2 A Ludicidade e a Literatura Infantil Cíntya Conceição Alvarez1 Margareth Araújo e Silva2 1 – Introdução: Esta pesquisa tem como objetivo ressaltar a importância do lúdico na Literatura Infantil e sua contribuição para o desenvolvimento integral do aluno, não só no aspecto cognitivo, mas nos demais aspectos que fazem parte da formação integral do ser humano. De acordo com esta hipótese levantada é possível afirmar que interessante seria utilizar jogos no ensino da literatura infantil e das demais disciplinas, pois a resolução de problemas associa o intelectual ao prático, vincula habilidades básicas a outras mais complexas, vincula ensino à aprendizagem – essencialmente ele vincula o brincar ao trabalhar, facilitando a assimilação de conteúdos aparentemente difíceis e complicados. Percebe-se a importância da ludicidade para o desenvolvimento das crianças devido a grande relevância que o lúdico tem no universo infantil e consequentemente na vida escolar da criança. Apesar das propostas existentes no âmbito educacional, percebe-se que os resultados continuam insatisfatórios, o que demonstra a necessidade de mudanças, sendo o professor um dos principais, senão o mais importante protagonista deste processo de mudança. Assim, é necessário que a prática docente seja motivo de estudos como este e muitos outros. Durante a exploração bibliográfica do assunto foi possível observar que os diversos autores tratam do lúdico na infância sob aspectos e enfoques diferentes. Santos (1999) trata do trabalho com o lúdico principalmente em locais organizados, adequados e preparados para tais atividades, como nas Brinquedotecas. Para a autora o brincar é uma atividade livre e espontânea da criança e que, portanto deve ser respeitado. Marisa Rocco (2004) trata do tema sob um aspecto cultural, procurando explicar o porque das crianças não brincarem mais como nas décadas de 70 a 90, salientando a importância do lúdico no desenvolvimento infantil. Janet Moyles (2001) analisa o 1 Acadêmica do 4º Ano do Curso de Letras da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade de Jardim. 2 Mestra em Educação na Universidade Ferderal do Espírito Santo – UFES, Doutoranda do Programa Pós Graduação em Educação – PPGEDU/UFMS, na Linha de Pesquisa “Educação, Psicologia e Prática Docente” e Professora da UEMS - Unidade de Jardim/MS margareth araujo [email protected] 3 lúdico sob o enfoque educacional, salientando assim o valor da ludicidade para a aprendizagem e formação integral do aluno e considera o brincar como uma atividade capaz de desenvolver o indivíduo como um todo: no aspecto emocional/social, físico e cognitivo. Muitos autores afirmam que o jogar está na essência do brincar. Assim, pelo jogo simbólico, a criança exercita não só o aspecto motor, mas também suas habilidades cognitivas, já que salta, corre, gira, rola, transporta. Também é através dessas mesmas brincadeiras que se desenvolve o equilíbrio emocional e a autonomia, elementos fundamentais para o sucesso das aprendizagens futuras e o papel do professor é de garantir que, no contexto escolar, a aprendizagem seja contínua e inclua fatores além dos intelectuais: social, o emocional, o físico, o estético, o ético e o moral devem se combinar com o intelectual para tornar a aprendizagem mais abrangente e formadora. Cabe ressaltar também que o jogo e as brincadeiras podem ser utilizados para a coordenação motora, visual, mas principalmente a intelectualidade. É onde se encaixa a disciplina de Literatura Infantil, o aluno precisa compreender porque é importante estudar livros de poesia, músicas, teatros, jogral, porque aí tudo fará sentido. Literatura infantil não é só historinha para dormir não, mas sim “arte”, a arte de aprender brincando. O desenvolvimento deste trabalho será realizado em capítulos. No primeiro capítulo é intitulado como “Um olhar sociológico sobre a infância” e os subitens; “Ludicidade” e "A visão de Vygotsky sobre o imaginário e o jogo-componente simbólico” que serão abordados segundo algumas teorias, como as de Kramer e Leite (1996); Larrosa (1991); Lajolo (1997); entre outras. Para Kramer e Leite (1996) a infância é o momento singular na vida de cada indivíduo que está em constante construção e permanente descoberta. A cada dia a criança se depara com uma vivência