Edição número 2051 quinta-feira, 24 de maio de 2012 Fechamento: 09h05 Veículos Pesquisados: Clipping CUT é um trabalho diário de captação de notícias realizado pela equipe da Secretaria Nacional de Comunicação da CUT. Críticas e sugestões com Leonardo Severo ([email protected]) Isaías Dalle ([email protected]) Paula Brandão ([email protected]) Luiz Carvalho ([email protected]) William Pedreira ([email protected]) Secretária de Comunicação: Rosane Bertotti ([email protected]) Estadão.com __________________________________________________________________ Centrais reclamam da falta de comunicação com Dilma Guilherme Waltenberg (Política) A iminência de os reflexos da crise econômica global, sobretudo a que atinge os países europeus, atingir o mercado de trabalho brasileiro já está gerando tensão nas relações entre sindicatos de trabalhadores e o governo da presidente Dilma Rousseff. Mesmo sendo considerada afilhada política de um ex-presidente oriundo do meio sindical e ter herdado a administração de Luiz Inácio Lula da Silva, dirigentes das principais centrais sindicais do País reclamam que as relações entre os representantes dos trabalhadores e o governo federal podem entrar em colapso, em razão da falta de um canal eficiente de comunicação do governo com os trabalhadores. O reflexo desse descontentamento ficou evidente no cancelamento de duas agendas oficiais nos últimos dias. Na sexta feira (18), a presidente cancelou sua presença na cerimônia de inauguração da unidade José Alencar Gomes da Silva do Campus Diadema da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) devido à presença de professores grevistas que planejavam um protesto. Na segunda-feira (21), Dilma cancelou outra visita, desta vez a Porto Alegre, onde iria inaugurar duas estações de metrô que receberam verbas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), por conta de uma paralisação de metroviários. Segundo o presidente do Núcleo Sindical do PSDB, maior partido de oposição ao governo federal, Antônio de Sousa Ramalho, a dificuldade em conversar com a presidente Dilma é muito grande. "Quando ela recebe algumas pessoa das centrais (sindicais), ela corta a língua de todo mundo porque só um ou outro pode falar e assim fica muito difícil expor a reivindicação da classe trabalhadora. Deste jeito, é melhor nem ter reunião", destaca o sindicalista, que também é vice-presidente da Força Sindical. Segundo ele, a pauta empresarial no governo Dilma é muito bem valorizada, já a pauta sindical é bastante tímida. Os dirigentes da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, e da Força Sindical, deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, licenciado da central para disputar as eleições municipais de São Paulo, reclamam que na gestão Dilma foram realizadas apenas três reuniões com as centrais sindicais e que, durante esses encontros, apenas a Central Única dos Trabalhadores (CUT) teve voz ativa. Procurada, a CUT não quis se pronunciar. Protestos Na avaliação de Patah, os protestos, como os que interferiram na agenda presidencial, foram ocasionados principalmente pela falta de interlocução com Dilma. "Se tivesse mais proximidade, tudo poderia ter sido evitado. Por mais duras que sejam essas questões, a boa relação com as centrais poderia evitar tudo isso", avalia. Patah afirma ainda que no governo do ex-presidente Lula havia reuniões frequentes, até mensais, entre governo e lideranças sindicais. "Isso valorizava nossas demandas", destaca. O sindicalista adverte que a piora no cenário econômico pode aumentar as tensões entre governo e sindicatos. "Quando o crescimento econômico está razoável e tem emprego, as coisas são minimizadas. Mas com a crise há possibilidade de as relações esfriarem ainda mais", diz. Patah lembra que durante a crise econômica de 2008, devido à proximidade de Lula com as centrais sindicais, houve parceria entre governo e sindicatos. "Ele contou com o movimento sindical e a nossa contrapartida foi a manutenção dos empregos nos pacotes econômicos", diz. Paulinho e Ramalho também concordam com esta análise. Paulinho reclama da falta de reuniões com o governo. "As reuniões existentes foram apenas para marcar outras reuniões. Nada foi decidido. Isso tem gerado muito desconforto", afirma. __________________________________________________________________ Trabalhadores rurais desocupam Ministério da Fazenda Cerca de 300 pessoas, segundo os manifestantes, invadiram edifício no início da manhã desta quarta-feira para cobrar mais recursos para reforma agrária Renata Veríssimo (Política) Os integrantes da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), entidade filiada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), desocuparam o prédio do Ministério da Fazenda, que havia sido invadido nesta quarta-feira, por volta das 6 horas. Assim, os servidores do ministério já puderam entrar no prédio. No entanto, ainda há um forte policiamento no local, onde alguns manifestantes permanecem, mas num clima de tranquilidade. Eles decidiram desocupar o local após representantes da pasta aceitaram receber líderes da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), para discutir as reivindicações do movimento, entre elas mais recursos para a reforma agrária. Participam do encontro o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, técnicos da pasta e a coordenadora-geral da Fetraf, Elisângela Araújo. “Nosso setor também é importante para a economia brasileira, porque nós produzimos alimentos e também podemos acabar com a miséria no país”, afirmou a coordenadora. Segundo os organizadores, cerca de 300 trabalhadores rurais participaram do protesto. A Polícia Militar, no entanto, estimou em 150 o número de manifestantes. A mobilização ocorreu simultaneamente em vários estados, segundo a coordenadora-geral, com o objetivo de "destravar a pauta de reivindicações" do movimento, encaminhada ao governo federal em abril. Além do vidro da portaria principal do ministério, os manifestantes também quebraram portas de vidro dentro do prédio. Agentes e peritos da Polícia Federal foram ao local para avaliar danos ao patrimônio público durante o protesto. __________________________________________________________________ Câmara discute projeto que passa por cima da CLT Denise Madueno (Política) O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e os líderes partidários estão articulando a votação de projeto que dá poderes aos sindicatos de trabalhadores de fechar acordos coletivos com as empresas, passando por cima das regras da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O projeto flexibiliza a relação entre patrão e empregado, regida atualmente pela CLT, com a criação da figura jurídica do Acordo Coletivo de Trabalho com o Propósito Específico, chamado também de Acordo Coletivo Especial (ACE). O texto do anteprojeto foi discutido em reunião de Marco Maia com os líderes na noite de segunda-feira passada. O projeto altera a forma de negociação do acordo coletivo. Enquanto a CLT prevê os acordos entre sindicatos de categorias econômicas, o ACE estabelece a possibilidade de o acordo ser fechado entre um único sindicato profissional e uma empresa do correspondente setor econômico. "O propósito do acordo está ligado às condições específicas da empresa e não às relações de trabalho de um setor econômico", explica a cartilha elaborada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e autor do anteprojeto de lei. A proposta foi apresentada e defendida pelo presidente do sindicato do ABC, Sérgio Nobre, aos líderes em reunião com Marco Maia na segunda-feira. Na cartilha distribuída aos deputados, Nobre afirma que a CLT se tornou uma "faca de dois gumes". Ao mesmo tempo em que foi um passo importante para proteger direitos individuais dos trabalhadores, argumenta o dirigente sindical, a CLT limitou os direitos coletivos, tolheu a liberdade sindical e restringiu o campo das negociações coletivas. O presidente da Câmara, cuja carreira política tem origem sindical, considerou a proposta "um avanço na legislação trabalhista brasileira". Deputados ligados ao setor empresarial apoiaram a iniciativa e consideraram que o projeto vai diminuir a pressão pela votação da proposta de emenda constitucional que fixa em 40 horas semanais a carga horária do trabalhador, favorecendo os acordos locais. O líder do PDT, deputado André Figueiredo (CE), disse não se opor ao projeto, desde que ele não retire direitos dos trabalhadores, e enfatizou a necessidade de a Câmara não permitir a precarização trabalhista. "Temos de ter clareza que existem segmentos de trabalhadores que não têm representatividade sindical consistente e ficarão fragilizados em eventual discussão com setores patronais", disse Figueiredo, que esteve na reunião acompanhado do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força Sindical. O líder do PSDB, Bruno Araújo (PE), afirmou que a Câmara deve ter cuidado para não aniquilar o poder dos pequenos e médios sindicatos nas negociações trabalhistas. Ele entende que a proposta dá força aos grandes sindicatos. "Nós não podemos contribuir para que se consolide uma casta sindical tanto de trabalhadores quanto de empregadores", disse o líder tucano. Bruno Araújo afirmou que, nessa discussão, o princípio do partido será o de resguardar os direitos dos trabalhadores. __________________________________________________________________ Fim de sigilo da Delta põe PT e PMDB em crise Relator apoia estender investigação à direção nacional da empresa e a Cavendish e irrita sigla aliada, que cogita não apoiar convocação de Perillo Eugênia Lopes (Política) O PT e o PMDB estão em pé de guerra depois de o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), ter defendido a quebra do sigilo bancário da Delta Construções em nível nacional e de seu principal acionista, Fernando Cavendish. Diante da crise, Cunha optou ontem pela cautela. Mas o deputado confidenciou a correligionários que fez uma reavaliação da blindagem da empreiteira e que, diante das evidências, não tem como evitar que as investigações recaiam sobre a Delta nacional e seu proprietário. A decisão irritou o PMDB, em especial a ala ligada ao governador do Rio, Sérgio Cabral. Ele é amigo de Cavendish, com quem viajou para o exterior. Os peemedebistas alegam que a quebra de sigilo da Delta é uma reivindicação da oposição para tirar o foco do governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, que estaria envolvido com o esquema do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Com a provável aprovação da quebra dos sigilos da Delta, os peemedebistas estão certos de que a oposição terá munição para pedir a convocação de Cabral. Em represália, o PMDB passou ontem a trabalhar com a ideia de não se aliar ao PT para convocar Perillo. Dizem que é mais fácil, agora, não aprovar a convocação de nenhum dos governadores alvo de denúncias. 'Não é nosso'. Por ora, a cúpula do PMDB tenta manter postura de distanciamento. A alegação é que Cabral nunca foi "nosso" - ou seja, do PMDB - e não haveria motivos para o partido se empenhar na sua defesa. O líder da sigla na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), avisou que não pretende trocar seus titulares na CPI - Luiz Pittman (DF) e Íris Araújo (GO). Eles prometem votar a favor da quebra do sigilo. Segundo integrantes da CPI, Cunha cogitou tornar a sessão de hoje em administrativa, para aprovar a quebra dos sigilos da Delta nacional e de Cavendish. O relator teria sido demovido da ideia pelo próprio PT. "Não se pode fazer uma reunião administrativa nas coxas", disse o ex-líder Cândido Vaccarezza (PT-SP), ao garantir que apoia a decisão de pedir a quebra dos sigilos. Para os aliados, Cunha mudou sua postura e resolveu contrariar a blindagem à Delta porque está preocupado com sua imagem. O petista sonha em ser candidato ao governo de Minas, em 2014, e não quer "queimar" sua biografia. Ele estaria passando por processo semelhante ao que ocorreu na CPI dos Correios, quando o presidente Delcídio Amaral (PT-MS) e o relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) também mudaram de comportamento ao longo das investigações e denunciaram a existência do "mensalão" no governo Lula. Cunha decidiu ampliar a apuração após documentos da Operação Saint-Michel deflagrada pelo Ministério Público do Distrito Federal após a Monte Carlo apontaram que os ex-diretores da Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, e no Sudeste, Heraldo Puccini, tinham procuração para movimentar dinheiro em contas nacionais da empreiteira. __________________________________________________________________ Base tenta impedir investigação no Rio Na Assembleia, pedido de abertura de CPI está parado desde o dia 2 e ainda não foi colocado em votação Marcelo Gomes (Política) Não é só na CPI do Cachoeira no Congresso Nacional que o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho (PMDB), está sendo "blindado" pela base aliada. Na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) o quadro é o mesmo: os deputados estaduais nem sequer votaram um pedido de abertura de CPI, protocolado em 2 de maio, para analisar todos os contratos celebrados entre a Delta Construções e o governo do Estado desde 2000. O projeto de resolução é de autoria do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), mas a presidência da Casa se recusa a pôr o texto em votação em plenário. Para que a CPI seja instalada, são necessários 36 votos a favor. A Alerj possui 70 deputados. "O primeiro contrato da Delta com que estamos perseguindo esse ou contratos até hoje, que englobam disse Freixo, que é pré-candidato à o governo do Rio é de 2000. Para não dizerem aquele governo, pedi para investigar todos os os mandatos do casal Garotinho e de Cabral", Prefeitura do Rio. Enquanto a Alerj não vota o projeto de resolução, o parlamentar iniciou coleta de assinaturas pedindo a abertura da comissão. Neste caso, são necessárias 24 assinaturas, mas até o momento apenas 14 deputados aderiram - nenhum deles do PT, cuja bancada tem 6 parlamentares. "O PT tem dois secretários no governo e precisa agir com responsabilidade. A decisão da maioria da bancada foi não assinar a CPI porque até agora não apareceu nada de ilegal entre a Delta e o governo. Você pode até dizer outras coisas em relação àquelas fotos de festas e restaurantes (em Paris), mas ilegal não é. Se aparecer qualquer indício de irregularidade, o PT será o primeiro a pedir abertura de CPI", explicou o deputado André Ceciliano, líder do partido na Alerj. O presidente da Casa, Paulo Melo (PMDB), tem a mesma justificativa. "Não existem elementos para uma CPI. Se surgir alguma suspeita de irregularidade entre a empresa e o poder público, aí, sim, vamos investigar. Relação pessoal não é motivo para abertura de investigação no Parlamento", alegou. Questionado se o ideal seria colocar o projeto de resolução em votação no plenário para a maioria dos deputados decidir se abre ou não a CPI, Paulo Melo foi enfático: "Quem decide a pauta da Assembleia é o presidente. Pressão eleitoral ou midiática não vai influenciar a minha decisão". __________________________________________________________________ Custo do trabalhador para empresa pode chegar a 183% do salário, diz FGV Pesquisa da Fundação Getúlio vargas levou em conta componentes como o 13º salário, adicional de férias, vale-transporte, INSS, licença maternidade e Fundo de Garantia do Tempo de Serviço Francisco Carlos de Assis (Economia) O custo do trabalhador, em média, pode chegar a 2,83 vezes - ou 183% - o salário que ele recebe da empresa, no caso de vínculo de 12 meses de duração do contrato, de acordo com estudo que o Centro de Microeconomia Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgaram hoje (23) em São Paulo. Neste caso, se um trabalhador tem salário mensal bruto R$ 730, o custo dele é de R$ 2.067,44 para a empresa. Isto, segundo o estudo, não deriva apenas de encargos, mas de um conjunto de obrigações acessórias, benefícios negociados, burocracia e até da gestão do trabalho. No total, a pesquisa contemplou 34 componentes, entre eles o décimo terceiro salário, adicional de férias, vale-transporte, INSS do empregador, administração de pessoal, licença maternidade e Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). "Estes itens não exaurem todos os custos porque há nas planilhas das empresas outros custos indiretos que não foram contemplados na pesquisa", disse o professor da FGV, André Portela. "O trabalhador que é doente, por exemplo. Por faltar mais, ele custa mais para a empresa." A pesquisa utilizou como objeto de estudo, segundo seus organizadores, duas empresas do setor têxtil, uma de Santa Catarina e outra de São Paulo. A FGV e a CNI acreditam que a metodologia pode ser aproveitada em outras empresas de outros setores. O custo do trabalhador, no entanto, pode cair para 2,55 vezes o salário - ou 155% - se o vínculo se estender para cinco anos. Neste caso, utilizando o mesmo exemplo, um trabalhador que recebe R$ 730 mensais representa um custo para a empresa de R$ 1.858,89. Esse valor cai devido a fatores como aviso prévio indenizado, multa do FGTS e investimentos em treinamento e formação específicos. Isso ocorre porque, segundo a pesquisa, no prazo mais longo o empresário tem mais tempo para diluir vários custos. __________________________________________________________________ Governo apresenta proposta com valor de isenção do IR na PLR até segunda-feira Com garantia do prazo, sindicalistas se comprometeram a pedir a parlamentares ligados a eles que votem e aprovem ainda hoje MP que flexibiliza licitações para o PAC Tânia Monteiro (Economia) Até a próxima segunda-feira o governo apresenta às centrais sindicais, a proposta com o valor de isenção de imposto de renda na Participação dos Lucros e Resultados (PLR) para os empregados. A informação foi prestada em reunião no Planalto com representantes das centrais sindicais, pelos ministros da Secretaria Geral, Gilberto Carvalho, e das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Com a garantia da apresentação da proposta até a segunda-feira, os sindicalistas se comprometeram em pedir aos parlamentares ligados a eles no Congresso que tentem votar e aprovar ainda hoje, na Câmara, a Medida Provisória 556. Esta MP flexibiliza as licitações para as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), aplicando a elas as mesmas regras do Regime Diferenciado de Contratações (RDC), utilizado nas licitações da Copa do Mundo e da Olimpíada. Para isso, deputados como Paulinho da Força Sindical (PDT-SP), que estava na reunião no Planalto, e Vicentinho (PT-SP) retirariam suas emendas para facilitar a votação. As centrais sindicais aguardam a decisão, pelo governo, do valor da isenção do PLR, uma antiga reivindicação dos trabalhadores. Segundo o secretário Nacional de Finanças da CUT, Vagner Freitas, "o teto tem de atingir a média dos trabalhadores que representamos, ou seja, quem tem direito a PRL na faixa entre R$ 10 mil e R$ 12 mil". Na reunião, foi informado aos sindicalistas que o Ministério da Fazenda já encaminhou à presidente Dilma Rousseff a proposta da área econômica, mas que ela não pode analisar a proposta porque está debruçada sobre o texto do Código Florestal. Os sindicalistas querem isenção total até R$ 12 mil e, acima disso, seriam criadas alíquotas progressivas. A proposta de isenção de imposto de renda no pagamento de participação dos lucros aos empregados foi incluída no texto da MP 556 pelo relator do texto, deputado Jerônimo Goergen (PP-RS) e prevê que a isenção seja para PLRs de até R$ 12 mil. Mas o governo, no início, aceitava negociar apenas a metade disso, o que estava sendo rejeitado pelos sindicalistas. Em nota divulgada há pouco, o presidente em exercício da Força Sindical, Miguel Torres, mostra confiança na negociação com o governo. "Acreditamos na sensibilidade social do governo nesta questão da isenção da PLR, que irá beneficiar milhões de trabalhadores e irá ajudar a fomentar o mercado interno", afirma. Folha de S.Paulo __________________________________________________________________ Greve contra São Paulo (Editorial) A paralisação dos funcionários do Metrô e de parte da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) parou São Paulo. Foram 249 km de congestionamento no pior horário, às 10h, um recorde para a manhã. Até então, a maior lentidão eram os 191 km registrados em 4 de novembro de 2004, após fortes chuvas. Boa parte dos cerca de 4 milhões de usuários do Metrô e dos 850 mil de duas linhas da CPTM foram afetados diretamente, e a população que usa carro ou ônibus, indiretamente, pois perdeu horas no congestionamento causado pela greve. Sem ter nada a ver com a queda de braço entre as duas companhias e seus trabalhadores, o paulistano pagou caro pela reivindicação salarial da categoria -que tem remuneração bem acima da média. Segundo o Metrô, os 8.500 metroviários ganham, em média, R$ 4.060 mensais, além de benefícios que vão de auxílio-creche (R$ 334) a vale-refeição (R$ 476). O salário médio nacional, de acordo com o IBGE, é de R$ 1.650 (dados de 2010). Em São Paulo, em março de 2012, a média dos proventos estava em R$ 1.852. Não se trata de negar aos metroviários o direito de fazer greve e reivindicar melhores condições de vida e trabalho. Mas, não sendo sua situação profissional nenhum descalabro, as negociações precisam ocorrer dentro de limites estabelecidos, inclusive pela Justiça. Paralisações no Metrô e na CPTM, como ocorre em outros serviços públicos essenciais, prejudicam antes o cidadão que as empresas e os dirigentes com que os grevistas precisam negociar. A Justiça do Trabalho bem que tentou evitar os piores transtornos à população. Sindicato e categoria descumpriram, porém, sua determinação de que 100% dos funcionários atuassem nos horários de pico e 85% nos demais períodos. Assim, uma paralisação que já parecia indefensável tornou-se abusiva. Inebriados talvez com a inflação de salários no setor de serviços, os metroviários pediam aumento de despropositados 20%. No final da tarde, os grevistas se apressaram a aceitar reajuste de 6,17%, pouco mais que a proposta anterior do Metrô, de 5,71%, e voltaram ao trabalho. Com sua demonstração de irresponsabilidade e descaso com o público, os grupos ligados à central Conlutas que controlam o sindicato só fazem reforçar a tese de que seu objetivo é mais político que corporativo, neste ano eleitoral. __________________________________________________________________ Painel Vera Magalhães (Poder) É guerra O núcleo jurídico do PSDB denunciará à Justiça Eleitoral o movimento "Conversando com São Paulo", no qual o pré-candidato do PT, Fernando Haddad, discute sua plataforma de governo com entidades da sociedade civil e militantes do partido. Na interpretação dos tucanos, o ciclo de atividades, que ganhou um portal colaborativo na internet com vídeos e áudio, caracteriza campanha antecipada, pois a legislação só permite propaganda com pedido de voto a partir de 6 de julho. A medida é um contra-ataque do QG de José Serra às ações impetradas pelos petistas contra o programa partidário que teve o ex-governador como protagonista. Toma lá... Lula sinalizou para o governador Eduardo Campos que o PT deve promover hoje intervenção em Recife para declarar candidato à prefeitura o exdeputado Maurício Rands, que perdeu as prévias domingo para o atual prefeito, João da Costa. ... dá cá A decisão em favor do preferido do governador é fator decisivo para pavimentar a aliança do PSB com Fernando Haddad em São Paulo, que pode ser selada ainda nesta semana. Suporte Rands passou o dia ontem em Brasília em busca de apoio da Executiva Nacional para anular hoje as prévias. A intervenção tem "99,9%'' de chance de ocorrer, segundo um membro do colegiado, já que outra votação não resolveria o impasse. Bis Outra crise entre PT e PSB, em Fortaleza (CE), pode terminar com intervenção nacional. O governador Cid Gomes repetiu a Lula na terça que PSB e PMDB podem apoiar um candidato do PT, desde que não seja indicado pela prefeita Luizianne Lins. Vai azedar 1 O apoio do relator da CPI do Cachoeira, Odair Cunha (PT-MG), à investigação da Delta nacional surpreendeu o PMDB. Cobrado, o PT disse que Cunha não consultou membros da comissão e seguiu orientação da ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais). Vai azedar 2 O PMDB teme que o passo seguinte seja a convocação do governador Sérgio Cabral (RJ). Se isso ocorrer, peemedebistas vão adotar "agenda inversa'' e impedir que Marconi Perillo (PSDB-GO), principal desafeto do PT, seja chamado. Será? Quando o G10 dos advogados do mensalão começou a discutir o manifesto contra a "faca no pescoço" no caso, José Carlos Dias e Arnaldo Malheiros foram contra. Achavam que seria uma forma de pressão inversa sobre os ministros do STF. Making of O texto foi assinado no escritório de Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, recém-integrado ao panteão de defensores. Ele chancelou o documento. Liga Além do texto conjunto, os advogados dos acusados no mensalão constituíram uma espécie de confraria, que se reuniu em jantar na casa do mesmo Kakay em Brasília nesta semana. Sem faca Fiel da balança para definir a data do julgamento, o ministro Ricardo Lewandowski passou a indicar que só entregará em junho seu voto revisor. Canteiro alheio Do senador Aécio Neves (PSDB-MG), sobre as inspeções de Aldo Rebelo (Esporte) a arenas da Copa: "O ministro deveria parar de pegar carona nos estádios e passar a vistoriar obras federais, como as de aeroportos, que estão no pacote que não anda". __________________________________________________________________ Senador usa verba para comprar reportagens Presidente da CPI usou R$ 41 mil do Senado para pagar jornalistas por publicações favoráveis em veículos da Paraíba 'Divulgo o parlamentar durante o programa, ganho para isso', diz radialista; Vital do Rêgo nega irregularidades Andreza Matais e Filipe Coutinho (Poder) Presidente da CPI do Cachoeira e corregedor do Senado, o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) usa dinheiro público para a compra de reportagens a seu favor em veículos de seu Estado. Três jornalistas, de rádios e sites da internet, disseram à Folha que recebem dinheiro da verba indenizatória do senador para publicar reportagens que seu gabinete encaminha ou produz. Os ouvintes e leitores não são informados de que o material é pago pelo senador. Conforme a Folha revelou na terça, um outro jornalista presta o mesmo serviço para o senador e recebe por meio de sua filha, uma funcionária-fantasma do gabinete de Rêgo que se diz coautora do hit "Ai Se Eu te Pego". Desde que assumiu o mandato em 2011, Rêgo já repassou R$ 41 mil para os outros três jornalistas. O congressista tem uma cota mensal de R$ 15 mil para gastos com o exercício do mandato. Ele nega irregularidade na ação. "O pagamento só é feito quando a empresa, além da nota fiscal, manda o comprovante das matérias. Mensalmente a assessoria [de Rêgo] pede o envio das notas", afirmou o jornalista Heron Cid, do "Blog Mais PB". Paulo Roberto Florêncio diz que recebe para divulgar as informações. "Sou jornalista, tenho um programa de rádio e faço a divulgação do parlamentar durante o programa. Ganho para isso." Sílvio Romero, radialista, disse que recebe o dinheiro para divulgar material "emitido" pela assessoria de Rêgo. As operações são legais, embora a o código de ética da ANJ (Associação Nacional dos Jornais) proíba a prática. Vital do Rêgo afirmou que "não usa a verba indenizatória para a publicação de matérias favoráveis" a ele e aconselhou a Folha a investigar o que os demais senadores fazem com o dinheiro. As empresas, segundo ele, são contratadas para "promover a divulgação" do seu mandato. Em 2003, a Folha revelou que o então governador do Paraná Jayme Lerner comprou R$ 6,4 milhões em supostas reportagens publicadas na imprensa do Paraná. __________________________________________________________________ Gurgel não cita suposto pedido da PF em sua resposta à CPI Procurador diz que foi ele que sustou inquérito Andreza Matais e Filipe Seligman (Poder) Em resposta enviada ontem à CPI do Cachoeira, o procurador-geral Roberto Gurgel disse que foi ele quem tomou a decisão de suspender, em setembro de 2009, investigação da Polícia Federal sobre o empresário Carlos Augusto Ramos que indicava a suposta ligação criminosa entre Cachoeira e o senador Demóstenes Queiroz (ex-DEM-GO). A resposta não faz menção à versão apresentada pela subprocuradora-geral e sua mulher, Cláudia Sampaio, à Folha, segundo a qual a investigação, chamada de Operação Vegas, foi suspensa a pedido dos delegados da PF que atuavam no caso. Com isso, disse ela, os policiais queriam evitar que os investigados soubessem que eram monitorados. Assim, a PF poderia continuar na investigação, que, afirmou Sampaio, acabou desembocando em outra operação, a Monte Carlo -a qual, por sua vez, levou à prisão de Cachoeira e à criação da CPI. As alegações de Sampaio deflagraram um mal-estar entre a Procuradoria e a PF, que chegou a divulgar nota dizendo que os delegados nunca fizeram tal pedido. Eles afirmam que a Monte Carlo não tem relação com a Vegas. No documento, Gurgel diz, sem citar pedido nenhum: "Decidi sobrestar [suspender] o inquérito no intuito de possibilitar a retomada das interceptações telefônicas e da investigação, que, a toda evidência, se afigurava extremamente promissora". Ele diz que, cerca de um ano e cinco meses depois de paralisar a Vegas, foi avisado que a investigação contra Cachoeira "continuava". Neste momento, a Monte Carlo já estava acontecendo. __________________________________________________________________ Câmara e Senado também vão divulgar salários de servidores (Poder) Congresso segue decisões do governo federal e do STF e publicará detalhes sobre vencimentos nas duas casas Poderes aguardam norma do Ministério do Planejamento que vai definir padrão para divulgar informações Os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), decidiram ontem que divulgarão os salários dos servidores das duas Casas, como o Poder Executivo e o Supremo Tribunal Federal (STF) também farão. A expectativa é que até amanhã o Ministério do Planejamento publique um ato normativo estabelecendo um padrão a ser adotado pelos três Poderes na divulgação dos salários dos servidores. No caso do Executivo, as informações deverão ficar concentradas no portal da Controladoria-Geral da República (CGU) na internet. A decisão do governo de ampliar a transparência sobre os salários pagos na administração pública foi tomada na semana passada, quando a nova Lei de Acesso à Informação entrou em vigor. Decreto da presidente Dilma Rousseff, que regulamentou a lei, determina a divulgação de dados detalhados sobre a remuneração recebida pelos servidores públicos, de forma individualizada. Atualmente, o governo publica tabelas genéricas de vencimentos e indica os cargos ocupados por seus funcionários, mas não informa quanto cada um ganha além do salário básico da função. A forma de