UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIBA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INTERDISCIPLINARES POLO DE GUARABIRA- CAMPUS III MARIA DE FÁTIMA DA ROCHA SILVA GÊNERO E SEXUALIDADE: práticas pedagógicas na escola GUARABIRA – PB 2014 MARIA DE FÁTIMA DA ROCHA SILVA GÊNERO E SEXUALIDADE: práticas pedagógicas na escola Monografia apresentada a Coordenação do Curso de Especialização em Fundamentos da Educação: Práticas Pedagógicas Interdisciplinares pela Universidade Estadual da Paraíba, em cumprimento às exigências para obtenção do título de Especialista, sob a orientação da Profª Drª Vagda Gutemberg Gonçalves Rocha. GUARABIRA – PB 2014 DEDICATÓRIA Dedico a Deus, companheiro e amigo de todas as horas, onde busco fortaleza, suporte e refúgio, rochedo onde incrusto minhas ideias e minha morada. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter me dado condições, força e determinação para conseguir concluir esse trabalho. Aos meus filhos Flora Regina da Rocha Silva, Ricky Márcio da Rocha Silva e meu esposo Antônio Márcio da Silva, pela paciência e compreensão que tiveram comigo; A minha mãe Izaurinha Pereira da Rocha, meu pai José Ribeiro Rocha (In memorian), pelo amor e esforço a meu favor; Aos meus irmãos José Carlos, Severino Rocha, Josenildo, Marcos Ribeiro, Ednaldo Ribeiro e Mª das Graças Ribeiro, que compreenderam a minha dedicação pelos estudos; Aos meus colegas do curso de Especialização, pelos bons e alegres momentos em que estivemos juntos driblando dificuldades, debatendo temas, analisando conteúdos, preparando pesquisas, projetos, seminários, distanciando-se de nossas casas nos finais de semana em busca de melhorias nas nossas práticas pedagógicas e curriculares; Aos professores Ana Lúcia de Araújo, Fabiane Apolinário, Fátima Elias, José Roberto, Otacília Maria, Cláudia Regina e Iara Carmem, que aceitaram ser entrevistados me possibilitando obter os dados necessários para que essa pesquisa se concretizasse. A coordenação do Curso de Especialização Fundamentos da Educação: Práticas Pedagógicas Interdisciplinares pela oportunidade e colaboração para a concretização deste trabalho; A minha orientadora professora Drª Vagda Gutenberg Gonçalves Rocha, pela interação, persistência, encorajamento e entendimento dos objetivos que alcancei com este trabalho; Aos meus alunos adolescentes e colegas professores, aqueles que fizeram jus na publicação deste trabalho, as muitas conversas que tivemos me revelaram aspectos de vivência do adolescente atual, levando em conta o conhecimento e a dúvida sobre sua sexualidade, desmistificando mitos, preconceitos e tabus, a vocês minha satisfação. A Educação Sexual da criança e do adolescente começa na família, em parceria com as instituições escolares e a sociedade, buscando pensamentos, instigando ideias, aprimorando conhecimentos científicos, étnicos e morais. Maria de Fátima da Rocha Silva SILVA, Maria de Fátima da Rocha. Gênero e Sexualidade: práticas pedagógicas na escola. Monografia (Curso de Especialização Em Fundamentos da Educação: Práticas Pedagógicas na escola). Universidade Estadual da Paraíba, GUARABIRA-PB, orientada pela professora Drª Vagda Gutemberg Gonçalves Rocha, 2014, 43p. RESUMO Neste trabalho pretende-se veriguar como a Escola Estadual de Ensino Fundamental Albert Einstein tem exercido seu papel em Orientação Sexual, se esta concedeu aos alunos o subsídio necessário para o desenvolvimento de uma consciência crítica e tomada de decisões responsáveis a respeito de sua sexualidade, enfim, como a escola vem trabalhando este tema Para a consecução deste trabalho promoveu-se debates em rodas de conversa sobre gênero e sexualidade com alunos e professores com a finalidade de sensibilizá-los antes de responderem um questionário relativo à pesquisa. Os estudos estão fundamentados em Guacira Lopes Louro (2000), Moreira e Pitanguy (2003), Rios (2009), dentre outros autores que estudam esse tema. Os questionários foram respondidos por alunos e professores da Escola E.E.E.F. Albert Einstein no município de Araçagi – PB. A partir das respostas, foi possível sugerir que a escola/o professor (a) incorpore o debate das questões de gênero e sexualidade, fazendo leituras criticas dos livros didáticos, refletindo sobre a prática escolar na perspectiva de gênero e sexualidade, desenvolvendo trabalhos que abordem gênero e sexualidade ou ainda debatendo sobre textos sexistas e preconceituosos. Acredita-se que uma melhor organização teórica desses conceitos ajudará a diminuir preconceitos recíprocos entre diferentes áreas ou linhas de pensamentos e possibilitará avanços mais direcionados em relação às principais dúvidas teóricas sobre essas questões. Em relação à Educação, percebe-se a inclusão desses temas nos currículos, principalmente a partir da década de 1990, quando as escolas são “convocadas” a tratar das relações que envolvem a sexualidade e gênero. Entende-se que a escola é um espaço que deve oportunizar discussões e reflexões relativas às questões de gênero e sexualidade nas práticas interdisciplinares na Educação, pensadas, aqui, como construções culturais, sociais e políticas. Acredita-se que é urgente a necessidade de estudos e reflexões sobre esses temas, sobretudo calcados no princípio de que os corpos são continuamente produzidos, significados e ressignificados na sociedade e pela cultura, e que a escola se constitui como uma instituição importante dessas produções. Palavras-Chave: Gênero. Sexualidade. Escola. Professor. SILVA, Maria de Fátima da Rocha. Gender and sexuality: pactrices pedagogic the school Monograph (Course of Spercialization in Fundament the Education: Pactrices Pedagogic Interdisciplinars). Universidade Estadual da Paraíba, GUARABIRA-PB, guited by teacher Drª Vagda Gutemberg Gonçalves Rocha, 2014, 43p. ABSTRACT This paper seeks to ascertain how the State Elementary School Albert Einstein has played its role in sexual orientation, if this gave students the necessary basis for developing a critical consciousness and making responsible decisions about their sexuality, finally , as the school has been working this issue for the achievement of this work was promoted discussions wheels conversation about gender and sexuality with students and teachers in order to sensitize them before answering a questionnaire on the research. The studies are based on Guacira Lopes Louro (2000), Moreira and Pitanguy (2003), Rios (2009), among other authors studying this topic. The questionnaires were answered by students and faculty of the School ESE Albert Einstein in the municipality of Araçagi - PB. From the responses, it was possible to suggest that the school / teacher (a) incorporates the discussion of issues of gender and sexuality, making critical readings of textbooks, reflecting on school practice from the perspective of gender and sexuality, developing projects that address gender and sexuality or debating sexist and prejudiced texts. It is believed that a better theoretical organization of these concepts will help reduce mutual prejudice between different areas or lines of thought and advances enable more targeted against major theoretical questions about these issues. Regarding education, it is noticed that the inclusion of these topics in the curriculum, particularly since the 1990s, when schools are "called" to deal with relationships that involve sexuality and gender. It is understood that the school is a space which create opportunities to discuss and reflect on issues of gender and sexuality in interdisciplinary practices in education, conceived here as cultural, social and political constructions. It is believed that there is an urgent need for studies and reflections on these topics, particularly footwear on the principle that the bodies are continually produced, meanings and reinterpreted in society and culture, and that the school is constituted as an important institution of these productions. Keywords: Gender. Sexuality. School. Teacher. LISTAS DE SIGLAS: PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente MEC – Ministério da Educação e Cultura SUMÁRIO Introdução...........................................................................................................................12 Capítulo I- Discussão sobre Gênero e Sexualidade.........................................................14 1.1-Gênero e Sexualidade.....................................................................................................14 1.2- Gênero e Sexualidade no Espaço Escolar.....................................................................16 1.3-Gênero Sexualidade e Currículo...................................................................................20 Capítulo II- As discussões sobre Gênero e Sexualidade na Escola E. E. Fundamental Albert Einstein....................................................................................................................22 2.1- Percurso Metodológico.................................................................................................22 