PROCEDIMENTOS DE ENSINO E MANUTENÇÃO DO APRENDIZADO: ESTRATÉGIAS DERIVADAS DAS PESQUISAS SOBRE FORMAÇÃO DE CLASSES DE ESTÍMULOS EQUIVALENTES. Margarette Matesco Rocha – UEL Verônica Bender Haydu – UEL RESUMO - Ensinar relações de equivalência entre estímulos arbitrários mostrou ser uma forma eficaz de ensino de comportamentos complexos, com leitura e repertórios matemáticos. Além da importância da análise do processo de formação de classes equivalentes, faz-se necessário investigar as variáveis que contribuem para sua manutenção. O efeito do tamanho das classes de estímulos na manutenção/estabilidade das relações foi avaliado, com a participação de 18 escolares, com 9 a 10 anos de idade, da 4ª série do Ensino Fundamental. O Grupo A realizou tarefas de discriminação condicional com três classes de três estímulos e o Grupo B, com três classes de seis estímulos, sendo estes figuras geométricas não-familiares. As sessões foram conduzidas na própria escola, durando 50 minutos cada. O procedimento consistiu de três etapas: 1) pré-treino; 2) ensino de discriminação condicional e testes de equivalência; 3) teste de manutenção. Os participantes de ambos os grupos demonstraram formação de classes equivalentes. Seis semanas após o treino, seis participantes do Grupo A e oito do Grupo B apresentaram manutenção das classes. O resultado evidenciou que o tamanho da classe afeta a manutenção/estabilidade das mesmas. Esses dados são importantes para aperfeiçoar procedimentos de ensino pelo arranjo de contingências baseado no modelo de redes relacionais. INTRODUÇÃO O paradigma da equivalência de estímulos pode ser considerado uma das principais contribuições da Análise Experimental do Comportamento para a área educacional. Além da aplicação do princípio da equivalência de estímulos à análise e compreensão de processo de ensino-aprendizagem, ele também têm afirmado sua utilidade no ensino de leitura, escrita, matemática, ciências entre outras aplicabilidades (Souza, 2000). O procedimento de ensino que desenvolve o comportamento de responder a relações arbitrárias entre estímulos formando classes de estímulos equivalentes permite estabelecer, de forma eficaz, comportamentos novos e contribui para a emergência de comportamentos que não foram diretamente ensinados, caracterizando-se, em termos educacionais, como um método econômico e efetivo para ensinar novos repertórios comportamentais. Uma outra implicação importante desse princípio está relacionada ao fato de que classes de estímulos equivalentes apresentamse consideravelmente estáveis no decorrer do tempo. Isto é, quando no processo de aprendizagem há formação de classes de estímulos equivalentes, tem-se como resultado a manutenção da aprendizagem no decorrer do tempo (Saunders, Wachter & Spradlin, 1988). A análise das condições que contribuem para a manutenção do aprendizado sugerem que o tamanho da classes de estímulos é uma variável que torna as classes mais estáveis, além de levar ao restabelecimento de classes que, por um motivo qualquer, tenham se desfeito ao longo do tempo. Portanto, investigar o efeito que o tamanho de classes de estímulos equivalentes têm sobre a manutenção/estabilidade das mesmas, poderá destacar alguns aspectos relevantes para a elaboração de estratégias e tecnologias de ensino, que favoreçam a manutenção do aprendizado. A manutenção do que é aprendido é muitas vezes interpretado como sendo o conhecimento que uma pessoa possui. Segundo Green, Mackay, McIlvane, Saunders & Soraci (1990) conhecimento é definido como sendo a aprendizagem de 2 relações entre eventos (estímulos) que ocorrem no ambiente do indivíduo. Os estímulos podem ser relacionados de diversas formas. Quando eles possuem certas características físicas em comum, estes podem ser relacionados a partir de sua estrutura física. Por exemplo, quando na presença da figura de um triângulo é ensinado dizer “triângulo”, outras figuras com características geométricas semelhantes às originais podem evocar