FILOSOFIA PARA HOJE: A “DESCONTRUÇÃO” E O HOMEM CONTEMPORÂNEO Pr. Cícero Cezario da Costa Neto1 É importante perceber que conceitos moldam o mundo, por isso é relevante conhecê-los para se ter uma real noção das causas da realidade aparente e por conta disto o termo “desconstrução” se torna valioso, pois apesar de não ser popularmente conhecido, têm grande influência na sociedade contemporânea. Carlos Ceia fez algumas considerações dignas de nota sobre o que significa este termo. Segundo ele, Desconstrução é um termo proposto pelo filósofo francês Jacques Derrida, nos anos sessenta, para um método ou processo de análise crítico-filosófica que tem como objetivo imediato a crítica da metafísica ocidental e da sua tendência para o logocentrismo, incluindo a crítica de certos conceitos (o significado e o significante; o sensível e o inteligível; a origem do ser; a presença do centro; o logos, etc.) que tal tradição havia imposto como estáveis. A desconstrução como método de análise da literatura expressa bem à realidade da filosofia contemporânea ocidental, denominada também de filosofia pósmoderna, pois esta se caracteriza por uma contestação do pensamento moderno centrado na razão. A desconstrução faz justamente isto quando critica o logocentrismo, buscando encontrar verdades por detrás da verdade textual. Pode-se dizer que ela, de fato, desconstrói a verdade do texto em várias verdades, quando defende as várias possibilidades de um texto. Como disse Carlos Ceia citando Derrida: Ele fez repensar a forma como a linguagem opera. Desconjuntando os valores de verdade, significado inequívoco e presença, a desconstrução aponta para a possibilidade de escrever não mais como representação de qualquer coisa, mas como a infinitude do seu próprio “jogo”. Desconstruir um texto não é procurar o seu sentido, mas seguir os trilhos em que a escrita ao mesmo tempo se estabelece e transgride os seus próprios termos, produzindo então um desvio [dérive] assemântico de différance. O que o método da desconstrução faz com o texto, qualquer texto, inclusive o bíblico, é exatamente o que o pós-modernismo faz em tudo: desconjunta os valores da verdade, contestando qualquer verdade que seja absoluta, produzindo desvios, como disse Lyotard, citado por Vanderlei Dorneles: “o pós-modernismo é um paradigma filosófico definido como a rejeição de um padrão de verdade universal". Além desta desconstrução da verdade, o que produz o relativismo, característico da pós-modernidade, o método proposto por Derrida também desconstrói 1 Bacharel em teologia; licenciado em filosofia; Pós graduado em ensino religioso e filosofia contemporânea; Membro e professor do IDE (Instituto de Desenvolvimento Estratégico); Professor do Seminário Betel Brasileiro; Pastor da Congregação Batista em Conservatória. E-mail para contato: [email protected] a originalidade, produzindo a pluralidade, outra característica do pós-modernismo. Como afirmou Rodrigues (1996, p. 70) Derrida observa que filosofar é trabalhar com vestígios do que se mostra, mas também do que se esconde, perdendo aos poucos a ilusão de que tudo está “presente”, abrindo caminho para a análise da diferença, da pluralidade, do abandono de qualquer pretensão a um único discurso, cuja finalização é sempre adiada em seu procedimento diferenciador. Ele retrabalha a crítica do conceito de representação – como idéia-força do teatro, da pintura e da teoria – que tem como base ser a cópia do modelo inicial. Mostra a necessidade de abandonar a idéia de original, pela multiplicidade das interpretações, pelo jogo infinito de espelhos, duplicações, reproduções e simulacros. Este “abandono” acaba anulando uma identidade que se imaginava inicial, pois não há, nem pode haver uma proximidade pura da “presença”. O processo da desconstrução é um fenômeno que tem ocorrido e permeado todo pensamento contemporâneo, inclusive tendo se infiltrado dentro das igrejas evangélicas brasileiras, corroborando com veemência às ideologias pós-modernas do relativismo e do pluralismo, que tem mudado com intensidade a vida do homem ocidental contemporâneo, em todas as suas facetas, trazendo consequências quase sempre negativas, sobretudo para o cristianismo autêntico, que está fundamentado em princípios bíblicos, como unidade e verdade absoluta. A pluralidade não tem significado originalidade, mas pelo contrário, têm causado uma perda de identidade, o que tem gerado homens que não conhecem a si mesmos e por esta razão também tem dificuldade de conhecer o seu semelhante, trazendo confusão, solidão e perdição. O relativismo tem quebrado muitos paradigmas, o que a princípio parece ser positivo, no entanto, estas perdas de verdades absolutas têm caracterizado uma perda de referencial o que tem deixado o homem ocidental contemporâneo sem norte, ainda mais perdido. O vazio interior do homem pós-moderno parece estar crescendo cada vez mais e isto fica denunciado nos inúmeros casos de depressão, que a cada dia parece assolar mais o homem contemporâneo. E quem não quer aguardar com paciência para contemplar qual vai ser o fim que o pós-modernismo produzirá, deve abrir mão do relativismo, do pluralismo e de outros ismos atuais e esforçar-se na “construção” e não na “desconstrução”. Construção, acima de tudo da prática da verdade das Sagradas Escrituras em sua própria vida e na vida de todo homem, “até que todos cheguem... a medida da plenitude de Cristo” (Ef 4:13), o “logos” de Deus (Jo 1:1). BIBLIOGRAFIA BABO, M. A. (org.). Comunicação e linguagens: textualidades. Disponível em <http://www.cecl.com.pt/rcl/03/rcl03-02.html> Acesso em 10 nov. 2011. CEIA, C. Desconstrução. Disponível em <http://www.fcsh.unl.pt/invest/edtl/verbetes/D/desconstrucao.html> Acesso em: 10 nov. 2011. DORNELES, V. Cultura da Imagem: a pós-modernidade do pensamento. Disponível em <http://www.canaldaimprensa.com.br/canalant/opiniao/vint3/opini%C3%A3o1.html> Acesso em 12 nov. 2011 ESTRADA, P. C. D. (org) Desconstrução e ética: ecos de Jacques Derrida. São Paulo: Edições Loyola, 2004. 248 p. LACERDA, C. P. O Pós-modernismo e os reflexos na igreja. Revista Visão Missionária. Venda Nova: Betânia, n.1, 1T 2001. 42-45 RODRIGUES, V. H. G. 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