ESCRITA E
PRÁTICAS
COMUNICATIVAS
KOCH, Ingedore. Ler e escrever: estratégias de
produção textual. São Paulo: Contexto, 2009
Os gêneros como práticas
comunicativas

Segundo Bakthin (1992), as atividades de fala e
escrita – também chamadas de práticas
comunicativas – sempre exigem do sujeito
produtor “uma forma padrão e relativamente
estável de estruturação de um todo, que
constitui um rico repertório dos gêneros do
discurso (orais e escritos)
“em nossas práticas comunicativas usamos
gêneros com segurança e destreza, mas podemos
ignorar totalmente a sua existência teórica”. Em
outras palavras, aprendemos no dia-a-dia a
“moldar” a escrita (e também a nossa fala). “às
formas precisas de gêneros, às vezes
padronizados e estereotipados, às vezes mais
maleáveis, mais plásticos e mais criativos.
“Se
não existissem os gêneros e se não
os dominássemos, se tivéssemos de
criá-los pela primeira vez no processo
comunicativo, se tivéssemos de
construir cada um de nossos
enunciados, a comunicação verbal
seria quase impossível.”
Pressupostos
Escritores produzem textos com base em
“modelos” construídos socialmente, razão pela
qual, de um modo geral, não temos dificuldade de
produzir, por exemplo, um bilhete ou um e-mail,
já que são formas de enunciado bem comuns em
nossas práticas comunicativas;
 Os modelos são abstrações de situações de que
participamos e do modo de nos comportarmos
lingüisticamente, portanto, em sua constituição,
entram de forma inter-relacionada aspectos
cognitivos, sociais e interacionais.

Pressupostos
Os modelos são constituídos e reconstituídos ao
longo de nossa existência em decorrência de
inúmeras práticas sociais de que participamos.
 Quando
escrevemos, não somos totalmente
“livres” para utilizar indiscriminadamente
qualquer forma textual.
 Como qualquer outro produto social, os gêneros
não são formas fixas (e sim “estáveis”), estando
sujeitos
a
mudanças
decorrentes
das
transformações sociais, de novos procedimentos
de organização e acabamento da arquitetura
verbal.

Gêneros textuais: Composição,
Conteúdo e Estilo

Em termos bakhtinianos, um gênero pode ser
concebido como enunciado realtivamente estável
que apresenta composição, conteúdo e estilo.
A composição ou plano composicional
corresponde à estruturação e organização da
superfície textual.
Se pensarmos, por
exemplo, no gênero cartão-postal, veremos
que sobressaem em sua composição os
seguintes
elementos:
destinatário,
informação contida em um campo à parte,
além da saudação inicial, mensagem,
saudação final e assinatura.
EXEMPLO DE CARTÃO POSTAL
O conteúdo temático diz
respeito ao tema esperado no
tipo de produção em destaque e o
estilo está vinculado ao tema e
ao conteúdo, a um tipo de relação
(formal/informal)
que
se
estabelece entre o locutor e os
demais parceiros da comunicação
verbal.
Se tratarmos do gênero contrato, por exemplo,
em termos de conteúdo, é esperada a descrição
de cláusulas referentes a deveres e direitos das
partes envolvidas, e essa expectativa é válida
para todo e qualquer contrato.
 Esse conteúdo temático é associado, também, ao
estilo (formal) que vão constituir o contrato
como contrato e não como uma declaração, um
requerimento ou um relatório.
 Ver o exemplo da tirinha a seguir, em que o
“conteúdo temático” não se ajustou à
“composição” e ao “estilo”.

TIRINHA

Como vemos, o autor da tirinha, no último
quadrinho rompe com o esperado e, ao fazê-lo,
reforça o “modelo” que construímos socialmente
sobre a tematização que orienta a produção de
um cartão de Dia dos namorados.
Gêneros como parâmetros na
produção escrita
De acordo com Schneuwly (1994), os gêneros
podem ser considerados ferramentas na produção
escrita, na medida em que um sujeito –
enunciador – age discursivamente numa situação
definida – a ação – por uma série de parâmetros,
com a ajuda de um instrumento semiótico – o
gênero.
 Assim, a escolha do gênero se dá sempre em
função dos parâmetros da situação que guiam a
ação e estabelecem a relação meio-fim, que é a
estrutura básica de toda a atividade mediada.

Gêneros como parâmetros na
produção escrita
A escolha do gênero deverá, portanto, levar em
conta, em cada caso, os objetivos visados, o lugar
social e os papéis dos participantes. Além disso, o
agente deverá adaptar o “modelo” do gênero a
seus valores particulares, adotando um estilo
próprio, ou mesmo contribuindo para a constante
transformação dos modelos.
 Pensar em práticas relativamente estáveis
significa contemplar nessa definição um espaço
para a instabilidade, a plasticidade, que pode se
dá, por exemplo, (1) na ausência de uma das
categorias previstas na composição do texto; (2)
na intergenericidade.

AS SEQUENCIAS TEXTUAIS

Adam (2008) defende que todo texto é formado de
seqüências, esquemas lingüísticos básicos que
entram na constituição dos diversos gêneros e
variam menos em função das circunstâncias
sociais. Cabe ao produtor escolher, dentre as
seqüências disponíveis – descritiva, narrativa,
injutiva,
explicativa,
argumentativa,
dialogal – a que lhe parecer mais adequada,
tendo em vista os parâmetros da situação.
Download

Escrita e práticas comunicativas