A VISÃO DE UM CIDADÃO COMUM XIII ( Um Grito na Multidão… ) Nuno Melo Começo por advertir os leitores que hoje não irei esmiuçar os acontecimentos da semana anterior. Não terão o discurso claro, objectivo, factual e esclarecedor que tenho tentado que os meus textos sejam. Hoje, cansado do imenso atoleiro que a Nação se tornou, desejo descarregar a minha revolta nas linhas que se seguem. A semana que antecedeu o período Pascal foi marcada por inúmeras notícias graves e polémicas que irão marcar o quotidiano dos Portugueses nos meses, arrisco mesmo a dizer, e nos anos vindouros se nada for feito para os alterar. As mais mediáticas foram, sem sombra de dúvida, as novas / velhas políticas de austeridade anunciadas pelo Sr. Ministro das Finanças e pelo restante executivo: o fim dos subsídios de férias e de Natal para os servidores do Estado, a proibição de reformas antecipadas para o sector privado, a taxa de desemprego (oficial) ter atingido os 15%, o fecho da Maternidade Alfredo da Costa, o continuar da escandalosa novela do BPN e o preço recorde que os combustíveis atingiram, a quase certeza da necessidade de um segundo pacote de ajuda...entre tantas outras que não irei enunciar, falaremos apenas do confisco dos subsídios e fim das reformas antecipadas por alto, a análise em profundidade e dos outros temas ficarão para futuras reflexões. As medidas de austeridade enunciadas no parágrafo anterior foram um choque pelo seu conteúdo - que levará a um agravamento acentuado da já por si débil situação económica e social que afecta a maioria dos Portugueses como também a Nação, mas sobretudo pela forma como foram transmitidas aos Portugueses. A possibilidade de se anular perpetuamente os subsídios de Férias e Natal para os Portugueses (faltará apenas a sua extensão ao dito sector privado, que certamente não tardará), foi comunicada à Nação por um burocrata em Bruxelas, de seu nome Peter Weiss, que pertence à Direcção-Geral dos Assuntos Económicos e Monetários e confirmada posteriormente no Parlamento Português, pelo titular da pasta das Finanças no seu tom monocórdico habitual. A proibição de reformas antecipadas foi comunicada e publicada em Diário da República como um facto consumado, sem que tenha sido apresentada à discussão na Assembleia da República ou junto dos parceiros sociais. As perguntas que se impõem perante estes factos, e já “dando de barato” que o Estado Português está à beira da falência, serão: «Deixamos de ser um Estado Soberano e passamos a ser governados por um poder estrangeiro com sede em Bruxelas?» «Desde quando é que é legítimo que o executivo deixe de prestar contas aos Portugueses e que passe a tratar os mesmos como súbditos de sabe Deus quem?» «A Nossa Constituição já não tem valor? O Estado Democrático foi abolido? E a Pátria Soberana, deixou de existir?» «Onde estão aqueles que juraram solenemente proteger a Pátria e a Constituição?» Sei que são interrogações duras e injustas para os muitos que diariamente trabalham de uma forma árdua para encontrar uma solução para que estas perguntas jamais sejam formuladas. A esses Homens e Mulheres peço desculpa, mas certamente farão as mesmas interrogações que eu faço e não se sentirão incluídos nem ofendidos pelas questões levantadas, sentirão sim que não estão sozinhos nesta fase Negra da História da nossa Pátria, da nossa Nação... Estas medidas de austeridade podem e devem ser debatidas e combatidas exaustivamente. Poderíamos até falar de outros problemas e escândalos, das suas origens, consequências e de eventuais soluções. Haverá certamente oportunidade para tal, mas hoje sinto-me indignado, indignado não, revoltado com o estado a que chegámos e, não o consigo fazer de uma forma construtiva sem a denúncia de factos, do uso de palavras e acusações fundadas que iriam conduzir no mínimo a vários processos judiciais céleres, como todos aqueles que servem para silenciar a verdade. Em face do exposto, deixo-vos com uma frase de um Grande Português e, uma carta encontrada no cadáver ainda quente de um cidadão anónimo grego, um grito de desespero que não pode ser silenciado pela sua força e porque também, e cada vez mais, é um eco de gritos, actuais e vindouros, de cada vez mais Portugueses. "Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado: os Estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!" – Salgueiro Maia “O governo de Tsolakoglou [referência ao primeiro ministro grego que colaborou com os nazis] aniquilou todas as minhas possibilidades de sobrevivência, que se baseava numa pensão digna que paguei por minha conta e sem qualquer ajuda do Estado durante 35 anos. E dado que a minha idade avançada que não me permite reagir de outra forma (embora se um compatriota grego decidisse pegar numa Kalashnikov teria o meu apoio), não vejo outra solução senão pôr fim à minha vida de uma forma digna, para não ter que acabar os meus dias a procurar comida nos caixotes do lixo para sobreviver. Acredito que os jovens sem futuro um dia pegarão em armas e pendurarão de cabeça para baixo os traidores deste país na praça Syntagma, como os italianos fizeram com Mussolini em 1945” – Dimitris Christoulas (*) Um Abraço e até para a semana, Nuno Melo (*) Farmacêutico reformado, de 77 anos, que se suicidou no dia 04 de Abril de 2012 com um tiro na cabeça frente ao Parlamento Grego.