2.2- A Escola Estadual de Ensino Fundamental Albert Einstein.........................................25 Capítulo III- Gênero e Sexualidade na voz de Alunos e Professores.............................29 3.1 – Gênero e Sexualidade na voz de Alunos da escola.....................................................29 3.2 – Gênero e Sexualidade na voz de Professores..............................................................35 4- Considerações Finais.....................................................................................................38 5- Referências.....................................................................................................................40 12 1 – INTRODUÇÃO A educação é essencial e é insubstituível. Dentre todas as práticas culturais da vida humana e da experiência de sociedades como a nossa, dificilmente alguma outra será tão insubstituível quanto à educação. (BRANDÃO, 2002, p. 18). Sexualidade e gênero ganham cada vez mais espaço nas discussões dos estudos científicos. A sexualidade é fundamental na formação da personalidade, pois intrínseca à constituição do ser humano, está estritamente relacionada aos pensamentos e ações. É preocupante como a sexualidade vem sendo trabalhada no Ensino Fundamental II, ou até mesmo silenciada pelos educadores que criam artifícios e desculpas para não trabalhá-la. A partir dessa preocupação foi que surgiu o interesse em conhecer a concepção dos educadores da Escola Estadual de Ensino Fundamental Albert Einstein acerca das questões relacionadas à sexualidade bem como a prática pedagógica desenvolvida na referida escola. De acordo com o Art. 5º, do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, LEI DE Nº 8.069. DE 13 DE JULHO DE 1990 (BRASIL, 1990). Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos. Nesse sentido, o presente estudo procurou averiguar como a Escola Estadual de Ensino Fundamental Albert Einstein tem exercido seu papel em Orientação Sexual, se esta concedeu aos alunos o subsídio necessário para o desenvolvimento de uma consciência crítica e tomada de decisões responsáveis a respeito de sua sexualidade, enfim, como a escola vem trabalhando este tema. Aos pais e à escola cabe o dever de orientar a educação sexual dos filhos. A família e a escola são duas instituições com funções específicas, no tocante à educação. Vale lembrar que a sociedade também executa um papel decisivo na Orientação Sexual de todas as crianças, adolescentes, jovens e adultos. 13 A coleta de dados para a nossa pesquisa foi realizada através de entrevistas com alunos e professores da Escola Estadual de Ensino Fundamental Albert Einstein em roda de conversa sobre sexualidade na escola. O presente trabalho está dividido em três capítulos, Capítulo I – abrange questões sobre gênero e sexualidade, a postura do professor diante desta temática, o espaço onde essas questões são discutidas e como acontecem os diálogos na escola, O capítulo II aborda questões ligadas ao percurso metodológico da pesquisa, informamos sobre o espaço físico da escola e como as discussões sobre a temática em tela são abordadas na mesma. No capítulo III – tratamos sobre gênero e sexualidade na voz de alunos e professores, o que disseram ao abordarmos o tema Gênero e Sexualidade, focando práticas pedagógicas inovadoras na escola; a postura do educador frente a discussão desse tema e o que os alunos disseram sobre essas discussões. As considerações finais apresentam de forma sucinta a conclusão deste trabalho. 14 Capítulo I- Discussão sobre Gênero e Sexualidade 1.1 Gênero e Sexualidade Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (BRASIL, 1999), é a partir da década de 1980 que o número de trabalhos na área da sexualidade nas escolas aumentou em virtude da preocupação dos educadores com o grande crescimento da gravidez indesejada entre adolescentes e do risco da infecção pelo HIV (vírus da AIDS), Praticamente todas as escolas trabalham o aparelho reprodutivo em Ciências Naturais. Geralmente o fazem por meio da discussão sobre a reprodução humana, com informações ou noções relativas à anatomia e fisiologia do corpo humano. Essa abordagem normalmente não abarca as ansiedades e curiosidades das crianças, nem o interesse dos adolescentes, pois enfoca apenas o corpo biológico e não inclui a dimensão da sexualidade. Sabe-se que as curiosidades das crianças a respeito da sexualidade são questões muito significativas para a subjetividade, na medida em que se relacionam com o conhecimento das origens de cada um e com o desejo de saber. A satisfação dessas curiosidades contribui para que o desejo de saber seja impulsionado ao longo da vida, enquanto a não satisfação gera ansiedade, tensão e, eventualmente, inibição da capacidade investigativa. A oferta, por parte da escola, de um espaço em que as crianças possam esclarecer suas dúvidas e continuar formulando novas questões, contribui para o alívio das ansiedades que muitas vezes interferem no aprendizado dos conteúdos escolares (BRASIL, 1999, p. 292). Na abordagem sobre sexualidade realizada pela escola, essa prática deixa a desejar com relação às curiosidades expressadas por crianças e adolescentes. Sabendo da complexidade do tema, é importante que o professor discuta sobre sexualidade na escola, provoque seus alunos a pensarem e analisarem sobre essas indagações, desse modo contribuindo com o ensino aprendizagem. O principal objetivo do mediador é explorar o conteúdo com segurança, amplitude, flexibilidade, trasversalidade e disponibilidade para dialogar e responder questões apresentadas pelos alunos. No nosso ponto de vista, é notória a preocupação das escolas em incorporar nas propostas curriculares temas transversais como sexualidade e gênero, visto o aumento de adolescentes infectados por doenças sexualmente transmissíveis e os casos de gravidez precoce. Nos estudos sobre a AIDS, se pensava que a doença atingia mais a classe de homossexuais. Hoje, os índices apontam avanços independentemente de opção sexual. Os heterossexuais têm ultrapassado nas estatísticas de casos. Na verdade, pessoas com vida sexual ativa estão sujeitas a contrair qualquer tipo de DST. É preciso que tomem 15 consciência ao relacionar-se com parceiros, principalmente que não conhecem e mesmo conhecendo, proteger-se sempre com o método adequado. Em se tratando de adolescentes, que os governantes possam incluir propostas pedagógicas com formação continuada habilitando profissionais para tratar o assunto na escola. Ainda de acordo com os PCN‟s: Praticamente todas as escolas trabalham o aparelho reprodutivo em Ciências Naturais. Geralmente o fazem por meio da discussão sobre a reprodução humana, com informações ou noções relativas à anatomia e fisiologia do corpo humano. Essa abordagem normalmente não abarca as ansiedades e curiosidades das crianças, nem o interesse dos adolescentes, pois enfoca apenas o corpo biológico e não inclui a dimensão da sexualidade. Sabe-se que as curiosidades das crianças a respeito da sexualidade são questões muito significativas para a subjetividade, na medida em que se relacionam com o conhecimento das origens de cada um e com o desejo de saber. A satisfação dessas curiosidades contribui para que o desejo de saber seja impulsionado ao longo da vida, enquanto a não satisfação gera ansiedade, tensão e, eventualmente, inibição da capacidade investigativa. Para que os nossos objetivos aconteçam nas escolas, é preciso que nós, professores, além de abrangermos conteúdos sobre a anatomia humana, é necessário que tenhamos o domínio de conteúdo, atitude de acolhimento às expressões dos estudantes, tratando-os com flexibilidade, autonomia, seriedade sem banalizar os termos discutidos. É necessário, ainda, esclarecer as dúvidas e formular novas perguntas na sala de aula, tentando suprir a curiosidade das crianças e dos adolescentes, melhorando a aprendizagem sobre o corpo humano, instigando uma satisfação pessoal sobre determinado assunto. Enfim, mostrar para o público alvo que o sexo é algo naturalmente biológico. O estudo desenvolvido por Oliveira (2001, p. 134) mostra que: Os docentes representam a sexualidade como um fator fundamental sobre o qual os alunos necessitam ser esclarecido, o que vem demonstrar uma preocupação com problemas sociais, tais como: gravidez precoce, o aborto e a AIDS. Mas os docentes se contradizem apesar de mostrarem-se receptivos à discussão da temática da sexualidade, ela encontra-se associada aos valores, aos tabus e aos preconceitos deles. Muitas vezes o professor está preparado teoricamente para a discussão sobre gênero e sexualidade na escola, mas psicologicamente não. Dizem-se abertos ao diálogo, mas quando entra em pauta a questão na sala de aula, mostram-se tímidos ou preconceituosos para explorar o conteúdo, temendo errar. Apesar de alguns sentirem dificuldades de tratar temas com este, acreditamos que temos capacidade de informar os nossos alunos sobre temas como puberdade, adolescência, DST, aborto, gravidez na adolescência, métodos 16 anticoncepcionais, AIDS, drogas, tráfico humano, inclusive sobre os sistemas e funções do corpo humano. Basta que estejamos preparados psicologicamente e capacitados para o momento em que surgirem dúvidas e indagações. 