ESTIMATIVA DO COEFICIENTE DE DIFUSÃO E DA ISOTERMA DE ADSORÇÃO EM PROCESSO DE SEPARAÇÃO DE PROTEÍNAS João Flávio Vieira de Vasconcellos - [email protected] LEMA- Laboratório de Experimentação e Simulação Numérica em Transferência de Calor e Massa Departamento de Engenharia Mecânica e Energia Instituto Politécnico, IPRJ, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ CP 97282, 28.601-970, Nova Friburgo, RJ, Brasil Antônio J. Silva Neto - [email protected] e [email protected] LEMA- Laboratório de Experimentação e Simulação Numérica em Transferência de Calor e Massa Departamento de Engenharia Mecânica e Energia Instituto Politécnico, IPRJ, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ CP 97282, 28.601-970, Nova Friburgo, RJ, Brasil Programa de Engenharia Nuclear – COPPE Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ CP 68509, 21.945-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil César Costapinto Santana [email protected] Faculdade de Engenharia Química - Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP CP 6.066, CEP 13.081-970, Campinas, SP, Brasil Resumo. A cromatografia envolve o movimento de macromoléculas de uma solução líquida para regiões localizadas no interior de adsorventes. Os mecanismos de transferência de massa que controlam este movimento são a difusão externa, a difusão nos poros e a capacidade que possui um adsorvente de adsorver um determinado adsorvato. Neste trabalho são estimados o coeficiente de transferência de massa por difusão e a efetiva difusividade da proteína na partícula utilizando-se uma formulação implícita baseada no método de minimização de Levenberg-Marquardt. O problema analisado neste trabalho é o da cromatografia em banho agitado. Na solução implícita utilizada, o problema direto é resolvido diversas vezes para a obtenção da solução do problema inverso. O problema direto foi resolvido utilizando-se o método de volumes finitos e foi validado com dados experimentais de concentração da albumina do soro bovino em uma resina de troca iônica conhecida como Accell Plus QMA Palavras-chave: Cromatografia, Problema Inverso, Método dos Volumes Finitos, Transferência de Massa 1. Introdução A adsorção de proteínas tem sido utilizada na análise e na purificação de biomoléculas pela indústria de fármacos e de biotecnologia. Este processo se realiza através do movimento de macromoléculas de uma solução líquida para o interior dos poros de um adsorvente previamente selecionado. A velocidade do processo é governada pela difusão externa, pela difusão nos poros e pela capacidade que possui um adsorvente de adsorver um determinado adsorvato (Silva et al., 1999). Conhecer a mecânica deste processo é um passo imprescindível para o desenvolvimento de equipamentos de adsorção em escala industrial. Os grupos ionizáveis dos aminoácidos que compõem as proteínas, conferem a estas uma natureza poliônica responsável pelas interações eletrostáticas sobre as resinas adsorventes apropriadas. As moléculas de proteína se ligam ao adsorvente ao deslocarem os contra-íons que se situam nos poros das resinas. Como conseqüência deste fenômeno, na região de adsorção a resina se torna eletricamente neutra. Este mecanismo de adsorção recebe o nome de troca de íons e possui grande importância na separação de proteínas (Quadri et al., 1998). O objetivo deste trabalho é o de estimar o coeficiente de transferência de massa e o coeficiente de difusividade efetiva, com base em dados experimentais obtidos por Silva et al. (1999) e na solução numérica do conjunto de equações diferenciais que governa o problema. Este conjunto de equações é discretizado utilizando-se o método de volumes finitos. A determinação dos coeficientes supracitados é feita