“Gosto de ser gente porque, mesmo
sabendo
que
as
condições
materiais,
econômicas, sociais, políticas, culturais, e
ideológicas em que nos achamos geram
quase sempre barreiras de difícil superação
para o cumprimento de nossa tarefa histórica
de mudar o mundo, sei também que os
obstáculos não se eternizam”. Paulo Freire: 1996.
INTRODUÇÃO
O Psicopedagogo não pode no exercício de suas atividades, focar-se
somente em suas experiências e conhecimentos em relação à Psicopedagogia,
precisa sim, ser um profissional consciente de que para ocorrer o processo de
ensino-aprendizagem é necessário muito mais que isso, é imprescindível
exercer o papel fundamental de retirar os sujeitos de suas condições de não
aprendizado, dotando-os de competências que os ajudarão a percepção de
suas potencialidades em todos os aspectos cognitivos, afetivos e sociais, pois
segundo Perrenoud (2000, p.14) “competência é a faculdade de mobilizar um
conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc.) para
solucionar uma série de situações”. Situações essas, que serão vivenciadas
pelo sujeito durante toda a sua vida.
Não se pode mais prender-se as concepções de “dificuldade de
aprendizagem” que foram largamente utilizadas na década de 60, e que
infelizmente ainda continuam sendo utilizadas hoje, por pais e professores, que
insistem em atribuir, a mesma concepção, as crianças vistas como desatentas
e brigonas ou até mesmo, bagunceiras em sala de aula. Como afirma Kirk
(1962, p. 263) “uma dificuldade de aprendizagem refere-se a um atraso,
desordem ou retardo do desenvolvimento em um ou mais processos da fala,
leitura, escrita, aritmética ou outro resultado escolar do sujeito causado por
uma desvantagem psicológica devido a uma possível disfunção cerebral e/ou
distúrbios emocional e comportamental. Ela não é o resultado de retardo
mental, privação sensorial ou de fatores culturais e educacionais”.
Segundo grande parte dos especialistas da atualidade, a criança
diagnosticada com dificuldade de aprendizagem pode desde cedo apresentar
um atraso significativo no desenvolvimento da fala e/ou dos movimentos do
que o considerado “normal”. Tanto os pais como os professores têm que
estarem atentos para não confundir o desenvolvimento normal com a
dificuldade de aprender, que para Barbosa (2006, p. 53) “estar com dificuldade
para aprender [...] significa estar diante de um obstáculo que pode ter um
caráter cultural, cognitivo, afetivo ou funcional e não conseguir dar
prosseguimento à aprendizagem por não possuir ferramentas, ou não poder
utilizá-las, para transpô-lo”.
Partindo assim, deste pressuposto, para chegarmos de fato ao
diagnóstico de um problema de aprendizagem é necessário observar alguns
fatores como: orgânicos, específicos, psicógenos e ambientais como retrata
Pain (1985, p.28).
Portanto, cabe assim ao Psicopedagogo, voltar o seu olhar ao processo
de ensino-aprendizagem, levando em conta, o que afirma Pichon (Nogueira,
2009, p.18) “cada um de nós tende a aprender de múltiplas e diferentes
maneiras, construindo ativamente os conhecimentos nas interações com os
outros ao longo de toda a vida” e que “a aprendizagem é um processo contínuo
e dinâmico que ocorre durante toda a vida do ser humano e é por meio dela
que o indivíduo se apropria de algo novo, aprender um novo conhecimento, de
modo que esse conhecimento passa a fazer parte dele. Esse processo é
resultado da interação entre o indivíduo e o meio sócio-cultural em que ele vive,
ou seja, para que o ser humano aprenda, é necessário que ele interaja com os
outros
seres
humanos.
A
partir
dessas
interações,
ao
longo
do
desenvolvimento da espécie humana, o homem foi se apropriando de
conhecimentos,
habilidades,
estratégias,
valores,
(Nogueira, 2009, p.17).
1
O TERMO DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM
crenças
e
aptidões”
Para conhecer um pouco mais sobre o tema: Dificuldade de
Aprendizagem destaca-se o ponto de vista de renomados autores em relação à
utilização do termo.
KIRK (1962, p.263) afirma que:
Uma dificuldade (ou distúrbio) de aprendizagem refere-se a
um atraso, desordem ou retardo do desenvolvimento em um ou
mais processos da fala, leitura, escrita, aritmética ou outro
resultado escolar do sujeito causado por uma desvantagem
psicológica devido a uma possível disfunção cerebral e/ou
distúrbios emocional ou comportamental. Ela não é o resultado de
retardo mental, privação sensorial ou de fatores culturais e
educacionais.
Segundo GARCÍA SANCHEZ (citado por Nunes; Silveira, 2008, p.174):
A definição mais aceita entre os estudiosos do tema (o
termo dificuldade de aprendizagem) tem sido a de um conjunto
heterogêneo de transtornos que se expressa no campo da
linguagem, da leitura, da escrita e das habilidades matemáticas,
que podem aparecer ao longo do ciclo vital.
Para BARBOSA (2006, p.53):
Estar com dificuldade para aprender [...] significa estar
diante de um obstáculo que pode ter um caráter cultural,
cognitivo,
afetivo
ou
funcional
e
não
conseguir
dar
prosseguimento à aprendizagem por não possuir ferramentas, ou
não poder utilizá-las, para transpô-lo.