nova, seja esta uma simples emoção ou experiência qualquer diferente do seu mundo. De acordo com Larrosa (1991) devemos nos colocar no tempo em que vive essa criança para compreendermos o que se passa na mente dela. A infância nem sempre é compreendida pelos adultos, sendo que estes pensam que as crianças não têm consciência do mundo em que vivem. Lajolo (1997, p. 226) afirma que “a infância é sempre um outro em relação àquele que a nomeia e a estuda”, que esta noção de infância é um tempo de erros e de deformações, como um tempo de fragilidades e perversidades. Platão, no texto A 4 República, traça um perfil da criança “como seres desprovidos de Razão”, indignos da confiança dos adultos e de ouvir assuntos próprios ao mundo dos mesmos. A infância, tendo conquistado o seu espaço na sociedade no início do século XVIII, com a queda do feudalismo e a ascensão da burguesia, deixa de ser vista como um ‘adulto em miniatura’ conforme Rousseau e Jefferson, e se verifica a valorização do sentimento de infância. Com tal concepção, voltada para a criança enquanto “Ser Individual”, surge à preocupação com a sua existência. Com a sua educação e com o seu bem estar físico, psíquico, emocional, sendo alvo de atenção e preocupação. Com essa valorização surge o espaço social coletivo onde a criança interage, descobre-se como detentora de direitos e deveres, descobre-se como “Ser Intercultural”. Cria um valor do “Ser Criança”, independentemente, de raça e/ou nacionalidade; pela diminuição do preconceito e da discriminação racial e cultural. O lúdico é um instrumento que permite a inserção da criança na cultura. Através do qual se pode somar suas vivências internas com a realidade externa É ainda um facilitador para a interação com o meio, embora seja muito pouco explorado. As atividades lúdicas são fundamentais para o desenvolvimento da criatividade, pois, crianças criativas têm melhor concentração, são menos agressivas, contam e escrevem histórias mais originais. Para ser criativa a criança precisa brincar e o brincar precisa ser estimulado com vigor no ambiente escolar. No segundo capítulo a temática do “Brincar; um ato lúdico” traz contribuições de teóricos como Vygotsky (1989); Brougère (1998); Rizzo (1988); Machado (1994); Sigmund Freud (1973); Winnicott (1975) entre outros. O brincar na escola estimula uma aprendizagem diferente e interessante. Nesse sentido, para Machado (1994, p. 37): “... o brincar é um grande canal para o aprendizado, senão o único canal para verdadeiros processos cognitivos.” É importante salientar que, acima de tudo, o brincar motiva e dá prazer. Ao brincar a criança se distancia do real, vivencia o imaginário, pois, cria situações do cotidiano, mas que quase sempre ainda não aconteceu. Para Sigmund Freud (1973), o brincar é visto como um mecanismo psicológico que garante ao sujeito manter certa distância do real. Brincar, para ele significa tornar-se o arquétipo de toda atividade cultural que, como a arte, não se limita a uma relação simples com o real. Na atividade lúdica, o objeto representa um símbolo que sugere algo pré-existente na mente do aprendiz. Vygotsky (1989) defende a idéia de que o jogo infantil não é 5 simplesmente uma recordação do que já foi vivido, mas que ao investigar o desenvolvimento do conhecimento nas crianças, se depara com novos espaços criados pelas mesmas, sem que elas jamais tenham vivido em tal situação. De acordo com Brougère (1998a) o termo jogo tem três significados diferentes: Às vezes esse termo pode designar uma situação nas quais as pessoas “jogam”. Outras vezes, designa o sistema de regras que precisam ser obedecidas pelos jogadores. Pode ser também usar o mesmo termo para indicar o material que compõem um jogo. Na psicanálise, adota-se ora o termo jogo, ora o termo brincar. Segundo a psicanálise, podemos expressar nossos desejos de forma simbólica quando sonhamos, fantasiamos ou brincamos. A brincadeira de faz conta permite à criança ir além do que pode realizar no seu cotidiano, a criança troca de lugar com o adulto e assim, experimenta novas posições. Para Rizzo (1988), os jogos constituem um poderoso recurso de estimulação do desenvolvimento integral do aluno. As crianças adquirem mais aprendizado quando estimulados por curiosidade, desafio ou qualquer outro desejo