através da aplicação do método de Levenberg-Marquardt. As equações diferenciais que governam o processo de troca iônica podem ser aplicadas para um número sem fim de combinações adsorvente/adsorvato. Neste trabalho será tratada especificamente a combinação de BSA e Accell Plus QMA, ou seja, albumina do soro bovino, do inglês Bovine Serum Albumin, em uma resina de troca iônica conhecida como Accell Plus QMA. BSA é uma proteína que ocorre na natureza (leite e sangue de animais), sendo muito utilizada como proteína modelo em vários estudos, pois a sua estrutura bioquímica e suas propriedades são amplamente conhecidas. 2. Apresentação do Problema A Fig. 1 mostra uma representação esquemática do experimento que foi realizado por Silva et al. (1999). O experimento consiste na utilização de um banho agitado garantindo que a mistura adsorvatoadsorvente seja homogênea e isotérmica. No experimento uma solução, com uma determinada concentração inicial de adsorvato, previamente estipulada, circula através do sistema de monitoramento para se obter a variação da concentração nesta solução com o tempo. No experimento realizado por Silva et al. (1999) utilizou-se a resina Accell Plus QMA cuja massa específica é 1,16 g/cm3, um diâmetro médio de partícula de 46 µm e uma porosidade média do leito de 0,60 . Figura 1 - Representação do esquema experimental da adsorção em um banho agitado 3. Formulação Matemática do Problema Direto Neste trabalho são utilizadas duas equações diferenciais para modelar o transporte das partículas de proteína do líquido para a resina. Estas equações são baseadas em algumas hipóteses simplificadoras (Horstmann e Chase, 1989): As partículas dos adsorventes são esféricas, com raio R, e uniformes; O adsorvente é construído de material poroso, no qual o soluto irá se difundir. O coeficiente de difusividade , Def , é independente da concentração de proteína; O transporte de massa na superfície do adsorvente é governado por um modelo de filme que é caracterizado pelo coeficiente de transferência de massa, ks; e A adsorção é isotérmica e, no equilíbrio, pode ser descrita utilizando-se a equação de Langmuir. A primeira equação apresenta o comportamento da concentração de proteína na fase líquida: ∂Cb 3 1 − εb =− k s ( Cb − Ci ∂t R εb r =R ) (1) onde Cb é a concentração de proteínas no líquido, ε b é a porosidade do leito de partículas. Observe que pela característica do problema analisado, esta concentração é função exclusiva do tempo e não da posição. Esta equação está sujeita à seguinte condição inicial Cb = C0 em t = 0 (2) A segunda equação descreve o comportamento da concentração de proteína na resina. Diferentemente do que ocorreu na equação anterior, a concentração de proteína no interior da matriz porosa varia com o tempo e com a posição. ∂Ci Ψ ∂ 2 ∂Ci = 2 r ∂t r ∂r ∂r (3) onde Ψ= 1+ Def ρ qm k d ε p ( kd + Ci ) (4) 2 e ρ é a massa específica da resina, εp é a porosidade da resina e qm e kd são as constantes do modelo de Langmuir apresentado a seguir. q= qm Ci k d + Ci (5) A Eq. (3) está sujeita às seguintes condições de contorno ∂Ci = 0 em r = 0 ∂r ε p Def ∂Ci = k s ( Cb − Ci ) em r = R ∂r (6) (7) e à seguinte condição inicial Ci = 0 em t = 0 (8) Conforme pode ser visto nas Eqs. (1-2) e Eqs. (3-7), existe um acoplamento entre as concentrações de proteína nos dois meios. A concentração na fase líquida depende da concentração na fase sólida e viceversa. Matematicamente este acoplamento entre as Eqs. (1) e (3) está expresso pela Eq. (7). A forma como o acoplamento aparece nas equações diferenciais, via condição de contorno, é um fator de dificuldade na elaboração do método numérico que irá resolver estas equações. Detalhes sobre a obtenção destas equações podem ser encontrados em Blanch e Clark (1997) ou em Ma et al. (1996), entre outros. 