divulgar as informações será definida pelo Planejamento. A tendência é que o Executivo recomende a divulgação com os nomes completos dos servidores. Essa alternativa é contestada por entidades do funcionalismo. Elas dizem que isso põe em risco a segurança de seus associados e prometem recorrer à Justiça caso a regra seja colocada em prática. Além dos salários, o decreto presidencial determina que sejam divulgados auxílios, ajudas de custo, jetons e outras vantagens, bem como proventos de aposentadoria dos que estiverem na ativa. "Vamos esperar que o Ministério do Planejamento dite a portaria normativa sobre como fazer. O próprio decreto determina que o Planejamento faça um [ato] normativo", afirmou Sarney. "Todos os Poderes estão seguindo o mesmo procedimento." "Os Poderes estão em sintonia com os anseios da sociedade", disse Marco Maia. Segundo ele, a tendência é que "a informação seja nominal, com o salário recebido por cada um dos funcionários e suas gratificações". Os dois congressistas fizeram o anúncio um dia depois de os ministros do STF decidirem que divulgarão nome, salário e demais benefícios de todos os servidores, incluindo os atuais 11 ministros e os ex-integrantes da corte. A decisão dos membros do tribunal foi tomada antes mesmo da publicação da norma do Ministério do Planejamento. Inicialmente, ela só vale para o Supremo, mas a decisão poderá servir futuramente de modelo para os demais tribunais do país. __________________________________________________________________ Órgão da Presidência recomenda veto a Código (Poder) Dilma tem avaliado tema com ministros O Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar), órgão de assessoramento da Presidência, recomendou ontem que a presidente Dilma Rousseff vete na íntegra o Código Florestal aprovado pela Câmara. Na recomendação, os 57 membros do Consea consideram que o texto provocaria "graves impactos sobre a segurança alimentar e nutricional da população brasileira". Também ontem, a AMB (Associação dos Magistrados do Brasil) e a Ajufe (Associação dos Juízes Federais) encaminharam nota pública dizendo que o projeto trará "uma avalanche" de ações judiciais e não contribui para a "pacificação" da "gestão pública e privada dos recursos naturais". Dilma tem até amanhã para decidir o tamanho do veto. Interlocutores da presidente afirmam que não existe a possibilidade de veto total. Um membro do Ministério do Meio Ambiente, porém, disse que análise jurídica da pasta indica que a supressão de artigos problemáticos do texto da Câmara produziria um projeto inaplicável. Desde sábado a presidente tem reunido ministros para discutir o tema. __________________________________________________________________ Greves deixam 2 milhões sem ônibus em Salvador e São Luís Em Santa Catarina, motoristas também ameaçam parar a partir de segunda-feira Graciliano Rocha e Reynaldo Turollo (Cotidiano) Quase 2 milhões de passageiros estão sendo afetados pelas greves de ônibus em Salvador (BA) e São Luís (MA). Em Santa Catarina, motoristas também ameaçam parar. Deflagrada ontem, a greve dos motoristas e cobradores da capital baiana deixou 1,3 milhão de pessoas sem transporte e lançou a cidade num caos que afetou escolas, empresas e repartições públicas. A Justiça ordenou que 40% das linhas operassem de dia e 60% nos horários de pico, mas a decisão foi descumprida. Em meio à confusão, o prefeito João Henrique Carneiro (PP) pediu a intervenção da PM para garantir o funcionamento mínimo das linhas. O Sindicato dos Rodoviários, filiado à CUT (Central Única dos Trabalhadores) e que reúne 13 mil trabalhadores, afirma tê-los orientado a cumprir a decisão judicial, mas diz que não tinha meios para obrigar os grevistas a trabalhar. O Tribunal Regional do Trabalho marcou para segunda o dissídio coletivo da categoria. O sindicato pede 11% de aumento imediato mais uma gratificação para trabalhadores com cinco anos na empresa. As viações oferecem 4,88%. MARANHÃO Já em São Luís, cerca de 500 mil pessoas enfrentaram ontem o terceiro dia de greve dos rodoviários, que pararam 100% dos ônibus, contrariando decisão da Justiça. No primeiro dia, o Tribunal Regional do Trabalho declarou a greve "ilegal e abusiva". Os trabalhadores pedem 16%, mas o TRT arbitrou o reajuste em 7%. Ontem, motoristas e cobradores de Florianópolis decidiram parar na segunda-feira. Valor Econômico __________________________________________________________________ Em nota, CUT não fala de medidas internas sobre FGTS Carlos Giffoni A Central Única dos Trabalhadores (CUT) ainda não se manifestou sobre as providências que tomou após ser informada da investigação da Controladoria Geral da União (CGU) que envolve André Luiz de Souza, que foi representante da central no Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Desde sexta-feira, o Valor espera uma resposta sobre quem é e de onde veio (qual sindicato) André Luiz de Souza, indicado por ela para compor o Conselho do FGTS em 2005, e também se a central conduziu alguma investigação própria, cobrando explicações do seu ex-representante. Souza é suspeito de conflito de interesses na gestão de recursos públicos porque sete empresas das quais é sócio prestaram serviços a outras empresas que lançaram debêntures compradas com recursos do fundo. Consequência de uma reunião realizada ontem, a central divulgou uma nota oficial afirmando que Souza não é seu representante em nenhum órgão ligado ao FGTS pelo menos há cinco anos. "A CUT esclarece que o sr. André Luiz de Souza foi conselheiro suplente do Conselho Curador do FGTS como representante da CUT no periodo de março de 2005 a março de 2007, quando a central decidiu não reconduzi-lo ao cargo. Então, ele passou a integrar o Grupo de Apoio Permanente (GAP) do Conselho Curador do FGTS até agosto de 2009. Ele atuou como membro do Comitê de Investimento do FI-FGTS, representando a bancada dos trabalhadores de dezembro de 2007 a julho de 2011, quando renunciou formalmente ao mandato. Como se pode verificar, o sr. André de Souza deixou de ser representante da CUT no CC-FGTS cinco anos antes de tomarmos conhecimento das conclusões da auditoria da CGU e deixou de integrar outros órgãos do FGTS pelo menos cinco meses antes de a CUT receber cópias dos documentos da CGU [o que ocorreu, segundo ela, em dezembro de 2011]", diz a nota. A CUT afirma ainda que "apoia toda investigação que venha a ser feita pelos órgãos competentes". __________________________________________________________________ Após invasão, Fazenda discutirá ajuda a regiões atingidas pela seca Thiago Resende O Ministério da Fazenda se comprometeu a dar até a próxima semana uma “resposta” às reivindicações dos manifestantes da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), entidade filiada à Central Única de Trabalhadores (CUT), que invadiram o prédio do ministério durante a madrugada desta quarta-feira. Nesta quinta-feira, eles devem se reunir com o secretário-adjunto de Política Agrícola da Secretaria de Política Econômica (SPE), João Rabelo. O encontro tem o objetivo de discutir medidas de socorro às famílias afetadas pela seca nas regiões Nordeste e Sul, além de ampliação de políticas de crédito agrícola. “Nosso setor também é importante para a economia brasileira, porque nós produzimos alimentos e também podemos acabar com a miséria no país”, disse a coordenadora-geral da Fetraf-Brasil, Elisângela Araújo. Assuntos como aumento da disponibilidade de água para o campo, principalmente para a agricultura familiar, e ações de assistência técnica para diagnosticar os problemas da propriedade também devem ser debatidos em reunião com o governo. “É necessário um programa estruturante para a questão nas regiões atingidas pela seca”, defendeu o coordenador-geral da Fetraf para o Distrito Federal e Entorno, Francisco Lucena. Ele participou das negociações com o governo, após os manifestantes deixarem o prédio do ministério, por volta das 11h de ontem. "Não adianta dar bolsa se frequentemente tem seca nas regiões”, disse Lucena. “Lá, precisa é de infraestrutura de água. Não somente para a pessoa beber, mas para os animais e para plantar. A partir daí é possível agregar valor à produção e sair da condição de dependência”, afirmou. “Para passar por essa situação, tem que ter obras de infraestrutura como canais, tanques e barragens”. Os manifestantes pedem ainda, segundo Elisângela Araújo, mais recursos para a agricultura familiar, mais acesso a terras, reforma agrária e restruturação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). A coordenadora da Fetraf disse que, após entregar em abril uma carta com as reivindicações na Secretaria-Geral da Presidência da República, as negociações com o governo não progrediram. “Mesmo com reuniões no MDA [Ministério do Desenvolvimento Agrário] e MDS [do Desenvolvimento Social] isso não avançou”, disse. “Daí decidimos entrar no Ministério da Fazenda, que é onde tem o dinheiro, onde tem o orçamento.” __________________________________________________________________ Seca derruba atividade nas regiões Sul e Nordeste Arícia Martins e Murillo Camarotto A seca afetou o desempenho das economias do Nordeste e do Sul no primeiro trimestre do ano. A economia nordestina encolheu 1% na passagem do último trimestre de 2011 para o primeiro deste ano, enquanto a queda no Sul foi de 0,4%, feitos os ajustes sazonais, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) para cada uma das regiões. Em igual período, a atividade no país aumentou 0,15%, segundo o BC. Indústria e comércio ajudaram o Nordeste no início do ano. Nos primeiros três meses, a produção industrial de Ceará, Pernambuco e Bahia, três Estados pesquisados pelo IBGE, avançou 3,6% sobre o último trimestre do ano passado na série dessazonalizada. Na mesma comparação, as vendas do varejo tiveram alta de 4,8%, segundo cálculos da LCA Consultores com base na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC). Para Adriano Pitoli, economista da Tendências Consultoria, a seca que atinge boa parte dos Estados nordestinos puxou para baixo o ritmo da atividade econômica da região neste início de ano. Apesar de as safras se concentrarem no primeiro semestre, explica Pitoli, o efeito de baixa causado pela seca se estenderá pela economia nordestina ao longo do ano, porque as quebras de safra afetam a renda agrícola regional. Devido à estiagem, a Tendências projeta que a produção de feijão do Nordeste, concentrada na Bahia e no Ceará, recue 44% este ano. As safras de arroz, algodão e milho devem cair 15%, 6,5% e 5,6%, respectivamente, nas estimativas da consultoria, o que afetará as economias dos Estados da Bahia, Ceará, Sergipe, Maranhão, Piauí e Pernambuco. Mais de 230 municípios baianos estão em situação de emergência por causa da falta de chuvas no Estado, no que é considerada a pior seca dos últimos 30 anos. Devido aos efeitos da seca, a Tendências vai cortar sua projeção para o crescimento econômico do Nordeste, que era de 4,3%. "Teve um choque muito grande. Vamos nos debruçar para estimar em detalhe o impacto dessas quebras de safra e nossa projeção para o PIB do Nordeste deve mudar significativamente", disse Pitoli. Outro dado negativo da economia nordestina que se aprofundou no primeiro trimestre deste ano foi a geração líquida de empregos formais. Houve um saldo negativo acumulado na região em janeiro, fevereiro e março de 36,6 mil vagas, de acordo com o Caged. Em igual período do ano passado, foram eliminados 22,8 mil postos de trabalho. A indústria foi o principal setor a demitir no Nordeste neste início de ano. Somente em março, cortou 37,2 mil empregos. Alexandre Rands, sócio da consultoria Datamétrica, especializada em economia nordestina, explica que a retração observada no Nordeste reflete basicamente a conjuntura em curso no país, porém com efeitos potencializados. "São os mesmos fatores que puxam para baixo a economia do país como um todo, no caso o breque no crédito e no consumo. Só que o Nordeste depende ainda mais do consumo das famílias do que o Sudeste, por isso sente mais os efeitos", explicou o economista. Isso acontece, em boa medida, por conta da defasagem de porte e de eficiência das empresas do Nordeste, quando comparadas às do Sul e Sudeste. "Em uma situação de queda na demanda nacional, as empresas mais eficientes, que geralmente estão no Sudeste, têm mais condições de inundar o Nordeste com seus produtos. Isso acontece muito com o leite e o etanol, por exemplo, e quem acaba pagando o preço são o empresário e a economia do Nordeste, que sentem mais o golpe", explicou Rands. __________________________________________________________________ Temor das urnas favoreceu aprovação de PEC Daniela Martins e Carmen Munari A forte adesão à PEC do trabalho escravo, aprovada pela Câmara dos Deputados com 360 votos a favor e apenas 29 contra com 25 abstenções, surpreendeu os ruralistas. Implacavelmente unida na votação do novo Código Florestal, a bancada ruralista não conseguiu reunir mais que 60 votos na votação da PEC do Trabalho Escravo. A derrota ficou visível após a proposta reunir 360 votos favoráveis - 52 a mais que os necessários - mesmo com a orientação os ruralistas para que seus membros não registrassem presença no plenário. Como consolo, levaram a promessa de um futuro projeto de lei que aponte a definição do que é trabalho escravo. Os votos contrários ficam muito aquém dos 230 deputados que se estima terem posicionamento favorável às demandas do agronegócio. E os favoráveis superaram em muito os 308 necessários à aprovação de uma proposta que altera a Constituição. A orientação de todos os líderes partidários foi pela aprovação da proposta e bancadas inteiras presentes à sessão de votação da terça-feira aderiram à PEC, como o PT (75 votos), o PSB (26), PCdoB (13), PV (9), PRB (8) e PSOL (3). O PDT teve apenas 1 voto contra e 1 abstenção, com 23 aderindo à PEC. O PR teve desempenho similar, com 1 contra, 3 abstenções e 21 favoráveis. No PMDB, considerado próximo dos ruralistas, 7 votaram contra a proposta, 8 se abstiveram e 47 aprovaram a medida. Outra legenda com tendência próagronegócio, o PSD, deixou claro o protesto contra a PEC: de 37 deputados, houve 8 abstenções, 7 votos contrários e 22 favoráveis. Na oposição, dos 43 deputados do PSDB presentes, 41 votaram a favor e do Democratas, 5 foram contra, houve 1 abstenção e 14 votaram a favor. Mas o PPS votou na totalidade (10) a favor da medida. O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Moreira Mendes (PSD-RO), afirmou ao Valor que se surpreendeu com o forte resultado favorável à PEC, mas tem clareza na explicação do comportamento dos deputados. Segundo Mendes, o ano eleitoral pesa, já que muitos parlamentares vão concorrer à eleição municipal. Ele aponta também o temor de que o voto contrário pudesse ser entendido pela opinião pública como concordância com o trabalho escravo, enquanto os proprietários rurais, explica, são contra esta exploração e temem abusos da fiscalização. O viés ideológico mais à esquerda de muitas legendas é outro ingrediente. Ele se absteve na votação e explicou que a orientação para a bancada era o voto contrário ou a abstenção. Questionado se existe trabalho escravo no Brasil, respondeu: "No meu Estado [Rondônia] não existe, nem análogo, mas se procurar no Ministério do Trabalho... É interpretação. Depois chega na Justiça e não dá nada, só paga multa". O presidente eleito da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Homero Pereira (PSD-MT), afirmou que será necessário criar um projeto de