1.2 - Gênero e Sexualidade no Espaço Escolar O tema Gênero e Sexualidade na EEEF Albert Einstein são bastante discutidos pelos adolescentes que mostram grande interesse pelos mesmos. Entendemos que a escola/professor lida com questões de gênero e sexualidade no seu cotidiano. Um exemplo dessa evidência ocorre dentro da sala de aula quando o docente conta quantos meninos e quantas meninas têm na sala e depois pergunta o total. Nesse sentido, é possível observar que as relações de gênero tem sido alvo de ensinamento dos adultos em relação às crianças, no qual definem o que pode e o que não pode ser feito pelas crianças na vivência de sua sexualidade. Deixa claro a nossa relação sobre o que queremos chamar a atenção sobre o significado de gênero, onde muitos confundem com sexo e sexualidade. São concepções diferentes que devem ser esclaredidas pela escola. A sexualidade é algo definido pelos adultos, e nesta não se permite que a criança fale, pense ou sinta tudo o que ela deseja, mas determina o modo de meninos e meninas tratarem a sexualidade. É importante explicitar que a criança elabora suas próprias respostas e teorias para estas questões sexuais. Como afirmam Camargo e Ribeiro (1999, p. 34): [...] a infância é falada na voz do adulto e de acordo com seu pensar [...], esquecendo-se de que a sexualidade é uma dimensão da existência, que não tem idade [...] e esquecendo-se também de que a criança elabora suas próprias teorias sexuais de acordo com suas vivências em um estilo pessoal, individual, único. Percebemos que a escola reproduz o modelo definido pela sociedade, inibindo as crianças dos seus desejos e restringindo-as a uma única possibilidade de viver a sexualidade. Com isso, a criança encara a sexualidade como algo que deve ser escondido, controlado e principalmente evitado. Muitas vezes, atrelada a conceitos e formação familiar do passado. A maneira como a escola e o docente lidam com as relações de gênero, na maioria das vezes ocorre através da criação de espaços binários que acabam aprisionando as identidades dos sujeitos, espaços estes que quando são transgredidos, deixam o professor 17 desorientado ao lidar com questões referentes ao gênero, como podemos perceber nas palavras de Rios (2009, p.103): Nesta linha, diversas cenas relatadas pelos professores cursistas, durante os debates no módulo Diversidade Sexual, apontam para a dificuldade em lidarem no cotidiano escolar, não propriamente com a homossexualidade, mas com meninos e meninas que, por exemplo, brincam de modo divergente do comumente esperado para homens e mulheres (p.e.: menina jogar futebol). O conceito de gênero que pretendemos enfatizar está ligado diretamente à história do movimento feminista contemporâneo, um movimento social organizado, usualmente remetido ao século XIX e que propõe a igualdade nas relações entre mulheres e homens através da mudança de valores, de atitudes e comportamentos humanos. mandar as meninas à escola e ensinar-lhes as ciências, como se fazem aos meninos, elas aprenderiam da mesma forma que estes e compreenderiam as sutilezas das artes e ciências, tal como eles” (MOREIRA e PITANGUY, 2003, p.19). Nessa linha de raciocínio, [...] “Apesar de o movimento feminista ser evidenciado a partir do século XIX, sua primeira voz surgiu ainda no século XIV, quando Christine Pisan, primeira mulher indicada a ser poeta oficial da corte, mostrou seu discurso articulado de maneira consciente em defesa dos direitos da mulher, polemizando com escritores renomados acerca da igualdade entre sexos”. Nesta citação fica clara a defesa dos direitos da mulher na busca de igualdade entre os sexos ao reivindicar uma educação, um trabalho, remunerações e respeito entre as mulheres na conquista pelo seu espaço na sociedade. Acredita-se que essa atitude problematiza o conceito de gênero no combate às desigualdades sociais e culturais e também às políticas. Na verdade, deve-se agir justamente sem discriminação, levando as mulheres a questionarem a ideia de predestinação de homens e mulheres a cumprirem papéis opostos na sociedade, atribuindo ao homem uma posição de mando decorrente de uma hierarquia mascarada. Deve-se compreender, portanto, o gênero como constituinte das identidades dos sujeitos, tal como raça, nacionalidade, etnia, idade, etc. Essas identidades não são fixas ou inatas, são construídas e reconstruídas nas relações sociais e de poder. Poder este que é exercido por diversas instituições presentes na sociedade. Na Biologia, utiliza-se varias nomenclaturas para classificar os organismos, ou seja, as espécies em estudos como sendo de sexo masculino ou feminino, nomes que podem ser usados como sinônimo de homens e mulheres. 18 Guacira Louro (2000, p. 13) expressa a complexidade da relação entre as características de transitoriedade e de contingência e as identidades de gênero e sexo. Segundo essa autora: “a admissão de uma identidade sexual ou de uma nova identidade de gênero é considerada uma alteração essencial, uma alteração que atinge a essência do sujeito”. Por mais que nos esforcemos por enfatizar o caráter social e cultural das identidades de gênero, é impossível negar a sua marca biológica, a qual determina, através do sexo, a primeira distinção social dos indivíduos. É bem verdade, que para nós interessa o aspecto relacional da construção das identidades de gênero. Sobre esse caráter relacional é importante destacar a contribuição de Bourdieu (1999, p.34): Tendo apenas uma existência relacional, cada um dos gêneros é produto do trabalho da construção diacrítica, ao mesmo tempo teórica e prática, que é necessário à sua produção como corpo socialmente diferenciado do gênero oposto (sob todos os pontos de vista culturalmente pertinentes). Isto é, como habitus viril, e, portanto não feminino, ou feminino, e, portanto, não masculino. Louro (1992) insiste na afirmação do aspecto relacional sobre as oposições polarizadas na construção das masculinidades e das feminilidades. Para a autora é importante ressaltar a importância de se empregar formas plurais ao se referir aos conceitos de gênero. [...] quando falamos em gênero estamos nos referindo a uma construção social e histórica de sujeitos femininos e masculinos, então é imprescindível que haja diferentes construções de gêneros numa mesma sociedade – construções estas que se fazem de acordo com diferentes modelos, ideais, imagens que têm as diferentes classes, raças, religiões, etc., sobre mulher e sobre homem. [...] devemos lembrar também que há diferentes construções de gênero numa dada sociedade em contextos históricos diferentes (o que por sua vez supõe dizer que o gênero tem história, que o feminino e o masculino se transformam histórica e socialmente) (LOURO, 1992, p.56). É necessário, explorar mais e divulgar, com trabalhos mais sistemáticos junto às escolas, questões ligadas a gênero e sexualidade. Como nesta citação, deixa claro que há diferentes construções sobre gênero no contexto histórico, sobre o feminino e o masculino, sobre conceitos que temos de homem e mulher. Com relação às mudanças da sociedade sobre o indivíduo analisamos as palavras de Marx e Engels, que dizem: [...] o ser social se diferencia dos animais pela sua capacidade de transformar a própria natureza, de tal modo que ao transforma-la, transforma a si mesmo. O primeiro ato humano e social, segundo os apontamentos marxistas, é a criação das condições materiais para a sua 19 sobrevivência. Deste modo, para que possa fazer sua própria história, deve, primeiramente, estar em condições para isso (MARX, ENGELS, 2007, p. 2). Para o uso do termo gênero, um dos problemas mais sérios é a sua equiparação ao sexo biológico. Sobre essa discussão, Louro (1992, p.57-58) salientou que "[...] o gênero não é apenas social [...] é uma categoria ao mesmo tempo biológica e histórica" (grifo da autora). Neste sentido, as práticas pedagógicas da escola, em relação às sexualidades, remetem às observações de Louro (2001, p. 80): [...] a vigilância e a censura da sexualidade orientam-se fundamentalmente, pelo alcance da „normalidade‟ (normalidade essa representada pelo par heterossexual, no qual a identidade masculina e a identidade feminina se ajustam às representações hegemônicas de cada gênero). Na escola o tema da sexualidade está na “ordem do dia” da escola. Presente em diversos espaços escolares ultrapassa fronteiras disciplinares e de gênero, permeia conversas entre meninos e meninas e é aboradado na sala de aula pelos professores da escola, inclusive, tema de capítulos de livros didáticos. A sexualidade, aparentemente reduzida ao âmbito privado, teria toda a sua complexibilidade circunscrita a uma esfera pessoal. Porém, na contemporaneidade, com a emergência dos estudos sobre as identidades, as sexualidades passam a ser entendidas como sendo: [...] hibridas, compostas de muitos fragmentos históricos e de experiências pessoais e sociais. Elas são sempre políticas, num sentido mais amplo, construções recalcitrantes que desafiam as categorizações mais tradicionais das ciências sociais e das relações de poder estabelecidas. Profundamente pessoais e, ao mesmo tempo, altamente políticas, elas podem, transcender o público e o privado, o individual e o coletivo (CARVALHO, 2003, p. 52- 53). Ao estudar essa temática, vimos a tamanha necessidade de discutir gênero e sexualidade na escola, de forma interdisciplinar, mostrando as relações sociais estabelecidas na vida dos seres humanos. Nesse cenário, percebe-se que a escola sempre esteve submetida ao crivo da moral vigente, tornando-se lugar “[...] senão de silêncio absoluto, pelo menos de tato e discrição [...]” (FOUCAULT, 1997, p. 22). A censura da palavra, porém, não significa a censura ao sexo, como bem nos retrata louro (1997, p. 81), Esta presença da sexualidade independe da intenção manifesta ou dos discursos explícitos, da existência ou não de uma disciplina de “educação sexual”, da inclusão ou não desses assuntos nos regimentos escolares. 