da necessária aposta de entrega e confiança2, é novamente afastado, pois eis que
surge a proposição, universalizada e legitimada, de nada mais nada menos
que um novo anteparo, físico, entre os corpos (uma vez que as antigas barreiras “da moral e dos bons costumes” já não teriam mais eficácia). E não
apenas para proteção de eventuais vírus e bactérias. Não deixa de ser curioso constatar, o látex, a borracha, matéria-prima dos “preservativos”, é um
produto que se caracteriza por ser tanto uma barreira de sólidos e fluídos,
mas é igualmente um isolante elétrico e eletromagnético. E mesmo que,
nesses tempos de Aids, entre outras coisas, se tenha verificado a retomada
da tentativa de constituição de casais estáveis, o que não deixou de ser uma
resposta possível à ameaça da proliferação da doença (trazendo consigo,
inclusive uma curiosa nova espécie de fidelidade, do tipo: “sem camisinha,
só contigo”), eis que surge agora a difusão da proposta de que até mesmo
entre estes casais deveriam ser tomadas ‘medidas de proteção’. Breve, não
seria de estranhar se ouvíssemos autorizadas vozes propor em a redução do
ato sexual ao estritamente necessário para a reprodução (e, como isto é
cada vez menos necessário, quem sabe a confecção de roupas – parecidas
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2
Mesmo que tenhamos presente que “amor” articula com “muro”, ou seja, que há imparidade
subjetiva, trata-se da dimensão de uma esperança, imaginada que seja, de poder superar
isso, no encontro com um outro. Aqui não deixa de ser interessante lembrar a expressão
“conhecer”, que na Bíblia ocorre ligada ao sexo.
43
SEÇÃO DEBATES
KESSLER, C. H. O quanto é correto...
com as de neoprene, dos surfistas, com uma multiplicidade de transmissores/receptores acoplados a algum computador, seja conectado a um software
ou via internet – não nos permita a assepsia plena do sexo virtual?). Nesse
sentido, reduzir o ato sexual a mera ação mecânica, fricção entre os corpos
– apontando com otimismo para o progresso no desenvolvimento de novos
compostos materiais, mais ‘sensíveis e resistentes’, não deixa de ser uma
tentativa patética, de quem, pareceria, não saber sobre o que está falando.
Tentativa de estabelecimento de controle sobre o sexual, as vidas, os corpos.
Mesmo que não seja o caso de desprezar que, tal qual a sífilis e
outras doenças sem cura em suas respectivas épocas, a Aids coloca a
necessidade de uma estratégia de saúde pública – não se pretende aqui
difundir qualquer apologia do sexo livre de cuidados, ou qualquer coisa que o
valha –, talvez seja o caso de pensar que a proliferação dessas epidemias
pode se dar por serem equivocadas as medidas de prevenção, por partirem
de premissas falsas, ancoradas mesmo que não explicitamente em escolhas teóricas que podemos considerar infelizes. Pior, limitadas sempre pelo
olhar de quem delineia o cenário, sem levar em conta as manifestações, as
razões/desrazões dos implicados. Quem sabe, se estes fossem – enfim –
levados em consideração na proposição das ditas estratégias de saúde pública? Assim, se os jovens insistem em dizer, apesar de todos avanços na
sua confecção – que inclui novos cheiros, sabores, formatos –, que usar
camisinha é como “chupar bala sem tirar o papel”, quem sabe isso deveria
ser escutado com o devido respeito, mesmo que torne ainda mais complicada a vida dos encarregados de estabelecer as tais políticas de ‘saúde pública’? Sem que o principal dos esforços sejam dirigidos para suprimir, anular,
desreconhecer a eventual legitimidade dessa e outras manifestações? Talvez não seja por nada que sexo, drogas e rockandroll – dito de uma geração
– retorne aqui, na raiz da epidemia. Pois se, quando da tentativa – ilusória
que seja – de contato, de proximidade com um outro, é proposto o controle
disto; se no fim das contas é demandado (nesta espécie de ‘coalizão higienista-puritana’) que se desconfie de todos e só nos ocupemos de nós mes-
mos; muito bem pode restar, para alguns, como eventual solução, buscar
encontrar uma substância qualquer que entre pelas veias e restabeleça esta
perspectiva, nem que seja, ao menos, compartilhando, “sem proteção”, uma
seringa (sendo assim, na tentativa de restrição da difusão da doença, acabase levando a sua proliferação).