lei que defina com "clareza" o que é trabalho escravo. O parlamentar estimou que a bancada ruralista deve contar com o apoio de cerca de 20 senadores. O novo presidente disse que se um texto que diminua as inseguranças jurídicas do produtores não for produzida pelo Congresso, a PEC do Trabalho Escravo não será aprovada pelas duas Casas Legislativas. "Vai ficar um pingue-pongue até as duas Casas terem conceito definido", disse. Homero Pereira também justificou a derrota pelo temor de desgaste de membros da frente por conta da proximidade das eleições municipais. "Muitos acabaram por questões políticas, com as eleições municiais, ou para não macular orientação dos partidos", disse. Além disso, Pereira afirmou que a bancada ruralista preferiu não "tensionar" seus membros já que a proposta ainda teria que ser analisada pelo Senado. "Na questão do Código Florestal, já era votação final. Nessa votação da PEC todos já sabiam que não era terminativa", minimizou. Fontes ouvidas pelo Valor afirmaram que um acordo feito entre PTB e PT explica a mudança de comportamento na votação. O PT teria aceitado liberar sua bancada na votação da PEC dos Cartórios, criticada por criar um "trem da alegria" ao efetivar em seus cargos tabeliães que não fizeram concurso público e defendida pelo líder do PTB, deputado Jovair Arantes (GO). Em troca, petistas pediram o apoio da sigla na votação da PEC do Trabalho Escravo. "É uma vitória do país. O Brasil estava se desgastando muito lá fora", afirmou Tatto. O petista disse que a votação do a votação do projeto em primeiro turno na Casa, em 2004, aconteceu sob pressão social: após o assassinato de três fiscais do trabalho e de um motorista da delegacia Regional do Trabalho de Minas Gerais, na Zona Rural de Unaí (MG). O presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), anunciou durante a votação da PEC na terça-feira que estava mantido o acordo com os líderes do Senado de compor uma comissão para elaborar proposta para esclarecer o que é trabalho escravo. No entanto, o líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto (SP), rejeitou a possibilidade de consenso com os ruralistas ou ainda modificações no texto aprovado: "Não temos acordo nenhum". __________________________________________________________________ PT e PSDB trocam acusações por caos no metrô Cristiane Agostine Lucia Maria de Freitas, de 52 anos, costuma gastar 50 minutos no metrô para ir de sua casa, na zona leste da capital paulista, para o trabalho, na zona oeste. Ontem, com a greve de metrô e de duas linhas da CPTM em São Paulo, levou mais de cinco horas para percorrer dois terços do mesmo trajeto. Enquanto aguardava para embarcar no terceiro ônibus, a encarregada de limpeza não sabia que horas chegaria ao trabalho. "Não sei quem cuida do metrô, mas sei que não está cuidando bem. É só ver essa greve". Na mesma fila, no centro de São Paulo, Claudilene Rodrigues Matias, de 25 anos, também não sabia dizer qual governo administra o metrô. O trajeto da vendedora, que ontem durou mais de três horas, é feito em um terço do tempo no metrô. Vanessa Barros, de 31 anos, corretora de seguros, comentou que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) é o responsável pelos transportes sobre trilho, mas minimizou a responsabilidade do governo sobre a greve. "No ônibus ouvi todo mundo 'meter o pau' no Alckmin, no PSDB, que estão há não sei quantos anos no governo e não fizeram nada. Mas que não tem o que fazer. Sempre vai ter greve". Já Teresa Lima, de 39 anos, agente de atendimento, disse que o protesto pode prejudicar o Alckmin e José Serra, pré-candidato do PSDB à prefeitura paulistana. "Eles são do mesmo partido", afirmou. A greve de quatro das cinco linhas do metrô e de duas linhas da CPTM, que afetou mais de 4,8 milhões de passageiros, acabou ontem depois de 18 horas de protesto sem ganhos significativos aos sindicalistas em relação ao que o Metrô havia oferecido um dia antes. A oposição ao governo do PSDB, no entanto, vê na greve a oportunidade para colar os problemas à imagem de Alckmin e de José Serra, na tentativa de desgastar a imagem dos tucanos não só na eleição de 2012, mas também na de 2014. Eleitores como Lucia e Claudilene, que não sabem quem gere o metrô e a CPTM, estão na mira da campanha eleitoral do PT, que irá reforçar o mote do "apagão nos transportes" ao PSDB já na pré-campanha de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo. O presidente do diretório municipal do PT e coordenador da pré-campanha de Haddad, vereador Antonio Donato, disse que o partido vai reforçar as críticas contra o "sucateamento" do transporte público na capital, na quinta gestão consecutiva do PSDB no Estado. O PT escolheu dois focos para atacar a política de mobilidade urbana do PSDB em São Paulo: a evolução nos investimentos do governo estadual em manutenção e sinalização do metrô e da CPTM e a falta de continuidade na construção dos corredores de ônibus, marca da gestão da ex-prefeita e senadora Marta Suplicy (PT). Segundo o deputado federal Carlos Zarattini, um dos responsáveis pelo programa de Transportes de Haddad, o PT vai falar que a "falta de planejamento levou ao apagão nos transportes". "Serra fez muita propaganda dos investimentos no metrô, mas houve pouco resultado efetivo. Ele, quando governou o Estado, priorizou a compra de trens, que aparecem eleitoralmente, mas deixou de cuidar da manutenção e sinalização", disse. "Ao mesmo tempo, o [prefeito Gilberto] Kassab abandonou os corredores de ônibus". Na análise de Zarattini, sem os corredores, a viagem de ônibus torna-se mais lenta e, por isso, os passageiros migraram ainda mais para o metrô, sobrecarregando o sistema. Ontem, o PT se municiou de imagens da greve, com passageiros revoltados com a falta de transporte entraram e o conflito com a Polícia Militar. A PM usou bala de borracha, bomba de efeito moral e duas pessoas foram detidas. Na defesa de sua gestão, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), associou a greve de ontem à proximidade das eleições municipais. Segundo o governador, a paralisação é "totalmente absurda" e é comandada por um "grupelho irresponsável". Em entrevista ao jornal "SPTV", da Rede Globo, Alckmin disse que a greve não tinha "o menor sentido" e que era uma "crueldade" dos grevistas com a população. "No ano passado não teve nenhuma greve. Este ano tem eleição, tem greve. Será que é só coincidência?" No ano passado, Alckmin enfrentou dois dias de greve da CPTM. A última grande paralisação do metrô ocorreu em 2007, ano não eleitoral, no primeiro ano do mandato de José Serra como o governador. Depois do protesto, que durou dois dias, o governo chegou a anunciar a demissão de 61 funcionários do metrô. Naquele mesmo ano, dias depois de Serra assumir o governo, o metrô registrou seu pior acidente. Sete pessoas morreram com o desabamento nas obras da estação de metrô Pinheiros, na zona oeste. O Sindicato dos Metroviários, responsável pela paralisação de quatro linhas do metrô, é ligado à central sindical Conlutas e vinculado ao PST e PSOL. Na gestão da diretoria anterior, o sindicato esteve ligado ao PCdoB e à central sindical CTB, vinculada ao partido. A linha amarela, operada pela iniciativa privada, é ligada a outro sindicato e não aderiu à greve. Os rumores de greve aumentaram na semana passada, quando dois vagões do metrô colidiram na linha 3 e deixaram pelo menos 49 pessoas feridas. Sindicalistas queixavam-se de más condições de trabalho e da falta de investimento na manutenção do metrô. Neste ano, o sindicato já havia ameaçado greve, em fevereiro, durante a negociação sobre o valor da Participação nos Lucros e Resultados, mas entrou em acordo com o governo. Em 2011, o metrô ameaçou aderir à greve da CPTM, mas também houve acordo. __________________________________________________________________ Quem manda nos sindicatos? Estamos em ano eleitoral e, normalmente, nesse período, se assiste à eclosão de um sem número de greves, não raras vezes com prejuízos à comunidade (veja-se a greve de ônibus e metrô em São Paulo), sejam os interesses por elas defendidos legítimos ou não. Ainda, num período de turbulências econômicas, como as empresas nacionais vêm enfrentando atualmente, a necessidade de se negociar com os trabalhadores mecanismos para tornar menos traumáticos os ajustes necessários para a sobrevivência da empresa e dos empregos de seus empregados, é uma realidade. Dado que em ambos os casos têm-se o envolvimento de sindicatos, surge a questão que é o título desse artigo: quem manda nos sindicatos? De forma mais abrangente, quem é que representa os interesses de empregados e empregadores, reunidos em um sindicato? Quais os limites legais e estatutários desses mandatários? Um sindicato é uma espécie de associação. Esta é a reunião de pessoas, físicas ou jurídicas, que se unem em defesa de um interesse que lhes seja comum. No caso dos sindicatos, sua finalidade maior é a defesa dos interesses dos trabalhadores (dimensão postulatória), no caso dos sindicatos de trabalhadores, e a defesa contra as intenções dos empregados (dimensão defensiva), no caso dos sindicatos patronais. Nas duas situações, quem "personifica", quem externa esses interesses, é a diretoria da entidade, ou mais especificamente seu presidente. Uma associação - e os sindicatos por consequência - são geralmente compostos de uma diretoria executiva, um conselho fiscal e de uma assembleia, da qual participam os representados. A diretoria executiva é a responsável pela gerência diária da entidade, quer no que diz respeito à sua administração interna, quer no que se refere à defesa dos interesses de seus representados perante terceiros; o conselho fiscal é quem controla o uso dos recursos financeiros da entidade pela diretoria executiva; a assembleia dos representados é o locus onde a vontade a ser defendida pela diretoria executiva é definida. Desse modo, pelas características organizacionais acima citadas, se o presidente de um sindicato representa a entidade perante terceiros, o conteúdo dessa representação não é por ele estabelecido, mas sim pela assembleia, esta composta pelos representados pelo sindicato. O presidente não estabelece os direitos a serem defendidos, ele lhes dá voz. É, por assim dizer, um microcosmo de um Estado democrático. Desde o advento da Constituição Federal, muitos, em leitura afoita de seu artigo 8º, II, que veda a interferência e intervenção do Poder Público nas entidades sindicais, passaram a entender que não pode haver nenhuma ingerência, do Estado ou de particulares, nas atividades sindicais. Esse raciocínio é absurdo, na medida em que tornaria o sindicato um ente soberano, dentro de um Estado brasileiro também soberano! Deixam, esses equivocados intérpretes, de considerar o princípio fundamental democrático da República brasileira (artigo 1º) e o da sujeição irrestrita de todos os que se encontram em território nacional ao primado da lei (artigo 5º, II). No caso dos sindicatos, também é desconsiderado o disposto no artigo 5º, XIX da mesma Carta. Tudo isso considerado, é forçoso e inevitável concluir que só serão legítimas as atividades desenvolvidas pela presidência de um entidade sindical, na defesa dos interesses de seus representados, se essas atividades forem respaldadas na vontade majoritária oriunda de uma assembleia. Dito de forma muito breve, o presidente de um sindicato não se torna, com sua posse, "dono" da vontade de seus representados. Jamais. Se no modelo político (considerando-se os âmbitos federal, estadual ou municipal) é inviável a realização de plebiscitos para a definição dos atos a serem tomados pelos governantes, dada a dimensão e complexidade da sociedade, o mesmo não se dá em relação às associações e sindicatos: para cada atuação em nome da categoria é necessária prévia, democrática e representativa apuração dos interesses a serem defendidos pela presidência executiva da entidade. Isso leva a que, em negociações coletivas, mais do que ameaças ou "caras feias", a entidade demonstre que seus pleitos refletem, com exatidão, os interesses dos representados, e em dissídios judiciais, que essa vontade da categoria seja efetivamente averiguada, sob pena de falta de interesse processual. Desconsiderar esses fatos e fundamentos jurídicos significa a manutenção da "ditadura da diretoria", tão comum em nossos dias. E isso não beneficia trabalhadores, empresas, o Estado nem a sociedade como um todo. Henrique Macedo Hinz é mestre e doutor em direito das relações sociais pela Faculdade de Direito da PUC-SP e doutor em desenvolvimento econômico pelo Instituto de Economia da Unicamp. É juiz do trabalho substituto do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 15ª Região e autor, dentre outros, do livro "Direito Coletivo do Trabalho" O Globo __________________________________________________________________ Planalto promete proposta final sobre Participação dos Lucros Dilma decide até segunda sobre isenção no IR do benefício pago aos trabalhadores Cristiane Jungblut Para tentar viabilizar a votação ainda nesta quarta-feira da Medida Provisória 556, o Palácio do Planalto prometeu às centrais sindicais uma proposta final, entre sexta e segunda-feira, sobre a isenção do Imposto de Renda na chamada Participação dos Lucros (PLR) dos trabalhadores, benefício extra pago pelas empresas aos empregados, funcionando como um 14º salário. No feriado de 1º de Maio, o governo anunciou que aceitava a isenção do IR até R$ 6 mil. A proposta em discussão na Câmara, justamente dentro da MP 556, é de R$ 12 mil, valor rejeitado pela Fazenda. A questão foi discutida hoje entre a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e representantes da Força Sindical e a CUT. O acordo foi de as duas centrais desistirem de incluir a proposta na MP 556 e de aguardarem a proposta do governo. - O governo disse que se comprometia com as centrais de apresentar na sextafeira, no máximo, na segunda-feira, a proposta sobre o PLR. A Fazenda está com os estudos prontos, mas a presidente Dilma Rousseff ainda não bateu o martelo disse o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), dirigente da Força Sindical. __________________________________________________________________ CUT vai encaminhar projeto para mudanças na CLT Acordo foi costurado entre representantes da Central, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral, e a presidnte Dilma Isabel Braga e Geralda Doca Para evitar o desgaste político de enviar ao Congresso um projeto que flexibiliza a legislação trabalhista, cujo texto está pronto na Casa Civil, o governo orientou a CUT a convencer um grupo de líderes dos partidos a assumir a paternidade da proposta. A principal mudança é permitir que sindicatos de trabalhadores e empresas possam negociar livremente a aplicação dos direitos trabalhistas, como por exemplo, divisão dos 30 dias de férias em três períodos, redução do intervalo de uma hora de almoço e da licença-maternidade, com compensações. O acordo foi costurado entre representantes da CUT, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral, e a Presidência da República. O assunto foi discutido num jantar na terça-feira entre o presidente da Câmara, Marco Maia, deputados e líderes das centrais sindicais. Ficou acertado no encontro que a CUT, via Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, vai encaminhar o projeto à Câmara, por meio de um parlamentar ou líder. — A Câmara vai avaliar, e a tendência é que a proposta seja apresentada por um conjunto de líderes — disse o