20 A sexualidade está na escola porque ele faz parte dos sujeitos, ela não é algo que possa ser desligado ou algo do qual alguém possa se “despir”. Como se pode observar, não adianta não querer reconhecer a existência da sexualidade, ela não pode mais ser omitida no trabalho educativo. E, agora oficialmente, a escola é reivindicada a falar sobre ela. 1.3- Gênero, Sexualidade e Currículo. Muitas vezes se confunde o conceito de sexualidade com o do sexo propriamente dito. É importante salientar que um não necessariamente precisa vir acompanhado do outro. Cabe a cada um decidir qual o momento propício para que esta sexualidade se manifeste de forma física e seja compartilhada com outro indivíduo através do sexo, que é apenas uma das formas de se chegar à satisfação desejada. Sexualidade é uma característica geral experimentada por todo ser humano e não necessita de relação exacerbada com o sexo, uma vez que se define pela busca de prazeres, sendo estes não apenas os explicitamente sexuais. Como defende Foucault (1997, P. 100): [...] não se deve conceber [a sexualidade] como uma espécie de dado da natureza que o poder é tentado a pôr em xeque, ou como um domínio obscuro que o saber tentaria, pouco a pouco, desvelar. A sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não a uma realidade subterrânea que se apreende com dificuldade, mas à grande rede da superfície em que a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, à formação do conhecimento, o reforço dos controles e das resistências, encadeiam-se uns aos outros, segundo algumas grandes estratégias de saber e de poder. Então, são as ações que desencadeiam a expressão do desejo voltado para a satisfação pessoal do indivíduo, designados por identidades de sexos diferentes ou não. Trabalhamos as relações de gênero no convívio escola, ligados aos temas transversais no Ensino Fundamental II. Elas estão presentes de forma nítida nas relações entre os alunos e nas brincadeiras diretamente relacionadas a nossas sensações, sentimentos e emoções envolvendo a energia sexual. Estão presentes também nas demais brincadeiras, no modo de realizar as tarefas escolares, na organização do material de estudo, enfim, nos comportamentos diferenciados de meninos e meninas. 21 Sabemos que a Orientação Sexual não é considerada como disciplina do currículo escolar; a Direção e os professores a programam como sendo de caráter informativo e educativo para professores adaptarem nos seus currículos escolares como novo modelo de ensino e aprendizagem. Sexualidade e gênero são trabalhados na escola como tema transversal e interdisciplinar. Para isto, cabe ao professor se qualificar para que possa sentir-se seguro durante explorações dos temas. Na verdade, não é fácil tratar temas que envolvam adolescência, puberdade, sexualidade, sexo, gênero, dentre outros. Por mais que se prepare, existe a timidez, a insegurança sobre o assunto, no sentido de não saber expressar cientificamente, conforme relatam alguns professores. 22 Capítulo II- As discussões sobre Gênero e Sexualidade na Escola Estadual de Ensino Fundamental Albert Einstein 2.1- Percurso Metodológico Neste trabalho, para o alcance do objetivo da pesquisa que foi fazer um estudo a frente da EEEF. Albert Einstein para averiguar como a Escola Estadual Albert Eistein tem exrcido seu papel em Orientação Sexual, se esta concedeu aos alunos o subsídio necessário para o desenvolvimento de uma consciência crítica e tomada de decisões responsáveis a respeito de sua sexualidade. Para tanto, confeccionamos e aplicamos um questionário único com vinte perguntas sobre gênero e sexualidade. O questionário continha perguntas compostas por questões semi-estruturadas. O referido instrumento de pesquisa foi respondido tanto por alunos, quanto por professores. A aplicação se deu no horário comum das aulas e, além do questionário, reforçando o nosso estudo, o depoimento de uma aluna com pseudônimo de Simone Solimões, com o tema “gravidez precoce na adolescência”, onde a adolescente relata as consequências de uma gravidez não planejada e indesejada, contando experiências aprendidas, lições de vida após o ato impensado. Várias discussões em rodas de conversa com alunos na sala de aula e professores foram feitas. Nossos debates despertaram o interesse de conhecer mais sobre sexualidade, gênero, tabus e preconceitos, opinar sobre valores, culturas, etc. Acreditamos que os temas foram tratados de forma didática e responsável, visando o ensino-aprendizagem do público alvo. As advertências contidas no depoimento da adolescente tiveram esclarecimentos e são ricos no sentido de alertar para as consequências do sexo sem proteção. Na EEEF. Albert Einstein um total de 26 alunos foram escolhidos em turmas de 8º e 9º anos do Fundamental II e também 05 professores destes mesmos anos. Primeiramente, os questionamentos foram respondidos pelos alunos em seguida, professores. A maioria dos alunos entrevistados mora na zona urbana num percentual de 65 % e, o restante, na zona rural do município, 35%. Dos 26 entrevistados, 52% disseram que necessitam receber informações sobre sexualidade dentro da própria escola campo de pesquisa, com professor preparado; 10% afirmaram que seria melhor que essas informações fossem repassadas pelo profissional da saúde; 15% afirmaram que buscavam informações nos livros e revistas educativas; 10% disseram que buscavam as informações 23 através da internet; 5% com os colegas da rua ou da sala de aula mesmo e 10% resolveram não opinar. Tendo coletado as respostas, fizemos um debate livre com os alunos sobre a questão em pauta. Os resultados constam no percurso das entrelinhas deste trabalho e também nas falas de colaboradores da pesquisa desta monografia. Com relação aos professores, 05 se dispuseram a responder nossos questionamentos e autorizaram nossas observações durante a aplicação do questionário. Atentas aos princípios éticos, optamos por não citar nomes das pessoas, evitando possíveis constrangimentos; denominamos os professores com nomes de animais escolhidos conforme características e número de professores envolvidos: CAMALEÃO, ARARA, TUBARÃO, ÁGUIA e COELHA. No questionário perguntamos aos professores as opiniões de cada um com relação às práticas interdisciplinares ao abordar estes assuntos na sala de aula. Obtivemos as seguintes respostas: O professor CAMALEÃO, respondeu: “[...] vergonha de falar sobre o tema gênero e sexualidade na sala de aula, temendo repressão por parte dos alunos”. A professora ARARA respondeu: “[...] seria interessante o professor de Ciências e Biologia abordarem o tema e não inserido nas práticas interdisciplinares da educação escolar, conforme, muitos alunos e professores pensam, é importante que a escola enalteça as características específicas e ao mesmo tempo combata alguns preconceitos”. A professora ÁGUIA contestou: “[...] muitos profissionais de educação não estão habilitados para este debate, porém, acho polêmico discutir em sala de aula, pois trás aborrecimentos e stress, é preciso que tenha domínio e autoconfiança”. A professora COELHA destacou: “[...] busco conhecimentos sobre gênero e sexualidade nos livros, internet, em sites educativos, com professores habilitados e profissionais da saúde para discutir o tema em análise, muito interessante para o currículo profissional e ensino-aprendizagem do aluno”. O professor TUBARÃO respondeu: “[...] acredito que a escola além de orientar deve desenvolver projetos com temas educativos que contribuam para a formação de cidadãos “bem resolvidos” consigo mesmos além de formar pessoas capazes de lidar com as diferenças, conversar, exclarecer, levar a informação”. Percebemos claramente o interesse, mas também o receio, dos professores em querer abordar o tema gênero e sexualidade com seus alunos, trabalhar com postura e esclarecimentos. A escola deve trabalhar para a diminuição do preconceito na relação entre meninos e meninas. 