O PROJETO DE TRABALHO COMO MEDIADOR DE
APRENDIZAGEM NO ESPAÇO CLÍNICO
GAMBA, Adriane Becker – FACSUL
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TRENTO, Valma Andrade – UFPR
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Resumo
O presente trabalho tem como objetivo discorrer a respeito de como se deu a aplicação de
“Projetos de trabalho” como recurso de intervenção para a superação de dificuldades
apresentadas por crianças atendidas no espaço clinico. Visca (1987) e Barbosa (2003) nos
deram sustentação para que esse trabalho prosseguisse e se concretizasse. A investigação
partiu da necessidade de descobrir como esses modelos de intervenção atuariam e ou
modificariam um aluno com dificuldades escolares, até que ponto essa forma de trabalhar
despertaria e manteria o desejo no ser aprendente? No decorrer do projeto é perceptível a
motivação do cliente com relação a aprendizagem, o adulto diante da criança faz com que
eles tenham segurança para instrumentalizar-se de estratégias e mais tarde poder caminhar
sozinha em busca do próprio conhecimento. O desenvolvimento do projeto aconteceu
seguindo alguns critérios que estão especificados na seqüência: Delimitação do tema de
interesse, levantamento de hipóteses e definição do que poderá ser feito, lista de fontes
de pesquisa, registro de materiais necessários para a realização do projeto, construção
do objeto, tendo como base os materiais programados. Seguindo esses passos é possível
atingir o ser humano em sua totalidade integra, compreendidas as três áreas: afetiva, cognitiva
e social. As áreas de atuação do “projeto de trabalho” são múltiplas e durante os trabalhos
realizados na clinica ele tem sido usado com caráter terapêutico e também como caráter
preventivo. No caráter terapêutico devolvem-se no aprendente suas potencialidades, assim
como se descobrem outras, e no caráter preventivo, atua mantendo o sujeito ativo para a
aprendizagem.
Palavras-chave: projeto de trabalho, aprendizagem, clínica.
Introdução
Tendo como base o estudo de Visca (1987) e de Laura Monte Serrat Barbosa, fez se o
emprego da proposta de trabalho com “Projeto de Trabalho”, intervenção esta que tem como
objetivo contribuir para a superação de dificuldades levantadas com base no diagnóstico
clínico. Visca
salienta três grandes linhas que sustentam a
análise da aprendizagem:
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Psicologia Genética, a Psicologia Social e a Psicanálise, linhas estas que nos permitem
trabalhar o aluno como um ser por inteiro, já o “Projeto de Trabalho” encaminha-nos para a
ação e transformação do ciclo inibitório da aprendizagem.
Desenvolvimento
Para que o trabalho em uma clinica de Psicopedagogia seja realizado com sucesso, o
envolvimento dos profissionais que ali atuam é de extrema importância. O psicopedagogo
precisa estar atento às inúmeras possibilidades de intervenção, levando em conta as
dificuldades apresentadas pelos clientes que buscam sua ajuda, bem como a própria
disponibilidade frente a novos aprendizados demonstrados por este.
Levando em conta este pressuposto, optou-se pelo emprego de “Projeto de Trabalho”
(BARBOSA, 2003) como um recurso de intervenção e enfrentamento de dificuldades
apresentadas pelos aprendizes atendidos no espaço clinico.