a resposta “triângulo”, mesmo que outras propriedades (cor, tamanho) não sejam semelhantes. Por conseguinte, uma experiência direta com todos os tipos de triângulo não é necessária, uma vez que diferentes tipos de triângulos possuem uma ou mais características físicas em comum. Similaridade física é uma das propriedades que permitem relacionar estímulos, porém muitas dessas relações não ocorrem por semelhanças físicas. Por exemplo, a relação entre objetos, palavras faladas e escritas não ocorre pela similaridade, visto que não compartilham propriedades físicas comuns. Tais relações quando se estabelecem são arbitrárias, refletindo somente contingências de reforço arranjadas por uma comunidade verbal (Green et al., 1990). O procedimento de emparelhamento com o modelo (match-to-sample) é uma dentre as diversas formas que podem ser utilizadas por uma comunidade verbal para ensinar relações entre estímulos. Esse procedimento possibilita estabelecer discriminações condicionais, tanto entre estímulos que apresentam características comuns (escolha de acordo com o modelo por identidade), como entre estímulos que não são fisicamente similares uns aos outros (escolha de acordo com o modelo arbitrário). Para que se possa ensinar a estabelecer relações entre estímulos arbitrários, o procedimento é o de apresentar um estímulo modelo (por exemplo, é ditada uma palavra sem sentido) e dois ou mais estímulos de comparação (por exemplo, letras gregas impressas) em que somente uma das letras é o estímulo de comparação correto. Neste caso, uma das letras gregas poderia ser definida como o estímulo correto (S+) e as outras, como os estímulos incorretos (S-). Quando uma outra palavra sem sentido é ditada, a letra grega, que anteriormente era o estímulo correto, passa a ser definida como incorreta (S-) e uma das figuras que era o estímulo incorreto torna-se a escolha correta (S+). Relações condicionais tornam-se evidentes quando os participantes selecionam estímulos de comparação definidos como corretos na presença de cada modelo. Quando seres humanos aprendem pelo menos duas discriminações condicionais entre estímulos, geralmente, emergem relações de equivalência definidas por suas relações reflexivas, simétricas e transitivas. Portanto, para determinar se as relações condicionais formadas são equivalentes, é necessário testar se as relações condicionais apresentam as propriedades de reflexividade, simetria e transitividade. A reflexividade é demonstrada quando cada estímulo tem uma relação condicional com ele mesmo. A relação apresenta propriedade de simetria quando a função dos estímulos discriminativos e condicionais são reversíveis, isto é, as relações condicionais apresentam reversibilidade das funções do estímulo modelo e do estímulo comparação. Para a avaliação da transitividade é necessário que na etapa de ensino das relações condicionais haja um estímulo em comum, por exemplo, se o modelo for o estímulo A e o estímulo de comparação o B (AB), a outra relação deve envolver um desses estímulos. Por exemplo, o estímulo B como modelo e o estímulo C como comparação. No teste de transitividade é verificado se o estímulo A se relaciona com o C (AC). Quando as propriedades de reflexividade, simetria e transitividade são demonstradas, diz-se que os estímulos envolvidos são equivalentes. Portanto, os estímulos constituem uma classe de equivalência quando funções adquiridas por um dos membros da classe, por meio de ensino explícito, são depois demonstradas por outros membros da classe sem um ensino adicional (Sidman, 1986). 