de realizá-lo. Desta forma não há nenhum jogo ou brincadeira que não possa trazer algo novo para se aprender. Segundo Winnicott (1975), “o brincar pode interessar tanto ao professor quanto ao psicoterapeuta”. O primeiro, ao compartilhar com a criança, visa o enriquecimento dela. O segundo se interessa pela remoção de bloqueios que prejudicam seu desenvolvimento. O autor ainda salienta que compartilhar a brincadeira não significa administrá-la pela criança. Neste caso, o adulto estaria subestimando a capacidade da criança de brincar criativamente. No terceiro capítulo dá-se o tema “Literatura Infantil” que vem a ser um dos focos da pesquisa deste trabalho. É por meio da literatura infantil que se fará explorar a ludicidade através de leituras poéticas, contos de fadas ou outras quaisquer histórias. Ainda nesse capítulo é abordado o subitem “Literatura Infantil e os jogos de computador” e qual a sua contribuição para o ensino-aprendizagem. Tal tema tem a colaboração de algumas considerações teóricas como Abramovich (1994); Coelho (1981); Cademartori (1994); Lopes (2001); Malone (1982); Papert (1980) entre outras. Através das histórias infantis a criança pode partilhar conhecimentos de outros tempos, lugares e maneiras diferentes de ser. Abramovich (1994, p.17) diz que um dos papéis da literatura infantil é suscitar o imaginário, ter a curiosidade respondida em relação a muitas perguntas e encontrar outras idéias para solucionar questões. 6 De acordo com Coelho (1981), a literatura, no principio, foi baseado na fantasia, pois sem conhecimento científico, foi representada pelo mito, pela mágica e pela lenda. No entanto, essa forma literária fantástica, transformou-se em literatura infantil, porque as histórias relatadas nesses termos, sempre atraíram as crianças e os críticos literários. Segundo Cademartori (1994), Monteiro Lobato foi o percussor da literatura infantil no Brasil o que significou o aumento de livros infantis na década de 70 e 80. A valorização da literatura infantil enquanto propiciadora de uma visão da realidade, representando a própria arte ficcional determinou sua ascensão ao plano educacional. De acordo com Coelho (1981), a literatura infantil pertence a duas áreas distintas: a da arte que sendo ela um objeto que provoca emoções, prazer, diverte e modifica o conhecimento de mundo do leitor e o da área pedagógica aqui, a literatura infantil é usada como instrumento manipulado por uma intenção educativa. A literatura infantil possibilita que a criança construa seu conhecimento do mundo de modo lúdico, transformando o real com os recursos da fantasia e da imaginação, uma vez que é através da atividade lúdica que a criança prepara-se para a vida assimilando a cultura do meio em que vive. Para Lopes (2001) os jogos de computador ou qualquer outro jogo para a criança é o exercício, é a preparação para a vida adulta. A criança aprende brincando, é o exercício que a faz desenvolver suas potencialidades, mas é importante saber como a criança aprende, pois, se não forem adequadas ao modo de aprender da criança pode por tudo a perder. O computador por se tratar de uma máquina nova neste tempo, causa desejo de aprender, curiosidade de descobrir o que há em tal máquina que pode ser útil para a aprendizagem. Por isso deve-se aproveitar a disposição dos alunos para explorar o que há de melhor a se ensinar, seja através de jogos ou brincadeiras. A informática e os jogos de computador podem tornar-se aliados importantes na constituição de capacidades em leitura e escrita, pois, quando a criança passa a interagir com o professor e o computador ela pode tirar dúvidas de ortografia , de estratégias ou mesmo de raciocínio. Para Malone (1982) um jogo é divertido quando apresenta uma mistura de três componentes básicos: desafio, fantasia e curiosidade. Quando as crianças estão curiosas e interessadas, o rendimento aumenta de modo instantâneo. Quando a curiosidade da criança ganha estimulo, é a hora de entretê-la, fazendo a descobrir e fantasiar para obter grandes e avançadíssimos resultados. A criança que tem 7 fantasia é ativa e participativa assim quando curiosas são bem mais desenvoltas e parecem outras. A interação é o que se deve buscar através dos jogos de computador, pois imaginemos um jogo de equipe no computador, não