4. Solução Numérica do Problema Direto Existem várias maneiras de se resolver numericamente as equações diferenciais (1) e (3). Numa revisão da literatura, o método de diferenças finitas foi o mais utilizado na solução destas equações. Entre os autores que utilizaram este método de discretização das equações diferenciais, citamos Horstmann e Chase (1989) e Conder e Hayek (2000). Utilizando-se de transformadas de Laplace, Membrez et al. (1996) obtiveram a solução exata das equações (1) e (3) no plano transformado. Através da aplicação de um ajuste de curvas, as constantes do modelo eram facilmente obtidas. Os resultados apresentados neste trabalho eram bastante satisfatórios. Até onde estes autores puderam determinar, o único trabalho que utilizou o método de volumes finitos é aquele apresentado por Quadri et al. (1998), onde os autores investigaram a dinâmica de uma coluna de adsorção cujas equações são similares àquelas analisadas no presente trabalho. No presente trabalho é utilizado o método de volumes finitos (Patankar, 1980) na discretização da Eq. (3). Uma partícula típica, que é representada por uma esfera de raio R, foi discretizada em regiões com iguais espessuras ∆r. A Fig. 2 apresenta o esquema de um volume utilizado na discretização da Eq. (3). A equação, na forma discretizada, para um volume típico interno é a seguinte: AP CiP = AE CiE + AW CiW + S P (9) onde AE = Ψ P re2 r2 r 3 − rw3 r 3 − rw3 o , AW = Ψ P w , AP = e + AE + AW , S P = e Cip 3∆t 3∆t ∆r ∆r (10) O índice “o” que aparece na equação de S P indica que a variável CiP utilizada é a do intervalo de tempo anterior. O valor de Ψ P é definido da seguinte forma ΨP = 1+ Def ρ qm kd ε p ( kd + CiP ) (11) 2 Figura 2 - Volume finito típico utilizado no mapeamento das esferas da matriz porosa Para o primeiro volume, o da região mais central da partícula, os coeficientes da Eq. (9) ficam da seguinte forma AW = 0 , AE = Ψ P re2 r3 r3 , AP = e + AE , S P = e Cipo 3∆t 3∆t ∆r (12) Há uma dificuldade na determinação da equação discretizada para o volume mais externo. Como a variável Ci está armazenada no centro do volume, de alguma maneira é preciso determinar tanto o valor de Ci na fronteira, para utilizá-lo na Eq. (1), como o da sua derivada, para utilizar na Eq. (7). O valor de Ci na fronteira foi obtido utilizando-se série de Taylor, um ponto interno da matriz porosa e a concentração na fase líquida, Cb . Esta equação satisfaz a condição de contorno imposta pela Eq. (7). Ci ( r = R, t ) = 9Ci [ nr ] − Ci [ nr − 1] + 3 ∆r k s ε p Def Cb (13) ∆r k s 8+3 ε p Def onde Ci [ nr ] e Ci [ nr − 1] são, respectivamente, o último e o penúltimo pontos calculados dentro da matriz porosa. Utilizando-se de uma sugestão do trabalho de Conder e Hayek (2000), determinou-se a derivada de Ci na fronteira. ∆Ci ∆r = C f − Ci [ nr ] (14) ∆r r=R onde C f = Ci [ nr ] + ∆r k s ε p Def (C b − Ci [ nr ]) (15) Com a determinação do valor de Ci e de sua derivada na fronteira, a equação do volume finito pode ser montada para este último volume. Assim, os coeficientes da Eq. (9), para este último volume, ficam AE = 0 , AW = Ψ P rw2 R 3 − rw3 R 3 − rw3 o ∆Ci Cip + Ψ P , AP = + Aw , S P = 3∆t ∆r ∆r 3∆t (16) r=R A Eq. (9) para cada um dos volumes é um sistema de equações linearizadas. Para obter-se os valores de C i para cada um dos volumes é necessário resolver este conjunto de equações. Neste presente trabalho utilizou-se a biblioteca PETSC (Balay et al., 1996) para realizar esta tarefa, utilizando-se o GMRES (Saad e Schultz, 1986) como precondicionador dos sistemas lineares. Note-se que os coeficientes das equações que irá determinar o valor