AVALIAÇÃO ENTRE PARES Monteiro, Vera Fragoso, Rodrigo Instituto Superior de Psicologia Aplicada [email protected] Pretende-se, nos nossos dias, que a avaliação assente numa relação entre o aluno e a aprendizagem tendo o professor e o aluno uma função de regulação pedagógica, e de orientação do processo de ensino-aprendizagem. Nesta relação a explicitação dos critérios de avaliação deve ser efectuada de forma clara, sendo necessário perceber como os alunos interpretam esses critérios e a representação que constroem à volta deles. Para tal, poderão desenvolver-se estratégias facilitadoras do processo de apropriação dos critérios de avaliação, nomeadamente o trabalho de colaboração entre pares. O presente estudo teve como objectivo a análise do papel da concertação dos critérios de avaliação entre pares na avaliação de uma composição. Considerávamos que os alunos que efectuassem concertação sobre os critérios de avaliação atribuiriam notas mais similares entre si às composições, do que os alunos que trabalhassem individualmente. Participaram no estudo alunos do 9º ano de escolaridade. Os instrumentos de recolha de dados utilizados foram composições de língua portuguesa que teriam de avaliar de acordo com as instruções dadas. Os resultados obtidos apontam para menores divergências inter-avaliadores na situação de concertação do que na situação de avaliação individual, o que nos mostra a importância da explicitação e discussão dos critérios de avaliação. De acordo com Barbosa e Alaiz (1994), a medição objectiva que se procura fazer na avaliação escolar, através de rigorosos instrumentos de medida, comparando no final de um período de aprendizagem, os produtos obtidos pelos alunos, com os objectivos previamente definidos, acaba por ser, uma avaliação pontual, um interregno no processo de ensino/aprendizagem, sem nele se integrar. Na opinião destes autores, para que esta situação se altere é necessário olhar para a avaliação como um instrumento de regulação contínua do processo de ensino/aprendizagem, cujo objectivo é a orientação quer da acção pedagógica do professor, quer da actividade de aprendizagem do aluno. (Barbosa & Alaiz, 1994) Neste sentido, é necessário que o avaliador conheça o motivo e o objecto da avaliação, de modo a que possa definir os objectivos da avaliação. A definição dos objectivos de avaliação, deve levar, por sua vez, à definição dos critérios em que a avaliação se baseia, devendo estes ser construídos sobre índices válidos, que permitam fazer uma apreciação da realização do objectivo a avaliar. Importa por isso que, a definição dos critérios de avaliação deva ser feita da forma mais clara possível, para evitar problemas ao nível da validade e fidelidade. Esta determinação dos critérios de avaliação, deve permitir também, que a avaliação efectuada, corresponda realmente ao que se quer avaliar, podendo assim, reduzir ainda a variabilidade intra e inter-individual. Deste modo, citando Pais e Monteiro (2002, p.47), “ A explicitação de critérios será tanto mais completa e útil, quanto melhor conseguir indicar com clareza o que os alunos devem 905 fazer em situação de aprendizagem e também as características que o produto final deve apresentar.” Contudo, para que a explicitação de critérios, possa promover a tão desejada regulação do processo de ensino/aprendizagem, há que ter em conta alguns procedimentos, que não sendo uma resposta a todas as situações, são pistas que se podem ter em conta, as quais devem depois ser adaptadas a cada situação específica, de acordo com as características próprias do grupo turma, do(s) aluno(s) e do professor. Esses procedimentos são, na opinião de Barbosa e Alaiz (1994), os seguintes: a) Explicitação de critérios pelo professor, para si próprio; b) Explicitação dos critérios para os alunos – esta explicitação deve situar-se além da informação pura e simples, não basta informar os alunos que critérios sobre os quais que vão ser avaliados. É necessário aferir como os alunos interpretam esses critérios, e a representação que os mesmos constroem. Para tal, podem desenvolver-se estratégias facilitadoras da explicitação de critérios. Os autores apontam duas possibilidades: 1) o desenvolvimento de exercícios