24 As práticas interdisciplinares dos professores da EEEF. Albert Einstein devem abordar diferentes temas transversais, principalmente ligados ao estudo do corpo humano, relações, funções e interações que sucedem. A escola deve ser sempre o espaço da informação correta, da reflexão, da avaliação dos comportamentos e das aprendizagens, da metodologia de conteúdos e procedimentos metodológicos e principalmente das convivências respeitosas com o diferente, o especial, o outro; na perspectiva de que ela é o “lócus privilegiado” para aprendermos a aprender, a ser, a fazer e a conviver. Não cabem mais comportamentos arraigados, fechados, puritanos, mas antes os esclarecedores, democráticos e cidadãos principalmente esclarecidos no que se refere às questões de gênero e sexualidade. Que os profissionais docentes discutam ao longo de suas aulas temas que envolvam gênero, sexualidade, diferenças de identidades (opções sexuais) e comportamentos afetivos, não atendam somente a direitos individuais e sim coletivos do que aquilo que a instituição considera “correto”. A postura das professoras frente às questões que envolvem o gênero é bem confluente, elas procuram trabalhar o respeito, principalmente a professora COELHA, que destaca em sala de aula o conhecimento do conteúdo, a capacitação profissional e sua importância curricular e que todos são importantes e devem ter as mesmas oportunidades. A educação escolar é um processo longo, onde nós necessitamos refletir nossas práticas. Guacira Louro (1997, p. 31-32) afirma, ser necessário desconstruir o caráter fixo e permanente da oposição binária entre masculino e feminino. Desconstruir a polaridade rígida dos gêneros significaria, então, problematizar tanto a oposição entre eles quanto a unidade interna de cada um. Implicaria observar que o pólo masculino contém o feminino (de modo desviado, postergado, reprimido) e vice-versa; ―implicaria também perceber que cada um desses pólos é internamente fragmentado e dividido (afinal não existe a mulher, mas várias e diferentes mulheres que não são idênticas entre si, que podem ou não ser solidárias, cúmplices ou opositoras). Percebemos essas diferenças quando entramos na sala de aula, deparamo-nos com cadeiras separadas as meninas sentam de um lado e os meninos de outro, o separativismo de grupos num mesmo ambiente. Inclusive, nos trabalhos de pesquisa, as meninas não gostam de ficar com os meninos. É preciso que os professores apliquem uma estratégia para converter essas divisões de gêneros, desmistificando conceitos. 25 Na verdade, é interessante que o professor faça uma análise de si, veja onde pode melhorar, e se pergunte: Que tipo de educação meu aluno está recebendo? Será que estou atendendo aos anseios ou estou sendo omisso? Perguntamos aos professores qual seria o papel que a escola deve desempenhar no que tange às questões de gênero e sexualidade, nesse sentido, gostaríamos de explicitar todas as respostas, pois é fundamental perceber qual a ótica destas professoras em relação ao seu próprio papel como membro integrante da escola. Entendemos que ao falar de escola como um todo elas estejam refletindo também sobre seu próprio papel nesse contexto. Obtivemos as seguintes respostas: O professor Tubarão respondeu: [...] o papel da orientação escolar é orientar os alunos. O professor Camaleão ressalta: [...] a escola deve desenvolver projetos que contribuam para a formação de cidadãos bem desenvolvidos consigo mesmos além de formar pessoas capazes de lidar com as diferenças e identidades. A professora Arara diz: [...] é função da escola, trabalhar para a diminuição do preconceito na relação entre meninos e meninas, orientando-os para que possam compreender que a sexualidade é algo natural e que sua vivência precisa ser respeitada; A professora Coelha destaca: [...] a escola seja elemento de difusão do respeito. A professora Águia contesta: [...] é preciso buscar interação de pessoas de fora com o grupo escolar, pessoas que possam fazer palestras com a família dos alunos e também com os funcionários da escola. Diante do exposto, depreendemos que os professores da escola pesquisada compreendem que está entre as funções da escola a orientação sexual, mas percebemos também que os mesmos, por vezes, demonstram dificuldade no trato de temas complexos, que envolvam diferenças, principalmente no que diz respeito a gênero e sexualidade. Assim, percebemos o quanto ainda precisamos discutir e amadurecer teórica e didaticamente para tratarmos de assuntos complexos no espaço escolar. 2.2- A Escola Estadual de Ensino Fundamental Albert Einstein A EEEF. Albert Einstein funciona nos três turnos: manhã- Fundamental II, tardeFundamental I e noite- Modalidade EJA do Fundamental II. Ao todo atende a um público de aproximadamente 1.050 alunos, entre crianças, adolescentes e adultos. 26 Além de temas ligados a gênero e sexualidade na escola, outros temas transversais ligados às drogas, à violência, à gravidez na adolescência, ao aborto, ao bullyng, à influência das mídias na aprendizagem das crianças e adolescentes também são trabalhados. De acordo com o que observamos na escola são realizadas reuniões bimestrais com os pais ou responsáveis pelos alunos; a direção se reúne com os professores levando informação dos rendimentos bimestrais e aptidões de cada um. Tomando como base os resultados das avaliações, tomam-se providências para melhorar a aprendizagem, inserindo metodologias ligadas às capacidades de desenvolvimento do aluno. Sozinha, a escola não pode fazer nada para mudar comportamentos e interesses dos alunos pelos estudos. É dever dos pais agir em conjunto com as instituições escolares. Sabe-se que na maioria das vezes, as famílias depositam toda responsabilidade de educar nas escolas, responsabilizando, portanto, a escola pelos cuidados para com seus filhos. A escola não pode fazer muito, mas quando é possível faz. Na sala de aula observa-se que as relações entre gênero são bastante discutidas. Meninos e meninas brincam juntos, os professores incentivam o respeito à diversidade, lidando com muita naturalidade com as manifestações acerca das diferenças entre gêneros. Por exemplo: nas dinâmicas realizadas na sala de aula, nas brincadeiras que envolvem danças com bolas, representações com cores, meninos e meninas participam naturalmente, obedecendo aos critérios da brincadeira e não ao gênero sexual. Buscamos desmistificar essas diferenças entre homem e mulher, ou seja, masculino e feminino, direitos iguais. Além dos questionários com alunos e professores, tivemos como suporte para o desenvolvimento do nosso trabalho o depoimento de uma adolescente, com nome fictício Simone Solimões, que relata a história de sua vida, envolvimentos sexuais, concepção de uma gravidez precoce, inclusive, a sua opinião a respeito deste caso e um aviso de alerta para as demais adolescentes. Aqui trazemos trechos desse depoimento que reforçou nas nossas pesquisas. Trata-se sobre Gravidez na Adolescência, Simone diz o seguinte: Sou “Simone”, garota extrovertida, gosto da natureza, festa, praia, das belas paisagens, tudo de bom que a vida nos oferece. Tenho muitos colegas, sou amada pelos meus pais e pelos meus irmãos. Pertenço a uma classe média baixa, tenho um corpo escultural definido, sou de causar inveja às colegas de classe. Bastante estudiosa e assídua nas aulas, realiza todas as atividades em dia, não perco sequer uma explicação, inclusive os conteúdos. Até que um dia, me com um rapaz e engravidei, meus sonhos de adolescentes desabaram. Procurei meus pais e falei-lhes tudo, o acolhimento não foi muito agradável, me expulsaram de casa, fui acolhida por uma tia que me due toda assistência no momento em que mais precisava. O pai de meu filho não quis assumir a criança, nos desprezou completamente! Fiquei abalada com tudo, iria praticar o 27 aborto, mas, resolvi não o fazer... Dei a volta por cima, tive meu filho e estou aqui firme e forte para enfrentar a vida com sabedoria e cautela. Durante o período de gravidez, passei por momentos difíceis, queria ficar sozinha, fugir de mim mesma, sair para outro lugar. A triteza seguia independentemente que eu fosse ou não, sei que os problemas nos acompanham onde quer que estejamos. Resolver os problemas de perto, encarar a situação, esta seria a forma correta. Fugir de mim, por quê? Em fim, esta é um resumo, um pouco da minha história. Uma adolescente de 14 anos, que engravidou na adolescência, parou de estudar para cuidar e dedicar ao filho. Hoje, meu filho cresceu um pouco, voltei a estudar para concluir os meus estudos, profissionalizar para conseguir um trabalho. Este depoimento explicita a mudança que uma gravidez precoce e indesejada causa na vida de uma adolescente. Dizemos “uma” porque são, no geral, as meninas que são mais acometidas pelas consequências. São elas expulsas de casa; são elas que assumem ou abrem mão do filho; são elas que deixam de estudar para cuidar da criança; entre outras tantas consequências. Aos