Caros amigos, O livro que hoje se dá à estampa integra um conjunto de textos publicados ao longo dos últimos anos, no decorrer de um período particularmente difícil na nossa história recente, marcado pela perda de autonomia financeira do País e por todos os sacrifícios económicos e sociais que dai resultaram. Como é próprio das épocas históricas mais conturbadas, perante um País condicionado, desavindo e à beira do descalabro, foi necessário saber resgatar o futuro a um passado sem esperança e o pragmatismo a uma realidade sem grande margem para ideais. Foi necessário fazer da temperança nossa conselheira e do bom senso o nosso guia. Foi necessário dominar a arte de um construtor de pontes, unindo margens longínquas por cima de águas agitadas. Os textos que aqui partilho neste livro são o testemunho desses dias, o diagnóstico dos principais desafios e algumas das soluções preconizadas. Eles são o traçar de um caminho, o exercício da arte do possível, a defesa de uma causa maior em nome do nosso País. Eles são a expressão das soluções consensualizadas e que de forma sistematizada por esta publicação conhecem hoje a luz do dia para efeitos de memória futura. Por isso, as minhas primeiras palavras são necessariamente de agradecimento. Agradecimento à minha família aqui presente. A minha mulher, aos meus filhos e aos meus pais. Também aos meus amigos. Obrigado pela compreensão que têm demonstrado pelo tempo que vos tenho subtraído da minha presença. 1 Agradecimento ao Dr. Daniel Oliveira sem o qual este livro não teria sido possível! Agradecimento à Editora Bnomics pelo desafio em boa hora lançado para a publicação deste livro e, muito particularmente, ao Dr. Horácio Piriquito, pela perseverança desta aposta. À Fundação AIP e ao seu Presidente, Comendador Jorge Rocha de Matos, um especial agradecimento por nos receber nesta casa, pelas suas palavras amigas e pelo muito que temos partilhado. Ao Engº. António Vasco de Mello, que as voltas do destino quiseram um dia que eu lhe sucedesse na cadeira de Presidente da CIP, que ele tão nobremente ocupou pela primeira vez na história da instituição. Quero deixar um agradecimento sentido e o reconhecimento pelo incentivo que sempre me dedicou. Por fim, num gesto que me enche de orgulho, quero penhoradamente agradecer as palavras de Sua Excelência o General Ramalho Eanes, figura cimeira da história democrática portuguesa e referencia moral do nosso País. Minhas Senhoras, e Meus Senhores Nos caminhos da minha vida sempre pautei as minhas escolhas em torno de ideais, em torno de causas maiores à minha simples existência, capazes de darem um sentido ao destino e alento a cada novo dia. Nas empresas em que trabalhei e nas instituições em que me integrei sempre considerei que o bem comum resultava não da afirmação soberana dos meus interesses individuais, mas da concertação dos interesses de todos em torno de uma causa maior. 2 Comecei a minha vida laboral numa das mais emblemáticas empresas da história de industria portuguesa, a Lisnave. Empresa que foi e continua a ser, referencia maior do espírito empreendedor dos portugueses, expressão da capacidade sublime da iniciativa privada nacional. Comecei pelo desempenho das mais rudimentares tarefas. Experimentei os mais duros desafios. Aprendi por experiência vivida o significado do valor do trabalho. Evolui e singrei, tive a sorte de me deparar com as ténues oportunidades proporcionadas por uma sociedade que poucas igualdades era capaz de providenciar. Quis o destino que nessa altura, poucos anos após o 25 de Abril de 1974, a empresa se transformasse no campo de batalha de todas as lutas políticas emanadas da Revolução e espelho de todos os combates ideológicos que marcariam o futuro da nossa sociedade. Entre o extremar de posições e a radicalização do conflito, entre a defesa irresponsável de egoísmos e luxos ideológicos, trilhei, enquanto líder da Comissão de Trabalhadores, o caminho do compromisso, aperfeiçoando a arte do possível, nas margens do que a realidade e o sentido de responsabilidade permitiam. Tive de trocar o idílico pelo possível. Logrei conduzir o processo à criação do primeiro acordo de concertação social que se fez no País, dentro de uma empresa com aquela dimensão. Tenho a convicção que com isso contribuí, na altura, para salvar a empresa de uma fatalidade certa. Os ensinamentos e a sensibilidade que dai recolhi foram-me de extrema utilidade para as negociações em que participei nos últimos anos, em representação da CIP, e que conduziram aos Acordos de Concertação Social. Mais uma vez, quis o destino que esse período caísse num tempo conturbado, num País em plena crise económica e financeira, numa época de enormes sacrifícios sociais. 3 Eu teria preferido chegar à liderança destes processos num tempo de abundancia e prosperidade. Num tempo que permitisse potenciar as condições de crescimento das empresas que represento. Mas ainda não aprendi a controlar o destino e lá tive, mais uma vez, que trocar o idílico pelo possível. Hoje, aqui chegado e já sem esperança de algum dia conhecer uma existência de facilidades, guardo a convicção de que, quando nos movemos por causas maiores e sabemos acautelar os interesses de todos, não há tempestade que nos derrube. Quando o sentido de responsabilidade e a noção de compromisso se sobrepõem aos egoísmos diversos, aos luxos ideológicos ou ás provas de vida políticas, não há acordo que não possa ser alcançado. Numa sociedade livre e democrática, responsável e genuinamente movida pelo interesse nacional, o valor da concertação e do compromisso assumem um lugar cimeiro. E esta experiência só é possível porque apesar de termos em Portugal um Estado tradicionalmente tutelar, intromissivo por natureza, pesado e burocrático por convicção, existe uma sociedade civil que não dá tréguas e que continua a sonhar com um futuro melhor e possível. O poder de um País mede-se pelo nível de desempenho do seu Estado, pela forma como se estrutura e promove o bem comum. Mas a riqueza de uma sociedade mede-se, para mim, pela riqueza da sua participação cívica, pelo dinamismo das pessoas, empresas e instituições que vivem com o Estado e para lá do Estado. Mede-se pelo nível de responsabilidade e de compromisso que conseguem alcançar, facilitando a nossa vida colectiva, potenciando o interesse nacional. Mede-se, em suma, pelo seu nível de comprometimento com os interesses do País. 4 Eu acredito na capacidade e no espírito de responsabilidade da sociedade civil. Eu acredito que o seu envolvimento e capacidade de concertação voluntária valerão sempre mais do que qualquer imposição pelo exercício da força do Estado. Eu acredito no poder da sociedade civil. Pela minha parte, vou continuar a exercer o meu direito de homem livre, senhor das minhas causas, em busca das concertações que entendo como boas para alcançar o bem comum desta causa maior chamada Portugal. Muito obrigado. Lisboa 10-12-2015 5