de apropriação de critérios pelos alunos – trata-se do desenvolvimento de tarefas em situação prática, em que os alunos tenham que explicitar a sua representação dos critérios definidos, e comparar com os critérios definidos pelo professor. Os alunos podem assim, ir-se apropriando dos critérios, construindo-os e reflectindo sobre eles, com o apoio do professor; 2) o acompanhamento e apoio do professor, ao processo de apropriação dos critérios pelos alunos – o professor deve acompanhar todo o processo de apropriação dos critérios, intervindo e fornecendo feedback aos alunos, discutindo e, eventualmente, negociando com eles sempre que isso se justifique. c) Confronto, por parte do professor, entre os critérios explicitados e os efectivamente utilizados – este processo exige um certo distanciamento reflexivo do professor relativamente às suas práticas pedagógicas, tendo em vista, analisar e perceber até que ponto o que é avaliado coincide ou não com o que é ensinado. Não é um processo fácil, no entanto, a partilha com outros professores, pode ser um caminho frutuoso. Em suma, parece-nos de vital importância que, para se conseguir mais e melhor sucesso escolar, devemos caracterizar as situações de aprendizagem, tornando claros os parâmetros que orientam a avaliação. Assim, torna-se mais fácil para todos os “actores” intervenientes no processo de ensino/aprendizagem, a observação e a análise das situações mais eficazes e mais adequadas, bem como, as decisões a tomar, na superação das dificuldades encontradas. A este propósito referimos a importância do diálogo entre professor e alunos, contudo, parece-nos também, pertinente, fazer referência à utilidade do diálogo entre os próprios alunos, o qual pode ser propiciador de uma construção do «saber» através da partilha de experiências. Segundo Pinto (1994), esta partilha de experiências (aluno-aluno), permite aos mesmos, maior autonomia na organização do seu trabalho e na construção das aprendizagens, assim como 906 permite uma melhor compreensão do erro, porque o facto de os alunos chegarem a um consenso entre estes (aluno-aluno), permite-lhes perceber onde, como e porque se errou, sendo desta forma mais fácil poderem obter sucesso. Ainda na opinião do autor, desenvolvem-se os mecanismos de auto-correcção, bem como, os mecanismos de entre ajuda e partilha de saberes. Ora na opinião de Pinto (1994), este diálogo aluno-aluno, permite também ao professor, uma modificação no “modo de ver” os alunos, uma vez que, o professor se poderá aperceber que os alunos são capazes de trabalhar autonomamente, e neste sentido, os alunos implicam-se e interessam-se, como também, aprendem “várias coisas” sozinhos ou com os outros. Também Sadler (1998, cit. in Black & Wiliam, 2001), salienta a importância do trabalho de pares (aluno-aluno) em contexto de sala de aula, uma vez que a linguagem utilizada é a mesma que utilizariam numa outra situação, e ainda, também, porque os alunos aprendem a fazer de professores e examinadores de outros. Neste sentido, ao ser atribuído o papel de professores aos próprios alunos, podem também ser-lhes fornecidas «ferramentas» para a avaliação, como por exemplo, as próprias fichas de avaliação utilizadas pelo professor no decorrer do processo de ensino/aprendizagem. O fornecimento destas e de outras “ferramentas” de avaliação podem contribuir para uma visão mais global, dos procedimentos que podem ser utilizados durante o processo de avaliação de um trabalho escolar. A auto-avaliação como reguladora do processo de aprendizagem, leva a que, a participação dos alunos possa estender-se também, a outras modalidades de avaliação, nomeadamente à avaliação sumativa, à hetero-avaliação e à classificação. Black e William (2001), referem que, a auto e a hetero-avaliação entre pares podem trazer benefícios fundamentais a todos os intervenientes no processo de ensino/aprendizagem. Neste sentido consideram que com estas práticas avaliativas: 1) os alunos aprendem a avaliar o seu trabalho, e o trabalho dos outros, e ao fazê-lo, desenvolvem critérios para julgarem a sua qualidade; 2) os alunos começam a desenvolver hábitos e capacidades de colaboração nas aprendizagens; 3) tanto os professores como os