meninos, aparentemente, os danos são menores, pois não são eles a engravidarem, geralmente não expulsos de casa e também na maioria das vezes, não assumem o filho. Frente a tantos complicadores, utilizamos o relato como uma estratégia de sensibilização aos adolescentes que participaram da pesquisa. A EEEF. Albert Einstein a cada dia convive com situações novas que há algum tempo atrás eram impensáveis no cotidiano desta escola. As questões de gênero e sexualidade na educação dos jovens são alguns dos temas que fazem parte da vivência escolar dos alunos e, portanto, do currículo escolar. O nosso objetivo foi abordar questões sobre o tema supracitado. As discussões sobre o tema surgiram em roda de conversas com alguns professores, em seguida, difundiu-se em toda escola a necessidade de levar o conhecimento sobre o corpo humano, como conhecer melhor os órgãos genitais, diferenciar gênero, sexo e sexualidade, buscar maneiras simples, inteligentes e com responsabilidade de abordar os temas, sem vulgarizar os termos e, orientar para a vida. Mostrar os conhecimentos básicos, os cuidados com o nosso corpo, a tratar o sexo como algo prazeroso, agradável, que faz bem à mente, ao físico e deve ser tratada com cuidado e responsabilidade. Defendemos que o diálogo deve estar presente em qualquer tema que envolve escola, crianças e adolescentes, principalmente quando o tema é polêmico ao olhar de muitos, como Gênero e Sexualidade. Na verdade, é preciso que o professor esteja preparado para tratar assuntos como estes. É interessante que o professor procure maneiras de conduzir a aula sem causar transtornos e dúvidas, mantendo a disciplina em sala de aula, caso contrário o ambiente se tornará uma balbúrdia. 28 Por ser ampla e pouco discutida, a sexualidade mesmo sendo algo da natureza humana, digamos que a família e de certo modo a sociedade, não possuem segurança suficiente para abordar esse assunto. De certo modo, nas escolas a responsabilidade gira em torno dos profissionais de Ciências e de Biologia, áreas específicas que tratam o corpo humano, mais deixamos bem claro que outras disciplinas curriculares podem abranger e discutir qualquer tema transversal. 29 Capítulo III- Gênero e Sexualidade na voz dos Alunos e Professores. 3.1 – Gênero e Sexualidade na voz dos Alunos Como sabemos, a pesquisa nesse trabalho foi realizada na Escola Estadual de Ensino Fundamental “Albert Einstein” e o instrumento utilizado foi o questionário composto de questões semi-estruturadas para alunos e professores da escola. Também ouvimos o depoimento da aluna Simone Solimões do 8º ano do Fundamental II, contamos com a participação do aluno Rodrigo no que se refere a opinião sobre a entrevista da colega supracitada. Segundo Rodrigo, Sentimos a necessidade de termos a orientação sexual na sala de aula, vejo que a garota em seu depoimento precisa de apoio dos colegas e principalmente da família que a abandonou, sem contar com a ausência do parceiro com quem se envolvera nesta trama complicada. É preciso que a escola tenha mais debates, seminários de informações sobre sexualidade e principalmente assuntos ligados às atualidades e realidade dos adolescentes. Para aplicação dos questionários, os alunos foram escolhidos aleatoriamente dentre as turmas do 8º ano “A”, e do 9º “A”, todas do ensino fundamental II do turno manhã. Aplicamos os questionários em cada turma coletivamente, isso porque ele é um instrumento que permite obter informações de um grande número de alunos ao mesmo tempo. Os questionários foram respondidos pelos alunos no horário escolar, não foi requisitado que os alunos se identificassem, garantindo, portanto, o sigilo de suas informações, inclusive dos profissionais que contribuíram participando conosco da pesquisa. Foram entrevistados 26 alunos e 05 professores, ao todo 31 pessoas. Os dados apresentados pelos alunos evidenciam os desafios a serem enfrentados pelos professores da escola, pela sociedade e, de modo mais particular, pelas comunidades, famílias e escolas que preparam esses jovens para lidar naturalmente com a sua sexualidade. Segundo Dutra (2000, p, 7-19) diz que, “não se aprende primeiro, para depois investigar, ao contrário, aprende-se investigando”. É o que estamos fazendo, perseguimos investigando questões atinentes a genero e sexualidade na escola campo de pesquisa. Nesta relação o conceito de investigar, se refere às pesquisas que nós realizamos em caráter 30 educativo, coletando dados dos nossos alunos sobre o que pensam sobre Gênero e sexualidade. No intuito de alcançar o objetivo deste trabalho que foi averiguar como e suas conclusões sobre o tema. a EEEF Albert Eistein tem execido seu papel em Orientação Sexual, se esta concedeu aos alunos o subsídio necessário para o desenvolvimento de uma consciência crítica e tomada de decisoes responsáveis a respeito de sua sexualidade, verificamos as respostas dadas pelos alunos que foram assim denominados: Aluno I, Aluno II, Aluno III, Aluno IV, Aluno V, Aluno VI, Aluno VII, Aluno VIII, Aluno IX, Aluno X, Aluno XI, Aluno XII e Aluno XIII, respectivamente. Sabendo da complexibilidade do tema, optamos pela analise qualitativa dos dados obtidos. A pesquisa de 26 alunos, um percentual de 50% dos entrevistados respondeu o questionário, ou seja, 13 alunos (8 meninas e 5 meninos). Consideramos esse número suficiente para nossa análise. O restante dos entrevistados, ou seja, aqueles que não responderam, total de 13 alunos ( 9 meninas e 4 meninos) não quiseram opinar. Segundo Macedo (2001, 28), com a relação de pertinência com a avaliação diz que, “além de útil, pedagógica e transformadora a forma de avaliar deve ser pertinente, fidedigna, abrangente, seletiva, relevante, transparente, consistente, legítima, coerente, explicativa, interativa e consequente, fidedigna, abrangente, seletiva, relevante, transparente, consistente, legítima, coerente, explicativa, interativa e conseqüente”. Aplicamos um questionário com perguntas claras, incorporando a negociação no processo avaliativo, no qual os critérios e recomendações foram discutidos pelos interessados no processo, buscando consensos e respeitando-se as divergências e interesse em respondê-las. As respostas dos alunos foram vistas em linhas gerais sobre gênero e sexualidade não havendo divisão de gêneros nas concepções apresentadas, muitos deles afirmaram que sexualidade era sinônimo de relação sexual. Essa é uma relação comumente feita, é um equívoco que deve ser esclarecido. Como tratamos aqui de educação escolar, entendemos que os professores devem diferenciar sexualidade e sexo, quando da abordagem do tema. Acreditamos que este esclarecimento é salutar, principalmente porque tanto sexualidade, quanto sexo e gênero são assuntos bastante debatidos nos dias atuais, tanto na escola quanto em outros espaços sociais, tais como a família e em mídias diversas. Ao realizarmos as indagações na roda de conversa obtivemos as respostas seguintes: Entrevistador: Oque entende sobre gênero? 31 Aluno I: A palavra Gênero é óbvia, se refere ao sexo a que pertence o sujeito, ou seja, masculino ou feminino, aparentemente gênero tem diferentes significados, neste caso a resposta é clara com referência ao gênero. Entrevistador: No seu ponto de vista, o que vem a ser sexualidade? Aluno II: Em geral é tudo, envolve relacionamentos, amizade, sexo com responsabilidade. Entrevistador: O que é sexualidade? Aluno III: Eu acho que é um modo de dois namorados mostrarem o amor um para o outro. Entrevistador: O que é sexualidade? Aluno IV: (Pausa...) Como não obtivemos resposta, apenas o silêncio reflexivo do aluno, entendemos que o mesmo estava pensando como articular sua resposta, então insistimos, mudando um pouco o questionamento. Pesquisador: O que significa sexualidade para você? Informante - Aluno IV: É a forma como relacionam as pessoas, trocando afetos, carinhos, abraços, enfim, envolve os parceiros sexuais. Entrevistador: Com quem você busca uma explicação sobre gênero e sexualidade? Aluno V: Procuro informações com o professor de Ciências, porque acredito ser conteúdo da disciplina, sinto que ele é mais seguro em debater. Entrevistador: Além do professor de ciências, outros conversam em sala de aula sobre sexualidade? Aluno V: Não. Acredito que não estão preparados para discutirem determinados assuntos sobre sexualidade transferindo essa responsabilidade para o professor de ciências. Em conversas que tivemos com professores, percebemos que há aqueles que procuram levar o assunto para o profissional da matéria que trata sobre o corpo humano, ou seja, ciências naturais ou biologia. Vimos, anteriormente, isso muito claramente na fala da professora Coelha. Entrevistador: Quais as aulas em que vocês debatem esse assunto na disciplina de ciências? 