UNIMAR – UNIVERSIDADE DE MARÍLIA EDGARD LOPES BENASSI OS ENSINAMENTOS DE JESUS: DA ORALIDADE À INTERNET MARÍLIA 2011 1 EDGARD LOPES BENASSI OS ENSINAMENTOS DE JESUS: DA ORALIDADE À INTERNET Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação, área de concentração “Mídia e Cultura”, linha de pesquisa “Produção e Recepção de Mídia”, da Universidade de Marília, como requisito para obtenção do grau de Mestre. Orientadora: Professora Doutora Heloisa Helou Doca. MARÍLIA 2011 2 Benassi, Edgard Lopes Os ensinamentos de Jesus: da oralidade a internet / Edgard Lopes Benassi -- Marília: UNIMAR, 2011. 116p. Dissertação (Mestrado em Comunicação) -- Curso de Comunicação da Universidade de Marília, Marília, 2011. 1.Veículos de Comunicação 2. Ideologia Religiosa 3. Instituição 4. Educação I. Benassi, Edgard Lopes. CDD -- 302.23 3 Universidade de Marília Faculdade de Comunicação, Educação e Turismo. Reitor Márcio Mesquita Serva Programa de Pós-Graduação em Comunicação Coordenadora: Profª. Drª. Suely Villibor Flory Área de concentração Mídia e Cultura Orientadora Profª. Drª. Heloisa Helou Doca 4 EDGARD LOPES BENASSI OS ENSINAMENTOS DE JESUS: DA ORALIDADE À INTERNET Aprovado pela Banca Examinadora: Nota: ________________________________________________ Prof.(a) Dr.(a) Orientadora ________________________________________________ Prof.(a) Dr.(a) ________________________________________________ Prof.(a) Dr.(a) Marília 2011 5 Dedico este trabalho a todos que querem Pão, Pão verdadeiro, que sacie; Água verdadeira que estanque a sede; Luz da verdade, que não se apaga. 6 AGRADECIMENTOS A Deus pela oportunidade da vida e saúde para seguir em frente. Ao Governo do Estado de São Paulo e Secretaria de Estado da Educação e à Diretoria Regional de Ensino de Ourinhos por me incluir no Projeto Bolsa Mestrado, o que permitiu a minha permanência no Curso de Pós-Graduação e a realização deste trabalho. Às Profª. Drª. Elêusis Mirian Camocardi e Profª. Drª. Maria Cecília Guirado de Carvalho e Heloisa Helou Doca pela colaboração, orientação e entusiasmo. À profª. Drª. Linda Bulik pela paciência e dedicação. Ao Prof. Dr. Roberto Reis de Oliveira pela paciência e compreensão na trajetória do conhecimento. À Profª. Drª. Andréia Cristina Fregate Baraldi Labegalini pela atenção e contribuição. Ao Prof. Dr. Adolpho Queiroz pelo apoio, consideração e incentivo. À Profª. Drª. Rosangela Marçolla pelo acolhimento, incentivo e apoio. À Profª. Drª. Suely Villibor Flory e aos docentes do Curso de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de Marília e suas contribuições para o desenvolvimento do conhecimento. A todos os colegas do curso pelo encorajamento e incentivo. E à minha família: esposa Eunice e filhas, Ana Carolina e Ana Paula, por compreenderem a minha ausência neste período de estudos. 7 RESUMO ___________________________________________________________________________ Este trabalho tem o objetivo de averiguar a religião institucionalizada, que se multiplica em várias, na época de Jesus (Fariseus, Saduceus) para angariar prestígio e poder entre as nações, trabalhando sempre em prol das classes dominantes e oferecendo uma falsa paz a seus fiéis, posicionando-os numa condição de submissão, para melhor serem explorados nas relações capitalistas. Jesus não participou nem seguiu este modelo para Sua Igreja (Seu Corpo), mas o modelo de Cristo foi velado, para realçar o modelo das instituições que usam seu nome, para gerar lucro prestígio e poder. Fragmentos de seus ensinamentos ocupam altares e púlpitos fazendo cumprir a ideologia institucional de cada denominação religiosa. As igrejas institucionalizadas, formadas pela deturpação dos ensinamentos de Jesus usam os meios de comunicação de massa (rádio, TV) para atrair novos fiéis e formarem novas instituições religiosas denominacionais, ocultando a autêntica Igreja de Cristo. Diferente dos veículos anteriores, a internet apresenta novas formas de acesso às informações, que são compartilhadas com maior número de pessoas na rede mundial de computadores, tornando-se assim um veículo facilitador para ensinar e aprender os ensinamentos de Jesus. Através de pesquisas bibliográficas procura-se debater aqui se o trabalho realizado pelas instituições religiosas não tem afastado as pessoas do evangelho de Cristo, sendo que hoje a internet pode ter o papel de facilitar a aproximação dos fiéis dos ensinamentos de Jesus, quando bem utilizada. Palavras-chave: Veículos de comunicação. Ideologia religiosa. Instituição. Educação. 8 ABSTRACT ___________________________________________________________________________ This work has the aim to discover the institutionalized religion which is multiplied in several at Jesus time (Fariseus, Saduceus) with the purpose of recruiting prestige and power among nations, working to the dominant classes and offering a false peace to its followers, positioning them in submission condition for a better use in the capitalist relationships. Jesus didn‟t participate nor followed this model to His Church (His/her Body), but Christ‟s model was veiled, to enhance the model of the institutions that use His name, to generate profit, prestige and power to the mercenaries. Fragments of His teachings occupy altars and pulpits enforcing the institutional ideology of each religious denomination. The institutionalized churches, formed by the corruption of Jesus teachings use new institutions, veiling Christ‟s authentic Church, and become religious in a previous vehicle to teach and learn Jesus‟ teaching. Through bibliografic rechearches oneself seeks to debate here if se work that was made for the religious institutions has removed people from Christ Gospel, because today the internet can have a facilitador role of approximating the faithful people of the teaching of Jesus, when well used. Keywords: Media. Religious ideology. Institution. Education. 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1. A oralidade nos ensinamentos.............................................................................. 27 Figura 2. Templo medieval ................................................................................................... 32 Figura 3. Constantino.............................................................................................................42 Figura 4. A inquisição............................................................................................................48 Figura 5. Métodos de tortura.................................................................................................49 Figura 6. As fogueiras da inquisição.................................................................................... 51 Figura 7. Métodos de tortura (despertador).........................................................................52 Figura 8. Métodos de tortura (roda).....................................................................................53 Figura 9. Basílica de São Pedro.............................................................................................54 Figura 10. Visão da cúpula.....................................................................................................54 Figura 11. Prensa de Gutenberg............................................................................................61 Figura 12. Página da Bíblia de Gutenberg...........................................................................62 Figura 13. Imagem da página do site....................................................................................91 Figura 14. Arpanet - Tecnologia da computação.................................................................94 Figura 15. Arpanet - Tecnologia da computação.................................................................94 10 SUMÁRIO Introdução..........................................................................................................................11 1. A oralidade como transmissão de conhecimentos.......................................................21 1.1 A divulgação da cultura pela oralidade no início da era cristã....................................23 1.2 A oralidade de Jesus – a oratura (literatura oral) nas comunidades primitivas (tribos africanas)......................................................................................................................26 1.3 A oralidade da Idade Média.........................................................................................30 1.4 A divulgação da Palavra no Novo Testamento............................................................32 1.5 Os evangelistas.............................................................................................................34 1.6 Os evangelhos apócrifos..............................................................................................37 2. As religiões institucionalizadas....................................................................................39 2.1 A institucionalização da igreja por Constantino..........................................................40 2.2 O papa e os sacerdotes.................................................................................................44 2.3 A inquisição.................................................................................................................47 2.4 A igreja e os genocídios...............................................................................................55 2.5 Lutero e as religiões protestantes.................................................................................57 2.6 Gutenberg e a Bíblia impressa.....................................................................................60 3. A educação brasileira: o ensino religioso e a palavra áudio-visual.............................63 3.1 Visão histórica: o papel do catolicismo romano na educação brasileira.....................64 3.2 O evangelho na mídia: ideologia e usurpação.............................................................67 3.3 O uso do rádio e TV.....................................................................................................70 3.4 A religiosidade institucionalizada................................................................................77 3.5 A evangelização pelo rádio e TV.................................................................................83 4. A educação brasileira na era da internet e da interatividade........................................86 4.1 A educação brasileira e o ensino religioso na atualidade.............................................86 4.2 A internet e os ensinamentos de Jesus.........................................................................89 4.3 A interatividade como marca da educação contemporânea.........................................93 Considerações finais.....................................................................................................97 Referências.................................................................................................................101 Anexos.......................................................................................................................109 11 INTRODUÇÃO Esta dissertação investiga o estudo do evangelho por meio da hermenêutica e da exegese, possibilitando o ensino/aprendizagem desvinculado do sistema denominacional religioso e suas ideologias, utilizando o site h t t p : / / w w w. e s t u d o s d a b i b l i a . n e t . As múltiplas possibilidades de produções midiáticas da atualidade têm favorecido os mais variados tipos de estudos, o que em tempos passados estava vinculado às instituições religiosas e suas denominações, hoje está disponibilizado mundialmente por meio do ciberespaço . Veiculados pela internet , os ensinamentos de Jesus vêm ganhando maneiras inusitadas de propagação. Os dispositivos tecnológicos de comunicação, veiculados por meio da World Wide Web (www.) fornecem novas formas de interações e pesquisas, socializadas nas comunidades virtuais dispostas na rede mundial de computadores. A religiosidade institucionalizada e suas doutrinas, quando empregadas no ambiente escolar incitam dissensões entre alunos e professores. O fato de simplesmente citar “sou desta ou daquela” denominação é motivo para competição, onde cada integrante procura defender a “placa” denominacional à qual pertence, criando um desconforto e um quadro negativo para o sistema de ensino. O referido site desta dissertação pode ser um instrumento facilitador para o ensino/aprendizagem dos ensinamentos de Jesus por apresentar unicamente as interpretações bíblicas, sem apologia a instituições ou denominações religiosas. As compilações das interpretações bíblicas, desvinculadas do sistema religioso institucionalizado estão disponibilizadas, gratuitamente, por meio desta ferramenta, podendo ser acessadas nas salas de informática das escolas públicas e privadas de todo país, em lan house e pelo computador pessoal, estando em qualquer lugar de acesso a internet. No sistema de ensino religioso atual, amparado pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educação nacional, na Seção III, Art. 33, vem expresso o que segue: Dimensão ou domínio virtual da realidade, constituído por entidades e ações puramente informacionais; meio, conceitualmente análogo a um espaço físico, em que seres humanos, máquinas e programas computacionais interagem (BUARQUE de HOLANDA, 2004). Qualquer conjunto de redes de computadores ligadas entre si por roteadores e gateways, como, por exemplo, aquela de âmbito mundial, descentralizada e de acesso público, cujos principais serviços oferecidos são o correio eletrônico, o chat e a Web, e que é constituída por um conjunto de redes de computadores interconectadas por roteadores que utilizam o protocolo de transmissão TCP/IP (BUARQUE de HOLANDA, 2004). 12 O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem ônus para os cofres públicos, de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou por seus responsáveis, em caráter: I – confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno, ou de seu responsável ministrada por professores ou orientadores religiosos preparados e credenciados pelas respectivas igrejas ou entidades religiosas, e II - interconfessional, resultante de acordo entre as diversas entidades religiosas, que se responsabilizarão pela elaboração do respectivo programa. Tanto o ensino religioso confessional como o interconfessional são causadores de divergências e competições no ambiente escolar. Sendo o Antigo e o Novo Testamento parâmetros para todas as denominações cristãs no país, disponibilizar seu conteúdo desvinculado das instituições religiosas previne controvérsias e porfias. Entendemos que a escola tem o dever de prevenir o fenômeno violência que se desenvolve em seu contexto, e de intervir impedindo a proliferação. Entretanto, para que isso aconteça, seus profissionais devem ser capacitados para atuar na melhoria do ambiente escolar e das relações interpessoais, promovendo a solidariedade, a tolerância e o respeito às características individuais, utilizando estratégias adequadas à realidade educacional que envolva toda a comunidade escolar (FANTE, 2005, p.169). Usufruir gratuitamente dos ensinamentos de Jesus é tomar posse de uma herança deixada em benefício da humanidade, a qual foi transformada em lucro financeiro pelo sistema religioso institucionalizado. Poder estudar as religiões nas escolas públicas está previsto nas diretrizes educacionais brasileiras, mas, suportar a apologia desta ou daquela denominação em ambiente público é humilhação e imposição para os que não acatam as determinadas liturgias. Já, as interpretações dos textos bíblicos vêm ao encontro da construção e formação espiritual para a cidadania, no cumprimento dos direitos e deveres do cidadão, dando possibilidades de compreender e optar pela aceitação ou recusa da forma bíblica de se chegar a Deus. O momento é oportuno, as novas tecnologias propiciam tal conhecimento sem o engajamento religioso do passado, no qual o interessado em aprender os ensinamentos bíblicos tinha que pertencer a uma denominação religiosa, colaborando financeiramente para a manutenção do templo e dos sacerdotes. Atualmente, a maioria das escolas públicas do Estado de São Paulo já possui a sala de informática e os recursos tecnológicos necessários para acesso à internet. O provedor, monitorado pela Secretaria de Educação fornece o auxílio à pesquisa e ao desenvolvimento intelectual dos 13 alunos e comunidade escolar. Portanto, propiciar os ensinamentos bíblicos fora do contexto religioso denominacional nas escolas é contribuir para o desenvolvimento em prol da paz. Mas, para que a população receba tais benefícios, é necessário que a Secretaria da Educação viabilize esta atividade no currículo escolar, libertando-a de antigos grilhões, facilitando o acesso a este importante assunto, que esteve tão restrito às religiões, mas que atualmente, frente às novas tecnologias torna-se acessível a todos. Beneficiar-se do “Estado Laico” não se resume apenas na liberdade da escolher de uma religião, mas também de compreender os parâmetros das religiosidades existente no país. Um povo esclarecido e educado fica menos suscetível a persuasão. Na “lei geral das religiões” de 2009, no Art.11º se lê o seguinte: O ensino religioso, de matrícula facultativa é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais da escola pública de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a Constituição e as outras vigentes, sem qualquer forma de proselitismo. O termo “proselitismo” neste artigo já induz à existência de uma instituição religiosa e se refere àqueles que se desvincularam de uma para se filiaram a outras denominações religiosas. O ensino religioso oferecido atualmente nas escolas públicas sofre forças antagônicas, deixa de ser democrático, quando favorece a maioria, formando grupos separatistas no recinto escolar. Por quase dois mil anos, os ensinamentos de Jesus percorrem a terra em busca de ouvintes. São vários os veículos que conduziram suas mensagens até nossos dias, mas nenhum tão facilitador quanto a internet, veiculado por meio da rede mundial de computadores. Este meio de comunicação rompeu as paredes dos templos e disponibilizou os ensinamentos de Jesus de forma diferenciada dos veículos anteriores. Por meio desta tecnologia os ensinamentos de Jesus alcançaram a liberdade que não obtiveram no altar, no púlpito, na imprensa tipográfica, no rádio e na TV. Fazendo uso da eminente necessidade espiritual, a propaganda religiosa magnetizou o povo, tornando o conhecimento bíblico gratuito em produto rentável. McLuhan afirma que a televisão é um meio frio, mas que causa um profundo envolvimento nas pessoas, e acrescenta: 14 Quase todas as tecnologias e entretenimentos que se seguiram a Gutenberg não tem sido meios frios, mas quentes; fragmentários, e não profundos; orientados no sentido do consumo e não da produção. Muito poucas são as áreas de relação já estabelecidas - lar, igrejas, escola, mercado - que não tenham sido profundamente afetadas em seu padrão e em sua tessitura, A perturbação psíquica e social criadas pela imagem da TV - e não por sua programação - provocam comentários diários na imprensa (McLUHAN, 1964, p.351). A cultura de massa, mediante a visão da teoria culturológica do autor francês Edgar Morin diz que esta se integra às culturas já existentes, ou seja, também se integrou na cultura religiosa do país, confundindo e deturpando o intuito primordial dos ensinamentos de Jesus, distorcendo o que foi estabelecido inicialmente para a gratuidade e a transformou em objeto de consumo para a ideologia capitalista. A cultura de massa é uma cultura: ela constitui um corpo de símbolos, mitos e imagens concernentes à vida prática e à vida imaginária, um sistema de projeções e de identificações específicas. Ela se acrescenta, à cultura nacional, à cultura humanista, à cultura religiosa, e entra em concorrência com estas culturas (MORIN, 1967, p. 18). Os sacerdotes, deixando a tarefa de ensinar assuntos concernentes ao espírito enveredaram-se na busca de prestígio e poder pessoal, acabou oferecendo palavras de “direitos humanos”, algo que não suprem as necessidades da alma. A internet surgiu com o avanço das estratégias militares e a necessidade de se obter informação cada vez mais rápida e mais eficaz, quando comparado ao rádio e à televisão. Chegou às três últimas décadas do século XX como consequência da fusão singular de pesquisa militar, a (ARPA) Agência de Projetos de Pesquisas Avançadas do departamento de defesa dos EUA que transmitiu mensagens sonoras, imagens e dados por meio de redes de informações (CASTELLS, 1999, p.82). O sistema de comunicação em rede nasceu em ampla escala, nas formas de redes de áreas locais e redes regionais, ligadas umas às outras, começou a espalhar-se por toda parte onde houvesse linhas telefônicas e por computadores equipados com modens, equipamento de preço bastante baixo e acessível à população (CASTELLS, 1999, p.85). A Teoria Culturológica parte de uma análise da Teoria Crítica e desenvolve assim um pressuposto diferente das demais teorias. No lugar de pesquisar os efeitos ou as funções da mídia, procura definir a natureza da cultura das sociedades contemporâneas. Conclui assim que a cultura de massa não é autônoma, como pretendem as demais teorias, mas parte integrante da cultura nacional, religiosa ou humanística. Ou seja, a cultura de massa não impõe a padronização d símbolos, mas utiliza a padronização desenvolvida espontaneamente pelo imaginário popular (WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Lisboa: Editorial Presença, 1995). 15 Facilitando ainda mais, em meados dos anos 70, o microcomputador foi inventado e simultaneamente apareceram os sistemas operacionais, os softwares para um melhor desempenho dos comandos. A internet também facilitou a vida dos estudantes, permitindo o acesso a informações e bancos de dados dos mais variados tipos de assunto, inclusive sobre as religiões no Brasil. O professor, como agente participativo do conhecimento, quando se depara com o assunto religioso em salas de aulas, depara-se com uma grande disputa. Os alunos defendem as instituições religiosas às quais pertencem como aos times de futebol. Basta uma simples pergunta: “Qual é a sua igreja?” para que as disputas aconteçam e esta é uma pergunta recorrente entre os alunos. Por falta de conhecimento bíblico e por estar magnetizada e persuadida pelas instituições religiosas, a maioria da população está equivocada sobre a concepção de igreja. Os ensinamentos de Jesus mostram que só existe uma Igreja, que é denominada de corpo de Cristo, composta por membros que podem estar reunidos numa casa, numa cidade ou em toda parte. Independente do país, do estado, da cidade, da residência onde se reúna o cristão, compõese o Corpo de Cristo que é a Igreja. Paulo esclarece sobre o assunto e diz: “Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja” (Colossenses 1:24) . A palavra “igreja ” deriva do latim ecclesia e do grego ekkêsia, e significa assembleia ou congregação de fiéis que podem estar reunidos em qualquer lugar do planeta. No Novo Testamento, Igreja não é sinônimo de templo e sim de um grupo de pessoas dispostas a seguir os ensinamentos de Cristo, por meio de Sua Palavra. Também é errôneo dizer que o cristão é uma igreja, pois correto dizer é que o cristão é templo do Espírito Santo e membro do Corpo de Cristo, que é a Igreja. (DOUGLAS, 1995, P.75). A escola que estiver cumprindo o que diz a L.D.B. estará transmitindo a ideologia de alguma denominação religiosa, pois ainda não existe um parâmetro de religiosidade sobre a óptica da hermenêutica e da exegese, elaborado pelo governo (Secretaria da Educação) que possa reger esta situação democraticamente. Todas as citações da Bíblia foram extraídas da versão “Sociedade Bíblica do Brasil, 1969”. Em português o vocábulo “igreja” deriva-se do latim ecclesia, que por sua vez vem do grego ekkêsia, palavra esta que, no Novo Testamento, na maior parte de suas ocorrências, significa uma congregação local de cristãos, e jamais um edifício (DOUGLAS, 1995, p. 735). 16 Há muitas controvérsias em relação ao ensino religioso nas escolas públicas, pois se a instituição escolar não for homogênea, ou seja, se todos os seus alunos não professarem a mesma religião, tal ensino se torna excludente. Existem unidades escolares que não se definiram completamente sobre como ministrarem estas aulas, alguns especialistas no assunto sugerem horários alternativos, outros dizem que os estabelecimentos públicos não podem servir de espaço para as pregações religiosas e outros argumentam que a escola tem a obrigação de oferecer tal ensino dentro da proposta curricular regular, ou seja, o assunto religioso sempre causa um comportamento agressivo e gera um desconforto no ambiente escolar. Sobre este tipo de comportamento a autora Fante (2005, p. 168) esclarece: O comportamento agressivo ou violento nas escolas é hoje o fenômeno social mais complexo e difícil de compreender, por afetar a sociedade como um todo, atingindo diretamente as crianças de todas as idades, em todas as escolas do país e do mundo. Sabemos ser o fenômeno resultante de inúmeros fatores, tanto externos como internos à escola, caracterizados pelos tipos de interações sociais, familiares, socioeducacionais e pelas expressões comportamentais agressivas manifestadas nas relações interpessoais. A escola como local de aprendizado tem o dever de proporcionar ao aluno o conhecimento necessário para a formação da cidadania, possibilitando a liberdade de expressão, fazendo conhecer os direitos e deveres junto ao Estado e à sociedade. Dentre os direitos do cidadão está o de se filiar a uma denominação religiosa por sua livre escolha, sendo assim, de igual modo, deveria ter o direito de conhecer os ensinamentos de Jesus num contexto não religioso denominacional, oferecido pelo Estado, no cumprimento da LDB. Na situação atual, para ensinar sobre o cristianismo na escola pública e para agir de forma constitucional e democrática, seria necessário estabelecer dias com líderes de todas as denominações religiosas: católicos (tradicionais, carismáticos etc...), evangélicos (tradicionais, pentecostais, neopentecostais etc.), espíritas e tantas outras instituições existentes no país. Mesmo assim a rivalidade permanece, pois a presença de um sacerdote católico romano em escolas onde predominam alunos evangélicos, ou vice-versa, é conflitante, uma vez que, alunos evangélicos não reconhecem a iconografia católica romano, como sendo mediadora no cristianismo. De acordo com Baudrillard (1991 p.12): “Vemos assim que os iconoclastas acusados de desprezar e negar as imagens eram os que lhes davam o seu justo valor, ao contrário dos iconólatras, que nelas apenas viam reflexos e se contentavam em venerar Deus em filigrana”. 