há a mínima possibilidade de o aluno jogar sozinho, é onde deve haver a interação, para juntos serem a equipe em busca da vitória. Segundo Papert (1980), os jogos de computador podem ensinar as crianças que algumas formas de aprendizagem são rápidas, convincentes e se comparados aos métodos tradicionais utilizados na escola podem ser também recompensadoras. No quarto e último capítulo deste trabalho é referente ao estudo de caso que realizei numa escola pública de educação infantil de 1º a 5º ano e Ensino Fundamental de 6º a 9º ano em Jardim – MS. Na ocasião as professoras entrevistadas trabalhavam nas séries iniciais e também no ensino fundamental, e como o meu objetivo era a de investigar como anda o ensino de Literatura Infantil me propus a entrevistar as professoras e crianças das séries iniciais. Será que a Literatura Infantil só perde valor no Ensino Fundamental ou já não existe mais nem nas séries principiantes? O uso da literatura desde os primeiros anos é fundamental para que se processe uma relação ativa entre falante e língua. Assim, a apresentação de narrativas e jogos poéticos, pela dimensão lúdica e existencial dessas composições, constitui-se numa experiência de conhecimento. Nessa perspectiva através da entrevista feita com as professoras de Letras que trabalham nas séries iniciais e seus alunos foi possível realizar uma análise de acordo com o referencial teórico. Inserem-se as perguntas da entrevista sobre músicas e histórias conhecidas dos alunos e métodos das professoras seguidas de suas respectivas respostas e análises. 2 - ADULTOS 1) Qual é a importância da ludicidade para o desenvolvimento escolar da criança? Ao serem questionados sobre a importância da ludicidade, todas as entrevistadas mostraram compreender o valor do lúdico em sala de aula, ressaltando principalmente que por meio de jogos e brincadeiras o aluno aprende com mais facilidade, tem maior conhecimento sobre os mais variados assuntos. Através do faz-de-conta, das brincadeiras e das histórias pode-se conhecer o aluno para melhor trabalhar e avaliar, 8 trabalhando desta forma a timidez, o medo, e outros tipos de trauma que a criança possa possuir. Passando a sentir-se mais motivado e interessado pelas tarefas e desenvolve-se de maneira mais harmoniosa e completa. Para as docentes entrevistadas, o planejamento incluindo o lúdico deve ser a base para que a escola seja um lugar prazeroso e alegre, onde se respeita e valoriza-se a infância como uma fase importantíssima da vida de cada indivíduo. De acordo com o referencial teórico em cada situação o brincar tem um sentido e uma adequação diferente. Para Moyles (2001. p.181): “Na escola, o brincar pode ser dirigido, livre ou exploratório: o essencial é que ele faça a criança avançar do ponto em que está no momento em sua aprendizagem, criando condições para a ampliação e revisão de seus conhecimentos.” Dessa maneira, o lúdico torna-se essencial no desenvolvimento da criança, pois no brincar não se aprende somente conteúdos, mas se aprende para a vida. As respostas vieram de acordo ao referencial teórico trabalhado, pois a autora também enfatiza a relevância da ludicidade para que a escola seja um lugar prazeroso e alegre, onde se respeita e valoriza-se a infância como uma fase importantíssima da vida de cada indivíduo. 2)Com quais atividades lúdicas você mais costuma trabalhar? Em relação às atividades lúdicas com as quais mais trabalham as professoras no geral afirmaram que preferem desenvolver atividades dirigidas como: jogos que envolvem raciocínio lógico, atenção e concentração, como jogos de encaixes, dados das vogais, quebra cabeça, músicas, danças, teatros, e brincadeiras recreativas como bonecas, carrinhos, e salão de beleza. Alguns disseram também que dedicarem um tempo de suas aulas às atividades livres, onde os alunos possam brincar e fazer aquilo que mais gostam desde que respeitem uns aos outros e observem as regras para uma boa convivência. Estes levantamentos afirmam o referencial teórico, visto que Santos (1999) diz o lúdico deve ser trabalhado principalmente em locais preparados e adequados, como nas brinquedotecas, por exemplo, na escola foco da minha pesquisa não há brinquedoteca, mas é um local adaptado e transformado para chamar a atenção da criança, fazendo-a notar que o brincar na escola é diferente de brincar na casa ou na rua. Os docentes, em suas respostas, demonstraram utilizar o lúdico com objetivos préestabelecidos para favorecer o crescimento de seus alunos. 