presidente da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), que evitou o termo flexibilização, proposto pelo expresidente Fernando Henrique Cardoso. Embora o objetivo dos dois projetos seja o mesmo, a nova norma cria o Acordo Coletivo de Trabalho e estabelece regras para que os sindicatos possam negociar os direitos trabalhistas. Exige que as entidades tenham habilitação prévia do Ministério do Trabalho e instalem comitês dentro das fábricas, eleitos pelos trabalhadores. A nova norma não revogaria a CLT e teria caráter facultativo, caso aprovada. — É uma maneira de avançar na modernização das relações entre patrões e empregados. Não se trata da flexibilização e sim da inclusão de um mecanismo de negociação a mais para as categorias — destacou Maia. O líder do PSD na Câmara, Guilherme Campos (SP), que participou do jantar, disse que a ideia tem a simpatia de muitos e há grande chance de ser aprovada na Casa. Diário do Grande ABC __________________________________________________________________ Governo estuda bônus para aposentadoria Leone Farias O governo federal está perto de acertar com as centrais sindicais e entidades de aposentados proposta que muda a regra do fator previdenciário, que impõe fortes perdas a quem se aposenta com 35 anos de contribuição, mas antes de atingir a idade mínima para o benefício integral - para o homem 64 anos, já que é levada em conta a expectativa de vida. Ganha força a fórmula 85/95, que foi criada pela CUT e está sendo encarada pelo governo como solução. Por essa regra, o homem teria de somar 95 anos (e a mulher 85) entre tempo de contribuição e de idade para ter direito a se aposentar com benefício integral. Isso significa, que se tiver 35 anos de contribuição terá de ter 60 anos de idade, e se contribuir por 40 anos, ter 55 de idade. A regra em discussão prevê ainda bonificação (ou seja, prêmio) para quem alcançar o fator 85/95 e adiar a aposentadoria. Esse bônus seria de 2% na média da contribuição para cada ponto a mais do 85/95, até o limite, que pode chegar a 20%. No entanto, quem quiser se aposentar antes de alcançar esse fator, também teria desconto proporcional, com regra semelhante ao da bonificação, que poderia chegar ao limite de 10%. A CUT defende ainda, como regra de transição, que para todos aqueles que já têm tempo de contribuição (35 para os homens e 30 para as mulheres), mas que ainda não atingiram a soma 95 ou 85, os anos seguintes de trabalho contarão como dois anos. Ou seja, o tempo que falta para se aposentar será dividido pela metade. A entidade também propõe o congelamento da tábua de expectativa de vida e que os períodos de seguro-desemprego e aviso prévio contem como tempo de contribuição, para encurtar o caminho para a aposentadoria com 100% do valor do benefício. Segundo o diretor da Cobap (Confederação Brasileira dos Aposentados), Antonio Graff, a proposta é um avanço em relação ao que existe. "Mas vamos tentar melhorar essa proposta. Poderemos aceitar (o projeto) desde que acabem com o desconto", afirmou. Ele acrescentou que haverá nova reunião das entidades com o governo na semana que vem. AVALIAÇÃO - Para o advogado previdenciário Eliezer Rodrigues de França, há aspectos positivos e negativos a serem levados em conta na proposta em discussão. Pelo lado desfavorável, ele cita o rombo da Previdência. "A nova fórmula não cria necessariamente boa perspectiva para o governo federal, notadamente em termos de deficit orçamentário da Previdência Social, que aumentaria ainda mais", diz. Ele cita, por outro lado, que a regra da bonificação visa criar estímulo ao segurado para que não requeira o benefício assim que atingir a idade para tanto. "É uma tentativa de postergar uma avalanche de pedidos de aposentarias", diz. Agência Brasil __________________________________________________________________ Decisão sobre isenção de IR que incide sobre participação nos lucros paga a trabalhadores é adiada Luana Lourenço Brasília - Governo e centrais sindicais continuam sem acordo sobre a isenção de Imposto de Renda sobre a Participação nos Lucros e Resultados (PLR). Em mais uma reunião ontem (23), no Palácio do Planalto, sindicalistas saíram sem os números que o governo pretende apresentar aos trabalhadores. Segundo o secretário nacional de Finanças da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, o governo comprometeu-se a apresentar uma proposta oficial nos próximos dias. “O ministro Gilberto Carvalho disse que está com os números prontos, vai levá-los à presidenta e, na sexta-feira ou, no máximo, segunda-feira, reúne-se novamente com as centrais sindicais para apresentá-los”, disse. Mais cedo, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, também havia dito que a decisão da presidenta Dilma Rousseff sobre a questão será tomada nos próximos dias. A bancada sindicalista na Câmara havia incluído a isenção de imposto na PLR como uma emenda à Medida Provisória 556 que, entre outros itens, estende o Regime Diferenciado de Contratações (RDC) para as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Como a MP perde a validade dia 31 de maio e o governo tem pressa na votação, as centrais concordaram em retirar a emenda para pressionar uma contraproposta. “Fizeram entendimento com os líderes para tirar a emenda e garantir a votação da MP”, explicou Freitas. A proposta, segundo a CUT, deverá estabelecer um teto para isenção total de imposto para quem recebe entre R$10 mil e R$12 mil de PLR, e alíquotas progressivas para valores que ultrapassarem esse limite. __________________________________________________________________ Mudanças no Código Penal para delimitar trabalho escravo é rechaçada por defensores dos direitos humanos Carolina Sarres* Brasília - As alterações no Código Penal para delimitar o significado de trabalho escravo e degradante propostas pela bancada ruralista foram rechaçadas por parlamentares favoráveis à aprovação da Proposta de Emenda Parlamentar (PEC) do Trabalho Escravo, pela Secretaria de Direitos Humanos (SDH) e por eorganizações e sindicatos ligados ao trabalho. Na terça (22), a proposta foi aprovada em segundo turno no plenário da Câmara, depois de dez anos em tramitação na Casa. A PEC segue para o Senado. O presidente da Bancada Ruralista, Luiz Carlos Heinze (PP-RS), disse que o texto aprovado “é o arbítrio dos fiscais”. Ele disse que os agricultores não concordam com o trabalho escravo, mas que votou contra a PEC porque não foram corrigidas as distorções nela existentes. “Tentamos, exaustivamente, um acordo até a hora da votação para uma proposta que alterasse o Código Penal, uma vez que essas questões constantes da PEC são trabalhistas e não de trabalho escravo. O assunto é puramente trabalhista. Esperamos que o Senado faça as correções que não conseguimos fazer aqui”. Segundo o presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), uma comissão formada por cinco deputados e cinco senadores deverá elaborar texto a ser votado no Senado “diferenciando aquilo que é trabalho escravo e aquilo que é desrespeito à legislação trabalhista”. No entanto, as mudanças enfrentam resistência. "Não vamos aceitar que se tire o teor da PEC por causa de uma minoria, que não tem legitimidade. Não podemos dar para trás. Se for para resultar em um retrocesso desses [alteração do código], era melhor não ter aprovado a proposta", enfatizou o deputado da CPI do Trabalho Escravo, Amauri Teixeira (PT-BA). "A discussão que deverá ser feita no Senado é como serão feitas as expropriações para dar segurança jurídica aos proprietários. O conceito de trabalho escravo e degradante é claro no Código Civil e a legislação é segura a esse respeito. A discussão será sobre a efetivação da PEC", disse o representante da SDH, José Armando Fraga Diniz Guerra. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) entende que a aprovação da proposta é medida importante para atacar questão fundamental ao combate ao trabalho escravo, a impunidade. A diretora da OIT no Brasil, Laís Abramo, disse que a aprovação da proposta é um avanço legislativo importante contra a impunidade daqueles que abrigam funcionários em situação trabalhista degradante. Para o diretor da Executiva Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Pedro Armengol, o Estado está ausente na intermediação das relações sociais e trabalhistas. "Entre 1995 e 2012, foram resgatados aproximadamente 42 mil trabalhadores em situação degradante e aplicados cerca de R$ 5 milhões em multas, que são insignificantes para os proprietários até mesmo sob o ponto de vista da mais-valia [lucro]". Segundo Armengol, a PEC do Trabalho Escravo será mais um instrumento para que não se restrinja a discussão do tema somente à fiscalização e à imposição de multas. "Deve ser feita a responsabilização criminal daqueles que fazem uso dessa prática", disse o diretor da CUT. __________________________________________________________________ Governo recebe invasores e aceita discutir reivindicações dos trabalhadores rurais Daniel Lima Brasília - Acabou a reunião entre os representantes dos trabalhadores rurais que invadiram o Ministério da Fazenda, no início da manhã, e o secretário executivo do ministério, Nelson Barbosa. Os manifestantes deixaram o prédio após serem recebidos pelos representantes do governo. De acordo com o coordenador da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), em Mato Grosso do Sul, Paulo César Farias, o governo propôs a criação de um grupo de trabalho para discutir, a cada 60 ou 90 dias, as reivindicações econômicas de interesse dos agricultores. A primeira reunião foi marcada para hoje (24). Os trabalhadores rurais pedem, entre outras reivindicações, mais recursos para a reforma agrária, melhoria para os assentados e assistência técnica para melhorar a produção. “Não queremos só política de renda porque temos potencial produtivo", disse à Agência Brasil a coordenadora-geral da federação, Elisângela Araújo, ao deixar a reunião. Ela criticou a decisão do governo de privilegiar um setor da economia com medidas de estímulo, se referindo à indústria automobilística e de bens de capital, beneficiados por um pacote de redução de impostos e ampliação da oferta de crédito. “Nosso setor também é importante para a economia brasileira, nós produzimos alimentos e também podemos acabar com a miséria no país.” Com a saída dos trabalhadores rurais, que estavam no interior do prédio desde as 6h, os funcionários do ministério foram liberados para entrar no prédio por volta das 11h. A Polícia Militar do Distrito Federal informou que a invasão contou com, no máximo, 150 manifestantes. __________________________________________________________________ Protestos marcam o Dia Nacional de Mobilização em Defesa das Fronteiras Brasília – Protestos de servidores da Receita Federal, policiais federais e policiais rodoviários federais marcaram ontem (23) o Dia Nacional de Mobilização em Defesa das Fronteiras do Brasil, convocado para denunciar as precárias condições de trabalho nessas regiões do país. Os protestos previam a realização de operaçãopadrão em 11 estados da Federação. A maior operação-padrão iniciou-se às 10h na Ponte da Amizade, em Foz do Iguaçu, articulada por representantes do Sindicato Nacional dos AnalistasTributários da Receita Federal do Brasil (Sindireceita), da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) e da Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF). Os trabalhadores também reivindicam a implementação da gratificação de fronteira para os que atuam nessas localidades.O diretor de Assuntos Aduaneiros do Sindireceita, Moisés Hoyos, falou ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional, sobre os motivos dos protestos nas fronteiras do país. “A fronteira é a entrada para todo tipo de produto que prejudica a nossa sociedade, então a nossa operação é para justamente chamar a atenção [da sociedade], porque às vezes as nossas fronteiras são esquecidas, até com relação à estrutura e a quantidade de servidores que atuam nela”, disse o diretor. Ainda de acordo com o diretor Moisés Hoyos, a operação contará com “100% de verificação física” dos veículos que transitam pela ponte. Um material informativo com explicações sobre o movimento foi impresso para ser distribuído durante as abordagens. “Nós precisaríamos do dobro de servidores do que temos aqui para ter uma fiscalização normal. A mesma coisa acontece com os agentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal. Quanto mais ao Norte, menos gente e menos estrutura”, ressaltou o diretor. __________________________________________________________________ PEC do Trabalho Escravo não dá superpoderes aos fiscais, alega sindicato Carolina Sarres Brasília – O dia a dia dos auditores fiscais do trabalho não será diferente caso a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Trabalho Escravo, aprovada ontem (22) em segundo turno pela Câmara dos Deputados, entre em vigor, afirma representante da categoria. Para transformar-se em norma constitucional, a proposta ainda depende de votação no Senado. “Os auditores continuarão atuando de acordo com a legislação já vigente. A expropriação não ficará na mão do auditor. A empresa continua tendo o direito de se defender e recorrer da autuação”, disse a presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait), Rosângela Rassy. A dirigente responde à declaração do vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS), que, na aprovação da PEC, disse que a proposta “é o arbítrio dos fiscais”. De acordo com Rosângela Rassy, “para chegar a ponto de haver a expropriação da terra, só depois que a empresa esgotar todas as possibilidades de tentar provar o contrário”. A PEC permite a expropriação de imóveis rurais ou urbanos onde for constatada a existência de trabalho escravo ou degradante, sem qualquer indenização ao proprietário, que também poderá sofrer outras sanções previstas em lei. Antes que uma expropriação seja feita, a empresa ou o proprietário poderá recorrer contra a decisão da auditoria em dois caminhos: administrativo e criminal. No administrativo, pode haver contestação na Justiça do Trabalho sobre o valor de multas aplicadas, por exemplo. Segundo Rosângela Rassy, os auditores não consideram haver necessidade de mudanças no Código Penal – especificamente no Artigo 149, em que é tipificado o trabalho escravo e degradante – para que o crime seja caracterizado e a empresa, passível de autuação. “Hoje, a definição contida no código é suficiente para caracterizar o trabalho escravo. A auditoria tem o entendimento de que são condições que submetem o funcionário a trabalhos forçados ou jornada exaustiva. Isso, sendo constatado, está caracterizado”, explicou. O presidente da Câmara, Marco Maia, informou que irá trabalhar para que a comissão formada por cinco deputados e cinco senadores, depois de acordo entre as duas Casas para aprovação da proposta, produzam um texto “diferenciando aquilo que é trabalho escravo e aquilo que é desrespeito à legislação trabalhista” para ser votado pelo Senado. Para Rosângela Rassy, os auditores devem se articular para que não haja prejuízo aos trabalhadores. “O Brasil avançou na legislação com essa redação mais abrangente [do Artigo 149 do Código Penal]. Isso que fortaleceu o combate ao trabalho escravo no país. Temos receio de que a legislação diminua [as possibilidades de tipificação do crime] e descaracterize o trabalho escravo como hoje é identificado”, informou. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram que, neste ano, até abril, foram resgatados pela fiscalização móvel 339 trabalhadores vítimas de trabalho em condição análoga à de escravo. Foram pagos cerca de R$ 1,3 milhões em indenizações. “Isso é considerado muito, mas poderia ter sido detectado bem mais se tivéssemos mais equipes de fiscalização. Hoje são cerca de 3 mil auditores para fiscalizar todos os tipos de irregularidades. Temos indicações da Organização Internacional do Trabalho (OIT) de que seriam necessários pelo menos 5 mil profissionais”, disse Rosângela. Folha Online __________________________________________________________________ Governo promete proposta sobre PLR até segunda, afirmam centrais Kelly Matos Diante do apelo das centrais sindicais, o governo federal prometeu apresentar até a próxima segunda-feira (28) uma proposta sobre a isenção do imposto de renda na Participação nos Lucros e Resultados (PLR). A informação é do secretário Nacional de Finanças da CUT, Vagner Freitas, que participou da reunião das centrais com os ministros da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e das Relações Insticuionais, Ideli Salvatti, no Palácio do Planalto, e o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). De acordo com os sindicalistas, técnicos do Ministério da Fazenda formularam uma proposta que estabelece um teto para isenção total do IR (Imposto de Renda). Falta, no entanto, o aval da presidente Dilma Rousseff, que deverá analisar o documento até o fim desta semana. O principal ponto de divergência entre Planalto e as centrais é em relação ao valor do teto sobre o qual haverá isenção. Os sindicalistas defendem isenção para PLR cujo teto esteja entre R$ 10 mil e R$ 12 mil. O governo estaria disposto a estabelecer um teto de cerca de R$ 6 mil. "O teto tem de atingir a média dos trabalhadores que representamos, ou seja, quem tem direito a PRL na faixa entre R$ 10 mil e R$ 12 mil", afirmou Freitas. MP 556 Com a proposta do governo, o tema ficaria de fora da MP 556, que acabou não sendo votada ontem na Câmara por falta de acordo entre os líderes. Atendendo a um pedido do governo, o deputado federal (PDT-SP), Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, afirmou em nota que irá retirar Emenda Parlamentar, inserida na MP 556, que pede a isenção do IR na PLR. "A partir da proposta, o governo se comprometeu a negociar rapidamente o tema", disse. O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, afirmou que a medida vai beneficiar milhões de trabalhadores. "Irá ajudar a fomentar o mercado interno", afirmou o presidente sobre a proposta. Além da isenção do PLR, a MP também incluía a extensão do RDC (Regime Diferenciado de Contratações) para obras do PAC e a ampliação do teto de cobrança da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) na cadeia do álcool. A MP vence na próxima semana --31 de maio. Terra __________________________________________________________________ Militância gay do PT cobra de Haddad tema homofobia Depois da polêmica envolvendo a distribuição de um kit de combate à homofobia nas escolas enquanto Fernando Haddad era ministro da Educação, o tema é tratado com cuidado na campanha do pré-candidato do PT à prefeitura de São Paulo. No entanto, a militância gay no partido começou uma pressão interna para a incorporação de propostas contra a discriminação sexual na plataforma de governo do ex-ministro. Segundo o jornal O Estado de São Paulo, líderes do núcleo LGBT do PT se reunirão nesta quinta-feira com Haddad no diretório municipal para apresentar propostas. "Nós não abriremos mão desta conduta", disse Marcos de Abreu Freire, coordenador do grupo LGBT da Central Única de Trabalhadores (CUT) e précandidato da sigla à Câmara Municipal. Dentre as propostas, o núcleo LGBT do partido pedirá que Haddad resgate e adote o projeto do kit, engavetado pela presidente Dilma Rousseff, nas escolas. Se agregar as demandas, Haddad terá a difícil tarefa de conciliá-las com as exigências feitas por lideranças religiosas nas costuras de eventuais alianças. Os militantes gays cobram do atual pré-candidato as mesmas ligações estreitas que tinham com a atual senadora Marta Suplicy, exprefeita da capital. Ig – Poder Online __________________________________________________________________ Sindicalista critica retirada de pauta da medida provisória que isenta de impostos a participação nos lucros Os sindicalistas ficaram indignados com a perda de prazo para a votação da Medida Provisória 556, que entre outros casos trataria da isenção tributária de Participação de Lucros e Resultados para os trabalhadores. De acordo com o principal candidato pela presidência da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, o governo precisa apresentar rápido uma proposta para isenção de PLR. Ele conta que esta foi uma promessa feita no dia 1º da maio, durante a festa do dia do Trabalho, mas desde então, só o setor da indústria foi desonerada pelo governo. G1 __________________________________________________________________ Em protesto por perdas da estiagem, agricultores bloqueiam rodovia no RS Ações são organizadas em municípios como Erechim e Sarandi. Manifestantes bloqueiam trecho da BR-386 nesta quarta-feira (23). Agricultores familiares de municípios do interior do Rio Grande do Sul protestam na manhã desta quarta-feira (23) para reivindicar melhorias no setor após as perdas com a estiagem. As ações foram organizadas pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul/CUT). Em Sarandi, no Noroeste do estado, cerca de mil produtores bloqueiam um trecho da BR-386, na altura do km 130, desde as 10h20, com tratores e bandeiras. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), a interrupção da pista é total e ainda não há previsão de liberação. O desvio de veículos é feito por ruas de dentro da cidade. Já por volta das 9h, centenas de produtores se reuniram em frente a uma agência bancária com tratores e outras máquinas. Para simbolizar o pagamento das dívidas agrícolas, agricultores debulharam espigas de milho e entregaram os grãos ao gerente do banco. Eles pedem a liberação de R$ 10 mil com juros de 1% ao ano e três anos para começar a pagar o empréstimo. A expectativa é por uma reunião com representantes do ministério do Desenvolvimento Agrário, em Brasília. O protesto deve seguir durante a tarde. Segundo a coordenadora estadual da Fetraf-Sul, Cleonice Back, há mais de 50 dias os agricultores esperam por respostas do governo federal. As principais reivindicações são a melhoria do Seguro Agrícola, criação de um programa de irrigação, reabertura da negociação do endividamento agrícola e uma medida semelhante a que foi anunciada no Nordeste do país. A expectativa é de reunir mais de 2 mil pessoas. Veja __________________________________________________________________ Trabalhadores rurais ocupam Ministério da Fazenda para exigir reforma agrária Brasília, 23 mai (EFE).- Um grupo de trabalhadores rurais ocupou nesta quartafeira o prédio do Ministério da Fazenda, em Brasília, para protestar contra a lentidão na reforma agrária. Os manifestantes ameaçaram os vigilantes e arremessarem pedras nas portas de vidro que dão acesso ao prédio, quebrando duas delas. Em seguida, o local foi cercado por policiais. O protesto foi organizado pela Federação Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), organização camponesa vinculada à Central Única dos Trabalhadores (CUT). O sindicalista Ariolino Ferreira, representante do grupo que ocupou o edifício, disse que os manifestantes não irão se retirar até conseguirem uma audiência com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a quem pretendem expor seu 'mal-estar' pela 'pouca atenção' do governo aos planos de reforma agrária, que segundo a organização estão paralisados. Os manifestantes foram recebidos pelo secretário-executivo do Ministério, Nelson Barbosa, que prometeu criar um grupo de trabalho para analisar as reivindicações dos agricultores, que só então concordaram em encerrar a ocupação após cerca de dez horas no prédio. Segundo a Fetraf, pelo menos 20 mil famílias dessa organização estão acampadas à beira de estradas de todo o país à espera de distribuição de terras. Ferreira afirmou à imprensa que, no ano passado, 'praticamente não ocorreram novos assentamentos', o que significa um 'desprezo pela situação de milhares de trabalhadores' que vivem na miséria. 'A pequena agricultura é importante para a economia e produz os alimentos que podem acabar com a fome e a pobreza no país', declarou. Agência Câmara __________________________________________________________________ CPI quer contribuir para regulamentação da PEC do Trabalho Escravo A regulamentação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Trabalho Escravo (438/01) foi um dos temas tratados nesta quarta-feira (23) na audiência pública promovida pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Trabalho Escravo. A PEC aprovada na Câmara nesta terça-feira (22) permite o confisco de propriedades rurais e prédios nas cidades onde a fiscalização encontrar a exploração do trabalho escravo. Os imóveis expropriados vão passar a ser destinados à reforma agrária ou a programas de habitação. A regulamentação da PEC vai servir para deixar clara a diferença entre o que é trabalho escravo e o que é desrespeito à legislação trabalhista - uma preocupação de muitos parlamentares. O presidente da CPI, deputado Claudio Puty (PT-PA), afirma que a comissão pode contribuir para a regulamentação do processo expropriatório. “Temos contribuições no que se refere à estruturação do Estado - melhorar as condições de fiscalização do trabalho - e no planejamento e desenvolvimento. Não esqueçamos que o trabalho escravo é um problema de pobreza extrema. Então precisamos fazer alguma coisa para erradicar a pobreza extrema do Brasil." O Código Penal (Decreto-Lei 2.848/40) já define como trabalho escravo reduzir uma pessoa à condição semelhante à de escravo, obringado-a a trabalhos forçados ou a uma jornada exaustiva. O código também considera uma situação análoga à escravidão sujeitar um trabalhador a condições degradantes de trabalho ou limitar a liberdade de ir e vir do trabalhador por causa de uma dívida contraída com o empregador ou com o preposto - nome técnico do "gato", que é quem alicia os trabalhadores. Projeto na Câmara O deputado Moreira Mendes (PSD-RO) apresentou, no dia 9 de maio, um projeto que define o conceito de trabalho escravo (PL 3842/12). Entre outros pontos, o texto retira os termos 'jornada exaustiva', 'condições degradantes de trabalho' e 'preposto' do Código Penal e inclui a necessidade de ameaça, coação e violência para ser caracterizado o trabalho escravo. Moreira Mendes afirma que a atual redação do Código Penal dá margem a muitas interpretações. "Precisamos de um texto claro. Isso não pode ficar ao arbítrio da autoridade que eventualmente estiver exercendo o seu poder de polícia ou de fiscalização. Eu tenho convicção de que teremos que tirar do artigo 149 (do Código Penal) as expressões 'jornada exaustiva' e 'trabalho degradante', porque são muito amplas. O fiscal pode dizer que tomar água em um copo que não seja descartável, como já têm casos, pode ser considerado trabalho degradante e, consequentemente, trabalho escravo. Esse tipo de abuso é que nós não podemos permitir." Por outro lado, a presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho, Rosângela Rassy, garante que o empregador autuado por um fiscal do trabalho tem direito à ampla defesa antes de ser multado, por exemplo, pela ocorrência de trabalho escravo em sua propriedade. Ela considera um "retrocesso" mudar o Código Penal. "Durante essas últimas semanas nós temos ouvido muito o argumento de que não se pode deixar na mão do auditor fiscal o poder de ele dizer o que é ou não trabalho escravo. Não é isso. O auditor não tem esse poder. O auditor constata a situação baseado numa legislação já existente. E o artigo 149 garante esta definição de trabalho escravo." Ocorrências de trabalho escravo No ano passado, foram registradas 230 ocorrências de trabalho escravo em 19 dos 27 estados do Brasil. Os casos envolveram 3.929 trabalhadores escravizados, entre eles, 66 crianças. Esses dados da Pastoral da Terra foram divulgados por Pedro Armengol, representante da CUT na audiência pública da CPI do Trabalho Escravo. Apesar dessas ocorrências, a representante da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Laís Abramo, afirmou que o Brasil tem sido um exemplo mundial de combate ao trabalho escravo. Isso porque o País reconheceu oficialmente a existência do problema e porque tem havido um esforço nacional para a erradicação desse tipo de violação dos direitos humanos. Carta Maior __________________________________________________________________ Jornalistas na CPMI, por que não? Há relatos de que ações de bastidores foram realizadas por altos executivos dos grupos Globo e Abril junto a partidos políticos e parlamentares, inclusive com ameaças de retaliação política, caso fossem convocados os suspeitos de relações promíscuas com o esquema de Carlinhos Cachoeira. Venício Lima (*) Publicado originalmente no Observatório da Imprensa. A possibilidade de convocação de jornalistas e/ou empresários de mídia para depor na CPMI do Cachoeira provocou uma unânime reação contrária da grande mídia brasileira. O argumento principal é de que jornalistas e/ou empresários de mídia não poderiam se submeter ao constrangimento de serem questionados publicamente por deputados e senadores. Afinal, políticos constituem alvo permanente do “jornalismo investigativo”. E, claro, a convocação representaria uma perigosa ameaça às liberdades de expressão e da imprensa. Da relação inicial de pessoas convocadas a depor na CPMI, aprovada na reunião do dia 17 de maio, não constam jornalistas nem empresários de mídia. Há relatos de que ações de bastidores foram realizadas por altos executivos dos grupos Globo e Abril junto a partidos políticos e parlamentares, inclusive com ameaças de retaliação política, caso fossem convocados os suspeitos de relações promíscuas com o esquema criminoso. Dois dos principais grupos de mídia brasileiros considerariam inaceitável a convocação de jornalistas e/ou empresários – independente das comprometedoras conversas telefônicas já conhecidas – entendida como “um precedente perigoso para o futuro” e “uma verdadeira humilhação para toda a classe” (ver aqui). Estarão corretos os argumentos e será que os temores alegados se justificam? Última Hora e TV Globo Em países de tradição democrática consolidada, a convocação de jornalistas e/ou empresários de mídia para esclarecer suspeitas relativas a atividades empresariais e ao exercício profissional, em comissões no parlamento e em inquéritos policiais, não só tem sido feita como não é considerada constrangimento ou ameaça. Ao contrário, a convocação é entendida como servindo ao interesse público e à democracia e é aplaudida, inclusive, pela mídia tradicional. O melhor exemplo disso é o que está acontecendo na Inglaterra em relação à investigação do grupo News Corporation, tanto na Câmara dos Comuns, quanto no Inquérito Levinson (ver “As diferenças entre Brasil e Inglaterra”). Aqui mesmo na Terra de Santa Cruz, ao contrário do que alega a grande mídia, há pelo menos dois precedentes importantes: a CPI da Última Hora, em 1953 e a CPI Globo x Time-Life, em 1966. Na CPI da Última Hora, sugerida ao presidente Getúlio Vargas pelo próprio Samuel Wainer com o objetivo de investigar as operações de crédito realizadas entre o Grupo Wainer e o Banco do Brasil, foram