17 Todos os segmentos religiosos cristãos no Brasil professam ser Jesus o Cristo e creem em parte no Novo Testamento como parâmetro para sua religiosidade, elaborando também suas próprias normas e doutrinas específicas de cada denominação. O Estado Laico na Constituição Brasileira foi conquistado por meio de muitos esforços, para impedir que aconteça o que ocorreu no passado: o extermínio dos israelitas, maçons e livres pensadores que, por não aderirem ao catolicismo romano eram exterminados em nome da “santa inquisição”. Esta denominação religiosa praticou o maior genocídio descrito na história da humanidade, por se achar a única deixada por Deus na terra e por se achar a única capaz de interpretar corretamente as Escrituras. Levou também seus fiéis a perseguirem como heresia tudo o que divergisse das suas normas, aprovadas pelos concílios do Vaticano. E isso se fará na medida em que os professantes da fé romano-católica se reapropriarem daquilo que foram historicamente despojados: sua capacidade de experimentar o sonho de Jesus, de dizê-lo de forma criativa e responsável, no interior da comunidade, de confrontálo solidariamente com outras experiências do Evangelho de Deus na história e articulá-lo com o curso do mundo, onde se revela também e principalmente o desígno de benquerença e de amor de Deus (EYMERICH, 1993, p.27-28). O Brasil possui uma imensa diversidade religiosa que deve ser respeitada, mas há também aqueles que não querem aderir a este contexto religioso, mas que também devem ser respeitados, fazendo-se cumprir a democracia no país. Deixar de esclarecer ao povo sobre os ensinamentos de Jesus é retroceder ao domínio clerical, onde tal conhecimento esteve restrito à casta sacerdotal e não concedido à população em geral. O concílio da igreja reunido no ano 1229 inclui a Bíblia no índice dos livros proibidos. Milhares de exemplares da Santa Escritura foram incinerados em todo o mundo pela igreja romana. Ainda hoje, onde o catolicismo romano domina ocorre isto. A destruição da Bíblia incentivada pelo Papa Leão XII, que em sua carta encíclica datada de três de maio de 1824 escreveu dizendo: “Que a certa sociedade chamada bíblica agia com arrogância em todo mundo contrariando os bons e conhecidos decretos do Concílio de Trento”, trabalhando com todo o seu poder e por todos os meios para traduzir, ou melhor, perverter a Santa Escritura na língua própria de cada nação (LEONEL, 1998, p.23). Observando o empenho dos governantes e sabendo da predominância religiosa do país, nota-se que há muito a fazer e a legislar em prol ao cumprimento da democracia religiosa no Brasil. 18 O acordo jurídico entre o Governo Federal e a instituição religiosa católica romana gerou a chamada “Lei Geral das Religiões”, projeto de Lei, nº 5598 de 2009, que no seu Art. 5º estabelece que: O patrimônio histórico, artístico e cultural, material e imaterial das Instituições Religiosas reconhecidas pela República Federativa do Brasil, assim como os documentos custodiados nos seus arquivos e bibliotecas, constitui parte relevante do patrimônio cultural brasileiro, e continuarão a cooperar para salvaguardar, valorizar e promover a fruição dos bens, móveis e imóveis, de propriedade das instituições religiosas que sejam considerados pelo Brasil como parte de seu patrimônio cultural e artístico. Se a laicidade da República Federativa do Brasil reconhece as instituições cristãs e seus arquivos e bibliotecas como parte relevante de seu patrimônio cultural, disponibilizar o esclarecimento do Antigo e Novo Testamento por meio da hermenêutica seria um grandioso exercício de democracia para o país. Se já houvesse a possibilidade de conhecer os ensinamentos de Jesus sem o vínculo religioso denominacional, certamente haveria uma complementação na LDB, na Seção III, Art.33, dizendo nos seguintes termos: “O ensino religioso não confessional, resultante da necessidade de oferecer o conhecimento do Antigo e Novo Testamento, que regem as denominações religiosas cristãs no país, sem a necessidade de vínculo institucional com as mesmas”. Esta possibilidade pode se tornar real e os ambientes já estão preparados, facilitados pela internet e seus aplicativos de interação, tornando possível o ideal de Deus para a humanidade. Quando Jesus disse aos seus discípulos: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15), não disse que seria necessário o vínculo religioso com esta ou aquela denominação religiosa. Para a execução desta dissertação foram utilizadas as contribuições de autores que trataram do tema ou de aspectos correlatos, em vários veículos de comunicação até a internet. Os autores Fernando Bastos e Sérgio Dayrell Porto, em sua proposta de análise hermenêutica (DUARTE, J, BARROS, A., 2008 p.316) trouxeram uma contribuição quanto ao método da hermenêutica e da exegese, nos quais dão visibilidade nos textos bíblicos, buscando descobrir a originalidade que foi escondida ou distorcida pela tradição. Usando a desconstrução hermenêutica, subvertendo as explicações tradicionais e seus conceitos dogmáticos inquestionáveis, tais autores procuram revelar possibilidades ainda não percebidas que estão nos ensinamentos de Jesus. 19 O autor Edgar Morin, em seu livro O espírito do tempo, faz uma abordagem da cultura de massa enquanto um conjunto de culturas (também a cultura religiosa) com suas normas, símbolos, mitos e imagens que penetram o indivíduo em sua intimidade. A tradição culturológica de estudos da cultura de massa revela a integração às culturas já existentes e as concorrências entre estas culturas e contribuiu para o entendimento sobre a religião, a mídia e o comércio religioso. Enquanto na época de Jesus, o comércio estava do lado de fora do templo, hoje, na “igreja” institucionalizada e midiatizada pelo rádio e TV, as quais dispõem sobre o consumo, as religiosidades também se tornaram mais um produto oferecido e comercializado a preço de dízimos e ofertas voluntárias nos shows da fé. O educador Paulo Freire, em sua pedagogia da libertação, esclarece a relação entre os oprimidos e os opressores e a relação de poder e submissão. Faz transparecer os métodos pedagógicos inadequados que impedem o conhecimento e as ações dos opressores na tentativa de impossibilitar o conhecimento para a libertação. Michel Foucault, em seu livro Vigiar e Punir esclarece a relação entre escola e aparelho repressor do Estado, a qual impele ao ato de vigiar e punir e não ao ato de esclarecer e libertar. Revelou ainda que as punições imputadas pelos estabelecimentos de ensino modificam-se de acordo com o comportamento social de cada período histórico. O autor Louis Althusser, em seu livro, Aparelhos Ideológicos de Estado, desvenda a religião como aparelho ideológico do Estado, que produz uma falsa paz, intermediando para induzir as classes operárias e dominadas a servirem pacificamente às classes dominantes. Marshall McLuhan esclarece sobre o poder envolvente do rádio, a letargia e persuasão provocada pela TV, e também a diminuição da oportunidade de interação entre receptor/emissor existentes nestes veículos. Na compreensão das tecnologias de comunicação, o autor Manuel Castells apresenta a internet como um veículo rápido e de integração mundial, que auxilia a prática e interação social e, portanto, facilitador também para a propagação dos ensinamentos de Jesus desvinculado das instituições religiosas. Esta dissertação busca averiguar os ensinamentos de Jesus, antes e após a abertura do Novo Testamento, na forma oral e escrita, conforme nosso estudo situado no capítulo 1. Menciona ainda a trajetória de seus ensinamentos ministrados pelos discípulos, a 20 institucionalização da igreja cristã pelo imperador Constantino e o domínio religioso da Idade Média até a imprensa tipográfica de Gutenberg, no capítulo 2. Refere-se também aos ensinamentos de Jesus por meio do áudio-visual (rádio e TV), da palavra proclamada no altar, no púlpito e pela imprensa tipográfica como veículos facilitadores somente para a ampliação de novas instituições religiosas, mas não como veículos facilitadores para aprendizagem segundo a hermenêutica e exegese dos textos. Tais veículos não possibilitam a interatividade entre emissor/receptor, agem em prol ao consumo, posicionando-se como aparelhos ideológicos do Estado e do capitalismo, conforme abordamos no capítulo 3. O capítulo 4 averigua o site como um possível veículo facilitador para ensino/aprendizagem dos ensinamentos de Jesus, desvinculado das instituições religiosas, apresentado pela www.estudosdabiblia.net e as facilidades que este site possibilita para o estudo bíblico fora do contexto religioso denominacional. Apresenta também parte do conteúdo de estudo e evidenciam as possíveis formas de interatividade global, as quais fornecem novas formas de acesso às informações, as quais estiveram restritas às instituições religiosas e suas várias denominações por séculos. Desta forma apresentada, nossa dissertação baliza, a seguir, neste primeiro capítulo, a oralidade como transmissão de conhecimentos. 21 1- A ORALIDADE COMO TRANSMISSÃO DE CONHECIMENTOS No princípio Deus criou a luz pela Palavra. Esta unidade mínima com significado que constrói o enunciado é também o objeto da oralidade. A bíblia nos relata um ramo linguístico existente no Éden, pelo qual Deus se comunicava com Adão e este com toda a criação, o qual se ramificou após o dilúvio por meio de Sem, Cão e Jafé e suas descendências até a mistura das línguas em Babel (GENESIS 11:9). Michel Foucault em seu livro intitulado As Palavras e as Coisas, no capítulo denominado “A prosa do mundo” faz referência a quatro tipos de diálogos que acontece entre as coisas criadas. O primeiro é denominado de a convenientia, onde se refere às coisas que, se aproximando uma das outras, vêm a se emparelhar; tocam-se e se misturam entre si. A alma e o corpo, por exemplo, são duas vezes convenientes: foi preciso que o pecado tivesse tornado a alma espessa, pesada e terrestre, para que Deus a colocasse nas entranhas da matéria. Mas, por essa vizinhança, a alma recebe os movimentos do corpo e se assimila a ele, enquanto o “corpo se altera e se corrompe pelas paixões da alma” (FOUCAULT, 1992, p.34). O segundo é denominado aemulatio. É uma espécie de conveniência que atua, imóvel, na distância. Exemplifica que o rosto se comunica com o universo e a ele se assemelha. De longe, o rosto é o êmulo do céu e, assim como o intelecto do homem reflete, imperfeitamente, a sabedoria de Deus, assim os dois olhos, com sua claridade limitada, refletem a grande iluminação que, no céu, expandem o sol e a lua; a boca é Vênus, pois que por ela passam os beijos e as palavras de amor; o nariz dá a minúscula imagem do cetro de Júpiter e do caduceu de Mercúrio (Ibdem, 1992, p. 35). O terceiro é a analogia. Familiar a ciência grega e ao pensamento medieval, superpõe a convenientia e ao aemulatio. Esta pode tramar, a partir de um mesmo ponto, um número indefinido de parentescos. A relação, por exemplo, dos astros com o céu onde cintilam, reencontra-se igualmente: na da erva com a terra, dos seres vivos com o globo onde habitam, dos minerais e dos diamantes com as rochas onde se enterram, dos órgãos dos sentidos com o rosto que animam, das manchas da pele com o corpo que elas marcam secretamente (Idem Ibdem, 1992, p.37). 22 E o quarto e ultimo diálogo é por meio das simpatias. Por meio desta, nenhum trajeto é previamente determinado nem há suposições de distancia a serem percorridas. A simpatia atua livre nas profundezas da criação. Ela é princípio de mobilidade: atrai o que é pesado para o peso do solo e o que é leve para o éter sem peso; impele as raízes para a água e faz girar com a curva do sol a grande flor amarela do girasol (Idem Ibdem, 1992, p.40). Essa forma de linguística isenta do uso da palavra pode ter uma similitude com a linguagem a qual Paulo se refere em (I CORÍNTIOS 13:1), quando se refere a língua dos anjos. Mas, a oralidade a qual estamos nos referindo é a transferência oral de informações guardadas na memória humana, a qual foi utilizada para transmitir conhecimentos à posteridade e que sempre esteve, de alguma maneira, ligada a todas as etnias desde os tempos mais remotos. Segundo (LÉVY, 1993), existem dois tipos de oralidade: a primária, que remete ao papel da palavra antes que uma sociedade tenha adotado a escrita e a secundária, que está relacionada a um estatuto da palavra que é complementar ao da escrita, tal como a conhecemos hoje. Diz ainda que, numa sociedade oral primária, quase todo o edifício cultural está fundado sobre as lembranças dos indivíduos. Nas épocas em que antecediam a escrita, era mais comum pessoas inspiradas ouvirem vozes do que terem visões, já que a oralidade era um canal frequente da informação. Bardos, aedos e griots aprendiam seu ofício escutando os mais velhos. Muitos milênios de escrita acabarão por desvalorizar o saber transmitido oralmente, pelo menos aos olhos dos letrados. Spinoza irá colocá-lo no último lugar dos gêneros de conhecimento (LÉVY, 1993, p.77). A oralidade ocupa-se diretamente da memória, sendo esta de curto ou longo prazo. A memória de curto prazo é aquela usada nas funções do cotidiano, ao memorizar de um recado recebido no período da manhã e lembra-lo ao final da tarde e a de longo prazo é aquela que nos lembramos do mesmo recado no momento necessário, ou seja, mesmo após ter passado vários dias. Os registros culturais, transmitidos pela oralidade estiveram sempre presentes tanto na composição do Antigo e do Novo Testamento. Mesmo nos momentos mais difíceis da nação 23 israelita, seja por desertos ou cativeiros sempre a presença do onipotente foi falada e ouvida entre o seu povo. Segundo o autor (ONG, 1998), todos os textos escritos devem estar relacionados ao mundo sonoro.“Ler” um texto significa converte-lo em som, em voz alta ou na imaginação, sílaba por sílaba na leitura lenta ou de modo superficial na leitura rápida, comum a culturas de alta tecnologia. Diz ainda que a escrita nunca pode prescindir da oralidade. Assim como Sócrates, Jesus transmitiu seus ensinamentos pela oralidade, deixando para seus discípulos registrarem por meio da escrita os seus feitos. 1.1 – A DIVULGAÇÃO DA CULTURA PELA ORALIDADE NO INÍCIO DA ERA CRISTÃ O processo educacional vem desde os povos primitivos, com lições de moral e a crença em Deus, praticada no seio da família e junto às comunidades. A constituição humana não foi alterada desde a sua criação, mas as necessidades diárias é que passam por alterações no decurso histórico. O homem da antiguidade também se humanizou por meio da educação, para suprir outras necessidades importantes para sua época, o que diferem do período das invenções tecnológicas atuais. Dentre as tribos indígenas que se relacionam diretamente com a natureza ainda se preserva o respeito aos genitores, a admiração ao conhecimento dos idosos, sentimento de honra e dignidade para com o semelhante. Tais posicionamentos estão um pouco esquecidos na sociedade contemporânea. A cultura no antigo Egito era transmitida por meio de cânticos e hinos religiosos, mas somente os sacerdotes tinham o poder sobre os livros herméticos, contendo o conhecimento da religião. O ensino superior era ministrado nos colégios sacerdotais muito bem organizado e providos de arquivos e bibliotecas. Os mais antigos centros de estudos superiores foram os templos de Heliópolis, Mênfis e Tebas, onde existiam cursos de religião, medicina, Leis, Matemática, Astronomia, Gramática, etc. Os que terminavam os cursos e conquistavam os graus acadêmicos podiam permanecer residindo nos templos para prosseguimento dos seus estudos e investigações. Alguns desses alunos graduados dedicavam-se ao ensino nos templos. Os príncipes eram educados numa “Escola de Faraós” onde também se podiam matricular os filhos de sacerdotes que possuíssem mais de vinte anos de idade e se tivessem distinguido nos estudos. Nessa escola, foi educado Moisés que era filho adotivo de uma princesa real (SANTOS, 1967, p.53). 24 Este modelo educacional é praticado pela casta sacerdotal até os dias atuais, percorrendo um período cronológico de aproximadamente cinco mil anos de tradição. O vínculo da dominação sacerdotal na educação hebraica direcionou o ensino estritamente de cunho religioso, no cumprimento da revelação de Deus ao povo de Israel. Os israelitas diferem de outros povos da antiguidade pela sua historicidade, concernente as doze tribos de Israel. Todos os conteúdos escolares estão direta ou indiretamente relacionados com os textos bíblicos, desde a moral, a ética e as disciplinas de geografia, história, matemática e ciências naturais. Os mestres israelitas sempre foram muito eficientes nas transmissões orais de seus conhecimentos, mas houve um período de extremas punições corporais para os jovens insubordinados. O livro de Provérbios instrui a nação israelita a não poupar a vara na educação dos filhos, como se comprova nos capítulos a seguir transcritos: Nos lábios do entendido se acha a sabedoria, mas a vara é para as costas do falto de entendimento (10:13); O que não faz uso da vara odeia seu filho, mas o que o ama, desde cedo o castiga (13:24); A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da correção a afugentará dela (22:15); Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá (23:13); Tu a fustigarás com a vara, e livrarás a sua alma do inferno (23:14); O açoite é para o cavalo, o freio é para o jumento, e a vara é para as costas dos tolos (26:3), A vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma, envergonha a sua mãe (29:15). A Grécia, em sua educação humanística, buscou transmitir às novas gerações um ideal de sabedoria e aperfeiçoamento dos seus conhecimentos. Suas fontes educacionais foram construídas sobre duas bases, a de Esparta, que destinava a preparação para a guerra e a de Atenas, que educava para a liberdade civil e desenvolvimento harmonioso da personalidade. Os atenienses gloriavam-se de seus métodos pedagógicos, destituídos de atos violentos, como relatado na oração fúnebre de Péricles: Não educamos nossas crianças por meio da violência, mas deixando que as mesmas se desenvolvam livremente até se tornarem homens. Amamos e cultivamos o belo, sem vã ostentação. Prezamos a verdade, procuramos o conhecimento, sem nos deixar, porém, dominar pela moleza e pela folgança. Somos audazes e temerários, mas nossa exaltação não nos impede de avaliar o alcance de nossas empresas. Em outros, ao contrário, o entusiasmo se baseia na ausência de educação. Sabemos julgar com perfeição, o agradável e o penoso e, apesar disso, não nos esquivamos do perigo (SANTOS, 1967, p. 80). 25 A Grécia possuía centros de educação popular, destinados à infância e à juventude, e as disciplinas eram ministradas por etapas entre as escolas e os ginásios. Mesmo buscando obter o mais elevado grau de conhecimento, a educação grega também empregou algumas agressões físicas para o ensino elementar. As crianças eram submetidas ao açoite com vara nas correções leves e, nas faltas mais graves, o castigo era ainda maior. Na didascália ou na palestra, a disciplina era rígida e severa. Uma passagem célebre de Aristófanes descreve a disciplina das escolas atenienses. As crianças deviam guardar silêncio diante dos mestres. Seguiam para a escola em grupos e, do mesmo modo, voltavam para casa, a fim de não se desviarem do seu caminho. A disciplina na classe era rigorosa. O professor fazia uso, freqüentemente, da vara para obter a atenção ou a docilidade do aluno. Nos casos mais graves, lançava mão das sandálias (SANTOS, 1967, p. 82). A educação para os jovens acima dos dezoito anos ficava a cargo do serviço ativo do Estado, junto aos efebos, em caráter militar e cívico, onde eram realizados vários tipos de juramentos. Estes estudos prosseguiam para os estudos universitários, públicos e coletivos, ministrados gratuitamente. Já na Roma imperial, sob o domínio dos deleites e das luxúrias; pelo excesso de riquezas, conquistadas em batalhas, a vida se deparava com o vazio. O caos religioso se instaurou mediante aos rituais apáticos e indiferentes aos deuses mitológicos. Não existia a presença nem o vínculo do Deus verdadeiro: criador das coisas invisíveis e visíveis. A religião romana encontrava-se em decadência, não tinha mais o que oferecer; seus deuses ofereciam proteção em troca de oferendas e oblações, mas não orientavam para a vida espiritual nem para a material. Mas uma luz viva e pura já cintilava no céu negro e convulso do mundo romano. Um grupo de humildes e rústicos pescadores provenientes da longínqua Judeia começava a ensinar os romanos que a verdadeira virtude não brota da inteligência, nem da cultura, mas da pureza de coração e da simplicidade de espírito; e que essa virtude consiste no amor de Deus, no amor ao próximo, no amor ao bem. Era a doutrina de Jesus Cristo, mensageiro da verdade eterna, que, apesar da humildade de sua origem, ia produzir a mais profunda transformação social de todos os tempos (SANTOS, 1967, p.118). Os ensinamentos de Jesus revelam uma nova maneira de viver, converte as atitudes de soberba em humildade, de ódio e vingança em amor e esperança. Os rituais oferecidos aos deuses do passado e suas pseudoproteções tornaram-se insignificantes comparadas a mensagem das Boas Novas de salvação, oferecida gratuitamente. 26 Jesus, o maior dos educadores de toda humanidade, ofereceu um conteúdo de vida e amor inigualável, algo tão necessário e que pode resolver os problemas de violência em todos os níveis sociais. É o único conteúdo competente e hábil para solucionar a indisciplina, a falta de respeito e a violência na educação atual; só que seus ensinamentos ficaram submetidos à casta sacerdotal e à religião que impõem suas normas e doutrinas, impedindo o livre curso da Sua Palavra. As religiões simplesmente oferecem resquícios da verdade bíblica, em troca da submissão e dinheiro dos fiéis. Os ensinamentos bíblicos oferecidos pelas religiões são algo tão fragmentado e tão misturado entre lei e Graça que se torna impossível de compreendê-los corretamente. 1.2 - A ORALIDADE DE JESUS – A ORATURA (LITERATURA ORAL) NAS COMUNIDADES PRIMITIVAS (TRIBOS AFRICANAS) Segundo os registros bíblicos, ao se aproximar dos trinta anos e, sendo responsável pelos seus atos, Jesus iniciou seu ministério se comunicando de forma intrapessoal com o Pai e se dirigindo ao rio Jordão onde foi batizado por João, cumprindo toda a justiça. Ao dar início a seu ministério, Jesus, assim como João, também pediu ao povo o arrependimento dos pecados como requisito para entrar no reino de Deus. Quem tem ouvido ouça, disse Jesus, o perfeito comunicador diante das multidões. Não necessitou de grandes auditórios ou de palavras difíceis, mas fez uso da montanha e da praia e, com simplicidade, desvendou os mistérios de Deus. 27 Figura 1 – A oralidade nos ensinamentos Não se filiou à instituição religiosa dos Fariseus ou dos Saduceus, nem se submeteu a nenhum estatuto religioso humano, mas foi instruído pelo Espírito Santo, que desceu sobre ele na forma corpórea de pomba. Após o batismo, saiu em direção ao deserto onde foi tentado e, tendo resistido às tentações, iniciou os ensinamentos concernentes ao reino dos céus, ensinando os discípulos e o povo, rompendo o isolamento com o mundo. Ensinou coisas sublimes, comparando-as com atividades do cotidiano, como a pesca, a agricultura e o pastoreio. Falou ao rico e ao pobre sem distinção, usou palavras como árvores e rochas, óleo e sal para fazer compreender o reino de Deus. Ensinou mediante o recurso do discurso primeiro, por meio do qual o Criador comunicou-se com Adão, comparando a similitude das coisas criadas. Michel Foucault liga o conhecimento ao divino, às coisas de Deus, nos seguintes termos: Não há diferença entre essas marcas visíveis que Deus depositou sobre a superfície da terra, para nos fazer conhecer seus segredos interiores, e as palavras legíveis que a Escritura ou os sábios da antiguidade, esclarecidos por uma luz divina, depositaram nesses livros que a tradição salvou. A relação com os textos é da mesma natureza que a relação com as coisas; aqui e lá são signos que arrolamos. Mas Deus, para exercitar nossa sabedoria, só semeou na natureza figuras a serem decifradas (e é nesse sentido que o conhecimento deve ser divinatio), enquanto os antigos já deram interpretações que não temos senão que recolher. Que deveríamos somente recolher, se não fosse necessário aprender sua língua, ler seus textos, compreender o que dizem (FOUCAULT, 1992, p.49). 28 Jesus ao se tornar adulto direcionou primeiramente seus ensinamentos à nação israelita, a qual aguardava ansiosa por um libertador que pudesse torná-lo livre da opressão romana e do jugo dos altos impostos, mas a libertação oferecida foi a do pecado e poucos aceitaram. Instruiu seus discípulos e repreendeu os religiosos que o seguiam somente no intuito de acusá-lo perante a lei mosaica. Tendo ensinado os doze e sabendo que iria deixá-los, os enviou para que fossem às ovelhas perdidas da casa de Israel, pois estavam como cegos, compenetrados na ideologia religiosa da lei, transmitida pelos sacerdotes a várias gerações. Sendo a estrutura formal de toda ideologia sempre idêntica, nos contentaremos em analisar apenas um exemplo, acessível a todos, o da ideologia religiosa; esta mesma demonstração pode ser reproduzida para a ideologia moral, jurídica, política, estética, etc. (ALTHUSSER, 1985, p. 99). Esta forma de religiosidade é caracterizada pela ideologia institucional que visa o prestígio e poder para os sacerdotes, junto ao aparelho ideológico do Estado, que atua em prol de uma falsa paz, somente para que os subalternos ou dominados possam servir e serem melhores explorados pelos dominantes no sistema capitalista. Para Garcia (1985, p.12) os “Líderes religiosos, que se propõem a orientar seus adeptos pelos caminhos da paz espiritual e da salvação eterna, acabam empurrando-os para ações que favorecem lucros materiais e ambições terrenas”. A comunicação para direcionar os ensinamentos de Jesus, ministrada pelos discípulos por meio da oralidade, acontecia e ainda, em menor intensidade acontece, pelas casas e praças, competindo com os veículos de comunicação da atualidade. Para McLuhan, antes da intervenção da tipografia, o sentido visual estava submetido ao sentido acústico (TEMER e NERY, p.116, 2009). Uma verdadeira comunicação em massa se instaura após a morte e ressurreição de Jesus, a excelência do tema e a necessidade espiritual emergente fazem da população a alavanca propulsora da mensagem salvífica. Tal mensagem foi acatada pelo catolicismo romano como uma propaganda, conforme esclarece Garcia (1985, p.10): “A propaganda ideológica, ao contrário, é mais ampla e mais global. Sua função é a de formar a maior parte das idéias e convicções dos indivíduos e, com isso, orientar todo o seu comportamento social”. Lei mosaica, seguindo as versões antigas, a maioria das traduções modernas empregam o termo “lei” para traduzir o vocábulo hebraico tôrâ, palavra essa que ocorre mais ou menos 220 vezes no Antigo Testamento (BRUCE et. al., 1995, p. 914). 