3) Qual é a reação dos alunos em relação às atividades lúdicas realizadas? 9 Ao serem questionados sobre a reação de seus alunos em relação aos trabalhos lúdicos, todas as professoras afirmaram que a aceitação é excelente, que eles adoram, se “soltam” e até dão gargalhadas e pedem para que sejam realizados outras vezes, pois é a hora que eles mais apreciam, porque é o momento que se percebe o comportamento da criança, quanto a impaciência, agressividade, timidez, o coleguismo, etc. De acordo com Winnicott (1975), o brincar é sinal de psiquismo saudável, assim as crianças que brincam são mais capazes de viver saudavelmente ela precisa se sentir relaxada e segura. Por isso, as crianças que chegam tímidas ao perceber as brincadeiras são propícias e afetiva elas se soltam, e interagem com os colegas nessa hora até os traumas perdem a importância. 4) É possível para você observar o desenvolvimento dos alunos através de atividades que envolvam o lúdico? As docentes acreditam que é possível observar o desenvolvimento dos alunos a partir de atividades lúdicas, ressaltaram que o que mais contribui para esta melhor observação é que as crianças, mesmo aqueles que chegam tímidos, trabalham com mais ânimo e interesse, demonstrando assim todo seu potencial. Muitas citam que através de jogos e brincadeiras não só trabalham e observam o desenvolvimento físico e cognitivo como habilidades motoras, raciocínio e domínio de conteúdos, mas também e principalmente a higiene e a aceitação das regras de convivência, o respeito ao outro, o espírito de equipe e os valores morais. Percebe-se nestas falas que as professoras valorizam muito as atividades lúdicas como um meio de favorecer o desenvolvimento emocional e a socialização dos seus alunos, o que com certeza se reflete na aprendizagem dos mesmos. Sendo o brincar indispensável para o desenvolvimento físico, emocional e intelectual da criança, Sirota (2001) afirma que é de suma importância que o professor tenha um espírito aberto para o lúdico, fazendo que o aluno aprenda através da atividade Lúdica que é natural e espontânea da infância. 5) Você considera satisfatório o tempo que dedicas ao trabalho lúdico em seu planejamento? Quando se perguntou as docentes se consideram satisfatório o tempo que dedicam às atividades lúdicas, todos eles responderão que sim e lutam para que este trabalho seja contínuo em casa. E dizem fazer o planejamento de cada aula pensando incluir o lúdico nelas, seja esta uma história, música, teatro, etc. segundo Araújo (1996), desde muito 10 cedo o brincar assume um papel importante na vida da criança, pois quando ela brinca, explora e manuseia tudo que está a sua volta. Além disso, o brincar na escola estimula para a aprendizagem diferente e interessante e cabe ao professor garantir que, no contexto escolar que a aprendizagem seja continua e inclua fatores para que essa aprendizagem seja mais abrangente e formadora. 6) Como você vê a aceitação dos pais em relação às atividades lúdicas em sala de aula? As professoras são unânimes em dizer que nunca nenhum pai, mãe ou qualquer outro responsável tenha reclamado ou levado alguma sugestão nos dias de reunião. Falta conhecimento dos pais em relação ao lúdico na escola, salientam que se os pais ajudassem seria muito mais fácil trabalhar o lúdico, dizem que não há preocupação em relação à educação das crianças por parte dos pais. No referencial teórico, a autora Moyles (2001. p.100) salienta a importância dos pais compreenderem que o brincar tem resultados educacionais sólidos e que é uma atividade valiosa corretamente associada à aprendizagem. E para isto é necessário que a escola e toda sua equipe docente esclareça estes pais em relação ao seu modo de trabalhar e seus objetivos, para que estes se tornem aliados na construção de uma escola mais alegre e prazerosa, onde cada um possa aprender, crescer e realizar-se plenamente. 