32 Aluno VI: A minha professora conversa sobre os órgãos do corpo humano, estrutura e funções, orientação sexual que abrange: gravidez na adolescência, namoro, amizades, reprodução, adolescência e os comportamentos e mudanças na puberdade, DST, métodos anticoncepcionais, diferenças entre sexo, sexualidade e gênero. Entrevistador: Você consegue esclarecer as suas dúvidas? Aluno V: Com certeza! Minha professora é segura nos conteúdos abordados, explica de maneira científica e pedagógica, tornando os temas mais fáceis de serem compreendidos. Entrevistador: A escola no seu ponto de vista é o lugar onde o tema gênero e sexualidade deve ser orientado pelos professores? Aluno VII: Sobre o tema abordado não basta a escola dizer que ensina se ninguém aprende, assim como os anos de estudo tampouco significam mais nada, a informação na escola na minha concepção, é o caminho viável para tratar sobre sexualidade principalmente na adolescência, idade que mais precisamos de informações e esclarecimentos. Entrevistador: Onde busca as informações sobre gênero e sexualidade? Aluno VIII: Busco as informações sobre Gênero e Sexualidade nos livros e revistas educativas. Entrevistador: Que tipo de informações você busca mais? Aluno VIII: Informações sobre sexo e sexualidade, gravidez na adolescência e DST que precisamos absorver, nem sempre são divulgadas na mídia com gostaríamos que fosse. Na maioria mostra a ideia disfarçada, empregando o homem e/ ou mulher nas propagandas televisivas no intuito de divulgar o produto em locus; deixando a conscientização a desejar. Entrevistador: De que maneira você explica sexualidade? Aluno IX: A sexualidade se refere aos comportamentos afetivos, as emoções transferidas de pessoa a outra no intuito de ter um relacionamento natural respeitando o próximo. Ao observarmos as respostas dos alunos, percebemos que estão coerentes com as discussões atuais. São respostas que dizem de um professor de ciências comprometido com seu trabalho e é nas aulas desse professor onde o assunto em tela é abordado. Isso corrobora tanto a fala da professora Coelha quanto a fala do aluno V. E aí nos resta 33 indagar, quão transversal ou interdisciplinar é o tratamento dispensado a gênero e sexualidade na escola, visto que, aparentemente, este se resume a um espaço especifico a disciplina de biologia ou ciências. Será que os demais professores não exploram realmente essa temática? Será que se sentem envergonhados, como disse o professor Camaleão? Certamente que há muitas indagações a serem feitas e lacunas a serem preenchidas no trato deste e de outros temas polêmicos para a escola. Sobre perguntas com relação a gênero na escola, os alunos entrevistados responderam: Entrevistador: A que se refere Gênero Sexual? Aluno X: Nos debates que tivemos em sala, gênero sexual se refere. “As diferenças entre homens e mulheres são as biológicas e as fisiológicas e não relação sexual como muitos deduzem”. Entrevistador: Você discute também sobre gênero na escola? Aluno XI: Sim. Sempre que tenho alguma dúvida, não somente sobre gênero, mas também sexualidade, sexo, namoro, comportamentos sexuais e afetivos discutimos. Esses assuntos são interrogados frequentemente; além de complexos, requer bastante orientação. Entrevistador: Você conversa com suas amigas sobre gênero e sexualidade quando o professor está por perto? Aluno XII: Sim. Na maioria das vezes o professor participa do papo quando está perto. Então, nossos diálogos ficam intensos e esclaredores sobre nossas curiosidades. Entrevistador: Você consegue ficar à vontade para discutir e esclarecer suas dúvidas sobre sexualidade? Aluno XIII: Com certeza! A professora me deixa à vontade para indagá-la e por outro lado, me passa segurança sobre esses assuntos. Cerca de 50% dos 26 alunos entrevistados, ou seja, 13 alunos (4 meninos e 9 meninas) resolveram não opinar sobre gênero e sexualidade, alegando não saber explicar e persistindo, no “sei não”. Procuramos saber o porquê de não responderem, descobrimos que esses alunos participavam de uma doutrina religiosa diferente. O pertencimento a determinadas religiões talvez explique a diferença de comportamento apresentado em relação a outros alunos que abordamos durante pesquisa. 34 Vimos que pelas respostas obtidas a professora de Ciências parece atender as necessidades e anseios dos alunos, parece que também está aberta ao diálogo, tanto que um dos alunos entrevistados disse não se intimidar quando esta chega e ele está conversando sobre sexualidade, gênero e, podemos até inferir o sexo, visto que o aluno diz sentir segurança na relação que mantém com a professora. Isso é bastante positivo e nos surpreende, uma vez que é cada vez mais comum ouvirmos falar nos noticiários de casos de agressão, inclusive física, de alunos contra professores. Há ainda que considerarmos também os casos de desrespeito para com este profissional. Durante toda a coleta de dados sabíamos que os alunos tinham muito mais a dizer do que o que realmente disseram. Nenhum dos entrevistados conceituou a sexualidade e sexo como meio reprodutivo, embora falado sobre educação sexual, a questão da prevenção das DST e gravidez. Acerca dos 26 sujeitos entrevistados, podemos afirmar que há uma ausência de trabalho em educação sexual na escola. O campo para discussões sobre o tema gênero e sexualidade fica entre pares, conforme foi possível constatar na pesquisa. Os adolescentes muitas vezes não encontram espaços para expor suas ideias, concepções, dúvidas sobre sexo, gênero, sexualidade, prazer, relacionamentos com os pais e muito menos com professores, acabam por restringirem suas experiências e compreensões sobre esse aspecto de vida entre iguais, com exceção da professora de Ciências. Não havendo espaço para que eles construam uma consciência mais ampla do que são gênero e sexualidade, o tema quando é abordado, é debatido limitadamente na disciplina de Ciências sob a forma de conteúdos que primam por aspectos biológicos, DST e gravidez. Usamos o termo “limitadamente” porque sabemos que a escola exige que uma quantidade determinada de conteúdos sejam estudados, logo, não há um tempo ilimitado para que temas complexos, que demandam mais tempo e estudos, sejam explorados a contento. Verificamos constantemente casos em que os fatores culturais da familia ligados â religião influenciam diretamente na maneira como o jovem vive a sua sexualidade, e se apropria dela. Nota-se também que as influências da sociedade modificam completamente a educação transmita pelos pais e repassadas à escola na formação de cidadãos conscientes. Defendemos que o aluno tem direito a uma proposta pedagógica que aborde questões sobre Gênero e Sexualidade, eliminando conceitos discriminatórios e sexistas. Por outro ângulo, que tenham consciência de que são livres para avaliar, decidir e viver sua sexualidade com respeito, responsabilidade, buscando dialogar, interagir e questionar sobre 35 a multiciplicidade de gêneros e sexualidades existentes na escola e/ou sociedade em que vivemos. Segundo Penna Firme (1998, p. 37), “avaliar é um momento inevitável de qualquer atividade humana”. E ainda, segundo a autora, “(...) se a falta de avaliação é grave, igualmente prejudicial é a sua inadequação”. Durante o percurso da pesquisa, cuidamos para que estivéssemos sempre abertas ao dialogo e aos questionamentos que nos chegavam. 3.2 – Gênero e Sexualidade na voz dos Professores A escola pesquisada diz que Gênero e Sexualidade vêm sendo discutidos abertamente pelos professores da escola supracitada com bastante frequência no intuito de levar informações e mostrar que o assunto é de extrema necessidade para os professores conhecerem de perto o tema abordado. Entretanto, não foi o constatado na voz dos alunos. Do ponto de vista educacional, “aprende-se melhor e de fato, quando se estuda na escola”. Sabemos que ao iniciar uma vida sexual ativa os adolescentes devem estar suficientemente maduros psicologicamente a fim de que sejam responsáveis na prevenção de DTS e de uma gravidez indesejada. A escola e seu modo de se organizar constituem um ambiente educativo, isto é, um espaço de formação e de aprendizagem construído por seus componentes. Foram entrevistados 05 (3 Professoras e 2 Professores) com nomes fictícios denominados: Professor Camaleão, Professora Arara:, Professora Coelha, Professor Tubarão e Professora Águia. Indagamos sobre como são discutidos gênero e sexualidade em sala de aula com os alunos, qual o “olhar” de cada professor sobre esse assunto e a roda de conversa que adotamos durante a pesquisa. Obtivemos as seguintes respostas: [...] Foi muito legal descobrir que para falar de sexualidade com nossos adolescentes precisamos ter bastante embasamento e desenvoltura. Estudar sobre identidades sexuais, gênero e corpos foi muito válido como educador, abriu-se um leque de possibilidade (Professor Camaleão). [...] Essas palestras tornam-se indispensáveis ao educador, tendo grande importância, pois muitas vezes enfrentamos situações que de imediato não vemos soluções para os problemas enfrentados na sala de aula, principalmente no ensino fundamental II, onde os adolescentes perguntam constantemente sobre orientação sexual na escola, por que raramente se discute sexualidade dentro da escola (Professora Arara). 