29 A comunicação interpessoal dos discípulos gerou novos grupos que organizados e instruídos sobre o assunto concernente ao reino de Deus aumentavam a cada dia. Esta intermediação oral e escrita teve sua base unicamente nos ensinamentos de Jesus e não em alguma outra doutrina. A oralidade primária remete ao papel da palavra antes que uma sociedade tenha adotado a escrita, a oralidade secundária está relacionada a um estatuto da palavra que é complementar ao da escrita, tal como o conhecemos hoje. Na oralidade primária, a palavra tem como função básica a gestão da memória social, e não apenas a livre expressão das pessoas ou a comunicação prática cotidiana. Hoje em dia a palavra viva, as palavras que “se perdem no vento”, destaca-se sobre o fundo de um imenso corpus de textos: “os escritos que permanecem”. O mundo da oralidade primária, por outro lado, situa-se antes de qualquer distinção escrito/falado (LÉVY, 1993, p.77). Na comunicação veiculada por meio da oralidade, os recursos sonoros ficam limitados à voz humana e o fator que fez com que o número de seguidores aumentasse foi a expectação da verdade anunciada, sendo esta reconhecida quando a palavra atinge o espírito humano. Também houve a veiculação dos ensinamentos por meio de cartas , pergaminhos manuscritos, enviados aos discípulos por todas as cidades onde existiam grupos de seguidores das Boas Novas de salvação. A Graça, o favor imerecido era anunciado pessoalmente e a massa atingida pela comunicação oral espalhou-se rapidamente como uma chama viva e envolvente, difundindo-se mesmo em meio a grandes perseguições e mortes dos discípulos por causa da Palavra. A África desenvolveu através dos tempos uma magnífica e variada literatura que foi transmitida muito mais na forma oral do que pela forma escrita. Os contos populares, narrando histórias de animais e lendas imaginativas, transmitidas de gerações a gerações colocam a lebre, a tartaruga, a aranha como personalidades importantes da cultura e de alto valor expressivo que abrange todo o continente africano. Com exceção da Etiópia cristã e de algumas áreas em que havia cronistas árabes, as histórias locais foram transmitidas oralmente de uma geração para outra, frequentemente por grupos de griots, poetas itinerantes os quais o povo lhes atribuía certos poderes espirituais. A primeira literatura escrita aparece no norte da África e, assim como as obras do teólogo cristão Agostinho e do historiador islâmico do século XIV Ibn Khaldun, as quais apresentam fortes vínculos com as literaturas latina e árabe (ENCARTA 1993-2001). Na segunda carta aos Tessalonicenses (2:15) diz: Então, irmãos, estais firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa. 30 No período inicial do cristianismo, Felipe, obedecendo ao Senhor para ficar na estrada que descia para Gaza, a qual esta deserta teve um encontro com um etíope, o qual tinha ido a Jerusalém levar sua oferta religiosa. Felipe anunciou-lhe Jesus e o etíope creu e foi batizado, tendo certamente voltado para a Etiópia e evangelizado a muitos, prosseguindo a obra missionária de Cristo. O anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te, e vai para o lado do sul, ao caminho que desce de Jerusalém para Gaza, que está deserta. E levantou-se, e foi; e eis que um homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros, e tinha ido a Jerusalém para adoração, regressava e, assentado no seu carro, lia o profeta Isaías. E disse o Espírito a Filipe: Chega-te, e ajunta-te a esse carro. E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês? E ele disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse. E o lugar da Escritura que lia era este: Foi levado como a ovelha para o matadouro; e, como está mudo o cordeiro diante do que o tosquia, Assim não abriu a sua boca. Na sua humilhação foi tirado o seu julgamento; E quem contará a sua geração? Porque a sua vida é tirada da terra. E, respondendo o eunuco a Filipe, disse: Rogo-te, de quem diz isto o profeta? De si mesmo, ou de algum outro? Então Filipe, abrindo a sua boca, e começando nesta Escritura, lhe anunciou a Jesus. E, indo eles caminhando, chegaram ao pé de alguma água, e disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que eu seja batizado? E disse Filipe: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. E mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e o batizou. E, quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe, e não o viu mais o eunuco; e, jubiloso, continuou o seu caminho (ATOS 8:26-39). A África também existe uma cultura cristã copta, a qual se expressa pela língua semítica do ramo egípcio, cujas primeiras atestações datam do séc. II, e que é, atualmente, usada apenas como língua religiosa pelos cristãos do Egito. Esta cultura se desenvolveu posteriormente no Sudão e na Etiópia e conseguiu manter esses vínculos, embora a conquista islâmica do norte da África no século VIII tenha deixado os cristãos etíopes isolados do restante da cristandade por um longo período (ENCARTA 1993-2001). 1.3 – A ORALIDADE NA IDADE MÉDIA Neste período histórico a propagação da fé ficou a cargo dos sacerdotes catolicos, por meio de sermões: “Na Idade Média, o altar, mais do que o púlpito ocupava o centro das igrejas cristãs. No entanto o sermão dos padres já era obrigação aceita, e os frades pregavam nas ruas e praças das cidades, assim como nas igrejas” (BRIGGS e BURKE, 2006, p.36). 31 A ínfima divulgação dos ensinamentos de Jesus que ocorreram neste período também contribuiu para a ampliação da denominação católica, mas não do esclarecimento dos ensinamentos de Jesus ao povo. A compilação dos vinte e sete livros que compõem o Novo Testamento, como se apresentam hoje, foi acontecendo por etapas. Os manuscritos circulavam entre os discípulos que, reunidos compunham o corpo de Cristo por cada localidade. A carta aos Colossenses (4:16) leem-se as seguintes informações: “E, quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o seja na igreja dos laodicenses, e a que veio de Laodicéia lede-a vós também”, e aos Tessalonicenses (5:27) é direcionada a seguinte observação: “Pelo Senhor vos conjuro que esta epístola seja lida a todos os santos irmãos”. As cartas eram lidas a todos os membros que estavam na Ásia, espalhando-se por todas as localidades, reunindo-se em nome de Cristo. Clemente de Roma, no ano (95 d.C.) mencionou oito livros do Novo Testamento, Inácio de Antioquia (115 d.C.) reconheceu cerca de sete livros. Policarpo (108 d.C.) reconheceu 15 livros, Irineu (185 d.C.) fez menções a 21 livros, Hipólito (170-235 d.C.) referiu-se a 22 livros e, no ano de 363 d.C., a assembléia de Laodicéia reconheceu os 27 livros que compõe o Novo Testamento (CANONE, 2011). Simultaneamente à expansão dos discursos religiosos, surgem também as grandes construções religiosas tais como templos e catedrais. Ganham relevo também os sacerdotes, em particular o “papa”. Os gigantescos projetos arquitetônicos adentram a Idade Média, a arquitetura grecoromana foi dando lugar às torres góticas que, como mãos levantadas em direção aos céus, determinavam o teocentrismo. A instituição católica romana usou os principais arquitetos da época e se apossou dos lugares privilegiados de cada cidade, obtendo os seus intentos de ostentação e luxo, mostrando seu poder por meio do ouro e da prata incrustados em seus utensílios. 32 Figura 2 – Templo medieval 1.4 – A DIVULGAÇÃO DA PALAVRA NO NOVO TESTAMENTO Os religiosos, cumpridores da lei, e os sacerdotes que se beneficiavam com o dinheiro do povo buscavam eliminar os divulgadores dos ensinamentos de Jesus. O sangue de animais em holocausto continuou sendo derramado, mas, para os autênticos seguidores dos ensinamentos de Jesus o sangue de animais ficou completamente invalidado, como também todo cerimonial da lei, valendo somente o sangue de Jesus, perpetuamente e gratuitamente oferecido para remissão dos pecados. Outra figura importante relacionada à divulgação do cristianismo é Paulo, por enfatizar a Graça e desprezar os cerimoniais da abolida lei. Segundo Wilhelm Heitmüller (1912 apud GOPPELT, 2002, p.285) não é somente a comunidade primitiva que separa Paulo de Jesus, existe outro elemento. A seqüência do desenvolvimento é: Jesus - comunidade primitiva – cristianismo Helenista – Paulo. No momento que o véu do templo se rasgou de cima a baixo, abriu-se o local onde habitava a presença de Deus na terra, no “santo dos santos”; a partir deste momento, toda a lei foi 33 ab-rogada, anulada totalmente. No Evangelho de Mateus (27:51) tal fato é descrito da seguinte forma: “E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras”. Toda ideologia religiosa da lei mosaica foi anulada pelo Criador, o local de habitação de Deus na terra deixou de ser o templo de pedra e passa a ser um templo não construído por mãos humanas, mas no coração contrito que reconhece ser pecador e se arrepende e, de livre e espontânea vontade, volta-se ao Criador. Um dos temas éticos mais importantes com que se confrontou a igreja primitiva foi sua relação com a lei mosaica. Como deviam observar a lei os que criam em Jesus como Messias e Filho de Deus? O tema é complicado para leitores modernos, uma vez que se aproximam de textos, tais como os evangelhos, com certa compreensão prévia da lei, por exemplo, da lei moral, da lei natural. Mas, dentro do Novo Testamento, “a lei” em geral se refere à lei mosaica, que contém regras e regulamentos que governam cada aspecto da vida, desde regulamentações culturais e de pureza legal até o decálogo. A observância dessa lei era o meio pelo qual o povo judeu mantinha o seu estatuto de aliança (MATERA, 1999, p.36). Jesus viveu e anunciou o reino dos céus dentro do período da lei, mas com a sua morte, abriu-se o Novo Testamento e entrou o período da Graça. Após sua morte, os discípulos hesitavam entre a lei e a Graça e queriam permanecer com os ensinamentos de Jesus e também na prática da lei, agradando os religiosos. Isto aconteceu até o correto entendimento sobre os ensinamentos de Jesus, o qual chegou até Paulo por uma comunidade helenística , que já tinha abolido a lei e estava na Graça de Deus por Cristo Jesus. A imperfeita lei que fora ab-rogada caracterizou-se pela religião institucionalizada e normas sacerdotais praticadas no templo, na espera do Messias. Na Graça, a qual se estabelece por meio do favor imerecido de Deus para com a humanidade, a re-ligião ou a re-ligação por meio dos sacerdotes já não existe. Na Graça, é Cristo Jesus que liga o pecador ao Pai, sem a necessidade de uma re-ligação ou mediação sacerdotal. Cristo é o Sumo Sacerdote. Na lei, a purificação do pecado era feita com o sangue de animais, somente para os sacerdotes, os quais intercediam a Deus por alguém ou por alguma causa. Na Graça, o sangue de Cristo Jesus purifica a todos que o recebem como Senhor e Salvador, e ainda os torna sacerdotes reais para Deus, gratuitamente. Por volta do ano 40, surgiu em Antioquia uma comunidade de judeus e gentios que estava se separando da lei, a comunidade matriz do “cristianismo gentílico” (GOPPELT, 2002, p.286). 34 Dessa maneira, firmam-se os preceitos religiosos praticados por Cristo e estes irão consolidar-se nos séculos seguintes na história da humanidade. 1.5 – OS EVANGELISTAS Evangelho provém da palavra grega euangelion , que significa "boas novas", um termo que representa a entrega de boas noticias ou a literatura primária do Novo Testamento cristão. Os quatros evangelhos trazem a mesma mensagem salvífica ao espírito e alma humana, que por meio de Cristo Jesus Deus cumpriu suas promessas a Israel, abrindo o caminho da salvação a toda humanidade, gratuitamente. É o cumprimento do Antigo Testamento e não deve contrapor-se ao mesmo, como se Deus tivesse desistido de seu plano inicial, antes é a confirmação onde o próprio Jesus visualizou nos escrito de Isaias o seu ministério: E, chegando a Nazaré, onde fora criado entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: o Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados do coração, a pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor. E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos (LUCAS 4:16-21). Os quatro primeiros livros que compõem o evangelho são atribuídos a Mateus, Marcos, Lucas e João e são suficientes para o testemunho sobre os feitos de Cristo, ficando impedido qualquer registro de acréscimo ou emenda para justificá-lo. O apóstolo Paulo diz em Gálatas (1:8) "Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema". Mateus, também era chamado de Levi, filho de Alfeu, o qual no seu próprio evangelho recebe o complemento de "o publicano" (Mateus 10:3), estava sentado na coletoria quando foi encontrado por Jesus, quando o pediu que o seguisse. Certamente era um homem rejeitado pelos seus compatriotas e insatisfeito com o trabalho que realizava, não recusou o convite feito por Jesus e logo se levantou e o seguiu. 35 Segundo (BRUCE et al, p.1003, 1995) João Marcos, o autor do segundo evangelho aparentemente era judeu nascido em Jerusalém e carregava um nome latino, possivelmente atribuído a influência romana em território israelita daquele período. Sua mãe, chamada Maria tinha algum parentesco com Barnabé, segundo o relato descrito em Colossenses (4:10) “Aristarco, que está preso comigo, vos saúda, e Marcos, o sobrinho de Barnabé, acerca do qual já recebestes mandamentos; se ele for ter convosco, recebei-o”; Maria, mãe de Marcos, parece ter sido uma mulher financeiramente estruturada, pois tinha uma ampla casa, a qual era bastante espaçosa e abrigava grande número de pessoas. A descrição em Atos (12:12) diz que o apóstolo Pedro ao sair da prisão foi à casa de Maria, mãe de Marcos e ali encontrou grande numero de crentes reunidos, perseverando em oração. A bíblia não faz menção a seu pai, e isto leva a crer que já teria falecido neste período. João Marcos aparentemente permaneceu em sua residência até ser levado por Paulo e Barnabé para Antioquia, os quais estavam regressando á Jerusalém, como está descrito em Atos (12:25). João Marcos também acompanhou Paulo e Barnabé em ocasião da sua primeira viagem missionária, onde partiram para Chipre, mas, quando chegaram a Perge, João Marcos os deixou e retornou a Jerusalém como está descrito em Atos (13:13) “E, partindo de Pafos, Paulo e os que estavam com ele chegaram a Perge, da Panfília. Mas João, apartando-se deles, voltou para Jerusalém”. Paulo certamente reconheceu a atitude de João Marcos como um ato de deserção e recusou em levá-lo, quando foi sugerido por Barnabé como integrante na segunda viagem missionária, que se encontra em Atos (15:38): “Mas a Paulo parecia razoável que não tomassem consigo aquele que desde a Panfília se tinha apartado deles e não os acompanhou naquela obra”. Com a insistência de Barnabé em levar João Marcos consigo para Chipre, Paulo separando-se de Barnabé preferiu seguir com Silas para outra direção. Certamente este pequeno desentendimento foi solucionado mais tarde, quando foi escrito Colossenses (4:10) Paulo diz: “Aristarco, que está preso comigo, vos saúda, e Marcos, o sobrinho de Barnabé, acerca do qual já recebestes mandamentos; se ele for ter convosco, recebei-o”. Lucas, o evangelista, autor do terceiro evangelho, foi um médico muito educado que acompanhou o apóstolo Paulo em suas viagens. Provavelmente nascido em Antioquia, era um gentio que falava o grego, humilde, e muito disciplinado, o qual projetou em sua obra toda luz para o tema central de Jesus o Salvador. O apostolo Paulo escreveu sobre ele em Colossenses 36 (4:14) chamando-o de “o médico amado” e na epístola de Filemom 24 o nomeia como um dos seus cooperadores de viagens para o evangelismo. Em seu aprisionamento em Roma e pouco antes de seu martírio, Paulo escreve a Timóteo que somente Lucas estava com ele, sendo necessário que Marcos o acompanhe e o ajude em seu ministério. “Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério” (2 Timóteo 4:11). Lucas, além de cooperador, foi um grande amigo de Paulo. Para escrever o evangelho averiguou as testemunhas que evidenciaram os fatos decorrentes ao ministério de Jesus, como está registrado: Tendo, pois, muitos empreendidos pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram, segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio, e foram ministros da palavra, pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio; para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado (LUCAS 1:1-4). E João, o autor do quarto evangelho, filho de Zebedeu e Salomé, possivelmente primo de Jesus por parte de mãe, ficou denominado como “aquele a quem Jesus amava”. João e Tiago foram designados por Jesus de Boanerges, ou “filhos do trovão” por serem de temperamento impensado e de ações súbitas. Esse aspecto de caráter dos irmãos é demonstrado após alguns samaritanos terem recusado a entrada e os ensinamentos de Jesus em seu vilarejo, como se encontra em Lucas (9:54) que diz: “E os seus discípulos, Tiago e João, vendo isto, disseram: Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez? Além disso, suas ambições, juntamente com a de sua mãe eram um tanto exagerado, chegaram a pedir lugares especiais no momento que Jesus ocupasse o seu reino”. Então se aproximou dele à mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, adorando-o, e fazendo-lhe um pedido. E ele diz-lhe: Que queres? Ela respondeu: Dize que estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita e outro à tua esquerda, no teu reino. Jesus, porém, respondendo, disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu hei de beber, e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado? Dizem-lhe eles: Podemos. E dizlhes ele: Na verdade bebereis o meu cálice e sereis batizados com o batismo com que eu sou batizado, mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence dálo, mas é para aqueles para quem meu Pai o tem preparado. E, quando os dez ouviram isto, indignaram-se contra os dois irmãos. Então Jesus, chamando-os para junto de si, disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes 37 exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; (MATEUS 20: 20-26). João, aquele que Jesus amava, é o mesmo que no momento da última ceia se reclinou próximo ao seio do Senhor, o qual também ficou encarregado de cuidar de Maria após a morte de Jesus. João estava entre os três discípulos que presenciaram ocasiões especiais com Jesus, no momento da transfiguração, na ressurreição da filha de Jairo e no jardim do Getsêmani e de acordo com Lucas, João e Pedro foram os discípulos enviados por Jesus para prepararem a refeição da Páscoa. “E mandou a Pedro e a João, dizendo: Ide, preparai-nos a páscoa, para que a comamos” (LUCAS 22:8). João, juntamente com Pedro, correu, no domingo da ressurreição, até o túmulo onde Jesus foi sepultado e foram os primeiros a ver as roupas mortuárias ainda não mexidas, deixadas pelo Senhor, e estava também no momento que Cristo ressurreto se revelou a sete de seus discípulos, próximo ao mar de Tiberíades. É atribuídos a João o evangelho, três epístolas e o apocalipse, (ENCARTA 1993-2001), depois de ter se refugiado na ilha de Patos durante a perseguição romana seguiu para Efeso, tendo falecido no ano 101d.C. 1.6 – OS EVANGELHOS APÓCRIFOS A palavra „apócrifo‟ provém do grego apókryphos e do latim apocryphu que significa obra ou fato sem autenticidade, ou cuja autenticidade não se provou. Especificamente entre os católicos romanos diz-se dos escritos de assunto sagrado não incluído no Cânon das Escrituras autênticas e divinamente inspirado. Segundo HALLEY, 2001 a palavra testamento, conforme empregada para designar os livros do Antigo ou Novo Testamento bíblico tem o significado de “aliança” ou pacto solene entre Deus e os homens. O Antigo Testamento diz respeito à aliança que Deus fez com Abraão (GENESIS 15) de que viria a ser uma grande nação e que a terra de Canaã pertenceria a seus descendentes e que por meio de seus descendentes o mundo seria abençoado. O Novo testamento se refere à aliança que Deus fez com toda a humanidade, mediante a vida, morte e ressurreição de Jesus, o qual descende de Abraão e é o instrumento da benção prometida a Abraão com expansão para todas as nações da terra. 38 Os sessenta e seis (66) livros canônicos reconhecidos pelos evangélicos foram escritos durante o percurso de mil e quinhentos anos. A palavra “cânon da bíblia” significa regra ou padrão, os quais foram aceitos como a Palavra inspirada por Deus. Os católicos os denominam de “livros deuterocanônicos” e em suas versões bíblicas estão intercalados com os livros canônicos, totalizando setenta e três livros, os quais são: Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, eclesiástico, I Macabeus, II Macabeus e Baruque. Ainda na bíblia católica existem os acréscimos a Ester, Carta de Jeremias e acréscimos a Daniel (Oração de Azarias, Susana, Bel e o Dragão), os quais são reconhecidos pelos evangélicos como apócrifos. São reconhecidos pelos católicos como livros apócrifos somente: O testamento de Adão, I e II Enoque, O testamento de Jô, III e IV Macabeus e alguns outros, os quais são denominados pelos evangélicos de pseudepígrafos. Diante das perseguições aos cristãos do primeiro século, muitos manuscritos foram destruídos, restando apenas alguns poucos testemunhos sobre os livros do Novo Testamento. Segundo HALLEY, 2001, o mais antigo é o de Clemente de Roma, na sua carta aos Coríntios (95 d.C.) cita Mateus, Lucas, Romanos, Coríntios, Hebreus, I Timóteo e I Pedro ou se refere a eles. Policarpo, na sua carta aos Filipenses (110 d.C.) faz citações a Filipenses e reproduz frases de nove epístolas de Paulo e I Pedro. Inácio, em suas cartas escritas durante sua viagem de Antioquia a Roma cita Mateus, I Pedro, I João e nove das epístolas de Paulo. Suas cartas também revelam o teor dos outros três evangelhos. Muitos outros escritos existentes foram colocados em dúvida, até a promulgação do “Edito de Tolerância” pelo imperador Constantino. No capítulo 2, percorreremos os caminhos das religiões institucionalizadas desde Constantino, perpassando pelos sacerdotes, inquisição e genocídios até Lutero, Gutenberg e a Bíblia impressa. 39 2 – AS RELIGIÕES INSTITUCIONALIZADAS Quando o ser humano pergunta: Quem sou? De onde venho? Para onde vou? Há sempre uma dúvida que a ciência ainda não pode explicar. Algo que está fora do campo da materialidade e que somente por meio da crença em Deus pode solucionar estas incertezas. Essas são as chamadas questões existenciais, pois dizem respeito a nossa própria existência. Muitas questões existenciais são bastante gerais e surgem em todas as culturas. Embora nem sempre sejam expressas de maneira tão sucinta, elas formam a base de todas as religiões. Não existe nenhuma raça ou tribo de que haja registro que não tenha tido algum tipo de religião (GAARDER, 2000, p. 9). As religiões institucionalizadas sempre estiveram em desavenças entre si, cada qual posicionando-se como a única, verdadeira e correta diante de Deus, ao passo que as demais são meras heresias. Contudo, as religiões tentam encontrar características comuns para se unirem e se fortalecerem, assim como supostamente deveria ser o ecumenismo . Entre as maiores e mais antigas religiões, defrontamo-nos com a religião “mosaica”, a qual se considera Moisés o fundador. As narrativas bíblicas começam por Adão e Eva, Noé e Abraão, o qual saiu da cidade de Ur, na Caldéia, onde atualmente se encontra o sul do Iraque por volta de 1800 a C. rumo à terra prometida. O Hinduismo não apresenta um fundador, nem credo organizado, projeta-se como a “religião eterna” e caracteriza-se pelos vários modos como de pensamento se adapta a muitas formas de expressão religiosa. Suas raízes podem ser encontradas entre 1500 a C. quando os nobres, denominados “arianos” começaram a dominar o vale do Indo. O “Livro dos Vedas” ou do conhecimento consiste em quatro coletâneas, das quais datam do ano 1500 a C. e separam a sociedade em quatro classes básicas, as quais são: os sacerdotes (brâmanes), os guerreiros, os agricultores, comerciantes e artesões e os servos. O Budismo surgiu por volta do século VI e V a C. no norte da Índia por meio de um homem chamado Siddhartha Gautama, o qual disse ter atingido a “iluminação” que liberta do ciclo da morte e reencarnação. Movimento originado da crença de terem uma identidade substancial à doutrina e a mensagem de Cristo. 40 O Islamismo surgiu no Oriente Médio no século VII e se espalhou rapidamente para a África e Ásia. Seus seguidores acreditam que a palavra de Deus ( Alá ) foi entregue a Maomé ou Mohammed, as quais foram escritas no livro denominado Alcorão. O Shahada ou credo de fé mulçumana declara haver um só Deus, o qual é Alá e Maomé seu mensageiro; também crêem no céu, inferno e no juízo final após a morte. O Confucionismo da China trata das condutas de ordem moral e social. Seu fundador, o filósofo Confúcio ou K‟ung Fu-tzu viveu entre 551 a 479 a C. e ensinou a seus discípulos valores morais sobre respeito, cortesia e generosidade. Dentre as muitas religiões existentes, há também todas as denominações derivadas do catolicismo romano, as quais se ramificaram com a reforma protestante em instituições evangélicas tradicionais, pentecostais e neopentecostais e estão atuantes em nosso país. Frente ao crescimento do pentecostalismo no Brasil, o autor se refere a três medidas tomadas pelo catolicismo para solucionar o problema: Dentro do quadro atual, emergem três posições principais no meio católico: 1. Uma atitude crítica face ao pentecostalismo e a própria “ Renovação Carismática Católica” , julgados demasiadamente espiritualistas ou intimistas e pouco sensíveis aos graves problemas sociais da nação. 2. Uma atitude crítica face ao pentecostalismo protestante, mas favorável a “ Renovação Carismática Católica” , considerada inclusive como resposta à expansão pentecostal. 3. A reafirmação da identidade católica e a busca de uma pastoral mais adequada à modernidade e de melhor qualidade. A terceira posição não se interessa diretamente pelo pentecostalismo, senão na medida em que pode contribuir para a compreensão das atuais condições sócio-culturais da religião e para a tomada de consciência de falhas da pastoral católica.( ANTONIAZZI, 1994, p.19). As muitas religiões provenientes das subdivisões do catolicismo romano buscam uma adequação com a verdade bíblica para ganharem espaço e atuarem juntamente como instituições cristãs no país. 2.1 - A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA IGREJA POR CONSTANTINO Os romanos, originários dos italiotas, descendentes dos etruscos, procedentes da Ásia Menor e regiões periféricas habitaram a península itálica e conquistaram muitos territórios por meio de suas habilidades para a guerra. 