3 - CRIANÇAS 1)Que histórias você ouve dos seus pais, tios e avós? As crianças ao serem questionadas sobre as histórias que ouvem em casa, elas se mostram tímidas e retraídas, mas dizem algumas lendas como o Lobisomem, SaciPererê, bruxas, o homem do saco, mendigo, etc. De acordo com Coelho (1981), a Literatura, no principio foi baseada na fantasia, no mito, pela mágica. Mas o que acontece com estas crianças que alegam não ouvirem muitas histórias? Ás vezes nos esquecemos da importância de se ouvir e contar Histórias. É desse desejo de partilha de ouvir e contar histórias que surge a literatura. Portanto se as crianças dizem não haver literatura em casa à causa deve-se a falta de tempo dos pais e falha no incentivo por parte dos professores, pois se fossem estimuladas a lerem o fariam sem precisar da atenção dos pais e supervisão dos professores. 2)Que histórias você houve na escola? 11 Algumas crianças responderam que ouvem as mesmas histórias na escola e em casa, porém outras dizem que na escola elas ouvem histórias folclóricas, como curupira, saci-pererê, e obras literárias como Sitio do Picapau Amarelo. De acordo com a Barsa (2000), as lendas e tradições folclóricas de todos os povos são repassados de geração a geração e isso não foge a nossa realidade, pois, a cultura esta sendo repassada, mas é bem menos enfatizada, falta mais compromisso por parte dos professores em relação ao folclore e a obra Literária, para que os seus alunos saibam o que faz parte do folclore e quais são as obras literárias voltadas a infância de fácil compreensão e interpretação. 3)De quais brincadeiras você mais gosta de brincar? A maioria das crianças entrevistadas diz gostar de brincar de esconde-esconde, pega-pega, bafo (jogo de espalmar cartas ou figurinhas), quebra cabeça, de boneca, entre outros. Para Vieira (1994), os jogos devem ter as características básicas: estimular a imaginação infantil, auxiliar no processo de integração grupal, liberar a emoção infantil, facilitar a construção do conhecimento e auxiliar na aquisição da auto-estima. O brincar ajuda os participantes a desenvolver confiança em si mesmo e em suas capacidades. Nas respostas obtidas percebe-se que os jogos são variados, há jogos de estratégia (Bafo), de velocidade (pega-pega), Raciocínio (quebra - cabeça) entre outros. 4)Quem lhe ensinou essas brincadeiras? Ao serem questionadas sobre quem lhes ensinou tais brincadeiras, elas afirmam ter aprendido com colegas ou amiguinhos de rua. O que deixa claro que não há preocupação dos pais em brincar com seus filhos. Há brincadeiras que nos inventamos e outras que já foram inventadas e nós brincamos também. Para Vygotsky (1998) ao mesmo tempo em que a criança brinca está envolvida em regras que contribuem no processo de socialização, onde as crianças têm a liberdade de escolher com quem e de que querem brincar. No espaço do brincar a criança comunica sentimentos, fantasias, intercalando o real com o imaginário. 5)Que músicas infantis você conhece? Foram citadas poucas músicas, como o gato de botas, pintinho amarelinho, ciranda cirandinha, atirei o pau no gato, entra na roda, entre outras. as músicas também dizem e ensinam muito, antes de músicas são histórias. De acordo com Coelho (1981) a literatura infantil pertence a duas áreas distintas: a da arte que sendo ela um objeto que 12 provoca emoções, prazer, diverte e modifica o conhecimento de mundo do leitor e o da área pedagógica aqui, a literatura infantil é usada como instrumento manipulado por uma intenção educativa. Desta forma podemos colocar a música ligada a área da arte, pois, além de proporcionar prazer e emoções ensinam um conto fazendo ligação com a área pedagógica. 6)Que músicas seus pais lhe ensinaram de quando eram pequenos? Muitas crianças alegaram não lembrar de nenhuma música de quando eram pequenas, mas dizem conhecer, as músicas: boi da cara preta, elefantinho, borboletinha, etc. Segundo a autora Ruth Rocha a influencia familiar é peça fundamental na aprendizagem de culturas antigas mais que prevalecem até hoje. a autora afirma que o conhecimento de músicas e literaturas infantis deveriam ser trabalhadas primeiramente com os pais, ao começar por uma música de fácil entendimento ou mesmo um livrinho infantil como o patinho feio, a Cinderela, ou seja historinhas com um cunho moralístico. Portanto, após a entrevista com as professoras e alunos de séries iniciais fica claro que o uso da Literatura Infantil ainda existe entre séries iniciais e que é fundamental