Existe uma variedade de termos para caracterizar a Dificuldade de
Aprendizagem, porém, é necessário salientar que todas essas nomenclaturas,
por mais que possam apresentar formas diversas de abordar as dificuldades,
exigem uma investigação diagnóstica clínica aprofundada, realizada por uma
equipe de especialistas que vai desde o psicopedagogo, passando pelo
psicólogo, o neurologista, o fonoaudiólogo etc. Portanto, somente a partir de
uma avaliação dessa equipe multidisciplinar será possível vislumbrar o não
aprender de maneira profissional e acertada para que não haja julgamentos
precipitados e preconceitos.
2
A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA DE PIAGET
A epistemologia genética, ou psicogênese do desenvolvimento, tem
como seu criador Jean Piaget. Segundo ele, a inteligência é desenvolvida a
partir das interações com o meio. Para ele toda nova situação faz com que as
estruturas mentais busquem uma nova adaptação ao meio, quer dizer: o novo
sempre desorganiza o que estava estável e, através de novas organizações,
busca-se novamente o equilíbrio.
Para Piaget (1978) este processo de equilibração é feito por meio da
assimilação - usar os esquemas mentais já construídos em equilibrações
anteriores - e da acomodação - mudar os esquemas antigos ou criar novos - e
é ele que permite o desenvolvimento e daí a aprendizagem.
Piaget (1978) postula que todo processo de amadurecimento da criança
adquirido ao longo de sua infância, contribuirá para o acesso ao estágio das
operações formais permitindo que o seu conhecimento ultrapasse o real, não
havendo mais a necessidade de mediação do concreto, possibilitando à criança
a formulação de um raciocínio hipotético que a levará a operações dedutivas
por meio das hipóteses levantadas.
É importante ressaltar que o pensamento do sujeito a partir dos 11/12
anos, quando entra na fase conhecida como adolescência, vai se diferenciar do
pensamento da criança para decodificar as metáforas o que para Pereira,
Outro aspecto que diferencia o pensamento do adolescente do
pensamento da criança é a sua capacidade de utilizar um segundo
sistema de símbolos, um conjunto de símbolos para símbolos. [...] O
pensamento do adolescente se torna muito mais flexível com essa
nova capacidade. Ele pode utilizar metáforas, sendo capaz de
entender que as palavras podem ter mais de um significado, podem
ter múltiplos sentidos. (PEREIRA, 2005, p.48)
Portanto, embora o desenvolvimento da compreensão cognitiva da
criança venha sendo construída desde o seu nascimento, ganha novo formato
quando da sua entrada na escola, pois nela a criança será introduzida à
socialização, assim sendo, a educação deve ser uma ação que permita fluir
aquilo que é natural da criança, ou seja, o desejo de aprender a aprender.
3
OBSTÁCULOS À APRENDIZAGEM DE JORGE VISCA
De acordo com os estudos de Visca (1987) esses obstáculos à
aprendizagem podem ser organizados didaticamente em quatro tipos:
1. Epistemológico: Consiste na resistência em aceitar todo
conhecimento que se encontre em contradição com a concepção
do mundo e da vida;
2. Epistemofílico:
Consiste
na
dificuldade
em
aceitar
todo
conhecimento novo por meio da indiscriminação, do ataque ou da
perda, ou seja, são “as causas emocionais” que podem gerar
dificuldades de aprendizagem;
3. Epistêmico: Cada sujeito possui uma determinada estrutura
cognitiva que delimita o nível de conhecimento que pode adquirir
em função das operações que dispõe;
4. Funcional: São as formas como se dá o pensamento do sujeito
que, segundo Visca, sofrem uma evolução que permite ao
examinador das dificuldades de aprendizagem utilizá-los como
hipótese auxiliar sempre que precise se valer de recursos
diagnósticos que não possuam na sua organização os princípios
construtivistas e interacionistas, os quais fundamentam essa
visão.
Dessa forma, é preciso que seja feita uma investigação cuidadosa em
relação às dificuldades de aprendizagem da criança, passando por todos os
níveis de aprendizagem e buscando averiguar as possibilidades e obstáculos
prováveis, não só as consequências vislumbradas em sala de aula: leitura,
escrita, compreensão e interpretação de textos, problemas em relação à
matemática, à atenção e ao comportamento, pois tais dificuldades podem ser
agravadas ou mesmo geradas por questões sociais mais complexas advindas
da história particular de desenvolvimento de cada um.
CONSIDERAÇÕES
Nada há que seja tão difícil de aprender como o
conhecimento das línguas e o domínio da geometria e da
aritmética,
por
causa
da
sutileza
complexa
nas
demonstrações com figuras e números, salvo se isso se
tenha aprendido desde jovem. Ao contrário, não existe
dificuldade, quando se tem um bom mestre e a elas a gente
se dedica com zelo e confiança. BACON: 2006, p.65.
Portanto, o educador pode ajudar muito, mediando o encaminhamento
da criança para a avaliação clínica, conversando e orientando os pais e
ajudando os profissionais com informações relevantes acerca da criança, as
quais somente ele, em seu convívio diário com os estudantes, será capaz de
perceber e apontar, porém o professor, ainda que conheça a fundo seu aluno,
não está capacitado para avaliar clinicamente a situação.
Fonte: Fragmentos do TCC/Artigo e Relatórios Psicopedagógicos:
Por Francisco Carlos – Psicopedagogo.
Referência Bibliográfica:
LEAL, Daniela; NOGUEIRA, Makeliny Oliveira Gomes.
Dificuldades de Aprendizagem – um olhar psicopedagógico, Editora IBPEX, 2011.
Obs.:
Como o site tem a finalidade de aclarar sobre o tema DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM, foi
retirados algumas pares das referências acima citadas, porém recomenda-se o LIVRO:
DIFILCUDADE DE APRENDIZAGEM da editora Ibpex, como fonte riquíssima de apoio para um
profissional psicopedagogo.
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