de C i depende do próprio valor de C i . Para resolver este problema, associado à não-linearidade da equação diferencial, um processo iterativo precisa ser realizado para determinar C i em cada instante de tempo. A equação que governa o transporte de massa na fase líquida é discretizada utilizando-se uma conhecida equação de diferenças finitas (Huang et al., 1997) f t +∆t − f t 1 ∂f ∆t ∂ 2 f = − ∆t 2 ∂t 6 ∂t 2 t +∆t 1 ∂f ∆t ∂ 2 f + + 2 ∂t 6 ∂t 2 t (17) Assumindo-se que ∂Cb ∂Ci ≅ ∂t ∂t (18) r =R pode-se chegar à equação de atualização de Cb = Cbo + ∆t 1 − ε b 3 ∆C Def ε p i ∆r 2 εb R ∆Ci + r=R ∆r r =R o (19) Note-se que na Eq (19), uma das derivadas é avaliada no tempo anterior, mas a outra não o é. Por isto há a necessidade de se realizar um processo iterativo para a determinação correta desta derivada, através das Eqs. (14) e (15), no intervalo de tempo desejado. O processo iterativo utilizado foi o seguinte: 1] Inicializar Cb e Ci ; 2] Calcular C f e 3] Calcular C f e ∆Ci ∆r r=R ∆Ci ∆r r=R , Eqs. (15) e (14), utilizando os valores iniciais de Cb e Ci ; , Eqs. (15) e (14), utilizando os valores atualizados de Cb e Ci ; 4] Calcular Cb , Eq. (19); 5] Resolver o sistema linear de equações, Eq. (9), e obter Ci ; 6] Voltar ao item 3 até que a variação de Cb entre duas iterações seja menor que uma tolerância preestabelecida; 7] Fazer o avanço no tempo e voltar ao passo 2 até que o tempo seja maior do que um tempo máximo especificado. 5. Formulação Matemática do Problema Inverso Neste trabalho é considerado o problema inverso de estimativa do vetor de incógnitas r T Z = { Def , qm } (20) usando os valores de concentração no líquido obtidos por Silva et al. (1999). A escolha por estas duas variáveis está associada à análise de sensibilidade realizada. Beck (1988) classifica os problemas inversos em dois grupos: (i) estimativa de parâmetros; e (ii) estimativa de funções. O problema inverso aqui considerado consiste, portanto, em uma estimativa de parâmetros. Conforme apresentado na Tabela 1, Silva Neto e Moura Neto (1999) propuseram uma classificação que leva em consideração a dimensão dos objetos matemáticos envolvidos. Neste caso o problema sob análise é um problema inverso do Tipo II, uma vez que o modelo é dado por um sistema de equações diferenciais parciais e as grandezas a serem determinadas são de dimensão finita. Tabela 1 – Classificação de Problemas Inversos Dimensão da grandeza a ser estimada Dimensão do Modelo Finita (constante) Infinita (função) Tipo I Tipo II não se aplica Tipo III 1 Finita 2 Infinita 1 Por exemplo: sistema de equações algébricas. 2 Por exemplo: equação diferencial parcial ou equação integro-diferencial. Devido ao provável excesso de dados experimentais com relação ao número de incógnitas, o problema inverso aqui tratado é resolvido como um problema de otimização de dimensão finita, onde é minimizado o funcional dado pela soma dos resíduos quadrados, L L r r r 2 2 Q( Z ) = ∑ Ccalc ( ti ) − Cmed ( ti ) ou Q = ∑ ( Ci − Yi ) = F T F i =1 (21) i =1 onde L é o número de medidas experimentais efetuadas por cada sensor e Ci e Yi representam em uma notação compacta, respectivamente, a concentração na fase líquida calculada e a concentração na fase líquida medida no mesmo instante de tempo, com i = 1, 2, ..., L , e deve-se observar que Fi = Ci – Yi. 6. Solução do Problema Inverso - Método de Levenberg-Marquardt O método de Levenberg-Marquardt (Marquardt, 1963) é semelhante ao uso do funcional de Tikhonov com o termo de regularização quadrático (Silva Neto e Moura Neto, 1999), ou seja, a partir da Eq. (21) se escreve r r r r Q( Z ) = F T F + α Z 2 (22) onde α é o parâmetro de regularização. r O ponto de mínimo satisfaz a equação de ponto