Este projeto de trabalho a ser organizado pode estar relacionado a uma atividade de
produção concreta ou simbólica e procura permitir com que a pessoa viva, desde
seu planejamento até a sua execução, o sentimento de capacidade e de criação de
alternativas diante dos erros que podem surgir neste processo. Além disto abre o
espaço também para a busca do ensino, pois quando não se sabe e não se consegue
criar alternativas, pode-se encontrar naquele que sabe um aliado, um mediador entre
o saber e o não saber . ( BARBOSA, 2003, p. 22)
Este meio de intervenção tem como origem a caixa de trabalho de Visca (1987),
idealizado como um recurso de intervenção nas dificuldades de aprendizagem. Cada paciente
tem sua própria caixa montada e, segundo seu autor “cada caixa de trabalho é única, não
apenas porque será usada por um único paciente (...) mas também no sentido de que não há
duas caixas iguais, da mesma maneira que não existem dois indivíduos ou dois diagnósticos
iguais” e “Todo o material que contem na caixa é uma replica de seu diagnóstico...” Visca
(1994). A caixa é organizada com materiais definidos após o diagnostico do paciente, levando
em consideração os interesses, estágio de pensamento, sexo, idade, déficits de aprendizagem,
meio sócio-cultural, prognostico e grau de focalização de tarefa. Assim sendo, cada paciente
tem sua própria caixa, que poderá ser montada usando materiais simples como cartolina ou
papelão e enfeitada de acordo com os interesses de seu usuário. Visca caracteriza ao campo de
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educação sistemática: escrever, operar matematicamente, ler, interpretar, etc. como educação
assistemática refere-se: a cozinhar, costurar, são as atividades realizadas no dia-a-dia.
O Psicopedagogo como mediador deve estar atendo a todos os avanços e dificuldades
de seus clientes, para adequar o material ou mesmo acrescentar ou retirar objetos, sempre
avaliando as ações efetuadas e não perdendo de foco seus objetivos.
A proposta de intervenção por meio do “Projeto de Trabalho”, desenvolvida por
Barbosa (2003) tem como diferenciação a maior mobilidade do paciente frente a suas
dificuldades, já que parte dele a organização e construção de algo que seja de seu interesse.
O não conseguir aprender por repetidas vezes faz com que o aprendiz forme de si
uma imagem de fracasso e se iniba ou se afaste de novas situações de aprendizagem.
Este afastamento vai impedindo a sua evolução cognitiva e inibindo o seu desejo de
aprender, o que gera desconforto diante de novas aprendizagens, provocando por
certo um novo fracasso. ( BARBOSA, 2003, p. 21)
No projeto de trabalho, a criança é convidada a pensar a respeito de seus interesses,
buscarem informações a partir deles e criar algo que possa ser único e exclusivamente seu,
como uma tela ou um novo jogo com regras próprias. “O Projeto de Trabalho foi elaborado
com a importante função de devolver a potencia ao aprendiz e auxiliar no rompimento do
ciclo inibitório de aprendizagem.” (BARBOSA, 2003 p. 21). A criança é levada a agir e a
avançar dentro de suas dificuldades já que, mesmo que tenha dificuldades em leitura e escrita,
junto com o psicopedagogo irá buscar maneiras de escrever e ler para pesquisar ou registrar
informações a respeito do objeto de estudo definido em seu projeto de trabalho.
A criança que apresenta dificuldades em Matemática, por exemplo, pode se deparar
com situações em seu projeto em que necessite somar ou subtrair; há ainda aquelas em que a
habilidade motora necessita ser trabalhada para o desenvolvimento de seu projeto. Pode-se
perceber que os ganhos com este tipo de intervenção são muitos e que cabe ao psicopedagogo
saber o melhor momento em que irá intervir e/ou agregar novos conhecimentos.
Sabendo
disso,
fez-se
uso
desta
proposta
de trabalho
em
atendimentos
psicopedagógicos administrados no espaço clínico onde foi despertado o interesse por
diferentes temas. Visca e Barbosa fundamentam o trabalho clinico com a proposta de “Caixa
de Trabalho” “e “Projeto de Trabalho” respectivamente e, visto que, aprender implica
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mudanças, que podem gerar ansiedade por ser um fato novo, essas duas formas de atuação
geram segurança no sujeito por estar trabalhando com objetos e fatos de seu interesse, e
consequentemente o sujeito é movimentado para caminhar em busca de seu aprendizado.
Em todos os projetos foram seguidos alguns passos, definidos por Barbosa (2003) e
adaptados de acordo com a dinâmica do espaço em que este foi aplicado. Para ilustrarmos
exemplificaremos
o projeto realizado com uma criança de 9 anos com o tema: “ Hanna
Montana.”
