TRATAMENTO DE MÁ-OCLUSÃO CLASSE III DE ANGLE, COM O USO DE DISJUNÇÃO PALATINA ASSOCIADA À TRAÇÃO REVERSA. RELATO DE CASO CLÍNICO INTRODUÇÃO A maloclusão Classe III de Angle esquelética por deficiência maxilar, pode ser interceptada tracionando precocemente a maxila proporcionando excelentes resultados. Nesses casos a cirurgia ortognática pode ser evitada na fase adulta. A prevalência da maloclusão Classe III de Angle em leucodermas de acordo com WALTHER (1960); HAYNES (1970); THILANDER & MYBERG (1973); FOSTER & DAY (1974) é de 1 a 5 %. Para HAAS, (1987); NARTALLOTURLEY & TURLEY, (1998) a maloclusão Classe III com envolvimento esquelético atinge aproximadamente 5% da população caucasiana. Apesar do baixo índice, segundo PROFFIT et al., (1991), aproximadamente 1 em cada 3 adultos se submetem à cirurgia ortognática, ressaltando a importância do diagnóstico e tratamento precoce. Quando a maxila encontra-se atrésica e retruída, o tratamento com expansão rápida associada à tração reversa está indicada para corrigir a discrepância esquelética e favorecer o crescimento dentro dos padrões de normalidade. Nestes casos é muito importante a identificação precoce da discrepância para que desta maneira a cirurgia ortognática na idade adulta possa ser evitada. A expansão rápida de maxila é um recurso no tratamento de maloclusão Classe III de Angle, cirúrgico ou não, pacientes portadores de fissura palatina, e deficiência maxilar (HAAS, 1970). HAAS observou melhora no padrão esquelético do indivíduo portador de maloclusão Classe III de Angle quando submetido a este tipo de tratamento, em decorrência do deslocamento da maxila para frente e para baixo, pois melhora o relacionamento maxilo-mandibular devido a rotação no sentido horário da mandíbula, portanto, um posicionamento mais posterior da sínfise mandibular, e aumento da altura facial anterior inferior. SILVA FILHO et al., (1991) em uma amostra de 30 crianças, apresentando mordida cruzada posterior esquelética, com idade média de 8 anos, tratadas com expansão rápida de maxila com aparelho tipo Haas modificado, observaram que pelo deslocamento da maxila houve alteração no ângulo SNA. O ponto B foi reposicionado posteriormente em conseqüência da rotação no sentido horário da mandíbula, aumentando a inclinação do plano mandibular, e o ângulo ANB. MOLSTED (1987); ROBERTS & SUBTELNY (1988); TINDLUND (1989); TINDLUND, RYGH & BÖE (1993); TINDLUND & RYGH (1993); BUSCHANG et al., (1994), CHONG et al., (1996); CHEN & SO (1996), preconizaram o uso da máscara facial para a correção precoce da maloclusão Classe III de Angle nos casos clínicos em que a maxila encontrava-se retruída ou hipoplásica. O propósito deste trabalho é relatar o uso da expansão rápida de maxila com aparelho disjuntor tipo Haas modificado, associado à máscara facial para tração reversa, na interceptação de uma maloclusão Classe III de Angle dentária e esquelética. HISTÓRIA CLÍNICA Paciente E.M. sexo masculino, leucoderma, 8 anos e 2 meses de idade, portador de padrão facial Classe III, braquifacial, perfil facial côncavo, retrognatismo maxilar, mandíbula ortognática. Apresenta as seguintes grandezas cefalométricas: FMA=18º, FMIA=78º, IMPA=84º, SNA=80º, SNB=83º com ANB= –3º, AO-BO= – 5mm, Plano oclusal= 12º, AFH= 53 mm e PFH= 45 mm, FHI= .84 PLANO DE TRATAMENTO O tratamento proposto foi um aparelho disjuntor palatino tipo Haas modificado para a expansão rápida da maxila. Foram soldados ganchos na região de caninos permitindo a tração reversa da maxila. O dispositivo utilizado para a protração da maxila foi a máscara facial tipo Delaire. Imediatamente após instalação do disjuntor de Haas, ativou-se quatro quartos de volta, e a mãe foi orientada para realizar as ativações seguintes, dois quartos de volta pela manhã e dois quartos de volta a tarde completando ao final de sete dias 28 ativações e portanto 7 voltas. A máscara facial foi instalada aplicando uma força elástica de 500 gramas de cada lado. Recomendando seu uso de 10 a 14 horas/dia, por um período de 10 meses. RESULTADO Avaliação clínica após término desta fase de tratamento, revelou a correção da mordida cruzada. Na avaliação cefalométrica foi verificado aumento no ângulo SNA de 2º da fase T1 para T2. O ângulo ANB ao final do tratamento aumentou 1º mas ainda permanecendo com valor negativo, assim como o AOBO. O ângulo FMIA aumentou, mas ao final do tratamento apresentou diminuição de 1º em comparação ao valor inicial. O IMPA apresentou diminuição, inicialmente (T1) de 3º, na fase T3 aumentou 1º em relação ao valor anterior, voltando ao mesmo valor do início do tratamento na fase T4 . O ângulo SNB apresentou os seguintes valores (T1=83º, T2=84º, T3=84,5º, T4=84º), mas os valores cefalométricos mostraram aumento na dimensão vertical do paciente pela observação do ângulo FMA (T1=18º, T2=20º,T3=21º e T4=19º), Plano oclusal (T1=12º, T2=14º, T3=13º, T4=13º),) e AFH (T1=53mm, T2=55mm, T3=57mm e T4=44mm) (Tabela 1). DISCUSSÃO O paciente tratado com expansão rápida de maxila associado com tração reversa apresentou ao final do tratamento, aumento para o ângulo FMA assim como WERTZ (1990), SILVA FILHO et al., (1991), no tratamento de atresia maxilar com expansão maxilar e também SINGER et al (1990) quando associaram a máscara facial à expansão rápida de maxila. Os ângulos SNA e ANB aumentaram ao final do tratamento. O mesmo foi observado por SILVA FILHO et al., (1991), utilizando a expansão rápida de maxila, NARTALLO-TURLEY e TURLEY (1998) associando a máscara facial à expansão rápida de maxila. No entanto, o mesmo não foi constatado por DEGUCHI et al., (1999) no tratamento de maloclusão Classe III de Angle, empregando a máscara facial. O ângulo SNB também aumentou, enquanto WERTZ (1970); SILVA FILHO et al., (1991) e NARTALLO-TURLEY e TURLEY (1998) observaram diminuição. Neste paciente foi observado aumento do altura facial anterior assim como HAAS (1970); SILVA FILHO et al., (1991) que constataram aumento na altura facial anterior inferior com uso da expansão rápida de maxila. Em relação ao perfil, não apresentou alterações significativas. O ângulo Z, ao contrário do que se esperava, não diminuiu e sim, aumentou apesar da melhora no ângulo ANB contrariando os achados de NGAN et al., (1996), SHANKER et al., (1996); CAMPBELL (1983) que relataram melhora no perfil após uso de expansão rápida de maxila associada à tração reversa. CONCLUSÃO A expansão rápida de maxila associada à máscara facial foi efetiva na interceptação da maloclusão Classe III de Angle, permitindo melhor relacionamento maxilo-mandibular. Desta forma o tratamento ortodôntico no futuro poderá ser melhor conduzido, trazendo resultados satisfatórios ao paciente, desde que o desequilíbrio entre o crescimento maxilo-mandibular não seja severo.