41 Suas representações religiosas eram definidas pelos indigetes e os novensides, as quais se estabelecem pelo conjunto das divindades protetoras de um país ou uma determinada região e divindades que auxiliavam nas atividades cotidianas. Algumas dessas divindades e suas respectivas funções são: Jano, Vesta e Lares, os quais tinham a incumbência de proteger as portas e as moradias. Pales, de proteger o rebanho; Saturno, Ceres, Consus, Pomona e Ops protegiam a semeadura, o crescimento dos cereais, o fruto e a colheita e tinham o domínio e o poder sobre as forças da natureza. Júpiter era o soberano entre os deuses romanos, venerado e louvado por ajudar as granjas e os vinhedos, portador do poder sobre a chuva, o raio, e era encarregado das conquistas militares (ENCARTA 1 9 9 3 - 2 0 0 1 ) . Havia um sincretismo junto aos deuses gregos, invocados no exercício da mesma função, como Dionísio e Baco, agindo respectivamente como o deus do vinho e dos ébrios. Ao proferir o nome dessas divindades, durante atividades cotidianas, os gregos e os romanos realizavam petições e invocava-lhes proteção. Esta é a representação da religião dos romanos antes de se apropriarem da crença no Deus único, incentivados e favorecidos pelo imperador Constantino. No ano 311 d.C., o imperador Constantino declara ser um discípulo e seguidor dos ensinamentos de Jesus. Acreditou que o Deus dos cristãos havia-lhe proporcionado a vitória na batalha da ponte Mílvia, razão pela qual proclamou o “édito de Milão”, em 313, que concedia liberdade aos seguidores dos ensinamentos de Jesus. Quando, no ano de 311d.C., o imperador Constantino estabeleceu a Igreja Cristã como um poder no Estado, os problemas com que se defrontou foram enormes. Durante os períodos de perseguição não tinha havido necessidade nem, de fato, possibilidade de construir lugares públicos de culto. As Igrejas e salas de reunião que existiam eram pequenas e de aspecto insignificante. Mas, uma vez que a igreja se tornara o poder supremo no reino, todo o seu relacionamento com a arte teria que ser reexaminado. Os lugares de culto não podiam adotar por modelos os antigos templos, já que sua função era inteiramente diferente. O interior do templo era, usualmente, apenas um pequeno sacrário para a estátua de um deus. As procissões e os sacrifícios tinham lugar do lado de fora. A igreja por sua vez, tinha que encontrar espaço para toda a congregação que se reunia para o serviço religioso, quando o padre recitava a missa no altar-mor ou proferia seu sermão. Assim, aconteceu que as igrejas não foram modeladas pelos templos pagãos, mas pelo tipo de vastos salões de reunião que nos templos clássicos eram conhecidos pelo nome de “basílicas”, o que significa aproximadamente “salões reais” (GOMBRICH, 1978, p.94). Os romanos deixaram momentaneamente de servir seus deuses, suas imagens de esculturas representadas por meio dos indigetes e os novensides e vangloriaram-se de estarem 42 participando da nova religião do imperador. Finalizou-se a primeira fase das perseguições, pois ser um seguidor dos ensinamentos de Jesus, neste momento, era pertencer à religião do império e como tal digna de suas honrarias. Figura 3 - Constantino Constantino começa a construir grandes edifícios para abrigar as multidões que compareciam às suas reuniões. Logo estes grandes edifícios, estas enormes basílicas foram denominadas de igreja cristã, que difere dos ensinamentos que Jesus ministrou quanto a sua Igreja, que se encontra no livro de Mateus (16:16-18): E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. A intenção de Jesus não foi de construir outro templo além do existente templo de Salomão, ou de criar uma nova religião, mas sim em restaurar aquilo que a humanidade havia perdido no Éden, a salvação da alma e a vida eterna. A religião é vivida antes de tudo como angústia. Não é inventada, mas essencialmente estruturada pela casta sacerdotal, que institui o papel de intermediário entre seres temíveis 43 e o povo, fundando assim sua hegemonia. Com freqüência o chefe, o monarca ou uma classe privilegiada, de acordo com os elementos de seu poder e para salvaguardar a soberania temporal, se arrogam as funções sacerdotais. Ou então, entre a casta política dominante e a casta sacerdotal se estabelece uma comunidade de interesses (EINSTEIN, 1981, p. 19). A religião acabou aliando-se a interesses econômicos, como se pode notar pelo procedimento de Constantino, que usou uma estratégia econômica para conseguir adeptos, ou seja, deu isenção dos impostos para todos que aderissem a sua nova religião. Houve adesão em massa. Os romanos deixaram momentaneamente de servirem seus deuses, suas imagens de esculturas, para aderirem à religião do imperador, praticando um pseudocristianismo, onde os templos e basílicas são denominados de igrejas cristãs. Simão Barjonas recebe a revelação, vinda do Pai, de que Jesus é o Cristo. Em seguida Jesus disse a Pedro que sobre tal revelação edificaria a sua Igreja, a qual seria seu próprio corpo, composta por membros lavados e remidos em seu sangue e não templos feitos por mãos humanas. A verdadeira Igreja de Cristo é composta por todos os verdadeiros praticantes de seus ensinamentos, os quais podem estar reunidos numa determinada casa, numa cidade ou a totalidade dos discípulos que estão por todas as nações da terra. Segundo Althusser, o exemplo da ideologia religiosa serve como modelo para a ideologia de todas as instituições religiosas, isto é, cabível também para todas as denominações cristãs. Ele utiliza uma figura de retórica para recolher um discurso fictício dos dois Testamentos, através de seus teólogos, sermões, rituais, cerimônias e sacramentos: Dirijo-me a ti indivíduo humano chamado Pedro (todo indivíduo é chamado por seu nome, no sentido passivo, não é nunca ele que se dá um nome) para dizer que Deus existe e que tu deves lhe prestar contas. É Deus quem se dirige a ti pela minha voz (tendo a Escritura recolhido a Palavra de Deus, a Tradição a transmitido, a Infalibilidade Pontifícia a fixado para sempre quanto às questões “delicadas”). Eis quem tu és: Tu és Pedro! Eis a Tua origem, tu foste criado pelo Deus de toda eternidade, embora tenha nascido em 1920 depois de Cristo! Eis o teu lugar no mundo! Eis o que deves fazer! Se o fizeres, observando o “mandamento do amor”, tu serás salvo, tu Pedro, e farás parte do Glorioso Corpo do Cristo! Etc... (ALTHUSSER, 1985, p. 100). Neste pequeno trecho é possível identificar de que modo a instituição entra como aparelho ideológico, pois tendo a Escritura recolhido a Palavra de Deus, a Tradição a transmitiu, a Infalibilidade Pontifícia fixou-a para sempre quanto às questões “delicadas”, já não se pode mais 44 caracterizar o autêntico modelo dos ensinamentos de Jesus e sim um modelo de cristianismo institucionalizado por normas religiosas do Vaticano. Neste caso, a referida instituição já entrou em dissimilitude com os ensinamentos de Jesus e tornou-se uma religião orientada por normas internas do catolicismo romano e seus concílios. Esta é a referida tradição, a qual também criou normas de infalibilidade para seu sumo sacerdote humano, designando-o como único representante de Deus na terra. A religião institucionalizada pelo imperador Constantino, denominada de “igreja católica apostólica romana” segue construindo seus templos pelo império romano, sorrateiramente vão se adaptando aos velhos conceitos mitológicos, somente modificados; os quais usam do aparato dos mártires para simularem seus deuses e fabricarem suas representações e inserem-nas nos templos e as denominam de “santos” as quais dirigem suas preces. Fazem adaptações aos ensinamentos de Jesus para favorecer a instituição religiosa e alegam serem os únicos detentores da verdade imutável de Deus. Vale ressaltar que, em relação à religião romana, como seu início fora à custa do dinheiro, da isenção dos impostos pagos a Roma, seu intento continua neste empenho, angariando poder por meio de riquezas perecíveis, como o ouro e a prata. Aumentaram o seu comércio com a venda de relíquias, velas, rezas, missas, dízimos, e ofertas voluntárias. Seu comércio é o seu alimento que a faz crescer entre as nações. Repristinaram a lei que fora ab-rogada na morte de Jesus, construiram novamente os altares, não mais para o abate de animais, mas, como veículo de persuasão às suas doutrinas e normas estabelecidas por meio de seus concílios. 2.2 – O PAPA E OS SACERDOTES Em equivalência com a ab-rogada lei mosaica, o catolicismo romano criou seu sumo sacerdote (pontífice) e lhe outorgaram autoridade máxima na terra, como um representante direto de Deus para com a humanidade, desprezando aquele que Jesus pediu ao Pai para instruir aos discípulos, o Espírito Santo, o Consolador, como está escrito em João (14:26): “Mas aquele Todos falam, discutem e querem estar com a verdade. Nenhum mortal, porém, é o dono da verdade. Isso porque o problema da verdade radica na finitude do homem, de um lado, e na complexidade e ocultamento do ser da realidade, de outro lado. O ser das coisas e objetos que o homem pretende conhecer oculta-se e manifesta-se sob múltiplas formas. Aquilo que se manifesta, que aparece em dado momento, não é, certamente, a totalidade do objeto, da realidade investigada. O homem pode apoderar-se e conhecer aquele aspecto do objeto que se manifesta, que se impõe, que se desvela e isso ainda de modo humano, isto é, imperfeito, pois não entra em contato direto com o objeto, mas apenas com sua representação e impressões que causa (CERVO, 1996, p.12). 45 Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”. Os romanos atribuíram as palavras “papa” ou “padre” para designarem seus sacerdotes, as quais significam pai, contrariando o que Jesus ensinou aos discípulos, escrito no evangelho de Mateus (23:9): “E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus”. Reverenciam seu sumo-sacerdote como a um deus, prostrando-se de joelhos, beijam-lhe os pés e os anéis de ouro em suas mãos. Lentamente este pseudocristianismo romano foi se adaptando aos velhos conceitos mitológicos, agora um tanto modificado, usando o aparato dos mártires para simularem seus deuses e encheram os templos de imagens de “santos” milagreiros. Ao invés de alfabetizarem as pessoas para lerem as escrituras, contaram histórias bíblicas por meio de imagens, aproveitando a habilidade dos grandes artistas para engendrar suas estratégias de domínio de massa, distorcendo as escrituras e impondo as representações dos seus acordos decididos em concílios. As imagens dos novensides, como Marte e Quirino, deuses quase sempre identificados entre si, reapareceram. Marte cuidava dos jovens nas atividades da guerra e Quirino era o padroeiro dos guerreiros nos tempos de paz. Começaram a adorar e reverenciar diante da imagem do “santo” ou “são” Zeno de Verona, por exemplo, que nasceu no norte da África e faleceu em Verona, no dia 12 de abril de 371, outorgando-lhe poder para proteger crianças. Na liturgia do catolicismo romano, este “santo” é representado segurando um peixe, o qual é invocado por seus adeptos como o protetor das crianças e denominado de “padroeiro” de Verona. A representação feminina também foi incluída, já que na antiga mitologia os romanos veneravam Diana, deusa da lua e da caça, guardiã das correntes e das fontes, protetora dos animais selvagens, com sincretismo à deusa grega Ártemis. No ano 431 d.C., a religião católica romana instituiu o culto à virgem Maria, alegando ser a mãe de Jesus e que continuou virgem até sua morte, ascendendo ao céu, tendo poder para interceder diante de Deus, contrariando o que está escrito no evangelho de Mateus (13:55), que diz ser Jesus o primogênito (primeiro) de Maria e unigênito (único) do Pai, tendo Jesus outros quatro irmãos como diz nas Escrituras: “Não é este 46 o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas?”. Esta representação religiosa não condiz com os ensinamentos encontrados no evangelho, foi acrescentada para suprir o desejo e a necessidade dos romanos em venerar uma deusa. No evangelho de Mateus (28:18) Jesus disse: “É-me dado todo o poder no céu e na terra”, todo o poder está com Jesus e isto significa 100% do poder. E quanto à intercessão de Maria, que alegam poder de intercessão e mediação entre Deus e os humanos, na primeira epístola a Timóteo (2:5) está escrito: “Porque há um só Deus, e um só Mediador (intermediário) entre Deus e os homens, o qual é Jesus Cristo homem”. Biblicamente só Jesus está assentado à direita do Pai (Criador), não há outro nem outra que possa mediar ou interceder entre Deus e a humanidade. Os romanos construíram suas imagens de esculturas em similitude com seus antigos deuses, alegando serem as representações dos mártires, mas outorgavam-lhes as mesmas funções da antiga crença, só que agora sem o pagamento de impostos aos cofres de Roma, e sim, aos cofres do vaticano. Assim esta instituição foi adquirindo poder e riquezas materiais. O catolicismo romano, no ano 503, criou a doutrina do purgatório, um lugar capaz de purificar a alma do pecado e formar novamente o elo com o Pai Criador. Indiretamente se compreende por este lugar que Jesus morreu debalde, contraria o que está escrito em Atos (4:12): “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”. Queimam incenso dentro das basílicas, diante da imagem do “são” Venceslau, conhecido também como Wenceslaus da Bohemia, nascido em Budweiss, hoje República Checa. Seus seguidores o identificam como o “padroeiro” de Praga; sua função na liturgia católica romana é a de proteger os fabricantes de vinho (retorno a Baco ou Dionísio), é mostrado com uma águia e colhendo uvas. Da maneira como foi estabelecida, por meio da isenção dos impostos, esta denominação religiosa continuou o seu desígnio, conquistando poder por meio do ouro e da prata, expandindo seu comércio além das vendas de relíquias, das velas e das missas. O dízimo foi repristinado e incluído como fonte lucrativa para o seu crescimento entre as nações. Voltaram a cobrar aquilo que no Antigo Testamento era destinado à manutenção do templo e dos sacerdotes, na espera do Messias, o libertador. 47 Consta nos ensinamentos de Jesus que este pediu para pagar o dízimo enquanto viveu sob a “lei de Moisés”, mas que após a sua morte, a lei foi ab-rogada, anulada totalmente, como se encontra no livro aos Hebreus (7:18-19): “Porque o precedente mandamento é ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade, pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus”. Portanto, ao chegar o perfeito (Cristo) o transitório (lei) foi anulado. Nenhum testador abre o testamento enquanto vive, mas morrendo, este entra logo em vigor. Assim também foi com Jesus, enquanto estava vivo foi cumpridor da lei, mas, com a sua morte, o véu do templo rasgou-se, iniciando o período da Graça, o Novo Testamento. A partir deste momento, querer cumprir a lei do sábado, do dízimo, da circuncisão é inutilizar a Graça de Deus. Também se encontra em Gálatas (5:4) a seguinte frase: “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído”. Em seus altares não se oferecem animais em holocaustos, mas o tal veículo serve para manipulação humana por meio de fragmentos da verdade de Cristo. Como se todas essas mercadorias não bastassem, acabaram instituindo a venda de “indulgências”, certa carta capaz de remir os pecados, total ou parcial de quem a possuísse. 2.3 – A INQUISIÇÃO Roma avança sem oponentes e impõe a religião criada por Constantino por todo seu império, sua religiosidade institucionalizada supera a coerção e o clero posiciona-se acima do Estado. Seus sacerdotes determinam as normas e regras para a sociedade. Certamente que esta instituição religiosa, que proibiu a leitura da bíblia e queimou em praça pública a todos os que a questionaram em suas decisões tem grande poder material e propriedades espalhadas por todas as nações. Seus integrantes estabeleceram normas terríveis para matar em fogueiras, durante a chamada “Santa Inquisição” todos os seus opositores. Nunca fez uso dos ensinamentos de Jesus senão para dominar e manter sua soberania sobre a população, numa propaganda ideológica institucionalizada e num “estranho amor cristão”. 48 Figura 4 – A inquisição. Seus sacerdotes alegam serem os únicos capazes de empregar a hermenêutica e a exegese para compreenderem os textos bíblicos. O concílio da igreja reunido no ano 1229 inclui a Bíblia no índice dos livros proibidos. Milhares de exemplares da Santa Escritura foram incinerados em todo o mundo pela igreja romana. Ainda hoje, onde o catolicismo romano domina ocorre isto. A destruição da Bíblia incentivada pelo Papa Leão XII, que em sua carta encíclica datada de 3 de maio de 1824 escreveu dizendo: “ Que a certa sociedade chamada bíblica agia com arrogância em todo mundo contrariando os bons e conhecidos decretos do Concílio de Trento” , trabalhando com todo o seu poder e por todos os meios para traduzir, ou melhor, perverter a Santa Escritura na língua própria de cada nação (LEONEL, 1998, p.23). Para o católico romano, a heresia se estabelece no momento em que se demonstra uma relação com Deus estabelecida fora dos parâmetros doutrinários da sua instituição, tudo o que é praticado sem consonância com suas normas e concílios é considerado heresia e se torna ofensa à fé católica. Mas, esta instituição conduziu suas próprias normas e regras e divergindo dos ensinamentos de Jesus e começou a perseguir e matar a todos que considerassem hereges, ou seja, 49 todos que se recusassem a cumprir suas normas e doutrinas como o único caminho entre Deus e a humanidade. O catolicismo romano monopolizou as informações do evangelho, transmitindo somente o conveniente, induzindo seus seguidores a cumprirem partes da lei ab-rogada. Aboliu a circuncisão, o sábado e a permissão de possuir mais de uma esposa, o que na lei era permissível, mas estabeleceu o dízimo, com o objetivo de ampliar suas riquezas e aumentarem suas forças. No entanto, foi com as vítimas da inquisição que alcançou sua maior fonte lucrativa. Localizava o herege e decretava as penalidades para que o Estado, por meio da justiça secular, executasse a lei e o confisco dos bens do condenado, os quais eram repassados para a instituição católica na forma de doação. Nunca molhou diretamente suas mãos em sangue nem usou diretamente da ilegalidade em seus atos. Figura 5 – Métodos de tortura. No período descrito como medieval ou período das trevas, a única luz que poderia estar aparente era a luz das chamas abrasadoras da “Santa Inquisição”. Após o ano de 1148 d.C. quando a inquisição foi instituída, a perseguição aos seguidores dos ensinamentos de Jesus foi intensificada. Com o intuito de fazer calar todos que não concordavam com sua maneira de agir, a instituição católica condenou a morte vinte e cinco milhões de pessoas por todo o mundo, contando com israelitas, maçons e livres pensadores (LEONEL, 1998). 50 As antigas autoridades eclesiásticas desaprovavam a tortura até o momento em que esta foi utilizada contra os hereges. Os padres não podiam praticá-la contra os acusados e mesmo os “adeptos” deviam demonstrar especial piedade. Pouca piedade foi, no entanto, demonstrada na supressão dos Templários. Entre 1307 e 1310, 36.000 Templários morreram em Paris sob tortura. A prática da tortura foi reforçada pela propensão dos juristas medievais de referir-se em medida sempre maior ao direito romano no exercício da justiça. A seguir, tais práticas se afirmaram, principalmente na Alemanha e na Itália, e a tortura era empregada com o objetivo principal de obter confissões de imputados relutantes, de modo que as próprias confissões contivessem “elementos que só o acusado podia conhecer” (GENTILI, 1996, p. 12). Seus sacerdotes, posicionando-se como cristãos e seguidores da piedade, elaboravam normas de torturas terríveis para que os inquisidores se orientarem. Ainda na perseguição daqueles que não seguiam as doutrinas do catolicismo romano e suas imposições o autor pondera: Como já vimos, a perseguição católica no mundo foi terrível, pois ela usava toda a sorte de torturas para fustigar o corpo da vítima. Primeiro o acusado era apresentado ao juiz ordinário da Inquisição; o interrogado já sabia qual seria o seu destino. Teria os seus bens confiscados, seria torturado e, caso não denunciasse os parentes, poderia ser queimado vivo. As torturas a que era submetido eram metódicas, obedeciam às gradações, umas mais cruéis que as outras. O suplício inicial usado em Lisboa, Portugal, era de lambuzar as plantas dos pés do torturado com banha ou manteiga. Depois de ter amarrado o corpo do infeliz a um catre, com os pés assim besuntados; era posto sobre um braseiro e depois dessa tortura o coitado não poderia andar. Resistindo a esse suplício, era amarrado pelos pulsos e pernas numa espécie de cama de ripas. O inquisidor dava um solavanco, cortando assim as carnes, separando-a dos ossos. Se passasse por mais esta tortura, a vítima era suspensa por cordas que passavam por uma roldana presa no teto, de cabeça para baixo. Os carrascos, inesperadamente soltavam as cordas, e o infeliz despencava com todo o peso do corpo, sendo detido no ar quando chegava a alguns centímetros do solo. Querido amigo, isso não parece verdade, mas, é a expressão da verdadeira realidade histórica que nos foi ocultada durante séculos (LEONEL, 1998, p. 42). Técnicas de suplícios extremamente cruéis, como as dilacerações de membros do corpo e mortes por fogueiras marcaram este segundo período de perseguição aos seguidores dos ensinamentos de Jesus. 51 Figura 6 – As fogueiras da inquisição. As pessoas que fossem pegas com algum fragmento manuscrito do evangelho eram torturadas e mortas, alegando ser a única maneira de se preservar os escritos bíblicos das falsas interpretações, mas que na verdade foi um mau recurso para preservar seu monopólio. O autor Gentili (1996, p.26) relata um instrumento denominado de “balcão de estiramento”, usado nas salas de tortura da idade média para desmembramento do corpo. A vítima era colocada distendida, com os pés fixados por dois anéis e os braços amarrados para trás, presos por cordas estiradas com alavancas. Ao começar o estiramento, deslocava o ombro e as articulações da vítima até arrancar parte da coluna vertebral, rompendo os músculos do peito e abdômen. Outro instrumento terrível, denominado “despertador”, usado pelos inquisidores, consistia de uma pirâmide pontiaguda, onde a vítima era colocada sentada sobre a ponta desta pirâmide de forma a penetrar e rasgar o ânus, quando a vítima era do sexo masculino ou a vagina, quando fosse do sexo feminino. Os pés e as mãos eram amarrados por cordas e a pessoa ficava suspensa sobre a pirâmide; não podia relaxar a musculatura, pois quando isto acontecia a ponta penetrava a vítima, rasgando o seu abdômen. Quando a vítima desmaiava, no início da tortura, era reanimada e a operação continuava até a morte. 52 Figura 7 – Métodos de tortura (despertador). Outro instrumento temível pelas mulheres era o “esmaga seio”, semelhante ao alicate, era usado para esmagar os seios das mulheres acusadas de participarem dos “sabbats” ou “cerimônias satânicas” como denominavam. Sabendo-se que a cerimônia da leitura da “Tora”, praticada pelos israelitas, acontece após a primeira estrela da sexta-feira e, certamente os praticantes dessas reuniões eram tidos como bruxos e bruxas, eram eliminados como hereges. Nas penalidades brandas (GENTILI, 1996, p.44) era utilizada a “máscara de Infâmia”, a qual era colocada nas mulheres rebeldes, beberrões e nos blasfemadores. Consistia duma armação de ferro que se vestia na cabeça da vítima. Esta era amarrada por um gancho na porta da “igreja”, na hora da missa, para que os fiéis pudessem praticar ofensas e agressões ao condenado. Em casos mais graves, usava-se empalar ao contrário, e a morte era lenta e terrificante. Atravessava-se uma estaca no ânus do condenado até sair pela boca, sem atingir os órgãos vitais; virava-se o sentenciado de cabeça para baixo, para o sangue acumular no tórax e na cabeça, protelando a morte e prolongando o sofrimento da vítima. Era também usada pelos inquisidores a “roda de despedaçamento”. O réu era amarrado com as costas na parte externa de uma roda de madeira que girava, roçando o corpo do herege em farpas e sobre brasas, bem lentamente, matando o condenado praticamente “assado”. 53 Figura 8 – Métodos de tortura (roda). Outro instrumento terrível era a “mesa de evisceração”, onde o carrasco abria o estômago da vítima com uma lâmina e prendia pequenos ganchos nas vísceras, as quais eram arrancadas por puxões até o sangramento total e a morte por esgotamento sanguíneo. F. Gentili (1996, p.48) também relata sobre a “cadeira” inquisitória, encontrada no Castelo de San Leo, próximo de Rimíni, na Itália. Nesta cadeira o réu assentava-se nu e, ao menor movimento as agulhas penetravam no corpo causando terríveis sofrimentos. Este castelo, onde foi encontrada tal cadeira era um cárcere particular, sobre os cuidados diretos do papa. Por estas formas de confissões, por meio das torturas e mortes, a religião católica alcançou poder e adquiriu riquezas sem opositores. Na cidade do vaticano, está localizada a “Basílica de São Pedro e a Praça de São Pedro”, flanqueada pela famosa colunata de Bernini, expressando sua magnitude terrena. Em sua retaguarda, estende-se o passeio “João XXIII”, que conduz ao centro da cidade de Roma. À esquerda da Praça de São Pedro, está o “palácio papal”, que compreende a residência do “santo pontífice” e outros prédios administrativos; os museus do vaticano, onde se encontram a célebre 54 biblioteca, a pinacoteca com uma magnífica coleção de pintura italiana, e a famosa capela sistina com a pintura de Michelangelo. À esquerda deste conjunto encontram-se os jardins do Vaticano; tudo com muito luxo e ostentação, diferente da vida simples de Jesus, que disse não ter onde reclinar a cabeça. Figura 9 – Basílica de São Pedro. Figura 10 – Visão da cúpula. Ao contrário da “Santa Inquisição”, Jesus nunca pediu para matar alguém, pelo contrário, ressuscitou Lázaro, a filha de Jairo, o filho da viúva; em momento algum pede para eliminar alguém em nome de Deus. Mesmo quando Tiago e João querem que desça fogo do céu e consuma os samaritanos que não os receberam, como está escrito no Evangelho de Lucas (9:56), Ele disse: “Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las”. 55 Em relação à situação do herege, é válido ressaltar que este, frente à inquisição, mesmo estando morto, seria, pela determinação dos inquisidores, denominado de anátema (amaldiçoado) e sua descendência, inapta aos cargos públicos, sendo possível também a transferência dos castigos e as penitências deste para os seus herdeiros. O que os fatos querem dizer é que a religião católica apostólica romana nunca molhou suas mãos em sangue diretamente, mas foi a causadora do maior genocídio que já existiu. No decurso histórico, incumbiu-se de destruir as provas e omitir os acontecimentos reais de seus atos, destruindo ou modificando todos os documentos encontrados. 2.4 – A IGREJA E OS GENOCÍDIOS Os atos de violência dos campos de Kulmhof (Chelmno), Belzec, Sobibor, Treblinka, Lublin (Maydanek) e Auschwitz devem ser lembrados constantemente, para que as novas gerações possam saber a qualidade das instituições que já existiram e a que tipo de domínio a humanidade já se submeteu. Se o holocausto, que aniquilou entre israelitas, eslavos, ciganos, homossexuais, testemunhas de Jeová, comunistas, e outros, totalizando mais de cinco milhões de pessoas, deve ser sempre lembrado, porque não se lembrar constantemente e com maior intensidade da “inquisição”, a qual exterminou vinte e cinco milhões de pessoas em todo o mundo? Segundo P. Godman (2007), em seu livro intitulado O Vaticano e Hitler: a condenação secreta, ele relata que o “papa” abençoou o político ditador Adolf Hitler antes de praticar o seu intento. É por esse tipo de política sem escrúpulos que esta instituição religiosa adquiriu poder entre as nações, comandando chefes de Estado e influenciando a direção dos negócios públicos com suas estratégias funestas. Leonel (1998, p.67) refere-se ao prefácio do livro O papa e o concílio do tribuno Rui Barbosa (O País, Rio 29/08/25) que critica o romanismo como uma religião de fábulas senis: O romanismo não é uma religião, mas sim uma política, a mais viciosa, a mais sem escrúpulo e a mais funesta de todas as políticas. O romanismo tornou-se um elemento deletério, cuja fermentação decompõe a sociedade. Olhai a América, estudai o Brasil, por toda parte só há fanatismo, beataria e farisaísmo religioso. Uma religião de fábulas senis. 