- Delimitação do tema de interesse:
A criança foi convidada a pensar a respeito das coisas que mais gosta. A partir da
sondagem realizada em um “Painel do que eu mais gosto” (Barbosa, 2003) que seria
demonstrado por meio de desenhos e colagens entre outros. Nesse momento o psicopedagogo
também confeccionou o seu próprio painel para em seguida dar continuidade ao trabalho.
- Levantamento de hipóteses e definição do que poderá ser feito:
O passo seguinte foi listar os gostos comuns entre o psicopedagogo e a criança, os
quais motivaram a criança, porque no momento alguém estava interessado em coisas que
despertavam-lhe o desejo.
Após a definição do objeto de estudo, a criança deveria pensar a respeito do que
poderia aprender além do que já conhecia sobre seu objeto de estudo e o que poderia fazer de
construção: jogo, pintura em tela, bordados, pintura em caixa, pesquisa, entre outros. Enfim
ficou definido o significado do que é um projeto.
- Lista de fontes de pesquisa:
Neste momento a criança, juntamente com o mediador deveria pensar a respeito dos
locais em que poderia encontrar informações ou curiosidades a respeito de seu objeto de
estudo. A definição de como a pesquisa deveria ser feita, em caderno, em forma de portfólio,
e os locais pesquisados como revistas, jornais, livros ou mesmo internet.
- Planejamento/ elaboração de cronograma para o desenvolvimento do projeto:
A criança, com o psicopedagogo, elaboraram um plano de ação, com todos os passos a
serem seguidos nos próximos encontros. Logo a aprendente demonstrou desejo de trazer
algumas revistas de sua casa, as quais originaram o inicio da pesquisa.
- Pesquisa propriamente dita:
O registro das informações consideradas importantes pela criança, recortes, colagens,
desenhos, leituras, entre outros, fizeram parte deste processo. É neste momento que a criança
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começa a pensar a respeito de sua construção, e o quanto ela consegue porque o adulto esta
diante dela.
-Registro de materiais necessários para a realização do projeto:
Neste momento a criança era convidada a registrar todos os materiais necessários de
acordo com o que se propunha a construir, bem como pensar a respeito de como conseguir
determinados materiais. Por exemplo, se necessitasse de uma caixa de determinado tamanho
não disponível na clínica, deveria se comprometer a trazer de casa.
- Construção do objeto, tendo como base os materiais programados:
Este pode ser considerado pela criança um dos momentos mais prazerosos, já que construir
algo que seja seu e que poderá ser útil para ela ou mesmo para outras pessoas lhe traz grande
satisfação.
Como se pode perceber, um projeto de trabalho faz com que a criança seja agente de
sua aprendizagem, pois possibilita “ a percepção do que foi aprendido e (...) a previsão do que
ainda falta para aprender.” (Barbosa, 2001, p.69).
Em todos os momentos de realização do projeto, o psicopedagogo deve estar atento
aos avanços e dificuldades na realização por parte da criança, colaborando e sempre
intervindo da melhor maneira possível, visando sempre a superação destas dificuldades.
A criança que participou do projeto de trabalho tive um avanço bastante significativo
com relação á leitura e escrita, bem como mostrou - se mais aberta a novas aprendizagens, já
que pode vivenciar na prática a possibilidade de vencer alguns desafios. Ela também pode
desenvolver outras habilidades, as quais contribuíram para o aumento de sua auto-estima,
organização de ideias seguindo uma seqüência lógica, paciência e argumentação.
Cabe ressaltar o que afirma Barbosa (2003) “ nenhum novo conhecimento surge sem
estar articulado a conhecimentos anteriores; portanto, a escolha de um Projeto de Trabalho
parte sempre do conhecimento e do interesse já existente, para que os mesmos possam ser
integrados ao novo e dar origem a uma nova construção.” Sendo assim, os resultados obtidos
só foram possíveis porque o próprio aprendente se dispôs a cooperar e se mostrou motivado a
buscar alternativas para superar sua aprendizagem ou mesmo melhorar seu desempenho na
leitura e na escrita.