36 [...] As trocas de experiências e as oficinas foram muito ricas para nossa aprendizagem no cotidiano escolar (Professora Coelha). [...] Esse trabalho foi muito proveitoso, às vezes eu ficava tímida, insegura, com o passar do tempo, fui pesquisando, lendo alguns textos, artigos sobre sexualidade para a vida, trouxe informações da qual não tinha conhecimento e falar sobre Gênero e Sexualidade para os meus alunos foi uma experiência nova para meu currículo pedagógico, com certeza minhas aulas se tornarão mais dinâmicas e participativas. (Professor Tubarão,). [...] É bastante interessante discutir temas relacionados à sexualidade principalmente para adolescente, traz à tona diversos olhares sobre o tema, visualiza preconceitos e desmistifica biótipos e ideários que se tem quanto ao sexo, gênero e sexualidade, agora me falta coragem para tratar sobre este tema; no meu ponto de vista, é complexo, tendo em vista que abrange uma sequência de subtemas, (Professora Águia). Diante das respostas obtidas, depreendemos que o Professor Camaleão mostrou-se pronto para debater sobre sexualidade na escola, mostrou-se aberto às discussões, ao debate. A Professora Arara alegou timidez, vergonha e insegurança sobre as questões levantadas e que precisam melhorar esse posicionamento. Já a Professora Coelha, afirma que o tema gênero e sexualidade são bastante interessantes para trabalhar na sala de aula. O Professor Tubarão mostra que este assunto é de suma importância nas suas práticas pedagógicas dentro da sala de aula, e que suas aulas terão avanços principalmente com as participações dos alunos. Para a Professora Águia, o tema é interessante porque norteia diferentes olhares sobre a sexualidade, principalmente quando envolve adolescentes. Frente aos estudos realizados, entendemos que o principal impasse de não debater sobre o assunto é justamente a coragem em levar à discussão algo que se considera polêmico em vários sentidos, ou seja, devido ao assunto ser sexualidade e gênero. É um assunto contra o qual há ainda muito preconceito e desconhecimento. Inclusive em conversas aleatórias numa roda de amigos podemos ser surpreendidos com determinadas posturas e atitudes preconceituosas. Na verdade, a escola precisa de professores que explorem, com os alunos, conhecimentos gerais sobre diferentes assuntos, temas ou fatos encontrados na sociedade, seja sobre o corpo humano, gênero e/ou sexualidade. Porém, percebemos que não estão preparados para debaterem e tratarem o tema apreço neste trabalho. É preciso desenvolver políticas de valorização dos professores, investir na sua qualificação, capacita-los para que possam oferecer um ensino de qualidade, ou seja, um ensino mais relevante e significativo para os alunos. Para isso, é necessário criar mecanismos de formação inicial e continuada 37 que correspondam às expectativas da sociedade em relação ao processo de aprendizagem, estabelecendo metas, prazos, com objetivos claros, que permitam avaliar, inclusive, os investimentos. Essas relações entre conhecimento e trabalho exigem capacidade de iniciativa e inovação e, mais do que nunca, a máxima “aprender a aprender” sen impor à máxima “aprender determinados conteúdos”. Sabemos que a capacitação do professor é fundamental para que tenhamos um ensino de qualidade, dando condições para que possam ter acesso às informações mais atualizadas na área de educação. É necessário discutir temas que sejam de interesse dos alunos e melhoria no conhecimento deles próprios, com relação à sexualidade humana. Sugerimos que essas discussões na escola podem ser uma forma de atrair os pais à escola para o acompanhamento de seus filhos, bem como lançar o portifólio do Aluno com as notas e médias bimestrais e realizar inclusive um Conselho Democrático para a tomada de posições com relação aos deveres e direitos dos alunos. Na verdade, este conselho serve na escola para a tomada de decisões sobre suspensões e/ou punições se for o caso. Percemos que os pais aparecem na escola com mais frequência no ato das matrículas do ano letivo ou em festividades escolares. É preciso que pais, escola e filhos se encontrem mais na escola de um modo geral. A educação só caminha, quando de mãos dadas com pais, escola e sociedade. Essa pesquisa nos mostrou que a escola está distante de atender as necessidades que este momento exige no tocante a sexualidade e gênero. Vimos que esse tema é abordado apenas na área de ciências, pela relação que o mesmo guarda com os conteúdos dessa disciplina. Vimos também que os professores não se sentem preparados para aborda-lo, o que requer mais formações continuadas, mas também reflexões sobre a função social da escola, o trabalho que a mesma desenvolve a comunidade que atende enfim reflexão sobre si própria, os que a fazem e o trabalho que desenvolve. Entendemos que este trabalho não esgota a discussão sobre a temática, nem era essa a nossa intenção, portanto, muito ainda temos que pesquisar, principalmente, como educadoras que somos. 38 4- CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa científica é sem dúvida uma das etapas mais importantes e gratificantes na formação acadêmica, principalmente quando se trata de uma pesquisa bibliográfica e de campo conforme foi a nossa. O trabalho torna-se gratificante para nós na construção de saberes, superando duvidas e ampliando os conhecimentos sobre sexualidade e incentivando os nossos alunos no ensino-aprendizagem. A partir da pesquisa que realizamos, foi possível depreender que muitos docentes não se sentem preparados para trabalhar educação sexual na escola. Quando o fazem, repassam o que entendem por educação sexual a partir de senso comum, omitindo a questão dos sentimentos que são manifestações típicas da sexualidade humana. Esta educação, ou “deseducação” sexual, não satisfaz as necessidades dos alunos, não satisfazendo também, suas curiosidades, angústias, ansiedades e dúvidas. Estes alunos procuram outros espaços, fora dos muros da escola, ou seja, de maneira informal, buscando compartilhar sua intimidade e esclarecer suas dúvidas em espaços que nem sempre são os mais apropriados. Partindo de inúmeras leituras e visões, compreendemos que as escolas, de maneira geral, ainda lidam de forma muito velada com a sexualidade. É preciso que se crie coragem para ampliar o espaço da educação sexual de forma regular, embora com alguns cuidados, por exemplo: o risco de orientação sexual torna-se algo normativo, onde não haja espaço para os jovens descobrirem seus próprios valores. Através deste estudo, percebemos que ainda é necessário discutir mais profundamente as implicações sociais, subjetivas e políticas da inclusão do tema gênero e sexualidade na educação. Contudo, esperamos que a EEEF. Albert Einstein e outras instituições escolares possam usufruir deste nosso trabalho e que avancem no contexto ensino-aprendizagem. Lendo sobre diferentes textos de Guacira Louro, Nunes, Foucault, dentre outros, observamos diferentes teorias sobre gênero e sexualidade e seus pensamentos para o comportamento humano. Essa referência nos serviu como base teórico-metodológica a para desenvolver a nossa pesquisa na sala de aula com os alunos e com professores. Iniciar o trabalho sobre Gênero e Sexualidade “provocou” os adolescentes a expressarem o imaginário do grupo em relação às especificidades da mulher e do homem, bem como realizar reflexões críticas sobre traços da identidade de gênero que promovem a vulnerabilidade de meninos e meninas. 39 Pretendemos com a educação sexual proposta, circunscrita ao âmbito pedagógico e coletivo, fomentar a discussão no espaço. Isso quer dizer que as diferentes temáticas da sexualidade abordadas devem ser trabalhadas dentro do limite da ação pedagógica, sem invadir a intimidade e o comportamento de cada aluno ou professor. A finalidade das nossas pesquisas foi estabelecer a comunicação entre educadores e adolescentes buscando a facilidade, colaborando para que o trabalho pedagógico sobre sexualidade tenha outro olhar na concepção dos jovens e que torne legítimo o papel e atuação do professor neste campo de pesquisa. O trabalho mostrou que além da importância de levar e discutir gênero e sexualidade na escola com os alunos é interessante que os profissionais da educação discutam em suas salas de aulasoutros temas complexos. É preciso que o professor tenha acesso à formação específica para tratar de gênero e sexualidade com crianças e jovens na escola, possibilitando a construção de uma postura profissional e consciente no trato desse tema, ter clareza e segurança sobre as palavras direcionadas aos alunos para não causar dúvidas ou transtornos e, quem sabe, a partir daí contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, humana e plena. 40 REFERÊNCIAS ALVES, Branca Moreira; PITANGUY, Jacqueline. O que é feminismo. São Paulo: Brasiliense, 2003. ANDRADE, Marita. Sexualidade e afetividade na escola. Revista Presença Pedagógica, Belo horizonte, MG. v, 19, n. 112. P. 48-55, set/2013. BRASIL. 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