56 A afirmação de Rui Barbosa em relação ao catolicismo romano pode ser entendida como sendo esta uma instituição política-religiosa que interfere nos assuntos concernentes ao Estado brasileiro, deixando de dedicar-se exclusivamente aos assuntos espirituais da nação. Como se todo o ouro e toda riqueza acumulada durante os séculos não bastasse, esta referida instituição ainda comercializa bebidas alcoólicas entre os seus fiéis, nas quermesses e festas realizadas em seus templos, nos dias festivos de seus “santos milagreiros”. Em sua sede, encravada na cidade de Roma, considerado o menor Estado independente do mundo, onde conseguiu a separação financeira do país, sendo considerado estado independente por sua riqueza, prestígio e domínio entre as nações, tudo é feito de forma inquestionável por seus adeptos. O medo de ser considerado herege ou de ser excomungado permanece até os dias atuais. Isto faz com que seus fiéis se afastem do conhecimento do evangelho e do questionamento de seus atos, considerando a hermenêutica e a exegese de exclusividade do papa, bispos e padres até os dias atuais. Os documentos que se referem ao período da inquisição existentes na atualidade, são questionados e transformados pelos seus doutores e mestres, teólogos e filósofos, integrantes deste sistema de poder clerical, com o objetivo de preservar sua enganosa integridade. Suas torres e cúpulas estão por toda parte, ocupam os lugares mais altos e nobres em cada cidade do nosso país. Todo seu tesouro, incluindo suas terras, está isento de impostos aos cofres da nação. Parece que os tesouros acumulados ao longo dos anos não são suficientes para suprir seus luxos, necessita ainda angariar do governo brasileiro a isenção dos impostos. Talvez seja esta uma força acima da coerção, o cheiro da fumaça de outros tempos, época em que usava o Estado para cometer as suas atrocidades. “Se assim é, então aqui é o pecado institucional que ganha a cena e a ocupa durante séculos. Seu espírito vaga assustador até os dias de hoje” (EYMERICH, 1993, p.27). Jesus não padeceu morte de cruz para ser comercializado pelas instituições religiosas ou veio somente para a instituição católica romana ter privilégios. Sofrimento e desprezo marcaram sua crucificação, mas vencendo a morte, ressuscitou, trazendo nova mensagem aos discípulos, como está escrito no evangelho de Marcos (16:15): “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura, quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado”. A referida condenação não é praticada na carne, por homens e sim na alma e no espírito pelo distanciamento 57 do Criador, aos que recusarem seu Filho como Senhor e Salvador, o qual veio e padeceu morte de cruz pela humanidade. A comunicação de Jesus foi interpessoal, com abrangência “por todo o mundo”, gerando novos grupos de discípulos que, organizados e instruídos nos assuntos concernentes ao reino dos céus, ensinaram, não somente a nação israelita, mas, com validade para todas as nações da terra. 2.5 – LUTERO E AS RELIGIÕES PROTESTANTES Não se pode determinar o preço da alma humana. Os pergaminhos da indulgência, adornados com ouro e prata foram parte do protesto levantado por Lutero. Este ensinava a população que o perdão dos pecados não pode ser comprado com dinheiro e que Jesus pagou um alto preço (morte de cruz) para remir gratuitamente os pecados de quem se arrepende e o aceita como o Cristo de Deus. Certamente Lutero chegou a esta conclusão após ter lido a carta aos Efésios (2:7-9), onde se lê: Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie. No dia 10 de novembro de 1483, em Eisleben, cidadezinha da Turíngia, no antigo condado de Mansfeld nasceu Lutero, o reformador da Alemanha (SAUSSURE, 2004, p.9). No verão de 1501, Martinho Lutero iniciou seus estudos na Universidade de Erfurt, onde também lecionou. A partir de 1505, ingressou no convento dos agostinianos eremitas, na condição de noviço, continuou seus estudos e uma maior familiarização com a bíblia. Por esta ordem tornou se professor de teologia, lecionando e participando de assuntos concernentes ao clero romano até o surgimento de um debate sobre as indulgências. Lutero afirmou que a justiça de Deus agracia o pecador na fé, sem o mérito pessoal. Deus não castiga, mas é misericordioso e concede sua justiça para os que crêem. Contrariando os ensinamentos de Jesus, os adeptos às indulgências particularizavam o dinheiro em relação à Graça. O dominicano Johannes Tetzel, subcomissário para a venda de indulgências na província eclesiástica da Saxônia e que privilegiava o dinheiro em relação à penitência, defendeu, em janeiro de 1518 em debate acadêmico realizado em Frankfurt/Oder, uma afirmação peculiar: “Quando o dinheiro retine na caixinha, a alma salta do purgatório para o céu”. Ele e o capítulo de sua ordem denunciaram Lutero, em Roma, como suspeito de heresia (DREHER, 1996, p.28). 58 Lutero, após estudar o Novo Testamento e estar convicto de que a salvação não se adquire pelos próprios esforços e méritos, mas sim pelo dom da graça de Deus, recebido pela fé, entra em desacordo com o catolicismo romano, sendo excluído da instituição e também perseguido como herege. A massa religiosa dividiu-se pelo uso da hermenêutica, propiciada pelos textos bíblicos oferecidos pela impressa tipografia. Inicia-se, dessa forma, um novo período religioso. Aquece a comunicação escrita e a linguagem coloquial prevalece sobre o erudito. É o período da reprodução dos livros. Acontece uma nova chance para a propagação do evangelho a todas as nações da terra. Entretanto, os religiosos reformadores, seguindo os moldes da instituição romana, dividiram-se em várias outras instituições protestantes. Surgem os seguidores de Martinho Lutero (1483-1546), de João Calvino (1509-1564), de John Wesley (1703-1791) e outros, que tentaram se livrar das antigas amarras da ideologia institucional católica, mas não o conseguiram. Acabaram também aderindo às normas da ab-rogada lei, nas construções de templos, na cobrança do dízimo, no batismo de criança etc. Foi apenas uma reforma, nada de novo aconteceu para facilitar os ensinamentos de Jesus. Permaneceu a religião, atuando por meio do relacionamento institucional, cada qual com suas próprias normas e doutrinas. O protesto de Lutero enfocou basicamente a venda das cartas de indulgências e o uso de imagens de veneração. O modelo protestante eliminou a iconografia, mas consentiu nas construções de templos, e no pagamento do dízimo que fora abolido com a lei. As congregações dos reformadores se expandiram por vários países, valendo-se de teólogos: o suíço Ulrich Zwingli (1484-1531), o francês João Calvino (1509-1564), o alemão Philipp Jakob Spener (1635-1705), o alemão Friedrich Schleiermacher (1769-1834), o suíço Karl Barth (1886-1968), até o surgimento do ecumenismo (conselho mundial das “igrejas”). Com as várias denominações existentes, cada qual se posicionando como a verdadeira igreja de Cristo, alicerçados do movimento ecumênico, acontece a célebre pergunta: “de qual igreja você é?” Esta pergunta segrega, separa os membros do Corpo de Cristo e causa dissensão entre grupos. De qual Igreja é o discípulo de Jesus se só existe uma? Esta pergunta induz à acepção, rivalidade, emulação, impedimento, discórdia e muito mais. Ao invés de gerar um sentimento de afeto e irmandade em Cristo, as denominações 59 religiosas, se autodenominando “igrejas” dividem e causam uma espécie de competição, impedindo o Espírito Santo de agir e ensinar. Estas instituições, erroneamente denominadas de igrejas, tornam-se instrumentos ideológicos do Estado, as quais ajudam a manter a ordem social por meio de uma falsa paz. Segundo Althusser, o Estado é uma “máquina” de repressão que permite às classes dominantes, à burguesia e aos latifundiários assegurar a sua dominação sobre a classe operária, para submetê-la ao processo de extorsão da mais-valia na exploração capitalista. A igreja é parte integrante dessa máquina de repressão orquestrada pelo Estado. O autor afirma que a ideologia religiosa assegura, diariamente, na consciência dos indivíduos e no seu comportamento para que se sujeitem a Deus e ocupem, sem questionamento, seus postos na divisão social-técnica do trabalho, o que lhes é designado na produção, na exploração, na repressão, na ideologização, ou seja, a ideologia religiosa faz com que o indivíduo seja mais atuante nas relações de produção e no que delas derivam. Contudo, os ensinamentos deixados por Jesus, em momento algum se caracterizam por normas institucionais religiosas, Ele não se inseriu nem pediu para alguém se inserir em alguma denominação religiosa de seu tempo. O evangelho é o próprio Cristo, que conduz o ser humano ao Criador, por meio da Palavra. A doutrina dos ensinamentos de Jesus não se caracteriza em uma religião, mas uma ligação; facilmente se compreende, pela hermenêutica, que o evangelho é o único caminho entre o humano, a remissão dos pecados e o acesso a Deus para a vida eterna e não as instituições religiosas e suas doutrinas. A necessidade de se filiar a uma instituição religiosa para ser um seguidor dos ensinamentos de Jesus é uma herança cultural tradicional, iniciada com a institucionalização do cristianismo pelo imperador Constantino e continuada após a reforma protestante. Não consta nas Escrituras que, nos primórdios, os discípulos de Jesus perguntavam para alguém: “de qual igreja você é? Em todos estava a consciência de que há uma única Igreja, sem placa denominacional e destituída de templo feito por mãos humanas, a qual é o “Corpo de Cristo” na terra, como está escrito na carta aos Colossenses (1:24): “Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja”. Esta Igreja não faz acepção de pessoas, não olha para a aparência física, não pede dinheiro aos fiéis, pois todos que Nela estão inseridos certamente foram lavados e remidos no sangue de Cristo. 60 O único requisito necessário para o ingresso como membro do Corpo de Cristo é o arrependimento dos pecados, mas a religião faz uso da verdade bíblica para enganar e lograr todos os que não a conhecem. O que é falso assemelha-se, quase que imperceptivelmente com o verdadeiro, sendo necessário acautelar-se, neste caso, para aprender sobre Deus e ser direcionado somente pela revelação da Sua Palavra. Surpreendente se considerarmos que a ideologia religiosa se dirige aos indivíduos para “transformá-los em sujeitos” interpelando o indivíduo Pedro para fazer dele um sujeito, livre para obedecer ou desobedecer a este apelo, ou seja, às ordens de Deus; se ela os chama por seu nome, reconhecendo desta forma que eles são chamados sempre/ já enquanto sujeitos possuidores de uma identidade pessoal (a ponto de o Cristo de Pascal dizer: “É por ti que derramei esta gota de meu sangue” (ALTHUSSER, 1985, p. 100). Dessa maneira, faz se necessário não deixar levar-se por doutrinas denominacionais religiosas e suas ideologias , as quais conduzem para o enriquecimento das instituições e dos sacerdotes. 2.6 - GUTENBERG E A BÍBLIA IMPRESSA A brutal realidade da inquisição que operou por toda Idade Média só se modificou com os meios técnicos de impressão, ou seja, com a prensa tipográfica de Gutenberg, quando houve um prenúncio de libertação para os ensinamentos de Jesus. Com o advento da imprensa, o evangelho espalha-se rapidamente para fora dos muros do clero, iniciando o grande desígnio. Quanto ao papel, combinado com a então recente descoberta do tipo móvel, por Johannes Gutenberg (1394-1468), por volta do ano 1440, possibilitaria conquistas jamais até então imaginadas: golpe mortal no monopólio da Igreja Católica quanto aos textos bíblicos, o tipo móvel permitiria a Martinho Lutero traduzir a Bíblia para o alemão e publicá-la, desencadeando o processo do protestantismo contra o Papa, em Roma. Diversos outros movimentos protestantes, na Inglaterra de Henrique VIII, na Suíça de Calvino, e assim por diante, ocorreriam a partir de então, obrigando a Igreja Católica a uma forte reação, consubstanciada nas decisões do Concílio de Trento (1545-1563), quando se fundou a ordem dos jesuítas, ou soldados de Cristo, dispostos a restaurar o domínio católico sobre o universo (HOHLFELDT, 2003, p.86). Conjunto articulado de idéias, valores, opiniões, crenças, etc., que expressam e reforçam as relações que conferem unidade a determinado grupo social (classe, partido político, seita religiosa, etc.) seja qual for o grau de consciência que disso tenham seus portadores. 61 Johannes Gutenberg, considerado o criador do processo de impressão com tipos móveis, pertenceu a uma família próspera, o pai e o tio trabalhavam na Casa da Moeda, aprendeu a arte da precisão nos trabalhos em metal e, no ano de 1428, partiu para Estrasburgo, onde fez as primeiras tentativas de imprimir com caracteres móveis. Figura 11- Prensa de Gutenberg. No início da década de 1450, Gutenberg iniciou a impressão da célebre Bíblia, de 42 linhas, em duas colunas. Cada letra era feita à mão, e cada página era montada juntando-se as letras. Depois de prensada e seca, era feita a impressão no verso da página. A Bíblia tem 641 páginas, e foram produzidas cerca de 300 cópias, das quais ainda existem aproximadamente 40 cópias (GUTENBERG, 2011). 62 Figura 12 – Página da Bíblia de Gutenberg. Com a reprodução tipográfica os ensinamentos de Jesus tiveram um prenúncio de liberdade, mas ainda permaneceram sob o domínio das instituições religiosas, tendo sua interpretação oferecida a preço de dízimos e ofertas entre católicos e protestantes até os dias atuais. Nosso próximo capítulo – Capítulo 3 - tratará da educação no Brasil, com foco no ensino religioso e na palavra áudio-visual, como constatará o leitor. 63 3 – A EDUCAÇÃO BRASILEIRA: O ENSINO RELIGIOSO E A PALAVRA ÁUDIO-VISUAL Segundo Arroyo, as universidades surgiram entre os árabes e depois na Europa. A cultura árabe atinge grande altura nos séculos X, XI e XII. Primeiro em Bagdá, Bácora e no Cairo; depois em Córdoba, Toledo e Sevilha. Suas instituições de ensino superior não só cultivam as artes liberais; são centros de investigação científica e de alta docência; com a Física, a Medicina, a Matemática, alternam a Filosofia e a Teologia; centros que aspiram à universalidade do saber, de um saber, por certo, muito mais avançado, nessa época, do que o do Ocidente (ARROYO, 1970, p.333). O autor ainda menciona o surgimento das universidades europeias, e agrega: Várias circunstâncias determinaram o nascimento e desenvolvimento das universidades européias no século XIII; o desenvolvimento interno das escolas monásticas e catedralícias, o vigoroso influxo da ciência e teologia árabes, a organização gremial da sociedade (ARROYO, 1970, p.333). No período em que se caracterizou a educação patrística (ciência que tem por objeto de estudo a doutrina católica) foi que ocorreram os maiores atos de violência contra a humanidade. À noite de mil anos da Idade Média ficou caracterizada pelo medo e pavor da inquisição. Seus métodos brutais de tortura sentenciavam todos os opositores por toda a Europa. Tudo que não estivesse em conformidade com a instituição católico-romana era digno de heresia e quem a praticasse era sentenciado aos suplícios e à condenação em fogueiras. Todos os que se posicionassem como seguidores dos ensinamentos de Jesus e não estivessem filiados ao catolicismo romano eram perseguidos como hereges, julgados por normas estabelecidas no manual dos inquisidores. Segundo Eymerick (1993, p.18), “Em vários lugares do Manual os autores concedem que são mais rigorosos que qualquer outro tribunal humano. Mas justificam: tratam dos crimes mais hediondos e terríveis, aqueles que ameaçam a salvação eterna que são as heresias”. Os sacerdotes católicos que chegaram na colonização do Brasil, enviados para a catequese da contra-reforma em terras do novo mundo seguiam o Ratio Studiorium, manual contendo os planos e métodos jesuíticos de ensino católico. Este modelo pedagógico ficou arraigado na educação brasileira e sempre esteve se moldando e se adaptando conforme a o governo e a constituição do país, sempre no intuito de preservar a soberania da instituição religiosa frente à política nacional. 64 Diferente do modelo religioso institucionalizado, Jesus não demonstrou o interesse em formar outra religião dentre as já existentes no seu tempo, nem tampouco angariar lucros financeiros por meio de seus ensinamentos, mas oferecer gratuitamente a salvação por meio de seu sangue, pela Graça, por meio da fé. As castas sacerdotais, desde os tempos mais remotos, usufruem prestígio e poder junto ao povo, usam de lisonjas e mansidão nas palavras como técnica para imporem suas doutrinas. Além disso, associa-se à classe política dominante, conforme postula Einstein (1981, p.19). A religião é vivida antes de tudo como angústia. Não é inventada, mas essencialmente estruturada pela casta sacerdotal, que institui o papel de intermediário entre seres temíveis e o povo, fundando assim sua hegemonia. Com freqüência o chefe, o monarca ou uma classe privilegiada, de acordo com os elementos de seu poder e para salvaguardar a soberania temporal, se arrogam as funções sacerdotais. Ou então, entre a casta política dominante e a casta sacerdotal se estabelece uma comunidade de interesses. Resquícios da pedagogia jesuítica ainda são encontrados mesmo dentro do Estado Laico brasileiro, quando se impõem as festas religiosas nas escolas públicas, fazendo apologias aos “santos” católicos no mês de junho ou decretando feriados nos dias de seus padroeiros a toda nação brasileira. 3.1 – VISÃO HISTÓRICA: O PAPEL DO CATOLICISMO ROMANO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA Segundo o autor Dermeval Saviani, doutor em filosofia da educação, formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em seu livro História das ideias pedagógicas no Brasil, diz que a colonização do Brasil contou com a presença de várias ordens religiosas do catolicismo romano. Com a chegada da caravela de Pedro Álvares Cabral ao Brasil chegou também o primeiro grupo de religiosos da ordem dos franciscanos, os quais, juntamente com o frei Henrique de Coimbra celebraram a primeira missa em terras brasileiras, no dia 26 de abril de 1500. Após a Reforma protestante ter se instaurado na Europa, o Vaticano contra ataca e envia ao Brasil, na chamada Contra-reforma, os catequistas da “Companhia de Jesus” ou “Jesuítas” como também foram denominados. Vieram com os objetivos de ampliarem seus territórios e implantarem seus métodos e normas religiosas nas terras do novo mundo. 65 Usaram o sistema de ensino, instaurando a pedagogia jesuítica, que é usada até hoje na educação brasileira. Em análise do modelo de ensino no Brasil, principalmente para o nível universitário qual se identifica que alguns modelos europeus, tais como o jesuítico, o francês e o alemão predominaram e ainda se fazem presentes nas universidades brasileiras até hoje (PIMENTA, 2005, p.144). O método de ensino jesuítico da contra-reforma é uma compilação da educação patrística e da monástica (referente aos métodos de ensino dos mosteiros), mas especialmente a escolástica (Doutrinas teológico-filosóficas dominantes na Idade Média, entre os séculos IX ao XVII, caracterizadas, sobretudo pelo problema da relação entre a fé e a razão, problema que se resolve pela dependência do pensamento filosófico, representado pela filosofia greco-romana, da teologia cristã). Em seu percurso histórico, o catolicismo romano sempre se adaptou ao governo vigente do país com o objetivo de preservar sua soberania, mesmo nos momentos críticos em que é questionado. Após o descobrimento chegaram diferentes grupos de franciscanos, beneditinos, carmelitas, capuchinos, os quais vieram para o Brasil para atuaram no ensino e na transmissão da fé católica, mas, nenhum grupo foi tão bem estruturado e organizado como a “Companhia de Jesus” ou jesuítas como ficaram denominados. Esta ordem religiosa, fundada por Inácio de Loyola em 1534 e aprovada pelo papa Paulo III em 1540 chegou ao Brasil para difundir os ensinamentos da fé católica por meio do ensino e pregações (ENCARTA, 1993-2001). Os jesuítas chegaram com o apoio da Coroa portuguesa e com liberdade total para divulgarem a religiosidade e fé católica por meio de seus métodos da contra-reforma, já que neste período histórico a divulgação da bíblia impressa e o avanço da reforma protestante propagavamse por toda a Europa. A ordem religiosa dos Jesuítas buscou implantar em seu plano de instrução um ponto de apoio para a propagação de seu método para todas as regiões do Brasil, estabelecendo seus ensinamentos religiosos a todos, inclusive para o sexo feminino. A principal estratégia utilizada para a organização do ensino, tendo em vista o objetivo de atrair os “gentios”, foi agir sobre as crianças. Para isso se mandou vir de Lisboa meninos órfãos, para os quais foi fundado o Colégio dos Meninos de Jesus de São 66 Vicente. Pretendia-se, pela mediação dos meninos brancos, atrair os meninos índios e, por meio deles, agir sobre seus pais, em especial os caciques, convertendo toda a tribo para a fé católica (SAVIANI, 2010, p.43). Impressionante é saber que semelhantes formas de atuação do modelo jesuíticas ainda ocorrem em nosso país, mesmo diante da laicidade do governo brasileiro. Sendo contrário às regalias concedidas ao vaticano para atuarem no Brasil e nos domínios portugueses, Sebastião Jose de Carvalho e Melo (Marques de Pombal), agindo por meio das idéias iluministas, no ano de 1759 contribuiu na abolição da escravatura e reorganizou o sistema educacional dos domínios portugueses, expulsando os jesuítas, inclusive do território brasileiro. Quando isto aconteceu já existiam vários colégios seguindo os ideais católicos da contrareforma, implantados no país pelos jesuítas. A educação brasileira sempre esteve à mercê deste modelo e práticas religiosas, as quais se transformaram e se moldaram de acordo com o momento social e político brasileiro até os dias atuais atuando por meio da “pastoral da educação”. Nos dias atuais, o modelo extraído dos estudos da CNBB (Conselho Nacional dos Bispos do Brasil) dispõe sobre o perfil dos que ensinam a fé católica no país: O desenvolvimento da sensibilidade pastoral faz parte integrante da formação do evangelizador. A missão do evangelizador é pastoral num duplo sentido: porque é um serviço de igreja para a educação da fé, e porque contribui, graças ao relacionamento com as famílias, para a evangelização do meio familiar. Não basta, portanto, ao evangelizador a competência pedagógica, o senso da educação, o amor aos irmãos, ele deve também ter a preocupação missionária e participar de todo o esforço de evangelização da igreja local. Tal preocupação missionária requer disposições espirituais de disponibilidade e despojamento de mentalidades herdadas do meio de origem. (CNBB, 1976, p.263). Da maneira como os jesuítas agiam, empenhando-se na conversão dos caciques para catequizar toda a tribo, agora se ocupa dos chefes de Estado, contraindo acordos para facilitar sua atuação junto à nação. As abrangências das regras do Ratio Studiorum estão distribuídas entre 467 normas elaboradas para o ensino (SAVIANI, 2010, p.53), dentre as quais se encontram as regras do provincial, as regras do prefeito de estudos inferiores e as regras de professores das classes inferiores. Método pedagógico dos jesuítas. 67 Estas regras foram usadas em 1552 e continuam sendo adaptadas para serem usadas mesmo diante do Estado laico brasileiro e usadas, principalmente, nas séries iniciais da educação pública brasileira. Se no passado, a nomenclatura era outra, a prática permanece semelhante, modificada apenas para driblar o Estado brasileiro e sua legislação. Estão estabelecidas como festas culturais no Brasil as comemorações dos santos e entidades católicas, decretando feriado nacional para festejar em solenidade, segundo o catolicismo romano, a padroeira do Brasil. Atualmente o ensino fundamental está lentamente se desvinculando do Estado e novamente se submetendo aos prefeitos e seus municípios, como o Ratio Studiorum previa para a figura do prefeito, sendo assistente do reitor para auxiliá-lo na boa ordenação dos estudos. Isto é, em muitos estados brasileiros está sendo implantado o sistema de municipalização do ensino fundamental, retirando-se a obrigação do Governo Estadual e outorgando aos Municípios tal encargo. 3.2 – O EVANGELHO NA MÍDIA: IDEOLOGIA E USURPAÇÃO E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derribou as mesas; e disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda. (JOÃO 2:15-16) A intenção primária desta dissertação é evidenciar que o computador, por meio de um site na internet, é um veículo facilitador para a aprendizagem dos ensinamentos de Jesus por possibilitar a interação global entre perguntas e respostas dos estudantes. O internauta que desejar aprender os ensinamentos de Jesus sem a verborragia que ocorre nas denominações religiosas, basta acessar um site específico para esta finalidade, adquirir o aprendizado interagindo entre perguntas e respostas, sem a necessidade do pagamento de dízimo ou ofertas. Sobre a interação social, o autor Jean Piaget escreveu que: “A inteligência humana somente se desenvolve no indivíduo em função de interações sociais que são, em geral, demasiadamente negligenciadas” (apud LATAILLE, 1992, p. 11). 68 A educação do século XXI caminha para o reconhecimento do cidadão pleno, ou seja, saudável de corpo e alma, capaz de reconhecer os seus direitos e deveres perante a sociedade e usufruir a liberdade advinda por meio do conhecimento e do saber. Esta liberdade ainda permanece restrita, pois enquanto existir barreiras para o conhecimento haverá uma falsa aparência de liberdade oferecida pelos opressores. Quem, melhor que os oprimidos, se encontrará preparado para entender o significado terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá, melhor que eles, os efeitos da opressão? Quem, mais que eles, para ir compreendendo a necessidade da libertação? Libertação a que não chegarão pelo acaso, mas pela práxis de sua busca; pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela. Luta que, pela finalidade que lhe derem os oprimidos, será um ato de amor, com o qual se oporão ao desamor contido na violência dos opressores, até mesmo quando esta se revista da falsa generosidade referida (FREIRE, 1975, p.32). Para tanto, faz se necessário um olhar crítico para compreender a quem interessa que os ensinamentos de Jesus permaneçam velados. Necessitamos de métodos educacionais e de pedagogias que libertem das amarras da religiosidade institucionalizada, que sejam produtoras de consciências voltadas para o amor verdadeiro. Imbernón (2000, p.141) enfatiza que há a necessidade de uma reforma que perpasse o pólo social: Minha discussão sobre a questão da reforma vai por caminhos diferentes dos anteriores. Nela adoto a posição segundo a qual a reforma (e a escolarização) é um problema de administração social e que essa administração pretende construir (e reconstruir) a alma do indivíduo. Na modernidade, o problema liberal da administração social é “fazer” o indivíduo em prol da liberdade, com um significado do termo liberdade construída através de conceitos, tais como os de automotivação, autorrealização, capacitação pessoal e voz. Em tempos atuais, onde os pais trabalham fora e pouco tempo sobra para ensinar os filhos, facilitar os ensinamentos de Jesus aos jovens, desvinculado de instituições religiosas e suas ideologias contribui para a liberdade e o exercício de cidadania. Observando a Proposta Curricular do Estado de São Paulo, em “São Paulo faz escola”, que se posiciona num contexto repleto de significados, isenta de discriminação e em construção, mas o tema que define a religiosidade cristã no país ainda não se fez presente. O que se apresenta em aulas de religião é somente a apologia a determinadas instituições, que dividem e são causadoras de intrigas e dissensões entre os alunos. 