3 Os procedimentos de ensino baseados no princípio da equivalência de estímulos são importantes para a área acadêmica, principalmente porque possibilitam arranjar contingências para a produção de comportamentos novos. Isto é, a formação de relações de equivalência pode levar à emergência de comportamentos que não necessitaram ser diretamente ensinados, o que pode ser extremamente adaptativo. No contexto escolar, há uma variedade imensa de relações a serem ensinadas, porém, devido a fatores como economia de tempo e de recursos, são selecionadas algumas relações e espera-se que delas derivem outras sem ensino adicional. Desta forma, a aplicação do princípio da equivalência de estímulos permite alta produtividade no ensino como acontece nas situações de ensino de leitura e escrita em que os alunos são ensinados, por exemplo, a selecionar uma palavra impressa correspondente a uma palavra ditada e, também, ensinados a formar a palavra (com o modelo à vista) a partir de letras soltas (formação de anagrama). Após o ensino dessas relações, observa-se alunos apresentarem, sem ser diretamente ensinados, os repertórios de relacionar as palavras impressas com os desenhos correspondentes, ler oralmente as palavras ensinadas e ler oralmente novas palavras, envolvendo recombinação das sílabas das palavras ensinadas. Além da emergência de relações condicionais não ensinadas diretamente, um outro aspecto relacionado com a formação de relações consiste na possibilidade de expansão das classes de estímulos, por meio do emparelhamento de um novo estímulo a somente um dos membros de uma classe e que torna o procedimento ainda mais produtivo. Por exemplo, se um estímulo for relacionado, por meio do procedimento de emparelhamento com o modelo, a qualquer um dos membros de uma classe já formada o estímulo passa a fazer parte da classe, isto é, torna-se equivalente aos demais estímulos. Assim, uma classe de estímulos equivalente pode ser compreendida como uma rede de relações em que algumas relações emergem a partir de outras ensinadas, por conseguinte, não se torna necessário o ensino de todas elas. Nessa rede de relações, conforme afirmou Matos (1999), os estímulos são intercambiáveis funcionalmente, isto é, controlam os mesmos comportamentos. Os métodos instrucionais derivados dos princípios da equivalência de estímulos são eficazes para ensinar pessoas não-verbais ou que tenham dificuldades de responder a instruções verbais, uma vez que não dependem, necessariamente, desse tipo de instrução (Aiello, 1995). Podem ainda, como sugeriram Stromer, Mackay e Stoddard (1992), centrar a atenção do professor na performance individual do aluno, permitindo avaliar e “remediar” o comportamento de cada criança com tarefas específicas. Por exemplo, verificar quais habilidades de leitura e escrita (cópia, ditado, leitura etc) a criança já possui e quais as que ainda precisam ser ensinadas. Em resumo, os procedimentos de ensino derivados dos princípios da equivalência de estímulos têm auxiliado os educadores a estabelecerem repertórios básicos por possibilitar a compreensão da natureza das dificuldades de aprendizagem. Além disso, permitem identificar estratégias de intervenção que maximizam novas aprendizagens e aumentam a precisão nas avaliações do desempenho acadêmico. Essas contribuições têm favorecido e incentivado a aplicação do princípio da equivalência de estímulos ao desenvolvimento de diversas habilidades acadêmicas, como as de leitura e escrita, matemática, ciências, habilidades pré-acadêmicas (conceito de igual, diferente) e outras (Stromer 1991). Considerando a importância que o princípio da formação de classes de estímulos equivalentes tem para a compreensão do processo de ensino-aprendizagem e considerando que não basta criar condições para a formação de classes equivalentes, mas também para a sua manutenção, o presente estudo visou avaliar esse último 4 aspecto. Portanto, o objetivo deste estudo consistiu em investigar o efeito do tamanho das classes de estímulos na formação e manutenção das relações equivalentes. MÉTODO Participantes Participaram do estudo 18 alunos do Ensino Fundamental de uma escola municipal da cidade de Londrina - Pr. Os participantes eram alunos da 4ª série, com idade variando entre 9 e 10 anos, e que apresentavam, ao final do primeiro bimestre de 2001, rendimento escolar médio-superior. Isto corresponde a uma nota acima de 70. Os