Memorias Convención Internacional de Salud. Cuba Salud 2015
ISBN 978-959-212-963-4
ID:671
I SEMANA DE IMERSÃO EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE (SIAPS)
Alves Rodrigues, Rodrigo; Melo Bittencourt, André; Beijes da Paixão, Caíque; Franco de Freitas
Nunes, Fábio; Caldas Fernandes, Laísa; Franco Carvalho dos Santos, Luan. Brasil
RESUMO
Introdução: As DCN-Medicina de 2014 propõe que a formação médica se estruture nas áreas de
competências: Atenção à Saúde, Gestão em Saúde e Educação na Saúde. Desse modo, a Liga de
Atenção Primária à Saúde (LAPS) promoveu a Semana de Imersão em Atenção Primária à Saúde
(SIAPS), com a participação de 14 estudantes. Objetivos: oferecer experiências cotidianas da APS e da
ESF; compreender o processo de trabalho dos profissionais envolvidos nas Unidades de Saúde da
Família (USF); observar a relação entre o usuário e a USF; e analisar a dialética entre os órgãos de
gestão, as unidades de saúde e os usuários do SUS no processo de garantia do direito à saúde.
Metodologia: a SIAPS ocorreu na cidade de Teixeira de Freitas (BA-Brasil), durante uma semana. Os
estudantes dividiram-se em grupos, nos quais cada equipe acompanhou uma mesma USF. À noite
reuniam-se para socializações relacionadas às experiências do dia: ESF e multiprofissionalidade,
promoção da saúde, participação popular, saúde mental, potencialidades e desafios da APS.
Resultados: Analisou-se o trabalho das equipes de Saúde da Família e sua relação com os usuários,
realizou-se visitas domiciliares, visita a rede de saúde mental e encontro final com a Gestão Municipal,
entre outras atividades. Conclusão: A SIAPS propiciou discutir novas idéias sobre constituição dos
sujeitos, formação, ideologia e trabalho no SUS, além de sensibilizar os participantes com a causa da
Atenção Primária à Saúde no Brasil, empoderando-os a lutar por uma formação em saúde referenciada
com as reais necessidades de saúde do povo brasileiro.
Palavras-Chave: Saúde Pública, Medicina de Família e Comunidade, Atenção Primária à Saúde,
Universidade Federal da Bahia, Sistema Único de Saúde.
INTRODUÇÃO
No Brasil, de acordo com as diretrizes curriculares nacionais (DCN) de 2001 do curso de graduação em
medicina, os profissionais de saúde, dentro de seu âmbito profissional, devem estar aptos a desenvolver
ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto
coletivo. A formação do médico deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada e
continua com as demais instâncias do sistema de saúde, obedecendo aos princípios técnicos e éticos de
referência e contrarreferência. Cada profissional deve promover estilos de vida saudáveis, conciliando
as necessidades tanto dos seus pacientes quanto às de sua comunidade, atuando como agente de
transformação social e nos diferentes níveis de atendimento à saúde, com ênfase nos atendimentos
primário e secundário. A formação tem ainda por objetivo dotar o profissional da capacidade de
otimizar o uso dos recursos propedêuticos, valorizando a atuação multiprofissional e o método clínico
em todos os seus aspectos, considerando a autonomia dos pacientes e a relação de custo-benefício nas
decisões médicas, ao levar em conta as reais necessidades da população (1).
Com as DCN de 2014, para o futuro exercício profissional do médico, a formação do graduado em
Medicina deve se desdobrar nas áreas de competências: I -Atenção à Saúde, II -Gestão em Saúde e III Educação na Saúde. A Área de Competência Atenção à Saúde deve englobar a Atenção às
Necessidades Individuais de Saúde, com a identificação das necessidades de saúde e com o
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desenvolvimento e avaliação de planos terapêuticos; e a Atenção às Necessidades de Saúde Coletiva,
com a investigação de problemas de saúde coletiva e com o desenvolvimento e avaliação de projetos de
intervenção coletiva. Paralelamente, a Área de Competência Gestão em Saúde deve abordar a
Organização do Trabalho em Saúde e o Acompanhamento e a Avaliação do Trabalho em Saúde. Por
fim, a Área de Competência Educação na Saúde deve se estruturar por meio da identificação de
necessidades de aprendizagem individual e coletiva, da promoção da construção e socialização do
conhecimento, da promoção do pensamento científico e do apoio à produção de novos conhecimentos
(2). Porém, ainda temos uma medicina hospitalocêntrica, medicamentosa, centrada no profissional
médico e nas especialidades e que atende aos interesses de mercado do complexo médico-industrial (3).