69 Os meios de massa mostram, por outras alegorias, o mesmo problema e acentuam os fenômenos de um retorno à religiosidade. Nesse sentido, enquanto dão a impressão de agir como termômetro que registra um aumento de temperatura, constituem, na verdade, parte do combustível da qual a caldeira se alimenta (ECO, 1984, p.112). Ou seja, quando existe uma efervescência na aprendizagem dos ensinamentos de Jesus, alguma instituição religiosa está se beneficiando. Existem acordos e leis que asseguram o ensino religioso nas escolas, mas ainda não há uma proposta curricular que divulgue os ensinamentos de Jesus fora do contexto religioso denominacional. Isto deixa transparecer que tais conhecimentos estão limitados as instituições religiosas e não liberados para serem transmitidos fora deste contexto. Estaria este poder religioso, frente ao “Estado Laico brasileiro”, ainda acima do poder do Estado? Será que a reação religiosa contra o Estado laico no Brasil prevaleceu? Desde as ideias pedagógicas republicanas, as quais idealizavam a educação para transformação de indivíduos ignorantes em cidadãos esclarecidos, que a religião católica tem usado suas estratégias pedagógicas para manter sua hegemonia no país. Considerando a educação uma área estratégica, os católicos esmeraram-se em organizar esse campo criando, a partir de 1928, nas diversas unidades da federação, Associações de Professores Católicos (APCs) que vieram a ser aglutinadas na Confederação Católica Brasileira de Educação. Com essa força organizativa, os católicos constituíram-se no principal núcleo de idéias pedagógicas a resistir ao avanço das idéias novas, disputando, palmo a palmo com os renovadores, herdeiros das idéias liberais laicas, a hegemonia do campo educacional no Brasil a partir dos anos de 1930 (SAVIANI, 2010, p. 181). Os ensinamentos de Jesus não se caracterizam por dissimilitude com as religiões cristãs no Brasil e, sim, constituem o modelo pelo qual as denominações cristãs elaboraram seus dogmas, estatutos e normas. O que transparece é que, divulgar os ensinamentos de Jesus fora do contexto religioso, desqualifica a religião institucionalizada no país, que usa os recursos do Estado e usufrui a isenção de impostos, pelo poder ainda latente, conquistado por meio das torturas da Idade Média. Refletir sobre as teorias educacionais brasileiras não é nada fácil, quando se está inserido nelas. Faz-se necessário despir-se da religiosidade e de alguns pré-conceitos para visualizar melhor seus métodos e suas consequências. Em nosso país, a incidência do modelo pedagógico jesuítico deixa algumas interrogações sobre as intenções de sua pedagogia; será que a instituição católica romana tem a intenção de 70 libertar por meio do conhecimento ou sua intenção é a de manter a soberania institucional religiosa, para que a população permaneça na submissão às suas normas e seus estatutos? A educação brasileira vivencia seus melhores momentos para a prática da liberdade, em todos os níveis, da pré-escola ao ensino superior, comparado aos períodos históricos anteriores. Com o advento da internet e a era da informação, na qual todos os tipos de assunto estão disponíveis por meio dos sites de busca, esconder o conhecimento dos ensinamentos de Jesus está ficando cada vez mais difícil. A educação para a liberdade está surgindo no espaço virtual da internet, nas salas de bate-papo, por meio do Msn, Orkut, e-mail e outros tantos aplicativos que favorecem a interação entre perguntas e respostas. Essas tecnologias intelectuais favorecem: -novas formas de acesso à informação: navegação por hiperdocumentos, caça à informação através de mecanismos de pesquisa, knowbots ou agentes de software, exploração contextual através de mapas dinâmicos de dados, - novos estilos de raciocínio e de conhecimento, tais como a simulação, verdadeira industrialização da experiência do pensamento, que não advém nem da dedução lógica nem da indução a partir da experiência. Como essas tecnologias intelectuais, sobretudo as memórias dinâmicas, são objetivadas em documentos digitais ou programas disponíveis na rede (ou facilmente reproduzíveis e transferíveis), podem ser compartilhadas entre numerosos indivíduos, e aumentam, portanto, o potencial de inteligência coletiva dos grupos humanos (LÉVY, 2000, p.157). Portanto, o campo religioso e a divulgação dos ensinamentos de Jesus podem valer-se da internet, propiciando um aprendizado aprofundado de tal assunto a toda população brasileira, inclusive aos estudantes do ensino fundamental e médio por toda a nação. 3.3 – O USO DO RÁDIO E TV Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão (MARCOS 13:31). Diferente da linguagem verbal e escrita, o rádio e a televisão são veículos prestadores de serviços e possibilitam induzir e persuadir, criando para seus clientes uma imagem positiva da instituição, fazendo com que o público a considere com simpatia. Associados às técnicas de transmissão, estes veículos impõem-se no exercício do poder e direcionam a massa rumo às ideologias de seus produtores. O rádio ou “tambor tribal” como foi denominado por Marshall McLuhan é um meio de comunicação de massa explosivo. O impacto da comunicação via radiodifusão é instantâneo e 71 penetra facilmente por entre as multidões, cativando os ouvintes ao mesmo tempo em que os colocam em uma espécie de transe letárgico. Logo, fazendo uso deste novo recurso, centenas de emissoras, vinculadas com diversas denominações religiosas, começaram a transmitir suas ideologias, juntamente com porções dos ensinamentos de Jesus. Tanto a denominação católica como as demais, advindas da reforma protestante, engajaram-se no uso deste novo veículo. Os noticiários de jornais, rádio e televisão e os documentários cinematográficos transmitem as informações como se fossem neutras, mera e simples descrição dos fatos ocorridos. Mas, em verdade, essa neutralidade é apenas aparente, pois as notícias são previamente selecionadas e interpretadas de modo a favorecer determinados pontos de vista (GARCIA, 1985, p.11). Com a liberdade de pesquisa e uma sucessão de avanços científicos e tecnológicos, tais como: sinais elétricos, rádio, fac-símile, que é a transmissão elétrica de imagens, o telescópio, culminando no surgimento da televisão. A palavra televisão significa ver à distância. Somente na década de 1930 aconteceram as primeiras transmissões experimentais, tanto na Europa quanto nas Américas. No Brasil, ocorreu no ano de 1950, pela emissora Tupi, canal (6) do Rio de Janeiro e a Difusora, canal (3) em São Paulo. Logo surgiram os evangelizadores da televisão e suas programações. Dentre eles podemos destacar Benny Himn, Morris Cerullo, Keneth Hagin, Jimmy Swaggart e Billy Graham que, transmitindo dos Estados Unidos, com alcance mundial, alcançaram milhões de telespectadores. Tanto pelo rádio como na TV os assuntos abordados ficam sem questionamento, fato que dificulta o correto aprendizado. A interação por meio de perguntas e respostas é uma maneira prática de sanar as dúvidas, removendo os obstáculos para o correto entendimento dos assuntos abordados, os quais não acontecem durante as transmissões radiofônicas ou televisivas. As denominações religiosas e seus eloqüentes pregadores fazem uso do rádio e da TV para angariarem dízimos dos ouvintes, algo que coloca impedimentos aos ensinamentos de Jesus. Ao repristinar o dízimo, trazendo-o da lei para a graça, seria necessário para o seguidor dos ensinamentos de Jesus praticar também a circuncisão, guardar o sábado e, supostamente, obter permissão para viver maritalmente com mais de uma mulher, como estava predito na lei . Por Salomão viveu no período da lei e com a permissão de Deus teve muitas mulheres, as quais adoravam deuses estranhos (I Reis 11:3): E tinha setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o coração. 72 que somente o dízimo como parte da lei ultrapassa séculos? Seria o dízimo, recolhido dos fiéis, sustentáculo para o marketing de cada entidade religiosa? O rádio e a TV assim também contribuem para o comércio dos ensinamentos de Jesus, trabalhando em prol do Estado pelos empresários da fé. Mesmo após um período de resistência aos programas radiofônicos, os ingleses e os americanos acabaram aderindo ao fascínio e envolvimento das suas mensagens, conforme comenta McLuhan (974, p.334): “As culturas européias, mais terra-a-terra e menos visuais, não ficaram imunes ao rádio. A magia tribal ainda não havia desaparecido nelas e a antiga trama do parentesco voltou a ressoar de novo com as notas do fascismo”. Veiculado por mercenários, o rádio torna-se ferramenta de transmissão da ideologia religiosa para a qual trabalha, conduzindo a massa religiosa que desconhece as verdades bíblicas associarem à suas instituições. Assim, Deus continua sendo materializado e vendido como produto, direta ou indiretamente pelos programas radiofônicos. Segundo GARCIA (1985), as propagandas religiosas interferem nas opiniões das pessoas sem que elas se apercebam disso. Desse modo, são levadas a agir de uma ou de outra forma que lhes é imposta, mas que parece por elas escolhidas livremente. Assim como as pregações de um sacerdote católico ou de um evangélico são mensagens inquestionáveis pelo receptor no momento da transmissão, no altar ou no púlpito, tal qual é o rádio e a TV no esclarecimento dos ensinamentos de Jesus. O receptor age passivamente sem perguntas ou questionamentos. A mistura dos meios caracteriza uma ação morna, cumprindo o objetivo sem oferecer a possibilidade de levantar questionamentos e, mesmo se fosse possível, o ouvinte não o faria publicamente e no momento ideal, temendo represália por parte dos fiéis e o constrangimento diante da eloqüência do sacerdote. Por não oferecer recursos de interação entre o emissor e o receptor, o rádio e a TV não divulgam os ensinamentos de Jesus da forma que por Ele foi proposta, mas divulgam em favor das instituições e placas denominacionais as quais pertencem. Os show-men da fé agem com eloquência, expressa-se com facilidade e vendem o seu produto, o que é aceito pelo consumidor sem nota fiscal e sem nenhum desconto. O rádio e a TV, como meios tecnológicos, ficaram submetidos às ideologias religiosas de tal forma que a elas se renderam. 73 Quase todas as tecnologias e entretenimentos que se seguiram a Gutenberg não tem sido meios frios, mas quentes; fragmentários, e não profundos; orientados no sentido do consumo e não da produção. Muito poucas são as áreas de relações já estabelecidas – lar, igreja, escola, mercado – que não tenham sido profundamente afetadas em seu padrão e em sua tessitura ((McLUHAN, 1974. p.351). O altar, o púlpito, a imprensa tipográfica, o rádio e a televisão são veículos que conduziram os ensinamentos de Jesus facilitando para que se ampliassem novas instituições religiosas, mas não são instrumentos facilitadores quanto à interatividade e o aprendizado entre emissor/receptor. Estes veículos transmitem pequenas porções dos ensinamentos de Jesus em troca de dízimo e contribuições financeiras dos fiéis. As técnicas de retórica usadas pelas instituições religiosas nos altares e púlpitos foram se adaptando em prol do lucro, utilizadas também nas programações radiofônicas e televisivas como recursos de convencimento e persuasão. De modo significativo, foi com a era do rádio que o mundo acadêmico começou a reconhecer a importância da comunicação oral na Grécia antiga e na Idade Média. O início da idade da televisão, na década de 1950, deu surgimento à comunicação visual e estimulou a emergência de uma teoria interdisciplinar da mídia (BRIGGS e BURKE, p.11, 2006). Na atualidade, o rádio e a TV auxiliam a religiosidade institucionalizada, conduzindo suas ideologias e direcionando a massa religiosa para os mais variados fins, inclusive para o comércio gospel. Os ensinamentos de Jesus e sua gratuidade foram apropriados pelas religiões e comercializados como produto cultural por meio do rádio e TV, consumido pela massa religiosa que não alcançaram o entendimento da verdade bíblica e continuam submetidos às suas normas e doutrinas. Deus enviou a sua Palavra para libertar, como está escrito no Evangelho de João (8:31-32) que diz: “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. No entanto, os religiosos usam pequenas porções dos ensinamentos de Jesus para aprisionarem os fieis de corações quebrantados, que os admiram e respeitam como verdadeiros mestres espirituais. Os dirigentes das instituições religiosas, sustentados com o dinheiro dos fiéis deixam de trabalharem em serviços seculares para viverem dos ensinamentos de Jesus, como se o evangelho fosse fonte de renda material para alguém. Em João (6:29) está escrito: “Jesus respondeu, e disse- 74 lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou”; mas pode alguém dizer: Ele ainda estava na prática da lei quando disse isto, pois ainda estava intacto o véu do Santo dos Santos. Muito bem, isto é uma verdade, mas Paulo percebeu a diferença entre a lei e a Graça e não foi contra a lei, para não ser contra Deus, pois a lei veio por Deus, e disse na primeira carta aos Coríntios (9:12): “Se outros participam deste poder sobre vós, por que não, e mais justamente, nós? Mas nós “não” usamos deste direito; antes suportamos tudo, para não pormos impedimento algum ao evangelho de Cristo”. Nós não usamos deste direito. Direito por ser a lei entregue por Deus, mas não deverá ser usada na Graça, a qual ocorre após a morte de Jesus, porque a Graça é uma dádiva, de outra forma não seria Graça. Se no período da lei, na religião institucionalizada, os sacerdotes tinham o direito de viver do dízimo, na Graça, todos os que praticam os ensinamentos de Jesus é denominado de sacerdote real de Deus (1 PEDRO 2:9), tendo que trabalhar para conseguir o seu sustento material. O dízimo foi pago por Abraão a Melquisedeque antes da lei, como imposto pelos despojos da cidade conquistada. Na lei foi estipulado o dízimo como forma de manutenção do templo e dos sacerdotes que ministravam no templo, mas, na Nova Aliança, no Novo Testamento é diferente. Todos que se voltam a Deus, por meio dos ensinamentos de Jesus, arrependendo-se dos pecados, que é a única forma de conversão, são recebidos como um sacerdote real para Deus. O sustento do sacerdote real é feito pelo próprio Deus, não com coisas perecíveis deste mundo, mas com os galardões incorruptíveis e eternos do Criador após a ressurreição. Na Nova Aliança Jesus instrui que todos os praticantes de seus ensinamentos têm que trabalhar para o sustento material, em trabalho secular, como Paulo trabalhava e anunciava o evangelho de Cristo, escrito na primeira carta aos Tessalonicenses (2:9) que postula: “Porque bem vos lembrais, irmãos, do nosso trabalho e fadiga; pois, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós, vos pregamos o evangelho de Deus”. O dispositivo mais usado pelos mercenários nos meios de comunicação é este: “digno é o obreiro de seu salário”. Se Paulo recebeu salário, logo, é permissível a todos que ensinam o Evangelho. Mas não é assim, Paulo recebeu salário para ajudar outro grupo de cristãos que estavam passando necessidades materiais e não foi para o seu próprio sustento. Paulo sabia perfeitamente que o seu pagamento (galardão) não poderia vir de homens e sim de Deus, como está escrito na carta aos Colossenses (3:24): “Sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis”. 75 Quanto ao salário que Paulo recebeu foi repassado a outro grupo de discípulos que estavam passando por necessidades, como está escrito na segunda carta aos Coríntios (11:8) que diz: “Outras igrejas despojei eu para vos servir, recebendo delas salário; e quando estava presente convosco, e tinha necessidade, a ninguém fui pesado”. Este versículo esclarece que o salário que Paulo recebeu foi para suprir as necessidades de um grupo de cristãos e não para seu próprio sustento. Esta mensagem relata o sofrimento de Paulo, trabalhando para suprir suas próprias necessidades, para não receber pagamento em troca de anunciar o Evangelho da Graça de Deus. Paulo ainda coloca-se na posição de pai na fé para ensinar sobre o dinheiro, quando declara que o pai não pede sustento ao filho e sim o filho ao pai, escrito na segunda carta aos Coríntios (12:14): “Eis aqui estou pronto para pela terceira vez ir ter convosco, e não vos serei pesado, pois que não busco o que é vosso, mas sim a vós: porque não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais para os filhos”. Paulo se dedicou a instruí-los a ponto de padecer necessidades. O termo “quem prega o Evangelho, que viva do Evangelho” não serve para justificar o Evangelho como fonte de lucros financeiros ou trabalho remunerado, e sim, viver das bênçãos espirituais que o Evangelho produz na vida das pessoas que o pratica e também a vida eterna. O Evangelho refere-se à palavra “pastores” no plural, para indicar as pessoas que conduzem outras, das trevas para a Luz, que é Jesus, como está escrito na carta aos Hebreus (13:7): “Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver”. Se todos os praticantes dos ensinamentos de Jesus tiverem que imitar a vida dos sacerdotes, então todos terão que deixar do trabalho secular. Será esta à vontade de Deus? Pois o ide de Jesus não se refere a alguns, mas a todos que o receberam a Jesus como Senhor e Salvador. Ao chegar à Luz, por meio do arrependimento dos pecados e do batismo nas águas, o seguidor dos ensinamentos de Jesus recebe o bom Pastor (Jesus, o Verbo) e o Espírito Santo, o qual ensina e faz lembrar dos ensinamentos de Jesus, como está escrito no Evangelho de João (14:26): “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”. Na Nova Aliança Deus não pede para prová-lo, fazer prova com Deus ou pedir prosperidade financeira, como é ensinado nas instituições religiosas e nas mídias rádio e TV foi 76 permitido para a época da lei e não da Graça. Somente no período da lei Deus pediu para prová-lo, antes de rasgar o véu do templo e iniciar a Nova Aliança. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes (MALAQUIAS 3:10). Graça é favor imerecido e não necessita de prova alguma. Portanto, provar Deus em assunto concernente à Antiga Aliança é desprezar o sofrimento e morte de seu Filho. Enfatizar os bens matérias acima da salvação é desprezar os ensinamentos de Jesus, servir e adorar a Mamom e não a Deus. Não podeis servir a dois senhores, como está escrito em Mateus (6:24): “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom”. Paulo disse que o deus deste século cegou o entendimento de muitos (2 CORINTIOS 4:3) para que não resplandeçam a luz do evangelho, buscam suas alegrias nas coisas deste mundo, onde a traça e a ferrugem tudo consome. Quem almeja riquezas nesta vida cai em laço do maligno e fica aprisionado pelos bens materiais. Os que usam os recursos de seu trabalho secular para divulgar os ensinamentos de Jesus terão a recompensa do galardão de Deus e não dos homens. Os ensinamentos de Jesus revelam que para fazer discípulo não precisa construir templos, pois, onde estiver dois ou três reunidos em Seu nome Ele se faz presente. Tanto a denominação religiosa católica romana, quanto às demais denominações advindas da reforma protestante, os evangélicos tradicionais, pentecostais ou neopentecostais estão edificadas sobre uma estrutura humana que visa prestígio e poder por meio do dinheiro. Os seus dirigentes ensinam por dinheiro, cuidando que a piedade seja causa de ganho financeiro. Quanto à classe sacerdotal destes religiosos, contenciosos está escrito na primeira carta a Timóteo (2:5): “Contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho; aparta-te dos tais”. Quanto à remuneração dos religiosos Alberto Antoniazzi tece as seguintes considerações: Quanto ao sistema de remuneração de seus pastores, a igreja faz mistério. Temos a impressão de que o sistema de remuneração não é uniforme e que a distribuição das receitas é bastante desigual, criando uma “aristocracia” e um “clero menor”. Nada de novo aí na história das religiões. Mas, ao 77 contrário de situações parecidas (o judaísmo neotestamentário, a igreja católica em muitas épocas), (ANTONIAZZI et. al., 1994, p. 145). O dispositivo mais usado pelos mercenários é o não reconhecimento de que o Novo Testamento só acontece após a morte de Jesus. Acrescentam o conveniente da lei na Graça, no intuito de adquirir os benefícios financeiros da lei. Ao contrário de possuir um templo e pedir dinheiro aos fiéis, os ensinamentos de Jesus e sua Palavra deixam claro que, enquanto Jesus viveu não contrariou o dízimo, pois este era para a manutenção do templo e sustento dos sacerdotes na lei, como ordenança divina, repassada por Moisés. Diferente da lei Mosaica, o período da Graça é o que acontece após a morte de Jesus e o verter de seu sangue no calvário. O ensino neotestamentário se refere ao templo, como o corpo de quem recebe o Espírito Santo, e Igreja, a reunião de todos estes, estando numa casa, numa cidade, num país em qualquer lugar do mundo. Pode até alguém dizer que necessita de um local para congregar, onde possa compartilhar do pão e do vinho, relembrando a morte de Jesus até que venha, mas Ele não especificou lugar, reuniu-se com seus discípulos num cenáculo, onde comeram a ceia, antes da crucificação. O Novo Testamento refere-se ao trabalho secular a todos os aptos, mas, principalmente ao que ministra a Palavra, ao que recebeu o dom para ministrar, que tenha uma profissão secular e tenha o seu sustento do esforço de seu trabalho, seguindo o modelo de Paulo, o qual deixou exemplo de boas obras. 3.4– A RELIGIOSIDADE INSTITUCIONALIZADA Sobre a religiosidade institucionalizada no Brasil, a mais influente entre os burgueses e latifundiários, segundo a linha de raciocínio de Althusser (1985), é a católica apostólica romana, a qual firmou “acordos religiosos” por meio do presidente Luis Inácio Lula da Silva, junto ao Governo “Laico” brasileiro. Conforme citado anteriormente, o acordo jurídico entre o Governo Federal e a igreja No período da Lei, o povo israelita recebeu a incumbência de sustentar os sacerdotes que cuidavam do templo, como se nota em Malaquias: Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes (MALAQUIAS 3:10). 78 católica apostólica romana gerou a chamada “Lei Geral das Religiões”, projeto de Lei, nº 5598 de 2009, que no seu Art. 5º preconiza que: O patrimônio histórico, artístico e cultural, material e imaterial das Instituições Religiosas reconhecidas pela República Federativa do Brasil, assim como os documentos custodiados nos seus arquivos e bibliotecas, constitui parte relevante do patrimônio cultural brasileiro, e continuarão a cooperar para salvaguardar, valorizar e promover a fruição dos bens, móveis e imóveis, de propriedade das instituições religiosas que sejam considerados pelo Brasil como parte de seu patrimônio cultural e artístico. Este acordo entre o Brasil e o Vaticano prevê também a isenção fiscal e a imunidade das instituições religiosas perante as leis trabalhistas. Em análise sobre o assunto, Hélio Schwartsman, da equipe de articulista da Folha de S.Paulo comenta: Como a Concordata, a Lei Geral das Religiões foi redigida de forma esperta. Formalmente, não faz muito mais que reafirmar direitos que a Carta e a legislação ordinária já conferem aos cultos. Na prática, porém, é provável que aquele pouquinho que se avança acabe fazendo grande diferença. Um exemplo são os artigos que tratam do patrimônio das instituições religiosas. Há quem afirme que a redação dada abre as portas para que o poder público subvencione a preservação dessas propriedades. Ainda sobre o acordo assinado pelo presidente Lula e o Vaticano em 2008, o qual estipula a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas, a autora Fischmann diz: É importante ressaltar que o documento assinado pelo presidente da República prevê vários privilégios para a Igreja Católica: benefícios adicionais em termos de verbas públicas e ações com impacto sobre a cidadania, como a supressão de direitos trabalhistas para sacerdotes ou religiosos católicos, e a inclusão de espaços para templos católicos em planejamentos urbanos. Nesta entrevista, nos interessa o artigo sobre a obrigatoriedade do ensino religioso católico e de outras confissões religiosas, como está no texto. Mesmo fazendo menção a outras crenças, o acordo manifesta uma clara preferência por uma religião, o que obriga as escolas a adotar uma determinada confissão, e isso é inconstitucional. O Ministério das Relações Exteriores defende a iniciativa dizendo que não há problema, já que ela apenas reúne aquilo que já existe. Mas isso não é verdade. Roseli Fichmann declara ainda que a população brasileira não pode aceitar gentilmente acordos com instituições que no passado causaram danos irreparáveis a inúmeras pessoas. Os patrimônios adquiridos pela instituição católica romana em nosso país conta com terras, creches, editoras, colégios, universidades, que geram rendas suficiente para arcar com as SCHWARTSMAN, H. Está na fila a Lei Geral das Religiões. Folha de S. Paulo,A9, 8 de outubro de 2009. 79 despesas de restauro em seus templos sem precisar do dinheiro público, como vem sendo feito após ter sido sancionado pelo Ex-Presidente Lula, por meio do acordo entre Brasil e Vaticano. Somente para a recuperação da catedral de Brasília foram investidos um milhão de reais (LUZ, 2010), e para os templos deteriorados pelo restante do país, quanto custará aos cofres públicos? Esta instituição política-religiosa usa todos os meios e recursos para enfraquecer o “Estado Laico brasileiro” e poder agir livremente no país como agiu no passado. Na Contra-Reforma, esta denominação estabeleceu normas para superar todos os inconvenientes causados pelos reformadores e preservar a imagem da instituição em terras distantes. Criou-se a congregação do Index, lista dos livros proibidos para os católicos, determinados pelo Concílio de Trento, Itália, em 1545. Sabe-se que a Reforma protestante aconteceu por acúmulos de indignações populares contra a autoridade máxima da instituição, relacionada com a inquisição e a venda de indulgências. A pedagogia jesuítica foi instalada como modelo educacional no Brasil, entre o ensino primário, secundário e superior, preservando assim a ideologia institucional e não esclarecendo e nem libertando por meio do conhecimento dos ensinamentos de Jesus, já que a bíblia se encontrava na lista dos livros proibidos desde o ano 1229. Somente este fato já seria suficiente para constatar que os métodos de ensino católico não são facilitadores para o aprendizado dos ensinamentos de Jesus. O Concílio da Igreja, reunido no ano 1229, inclui a bíblia no índice dos livros proibidos. Milhares de exemplares da Santa Escritura foram incinerados em todo o mundo pela igreja romana. Ainda hoje, onde o catolicismo romano domina ocorre isto (LEONEL, 1998, p.23). O modelo de ensino Jesuítico, gerado nos molde da escolástica, identifica e caracteriza o professor como um sacerdote que transmite conhecimentos teológicos e filosóficos dominantes da Idade Média ao século XVII. Para construir o método de ensino, os jesuítas tomaram como referência o método escolástico, existente desde o século XII, e o modus parisiensis, como era chamado o método em vigor na Universidade de Paris, local onde Inácio de Loyola e os demais jesuítas fundadores da Companhia de Jesus realizaram seus estudos (PIMENTA, 2005, p.145). 