participantes foram designados para um de dois grupos. Para os dois grupos o procedimento foi similar, diferindo apenas quanto ao número de elementos por classes de estímulos que foram formadas - três classes com três estímulos (3/3) para o Grupo A e três classes com seis estímulos (3/6) para o Grupo B. Materiais, Equipamentos e Situação Experimental A coleta de dados foi realizada em sessões individuais na própria escola, em uma sala de acesso controlado, com ventilação natural e iluminação artificial. Foi empregado um microcomputador (PC), sistema operacional Windows 98 com recurso multimídia e um programa de computador que foi especialmente desenvolvido para este estudo. Esse programa permitiu elaborar tarefas de escolha de acordo com o modelo, com a possibilidade de apresentação de até oito estímulos de escolha. Dezoito figuras arbitrárias, iguais às empregadas no estudo de Spencer e Chase (1996), foram usadas como estímulos-modelo e de comparação. Procedimento A coleta de dados foi iniciada após a assinatura do Termo de Consentimento Esclarecido pela direção da escola e pelos pais dos participantes. Após o consentimento dos pais, foi realizada uma reunião com os participantes que teve como objetivo convidá-los a participar da pesquisa e prestar os esclarecimentos sobre os objetivos e a metodologia a ser adotada. Os participantes realizaram as tarefas em sessões individuais com duração de aproximadamente 50 minutos cada. O procedimento envolveu um delineamento experimental entre-grupos com 3 etapas: 1) pré-treino; 2) ensino de discriminação condicional, testes de simetria e de equivalência misto e, 3) teste de manutenção. O critério para passar de uma etapa ou fase do experimento para a seguinte era de 90% de respostas corretas em um bloco de tentativas. Nas sessões de pré-treino e ensino das discriminações condicionais todas as respostas eram seguidas por conseqüências. As respostas corretas eram seguidas do aparecimento da expressão “Parabéns você acertou” e do som “eeeeeeeehhh” e as incorretas da expressão “Que pena você não acertou” acompanhada pelo som “aaaaaahhhhh”. Nenhuma conseqüência era apresentada nas sessões de teste. Etapa 1: Pré-treino O pré-treino foi conduzido com a finalidade de adaptar os participantes à situação experimental, ensiná-los como usar o mouse e como proceder 5 nas tarefas de discriminação condicional. Os participante foram submetidos ao procedimento de escolha de acordo com o modelo por meio de 18 tentativas, com três escolhas em cada uma. A tarefa consistia em relacionar letras maiúsculas do alfabeto arábico. Etapa 2: Ensino de discriminação condicional e testes das relações emergentes A Etapa 2 foi dividida em duas fases que consistiram de ensino das relações condicionais entre estímulos e testes de simetria (Fase 1) e teste de equivalência misto (Fase 2). Os estímulos utilizados nessa fase foram sinais não-familiares arranjados em três classes com três estímulos (3/3) para o Grupo A e em três classes com seis estímulos (3/6) para o Grupo B. A Figura 1 apresenta a representação esquemática das relações que foram ensinadas e testadas para cada grupo. Inserir Figura 1 aqui Fase 1: Ensino de discriminação condicional e testes de simetria O ensino de discriminação de condicional de cada relação foi feito em dois blocos, seguido pelo bloco de teste das relações simétricas. A seqüência adotada para o ensino e testes de simetria, o número de tentativas de ensino e testes e a porcentagem de reforços por bloco estão esquematizados na Tabela 1. O procedimento iniciou com o ensino da relação BA em que 100% das tentativas foram reforçadas. O número de tentativas de ensino para cada relação foi fixado em 18, com aleatorização da seqüência das tentativas e da posição do estímulo de comparação correto. No segundo bloco, era realizado o ensino da mesma relação, também com 18 tentativas, mas com a programação de um esquema de reforço intermitente, em que 50% das respostas eram reforçadas. No terceiro