Além disso, a ênfase no modelo biomédico, centrado na doença e no hospital, levou a um reducionismo
da atenção à saúde, devido à desumanização, à descontextualização da prática e à incorporação
indiscriminada de tecnologias duras (4) (5).
Sendo assim, a educação médica precisa ser mais flexível, multiprofissional e dinâmica e tem adquirido
novos significados no decorrer dos anos, devido à necessidade de redimensioná-la para atender as reais
necessidades das populações e comunidades. Esse novo conceito, ainda contra-hegemônico, não se
trata de abandonar a prática médica tradicional, mas enquadrá-la numa prática de fato humanizada,
generalista, crítica e reflexiva, na busca de construir médicos que sejam socialmente referenciados,
ampliando as possibilidades de resolubilidade dos problemas da saúde pública (3).
Na medicina cubana, por exemplo, implantaram uma atenção primária baseada na comunidade e
implementou-se um programa médico familiar com o objetivo de prover um "médico de la familia" por
cada 700 pessoas. Para alcançar e assegurar a sustentabilidade desse modelo de atenção, as faculdades
médicas reformularam o currículo, criando uma "especialidade" em atenção básica e proveu uma
abordagem interdisciplinar ampla para o treinamento dessa atenção. As reformas colocam a atenção
primária numa posição proeminente dentro do currículo de educação médica pré-doutoral cubano (6).
Dentro desse contexto, no âmbito do novo modelo brasileiro de formação médica, proposto pela
Câmara de Ensino Superior do Conselho Nacional de Educação, o Departamento de Atenção Básica do
Ministério da Saúde defende uma formação com ênfase na atenção primária à saúde e na consolidação
do Sistema Único de Saúde, com o objetivo de reduzir a demanda de serviços especializados. Para isso
a formação do médico generalista, inserido na Estratégia de Saúde da Família, deve levar em conta a
prática do acolhimento, a vigilância em saúde, o multiprofissionalismo, a cultura e os saberes
populares, além da capacidade de se vincular a uma comunidade dentro do contexto da territorialização
(7).
Contudo, dificuldades ainda são enfrentadas para a sua implantação tanto na Universidade Federal da
Bahia (UFBA), quanto nas outras do município de Salvador, expressando uma tendência existente no
cenário brasileiro. Existem hipóteses de que tais dificuldades ocorram devido a não valorização dessas
práticas pelos professores, pois talvez não conheçam ou compreendem as tecnologias “leves” propostas
para este nível de atenção, principalmente pelos que atuam ou foram formados de acordo com o
paradigma flexneriano, cabendo ressaltar o predomínio da centralização docente e a pouca
variabilidade das metodologias ativas nas atividades acadêmicas do curso médico (8). Outra resistência
importante se trata da “des-hospitalização” do processo de ensino-aprendizagem, representando um
grande desafio, para a educação dos profissionais, a diversificação dos cenários de aprendizagem.
Inclui-se ainda o fato de os estudantes de Medicina resistirem a atuar em cenários que se distanciam da
ideologia de ser um especialista e trabalhar com seus próprios consultórios ou em hospitais privados de
“alto nível” com diversas inovações tecnológicas (9).