alunos, apercebem-se, que os testes podem desempenhar um papel positivo na revisão da aprendizagem; 4) os alunos, tornam-se participantes, e não vítimas, no processo de avaliação. Podemos desta forma afirmar, que a auto e a hetero-avaliação entre pares, são instrumentos poderosos de avaliação educacional, que permitem alcançar objectivos pedagógicos diversos. São estratégias que fazem parte de uma avaliação formadora em que aqueles que aprendem são construtores do seu próprio conhecimento, logo, o acesso ao conhecimento, pode fazer-se de uma forma imediata e directa. No entanto, para que esta forma de trabalhar se torne possível, é imprescindível que o professor, faça uso de uma diversidade de formas de trabalhar na sala de aula, tais como, o 907 trabalho de grupo, trabalho de pares, em redor das tarefas de resolução de problemas, o desenvolvimento de projectos, bem como, o trabalho autónomo orientado para a sistematização de novos saberes, ou para ultrapassar pontos menos fortes. Deste modo, há que ter presente, que os erros e as dificuldades são parte integrante da aprendizagem. Sendo a avaliação o instrumento que revela esses mesmos erros e dificuldades, é através da compreensão da natureza desses próprios erros, que podemos ter um instrumento em prol das aprendizagens: “ …os instrumentos de avaliação devem ajudar o indivíduo não só a reconhecer os seus pontos mais fracos, mas fundamentalmente a percebê-los e a ser capaz de encontrar meios para os ultrapassar.” (Pinto, 2002, p. 64) O desenvolvimento da avaliação formadora, no terreno, implica uma atitude e uma prática diferente, não só ao nível do ensino/aprendizagem, mas também na própria relação pedagógica. “Implica que se passe de uma «pedagogia da reprodução» para uma «pedagogia da construção», visando a construção do conhecimento, do saber e do saber-fazer (....)” (Pinto, 1994, p. 98) Com base nestes pressupostos teóricos, o presente estudo tem como objectivo analisar se a existência de uma concertação entre avaliadores (aluno - aluno) sobre a explicitação dos critérios de avaliação, faz com que estes atribuam notas mais idênticas entre si na correcção de uma composição escrita, do que os alunos que não efectuarem concertação sobre esses mesmos critérios? Método Participantes Ao termos como objectivo analisar a influência da concertação entre pares na avaliação de uma composição, pareceu-nos que ao trabalhar com alunos do 9º ano de escolaridade, estes teriam mais facilidade em discutir, concertar sobre os critérios de avaliação. Deste modo a amostra do nosso estudo é constituída por 53 sujeitos, com idades entre os 13 e os 18 anos de idade, fazendo parte de três turmas do 9º ano de escolaridade. Uma vez que era nosso objectivo criar três grupos equivalentes entre si, e para tentar controlar a variabilidade que existe de turma para turma, optámos por dividir cada turma em três grupos. Assim, os alunos de cada turma foram distribuídos pelos três grupos de estudo: G1 (grupo individual sem critérios); G2 (grupo individual com critérios); G3 (grupo concertação com critérios). Para a distribuição dos alunos pelos diferentes grupos optou-se por uma estratégia de emparelhamento que permitiu a homogeneidade dos grupos à partida. Deste modo, no 908 emparelhamento dos três grupos teve-se em conta, o nível que os alunos obtiveram à disciplina de Língua Portuguesa no 1º período, e a nota que os alunos atribuíram à composição no 1º momento do nosso estudo. Desta forma foi possível obter três grupos equivalentes relativamente a estas duas variações. Deste modo, constituiu-se três grupos, em que, o (G1) grupo individual sem critérios era composto por dezoito alunos, o (G2) grupo individual com critérios era composto por dezoito alunos, e o (G3) grupo concertação com critérios era composto por dezassete alunos. Instrumentos Como instrumentos de recolha de dados do nosso estudo foram utilizadas, quatro composições, elaboradas por alunos do 9º ano de escolaridade, que não participaram no estudo. As composições por nós utilizadas, foram corrigidas e classificadas pelo professor de Língua Portuguesa desses mesmos alunos. De forma aleatória seleccionámos quatro composições de um conjunto de 26 composições, que