ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO DA DISFONIA NA PERSPECTIVA BIOPSICOSSOCIAL Autores: LUANA PRISCILA DA SILVA, ADRIANA CAMARGO GOMES, JONIA ALVES LUCENA, ANA NERY BARBOSA DE ARAÚJO, Palavras-chaves: Disfonia; Enfrentamento; terapia Introdução: A voz é produzida a partir da convergência de diversos vetores. Os fatores biológicos, que envolvem idade, sexo, tamanho da laringe, funções neurofisiológicas e a integridade das estruturas do aparelho fonador. Fatores psicológicos, associados à personalidade e emoção. E os fatores socioculturais, que envolvem interpretações ideológicas e juízos de valores1. Cada pessoa é singular, regida por suas próprias concepções e convicções, construídas nas interações com o ambiente sócio cultural ao qual está inserida, ou seja, cada um tem sua maneira de pensar, agir, enfrentar as adversidades pela qual passa ao longo da vida. Com base nisso é possível pensar como ocorre o enfrentamento da disfonia. A forma como os indivíduos enfrentam um problema vocal pode ser diversa, como a negação a qualquer tratamento, com possibilidade de “adaptações negativas”, assumindo a qualidade vocal disfônica. A procura tardia do tratamento, automedicação e tratamentos de cunho “popular”, que terminam por trazer consequências que influenciarão diretamente no resultado final da qualidade vocal do indivíduo. Também há o enfrentamento focado na resolução do problema, aqueles disfônicos mais conscientes e desejosos de melhorar a produção vocal que procuram por tratamento otorrinolaringológico e fonoaudiológico. O termo enfrentamento pode ser entendido como a forma com que se lida com situações estressantes, através de pensamentos e/ou ações, ou seja, na existência de algo que ocasione o estresse é uma atitude que trará uma solução ou uma maneira de adaptação à fonte de estresse2. O enfrentamento relaciona-se com a forma de encarar situações opressoras, estressantes, que sobrecarregam as capacidades do indivíduo e são tidas como ameaçadoras3. Enfrentamento é a utilização de estratégias pessoais para lidar com situações estressoras4. Quando o fonoaudiólogo busca compreender plenamente a voz e os problemas associados, significa que também tem que encarar os aspectos subjetivos, orgânicos e socioculturais5. O modelo biopsicossocial permite que o profissional desenhe e organize estratégias e intervenções, que se adequem melhor as necessidades do indivíduo6. Neste modelo o fonoaudiólogo tem a responsabilidade de tratar os sintomas vocais, e também perceber o lugar que estes ocupam no sofrimento psíquico do sujeito, respeitando, porém os limites de sua prática terapêutica7. A compreensão sobre as formas de enfrentamento permite ao fonoaudiólogo uma visão mais ampla e pode contribuir para a elaboração de ações fonoaudiológicas mais singularizadas, considerando as especificidades do caso, as necessidades e sentimentos do disfônico. Objetivos: Identificar as estratégias de enfrentamento dos disfônicos diante do seu problema vocal. Método: O estudo foi quantitativo de caráter descritivo transversal. Teve a participação de 17 indivíduos disfônicos, sendo 7 profissionais da voz e 10 que não utilizavam a voz profissionalmente. Todos os participantes tinham diagnóstico clínico de disfonia e estavam em tratamento fonoaudiológico. CAAE: 32872214.6.0000.5208, parecer nº: 728.900. A disfonia foi caracterizada através de um questionário, que elencava os sinais e sintomas vocais, a ocupação e o tempo de trabalho, a influência da voz na atividade profissional e o tempo de terapia. Em seguida, foi apresentado o Protocolo de Estratégias de Enfretamento da Disfonia (PEED), que trazia sentenças objetivas, como estratégias para enfrentar a disfonia, sendo 10 com foco no problema e 17 com foco na emoção. Resultados: Os participantes da pesquisa foram divididos em dois grupos, G1 (profissionais da voz) e G2 disfônicos em geral. Os profissionais da voz (G1) trouxeram a rouquidão como queixa principal. O segundo maior percentual foi o ressecamento na boca ou garganta, com 60%. A fadiga apresentou um percentual de 50%; o esforço ao falar e falhas na voz obtiveram