para que se processe uma relação ativa entre falante e língua. Assim, a possibilidade de se trabalhar a Literatura Infantil do 6º a 9º ano fica muito mais fácil, pois os alunos já terão uma bagagem literária de alta qualidade porque aprenderam nas séries iniciais e estão prontos para uma continuidade. Além de proporcionar bem-estar a ambos, a brincadeira, permanece ainda inesquecível a memória de todos, nunca se ouviu dizer que “se esquece de como brinca”. Sendo assim, o melhor jeito de se aprender é brincando. É claro que o lúdico não seria uma solução mágica para os problemas educacionais, mas poderia ser um caminho a ser trilhado na busca de uma escola mais atrativa e interessante. Para atingir melhores resultados é conveniente que também os pais entendam que o brincar tem direção, progressão e resultados educacionais sólidos, que esta é uma atividade valiosa corretamente associada à aprendizagem. Com base nos objetivos da pesquisa, nos resultados obtidos e no referencial teórico foi possível concluir que a ludicidade dentro da literatura é de suma importância para a criança desde as séries iniciais, por favorecer um desenvolvimento físico, emocional e cognitivo mais completo e harmonioso. É interessante ressaltar que todas as professoras entrevistadas atribuíram às atividades lúdicas um papel essencial: o de motivar às crianças a estudar. Todos sabemos que a aprendizagem depende em grande 13 parte da motivação, as necessidades e interesses da criança são mais importantes que qualquer outra razão para que ela realize certa atividade. 4 - Referências Bibliográficas ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil. Gostosuras e bobices. 2ª ed. São Paulo: Scipione, 1991. ARAÚJO, Vania Carvalho de. O jogo no contexto da educação psicomotora. São Paulo: Cortez, 1992. 106p. BROUGÈRE, G. Brinquedo e Cultura. São Paulo: Cortez, 1994. COELHO, Nely Novaes- literatura infantil – teoria – analise – didática. 6ª ed. Revista. São Paulo. ed. Ática, 1997. FREUD, Sigmund. “La création littéraire et lê revê éveillé” (1908), In: Essais de psychanalyse appliquée, tr. fr., Paris: Gallimard, 1973, p. 70. LARROSA, J. O enigma da infância ou o que vai do impossível ao verdadeiro, In: LARROSA, J. & LARA, N. P. (orgs.) Imagens do outro. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999. LOPES, Maria da Glória. Jogos na educação: criar, fazer, jogar. 4ª ed.rev. - São Paulo, Cortez, 2001. KRAMER, Sônia e LEITE, Maria Isabel (orgs.). Infância: fios e desafios da pesquisa. Campinas: Papirus, 1996. MACHADO, Marina Marcondes. O brinquedo sucata e a criança. 4. Ed. São Paulo: Edições Loyola, 1994. MALONE, T. Heuristics for designing enjoyable user interfaces: Lessons from computer games. In: procedings of the 1982 conference on human factors in computing systems. New York, NY, USA: ACM Press, 1982. p. 63-68. MOYLES, Janet R. Só brincar? O papel do brincar na Educação Infantil. Maria Veronese Veríssimo Veronese (Trad.). Porto Alegre: Artmed, 2001. NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA. Literatura Infantil – São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações, 2000. 14 PLATÃO. A República. Lisboa: Fundação Calouste Guibenkian. 6ª ed (trad. de Maria Helena da Rocha Pereira) RIZZO, Gilda. O Método Natural de Alfabetização. In: Alfabetização Natural. Rio de Janeiro: Francisco Alvez, 1988. p. 33-129. ROCCO, Marisa R. Porque é importante brincar?. Revista Mundo Jovem. Porto Alegre: ed. da PUCRS, n.352, nov. 2004. SANTOS, Santa Marli Pires. Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. 4 ed. Petrópolis: Vozes, 1999. SIROTA, R. l´emergence d´une sociologia d´enfonce: évolution de L´objet, évolution du regard. Éducation et sociétés. Sociologie de l´enfance 1. Paris, Bruxeles: De Boeck Université, p. 9 – 33 1998. VIEIRA, Clarice V. et alii. Brinquedo. Porto Alegre: Faculdade PortoAlegrense de Educação Ciências e Letras, set. 1994. 12p. VIGOTSKI (1998). A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes. VYGOTSKY, Lev S. A Formação social da Mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1989. VYGOTSKY, L. S. O papel do brinquedo no desenvolvimento. In: A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989. 168p. p.106118. WINNICOTT, D. Jeu et réalité, tr. fr., Paris: Gallimard, 1975, p.26.