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44
PS: Robson Pereira, em oportuna indicação, remeteu-me ao texto de João Guilherme Biehl
(“Tecnociência e subjetividade”) recentemente publicado em nossa revista da APPOA, onde
todos que tenham se interessado no aqui exposto podem encontrar uma série de pontos
relevantes para uma possível articulação. Em especial a noção da “Aids imaginária”, mas
também o estabelecimento de um diálogo entre Lacan e alguns de seus contemporâneos
(principalmente Foucault, mas também Harendt, Deleuze, Castel) em uma perspectiva particularmente produtiva. Isso tudo ancorado em uma pesquisa fáctica e teoricamente fundamentada, o que vai bem além da pretensão do argumento que aqui apresentou-se. Esse
estudo mostra, ainda, como a tentativa é mesmo a da produção ‘pós-disciplinar’ de um
controle, através do pensamento consciente, sobre ‘os instintos’.
45
RESENHA
RESENHA
ESCRITOS DA CRIANÇA
Escritos da Criança n. 6 – 2001, publicação do Centro
Lydia Coriat de Porto Alegre, Educação Inclusiva
Alfredo Jerusalinsky, Ana Maria Vasconcelos, Ana Marta
Meira, Elaine Milmann, Gérson Pinho, Lydia Coriat, Jacy
Soares, Julieta Jerusalinky, Maria Cristina Kupfer, Norma Filidoro, Sandra Corazza, Sílvia Molina, Stella Páez,
Zulema Garcia Yañez.
A
publicação Escritos da Criança, organizada pelo Centro Lydia Coriat de Porto
Alegre, apresenta vários escritos sobre
a educação inclusiva. Refletir acerca deste tema
e analisar as conseqüências que a inclusão produz no campo dos problemas de desenvolvimento na infância é o eixo proposto.
Diante da posição que, no discurso social, assume o imperativo da
inclusão, evidencia-se que o mesmo traz consigo, muitas vezes, o apagamento das diferenças. As crianças que apresentam quadros de deficiência,
lesões, síndromes, psicose, autismo, em nome do direito de serem incluídas na rede regular de ensino, vem sendo objeto de intervenções que acabam por excluí-las ali onde este imperativo se inscreve.
É nesta direção que se apresentam os trabalhos desta publicação,
que tem como primeiro escrito a Carta aberta aos pais acerca da escolarização das crianças com problemas de desenvolvimento, elaborada por
Alfredo Jerusalinsky e Stella Páez. Nesta, os autores afirmam que “...muitas
crianças são lançadas precipitadamente nessa experiência sem que se tenha preparado as condições necessárias, nem nas crianças, nem nas escolas, para que sua inclusão possa efetivar-se sem transformar-se em um ato
de mera aparência.” (p.19) Dirigem aos pais uma análise das conseqüências
que o ato de incluir, mediado pela instituição jurídica, pode produzir nas
crianças que não apresentam condições subjetivas de circular em um ambiente de ensino regular, onde freqüentemente o que encontram é o espelho do
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que não são. A fragmentação a que estas crianças são submetidas acaba
por instalá-las em uma posição de alienação e segregação, justamente onde
deveriam ser incluídas.
Encontramo-nos diante de uma realidade social em que as bandeiras
que são carregadas em nome da inclusão – que não se restringe somente ao
âmbito escolar –, mas escondem as diferenças que marcam o sujeito. É na
singularidade do desejo que inscreve-se a possibilidade de que uma criança
venha a aprender e constituir laços sociais. E, onde não há registro desta
posição subjetiva, o estandarte da inclusão acaba por transformar as crianças em objeto. Nas escolas especiais, muitas vezes, acabam por ficar as
crianças que justamente são o testemunho de que a diferença não se apaga:
as psicóticas ou as diagnosticadas como autistas pela psiquiatria moderna.
Os escritos desta publicação apresentam, cada um, contribuições
importantes sobre este tema que convoca a todos os que trabalham no campo da infância e adolescência. Apresenta questões que falam da posição
dos profissionais que dirigem seu trabalho orientados pela suposição de que
a travessia a ser realizada por cada criança será traçada pelos passos que
esta puder dar, sustentada pela rede simbólica que a faz caminhar. Neste
sentido, o estabelecimento de programas pautados por técnicas que colocam a criança no lugar de instrumentalização per se são produtores de
iatrogenias, e psicotizantes. Ali onde se deveria incluir uma criança, se exclui um sujeito.