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Nesse contexto, surge em 2012 a Liga de Atenção Primária à Saúde (LAPS), organização estudantil de
caráter interdisciplinar, vinculada ao Diretório Acadêmico de Medicina da Faculdade de Medicina da
Bahia da UFBA, que se propõe a realizar atividades de ensino, pesquisa e extensão relacionados ao
tema da Atenção Primária à Saúde. Dentre essas atividades, a LAPS promove a Semana de Imersão
em Atenção Primária à Saúde (SIAPS), com a proposta de proporcionar a estudantes de diversos
cursos de saúde uma semana de vivência em serviços de Atenção Primária, em especial àqueles que
atuem à luz da Estratégia de Saúde da Família, visando despertar nos estudantes uma visão crítica de
como essa estratégia funciona na prática, suas vantagens e limitações, e a importância de sua efetiva
implementação para a consolidação do SUS e para a consequente garantia do direito da nossa
população à saúde.
OBJETIVOS
A. Objetivo Geral
Promover a aproximação dos estudantes com área de atuação em saúde com a Atenção Primária à
Saúde e a Estratégia de Saúde da Família;
B. Objetivos Específicos
Compreender como se dá o processo de trabalho dos diversos profissionais envolvidos nas Unidades de
Saúde da Família e Unidades Básicas de Saúde, identificando vantagens e desvantagens da aplicação
de diferentes modelos de atenção na Atenção Primária à Saúde;
Compreender o papel da consolidação da Estratégia de Saúde da Família para a consolidação do
Sistema Único de Saúde;
Observar como se estabelece a relação do usuário com as Unidades de Saúde da Família e como essa
relação está associada a um sistema de cuidado mais efetivo;
Analisar a dialética entre os órgãos de gestão, as unidades de saúde e os usuários do SUS no processo
de garantia do direito à saúde.
METODOLOGIA
A. Seleção dos participantes
Participaram apenas 14 estudantes participantes da Liga de Atenção Primária à Saúde (sendo 12
estudantes de medicina, 1 estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde e 1 de Fonoaudiologia),
mediante demonstração de interesse, tendo em vista que seria a primeira edição do estágio e com
caráter experimental. O candidato deveria assegurar que teria disponibilidade de participar
integralmente do processo.
B. Vivência
Durante o período de uma semana, estabelecido pela comissão organizadora do projeto, em
consonância com a organização do calendário acadêmico vigente na UFBA (período pós-matrículas e
anterior ao início das aulas), se deu o momento da vivência dos participantes na Atenção Primária à
Saúde do Município de Teixeira de Freitas, Bahia, Brasil.
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Foram realizadas atividades com o intuito de conhecer o funcionamento das Unidades de Atenção
Primária à Saúde, com suas ferramentas e peculiaridades, verificar os avanços e dificuldades na
implementação da Estratégia de Saúde da Família no município, compreendendo as vantagens e
desvantagens deste modelo técnico-assistencial sob a ótica de diversos setores (Gestores, Profissionais,
Usuários).
Para tanto, ocorreu imersão de pequenos grupos, compostos de 3 ou 4 estudantes, em diversas unidades
de saúde da família. Cada grupo acompanhou uma mesma unidade durante toda a semana, podendo
então acompanhar as diversas atividades realizadas pelas equipes de saúde da unidade. A semana ainda
contou com visita aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) da rede de saúde mental do município,
com visita ao Programa Melhor em Casa (um programa de atenção domiciliar da atenção básica
brasileira), com vivência em uma Comunidade de Ciganos Urbana, com uma conversa com médicos
estrangeiros do Programa Mais Médicos, e com um encontro com os gestores municipais (prefeito,
secretário de saúde, coordenadora e apoiadores institucionais da atenção básica).
No turno noturno, as experiências vivenciadas foram socializadas, debatidas e avaliadas ao fim de cada
dia, à luz de temáticas e perguntas norteadoras, proporcionando aos estagiários refletirem a cerca das
vivências e sua relação com diversos os conceitos de saúde. Os temas debatidos foram: „Políticas em
Atenção Primária à Saúde‟, „ESF: Instrumentos e Multiprofissionalidade‟, „Saúde Mental e APS‟,
„Promoção de Saúde e Inserção na Comunidade‟e “Potencialidades e Desafios da APS. No último dia
foi realizado o encerramento do estágio, com a avaliação pelos participantes.