obtiveram uma nota média entre os 50% e os 60% numa escala de 0 a 100%. As quatro composições por nós utilizadas, foram distribuídas de forma aleatória pelos quatro momentos de investigação: no pré-teste, nas duas situações experimentais e no pós-teste. Procedimentos A nossa investigação decorreu assim em quatro momentos: 1º Momento Este primeiro momento, teve como objectivo a formação dos três grupos para o 2º e 3º momentos do nosso estudo. A partir das notas que os alunos, individualmente, atribuíram a uma composição e das notas obtidas no 1º período na disciplina de Língua Portuguesa, constituíram-se três grupos equivalentes. 2º e 3º Momentos Os 2º e 3º momentos do nosso estudo corresponderam às duas sessões experimentais. Estes dois momentos vão ser descritos em conjunto uma vez que foram idênticos em todas as fases. Apenas a composição utilizada foi diferente em cada um dos dois momentos. No início do 2º momento, foi pedido aos alunos do G1 (grupo individual sem critérios) e do G2 (grupo individual com critérios), que se sentassem individualmente. Estes alunos ficaram todos juntos numa sala de aula, mas com tarefas um pouco diferentes, consoante o grupo a que pertenciam. Desta forma, aos alunos do (G1) distribuiu-se uma composição em que a instrução foi a seguinte: “ Esta foi uma composição realizada por um aluno do 9º ano sobre a 909 solidariedade. Gostaria que a lesses, que a corrigisses e que lhe atribuísses uma nota de 0 a 100%”. Aos alunos do (G2) foi-lhes distribuída a mesma composição, só que a instrução dada foi um pouco diferente. “ Esta foi uma composição realizada por um aluno do 9º ano sobre a solidariedade. Gostaria que a lesses, que a corrigisses e que lhe atribuísses uma nota de 0 a 100%, tendo em conta os critérios que se seguem: Tema; Pontuação; Caligrafia; Ortografia; Construção das Frases. Nestes dois grupos (G1 e G2) os alunos trabalharam individualmente. Os alunos do (G3) estiveram numa outra sala com o experimentador, com as secretárias dispostas em círculo, afim de proporcionar uma mais fácil discussão e concertação sobre os critérios de avaliação. Com o (G3), disposto e círculo, deu-se início à fase de concertação sobre os critérios de avaliação. Assim, antes de ser distribuída a composição para avaliação, num primeiro momento deu-se aos alunos uma folha com os critérios de avaliação, que iriam ser utilizados na avaliação da composição (estes critérios foram os mesmos que foram dados ao G2). Em seguida pediu-se aos alunos para discutirem sobre aqueles critérios, o que é que eles pensavam sobre cada um daqueles critérios, e como é que iriam fazer para os utilizar na avaliação da composição. Depois de todos os alunos chegarem a um acordo sobre a explicitação dos critérios a ser utilizados na avaliação da composição, estes sugeriram que os critérios deveriam ter uma ponderação. Deste modo, foi-lhes pedido para chegarem a um acordo sobre as ponderações a atribuir a cada um dos critérios. Em todos estes momentos utilizou-se sempre a concertação entre os alunos, pois era fundamental um acordo o mais unânime possível entre todos. Após todos os alunos estarem de acordo relativamente à explicitação e à ponderação a atribuir aos critérios, passou-se à avaliação da composição. Durante a avaliação, sugeriu-se aos alunos que dessem a sua opinião e comentassem o trabalho daquele aluno. Quando as opiniões eram divergentes, o experimentador servia de moderador, com o objectivo de cada aluno poder dar a sua opinião e em seguida chegassem a um acordo em torno da avaliação. Depois de corrigida a composição, foi pedido aos alunos para que discutissem sobre a nota a atribuir à composição, tendo por base as ponderações discutidas anteriormente para cada um dos critérios. Foi-lhes pedido que apresentassem as suas razões, para que fundamentassem a sua opinião, para que entre todos discutissem e atribuíssem uma nota final por unanimidade. 