FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU ● FILOSOFIA E ÉTICA PROFISSIONAL
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PROFª REGINA CÉLIA ● MARÇO - 2009
OS “PRÉ-SOCRÁTICOS”
Os pré-socráticos são filósofos que viveram na Grécia
Antiga e nas suas colônias. Assim são chamados pois
são os que vieram antes de Sócrates, considerado um
divisor de águas na filosofia. Muito pouco de suas
obras está disponível, restando apenas fragmentos. O
primeiro filósofo em que temos uma obra sistemática e
com livros completos é Platão, depois Aristóteles. São
chamados de filósofos da natureza, pois investigaram
questões pertinentes a esta, como de que é feito o
mundo. Romperam com a visão mítica e religiosa da
natureza que prevalecia na época, adotando uma
forma científica de pensar. Alguns se propuseram a
explicar as transformações da natureza. Tinham
preocupação cosmológica. A maior parte do que
sabemos desses filósofos é encontrada na doxografia
de Aristóteles, Platão, Simplício e na obra de Diógenes
Laércio (século III d. C), Vida e obra dos filósofos
ilustres. A partir do século VII a.C., há uma revolução
monetária da Grécia, e advêm a ela inovações
científicas. Isso colaborou com uma nova forma de
pensar, mais racional. Os pré-socráticos inspiraram a
interpretação de filósofos contemporâneos como
Nietzsche, que nos iluminou com a sua obra A filosofia
na época trágica dos Gregos e Hegel, que aplicou seu
sistema na história da filosofia.
TALES (+ ou- 640-548 a. C) Tales é considerado o pai
da filosofia
grega, o primeiro homem sábio. Foi um
homem que viajou muito. Os pensadores de Mileto
iniciaram uma física e uma cosmologia. O universo
era considerado um campo com pares opostos das
qualidades sensíveis. É de Tales a frase de que á
água é a origem de todas as coisas. Tudo seria
alteração da água, em diversos graus. O alimento de
toda a coisa é úmido. Aristóteles afirmou que ele foi o
primeiro a atribuir uma causa material para a origem
do universo. Também era matemático, geômetra e
físico. Aparece nas listas dos Sete Sábios da Grécia.
Outra frase que pode ser dele é a de que tudo está
cheio de deuses, ou seja, a matéria é viva. Dizem que
previu um eclipse solar e calculou a altura de uma
pirâmide. Em Aristóteles há um trecho dizendo que era
sabido ser uma afirmação de Tales que a alma é algo
que se move. Teve como discípulo Anaximandro.
ANAXIMANDRO (+ ou - 610-547 a. C) é um filósofo
da escola jônica, natural de
Mileto e discípulo de
Tales. Foi geógrafo, matemático, astrônomo e
político. Escreveu um livro, Sobre a natureza, que se
perdeu. É considerado autor de um mapa do mundo
habitado e iniciador da astronomia. Afirmou que a
origem de todas as coisas seria o apeíron, o infinito. O
mundo se dissolveria nele
também. É apenas um
mundo dentre muitos. Ao contrário de Tales não deu
à gênese um caráter material. O apeíron é eterno e
indivisível, infinita e indestrutível. O princípio é o
fundamento da geração de todas as coisas, a ordem
do mundo evoluiu do caos em virtude deste princípio.
Teve como discípulo Anaxímenes.
ANAXÍMENES (+ ou - 588-524 a.C.) foi um filósofo
da escola jônica, que tem como característica básica
explicar a origem do universo ou arché a partir de
uma substância única fundamental. Refutando a teoria
da água de Tales, e do ápeiron de Anaximandro,
Anaxímenes ensinava que essa substância era o ar
infinito, pneuma ápeiron. O universo resultaria das
transformações do ar, da sua rarefação, o fogo, ou
condensação, o vento, a nuvem, a água e a terra e por
último pedra. Esse era o processo por qual passava
uma
substância
primordial,
e
resultava
na
multiplicidade, os quatro elementos. O ar tinha o
eterno
elemento. Escreveu uma obra, como
Anaximandro: Sobre a natureza.
Dedicou-se à
meteorologia, foi o primeiro a considerar que a lua
recebe a luz do
sol. Era companheiro de
Anaximandro. Hegel diz que Anaxímenes ensina que
nossa alma é ar, e ele nos mantém unidos, assim um
espírito e o ar mantém unido o mundo inteiro. Espírito
e ar são a mesma coisa. A substância da origem volta
a ser uma coisa determinada como em Tales.
