A EMIGRAÇÃO PORTUGUESA PARA O BRASIL E AS ORIGENS DA AGÊNCIA ABREU (1840) No mesmo sentido, aliás, vão as fontes do consulado português na Baía, para o período imediatamente anterior, 1827-1836, registando que os 1 430 portugueses entrados nesta cidade empregavam-se principalmente como caixeiros, comerciantes e marítimos.5 Robert Rowland escreveu que os comerciantes portugueses, ou seja aqueles “que continuaram a fazer depender a sua actividade económica da manutenção das relações estreitas com Portugal”, só recrutavam “para as suas lojas jovens caixeiros vindos directamente de Portugal”6. Por outro lado, a gravíssima crise económica e financeira que Portugal conheceu após o fim da guerra civil, ou seja, entre 1834-1836, a instabilidade política, as revoltas militares e o cíclico recrutamento de jovens para o exército, também contribuíram para a sua saída para o Brasil (mesmo das crianças com idades inferiores aos 14 anos), onde sempre existiam parentes e amigos para os acolher, num processo de continuidade de relações sociais e cumplicidades que vinham já do período colonial e que a independência do Brasil, neste particular, de modo algum extinguiu. Tudo o que acabámos de referir não quer dizer que do Norte de Portugal não saíssem famílias e colonos para o Brasil. José Sacchetta7, em recente trabalho, refere que, até aos primeiros anos da década de 1840, a emigração de europeus para o Brasil, ter-se-á limitado: • a iniciativas avulsas de atracção de colonos para ocupação de terras, sobretudo no sul do Brasil; • aos lavradores contratados para a monocultura do café, destinados às províncias do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais; • à fixação de “poucos estrangeiros nas cidades portuárias”, onde “os portugueses constituíam o grupo estrangeiro maioritário”. Certamente que, neste movimento, também estariam portugueses oriundos do Norte de Portugal. Podemos aduzir vários exemplos indicados por Sacchetta para confirmar esta hipótese. Assim, no âmbito das transformações que a economia brasileira sofreu no final da Regência, em 1838-1840, o senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, de origem trasmontana, estabeleceu um contrato de parceria firmado em Portugal, destinado a levar para a sua fazenda, na província de São Paulo, 90 lavradores do Minho para trabalharem nos cafezais. E o 5 REIS, João José (1991). A morte é uma festa – ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, p 35 e nota 19 do cap. 1. 6 Oceanos, n.º 44, p. 12. 7 MENDES, José Aurivaldo Sacchetta (2007). Laços de sangue. Privilégios e intolerância à imigração portuguesa no Brasil. Tese de Doutoramento. Texto policopiado. São Paulo, p. 8586 e 97. 21