crítico, i.e., ∂Q ∂Z = 0 . Para resolver este sistema de equações é feita uma expansão de Taylor levando então a uma formulação equivalente àquela obtida com o método de Levenberg-Marquardt (Silva Neto e Carvalho, 1999) (J T r r J + α I ) ∆Z = − J T F onde I é a matriz identidade, J é a matriz Jacobiana com os elementos ∂C p , com p=1,2,..., L e S=1, 2, ... N J ps = ∂Z s (23) (24) r e ∆Z é a correção do vetor de incógnitas, sendo N o número total de incógnitas. No problema inverso considerado neste trabalho tem-se N = 2. A Eq. (23) é escrita na forma a ser usada em um procedimento iterativo, r T T r ∆Z n = −( J n J n + α n I) −1 J n F n (25) onde n representa o contador de iterações, e uma nova estimativa para o vetor de incógnitas é calculada usando r r r Z n +1 = Z n + ∆Z n , com n=0, 1, 2, ... (26) r com Z 0 sendo a estimativa inicial. O procedimento iterativo descrito pelas Eqs. (25) e (26) é interrompido quando um critério de convergência definido a priori é satisfeito, como por exemplo ∆Z sn Z sn < δ , com s= 1, 2, (27) onde δ é um número relativamente pequeno preestabelecido, e. g. 10–5. 7. Análise de Sensibilidade dos Coeficientes A estimativa dos parâmetros como mencionada anteriormente não pode ser feita para qualquer combinação de parâmetros. Aqueles parâmetros cuja variação impliquem em uma pequena variação da concentração não poderão ser estimados. Em outras palavras, somente aqueles coeficientes que não possuírem baixa sensibilidade é que poderão ser estimados. Além do mais, para que seja possível determinar um coeficiente, no intervalo de tempo que se deseja realizar a estimativa, sua curva de sensibilidade não poderá ser linearmente dependente a de nenhum outro parâmetro (Beck et al., 1985) O coeficiente de sensibilidade (modificado) relativo a uma incógnita β s qualquer é obtido utilizando-se a equação abaixo X s (t ) = ∂Cb ( t ) ∂β s β s , s= 1, 2, ..., Np (28) onde Np é o número de parâmetros. A derivada na Eq. (28) pode ser calculada pela seguinte aproximação numérica ∂Cb ( t ) ∂β s = Cb ( β1 , β 2 ,L , β s + ∆β s ,L , β Np ) − Cb ( β1 , β 2 ,L , β s − ∆β s ,L , β Np ) 2∆β s , s= 1, 2, ..., Np (29) 8. Resultados Os primeiros resultados apresentados na Fig. 3 são da comparação entre a solução numérica do problema direto com os dados experimentais obtidos por Silva et al. (1999). Os resultados apresentados por esta figura indicam uma boa concordância entre os dados experimentais e o modelo direto. A Fig. 4 apresenta a curva de sensibilidade para o caso de C0=2,0 mg/ml. Observe-se que segundo esta figura, somente poderão ser estimados, utilizando-se a metodologia de problemas inversos apresentadas aqui, os coeficientes Def , qm e ε p . Como Def e ε p são linearmente dependentes e ε p pode ser obtido de outras maneiras mais precisas, e os dois outros valores não, optou-se por escolher estes dois primeiros coeficientes para a realização da estimativa. Outra informação importante que a Fig. 4 traz diz respeito ao planejamento do experimento e à simulação numérica do problema direto. Da Fig. 4 pode-se prever que somente os dados obtidos num tempo inferior a 11 minutos é que poderão ser utilizados para a determinação dos coeficientes. Desta forma, tanto o experimento quanto a simulação numérica do problema direto não precisarão ser realizados para tempos superiores a este. Este comportamento se repetiu para todos os outros valores de concentração iniciais analisados. 