80 Não se pode esquecer de que este período na França foi de extremo pavor e medo. A justiça secular, que agia sobre ordens diretas do clero, ainda praticava o suplício dos condenados, conforme se verifica na passagem abaixo transcrita: Damiens fora condenado, a 2 de março de 1757, a pedir perdão publicamente diante da porta principal da igreja de Paris [aonde devia ser] levado e acompanhado numa carroça, nu, de camisola, carregando uma tocha de cera acesa de duas libras; [em seguida], na dita carroça, na praça de Greve, e sobre um patíbulo que aí será erguido, atenazado nos mamilos, braços,coxas e barrigas das pernas, sua mão direita segurando a faca com que cometeu o dito parricídio, queimada com fogo de enxofre, e as partes em que será atenazado se aplicarão chumbo derretido, óleo fervente, piche em fogo, cera e enxofre derretidos conjuntamente, e a seguir seu corpo será puxado e desmembrado por quatro cavalos e seus membros e corpo consumidos ao fogo, reduzidos a cinzas, e suas cinzas lançadas ao vento (FOUCAULT, 1988, P.11). Tanto a instituição católica como as demais instituições advindas da reforma, as quais se autodenominam de “igrejas cristãs” são instrumentos ideológicos do Estado. São dispositivos de controle que colaboram juntamente com o departamento de segurança pública, preservando a ordem social por meio de normas eclesiásticas; não conduzem ao aprendizado dos ensinamentos de Jesus da forma bíblica e sim para o cumprimento as normas estabelecidas em seus concílios. Como é possível para um país em desenvolvimento, intitulado como “Laico” sustentar um modelo pedagógico inspirado num período em que se praticavam tais atos ao ser humano? Ainda, segundo o mesmo raciocínio, o autor relata que as funções da política e da escola também servem para vigiar e punir. É possível que a guerra como estratégia seja a continuação da política. Mas não se deve esquecer que a “política” foi concebida como a continuação senão exata e diretamente da guerra, pelo menos do modelo militar como meio fundamental para prevenir o distúrbio civil (p.151). O tratamento dos escolares deve ser feito da mesma maneira; poucas palavras, nenhuma explicação, no máximo um silêncio total que só seria interrompido por sinal, sinos, palmas, gestos, simples olhar do mestre, ou ainda aquele pequeno aparelho de madeira que os Irmãos das Escolas Cristãs usavam; era chamado por excelência o “Sinal” e devia significar em sua brevidade maquinal ao mesmo tempo a técnica do comando e a moral da obediência (FOUCAULT, 1988, p.149). Certamente que o povo brasileiro gostaria de resolver todos os problemas relacionados ao ensino, a começar por implantar métodos educacionais que sirvam e acompanhem o desenvolvimento da humanidade, que sejam facilitadores para a aprendizagem e ao bem comum da nação. Não podemos mais suportar as imposições religiosas, catastróficas e retrógradas que 81 impedem o desenvolvimento da nação, por amparar em seu hall de membros pessoas ignorantes quanto as suas ações e práticas políticas. Até as escolas são usadas pelas religiões para divulgarem suas ideologias mercantilistas, incapazes de conter a violência e o desafeto; para estas instituições é inconveniente ensinar sobre amor e afeição, melhor é mostrar o crime e a guerra, evitando assim o questionamento de seus atos. Pesquisadores franceses vêm se dedicando ao estudo da violência nas escolas e esclarecem que os atos de incivilidades referem-se aos Delitos contra objetos e propriedades (quebra de porta e vidraças, danificações de instalações). Intimidações físicas (empurrões, escarros) e verbais (injúrias, xingamentos e ameaças); descuido com asseio das áreas coletivas (banheiros). Ostentação de símbolos de violência, adoção de atitudes destinadas a provocar medo (poder de armas, posturas sexistas) e alguns atos ilícitos, como o porte e consumo de drogas. (ABRAMOVAY, 2003, p. 23 apud DÛPAQUIER, 1999). Entendendo que entre as disputas e pelejas religiosas das instituições que se dizem cristãs, quem perde é o povo, os ensinamentos de Jesus sobre amor ao próximo e um correto procedimentos de vida foram desprezados. As intenções das instituições religiosas são outras, muito longe da requerida espiritualidade, necessária para produzir no povo a paz de espírito. Falam de direitos humanos, mas não exercitam a caridade. O professor da atualidade, que pretende estar no exercício da sua função de “ensinar e aprender” necessita não somente compreender e dominar a sua disciplina, mas saber lidar com a indisciplina e a interdisciplinaridade, ou ainda, tratar a indisciplina como uma nova disciplina. Os alunos da atualidade sejam de escolas públicas ou privadas, estão imbuídos de uma tendência à violência e à indisciplina que, ao menor ato de provocação, a aula transforma-se em um “campo de batalha”. No texto que se intitula “Saber se relacionar é também questão de disciplina, competência e habilidade” de autoria de Lino de Macedo, publicado na edição especial do caderno do gestor de 2010 afirma que: “O resultado na prática é, de um lado, indisciplina, falta de respeito, violência, incapacidade ou desinteresse para aprender tornou-se hoje um dos problemas mais graves de gestão de classe e da escola”. Macedo segue comentando o assunto sobre a indisciplina e propõe uma nova visão sobre a atitude do professor e a equipe de gestores: 82 Cuidar dos problemas de indisciplina e falta de respeito com a mesma atenção que se dedica ao ensino dos conteúdos escolares é, pois, fundamental na escola de hoje, já que, felizmente, não se pode mais contar com os recursos da escola de “ontem”. Naquela escola havia também esses problemas, mas se recorria a práticas (expulsão, castigos físicos, isolamento), às quais não se deve ou se pode apelar. Além disso, tratava-se de uma escola para “poucos”, para os escolhidos do sistema por suas qualidades diferenciadas (inteligência, poder econômico ou político, escolha religiosa ou condição de gênero). Na escola atual, obrigatórias e públicas para todas as crianças e jovens, tais problemas são muito mais numerosos e requerem habilidades de gestão, não apenas para os professores em sala de aula, mas para todos aqueles responsáveis por esta instituição (MACEDO, 2010, p.70) Cuidar da indisciplina como uma nova disciplina. Talvez seja esta a necessária disciplina do amor ao próximo, encontrada nos ensinamentos de Jesus, de monopólio ainda exclusivo da religião. Por que os ensinamentos de Jesus, interpretados pela hermenêutica e a exegese ainda não foram disponibilizados como parâmetros para o ensino religioso, já que este é uma realidade amparada na lei de nosso país? É preciso negar o fracasso e as teorias antigas que não deram certo no sistema educacional. Quando estudamos de perto as desigualdades diante da doença ou da morte, a justiça ou o amor, percebemos que o papel do destino ou do acaso não é assim tão grande, que as desigualdades aparentemente mais biológicas ou genéticas estão enraizadas nas desigualdades sociais (PERRENOUD, 2001, p.17). Nos países africanos, onde a população também se encontra submetida às pedagogias católica romana, uma das causas do fracasso escolar é a seguinte: Numa situação em que era proibido questionar sobre a origem das coisas, o futuro professor apenas ouvia. Limitava-se apenas a acumular o saber despejado em logorréia do orador, que cobrava tudo quanto dizia, no dia de avaliação. O futuro professor era como se fosse um receptáculo, onde se despeja uma quantidade de objetos e os tiramos, algum tempo depois, sem que houvesse a variação da quantidade, nem da qualidade de objetos depositados. O receptáculo não elabora. Apenas despeja o mesmo conteúdo que lhe fora depositado. O ensino missionário era extremamente isso. O futuro professor era levado a decorar os conteúdos, sem entender o significado repetia, na sua relação com o aluno, o método através do qual também fora ensinado (SAUL, 2000, p.202). O local de aprendizado deverá estar isento de situações que favoreçam outro sistema ideológico além do aprender e ensinar. Quando a autora Roseli Fichimann declara que escola pública não é lugar de religião, certamente é para eliminar o sistema que gera a desigualdade e a disputa por interesses nos lugares públicos. 83 Ser partidário desta ou daquela religião não é sinônimo de se estar com Deus; defender esta instituição religiosa por ser a mais antiga ou a outra por ter algum outro mérito é consentir que as rivalidades e intrigas façam parte do ensino no Brasil e que continue agindo um modelo pedagógico ultrapassado em nosso país, o qual não contribui em prol a paz e a melhoria dos alunos. Lembrando que Jesus não deixou esta ou aquela denominação religiosa a ser seguida, nem deu para alguém a sua Igreja. Portanto, para usufruir os benefícios de Deus, os quais podem sanar os problemas de indisciplina e falta de respeito no ambiente escolar é necessário inovar e se libertar. “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (JOÃO 8:32). 3.5 – A EVANGELIZAÇÃO PELO RÁDIO E TV A tradição culturológica de estudos da cultura de massa mostra que a cultura religiosa foi contaminada pela cultura de massa, a qual se integrou em culturas já existentes e se fundiu a ela, tornando a religiosidade um produto capitalista da contemporaneidade, oferecido como tantos outros produtos pela mídia radiofônica e televisiva. [...] a cultura de massa é uma cultura: ela constitui um corpo de símbolos, mitos e imagens concernentes à vida prática e à vida imaginária, um sistema de projeções e de identificações específicas. Ela se acrescenta, à cultura nacional, à cultura humanística, à cultura religiosa, e entra em concordância com estas culturas (MORIN, 1967, p.18). Diferentes da oralidade e a escrita, o rádio e a TV são veículos prestadores de serviço e possibilitam induzir, criando para seus clientes uma imagem positiva da instituição, para que o público a considere com simpatia. O rádio e a TV como meios tecnológicos ficaram submetidos às ideologias religiosas de tal forma que a elas se renderam. Muitas religiões já possuem a sua própria emissora, diminuindo os gastos e obtendo maiores lucros. A Constituição Federal estabelece uma separação entre o Estado e as religiões, mas estas usam até mesmo as emissoras que compõem a empresa estatal, afirma Luz (2010) em seu artigo denominado “A ambição do latifúndio religioso”. Este autor cita a Constituição da República Federativa do Brasil, no Capítulo I, Artigo 19 que estabelece o seguinte: 84 É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: Estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público. Ainda segundo Luz (2010), a TV Brasil, sendo um patrimônio da União, exibe o programa “Reencontro”, produzido por evangélicos, aos sábados e transmite a “Santa Missa e Palavras de Vida”, da igreja católica, aos domingos. Também cita outro patrimônio da União, a rádio Nacional FM de Brasília, que transmite a missa católica aos domingos. Pondera ainda, o mesmo autor, que não existem dados precisos sobre as emissoras de rádio e TV que estão sob o poder dos religiosos e que o Ministério das Comunicações não dispõe destas informações com precisão. Alega que as diversas denominações religiosas nem sempre revelam seu credo, quando solicitam concessões. Menciona o exemplo da emissora instalada em Petrolina, que juridicamente se apresenta como “Fundação Emissora Rural a Voz do São Francisco”. O nome não diz nada, mas, inaugurada em 28/10/1962, faz parte do latifúndio nacional da igreja católica e integra o imenso esquema de poder político que esta denominação exerce por todo semi-árido nordestino. Os religiosos, por meio do rádio e TV, materializaram Deus em produto de consumo rentável e não transmitiram os ensinamentos de Jesus para a libertação do povo. Segundo Paulo Freire, o direito à palavra, o questionamento e o aprendizado são direitos do cidadão, pois agem como ferramentas na construção da cidadania. Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão. Mas, se dizer a palavra verdadeira, que é trabalho, que é práxis, é transformar o mundo, dizer a palavra não é privilégio de alguns homens, mas direito de todos os homens. Precisamente por isto, ninguém pode dizer a palavra verdadeira sozinho, ou dizê-la para os outros, num ato de prescrição, com o qual rouba a palavra aos demais (FREIRE, 1975, p.92). A TV, como veículo de comunicação não oferece a possibilidade de interação, pois submete o receptor a uma total absorção (visual e auditiva) do produto oferecido, eliminando qualquer possibilidade de questionamento, não permite diretamente o exercício da crítica, envolve e manipula de forma diferenciada. Exerce seu poder por meio do imediatismo sígnico e apodera-se da atenção do telespectador por meio da visão e da audição, enviando as mensagens diretamente ao córtex cerebral. Segundo L. Althusser (1985), os meios de comunicação e a propaganda política 85 comandam a classe trabalhadora (operária) e a induzem a se submeter, produzir e consumir os produtos oferecidos pelos detentores do poder. A seguir, veremos como procede a educação brasileira na era da internet e da interatividade. 86 4 – A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NA ERA DA INTERNET E DA INTERATIVIDADE A capacidade de interação por meio da internet se tornou algo inevitável, as inovações em equipamentos tecnológicos e a computação estão cada vez mais capacitadas para decodificar linguagens visuais e auditivas, traduzir, receber e enviar textos em vários formatos. Isto causou uma revolução no ambiente físico, o modelo de sala de aula com giz e lousa como local de aprendizado se tornaram ultrapassado e não causa mais interesse nos alunos. Atualmente, as informações estão interligadas por redes, ou seja, por conjuntos de nós interligados formando um imenso espaço virtual de informações, impulsionadas pela internet, onde o internauta pode localizar as informações desejadas em segundos. Este novo meio de comunicação inovador permite a interação entre pessoas em escala global e em tempo muito reduzido, algo como nunca houve na história da humanidade. Não participar deste sistema é o mesmo que impedir o conhecimento e negar a possibilidade do avanço tecnológico, permanecer ao método peripatético e a lousa para transferência de informações. Atualmente, as principais atividades econômicas, sociais, políticas e culturais de todo o planeta estão a estruturar-se através da internet e de outras redes informáticas. De fato, a exclusão destas redes é uma das formas de exclusão mais grave que se pode sofrer na nossa economia e na nossa cultura (CASTELLS, 2004, p.17). Segundo o mesmo autor (CASTELLS, 2004), a internet foi desenhada premeditadamente como uma tecnologia de comunicação livre, por uma série de razões históricas e culturais. A educação brasileira está se adaptando a esta nova tecnologia, montando salas de informática na rede pública de ensino, capacitando professores para o acompanhamento em todos os níveis educacionais para oferecer uma educação de qualidade. 4.1 – A EDUCAÇÃO BRASILEIRA E O ENSINO RELIGIOSO NA ATUALIDADE A população brasileira, usufruindo a laicidade da nação, não pode mais aceitar os métodos pedagógicos ultrapassados ou firmar acordos com instituições religiosas para direcionarem a educação no país, instituições que no passado causaram danos irreparáveis à humanidade. Sobre este acordo educacional do governo brasileiro com o vaticano, Roseli Fichamann declara, numa entrevista: 87 O acordo assinado pelo presidente Lula com o Vaticano em 2008, que estipula a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas, foi aprovado pelo senado. E agora? FISCHMANN responde: “É importante ressaltar que o documento assinado pelo presidente da República prevê vários privilégios para a igreja católica: benefícios adicionais em termos de verbas públicas e ações com impacto sobre a cidadania, como a supressão de direitos trabalhistas para sacerdotes ou religiosos católicos, e a inclusão de espaços para templos católicos em planejamentos urbanos. Nesta entrevista, nos interessa o artigo sobre a obrigatoriedade do ensino religioso católico e de outras confissões religiosas, como está no texto. Mesmo fazendo menção a outras crenças, o acordo manifesta uma clara preferência por uma religião, o que obriga as escolas a adotar uma determinada confissão, e isso é inconstitucional. O Ministério das Relações Exteriores defende a iniciativa dizendo que não há problema, já que ela apenas reúne aquilo que já existe. Mas isso não é verdade. Se tais acordos políticos educacionais religiosos são tão importantes que chegam a conduzir o Presidente da República Federativa do Brasil ao Vaticano, o que impede ao Governo Laico Brasileiro, por meio do Ministério da Educação, oferecer o conteúdo bíblico dos ensinamentos de Jesus fora do contexto religioso denominacional e esclarecido por meio da hermenêutica e da exegese para o sistema público de ensino em todo o país via internet? Se o Antigo e Novo Testamento servem de parâmetros para todas as instituições religiosas cristãs no país, oferecer o conhecimento deste conteúdo fora do contexto religioso denominacional aos que não pretendem aderir à religião é fazer a distribuição equitativa do poder, no exercício da democracia, em favor da liberdade. Estudiosos e pesquisadores da educação buscam soluções para resolver os problemas da violência nas escolas, itens que dificultam o aprendizado e o bom relacionamento em sala de aula. Estuda-se o caráter das agressões dentro e fora dos ambientes escolares em todos os níveis; buscam-se projetos que promovam a construção de uma cultura de paz junto à comunidade escolar, entretanto, não remetem ao resgate e domínio dos ensinamentos de Jesus que é, por direito, um patrimônio mundial. No Antigo Testamento, no período da lei, a pedagogia e a correção para o filho desobediente eram com o uso da vara e o apedrejamento até a morte. No livro Deuteronômio (21:18-21) está expresso que: Quando alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedecer à voz de seu pai e à voz de sua mãe, e, castigando-o eles, lhes não der ouvidos, então seu pai e sua mãe pegarão nele, e o levarão aos anciãos da sua cidade, e à porta do seu lugar; e dirão aos anciãos da cidade: Este nosso filho é rebelde e contumaz, não dá ouvidos à nossa voz; é um comilão e um beberrão. Então todos os homens da sua cidade o apedrejarão, até que morra; e tirarás o mal do meio de ti, e todo o Israel ouvirá e temerá. 88 Mas, no Novo Testamento, período da Graça, o favor imerecido de Deus, que entregou seu Único Filho a morrer pela humanidade a pedagogia é outra. Enquanto Jesus esteve na terra, Ele cumpriu a lei, mas, quando morreu, abriu-se o Novo Testamento, anulando totalmente a lei anterior. Nenhum testador abre o testamento enquanto vive, assim também Jesus, antes de morrer, cumpriu a lei e pediu para que a nação de Israel também a cumprisse, mas com a sua morte, a lei foi ab-rogada. Quando o véu do templo rasgouse, no momento da Sua morte, entrou em vigor a Graça. No período da Graça, o método pedagógico é com afeto, o uso da vara, agressões ou apedrejamento não fazem parte dos ensinamentos de Jesus; a educação é feita com diálogo e advertências em amor. Na carta aos Efésios (6:1-4) se pode ler o seguinte: Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra. E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor. A ordem bíblica para a educação neotestamentária é direcionada aos genitores, para exercem a instrução dos filhos na doutrina de Deus pela Sua Palavra e não mais por meio dos sacerdotes como no Antigo Testamento. A instrução sobre ministrar os ensinamentos de Jesus para as crianças é direcionada à família e não à outra instituição. Na falta dos genitores, a incumbência passa ao Estado, como rege a LDB, em favorecer ao desenvolvimento pleno do aluno em prol da cidadania. Estudam-se, nas escolas públicas brasileiras, as várias disciplinas da grade curricular e existem em suas bibliotecas muitos livros, contendo mitologias e religiões de várias etnias, que são oferecidos gratuitamente aos alunos pelo Governo Federal, Estadual e Municipal. Por que não existe a publicação da bíblia esclarecida pela hermenêutica por ordem governamental? Se o evangelho é um livro comum a todas as instituições religiosas, ao católico, ao evangélico tradicional, ao pentecostal, ao neopentecostal, ao espírita e todos que se autodenominam cristãos, qual seria o inconveniente? Será que a nação brasileira ainda se encontra sobre o domínio da religião, como esteve antes da atuação do Marques de Pombal e ainda determina as ações do Governo em nosso país? 89 A educação do século XXI caminha para o reconhecimento do cidadão de corpo e alma, capaz de reconhecer os seus direitos e deveres, usufruir a liberdade advinda do conhecimento e do saber, garantida pela constituição. Para tanto, faz se necessário um olhar crítico sobre os métodos educacionais usados nas instituições de ensino no Brasil, pleitear uma reforma pedagógica, livre das amarras da religiosidade institucionalizada, rumo a conquista de uma consciência voltada para a liberdade sobre todas as áreas do conhecimento. A educação pública brasileira precisa transmitir ensinamentos de amizade, amor, gratidão, benevolência, paz, mansidão, todos estes requisitos e muitos mais são necessários para a humanização e estão compilados nos ensinamentos de Jesus, e hoje, já acessíveis a todos que pretendem educar-se pela verdade bíblica, por meio da internet. A trajetória para o povo brasileiro adquirir uma consciência política-religiosa e romper com as amarras do passado está sendo extremamente longa. Ainda opera a subserviência pela falta do conhecimento dos ensinamentos de Jesus. Há necessidade de que os dirigentes deste país possam valorizar a constituição acima de todos os preceitos humanos, inclusive os religiosos, para que a nação possa usufruir plenamente de seus direitos como cidadãos. 4.2 – A INTERNET E OS ENSINAMENTOS DE JESUS Na atualidade, as instituições religiosas, como qualquer outra empresa, também fazem uso da internet e oferecem seus produtos, materiais e imateriais na rede, mas, também existem sites que viabilizam os ensinamentos de Jesus desvinculado da religiosidade institucionalizada. Um exemplo desta nova possibilidade de estudo pode ser encontrado no site w w w . e s t u d o s d a b i b l i a . n e t ., criado por pessoas que vivem e ensinam a bíblia de acordo com o padrão do Novo Testamento, pertencentes às congregações locais, com o único objetivo de servirem a Cristo. Não pertencem, devido ao fato da bíblia não autorizar, a nenhuma denominação religiosa institucionalizada. Os autores deste site, em sua maioria não são brasileiros, Dennis Allan é norte-americano residente em São Paulo (capital), Carl Ballard, Mike Bozeman, Allen Dvorak, Gary Fisher, Timothy Richter, Paul Earnhart moram nos Estados Unidos ou outros países. Não defendem ou indicam placas de instituições religiosas, nem destacam homens ou qualificações humanas 90 (formação teológica etc.), mas realçam unicamente a Palavra revelada nas Escrituras e interagem com os usuários do site pelo endereço estudos.bí[email protected]. Em esclarecimento ao público sobre a denominação que pertencem, os autores afirmam : “Não defendemos placas de igrejas, pois devemos toda a glória ao nosso Senhor Jesus Cristo”, como está escrito: Paulo (chamado apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus), e o irmão Sóstenes, a igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso: Graça e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Sempre dou graças ao meu Deus por vós pela graça de Deus que vos foi dada em Jesus Cristo. Porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento (Como o testemunho de Cristo foi mesmo confirmado entre vós). De maneira que nenhum dom vos falta, esperando a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual vos confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor. Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer. Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Está Cristo dividido? Foi Paulo crucificado por vós? Ou fostes vós batizados em nome de Paulo? Dou graças a Deus, porque a nenhum de vós batizei, senão a Crispo e a Gaio, para que ninguém diga que fostes batizados em meu nome. E batizei também a família de Estéfanas; além destes, não sei se batizei algum outro. Porque Cristo envioume, não para batizar, mas para evangelizar; não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça vã (I CORINTIOS 1: 1-17). De acordo com o que foi postulado por Cristo, aqueles que são responsáveis pelo site mencionado dizem que importa somente falar a palavra de Deus, e não realçar a sabedoria humana. Deixam como exemplo, para estes dizeres, os seguintes versículos: “Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence à glória e poder para todo o sempre. Amém” (I PEDRO 4 : 11). Os autores deste site pedem para que todos os julguem pelos frutos do ensino, e acrescentam os seguintes versículos: Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura se colhem uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e 91 lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade (MATEUS 7: 15-23). Examinai tudo. Retende o bem. Abstende-vos de toda a aparência do mal (I Tessalonicenses 5:21-22). E pedem para examinar todo ensinamento pela palavra revelada nas Escrituras: “Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (Atos 17:11). O site w w w . e s t u d o s d a b í b l i a . n e t é um instrumento facilitador para o estudo dos ensinamentos de Jesus porque foi criado exclusivamente para esta finalidade, portanto, é ideal para as pessoas que desejam adquirir um conhecimento bíblico fora do contexto religioso denominacional. O site oferece ainda a possibilidade de participar dos estudos especiais ministrados em várias cidades brasileiras, bastando apenas o preenchimento de um questionário para identificação do interessado para melhor recepcioná-lo, providenciando assento e apostila (quando houver) gratuitamente. Figura 13 – Imagem da página do site 92 O site apresenta, localizado à esquerda da página, o link do YouTube, por meio do qual o internauta poderá ter acesso aos vídeos dos Estudos Bíblicos, com esclarecimento de que a visita ao site do YouTube não está sob o controle dos autores. Logo abaixo do link do YouTube, aparecem os acessos: Pesquisar, Andando na verdade, Andando com Deus, Mensagem em áudio, Palavras cruzadas, Estudos textuais, Fale conosco, Livros e livrinhos, O que a Bíblia diz?, Jesus, o caminho, Boletim mensal, Quem somos? Posso copiar? No lado direito da página aparece um logotipo (MP3), indicando que as versões gravadas são menores e mais fáceis de carregar e ocupam menos espaço. Contém aulas especiais em áudio e temas como: Mensagens importantes de Ezequiel, O Espírito Santo, O que a Bíblia ensina? Deus justo e justificador, O plano de Deus para a Igreja, Verdades Bíblicas para todos. No link “Verdades Bíblicas para Todos”, está disponível a apostila e sete (7) mensagens de áudio, bastando somente um clique para acessar. Em outro acesso pode-se adquirir resumos dos livros “Gênesis e Jô” e estudo textual com apostila e vinte e cinco (25) mensagens de áudio. O site também oferece os recursos do TWITTER (@EstudosDaBiblia) que informa sobre as novidades ou sobre os estudos especiais e alguma outra informação que facilite o ensinamento do estudante. É ofertado ainda um curso bíblico denominado “Jesus o Caminho”, com sete lições, totalmente On-Line e acrescenta uma mensagem positiva para os que, no passado, já tentaram fazer um curso bíblico e não conseguiram, apresentando as facilidades e comodidades de se estudar de qualquer lugar que se tenha acesso à internet. Para pessoas que procuram folhetos e mensagens de evangelização, o site oferece modelos que possam incentivar outras pessoas a estudarem a palavra de Deus. São modelos prontos para copiar e imprimir. O link “Andando na Verdade” é publicado trimestralmente e distribuído gratuitamente a pessoas interessadas no estudo da palavra de Deus por e-mail. Os textos com os ensinamentos de Jesus, explicados por meio da hermenêutica e da exegese, escritos em outro idioma, são traduzidos por Arthur Nogueira Campos e por Dennis Allan, disponibilizados com permissão de seus autores e redatores, ficando retido o direito ao próprio trabalho. 