bloco, foi realizado o teste de simetria (AB) com nove tentativas, intercaladas por tentativas de testes das relações de linha de base (BA), também com nove tentativas. O procedimento básico consistiu em realizar, inicialmente, o Bloco 1, com o ensino da relação BA. Se o critério de 90% de respostas corretas não fosse atingido nas sessões de ensino do Bloco 1, este bloco era repetido até que o critério fosse atingido. Se no Bloco 2, o índice de 90% não fosse atingido, o participante devia repetir o Bloco 1 e depois passava para o Bloco 2 novamente. Se no Bloco 3, o critério não fosse atingido, o participante repetia o Bloco 2. Tendo atingido o critério no Bloco 3, uma nova relação era ensinada, obedecendo a mesma seqüência descrita de passos e critérios. Inserir Tabela 1 aqui 6 Fase 2: Teste de equivalência misto (relações de linha de base, simétricas e equivalentes) O teste de equivalência misto foi realizado após a conclusão do ensino de discriminação condicional e os testes de simetria correspondentes, em um único bloco de tentativas. Esse teste envolvia seis tentativas de cada uma das relações de linha de base e das possíveis relações emergentes: BA, AB, CA, AC, BC e CB, para o Grupo A; e BA, AB, CA, AC, DA, AD, EA, AE, FA, AF, BC, CB, CD, DC, ED, DE, EF, FE, BD, DB, BE, EB, AF,FA, CE, EC, CF, FC, DF e FD, para o Grupo B. O bloco de teste do Grupo A era composto de 54 tentativas e do Grupo B, de 270 tentativas. Etapa 3: Teste de manutenção Esta etapa teve por objetivo verificar a manutenção/estabilidade das relações de linha de base, simétricas e equivalentes testadas na etapa anterior. As sessões foram realizadas seis semanas após os participantes terem finalizado os testes de equivalência misto. A forma de apresentação dos estímulos, os estímulos utilizados (modelo e comparação), o número de tentativas para cada grupo, o critério de acerto e a forma de reforço pela participação foram idênticos aos utilizado na Fase 2 da Etapa 2. Nessa etapa, o bloco de teste podia ser repetido, no máximo três vezes, para aqueles participantes que não atingiam o índice de acerto entre 90% e 100%. Desta forma, o término da tarefa ocorria ou quando o participante atingia o índice de acerto ou quando atingia o número máximo de repetições permitidas. RESULTADOS A Tabela 2 apresenta os resultados referentes a formação de classes de estímulos equivalentes. Nesta etapa, todos os participantes dos Grupos A e B atingiram o critério de formação de classes de estímulos equivalentes, após o ensino das discriminações condicionais, sendo que três participantes do Grupo A e quatro do Grupo B necessitaram repetir os blocos de ensino e de testes para alcançar o índice de acerto entre 90% e 100%. A maioria dos participantes que requereu repetição dos blocos apresentou aumento gradual no índice de acerto à medida que realizava as tarefas. Inserir Tabela 2 aqui Pode-se observar, ainda, na Tabela 2, que os melhores índices de acerto foram obtidos pelos participantes do Grupo A. Neste grupo, seis participantes apresentaram índices que variaram entre 98% a 100%, sendo que índices nesta faixa foram obtidos por quatro participantes no primeiro teste e por dois no segundo teste. Do Grupo B, somente os Participantes B1 e B7 atingiram índices dentro dessa faixa e isto ocorreu somente após a realização do segundo teste. Os índices de acerto dos demais participantes do Grupo B variou entre 90% e 95%. O teste de manutenção foi programado para avaliar a manutenção/estabilidade das classes equivalentes após 6 semanas. O teste foi repetido 7 até três vezes, conforme critério previamente estabelecido, cujos resultados encontramse na Tabela 3. Pode-se verificar, nessa tabela, que quatro participantes do Grupo B e dois participantes do Grupo A apresentaram manutenção/estabilidade das classes equivalentes. Os Participantes A3, A4, A6 e A9 e os Participantes B1, B5, B8 e B9 demonstraram restabelecimento das classes após a repetição dos testes. Inserir Tabela 3 aqui