convocados os jornalistas Samuel Wainer e Carlos Lacerda, que prestaram dois depoimentos transformados, respectivamente, nas publicações Livro branco contra a imprensa amarela e Preto e branco (ver aqui). Na CPI Globo x Time-Life, criada “para apurar os fatos relacionados com a organização Rádio e TV e jornal O Globo com as empresas estrangeiras dirigentes das revistas Time e Life”, foram convocados, dentre outros, Rubens Amaral, exdiretor geral da TV Globo; Joseph Wallach, assessor técnico de grupo Time-Life junto a TV Globo; Robert Stone, correspondente do grupo Time-Life no Brasil; Walter Clark, diretor-geral da TV Globo; João Calmon, dos Diários Associados e presidente da Abert; e o diretor presidente da TV Globo, “doutor” Roberto Marinho, que além de prestar depoimento por duas horas ininterruptas, submeteu-se ainda a longuíssimo questionamento (cf. Projeto de Resolução nº 190 de 1966 [Relatório Final], publicado no Diário do Congresso Nacional I, Suplemento B, em 12/1/1967, pp. 1-79; ver ainda, neste Observatório, “Para ver a TV Globo”). Interesse público e democracia É verdade que lá se vão várias décadas, as circunstâncias políticas, a composição da Câmara dos Deputados, a identidade doutrinária dos partidos e as motivações eram outras. De qualquer maneira, não se justifica o argumento do “precedente” alegado pelos executivos da grande mídia: no passado, o Congresso Nacional convocou e tomou depoimentos de jornalistas e empresários de mídia em Comissões Parlamentares de Inquérito. Quando se trata de esclarecer práticas, identificar autores e propor medidas de proteção para salvaguardar o interesse público e a democracia, os únicos critérios que devem prevalecer para a convocação ou não de qualquer cidadão para depor em uma CPI são a existência fundada de suspeitas de atividades criminosas. A observância desses critérios é o que se espera dos membros da CPMI do Cachoeira na medida em que o trabalho avance e que, eventualmente, surjam informações complementares confirmando a necessidade de convocação de jornalistas e/ou de seus patrões. Por que não? Professor Titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Regulação das Comunicações – História, poder e direitos, Editora Paulus, 2011. Rede Brasil Atual __________________________________________________________________ Proposta para redução de imposto em prêmios de PLR é esperada para segunda Em nova reunião com sindicalistas, governo federal assume compromisso de definir valores São Paulo – O governo federal prometeu ontem (23) às centrais sindicais apresentar, no máximo até segunda-feira (28), proposta para isenção de Imposto de Renda do pagamento de prêmios de participação nos lucros ou resultados (PLR). Participaram da reunião com os representantes das centrais a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Durante as comemorações do 1º de Maio, Carvalho havia antecipado a decisão da presidenta de atender o pedido das centrais. Desde então, as negociações sofreram sucessivos adiamentos. Segundo o secretário nacional de Finanças da CUT, Vagner Freitas, a desoneração da PLR vai complementar as ações para a dinamização da economia. “O governo reafirmou a concordância com a ideia da isenção de IR da PLR por entender que não é salário e já há isenção no caso dividendos de lucros pagos a acionistas de empresas”, afirmou. “A desoneração da PLR também é mais um passo que o governo federal dará para impulsionar a economia.” Para Freitas, o prazo indicado pelos ministros para a presidenta Dilma Rousseff apresentar uma proposta para discutir com as centrais “é razoável”. Técnicos do Ministério da Fazenda já encaminharam parecer sobre o assunto. “Nossa tolerância vai até aí. Após várias desmarcações, nos disseram que agora os números estão concluídos.” Durante a reunião desta tarde, conforme Freitas, o governo ainda “não falou em números”. O pleito da CUT é isenção até R$ 12 mil, com cobrança de imposto progressivo depois desse valor. “Tem de ser algo compatível com a política de crescimento econômico”, apontou. “Disseram que vão nos apresentar os números e vamos negociar. Se o governo apresentar um pacote pronto que não seja de interesse dos trabalhadores ficaremos contra”, afirmou. De acordo com as regras atuais, apenas valores até R$ 1.566,61 são isentos – a partir daí, sujeita-se a retenção de IR na fonte. Trabalhadores que recebem acima de R$ 3.911,63 – média de PLR obtida pelas categorias em acordo coletivo – já estão expostos à alíquota máxima, de 27,5%. Quem recebe PLR de R$ 4 mil, atualmente, paga R$ 376,05 de imposto na folha de pagamento, com 9,4% de alíquota efetiva. Campanha A campanha pela não incidência de imposto de renda nos pagamentos a título de PLR foi lançada em novembro do ano passado pelos sindicatos de bancários, metalúrgicos e químicos ligados à CUT. Desde o final do ano, os representantes dessas categorias realizam manifestações e incursões a gabinetes do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional. Também colheram adesões a um abaixo-assinado defendendo a mudança na legislação que trata da incidência do IR sobre a PLR. Os sindicatos reivindicam mesmo tratamento dado aos dividendos de lucros pagos a acionistas de empresas. Um investidor em Bolsa de Valores, por exemplo, está livre da mordida do Leão sobre ganhos de até R$ 20 mil/dia. Sobre ganhos acima desse valor incide alíquota única de 20%. Dci.com.br __________________________________________________________________ Isenção de IR que incide sobre participação nos lucros paga a trabalhadores é adiada BRASÍLIA - Governo e centrais sindicais continuam sem acordo sobre a isenção de Imposto de Renda sobre a Participação nos Lucros e Resultados (PLR). Em mais uma reunião nesta quarta-feira (23), no Palácio do Planalto, sindicalistas saíram sem os números que o governo pretende apresentar aos trabalhadores. Segundo o secretário nacional de Finanças da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, o governo comprometeu-se a apresentar uma proposta oficial nos próximos dias. “O ministro Gilberto Carvalho disse que está com os números prontos, vai levá-los à presidenta e, na sexta-feira ou, no máximo, segunda-feira, reúne-se novamente com as centrais sindicais para apresentá-los”, disse. Mais cedo, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, também havia dito que a decisão da presidente Dilma Rousseff sobre a questão será tomada nos próximos dias. A bancada sindicalista na Câmara havia incluído a isenção de imposto na PLR como uma emenda à Medida Provisória 556 que, entre outros itens, estende o Regime Diferenciado de Contratações (RDC) para as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Como a MP perde a validade dia 31 de maio e o governo tem pressa na votação, as centrais concordaram em retirar a emenda para pressionar uma contraproposta. “Fizeram entendimento com os líderes para tirar a emenda e garantir a votação da MP”, explicou Freitas. A proposta, segundo a CUT, deverá estabelecer um teto para isenção total de imposto para quem recebe entre R$10 mil e R$12 mil de PLR, e alíquotas progressivas para valores que ultrapassarem esse limite. Rondoniadinamica.com (Rondônia) __________________________________________________________________ Raimundo Nonato procurará MP de Rondônia para apurar difamação Acusado por internautas de agir em conluio com o ex-governador e atual senador Ivo Cassol, do PP, Nonato buscará provar sua idoneidade via Ministério Público Raimundo Nonato, ex-membro da executiva da CUT (Central Única dos Trabalhadores) em Rondônia – ele a deixou após constatar o que definiu como irregularidades no processo eleitoral – ficou surpreso ao entrar no jornal eletrônico Rondoniadinamica e observar comentários ofensivos à sua pessoa em matéria intitulada ‘Raimundo Nonato e sindicatos deixam a CUT em protesto’. Uma leitora, que se identificou apenas com o nome de Andréia, disse: “ – KKK (sic) enfim a CUT se livrou desse atraso. Agora tem que ser expulso do CES. VETOU? COMO VETOU? NINGUÉM VOTOU NELE, SÓ ISSO. Pra quem não se lembra esse é aquele sujeito que se vendeu para K-Sol (sic) em troca da presidencia (sic) do CES. Ah, vá catar latinha no show da ivene (sic) sangalo e deixa a CUT trabalhar” Nonato, presidente do Conselho Estadual de Saúde em Rondônia (CES/RO), diz que irá atrás do Ministério Público de Rondônia para apurar o que segundo ele se trata de difamação. “ – É de uma irresponsabilidade tremenda que uma pessoa vá até a internet, num site jornalístico, dizer tantas mentiras sem provar absolutamente nada. Eu tenho certeza absoluta que o Ministério Público de Rondônia não deixará barato. Quero que esta pessoa, que eu já sei de quem se trata, prove suas acusações. Que aponte quem, quando e onde recebeu dinheiro de político para que eu fosse presidente do conselho”, criticou. Raimundo Nonato, já no terceiro mandato como presidente do conselho, diz que a sua postura anticorrupção e a favor dos trabalhadores corrobora para tais comentários e que, se for preciso, continuará incomodando os que fazem sindicalismo para benefício próprio e rotativo. “ – A CUT não renovou nada. Só ocorreu a velha dança das cadeiras. O atual presidente já esteve à frente da central e não representou como deveria. Eu gostaria que essas pessoas revistassem os passados dos ex-dirigentes da CUT, à exemplo Nereu Klosinski. Minha reputação é ilibada e quem dizer o contrário terá de provar”, finalizou. Giro pelos blogs Advivo.com.br/blog/luisnassif __________________________________________________________________ A concentração mundial do agronegócio Há um fenômeno global de concentração econômica na área agrícola, a merecer atenção especial da parte do governo. Essa concentração manifesta-se na cana, soja, pecuária e na laranja. Dá-se globalmente ao longo de toda a cadeia produtiva - de trás para diante, das redes de supermercados aos produtores de matéria prima. No caso do suco de laranja, antes 200 engarrafadores adquiriam o suco brasileiro; hoje são 70, 15 dos quais compram 70% do suco brasileiro. No Brasil, eram 20 indústrias, hoje são 3, respondendo por 98% da produção de suco brasileiro e 83% das exportações mundiais. 51 produtores detêm 40% das árvores plantadas; outros 12 mil ficam com o restante. Esta é a explicação da Citrus (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos) para os conflitos com a Associtrus (Associação Brasileira dos Produtores de Laranja). A produção de laranja é dividida em três grupos: produção própria, produtores com contratos de longo prazo e produtores que vendem no mercado à vista. Quando os preços melhoram, há queixas dos produtores com contratos de longo prazo e alegria dos produtores spot. E vice-versa, quando os preços despencam. Segundo ele, até 1994 o setor era regido por um contrato-padrão: todos compravam laranja baseados na variação dos preços de Bolsa e performados nos Estados Unidos. Na época, um grupo de citricultores denunciou o contrato ao CADE (Conselho Administrativo de Direito Econômico), alegando formação de cartel, já que todos, pagando o mesmo preço, iriam contra as regras de concorrência. No modelo antigo, a usina se responsabilizava pela colheita e transporte da laranja. Pelo novo sistema, esse custo passou a ser dos citricultores. Muitos não conseguiram assimilar o novo modelo e pretenderam voltar ao contrato-padrão. Mas havia o veto do CADE. O pano de fundo dos conflitos - segundo ele - é a queda mundial do consumo do suco de laranja. Há 10 anos, o mundo tomava 2,7 milhões de toneladas de suco por ano; no ano que vem, serão apenas 2 milhões. O Brasil exporta 98% do suco que produz e tem conseguido manter o mesmo nível de exportações devido ao declínio das exportações norte-americanas. No ano passado uma superssafra de laranja forçou o primeiro acordo setorial do setor. A safra de 428 milhões de caixas foi a maior dos últimos 15 anos. O Ministério da Agricultura deu um crédito de R$ 80 milhões a juros baixos para manter o suco estocado nos tanques dos produtores. A maior vantagem do acordo foi impedir que essa estocagem fosse vista lá fora como manobra especulativa, já que servia de garantia para o empréstimo. Em geral, depois de um ano de boa safra as árvores ficam cansadas, e segue-se uma safra menor. Para aumentar os problemas do setor, a safra deste ano promete repetir a do ano passado. Há o risco de se perder 50 milhões de caixas - correspondendo à produção dos que não têm contratos de longo prazo. Essa supersafra ocorre em um momento em que mercados norte-americano, europeu e japonês enfrentam quedas históricas. São dois desafios pela frente. O primeiro, como estabelecer isonomia entre os fornecedores e compradores brasileiros nesses setores oligopolizados. O segundo, como resolver os nós da produção de laranja. Mercado de Rotterdã Uma das queixas da Associtrus é sobre o poder de mercado dos produtores de suco, que dominam a Bolsa de Nova York - base para a fixação de preços no spot. Segundo Lohbauer, a Bolsa não é tão importante. Já representou 70% do comércio mundial, hoje em dia não mais que 15%. 70% das exportações brasileiras são para a União Européia. cujas cotações baseiam-se nos preços spot e nos contratos do mercado de Rotterdã. Aumentando o consumo Internamente, a preferência ampla é pelo suco de laranja fresco. Esta semana, uma consultoria internacional iniciou estudos em 12 mercados para analisar as razões para a queda do consumo de suco de laranja. O problema é que o suco é uma commodity, vendido no atacado. Na sequência, há os engarrafadores - Coca e Pepsi nos EUA, 15 grandes na Europa - e, na ponta final, os supermercados, cada vez mais concentrados. Blog do Sakamoto __________________________________________________________________ Um ano da morte de Maria e Zé Cláudio e o veto de Dilma José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, líderes do projeto agroextrativista, Praia Alta Piranheiras, em Nova Ipixuna, no Pará, eram emboscados em uma estrada e executados com tiros na cabeça há exato um ano. Por denunciarem a ação de madeireiros ilegais, sofriam constantes ameaças e intimidações. Naquela mesma tarde da morte, a notícia do assassinato foi lida no plenário da Câmara dos Deputados, que estava discutindo como transformar o atual Código Florestal em embrulho de peixe. Ouviu-se, então, uma vaia vinda das galerias e da garganta de deputados da bancada ruralista ali presentes. Que a vida dos mais pobres não vale o esterco que o gado enterra na Amazônia, isso é público e notório. Ainda mais quando eles, através de sua união e organização, conseguem mostrar que é possível crescer economicamente e ser sustentável. Ou seja, quando provam que dá para respeitar leis ambientais, garantir renda própria e produzir alimentos para a sociedade. E, se isso funciona, por que mudar leis? Para que um novo Código Florestal? Perdi as contas de quantos assassinatos iguais a esses na Amazônia noticiei nos últimos anos. E tenho medo de imaginar quantos mais ocorrerão, em vista das centenas de camponeses, trabalhadores rurais, sindicalistas, indígenas, ribeirinhos, quilombolas que ainda estão marcados para morrer por defender seu pedaço de chão. