LoyaltyOne olha oportunidades de aquisições no mercado brasileiro Valor Econômico – SP, 27/06/2014, Empresas Página B6 A conjuntura macroeconômica brasileira recente, de volatilidade cambial, aperto monetário, inflação ascendente e avanço do Produto Interno Bruto (PIB) inferior a 2%, não tira o brilho do país como a mais interessante alternativa de investimento dentre os mercados emergentes. A opinião é do presidente mundial da LoyaltyOne, Bryan Pearson, que dirige a maior empresa de programas de benefícios e fidelidade por coalização do mundo. Ele diz que está "sempre, sempre, olhando oportunidades de aquisições". E, como o mercado do Hemisfério Norte está maduro, com menores taxas de crescimento, "se tivesse que escolher hoje onde investir US$ 100 milhões em uma companhia, eu me sentiria mais confortável em fazer o investimento no Brasil que na Europa", diz Pearson. O presidente mundial da LoyaltyOne, Bryan Pearson coloca o mercado brasileiro acima de Índia, China e Rússia. "Na Índia, por exemplo, passamos quatro anos tentando fechar uma aquisição, mas não conseguimos. A economia informal lá é 90% da economia. O Brasil tem o melhor ambiente de negócios dos Brics". A LoyaltyOne é uma três empresas que compõem a holding Alliance Data Systems (ADS), listada na bolsa de Nova York, com faturamento previsto para este ano na casa de US$ 5,25 bilhões, presente em 40 países e empregadora de 14 mil funcionários. Basicamente, o grupo faz dinheiro ensinando a grandes redes varejistas como vender mais por meio da fidelização de clientes, que, por sua vez, são premiados pela fidelidade com passagens aéreas, bens duráveis, outros produtos e serviços fornecidos em programas de benefícios. No Canadá, a companhia responde por 7 em cada 10 consumidores que usam programas de benefícios, no caso, o Air Miles. A LoyaltyOne conhece o Brasil desde 2009, quando comprou 37% da Dotz, negócio lançado por Roberto Chade em 2001. Foi com o apoio financeiro e tecnológico do grupo hoje baseado em Dallas que a Dotz cresceu de uma base inferior a um milhão de pessoas para mais de 12,5 milhões de participantes hoje. No país, a Dotz gera mais de 210 mil trocas por mês junto a uma rede de 100 companhias, de varejistas, como Pague Menos e Magazine Luiza, a cadeias de alimentação, como Bob's, ou instituições financeiras, caso do Banco do Brasil. "O potencial do varejo no Brasil é gigantesco. E a Copa do mundo é uma prova disso", disse o executivo. "Mesmo que o consumo da classe média não cresça na mesma velocidade com que vinha há alguns anos, ainda assim é muito se levarmos em conta que são mais de 90 milhões de pessoas. O Brasil vai superar a capacidade de consumo, por exemplo, do Canadá. Por isso, é fundamental, é estratégico, para qualquer empresa que queira ser global atuando no varego estar no Brasil com uma posição de liderança", afirma Pearson. No Brasil, o segmento de programas de fidelidade é explorado há mais tempo por unidades de companhias aéreas que depois viraram empresas - casos da Multiplus, controlada pela TAM, e da Smiles, da Gol - e foram listadas em bolsa. E esse setor de programas de fidelidade ainda não chega a 9% dos consumidores brasileiros - no Canadá, sede da Loyalty, a taxa de penetração é superior a 70% da população economicamente ativa. Na América do Norte, a LoyaltyOne reúne sob os programas de recompensas que gerencia marcas de companhias globais de consumo, como Shell, Sony, Samsung, Canon, Metro, ToysRus e American Express. Pearson afirma que a companhia prefere ter participações majoritárias nas companhias em que realiza investimento sociedade. Foi assim, por exemplo, quando o grupo assumiu a Epsilon, em 2004, companhia de marketing focada em hábitos de consumo que vai faturar este mais de US$ 1,2 bilhão. Mas no caso da brasileira Dotz, a opção da LoyaltyOne em comprar uma fatia minoritária teve relação com o fato de a holding ser listada em bolsa. "Uma empresa de coalizão teria para nós um impacto negativo no balanço. Teríamos que reconhecer em nosso balanço consolidado todas as despesas feitas, mas não poderíamos reconhecer o lucro integralmente, o que reduziria o lucro por ação. Para uma empresa de capital aberto isso gera pressão", disse Bryan Pearson. Por esse motivo mesmo, aponta o executivo - nascido no Chile, filho de mãe francesa, e que passou parte da vida na Holanda antes de passar a morar no Canadá -, a Dotz vai continuar de capital fechado, controlado pela família Chade, hoje detentora dos 63% que não pertencem à LoyaltyOne. "Podemos desenvolver um plano de negócios de cinco anos sem ter que dar explicações a cada três meses". O grupo ADS, dono da LoyaltyOne e minoritário da Dotz, prefere apoiar financeiramente o crescimento da Dotz, que este ano está investindo R$ 150 milhões - sendo R$ 40 milhões em marketing. Em vez de abrir capital ou aumentar a fatia acionária, a holding que tem sede em Dallas, Estados Unidos, optou por acelerar o ritmo de expansão da base de clientes da Dotz no Brasil. A Dotz tem a meta de fechar 2014 com 17 milhões de participantes, 36% mais que os atuais 12,5 milhões. Se essa meta for atingida, a empresa ficaria do mesmo tamanho de Multiplus e Smiles. Pearson afirma que a Dotz ainda tem muitos consumidores para conquistar nas diferentes regiões. Hoje, a empresa está em dez praças. Outras quatro - incluindo Rio e Espírito Santo - receberão os programas de fidelidade da marca no próximo semestre. E mesmo depois que a companhia tiver fechado parcerias para gerenciar e administrar programas de fidelidade com redes varejistas das maiores cidades do país, haverá espaço para uma segunda onda de aumento de receitas. Com serviços de inteligência analítica de comportamentos de consumidores - algo que a ADS está fazendo nos EUA, no Canadá e na Europa também. São serviços vendidos pelo grupo que permitem aos varejistas aumentar as vendas junto aos clientes explorando os hábitos de consumo individuais. Para fazer isso, a ADS vai trazer para a Dotz ferramentas e sistemas que são usados por outras empresas do grupo, como a Epsilon. E esse segmento de negócio deve provocar a próxima companhia do grupo a desembarcar no Brasil, por meio da Dotz.