Os dados indicam ainda que, os índices de acerto do Grupo A são superiores aos do Grupo B, visto que cinco participantes do Grupo A apresentaram índices de acerto entre 0,96 e 1,00 e apenas um do Grupo B apresentou índice nessa faixa. Em contrapartida, o restabelecimento da rede de relações ocorreu mais prontamente no caso do Grupo B. Quatro participantes do Grupo B e apenas dois do Grupo A atingiram o critério no primeiro teste. Com a repetição dos testes, quatro participantes do Grupo A e quatro do Grupo B atingiram o critério estabelecido. As repetições do teste não tiveram efeito de recuperação da rede para um participante do Grupo B e três do Grupo A. Verificou-se que, de maneira geral, a maioria dos participantes de ambos os grupos apresentou índices de acerto gradativamente superiores com a repetição do teste, com exceção dos Participantes A2 e A5. Já os Participantes A4 e B4 apresentaram um decréscimo no segundo teste e um aumento no terceiro. A análise comparativa entre o número de repetições da seqüências de ensino e teste, na etapa de formação de equivalência, com o número de testes de manutenção (Tabelas 2 e 3) demonstra que não há relação entre a repetição e a manutenção/estabilidade de classes equivalentes. Do Grupo A, quatro participantes requereram repetições da seqüência de ensino, sendo que dois destes apresentaram manutenção/estabilidade das classes e dois não. Já do Grupo B, quatro participantes requereram repetição da seqüência de ensino e teste, sendo que somente um não apresentou a manutenção/estabilidade das classes. DISCUSSÃO Todos os participantes apresentaram formação de classes de estímulos equivalentes. Após seis semanas, oito participantes do Grupo B e seis do Grupo A demonstraram manutenção ou restabelecimentos das classes. Esses dados evidenciam, como no estudo prévio de Saunders, Watcher e Spradlin (1988), que classes equivalentes são mantidas no decorrer do tempo, mesmo que os participantes não tenham tido contato com os estímulos durante esse período. Além disso, esses dados são evidências em favor da hipótese de Spradlin, Saunders e Saunders (1992), de que quanto maior o número de elementos na classe, maior a possibilidade da classe ser restabelecida e à medida que aumenta o número de estímulos dentro da classe, aumenta drasticamente o número de possibilidades de restabelecer uma relação desfeita no decorrer do tempo. Um outro aspecto evidenciado no presente estudo é a possibilidade da formação de classes equivalentes que envolvem mais de três estímulos, apresentando-se como um dado relevante porque demonstra a viabilidade de programas de ensino que apresentam como proposta o ensino de classes compostas por mais de quatro estímulos. Isto pode ser, inclusive a resposta inicial para a questão levantada por Saunders, Saunders, Kirby e Spradlin (1988) de quantos estímulos podem ser apresentados aos estudantes quando se propõe ensinar uma rede de relações. Obviamente que não se pode 8 afirmar com precisão qual é o limite do tamanho das classes a serem ensinadas, mas há evidências de que a aprendizagem das relações ocorre com classes compostas por mais de três estímulos, sugerindo que o tamanho da classe não deve ser empecilho para elaboração de procedimentos de ensino. Dada essa possibilidade, uma implicação importante para área educacional é a de que programas de ensino que envolvem um grande número de estímulos permitem o estabelecimento de um maior número de relações com um determinado fenômeno. Como exemplo, pode-se considerar o ensino de frações e decimais em uma aula de Matemática. A palavra escrita “um meio” é relacionada com a fração ½ e esta relacionada com o número decimal 0,5. Até aqui, três estímulos estão presentes e o aluno aprende que tanto ½ como 0,5 são “um meio”. No entanto, “um meio” também pode ser representado pela figura de uma barra de chocolate ou qualquer outra figura dividida ao meio. Quando a figura do estímulo for integrada à classe, aumentando o tamanho desta