Sistema de Contas Nacionais – Referência 2000 A partir de março deste ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) passará a publicar os dados das Contas Nacionais segundo nova referência, implementando modificações no Sistema de Contas Nacionais (SCN). Dentre as principais mudanças, assinalem-se: adoção do ano 2000 como referência inicial; ampliação da base de dados, passando-se a utilizar informações de diversas pesquisas do próprio instituto e de fontes externas; e alterações metodológicas na forma de mensurar a atividade em importantes segmentos da economia. A mudança do ano de referência inicial, de 1990 para 2000, tem como principal objetivo a incorporação de novas fontes de dados e de novas estruturas, visando refletir, com maior exatidão, o funcionamento real da economia. Essas incorporações, no entanto, não implicam modificações na estrutura conceitual do sistema, que permanece baseado nas Tabelas de Recursos e Usos (TRU) e nas Contas Econômicas Integradas (CEI) com valores a preços correntes e constantes do ano anterior, conforme recomendação do Sistema de Contas Nacionais (SNA) (1993)1. O novo SCN ampliará o detalhamento de atividades e produtos para as TRU e de setores para as CEI. A compilação das TRU, que vinha sendo detalhada por 80 produtos e 43 setores de atividade, passará a contar com 293 produtos e 149 atividades para a compilação dos dados e com 110 produtos e 55 atividades para a divulgação, com as atividades completamente compatíveis com a Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAE). Os 1/ Sistema de Contas Nacionais (System of National Accounts 1993) das Nações Unidas, Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI), Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE); Comissão das Comunidades Européias (Eurostat). 28 | Relatório de Inflação | Março 2007 dados da nova série, embora com referência no ano 2000, retroagirão até 1995. Outra modificação relevante no Novo Sistema de Contas Nacionais (NSCN) é a utilização de novas fontes de dados. Deve-se ressaltar a incorporação integral das pesquisas anuais contínuas do IBGE: Pesquisa Industrial Anual (PIA), Pesquisa Anual de Serviços (PAS), Pesquisa Anual de Comércio (PAC), Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC) e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD). Essa incorporação permite o estabelecimento de marco estrutural para balizar o Sistema de Contas Nacionais (SCN). Além das pesquisas anuais, outras pesquisas do IBGE também estão sendo utilizadas de forma mais ampla: Pesquisa da Economia Informal Urbana, Censo Agropecuário, Censo Demográfico e Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), devendo-se mencionar a importância desta última na estimativa anual do Consumo Final das Famílias. Estão sendo incorporados, também, alguns dados de fontes externas, como: Secretaria da Receita Federal (SRF); Balanços das Empresas; Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional (Cosif); Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel); Agência Nacional de Petróleo (ANP); Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel); Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e Secretaria de Previdência Complementar (SPC). Há de se notar que a inclusão de fontes de dados em períodos regulares, pré-estabelecidos, confere homogeneidade às séries. Em relação às alterações metodológicas a serem implementadas, destaca-se o cálculo dos volumes da produção da administração pública e da atividade financeira. Essas alterações proporcionarão menor rigidez no comportamento do PIB ao substituir proxies com baixa variação ao longo dos ciclos econômicos por outras mais correlacionadas com o movimento da economia. Sendo assim, tais alterações proporcionarão uma perspectiva mais acurada da atividade econômica a cada momento do tempo. Relativamente à Administração Pública, a produção do setor (consumo intermediário mais valor adicionado) tem seu valor medido pelos custos, por ser constituída basicamente de produção não Março 2007 | Relatório de Inflação | 29 mercantil e, dessa forma, não contar com precificação em mercado, no sentido estrito. A diferença entre a metodologia anterior e a atual ocorre na estimativa do valor adicionado, que passa a incorporar o consumo de capital fixo, medido pelo método de inventário permanente. A mudança metodológica mais relevante, e que trará maior volatilidade à evolução do PIB real, é a alteração da proxy utilizada nos índices de volume. Na metodologia anterior, adotava-se o crescimento populacional para todos os componentes da produção da administração pública, sendo o índice de preço estimado de forma implícita, pois os valores a preços correntes são retirados diretamente dos balanços das Administrações Públicas nas três esferas de governo. Na nova metodologia, cada componente da produção terá um índice de volume específico. No cálculo do consumo intermediário a preços constantes do ano anterior são utilizados diversos índices de preços, principalmente itens do Índice de Preços por Atacado (IPA) e do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), associados a cada um dos produtos consumidos pela atividade, obtendo-se o índice de volume de forma implícita. De maneira semelhante, o valor do consumo de capital fixo também é deflacionado e o índice de volume é obtido de forma implícita. Nesse último caso, os índices de preços que servem como referência são os mesmos utilizados para deflacionar a formação bruta de capital fixo, desdobrados em máquinas e equipamentos e construções. Em relação às remunerações, adotouse a variação do pessoal ocupado apurado na PNAD como índice de volume, sendo o índice de preço apurado de forma implícita. Essas mudanças representam ganho de qualidade na estimativa da produção da administração pública, mas ao mesmo tempo torna mais difícil sua previsão, pois cada um de seus componentes passa a ter um índice de volume próprio, em substituição ao crescimento populacional, que tem pouca variação entre cada ano. É importante observar que todas as modificações mencionadas referem-se aos serviços da administração pública, que, de acordo com a metodologia anterior, representa cerca de 70% do consumo governamental. Os outros 30% relacionamse à saúde e educação públicas, que não sofreram alterações em suas metodologias de mensuração. 30 | Relatório de Inflação | Março 2007 Em relação à atividade financeira, passa a haver um índice de volume para cada componente da intermediação financeira, enquanto anteriormente o índice de volume de todo o segmento era dado pelo crescimento médio do Valor Agregado (VA) da economia. O índice de volume dos serviços financeiros diretamente medidos é obtido implicitamente pela deflação do valor das tarifas bancárias, utilizandose como deflator um índice de preço específico para o setor. O índice de volume dos serviços de intermediação financeira indiretamente medidos (Sifim) é obtido implicitamente a partir da razão entre a soma de alguns ativos e passivos do setor a preços constantes do ano em questão e a preços correntes do ano anterior. A soma dos ativos e passivos a preços constantes é obtida através da deflação do valor corrente no ano em questão pelo deflator implícito do PIB. Além dessas mudanças nos índices de volume, promoveu-se a distribuição dos Sifim pelos usuários desses serviços, o que implicará na eliminação da atividade fictícia Dummy Financeiro. Diante das importantes inovações adotadas no Sistema de Contas Nacionais Brasil – Referência 2000, como as novas ponderações, a ampliação das fontes de dados e as atualizações metodológicas, espera-se que esse novo sistema traga ganho qualitativo importante na mensuração da realidade econômica do País. Março 2007 | Relatório de Inflação | 31