SONHOS E CONTEXTOS Katia Cristina Ugolini Mugnol Pesquisadora e docente na Universidade de Mogi das Cruzes Graduada em Biomedicina pela UMC – XV turma – 1986-1989 Mestre e Doutora em Biotecnologia pela UMC No auge da adolescência, geralmente surge aquela tradicional pergunta: o que eu quero ser quando crescer? Parece algo piegas de se dizer hoje em dia, no auge da era digital, em que até pensamento vibra no twitter, aparece rapidinho no facebook. Porém, bem lá no fundo, a pergunta ainda surge como fazia a geração em que notebook, internet e celular eram itens de ficção científica. Foi nesse cenário tipo star trek que surgiu meu sonho de ser cientista, quem sabe mudar o mundo, inventar o teletransporte ou até pegar carona em uma cauda de foguete. Dar uma face ao sonho teve início na universidade em 1986, na filha querida da OMEC, distante como que mil léguas da minha humilde residência. Com boa vontade, distância deixou de ser problema, tempo livre passou a ser luxo, dedicação foi a palavra da vez. Tudo superado pela oportunidade de atingir com categoria os objetivos traçados. Ser universitário na época também tinha lá as suas glórias e viajar todos os dias para estudar dava mais glamour ao desafio. Só não valia contar que a viagem era de trem da CPTM. Mas, como meus pais já diziam, tarefa árdua gera energia e amadurece, valoriza a experiência, prepara para a vida. Vencida a graduação, a vida real desabrochou. Hora de responder a outra pergunta: o que faço agora que cresci? Apesar do pânico inicial, os ventos do destino vão nos levando, oportunidades vão aparecendo. A história foi tomando forma. Apareceu o computador pessoal, que de pessoal não tinha nada já que pesava uma tonelada. Currículo de qualidade era datilografado e voar de avião não era para qualquer um. Fazer pós-graduação era um luxo, quase outra faculdade mas o fato é que a necessidade e a saudade me trouxeram de volta à minha casa acadêmica, agora carregando mais experiência e afunilando os objetivos. Foram algumas idas e vindas e ter OMEC como endereço tantas vezes parecia até destino. Os anos foram passando, as responsabilidades pesavam ainda mais e porque não admitir que a idade também. Afinal, tantos aniversários fazem algumas diferenças mas vale pensar que tudo o que é vivido permite a coleta de frutos, nem sempre aqueles que tanto se desejava. Às vezes a gente sonha com morangos e ganha é um abacaxi. Porém, como na vida real e até nas atuais fazendinhas virtuais, o que se colhe é o que se planta, contando também com a sorte de que pássaros tragam novas sementes e que um terreno fértil nos permita colher novas oportunidades. O fato é que hoje, vinte e seis anos depois do início desta jornada em busca de ideais, já colhi alguns dos frutos que plantei. Hoje sou biomédica, educadora e cientista e, o melhor, sou parte do corpo da mesma OMEC em que tudo começou. Quantas voltas o mundo deu até aqui eu não sei, mas é fato que sobrevivi ao bug do milênio, aos surtos de gripe, às bancas de defesa de mestrado e doutorado e hoje aguardo ansiosa para que 2013 chegue sem que as profecias incas, maias e tupiniquins se concretizem. Ainda há muito o que fazer, o que comemorar, e hoje, com um carinho a toda prova, posso segurar a bandeira dos 50 anos da OMEC com o orgulho de ter partilhado mais da metade da história desta mãe que acolheu a tantos sonhadores, que deixou sua marca na vida dos que passaram por aqui, dos que partiram sem olhar para trás, dos que em algum momento voltaram e daqueles que, como eu, nunca saíram de verdade deste berço onde tantas histórias como a minha nasceram, aconteceram e ainda estão por vir.