de três para quatro estímulos, a relação entre “um meio” e a figura se estabelecerá, e a figura será equivalente a todos os demais estímulos. A classe poderia ainda ser ampliada com mais um estímulo meia barra de chocolate (alimento). Assim, no ensino de fração e números decimais está envolvido um conjunto de diferentes tipos de estímulos ( palavra falada, fração, número decimal, figura e o objeto real) que podem ser relacionados de diversas formas. Uma programação de ensino que envolva os vários estímulos e as possíveis relações entre eles capacita o aluno a responder adequadamente a qualquer arranjo de relações presentes nas atividades escolares ou cotidianas que envolvam frações e números decimais. A proposta de estabelecer relações entre diversos eventos não se limita a uma ou duas áreas específicas de conhecimentos, como leitura e escrita ou a matemática. Ela sustenta também a possibilidade de estabelecer relações entre as várias áreas do conhecimento, o que, de alguma forma, já está presente no currículo do Ensino Fundamental e Médio das escolas públicas do Brasil, por meio da proposta de desenvolvimento dos conteúdos numa perspectiva da interdisciplinaridade e contextualização (PARANÁ, [199-?]). Uma forma de estabelecer esta interdisciplinaridade seria, por exemplo, ensinar Geografia de forma relacionada a fatos históricos, artísticos, literários, práticas lingüísticas da região e da época. Esse tipo de estratégia oferece não só a possibilidade de estabelecer redes relacionais entre os estímulos (conteúdos) como pode favorecer a sua manutenção/estabilidade. Assim, após relacionar os dados geográficos, históricos, artísticos e literários da região que está sendo ensinada, oportunizando o estabelecimento de um número maior de relações, caso ocorra o esquecimento de um fato histórico, por exemplo, este poderá ser restabelecido a partir de outras relações intactas, como por exemplo, a localização e a arte própria da região. Quanto mais forem os elementos relacionados àquela região, maior a probabilidade de que relações desfeitas possam ser restabelecidas. Portanto, a importância de se ressaltar o aspecto referente ao número de estímulos na classe não se resume ao fato de haver a possibilidade de favorecer a aprendizagem, mas, também, devido à constatação de que classes maiores aumentam a probalidade de manutenção do aprendizado no decorrer do tempo. Quanto maior o número de relações estabelecidas, mais fácil é o restabelecimento das relações. Isso ocorre devido às relações que permanecem intactas na classe. A ampliação da classe aumenta a probabilidade de mais relações permanecerem intactas e, consequentemente, maior é a probabilidade de uma relação desfeita emergir (Spradlin, Saunders & Saunders, 1992). A possibilidade do restabelecimento das relações e a sua conseqüente manutenção é importante por dois motivos. Primeiro, representa uma economia de tempo, visto que não há necessidade de se ensinar novamente o que foi ensinado 9 anteriormente e, segundo, um determinado conhecimento pode ser um pré-requisito para aquisição de outros conhecimentos. A criança que será submetida ao ensino de porcentagem precisará dos conhecimentos de frações como pré-requisito, assim, a manutenção do aprendizado é altamente desejável. Para elaboração de procedimentos que envolvem grandes classes, é importante garantir um programa de ensino que assegure o avanço gradual, com desempenho perfeito, através de pequenas unidades. Isso favorece a maximização da aprendizagem das relações com baixos índices de erros, o que torna o aluno mais motivado para e na execução das tarefas (de Rose, 1999). Em relação às conseqüências, quando essas são contingentes ao desempenho atual do aluno, favorecem a rápida emergência do responder relacional (Healy, Barnes & Smeets, 1998). Um procedimento de ensino que envolve um número maior de classes requererá, geralmente, mais atividades de ensino, como constatado no presente estudo. Observou-se que o ensino