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) contabiliza a morte de mais de 800 pessoas em função de disputas por terra no Pará desde a década de 70. Geralmente, apenas os casos que ganham atenção da mídia conhecem alguma solução. E, ainda assim, depois de muito tempo. E, mesmo assim, parcialmente, como Eldorado dos Carajás e Dorothy Stang. A CPT, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura e o Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Nova Ipixuna divulgaram, nesta quarta, uma nota cobrando as autoridades da punição aos responsáveis do caso diante da situação do caso na Justiça e das condições em que se encontra o assentamento em o casal de agroextrativistas moravam. Segue um resumo: Situação dos réus: Foram presos José Rodrigues Moreira (como mandante do crime), Lindonjonson Silva e Alberto Lopes (executores). Não há previsão para a realização do Tribunal do Juri. Investigacão incompleta: Conforme escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, a decisão do assassinato não foi tomada apenas por José Rodrigues. “Gilsão” e “Gilvan”, proprietários de terras no interior do Assentamento Praia Alta Piranheira, também estariam envolvidos no crime. Os dois não foram indiciados e nem denunciados. Problemas não resolvidos: Com a repercussão internacional que o caso teve, o governo federal determinou que o Ibama fizesse um pente-fino na área. Fornos de fabricação de carvão foram destruídos e as serrarias ilegais fechadas. Com isso houve a paralisação do desmatamento da floresta por um tempo. O Incra, por sua vez, fez um levantamento para identificar a compra ilegal de lotes no interior do assentamento, mas não retomou as áreas ilegais. Nenhuma política pública foi implantada para melhorar a infraestrutura e a qualidade de vida das famílias do assentamento. Nenhuma providência também foi tomada para incentivar o extrativismo e a preservação da floresta. E, na medida em que as ações repressivas vão diminuindo, os produtores de carvão e os madeireiros vão retornando. Ameaçados de morte: O governo determinou que a Força Nacional colaborasse na segurança dos ameaçados após o assassinato. Foi disponibilizada proteção para quatro lideranças no Pará até um mês atrás, quando a duas delas perderam a segurança. No Pará, onde o programa de defensores a direitos humanos está mais bem estruturado, não consegue atender 50% da demanda a ele apresentada. Laísa Sampaio, irmã de Maria do Espírito Santo, continua residindo no interior do assentamento, recebendo ameaças e sem nenhuma proteção. Dois pesos, duas medidas: O Incra continua inoperante porque não tem recursos para a realização dos trabalhos e porque vem sendo manipulado para fins partidários e eleitoreiros. Os assentamentos continuam em estado de abandono: sem recursos para infraestrutura, projetos produtivos, assistência técnica. Os investimentos do governo na região estão centrados nos grandes projetos que beneficiam a expansão das grandes empresas de mineração, do agronegócio, da pecuária e de grãos sem qualquer perspectiva da melhoria de vida para a maioria da população. Com isso, a expansão da fronteira de exploração rumo ao interior da Amazônia ganha fôlego colocando em risco as áreas indígenas, as terras de ribeirinhos, os territórios de quilombolas, os assentamentos de reforma agrária e as áreas de proteção ambiental. Agora que Dilma Rousseff deve informar o que decidiu vetar do Código Florestal aprovado pelo Congresso, parlamentares e representantes de associações de produtores jogam no nosso colo uma chantagem: o país tem que optar entre passar fome na sarjeta do mundo ou flexibilizar a legislação ambiental e ser feliz. Ou não ser tão severo com quem usou escravos e evitar a demarcação de territórios indígenas a fim de garantir sua soberania alimentar. Uma falsa escolha. Não dizem nada sobre respeitar as leis ambientais sem chance para anistias que criem a sensação de impunidade do “desmata aí, que depois a gente perdoa”. Ou soluções que passem pela regularização fundiária geral, confiscando as terras griladas, e a realização de uma reforma agrária, com a garantia de que os recursos emprestados pelos governos às pequenas propriedades – responsáveis por garantir alimento na mesa dos brasileiros – sejam, pelo menos, da mesma monta que os das grandes. Por preservar os direitos das populações tradicionais e de projetos extrativistas, cujas áreas possuem as mais altas taxas de conservação do país. Em outras palavras, o projeto em Nova Ipixuna garante o sustento de centenas de famílias com a produção de óleos vegetais, açaí e cupuaçu. Ao invés de procurar formas de replicar esses modelos de sucesso, o Congresso Nacional criou maneiras de passar por cima de suas riquezas naturais e da qualidade de vida das populações que os mantém, rifando as leis que os protegem. Por que? Siga os lucros e surpreenda-se. Ou não. Em tempo: Nesta terça, a Câmara dos Deputados aprovou a proposta de emenda constitucional 438/2001, que prevê o confisco de propriedades flagradas com escravos, em segundo turno – devolvendo a matéria ao Senado. Foram 360 votos a favor, 29 contra e 25 abstenções. Votação que só foi possível por conta da mobilização popular e da presença constante da imprensa jogando luz sobre o tema. Não sou eu que digo isso, mas o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Moreira Mendes (PSD-RO), em entrevista ao jornal Valor Econômico. Segundo ele, o ano eleitoral pesa, uma vez que muitos parlamentares vão concorrer à eleição municipal. Para ele, o voto contrário poderia ser entendido pela opinião pública como concordância com o trabalho escravo. Trabalhadores rurais escravizados ou populações assassinadas por serem entraves a um determinado modelo de desenvolvimento não geram cabelos brancos em parte dos políticos. Mas a possibilidade de perderem seus cargos ou de serem criticados dentro e fora do país, sim. Teremos eleições municipais, mas também teremos a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. E depois Copa. E Olimpíadas. Trabalhadores da construção civil, que estão transformando o país em um canteiro de obras, já perceberam isso e vão às greves por melhores condições de vida. O lado bom de ser vitrine é que você também pode ser vidraça. Blog do Ricardo Kotscho __________________________________________________________________ CPI da Delta ou CPI da Veja? Por que não as duas? A revista Veja e seus aliados na oposição e na imprensa, abrigados no Instituto Millenium, o clube dos barões da imprensa montado para defender sua própria "liberdade de expressão", querem porque querem transformar a CPI do Cachoeira na CPI da Delta, a empreiteira que tem como seu maior cliente as obras do PAC do governo federal. De outro lado, setores do PT e da imprensa, que não fazem parte do clube, querem fazer da CPI do Cachoeira a CPI da Veja para investigar as relações da revista com o contraventor goiano reveladas pela Operação Monte Carlo da Polícia Federal. Por que, então, não investigar, ao mesmo tempo, tanto a Delta de Fernando Cavendish como a Veja de Roberto Civita? Afinal, as empresas de ambos aparecem nas investigações sobre o capo do crime organizado, que fez parcerias nas mais variadas áreas, da polícia ao judiciário, das empreiteiras à imprensa, sempre com a ajuda do seu braço político, o quase ex-senador Demóstenes Torres. Já está mais do que provado que, assim como os negócios de Cachoeira com a Delta não se limitavam ao centro-oeste, o alvo da CPI, as relações da equipe do contraventor com o diretor de Veja em Brasília, Policarpo Júnior, iam muito além do que habitualmente ocorre entre fonte e repórter. Havia interesses comuns: o "empresário de jogos" usava a revista para plantar notícias contra quem pudesse prejudicar seus negócios, e o repórter se aproveitava do aparato de arapongas de Cachoeira para fazer suas matérias "investigativas" contra membros do governo petista, o eterno alvo de Civita. Dos dois lados, bombeiros entraram logo em ação para limitar as investigações e blindar governadores, políticos em geral, empresários e jornalistas. "Você é nosso e nós somos teus" — como escreveu Vaccareza, o Cândido, para o governador Sérgio Cabral, aquele da turma do guardanapo — é a frase que melhor resume o momento político do País. Apenas um mês depois de instalada, a CPI do Cachoeira começou a fazer água e os dois protagonistas do início da história, o "Doutor" e o "Professor", correm o risco de virar figurantes de um espetáculo mambembe que ameaça terminar antes mesmo de começar. Como disse o marqueteiro João Santana, em encontro de comunicação do PT, semana passada, em Porto Alegre, "política é teatro, mas não ficção". Há controvérsias. Nem o mais alucinado ficcionista, é verdade, seria capaz de criar uma história tão mirabolante com personagens tão inverossímeis como estes que desfilam na chamada CPI do Cachoeira, dirigidos por advogados da melhor qualidade, que só trabalham para clientes inocentes, como já disse um deles. Que diferença faz, a esta altura do campeonato, se Carlinhos Cachoeira vai ou não sair da cadeia para comparecer à CPI, na tarde desta terça-feira, se vai ou não abrir a boca? Depois de todos os crimes denunciados com provas no inquérito da Polícia Federal, tanto o "Professor", como seu amigo "Doutor", que ainda passeia como um fantasma pelo Congresso Nacional querem apenas ganhar tempo, aproveitando-se das brechas do Código Penal, das prerrogativas constitucionais e dos regimentos da Câmara e do Senado. Para ir mais fundo e revelar como funcionam as engrenagens do poder no Brasil, os interesses que ligam personagens de diferentes setores da sociedade com o crime organizado e qual o papel de cada um deles nesta história, a CPI teria que acabar com todas as blindagens, convocar quem tiver que ser convocado para prestar depoimentos e encaminhar suas conclusões para as devidas providências do Poder Judiciário. Quem ainda acredita nisso? Talvez esta desesperança esteja na raiz de um clima de mal estar generalizado, um sentimento difuso que se espalha em diferentes ambientes, no momento em que o STF se prepara para colocar em julgamento o processo do mensalão, a inflação e o dólar sobem, o PIB cai, a Comissão da Verdade já começa dividida e falando demais, os militares voltando ao noticiário, a crise sem fim da Grécia que ameaça levar o mundo junto — e ainda tem esta danada da gripe que não vai embora... Se o caro leitor tiver uma notícia boa para espantar o baixo astral, por favor conte para a turma do Balaio. Estamos precisando. Atchiiiim! Conversaafiada.com.br __________________________________________________________________ Família Teles e Comparato enfrentam Ustra O Conversa Afiada reproduz notícia do adiamento da decisão sobre a ação que a família Teles move contra o Coronel Ustra: Numa sentença de 2009, de autoria do juiz Dr. Gustavo Santini Teodoro, o Coronel Ustra foi oficialmente reconhecido como responsável pelas torturas sofridas por Maria Amélia de Almeida Teles, César Augusto Teles e Criméia de Almeida em 1971, no DOI-CODI de São Paulo. Ustra apelou da sentença. O Tribunal de Justiça de São Paulo iniciou o julgamento dessa apelação na última terça-feira, dia 22, mas após a sustentação oral feita pelo Professor Fábio Konder Comparato, advogado da família Teles, o Tribunal resolveu adiar – http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/44504-justica-adia-julgamentode-recurso-de-ustra.shtml – para outra sessão a conclusão do julgamento, alegando os Desembargadores que precisavam refletir melhor sobre o assunto. Reproduzimos a seguir trechos da sustentação oral feita pelo Professor Comparato. O Professor Comparato começou declarando: “Esta não é uma demanda qualquer de interesse privado. É um processo judicial em que está em jogo nada menos do que a dignidade do Estado Brasileiro, diante da opinião pública nacional e internacional. Não se trata aqui de decidir, de modo frio e abstrato, se existe ou não uma relação de responsabilidade pessoal, ligando o Apelante aos Apelados. Trata-se, antes, de julgar se um agente público, remunerado com dinheiro do povo e exercendo funções oficiais de representante do Estado, podia ordenar e executar, sem prestar contas à Justiça, atos bestiais de tortura contra pessoas presas sob sua guarda.” Comparato, a seguir, disse que Ustra, não tendo como encobrir o que chamou de “a verdade gritante dos fatos”, decidiu apresentar “um chorrilho de questões preliminares”, a saber, 1) o fato de ele ter sido anistiado pela lei de 1979; 2) o nãocabimento de uma ação simplesmente declaratória, na qual a Família Telles não pede indenização alguma; 3) a prescrição. Quanto à questão da anistia, Comparato frisou, em primeiro lugar, que ela não tem nenhum efeito na esfera civil, citando o artigo do Código Civil que declara que a responsabilidade civil é independente da criminal. Mostrou, ainda, que se a anistia criminal é uma renúncia do Estado em punir autores de crimes, essa renúncia não pode abranger direitos que não pertencem ao Estado, como os direitos das vítimas dos atos criminosos. Quanto ao não-cabimento da ação declaratória no caso, assinalou que a as humilhações aviltantes sofridas por torturados não se apagam com dinheiro, e que o que se desejou, com a ação proposta, foi a declaração judicial de que Ustra é responsável por torturas bestiais praticadas contra os autores da ação. Finalmente, quanto à prescrição, questão altamente técnica, Comparato citou um artigo do Código Civil, que declara que a prescrição atinge aquilo que se chama pretensão, isto é, o direito de exigir o cumprimento de uma prestação, por exemplo, uma indenização. Ora, nas ações declaratórias, ao contrário das condenatórias, o que se pede é, simplesmente o reconhecimento de que o autor tem ou não tem direitos; não se pede o pagamento de coisa alguma. Lembrou ainda Comparato que a jurisprudência brasileira já se firmou no sentido de que as ações oriundas de direitos humanos não estão sujeitas a prescrição. Declarando, a seguir, que os órgãos oficiais de defesa dos direitos humanos, no Brasil e no exterior, estavam atentos ao que ia decidir o Tribunal, Comparato concluiu: “Seria incompreensível, para dizer o mínimo, que o Tribunal de Justiça de São Paulo, no momento em que se instala e começa a funcionar no Brasil uma Comissão da Verdade, se recusasse a reconhecer que o mais notório torturador do regime militar é civilmente responsável, perante os Apelados, pelas atrocidades contra eles cometidas.” Altamiroborges.blogspot.com __________________________________________________________________ Demóstenes sem testemunha. E o Civita? Altamiro Borges O ex-demo Demóstenes Torres já está no inferno. Ele não conseguiu sequer testemunhas de defesa para as audiências do Conselho de Ética do Congresso Nacional. O mafioso Carlinhos Cachoeira, tão chegado do senador, negou o seu convite para depor. Já o advogado Ruy Cruvinel anunciou ontem que também não irá, “em consideração à família” e por “optar por sua privacidade”. No Conselho de Ética já é dado como certo o pedido de cassação do mandado do ex-líder do DEM no Senado. Há risco, inclusive, de que ele seja imediatamente levado para a cadeia. Desta forma, dois famosos demos teriam visitado o presídio – antes dele, o ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, cotado para ser o “vice-careca” de José Serra, também passou alguns dias na cadeia. Mas os advogados de Demóstenes Torres ainda podem acionar outras testemunhas de defesa. Eles até poderiam convidar o capo da “prestigiada” revista Veja, Bob Civita. Durante muitos anos, o ex-demo foi a principal fonte da revista. Ele era apresentado como um “mosqueteiro da ética”, um oposicionista firme e impoluto. Civita também poderia escalar o seu editor, o Policarpo Jr., que conhece bem o submundo do crime, e alguns calunistas de aluguel para defenderem o pobrezinho do ex-demo.