1.2 Dados Experimentais Presente Trabalho 1.0 0.8 C0 = 4,0 mg / ml Cb / C0 0.6 C0 = 3,0 mg / ml 0.4 0.2 C0 = 2,0 mg / ml 0.0 -0.2 C0 = 1,5 mg / ml 0 50 100 150 200 Tempo [min] Figura 3 - Comparação entre o resultado da simulação numérica e dados obtidos experimentalmente Os resultados numéricos foram gerados utilizando-se os seguintes dados de entrada kd = 0, 0051 mg/ml , ε p = 0, 6 , ε b = 0,992 . Na Tabela 2 são apresentados os valores do coeficiente de transferência de massa, ks para os diversos valores de concentração inicial utilizados neste artigo. Sensibilidade dos coeficientes para C0=2.0 [mg/ml] 0.05 Kd and Ks 0.00 Sensibilidade -0.05 -0.10 -0.15 εp and Deff -0.20 -0.25 -0.30 -0.35 qm -0.40 -0.45 0 2 4 6 8 10 Tempo [min] Figura 4 - Curva de sensibilidade dos coeficientes para C0 = 2,0 mg/ml Em todos os resultados apresentados neste trabalho, o número de volumes finitos utilizados na discretização da esfera representativa da matriz porosa, nr, foi igual a 30 e o passo de tempo de 1 s. Na Tabela 3 são apresentados os resultados da estimativa da difusividade efetiva, Def , e de uma das constantes do modelo de Langmuir, qm , para diversos valores de concentração inicial. Os valores da difusividade efetiva apresentados neste artigo são bastante próximos aos apresentados por Silva et al. (1999). Uma análise mais completa deste problema pode ser encontrada em Vasconcellos et al. (2001). Tabela 2 –Valores de k s para as diversas concentrações iniciais utilizadas (Silva et al., 1999) Concentração Inicial [mg/ml] k s x 10 [cm/s] 1,50 2,00 3,00 4,00 20,17 6,88 4,05 0,58 2 Tabela 3 – Resultados obtidos com o problema inverso Coeficiente do Concentração Inicial Difusividade Efetiva Modelo de Langmuir [mg/ml] [cm2/s] qm [mg/g] 1.0 2.0 3.0 4.0 1,823E-06 6,570E-07 7,760E-07 2,160E-07 271,27 284,53 273,24 270,50 9. Conclusões Neste trabalho foi apresentada uma metodologia para a determinação do coeficiente de transferência de massa e do coeficiente de difusividade efetiva empregando o método de Levenberg-Marquardt para estimativa de parâmetros. A solução do problema direto foi obtida através do uso do método de volumes finitos. O método de volumes finitos para a solução do problema direto mostrou-se bastante satisfatório. Para os resultados apresentados neste artigo a concordância foi muito boa. O método de Levenberg-Marquardt para estimativa de parâmetros para este problema específico funcionou de forma adequada e, principalmente, mostrando ser um instrumento bastante eficiente para a análise de outros parâmetros destas mesmas equações ou de problemas similares ao apresentado neste trabalho. A análise de sensibilidade mostrou ser uma ferramenta bastante interessante para o planejamento do próprio método de Levenberg-Marquardt. Com uma análise de sensibilidade prévia do problema, muito trabalho computacional desnecessário pode ser evitado. Através do uso dos métodos direto e inverso, confirmou-se a conclusão de Silva et al. (1999) de que a difusividade efetiva varia com a concentração inicial. Também foi observada alguma dependência do coeficiente da isoterma de adsorção com o valor da concentração. Esta é uma informação relevante para o projeto de equipamentos de adsorção em larga escala. 10. Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPq, FAPERJ e FAPESP pelo apoio financeiro que permitiu a realização desta pesquisa. 11. Referências Beck, J. V., 1988, “Combined parameter and function estimation in heat transfer with application to contact conductance”, Journal of Heat Transfer, Vol. 110, Pag.. 1046-1058. Beck, J. V., Blackwell, B. e St. Clair Jr., C. R., 1985, Inverse Heat Conduction, Wiley, New York. Balay, S., Gropp, W., McInnes, L. C. e Smith, B., 1996, “PETSC 2.0 user manual”, Argone National Laboratory, USA. Conder, J. R. e Hayek, B. O., 2000, “Adsorption kinetics and equilibria of bovine serum albumin on rigid ion-exchange and hydrophobic interaction chromatography matrices in a stirred cell”, Biochemical Engenieering Journal, Vol. 