28 SEXTA-FEIRA, 1º DE MAIO DE 2015 A GAZETA Vale pode reduzir extração de minério após prejuízo EDITORA: JOYCE MERIGUETTI [email protected] Tel.: 3321.8327 Pág. 33 DA PRINCESA ISABEL A DILMA RELAÇÕES TRABALHISTAS O QUE MUDOU E O QUE AINDA PODE MUDAR Muitos direitos conquistados são uma evolução para o trabalhador VITOR JUBINI/ARQUIVO LUÍSA TORRE MARCOS DOS DIREITOS [email protected] Diolinda e Catarina, as bisavós de Elda Maria dos Santos, 56 anos, fizeram parte de um dos momentos mais tenebrosos e injustos da históriadoBrasil:aescravidão. Vindas da África, trabalharamemfazendasdeConceição da Barra e de São Mateus, Norte do Estado, cujo trabalho foi explorado à exaustão. A luta por dignidade culminou na abolição da escravatura, em 1888, quandoaPrincesaIsabelassinou a Lei Áurea – embora sua implantação tenha se arrastado por quase 20 anos.MasseEldahojeconta com direitos trabalhistas e está perto de conquistar sua aposentadoria, a luta por eles começou lá atrás. “Minhas bisavós não tinham direito nenhum. Eu ainda trabalho na roça, mas pedi minha aposentadoria no ano passado. Estou aguardando sair”, conta Elda,quevivenacomunidade quilombola de Linharinho, em Conceição da Barra. De Isabel a Dilma, muitos direitos foram conquistados, alguns caíram e outros estão em transformação. Mas especialistas apontam que muita evolução foi conquistada. “Após a abolição da escravisão,comarevoluçãoindustrial, vemos um êxito rural grande e, naquele momento, o Estado se coloca numa posição não intervencionista. Ao se verificar que nãohaviacondiçãodenãose intervir naquela relação hipossuficiente,ondeoempre- — “Minhas bisavós trabalharam na fazenda como escravas. Não tinham direito nenhum, nem de estudar, só podiam trabalhar” — ELDA MARIA DOS SANTOS TRABALHADORA DO CAMPO gado é mais fraco, foram se criandoleisesparsaspararegiressarelação”,explicaJosé Carlos Rizk Filho, advogado e professor universitário. Até que, em 1943, Getúlio Vargas promulgou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que é um compilação dos direitos do trabalhador. “Todos os direitos do trabalhador foram conquistados com luta, nada foi de graça. O dia 1º de maio é dia de luta”. Com a CLT, a formalização do emprego e direitos como salário mínimo, férias e 13º foram garantidos. “A CLT qualificou o empregado,dádireitoscomoajornadadeleegarantiasprevidenciárias. Mas tem muita coisa que hoje provoca discussão. O Tribunal Superior do Trabalho (TST) faz reformas de itens relevantes.Infelizmente, o que hoje vemos é a movimentação para diminuição dos direitos”, analisa Filho. “A CLT realmente cria umaproteçãograndeaotrabalhador.Massehojeosempresários reclamam que temosumacontrataçãocara,a culpa não é do empregado, sãodosaltosencargosdoEstado. E isso é uma questão histórica, não exclusivo de nenhum governo”. Outro marco dos direitos está na promulgação da Constituiçãode1988,explica Carlos Henrique Bezerra Leite, doutor em Direito, jurista, professor da FDV e de- sembargador do TRT. Hoje, as discussão acontece em torno de temas como direitos das domésticas e a ampliação da terceirização. “A Constituição é um marconaevoluçãodosdireitos dos trabalhadores do Brasil.Oqueprecisamudaré a nossa cultura, precisamos levar a sério a Constituição. Existemdireitosqueatéhoje não foram regulamentados, enquanto o parlamento acenacomumprojetodeterceirizaçãoquesecolocanacontramão da progressividade dos direitos trabalhistas. Vê-se a tentativa de reduzir os direitos, sob argumento decriseeconômica,maseles devem ser expandidos, nunca reduzidos”, analisa Leite. A Gazeta | Editoria de Arte | Marcelo Franco