RESULTADOS
Entre os pontos positivos da imersão, houve a inserção nos serviços de Atenção Primária, a APS do
município bem estruturada, receptividade dos profissionais de saúde, discussões mais aprofundadas
(devido a um menor número de participantes), o financiamento para transporte e alimentação foi
suficiente, a conversa com a gestão no último dia foi muito produtiva. Entre os pontos a serem revistos
para o próximo estágio, estão: rever o movimento social a ser visitado (uma vez que a vivência na
comunidade cigana não foi produtiva, pois não se tratava de uma comunidade organizada) e uma
melhor distribuição das atividades antes da realização das vivências.
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A. Programação Realizada
Manhã
Tarde
Noite
Saída de
Salvador
Domingo
Em
Trânsito:
Roda de
conversa
Chegada
em
Teixeira
de
Freitas
Vivência nas
USFs e
NASF
Segunda
Vivência nas
USFs e
NASF
Socialização:
Políticas em
APS
Grupo 1: Vivência
nas USFs e NASF.
Grupo 2: Visita ao
Programa Melhor em
Casa Terça Café-DaManhã
Vivência nas
USFs e
NASF
Quarta
Grupo 2: Vivência
nas USFs e NASF.
Grupo 1: Visita ao
Programa Melhor em
Casa
Visita à
Comunidade
dos Ciganos
Almoço
Socialização: ESF:
instrumentos e
multiprofissionalidade
Socialização:
Promoção
em saúde e
inserção na
comunidade
Janta
Vivência nas
USFs e NASF
Sexta
Saída de
Teixeira
de
Freitas
Sábado
Visita aos
Centros de
Atenção
Psicossocial
(CAPS)
Encontro Final
com a Gestão
Em
Trânsito
Socialização:
Saúde
mental e
APS
Socialização:
Potencialidades
e desafios da
APS
Chegada
em
Salvador
Vivência nas
USFs e
NASF
Quinta
CONCLUSÃO
As vivências durante a semana permitiram compreender melhor os modelos de atenção à saúde e o panorama
da Atenção Primária à Saúde no município de Teixeira de Freitas – BA, bem como a sua articulação
com a Rede SUS, e seu funcionamento como o nível de atenção que é “porta-de-entrada” nos serviços.
As discussões possibilitaram, por meio de uma construção coletiva de saberes, um melhor
entendimento do conceito ampliado de saúde e da clínica ampliada, da determinação social do processo
de saúde-doença, e dos desafios enfrentados e práticas utilizadas nas ações de promoção à saúde e
prevenção de doenças. O contato com as equipes e a inserção na comunidade facilitaram assimilar a
importância do processo de territorialização e do saber popular para a construção continuada do
vinculo, para a proposição de ações coletivas e individuais de intervenção, para a efetividade da
vigilância em saúde, e para a execução de um acolhimento mais humanizado.
A SIAPS permitiu uma maior abertura para discussões de novas idéias a respeito da constituição dos
sujeitos, da formação, da ideologia e do trabalho no SUS, além de sensibilizar os participantes com a
causa da Atenção Primária à Saúde no Brasil, empoderando-os a lutar por uma saúde referenciada com
as reais necessidades de saúde do povo brasileiro.
REFERÊNCIAS
1.
2.
3.
Brasil. Ministério da Educação. Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de
Educação. Diretrizes Curriculares do Curso de Graduação em Medicina. Resolução n. 4. D.O.U.
09/11/2001, seção 1, p.38. Brasília; 2001.
Brasil. Ministério da Educação. Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de
Educação. Diretrizes Curriculares do Curso de Graduação em Medicina. Resolução nº 3. D.O.U.
23/06/2014 (nº 117, seção 1, p.8). Brasília; 2014.
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realidades. São Paulo: Hucitec, 2004. p. 224-244.
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Pagliosa, F.L.; Da Ros, M.A. O Relatório Flexner: Para o Bem e Para o Mal. Revista Brasileira
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