6, pag. 215-223. Horstman, B. J. e Chase, H. A., 1989, “Modelling the affinity adsorption of immunoglobulin G to protein A immobilised to agarose matrices”, Chem. Eng. Res. Dev., Vol. 67, no 3, pag. 243-254. Huang, K., Simunek, J. e Van Genuchten, M. Th., 1997, “A third-order numerical scheme with upwind weighting for solving the solute transport equation”, International Journal for Numerical Methods in Engineering, Vol. 40, pag. 1623-1637. Ma, Z. Whitley, R. D. e Wang, N. H. L., 1996, “Pore and sufarce diffusion in multicomponent adsorption and liquid chromatography systems”, AIChE Journal, Vol. 42, no 5, pag. 1244-1262. Marquardt, D. W., 1963, “An algorithm for least-squares estimation of nonlinear parameters”, J. Soc. Industr. Appl. Math., Vol. 11, pag. 431-441. Membrez, J., Infelta, P. P. e Renken, A., 1996, “Use of the Laplace transform technique for simple kinetic parameters evaluation. Aplication to the adsorption of a protein on porous beads”, Chemical Engineering Science, Vol. 51, no 19, pag. 4489-4498. Patankar, S. V., 1980, “Numerical heat transfer and fluid flow”, Hemisphere Publishing Corporation, New York. Quadri, M. B., Cruz, J. M., e Santana, C. C., 1998, “Modelagem numérica do processo de adsorção em coluna de insulina sobre a resina Accel Plus”, Anais do II Encontro Brasileiro de Adsorção, pag. 231240. Saad, Y. e Schultz, M. H., 1986, “GMRES: A generalized minimal residual algorithm for solving nonsymmetric linear systems”, SIAM Journal of Sci. Stat. Comput., Vol. 7, no 3, pag. 856-869. Silva, F. R. C., Pereira, J. A. M., Araújo, M. O. D. e Santana, C. C., 1999, “Mass transfer parameters evaluation in protein adsorption on macroporous resin”, Hungarian Journal of Industrial Chemistry, Vol. 27, pag. 183-187. Silva Neto, A. J. e Carvalho, G., 1999, “O Projeto de Experimentos para a Caracterização Térmica de Polímeros com a Solução de Problemas Inversos”, Anais XV Congresso Brasileiro de Engenharia Mecânica, Águas de Lindóia, São Paulo. Silva Neto, A. J. e Moura Neto, F. D, 1999, “Escolha de Modelos – Problemas Inversos em Engenharia, Notas de Aula do Minicurso Técnico MC05”, XXII Congresso Nacional de Matemática Aplicada e Computacional, Santos. Vasconcellos, J. F. V., Silva Neto, A. J. e Santana, C. C., 2001, “An Inverse Mass Transfer in Chromatography Systems”, submetido para publicação. Diffusion Coefficient and Adsorption Isotherm Estimation in a Protein Separation Process Abstract. Chromatography systems involves the movement of macromolecules from a liquid solution to the active sites located in the interior of the pores of the adsorbent; therefore mass transfer mechanisms controls it. These mechanisms consist of external diffusion, the effective diffusion in the pores and the velocity of the adsorption on the active site of the adsorbent. In this work is estimated the mass transfer coefficients and the coefficients of the adsorption isotherm using an implicit formulation with the cost functional of the square residues, between calculated and measured concentrations, being minimized with the Levenberg-Marquardt method. One configuration was considered: the transient concentration experimental data is obtained in a stirred-bath system. In the implicit formulation considered here, the direct problem is solved several times in the iterative procedure used for the solution of the inverse problem. The solutions of the direct problems were obtained using the finite volume method, and were validated with real experimental data of the concentration for the protein Bovine Serum Albumin (BSA) on Accell Plus QMA® macroporous adsorbent resin using Tris-HCL buffer solution. Keywords: Chromatography, Inverse Problem, Finite Volume Method, Mass Transfer