TÍTULO: REPRESENTAÇÕES DE VIDA-MORTE EM PACIENTES COM CÂNCER: UMA ANÁLISE
DISCURSIVA-PSICANALÍTICA
CATEGORIA: EM ANDAMENTO
ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
SUBÁREA: LETRAS
INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
AUTOR(ES): THAIS CAROLINE ALVES
ORIENTADOR(ES): MARIA JOSÉ RODRIGUES FARIA CORACINI
RESUMO
A pesquisa em pauta estuda as representações de vida-morte em 3 pacientes
com câncer, através de seus relatos em blogs-diários, que são analisados a
partir das perspectivas do discurso, da desconstrução e da psicanálise freudolacaniana. A escolha por pesquisar este assunto na área de LA deve-se ao fato
de que o dizer dos pacientes remete a um discurso proveniente da línguacultura que recebe por herança e que atrela câncer à morte. Desta forma, a
pesquisa em questão contribui nos campos da subjetividade, história de vida e
cultura, problematizando a questão do discurso vida-morte, mobilizando a
relação entre corpo e linguagem, investigando e analisando as materialidades
do discurso.
INTRODUÇÃO
A sociedade evoluiu com o tempo, mas alguns tabus permaneceram os
mesmos: a morte é um deles. Por mais que saibamos da existência dela, não
paramos para pensar e/ou discutir sobre o assunto, ignoramos a finitude e a
incompletude da vida e de todas as coisas (DERRIDA, 2002), fato que,
curiosamente, parece se modificar diante da notícia de que a vida “está por um
fio” - e aqui, torna-se importante salientar que nem sempre uma pessoa com
câncer irá morrer, mas receber este diagnóstico em nossa sociedade, devido a
todo o imaginário cultural construído em torno dele, é receber o veredicto de
morte eminente. Ao que tudo indica, este acontecimento (DERRIDA, 2004), ou
em outras palavras, este inesperado, acaba produzindo outras discursividades
no sujeito, de tal forma que as representações de vida e morte que ele até
então possuía passam por um processo de desconstrução. São justamente
essas novas representações, esses (re)dizeres, essa cultura que serão
estudados neste trabalho através da escrita.
OBJETIVOS
A pesquisa em pauta tem como objetivo geral, contribuir para os estudos da LA
no campo da subjetividade, história de vida e cultura. Dessa forma, nossos
objetivos específicos são: problematizar a questão do discurso vida-morte,
mobilizar a relação entre corpo e linguagem e investigar e analisar as
materialidades do discurso.
METODOLOGIA
Esta pesquisa é pautada por material escrito, fruto de produções de 3
pacientes em seus diários-blogs: “A menina do linfoma”, que traz os relatos de
Rayanna Figueira, “Renata Leal 2011” e “Cida Villela Blog”, cujas pacientesautoras intitulam os sites.A partir dos posts neles situados buscarei responder
às seguintes perguntas de pesquisa: a) como são materializados os
relatos/histórias de vida pelo paciente? b) aparece a questão da vida-morte nos
relatos? c) de que forma o imaginário a respeito do Câncer influi na percepção
que o paciente tem sobre sua situação?
Para a análise dos dados estão sendo utilizadas teorias do âmbito da análise
do discurso, desconstrução e psicanálise. O viés escolhido deve-se
principalmente ao fato de que essas vertentes teóricas trazem explicações que
englobam questões para além do tema vida-morte e sofrimento e isso,
acreditamos nós, nos ajuda a entender melhor o que se passa no interior (que
vem do exterior e é também exterior) de cada sujeito que se encontra na
posição de enfermo e o porquê da ocorrência desse deslocamentos em suas
representações quando o mesmo se encontra em situação de profundo
sofrimento.
DESENVOLVIMENTO
Tomando como base Lacan (1998), entendemos representação, foco principal
deste trabalho, o mesmo que imagens. Neste sentido, temos em mente que o
processo de mudança nessas representações, ou seja, na percepção com
relação à vida-morte não ocorre de uma hora para a outra, mas se dá apenas
com o passar dos dias, com a vivência do estado doentio, com o
rememoramento de suas histórias de vida e com a maturação da ideia da
finitude da vida. Com o tempo, as representações do sujeito passam por um
processo de desconstrução (DERRIDA, 1997), ou seja, de (re)interpretação.
Em se tratando de vida e de morte, os opostos (vida # morte) desarticulam-se,
deixam de ser polarizados. Tudo aquilo que foi vivido e (não) dito é
(re)interpretado, (re)formulado. Essa ocorrência se dá sem que o sujeito tenha
consciência do que está se passando e justamente por isso, esse
deslocamento pode ou não ser percebido por ele. Através da linguagem,
entretanto, o paciente-participante pode deixar escapar fragmentos dessas
representações – e até mesmo de seu inconsciente -, graças à porosidade da
língua (CORACINI, 2001) e é através dessa materialidade que podemos captar
indícios do deslocamento de idéias.
RESULTADOS PRELIMINARES
Até o momento, a hipótese de que vida e morte passam por um processo de
desconstrução ao longo da doença tem sido constatada.
A memória é representada no dizer como forma de apego ao passado e à vida,
que, em situações como essa, passa a ser ainda mais valorizada. Há também
uma série de “já-ditos” na constituição dos discursos que funcionam como uma
forma de tamponar o Real, assim como a oscilação entre os princípios do
prazer e da realidade (FREUD, 1920) que, materializados na escrita, trazem à
tona efeitos de instabilidade/falta constitutiva do sujeito.
Foi possível observar o emprego recorrente de verbos no gerúndio, o que
reforça a ideia de que a ações, em geral, tiveram início, mas ainda não
terminaram, bem como o tratamento e possível cura da doença.
O dizer dos pacientes nos remete a um discurso que atrela câncer à morte, o
que faz com que grande parte do sofrimento seja psíquico, advindo do
imaginário construído ao redor da doença.
Essa “escrita de si” tem se mostrado como o Phármakon (DERRIDA, [1968]
1997), que, ao mesmo tempo em que traz tranquilidade e apaziguamento aos
pacientes, traz dor, angústia, melancolia, considerando a posição-sujeito em
que essas pessoas se encontram.
FONTES CONSULTADAS
DERRIDA, J. Torres de Babel. Tradução de Junia Barreto. BH: UFMG,2002
_____________.
DERRIDA,
J.
Auto-imunidade:
Suicídios
Reais
e
Simbólicos – Um diálogo com Jacques Derrida. Rio de Janeiro Jorge Zahar
Ed., 2004. p. 100.
_______________. A farmácia de Platão. Trad. Rogério da Costa. 2. ed. São
Paulo: Iluminuras, 1997.
FREUD, Sigmund. “Mais além do Princípio do Prazer”. ESB. Imago Eds. Rio
de Janeiro. 1920.
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