valores de 40%; e a dor e o ardor na garganta apresentaram um percentual de 20% e 30%, respectivamente. O G2 traz a rouquidão e o ressecamento na boca ou garganta com os maiores índices percentuais, a saber, 85,7%. Os disfônicos não profissionais da voz (G2) expuseram 71,4% de respostas na queixa falhas na voz; a fadiga e o esforço ao falar, como também dor na garganta tiveram um índice percentual de 57,1%. O menor índice neste grupo foi a queixa ardor na garganta, com 28,5%. Dos profissionais da voz (G1) que participaram da pesquisa, 50% estavam há menos 3 meses de terapia; 20% entre 3 e 6 meses e 30% há mais de 1 ano de terapia. No G2 28,5% estavam há menos de 3 meses; 42,8% entre 3 e 6 meses e 28,5% estavam há mais de 1 ano. O G1 apresentou para a influência da voz no desenvolvimento das atividades profissionais, um percentual de 30% para a resposta “Às vezes”; 20% “Frequentemente” e 50% “Sempre”. “Nunca” e “Quase sempre”, não foram obtidas como respostas neste grupo. O G2 trouxe um percentual de 28,5%, afirmando que o problema vocal não influencia na atividade profissional. Para a resposta “Às vezes” o percentual foi de 28,5%; as respostas “Quase sempre”, “Frequentemente” e “Sempre” apresentaram um percentual de 14,2%. O G1 trouxe uma média de 72,9% de estratégias. E G2 trouxe uma média de 66% de estratégias de enfrentamento. O G1 apresentou 70% das respostas com foco na emoção e 30% com foco no problema. No G2 as respostas apresentaram-se unânimes, de 100% com foco na emoção. A estratégias com foco no problema apareceram nos períodos de até 3 meses e 1 ano ou mais de terapia, porém com índices baixos. Quanto à quantidade de estratégias, os profissionais da voz apresentam um número maior, quando comparado aos disfônicos em geral. De acordo com a literatura, esta população utiliza um maior número de artifícios e adaptações diante da disfonia. Tendo como base, a relação da voz com os aspectos biológicos e psicossociais, observou-se neste estudo que a presença das estratégias focadas na emoção apresentou um percentual maior, mostrando a necessidade de o fonoaudiólogo buscar meios que visualizem o indivíduo como um todo, ou seja, que permitam compreender melhor a influência dos fatores biopsicossociais na qualidade vocal. Conclusões: Observa-se neste estudo a grande interferência dos aspectos emocionais, na vida dos profissionais da voz e dos disfônicos em geral, mostrando a necessidade de uma intervenção, além da disfonia. Uma intervenção que associe os elementos orgânicos com os emocionais, buscando compreender o indivíduo nos aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Diante do estudo realizado, observa-se a importância do fonoaudiólogo estar atento às queixas trazidas pelo paciente disfônico, como também a inserção do modelo biopsicossocial na clínica fonoaudiológica. Tendo em vista a grande interferência dos aspectos emocionais, na vida dos profissionais da voz e dos disfônicos em geral, mostrando a necessidade de uma intervenção, além da disfonia; uma intervenção que associe os elementos orgânicos com os emocionais, buscando compreender o indivíduo nos aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Referências: 1- Behlau M, Azevedo R, Pontes P. Conceito de voz normal e classificação das disfonias. In: Behlau M. (Org.) Voz: O Livro do Especialista. Rio de Janeiro: Revinter; 2001. p. 53-79. 2- Folkman S. et al. Appraisal, coping, health status, and psychological symptoms. JPSP. 1986; 30(3) p. 571-579. 3- Gerrig RJ, Zimbardo PG. A psicologia e a vida. Porto Alegre: Artmed; 2005 4- Zambon FC. Estratégias de enfrentamento em professores com queixa de voz [dissertação]. São Paulo: Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo; 2011. 5- Petroucic RT, Friedman S. Os sentidos da perda da voz. Rev Distúrbio da Comunicação. 2006; 18(1): 39-49. 6- Pereira MG. A perspectiva biopsicossocial na avaliação em psicologia da saúde: modelo independente. Teoria, investigação e prática Psicologia. 2001 p. 1-9. 7- Goto CYA. Voz e repercussão psíquica no limite da clínica fonoaudiológica [dissertação]. São Paulo: Universidade São Marcos; 2006.