Ana Marta Meira
C. da APPOA, Porto Alegre, n. 95, out. 2001
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AGENDA
Capa: Manuscrito de Freud (The Diary of Sigmund Freud 1929-1939. A chronicle of events
in the last decade. London, Hogarth, 1992.)
Criação da capa: Flávio Wild - Macchina
OUTUBRO – 2001
Dia
01, 15
e 29
02, 16
e 30
03, 10,
17, 24
e 31
04
09 e 23
18
Hora
20h30min
Local
Sede da APPOA
Atividade
Reunião da Comissão do Correio da APPOA
20h15min
Sede da APPOA
Reunião da Comissão de Biblioteca
15h
Sede da APPOA
Reunião da Comissão de Eventos
21h
20h30min
21h
Sede da APPOA
Sede da APPOA
Sede da APPOA
Reunião da Mesa Diretiva
Reunião do Serviço de Atendimento Clínico
Reunião da Mesa Diretiva aberta aos membros da APPOA
ASSOCIAÇÃO PSICANALÍTICA DE PORTO ALEGRE
GESTÃO 2001/2002
Presidência - Maria Ângela Brasil
a
1 . Vice-Presidência - Lucia Serrano Pereira
2a. Vice-Presidência - Jaime Alberto Betts
1a. Tesoureira - Grasiela Kraemer
2a. Tesoureira - Simone Moschen Rickes
1a. Secretária - Carmen Backes
2º. Secretário - Gerson Smiech Pinho
MESA DIRETIVA
Alfredo Néstor Jerusalinsky, Ana Maria Gageiro, Ana Maria Medeiros da Costa,
Analice Palombini, Ângela Lângaro Becker, Edson Luiz André de Sousa,
Gladys Wechsler Carnos, Ieda Prates da Silva, Ligia Gomes Víctora,
Liliane Fröemming, Maria Auxiliadora Pastor Sudbrack,
Marta Pedó e Robson de Freitas Pereira.
EXPEDIENTE
Órgão informativo da APPOA - Associação Psicanalítica de Porto Alegre
Rua Faria Santos, 258 CEP 90670-150 Porto Alegre - RS
Tel: (51) 3333 2140 - Fax: (51) 3333 7922
e-mail: [email protected] - home-page: www.appoa.com.br
Jornalista responsável: Jussara Porto - Reg. n0 3956
Impressão: Metrópole Indústria Gráfica Ltda.
Av. Eng. Ludolfo Boehl, 729 CEP 91720-150 Porto Alegre - RS - Tel: (051) 3318 6355
PRÓXIMO NÚMERO
INTOLERÂNCIA
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C. da APPOA, Porto Alegre, n. 95, out. 2001
Comissão do Correio
Coordenação: Maria Ângela Brasil e Robson de Freitas Pereira
Integrantes: Ana Laura Giongo Vaccaro, Francisco Settineri, Gerson Smiech Pinho,
Henriete Karam, Liz Nunes Ramos, Luis Roberto Benia, Luzimar Stricher,
Marcia Helena Menezes Ribeiro e Maria Lúcia Müller Stein
S U M Á R I O
EDITORIAL
1
NOTÍCIAS
3
SEÇÃO TEMÁTICA
14
PSICOSSOMÁTICA
Emilia Estivalet Broide
15
UMA PERSPECTIVA DE ESTUDOS:
A PSICOPATOLOGIA DOS
FENÔMENOS PSICOSSOMÁTICOS
E OS CONFINS DA CLÍNICA
PSICANALÍTICA
Paulo R. Mattos
19
MELANCOLIA E DOENÇAS
ORGÂNICAS
Luciane da Luz Loss
26
VÍNCULO PRIMORDIAL: FUNÇÃO
MATERNA E ASMA INFANTIL
Adriana de Oliveira
31
SEÇÃO DEBATES
37
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Ana Marta Meira
37
O QUANTO É CORRETO O
“POLITICAMENTE CORRETO?”
(OU: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
SOBRE O SEXUAL EM TEMPOS
DE AIDS)
Carlos Henrique Kessler
41
RESENHA
46
“ESCRITOS DA CRIANÇA”
46
AGENDA
48
N° 95 – ANO IX
O U T U B R O – 200 1
ABORDAGENS
DA PSICOSSOMÁTICA
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EDITORIAL Se olharmos de nossas janelas para a rua não vamos