DISCURSO DE S. EXA. O GENERAL CEMGFA Conferência no IDN – Kosovo: A Segurança e o Estado de Direito Excelentíssimo Senhor General Director do Instituto da Defesa Nacional Excelências Minhas Senhoras e Senhores Queria começar por louvar a iniciativa do Instituto da Defesa Nacional por promover esta Conferência, subordinada ao tema "Kosovo: A Segurança e o Estado de Direito". A realização desta actividade materializa uma abordagem relevante a um problema que permanece actual. Abordagem essa que identifico como muito útil para as Forças Armadas e que, me permito acreditar, oferece também interesse aos demais participantes. Estou convicto que os trabalhos desenvolvidos ao longo deste dia, permitirão registar valiosos contributos e que a partilha de opiniões e a troca de pontos de vista contribuirá para aprofundar a reflexão que aqui nos trouxe. A oportunidade e a pertinência da temática em apreço são, assim, evidentes. Como muito importantes são as suas potenciais consequências para o futuro próximo da União Europeia e da Aliança Atlântica se, 1 de 6 porventura, os resultados do apoio à construção da paz nos Balcãs não forem os adequados ao tão desejado ambiente de segurança na Europa, centrado nas pessoas e na necessidade de defender as suas vidas, bens e formas de viver. Um ambiente que seja inclusivo de todos os países da região e que não exclua nenhum, designadamente a Sérvia. Neste caminho existe também um actor internacional incontornável – a Rússia; a sua adesão à evolução positiva da situação de segurança no Kosovo será um facilitador da estabilidade regional. Este ambiente de segurança não deve ser edificado contra ninguém, devendo antes procurar agregar os Estados em parcerias de segurança cooperativa, “com todos e para todos”. A antiga Jugoslávia era o exemplo paradigmático de uma sociedade matizada pelo cruzamento civilizacional, bem como pela profunda segmentação étnica e religiosa das populações. Consequentemente, a secessão da Jugoslávia ocorreu com pesado sofrimento e moldou-se a fronteiras com acentuado lastro histórico. Paradoxalmente, o Kosovo não se inscreve totalmente neste paradigma. Enquanto entidade estatal auto-proclamada no ano de 2008, reconhecida por alguns países da Comunidade Internacional, nos quais se inclui Portugal, o Kosovo, terra de importante simbologia histórica para a Sérvia e para a Albânia, é hoje uma realidade complexa, enquanto Estado. 2 de 6 É, ainda, admissível concluir que o reconhecimento da independência do Kosovo inaugurou uma nova era no que diz respeito à interpretação da legalidade nas relações internacionais. Revisitando o passado recente, constatamos que, desde o início da “Operation Allied Force” em Março de 1999, a NATO tem utilizado a sua inigualável capacidade militar na preservação da segurança no Kosovo. Mas é, também, um facto que os seus instrumentos diplomáticos, económicos e sociais não se encontram habilitados per se para colmatar as lacunas próprias de um Estado em situação particular de fragilidade. Complementarmente, a União Europeia tem fortes e poderosos instrumentos de ordem política, económica e social. Neste contexto, é fácil perceber o imperativo da útil e efectiva articulação entre a NATO e a União Europeia; naturalmente, sempre observando a função legitimadora que cabe às Nações Unidas. Neste sentido, reforço uma vez mais a importância da concertação entre a NATO, a União Europeia e a ONU a favor da Paz, da Segurança, dos Direitos Humanos e do Desenvolvimento. A EULEX e a UNMIK são símbolos centrais daquilo que pode ser conseguido quando existe comunhão de vontades. Acompanhar e antecipar a evolução do Kosovo é, pois, muito importante para Portugal; tanto pelas implicações no ciclo de planeamento estratégico como pelas repercussões que tem no empenhamento e gestão das Forças Nacionais Destacadas. 3 de 6 Presente no esforço da Aliança no Kosovo desde o princípio, Portugal sempre esteve consciente que os problemas do Mundo actual não se resolvem apenas pela intervenção militar e, reconhecidamente, tem contribuído com sensatez, saber e imparcialidade na procura de soluções mais abrangentes para a promoção da “Segurança Humana” no território. Os 4624 soldados portugueses que já prestaram serviço no Kosovo têm sido dignos e valorosos representantes do entendimento da esfera política nacional. Com determinação, dedicação e disciplina, adaptando-se às exigentes e complexas condições do Teatro de Operações, sempre demonstrando competência técnica, cumprindo com eficiência e eficácia as responsabilidades de que têm sido incumbidos, os nossos militares têm sido sempre referidos pelos Aliados como exemplo de fiabilidade e de competência, como garantes de sucesso. Importa salientar que este êxito a que, normalmente, se associa a participação de forças militares portuguesas em operações de paz reside, não só na assertividade e esclarecido conhecimento de situação no desempenho das missões mas também, na empatia com que desenvolvem relacionamentos com as gentes locais estabelecendo desta forma pontes para outros domínios de acção. Cumpre-me acrescentar que as Forças Armadas Portuguesas, têm vindo, desde sempre, mas com ênfase crescente no passado próximo e no presente, a preparar os quadros militares a interagirem de modo útil e eficaz com os quadros de todos os outros vectores de actuação. 4 de 6 As ameaças, riscos e desafios estão a ser abordados de forma multidimensional nos campos da governação, da justiça e da segurança. A passagem de testemunho das “Properties with Designated Special Status” (PDSS) tem sido um indicador positivo do nível de segurança no território kosovar bem como da capacidade do novo Estado em assumir as suas responsabilidades. É do conhecimento geral que a permanência de forças militares em operações alargadas no tempo, são dispendiosas, têm maior exposição a baixas e a um maior desgaste da opinião pública. Existem também pressões de alguns aliados no sentido de deslocar o esforço empenhado no Kosovo para o Afeganistão. No entanto, este é um processo com um “End State” e não deve ser condicionado por um “End Date” – quero com isto dizer que a KFOR deverá continuar a reduzir o efectivo de acordo com as circunstâncias do ambiente operacional, sem perder de vista a estabilidade no território, ainda frágil. Finalizando, importa referir que o “Smart Power” e a “Comprehensive Approach” serão decisivos na afirmação e credibilização do Kosovo como Estado de Direito bem como para a reconciliação dos países da região e obtenção da tão esperada estabilidade no Sudeste europeu. 5 de 6 6 de 6