910 4º Momento: Por último tivemos o 4º momento do estudo (Pós-teste). A todos os alunos, individualmente, foi pedido que avaliassem e atribuíssem uma nota de 0a 100 a uma composição. Apresentação de Resultados Depois de garantidas as condições de homogeneidade dos grupos no início da investigação, submetemos os resultados obtidos pelos três grupos a uma análise estatística, com o objectivo de verificar se existiria uma distribuição normal dos três grupos em estudo. Os resultados obtidos permitiram-nos concluir que, não existia uma distribuição normal no grupo concertação de com critérios. Assim, tivemos que optar, pela utilização de um teste não paramétrico, o teste Kruskal-Wallis, que é o teste utilizado quando as condições de aplicação do teste Anova falham. Vamos neste caso comparar as medianas dos grupos. Ao utilizarmos o teste Kruskal-Wallis quisemos verificar se a medianas dos três grupos eram iguais. Os resultados obtidos permitiram-nos concluir que existiam diferenças significativas, em termos estatísticos, entre as medianas dos três grupos (Kruskal-Wallis = 10.256 ; p = 0,006). A nossa hipótese, referia que os alunos que efectuassem concertação sobre os critérios de avaliação (G3), para a correcção da composição, atribuiriam notas mais similares entre si, do que as notas dos alunos que não efectuassem concertação sobre esses mesmos critérios (G2). Deste modo, procedemos a uma comparação das notas atribuídas na correcção da composição, no último momento do nosso estudo, comparação essa entre o Grupo Individual Com Critérios (G2), e o Grupo Concertação Com Critérios (G3), e verificar deste modo, qual a influência dos dois momentos experimentais. Os dados obtidos levaram-nos a concluir que existiam diferenças significativas em termos estatísticos entre o grupo Individual Com Critérios (G2) e o grupo Concertação com Critérios (G3), uma vez que, a estatística de teste (14.07) é superior ao valor crítico (9.588). Assim, deste modo, podemos constatar que, a classificação mediana do grupo (G3) é significativamente diferente da classificação mediana dos alunos pertencentes ao grupo (G2), para um α ≤ 0.05, resultados que vão na direcção da hipótese por nós levantada, ou seja, há uma maior concordância na atribuição das notas no grupo que esteve em concertação. Podemos desta forma constatar, a influência dos dois momentos experimentais do nosso estudo, onde se realizou a concertação entre avaliadores no grupo (G3), uma vez que, os resultados obtidos são significativamente diferentes do grupo (G2), onde os alunos apenas tiveram acesso aos critérios de avaliação, não efectuando concertação sobre os mesmos, e trabalhando individualmente. 911 Tendo em conta o carácter comparativo do nosso estudo, pareceu-nos, também pertinente, fazer uma comparação entre o Grupo Individual Sem Critérios (G1) e o Grupo Concertação Com Critérios (G3), afim de averiguar a existência ou não de diferenças entre estes dois grupos, relativamente à atenuação de divergências na avaliação de uma composição, no último momento da nossa investigação. Depois do tratamento estatístico podemos verificar que existiam diferenças significativas entre o grupo Individual Sem Critérios (G1) e o grupo Concertação com Critérios (G3), uma vez que, a estatística de teste (14.93) era superior ao valor crítico (9.588). Assim, deste modo, podemos constatar que, a classificação mediana do grupo (G3) é significativamente diferente da classificação mediana dos alunos pertencentes ao grupo (G1), para um α ≤ 0.05. É-nos possível, assim afirmar, a influência dos dois momentos experimentais, em que, o (G3) efectuou concertação sobre os critérios de avaliação, para a avaliação da composição, momentos estes, que proporcionaram aos avaliadores (alunos), uma menor dispersão das notas atribuídas à composição no último momento, ou seja, verificou-se uma atenuação das divergências inter-avaliadores. Deste modo, e em concordância com os dados acima apresentados, podemos confirmar e aceitar a hipótese por nós apresentada. Discussão De acordo com os nossos resultados verificámos que existem diferenças significativas na avaliação de uma composição, quando os alunos efectuam concertação sobre os critérios da mesma entre si, do que quando os alunos não efectuam essa mesma concertação de critérios. Ou seja, existe uma maior discrepância de notas no (G2 ) e (G1), do que no (G3) onde se deu a concertação da avaliação. Ora, de acordo com Pais e Monteiro (2002), não basta aos alunos conhecer os critérios de avaliação