de um menor número de relações ocorreu um pouco mais rápido e com índices de acerto maiores, o que poderia sugerir que uma programação de ensino que envolvesse um menor número de estímulos seria a mais adequada. No entanto, a ampliação das redes de relações a serem ensinadas em sala de aula, embora requeira mais atividades de ensino para que os índices de acerto sejam satisfatórios, pode promover o desenvolvimento de um número maior de habilidades e a manutenção do aprendizado. Dessa forma, a evidente manutenção/estabilidade das classes equivalentes, ao longo do tempo, implica que procedimentos de ensino derivados do paradigma da equivalência de estímulos são apropriados para ensinar e garantir a manutenção do ensino, seja para o ensino de leitura e escrita, matemática ou para qualquer outro repertório acadêmico. Pesquisas adicionais são ainda necessárias para poder determinar a melhor maneira de integrar o fenômeno da manutenção/estabilidade das classes equivalentes a efetivas estratégias de ensino que possam ser aplicadas em sala de aula. A presente análise é um passo inicial para a transferência de dados de pesquisas experimentais para a aplicação em sala de aula. Porém, as técnicas de ensino baseadas nos princípios da equivalência têm gerado muito entusiasmo porque elas podem produzir novas habilidades, incorporando largas redes de relações com notável economia de tempo (Sidman, 1994). Por fim, é importante salientar, como o fizeram Stromer, Mackay e Stoddard (1992, p. 253) a emergência de novos desempenhos depende das nossas práticas de ensino. É a partir de estratégias de ensino adequadas que se pode garantir o aprendizado de relações entre eventos, sua emergência e conseqüente manutenção/estabilidade. 10 REFERÊNCIAS AIELLO, A. L. R. Efeitos de um procedimento de resposta construída sobre a rede de relações de equivalência envolvida em leitura e escrita em crianças com história de fracasso escolar. São Paulo, 1995. Tese (Doutorado em Psicologia Experimental) Universidade de São Paulo. DE ROSE, J. C. C. Explorando a relação entre ensino eficaz e manutenção da disciplina. In: Sobrinho, N.; de Paula, F.; Barros, A. C., (Org.) Dos problemas disciplinares aos distúrbios de conduta: práticas e reflexões. Qualitymarks: Rio de Janeiro, 1999. p. 1-23. GREEN, G.; MACKAY, H. A.; McILVANE, W. J.; SAUNDERS, R. R.; SORACI, S. A. 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Na parte superior estão apresentadas as relações apresentadas ao Grupo A e na inferior as apresentadas ao Grupo B. 13 TABELA 1 - Grupos A A A A A A B B B B B B B B B B B B B B B Seqüência de ensino e testes, e porcentagem de reforços por bloco de tentativas da Fase 1 da Etapa 2. Blocos Seqüência 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 Ensino Ensino Teste Ensino Ensino Teste Ensino Ensino Teste Ensino Ensino Teste Ensino Ensino Teste Relações BA BA BA e AB CA CA CA e AC DA DA DA e AD EA EA EA e AE FA FA FA e AF Número de tentativas 18 18 18 18 18 18 18 18 18 18 18 18 18 18 18 Porcentagem reforços 100 50 0 100 50 0 100 50 0 100 50 0 100 50 0 14 TABELA 2 - Índices de acerto nos testes de equivalência mistos apresentados pelos participantes dos Grupos A e B. Participantes A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9 GRUPO A Teste de Equivalência Misto 1 2 3 94% 85% 74% 90% 62% 98% 66% 98% 98% 92% 100% 100% 100% - Participantes B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 GRUPO B Teste de Equivalência Misto 1 2 61% 98% 90% 92% 45% 96% 91% 95% 64% 98% 95% 78% 97% 15 TABELA 3 - Índices de acerto apresentados nos testes de manutenção pelos participantes dos Grupos A e B. Participantes A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9 GRUPO A Teste de Manutenção 1 2 3 96% 68% 59% 51% 88% 100% 77% 57% 100% 53% 35% 30% 66% 100% 53% 53% 55% 98% 75% 90% - Participantes B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 GRUPO B Teste de Manutenção 1 2 3 73% 95% 95% 93% 60% 48% 64% 83% 98% 95% 90% 86% 89% 90% 50% 65% 91%