93 Acessando somente a página do tema “Andando na Verdade”, aparecerá o título “A Serviço do Rei - vivendo como seguidores de Cristo”, o interessado encontrará cento e um (101) subtítulos de estudo. Para se ter o exemplo do tipo de estudo oferecido e da facilidade de compreensão dos mesmos, o exemplo dos três primeiros estudos do primeiro tema “Andando na Verdade” está em anexo nas páginas (113 a 116). 4.3 – A INTERATIVIDADE COMO MARCA DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (João 8:31-32) Libertando os ensinamentos de Jesus das gavetas das religiões, surge a internet. Por quase dois mil anos os ensinamentos de Jesus percorrem a terra em busca de verdadeiros ouvintes e são vários os veículos que conduziram suas mensagens até nossos dias, mas nenhum tão facilitador quanto a um site na internet, veiculado por meio da rede mundial de computadores. A internet surgiu nas últimas décadas do século XX, como consequência da fusão singular de estrutura militar, com a pesquisa da Agência de Projetos de Pesquisas Avançadas (ARPA), do departamento de defesa dos EUA, possibilitando a transmissão de mensagens sonoras, imagens e dados por meio de redes de informações (CASTELLS, 1999, p.82). Com o avanço das estratégias militares e a necessidade de se obter informação cada vez mais rápida, a internet apresenta uma comunicação ainda mais eficaz se comparada ao rádio e a TV por apresentar a interatividade em rede mundial. Na atualidade, o computador, por meio da internet, tem se apresentado como um veículo facilitador para a divulgação e aprendizagem dos ensinamentos de Jesus. Em 1979, divulgaram o protocolo XModem, que permitia a transferência direta de arquivos de dados entre computadores, sem passar por um sistema principal. A nova tecnologia foi divulgada gratuitamente, pois sua finalidade era espalhar o máximo possível a capacidade de comunicação interativa. As redes de computadores, que não pertenciam a ARPANET (em seus primeiros estágios reservados às universidades científicas de elite), descobriram um meio de começar a se 94 comunicar entre si por conta própria. Em 1979, três alunos da Duke University e da Universidade de Carolina do Norte, não inclusos na ARPANET, criaram uma versão modificada do protocolo UNIX, que possibilitava a interligação de computadores via linha telefônica comum. Figura 14 –Arpanet - Tecnologia da computação 1 Figura 15 – Arpanet - Tecnologia da computação 2 Os usuários dessa versão modificada criaram um fórum on-line de conversas sobre informática, a Usenet, que logo se tornou um dos primeiros sistemas de conversas eletrônicas em larga escala. 95 Os inventores da Usenet News também divulgavam gratuitamente seu software num folheto distribuído nos congressos de usuários de UNIX (CASTELLS, 2008, p.86). Vinton Cerf, frequentemente descrito como um dos pais, senão o pai da internet-1970, juntamente com Robert Kahn, produziu o primeiro artigo sobre aquilo que se tornaria a Internet, “Um protocolo para as intercomunicações acondicionadas em rede”-, disse numa conferência realizada em São Francisco em setembro de 2004 que o mundo ainda estava na Idade da Pedra em termos de formação de rede (BRIGGS; BURKE, 2006, p.328). O sistema de comunicação em rede trouxe uma forma de comunicação diferenciada dos veículos anteriores e inúmeras facilidades com as compras on-line, auxiliando na pesquisa de produtos e negócios, reduzindo o tempo de procura e gastos com transportes. O grande avanço aconteceu em setembro de 1993 e março de 1994, quando uma rede até então dedicada à pesquisa acadêmica se tornou a rede das redes, aberta a todos. A rede era “frouxa” e não tinha proprietário, embora dependesse das agências de comunicação. No mesmo período, o acesso público a um programa de navegação (Mosaico), descrito na seção de negócios do New York Times de dezembro de 1993 como “a primeira janela para o ciberespaço”, tornou possível atrair usuários - na época chamados “adaptadores” – e provedores, os pioneiros em programas cujas origens já foram descritas (BRIGS, BURKE, 2006, p. 300). As redes mundiais de informações desenvolveram-se, rapidamente, pelos quatro cantos da terra, ligadas entre si por uma gigantesca teia de comunicação, possibilitando a conversa direta e consulta de páginas sobre os mais variados tipos de assuntos. Também propiciou a transferência de arquivos, estudos de textos e muitas outras coisas. Com a possibilidade de interagir usando apenas uma linha telefônica comum - um computador com o software adequado e um modem - os internautas enviam e recebem de forma rápida e eficiente, mensagens de vários tipos e formatos. Pode-se enviar desde textos ou livros eletrônicos, fotografias, músicas, mensagens em áudio visual até mesmo interagir entre os conhecimentos sobre vários tipos de assuntos, inclusive sobre os ensinamentos de Jesus, isentos de conceitos religiosos denominacionais e suas ideologias. A internet propicia um estudo diferente, facilitando a interação dos mais diversos tipos de assunto, entrelaçando o real e o virtual como na própria vida. A internet é o tecido das nossas vidas. Se as tecnologias de informação são o equivalente histórico do que foi a eletricidade na era industrial, na nossa era poderíamos comparar a internet com a rede elétrica e o motor elétrico, dada a sua capacidade para distribuir o 96 poder da informação por todos os âmbitos da atividade humana. E mais, tal como as novas tecnologias de geração e distribuição de energia permitiam que as fábricas e as grandes empresas se estabelecessem como as bases organizacionais da sociedade industrial, a internet constitui atualmente a base tecnológica da forma organizacional que caracteriza a Era da Informação: a rede. (CASTELLS, 1999, p.15). A internet é facilitadora, tanto para as grandes empresas como para os seus funcionários, e não serve apenas à elite, mas também à classe trabalhadora. O custo dos equipamentos necessários para o acesso à internet fica cada vez mais acessível à população de baixa renda, sendo disponibilizada também para uso gratuito nos projetos estatais (acesse São Paulo) e nas salas de informática das escolas públicas em todo país. O acesso à internet também pode ser realizado de forma comercial, oferecido em Lan Houses existentes por quase todo o Brasil. Atualmente, as principais atividades econômicas, sociais, políticas e culturais de todo o planeta estão a estruturar-se através da Internet e de outras redes informáticas. De fato, a exclusão destas redes é uma das formas de exclusão mais grave que se pode sofrer na nossa economia e na nossa cultura (CASTELLS, 1999, p.17). O relacionamento do internauta com o mundo de informações e negócios acontece por meio de aplicativos instalados no computador, como chat, Msn (Messenger,) com os quais é possível interagir entre perguntas e respostas e trocar informações com rapidez e eficiência. A interatividade também acontece por meio dos hipertextos, conforme observa Motta: Veja no caso da interatividade: Bardoel e Deuze (2000) consideram que a notícia online possui a capacidade de fazer com que o leitor-usuário sinta-se parte do processo. Segundo eles, isso pode acontecer pela utilização de diversos recursos interativos, como a troca de e-mails entre leitores e jornalistas, a disponibilização de opinião dos leitores em fóruns, os chats com jornalistas. Os autores, no entanto, não contemplam a perspectiva da interatividade no âmbito da própria notícia, ou seja, a navegação pelo hipertexto que, conforme Machado (1997), constitui também uma situação interativa (MOTTA, 2002, p. 131). Isto facilita a vida de quem quer estudar um determinado tipo de assunto no conforto de seu lar ou na escola, fazendo uso das salas de informática. A internet também é facilitadora para a propagação dos ensinamentos de Jesus sem a necessidade de um vínculo institucional religioso. Basta somente ao interessado acessar um site pela www. para encontrar todos os estudos relacionados com o tema que deseja estudar, podendo perguntar, interagir e questionar os temas encontrados. 97 Nos últimos anos, assistimos a um crescimento espantoso das chamadas tecnologias de comunicação. Essas tecnologias tornaram-se mais rápidas, mais populares e mais instrumentalizadas no cotidiano de milhares de pessoas em todo o mundo. Passaram, assim, a fazer parte de um conjunto de práticas sociais que permeia o século XXI, construindo sentidos e modificando comportamentos. Dois elementos são marcantes nesta mudança estrutural: o primeiro deles é o foco na participação, que principalmente através da Internet, torna-se o carro chefe da popularização dessas tecnologias. O segundo é que essa participação dá-se em uma escala global, nunca antes proporcionada por nenhum meio de comunicação a indivíduos (RECUERO, 2010). Em suma, esta forma de comunicação, diferenciada dos veículos anteriores, pode ser a chance para a verdadeira Igreja de Cristo instalar-se de forma global, ofertando o reino de Deus gratuitamente por toda a terra. CONSIDERAÇÕES FINAIS A oralidade como forma de transmissão de conhecimentos usou de vários recursos no decorrer da história. Houve um tempo em que a comunicação esteve presente na linguagem da natureza (FOUCAULT, 1992) e agiu juntamente com a linguística para decodificar as marcas visíveis que Deus deixou na criação. Desde os tempos mais remotos, como constatamos no capítulo 1, a oralidade vem servindo para transmitir as informações armazenadas na mente humana para as próximas gerações. E fazendo referência novamente a Pierre Levy, em seu livro intitulado, As tecnologias da inteligência, de fato, existem dois tipos de oralidade: a primária, que remete à palavra antes que uma sociedade tenha adotado alguma forma de escrita e a secundária, a qual se relaciona e adapta-se nos moldes da escrita, tal qual usamos hoje. O Os evangelhos, de fato, oferecem a salvação da alma e do espírito humano gratuitamente e para praticá-los não requer templos ou basílicas luxuosas, mas, onde estiverem dois ou três reunidos em nome de Jesus, ali está a sua Igreja, conforme nos pautamos no capítulo 2. Jesus disse que a salvação se recebe por meio da fé, mediante o conhecimento da doutrina do amor e a incumbência de transmiti-la gratuitamente a todos. No entanto, não é isto que ocorre nas instituições religiosas, também constatado. A população permanece sem o direito de 98 compreender os ensinamentos de Jesus corretamente; desvinculada do sistema religioso institucionalizado, para elas se submetam a sustentarem seus sacerdotes em suas luxúrias. Quando o cristão não pertence a uma instituição religiosa, fica rejeitado e tido como herege e destituído do relacionamento das irmandades que se submetem ao comércio religioso. Conforme nosso estudo sobre as religiões institucionalizadas, não consta nos ensinamentos de Jesus que ele tenha participado de alguma instituição de sua época, apenas que foi expulso da sinagoga de Cafarnaum. Não esteve ligado aos Fariseus e nem aos Saduceus, denominou-os de túmulos caiados, limpos exteriormente, no entanto, no seu interior só havia podridão de pecado. Nem tão pouco pediu para seus seguidores se filiarem a alguma instituição. Compreender os seus ensinamentos é ter a oportunidade de se tornar membro do Seu Corpo, que é a verdadeira Igreja. Realmente, todas as nações da terra praticam uma religiosidade, é inerente ao ser humano a ligação com o divino, ou um ser superior que gerou todo o universo. Dentre todas as instituições religiosas existentes no mundo, somente o cristianismo oferece a salvação por meio da “graça”, do favor imerecido e sem pagamento, quando praticado mediante a hermenêutica e a exegese da Palavra. Quando se remove o significado original da palavra “Igreja”, empregado por Jesus Cristo já começa a direcionar a gratuidade para o comércio. O apóstolo Paulo escreve sobre suas alegrias em meio às dificuldades que passou para instruir a Igreja, a qual é o Corpo de Cristo e disse: “Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a Igreja” (COLOSSENSES 1:24). A verdadeira Igreja de Cristo é composta por membros que praticam Sua Palavra e, para que a pratiquem é necessário que a conheçam e, para que conheçam, é necessário quem a ensine; foi para isto que Jesus preparou os doze discípulos e disse-lhes ide e fazei novos discípulos, batizando-os em nome do Pai, Filho e do Espírito Santo. Contudo, seus ensinamentos ficaram sujeito às facções religiosas, que visam lucro, prestígio e poder entre as nações e as suas pedagogias destinam-se à submissão e não à libertação. Após o longo período medieval que percorreu os manuscritos e por todas as dificuldades do saber, os quais ficaram submetidos os ensinamentos de Jesus, surgiram os tipos móveis e Gutenberg realiza a primeira impressão da bíblia. 99 A descoberta foi um enorme abalo no controle exclusivo da instituição católica, que tinha a bíblia em seu índex (catalogo dos livros cuja leitura era proibida), as quais somente o clero poderia ter o acesso. O descontrole causado pela palavra impressa percorreu rapidamente vários países da Europa e contribuiu para o sucesso dos protestos contra a venda de indulgências. De fato, até o advento da imprensa tipográfica o povo se encontrava completamente desprovido da capacidade de compreensão do evangelho, pois tudo que contrariasse os concílios do vaticano era eliminado pelas fogueiras da inquisição. Sendo o Brasil um país laico, onde vigora uma lei de diretrizes e bases para a educação, o ensino religioso acaba sendo motivo de dissensão e discórdia ao invés de contribuir para a paz, de acordo com o que foi constatado em nosso capítulo 3. O fato é que esta lei impõe, para ministrar tais aulas, que o professor esteja engajado num sistema religioso denominacional e credenciado por algum superior. Isto gera discórdia e intrigas religiosas no recinto escolar, já que o povo brasileiro está fragmentado em várias religiões dentro do cristianismo, ou seja, servindo várias outras formas doutrinárias que seguem parcialmente os ensinamentos de Jesus. Se o ensino do cristianismo fosse pautado exclusivamente pela hermenêutica e exegese dos textos bíblicos, sem fazer apologia a qualquer denominação esta lei seria mais eficiente e democrática. Contudo ainda tenta-se preservar a paz. Entre os acordos da política e a religião quem sai perdendo é o povo. As leis aprovadas que favorecem isenção de impostos para estas instituições agravam a própria educação, assim também como a saúde e o lazer. Os recursos destinados aos restauros de templos religiosos poderiam construir escolas e remunerar melhor os professores, pois os bens adquiridos por estas denominações (universidades, gráficas e tantas outras) geram lucros financeiros e podem arcar com suas despesas sem o favorecimento estatal. Neste percurso, quando nos referimos ao Brasil como um país cristão, há de se pensar sobre qual cristianismo nos referimos, se a um cristianismo institucionalizado e denominacional, repleto de normas humanas e suas imposições, ou a um cristianismo conduzido unicamente pela hermenêutica e exegese dos textos bíblicos. As tecnologias, que poderiam transmitir a mensagem das Boas Novas de Jesus pela Graça, estão nas mãos dos mercenários. O amor ao próximo se tornou algo frio, assim como as imagens 100 televisivas, de acordo com nossos estudos. Como se não bastasse para as instituições religiosas possuírem apenas os veículos de comunicação rádio e a TV, também apossaram das salas de projeção cinematográficas e as transformaram em basílicas comerciais, destinando-as ao dispositivo religioso de suas denominações. O estudo bíblico denominacional ficou ideologizado pelos programas radiofônicos e televisivos sem nenhuma margem para a interatividade, de acordo com nossa pesquisa. Diferente e inovador entre os veículos apresentados, o computador, por meio da internet, na rede mundial, cumpre um papel facilitador para o estudo bíblico, disponibilizando os ensinamentos de Jesus e permitindo a interação do usuário entre perguntas e respostas. Esta interação fora do sistema religioso institucionalizado é que faz a diferença para o correto aprendizado dos ensinamentos de Jesus. Assim posto, por meio da internet, usando sites específicos para esta finalidade, o estudante que queira aprender os ensinamentos de Jesus pode acessar os estudos bíblicos, estudar e receber informações gratuitas, sem a necessidade de se filiar a alguma instituição religiosa. Para concluir, podemos dizer que os vendilhões do templo, que agiam na época de Jesus, continuam agindo impiedosamente, formulando suas próprias ideologias, pois, tratando-se de dinheiro, não se satisfazem nunca. Fazendo uso de uma metáfora, encerramos afirmando, que tais vendilhões são lobos de ventre famintos; com intenções de apascentar as ovelhas, devoram-nas. 101 REFERÊNCIAS 1. Bibliografia ABRAMOVAY, M. Violência nas escolas: Versão resumida. Brasília: UNESCO Brasil, Rede Pitágoras, 2003. ALBERTO ANTONIAZZI et al. Nem Anjos Nem Demônios: Interpretações Sociológicas do Pentecostalismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. ALET, X. B. I. História da Arte. 2ª ed. Campinas: Papirus, 1994. ALTHUSSER, L. Aparelhos Ideológicos de Estado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Circulo do Livro, 1996. -------------- Arte Retórica e Arte Poética. Rio de Janeiro: Tecnoprint Gráfica Editora, 1969. ARNHEIM, R. Arte e Percepção Visual. Uma psicologia da visão. São Paulo: Pioneira, 2001. ARROYO, F. História geral da pedagogia. São Paulo: Editora Artegráfica, 1969. AZENHA, M. Construtivismo de Piaget a Emília Ferreiro. São Paulo: Editora Ática, 2003. BARDIN, L. 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RECUERO, R. Cinco pontos sobre redes sociais na internet. Jornalistas da Web. http://www.jornalistasdaweb.com.br/[email protected]. Acesso em 29.11.2010. 3. 1. Livros em CD BUARQUE de HOLANDA, Aurélio Ferreira, Novo Dicionário Eletrônico Aurélio, versão 5.0, Edição eletrônica autorizada a POSITIVO INFORMÁTICA LTDA, 2004. ENCARTA. Microsoft Corporation, Enciclopédia Microsoft Encarta.1993-2001. 109 ANEXOS Roubando a palavra de Deus Roubar é um pecado lamentoso, citado com outros pecados lamentosos. Aqueles que cometem tais pecados não herdarão o reino de Deus. “Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus” (1 Coríntios 6:9-10). Uma pessoa pode roubar de Deus segurando aquilo que é de Deus por direito – negligenciando dar conforme prosperou (1 Coríntios 16:1-2; Malaquias 3:8-10). Uma pessoa pode até roubar a palavra de Deus. Deus fez esta acusação contra os profetas de Judá. “Portanto, eis que eu sou contra esses profetas, diz o SENHOR, que furtam as minhas palavras, cada um ao seu companheiro” (Jeremias 23:30). Eles roubaram a palavra de Deus ensinado a sua própria palavra ao povo em vez de ensinar a palavra de Deus. Isso continua hoje. Cristo, com toda a autoridade na terra e no céu, claramente disse, “Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado” (Marcos 16:16). Quando alguém ensina a salvação pela fé somente, ele rouba das pessoas aquilo que Jesus realmente falou. Jesus disse, “Quem crer ...” [mas ele não parou aqui] “... e for batizado será salvo.” Ensinar que o batismo não é essencial para a salvação é cometer o mesmo erro pelo qual Deus condenou os profetas de Judá. A carta de Tiago, no Novo Testamento, apresentou dificuldades enormes para Lutero, devido ao conceito dele de salvação pela fé somente. Ele chamou-a de uma epístola de palha. Ela ainda dá enormes problemas aos advogados da doutrina de Lutero, pois Tiago disse, “Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente” (Tiago 2:24). Paulo disse, “Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado” (Efésios 4:28). Se isso é um bom conselho em relação a assuntos materiais, quanto mais em assuntos espirituais quando milhões e milhões de pessoas em cada geração precisam da salvação! Não roube dos perdidos no mundo a palavra do Filho de Deus que lhes conta o que devem fazer para serem salvos dos pecados e das suas conseqüências horríveis. 110 Não esqueça o que Deus disse aos falsos profetas de Judá: “Portanto, eis que eu sou contra esses profetas, diz o SENHOR, que furtam as minhas palavras, cada um ao seu companheiro” (Jeremias 23:30). –por Billy Norris A queda e restauração de Pedro Pedro havia seguido Jesus de certa distância quando Jesus fora levado para ser julgado pelos principais sacerdotes e pelo Sinédrio. Testemunhas falsas haviam mentido a seu respeito. Alguns haviam cuspido nele. Outros baterem nele com as mãos, zombaram dele. "Estando Pedro embaixo no pátio, veio uma das criadas do sumo sacerdote e, vendo a Pedro, que se aquentava, fixou-o e disse: Tu também estavas com Jesus, o Nazareno. Mas ele o negou, dizendo: Não o conheço, nem compreendo o que dizes. E saiu para o alpendre. [E o galo cantou.] E a criada, vendo-o, tornou a dizer aos circunstantes: Este é um deles. Mas ele outra vez o negou. E, pouco depois, os que ali estavam disseram a Pedro: Verdadeiramente, és um deles, porque também tu és Galileu. Ele, porém, começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais! E logo cantou o galo pela segunda vez. Então, Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: Antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes. E, caindo em si, desatou a chorar" (Marcos 14:66-72). Algumas horas antes, Pedro havia jurado ficar ao lado de Jesus, e até morrer com ele, se necessário, independente do que os outros fizessem (Marcos 14:29-31). Não duvidamos da sua sinceridade, nem questionamos suas intenções, mas como Jesus disse, "O espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca" (Marcos 14:38). Então quando os soldados vieram prender Jesus, Pedro tirou sua espada e teria lutado até a morte. Naquela hora, ele ainda não entendia a natureza pacífica do reino de Jesus. Sendo reprimido e ordenado a guardar sua espada, e vendo o Senhor milagrosamente curar o homem que ele havia ferido deve ter o confundido bastante. E depois assistir mentirem sobre seu Senhor, cuspirem nele, baterem nele e zombarem dele enquanto ele não dizia e nem fazia nada em sua própria defesa. A vergonha e desgraça eram tantas que Pedro, com todas as suas boas intenções – sucumbiu à fraqueza da carne. O homem que fora tão confiante – talvez confiante demais – de sua devoção a Jesus, encontrava-se negando até mesmo que o conhecia. Negar seu Senhor com uma maldição e um juramento. Assim como Jesus predisse que ele faria (Marcos 14:30). 111 Aprendemos, observando as ações de Simão Pedro, que é preciso ter menos coragem para carregar uma espada do que para carregar a vergonha da cruz. Mas Jesus disse, "Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me." (Marcos 8:34 ). Regozijamos que a negação de Pedro a respeito de Jesus foi uma recaída temporária. Ele arrependeu-se e continuou em frente para tornar-se um dos cristãos mais eficazes e mais influentes que já viveu. Que Deus permita que nós, também, possamos superar nossas fraquezas e sermos servos fieis de Deus. –por Clarence R. Johnson O valor do estudo bíblico É essencial que tenhamos um bom senso de valores. Sabemos que isso é verdade no dia-adia. Sai caro ao comprar ou vender se não tivermos um senso correto de valores. A Bíblia mostra os naufrágios de muitos que não tinham um discernimento de valores – Ló, Esaú, Balaão, Judas e Demas. Nós reconhecemos o valor do estudo da bíblia? A fim de ter o valor correto do estudo bíblico, temos primeiro que ter um valor apropriado da bíblia. Para aqueles que provavelmente vão ler isso, você já sabe o valor da Bíblia. Sabemos que é muito proveitoso como guia para esta vida e para apontar o caminho para a vida eterna. Podemos falar da boca para fora do seu valor, mas se realmente a valorizamos, iremos estudá-la. Vamos rever alguns motivos que nos lembram o valor do estudo bíblico. Dá-nos fé (João 20:31). A fé é necessária para a conversão (Atos 15:7) e para agradar a Deus (Hebreus 11:6). É essencial para o filho de Deus pois “o justo viverá por fé” (Romanos 1:17). A fé é nosso escudo (Efésios 6:16) e nos dará a vitória (1 João 5:4). Irá fortalecer nossa esperança que pode nos salvar (Romanos 8:24). Irá estimular nosso desejo de ir para o céu e nos dará a segurança de que estamos a caminho. Servirá de âncora nas tempestades da vida (Hebreus 6:18-20). O estudo bíblico nos fará sábios naquilo que realmente importa (Salmo 119:98-99). Isto é, o estudo vai nos fazer sábios se continuarmos nas coisas aprendidas (2 Timóteo 3:14-15). O estudo da palavra nos guarda do pecado (Salmo 119:9, 11) e nos capacitará para superar o pecado (1 João 2:4). O estudo da Bíblia nos ajudará a evitar a apostasia (Salmo 37:31). A falta de conhecimento da palavra de Deus leva a destruição (Oseías 4:6). 112 Dá alegria (Salmo 19:8). O mundo enganado não acredita, mas a alegria completa se encontra em Deus (1 João 1:4). O estudo faz-nos capazes de ter alegria mesmo nas coisas ruins (Tiago 1:2-4; Romanos 8:28). O estudo da Bíblia consola (Salmo 119:92). Quando um ente querido parte deste mundo, nada pode nos consolar como a Bíblia (1 Tessalonicenses 4:18). Haverá horas na vida de cada um em que precisaremos de consolo. O estudo nos capacitará a encontrar consolo. Fornece alimento para a alma (Mateus 4:4). Tem uma receita apropriada para a criança e outra para o maduro (1 Pedro 2:2). A palavra de Deus deve ser mais desejada do que ouro e todas as coisas materiais (Salmo 19:10). Tem bons frutos (Mateus 7:16). Tem um efeito exaltante na humanidade. Tem liberdade avançada. Opõem-se as coisas que corrompem. Levanta a moralidade e dá dignidade às mulheres. Salva a alma quando recebida corretamente (Tiago 1:21). Não é fria nem morta, mas é como um fogo (Jeremias 23:29) e é viva e poderosa (Hebreus 4:12). Levou 3.000 pessoas a procurarem a salvação em Cristo no dia de Pentecostes (Atos 2). Se conhecermos e cremos nestas coisas, o estudo da Bíblia fará parte do nosso dia-a-dia. –por Robert W. Goodman