que o professor quer colocar em prática (G2), é necessário discuti-los e explicitálos (G3). Pois só desta forma, é que se torna possível que os objectivos e os critérios de avaliação, sejam bem entendidos e se tornem claros para os intervenientes. Partilhamos a opinião de Pinto (1994, p.97), quando refere que “...o trabalho de explicitação sobre os critérios de sucesso nas tarefas, não só é importante para clarificar as próprias tarefas, como sustenta a reflexão sobre o próprio “saber” que se espera, tornando-o mais claro e consistente para o aluno”. Deste modo, a simples explicitação de critérios, sobre os quais os alunos vão ser avaliados, não é suficiente. É necessário aferir como os alunos 912 interpretam esses mesmos critérios, podendo os professores desenvolver estratégias facilitadoras para essa mesma apropriação dos critérios por parte dos alunos. Os nossos resultados suportam estes pressupostos ao mostrarem que existe maior consenso no grupo que realizou concertação Isto significa dizer que a explicitação e a discussão dos critérios poderão ter levado a uma maior convergência nas notas atribuídas por estes alunos a uma mesma produção escolar. É de salientar que neste grupo as divergências inter-avaliadores são muito menores do que em qualquer dos outros grupos. Embora haja divergências, estas não são tão acentuadas como no Grupo Individual Sem Critérios e o Grupo Individual Com Critérios. Em suma, parece-nos de vital importância que, para se conseguir mais e melhor sucesso escolar, devemos ter em conta, por um lado a explicitação dos critérios de avaliação e por outro as estratégias que levam os alunos a apropriarem-se desses mesmos critérios, e tornando claros os parâmetros que orientam a avaliação. A partilha de experiências em situações de avaliação, permite aos aluno, uma maior autonomia na organização do seu trabalho e na construção das aprendizagens, assim como permite uma melhor compreensão do erro, porque o facto de os alunos chegarem a um consenso entre estes, permite-lhes perceber onde, como e porque se errou. Este trabalho metacognitivo irá facilitar a aprendizagem. Durante o processo de concertação desenvolvem-se mecanismos de auto-correcção, bem como, mecanismos de entre ajuda e partilha de saberes, que em nossa opinião, poderão ter um efeito positivo na aprendizagem Contudo, para que esta forma de trabalhar se torne possível, é necessário que o professor, recorra a uma pedagogia activa, cooperativa e contextualizada, pautada por uma avaliação formativa e formadora. Poderemos ainda acrescentar que, os alunos ao passarem pelo papel de avaliadores passam a ter uma visão mais concreta, dos procedimentos que podem ser utilizados durante a avaliação de um trabalho escolar. Aliás, o estar no papel de professor foi um dos aspectos mais positivos apontados pelos alunos, que fizeram parte desta investigação. Segundo estes alunos, este trabalho permitiu-lhes reconhecer o trabalho do professor: “ Aprendemos como é difícil ser professor”; “Entendi que os professores têm muito trabalho a corrigir os testes”; “Foi positivo, porque coloca-nos no lugar de professores e descobrimos a sua dificuldade muitas vezes em perceber a caligrafia e outras coisas mais”. Com este estudo, confirma-se a importância da concertação entre avaliadores como forma de moderação das divergências na avaliação de uma composição. 913 Referências Bibliográficas Barbosa, J. & Alaiz, V. (1994). Explicitação de Critérios – exigência fundamental de uma avaliação ao serviço da aprendizagem. I.I.E. (ed.). Pensar Avaliação, Melhorar a Aprendizagem. Lisboa: I.I.E. Black, P. e William, D.(2001,August). Theory and Pratice in the Development of Formative Assessement. Paper presented at the King’s College, University of London, London. Pais, A. & Monteiro, M. (2002). A avaliação: uma prática diária. Lisboa: Editorial Presença. Pinto, J. (1994). A avaliação como estratégia de formação. In R. d’Espiney & R. Canário (Orgs.), Uma escola em Mudança com a comunidade – Projecto ECO, 1986-1992. Experiências e Reflexões. Lisboa: I.I.E. Pinto, J. (2002). A Avaliação Formal no 1º Ciclo do Ensino Básico: Uma Construção Social. (Tese de Doutoramento). Braga: Universidade do Minho. 914