O Projeto de Trabalho pode ser definido como um agente propulsor de aprendizagens,
já que não acaba em si mesmo e sua tônica terapêutica preventiva ou corretiva em cada caso
pode ser diferente:
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Em casos de agressividade, a tônica pode ser no controle, para gradativamente, ir
possibilitando o autocontrole; nos casos em que o sintoma é a chamada
hiperatividade ou déficit de atenção, a tônica é no planejamento; o incentivo a
autonomia é a intenção do trabalho com pessoas dependentes; a função da leitura e
escrita e das operações mentais, e o seus significados, são enfatizados no caso de
dificuldade de leitura e escrita e pensamento lógico matemático; e a segurança é a
principal abordagem nos casos que apresentam medos excessivos. (BARBOSA,
2003, p. 117)
Todo o trabalho envolvendo o “Projeto de trabalho” deve ter como ponte, a
comunicação e a capacidade de ouvir de ambos os lados – terapeuta e cliente – e deve sempre
estar ancorada em um porto que seja seguro para o cliente, de confiança no trabalho que irá
ser desenvolvido e de compreensão, por parte de todos os envolvidos neste processo.
Considerações finais
Quando uma criança é encaminhada para um trabalho clinico que visa resgatar déficits
de aprendizagem, geralmente esta chega com uma visão de si mesma distorcida, percebendose incapaz e sem desejo de aprender.
O primeiro obstáculo a ser vencido junto a esta criança é a criação de vinculo, que
permite ao psicopedagogo ser percebido como alguém de confiança, que não irá julgá-la ou
mesmo, critica-la.
O trabalho com “Projetos de Trabalho” leva a criança a perceber que ela pode sim
aprender algo de novo e que, mesmo que erre, poderá fazer do erro uma tentativa para o
acerto. Segundo Barbosa (2001, p. 35) “a dificuldade na aprendizagem é um elemento que faz
parte do processo (...). Sem dificuldade não existe aprendizagem real; não havendo
desequilíbrio, não há busca de equilíbrio, e a aprendizagem não se faz.”
Partindo deste pressuposto, os avanços apresentados pela aprendente no projeto Hanna
Montana puderam ser percebidos logo nos primeiros encontros, já que conseguiu perceber o
psicopedagogo como alguém em quem poderia confiar e alguém interessado em seu objeto de
estudo. A aprendente realmente se envolveu no projeto, sugerindo fontes de pesquisa e
colaborando com revistas sobre o tema e sugestões de trabalho. Produziu textos sobre o
assunto e leu a respeito do tema, assim como produziu uma almofada utilizando a técnica de
patchwork, uma caixa para guardar objetos e marcadores de páginas utilizando colagens de
tecidos.
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Demonstrou estar mais autoconfiante, solicitando por vezes, o auxilio da
psicopedagoga em lições que antes recusava-se a comentar. Na medida em que o trabalho foi
acontecendo, sua inibição começou a diminuir e as sugestões de pequenas “tarefas” que antes
demonstrava resistência para realizar, começaram a ser realizadas sem resistência e com muita
boa vontade.
Acredita-se que o grande avanço permitido por este meio de intervenção seja
realmente este: levar a criança a buscar sua própria força para vencer os obstáculos que a
aprendizagem nos traz, sem medo de errar, sem medo de inovar.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Simaia Maia Medrado. Caixa de trabalho: Depositário do mundo interno do
aprendiz. Disponível em: < http// www .psicopedagogia.com.br>. Acessado em 7 jul. 2004.
BARBOSA, Laura Monte Serrat. A Psicopedagogia no âmbito da instituição escolar.
Curitiba : Expoente, 2001
BARBOSA, Laura Monte Serrat. O projeto de trabalho:
psicopedagógica. Curitiba, 2003
Uma forma de atuação
BARBOSA, Laura Monte Serrat. Caixa de trabalho: uma ação pricopedagógica proposta
pela epistemologia convergente. Disponivel em: <http//www psicopedagogia.pro.br>
Acessado em: 7 jul. 2004.
VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagogica: Epistemologia Convergente. Buenos Aires –
Argentina, 1994.
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