Anaxímenes identificou o ar talvez porque tenha visto
seu movimento incessante, e que a vida e o ar andam
juntos, na maioria dos casos. A respiração é um
processo vivificante, dependemos dela durante toda a
nossa vida. Ele via
que no céu existem nuvens, e
que a matéria possui diferentes graus de solidez.
HERÁCLITO (+ ou - 540-470 a. C) nasceu em Éfeso,
cidade da Jônia, descendente do fundador da cidade.
É considerado o mais importante dos pré-socráticos. É
dele a frase de que tudo flui. Não entramos no mesmo
rio duas vezes e o sol é novo a cada dia. É o filósofo
do devir, a lei do universo, tudo nasce se transforma e
se dissolve, e todo o juízo seria falso, ultrapassado.
Desprezava a plebe, não participou da política e
desprezou a religião, os antigos poetas e os filósofos
de seu tempo. É o primeiro pré-socrático com um
número razoável de pensamentos, que são um tanto
confusos, e por isso tem o nome de Heráclito, o
obscuro. São aforismos. Foi muito crítico. Chama a
atenção, além da pluralidade, para os opostos. Tanto o
bem como o mal são necessários ao todo. Deus se
manifesta na natureza, abrange o todo e é crivado de
opostos. O logos é o princípio cósmico, elemento
primordial, e a razão do real, a inteligência. A verdade
se encontra no devir, não no ser. Com sentidos
poderosos, poderíamos vê-lo. O pensamento humano
participa e é parte do pensamento universal. O fogo é
eterno, um dia tudo se tornará fogo. O sol seria da
largura de um pé humano. A felicidade não está nos
prazeres do corpo. A morte é tudo que vemos
despertos, e tudo o que vemos dormindo é sono.
Existe a harmonia visível e a invisível. A alma não tem
limites, pois seu logos é profundo e aumenta
gradativamente. O pensar é comum a todos. A terra
cria tudo, e tudo volta para ela.
PITÁGORAS (século VI a.C.) Conhece-se muito pouco
sobre a vida desse filósofo, pois foi uma figura
legendária, e é difícil distinguir o que é verdade e o
que é mentira. Nasceu em Samos, em uma época em
que na Grécia estava instituído o culto ao deus
Dioniso. Os órficos (de Orfeu) acreditavam na
imortalidade
da
alma
e
em
reencarnação
(metempsicose), e para se livrar desse ciclo,
necessitavam da ajuda de Dioniso, deus libertador.
Pitágoras postulou como via de salvação em vez desse
deus, a matemática. Acreditava na divindade do
número. O um é o ponto, o dois determina a linha, o
três gera a superfície e o quatro produz o volume. Os
pitagóricos concebem todo o universo como um campo
em que se contrapõe o mesmo e o outro. É de
Pitágoras o teorema do triângulo retângulo. Fundou
uma seita, em que a salvação dependia de um esforço
humano subjetivo, e que tinha iniciação secreta. Os
números constituem a essência de todas as coisas
segundo sua doutrina, e são a verdade eterna. O
número perfeito é o dez, por causa do triângulo
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místico. Os astros são harmônicos. Foi Pitágoras que
inventou a palavra filosofia - (amizade ao saber).
PARMÊNIDES (+ ou - 544-450 a. C) filósofo da
escola eleática, da região de Eléia, hoje Vília, Itália. Foi
discípulo de Amínisas. Conheceu a filosofia de sua
época. Escreveu um poema, cujo preâmbulo tem duas
partes, a primeira trata da verdade, a segunda da
opinião. Suas conclusões são contrárias às de
Heráclito, seu contemporâneo. Na primeira parte do
poema proclama a razão absoluta, que é o
discurso
de uma deusa. Para se chegar à verdade não podemos
confiar nos dados empíricos, temos de recorrer à
razão. Desta forma nada pode mudar, só existe o ser,
imutável, eterno e único, em oposição ao não ser.
Teve como discípulo Zenão, também de Eléia.
EMPÉDOCLES (+ ou - 490- 435 a. C) natural de
Agrigento na Sicília. A democracia estava em fase de
implantação e ele a defendeu. Virou figura lendária,
um misto de cientista, de místico, de pitagórico e
órfico. Escreveu dois poemas. No primeiro apresenta
uma única visão do processo cosmogônico, e o
segundo é religioso. Refutou as teses que atribuem a
origem do universo a um único elemento. Identificou
quatro substâncias básicas, que ele chamou de raízes:
a água, a terra, o fogo e o ar. Tudo se consiste desses
quatro elementos, e as transformações que advêm a
eles seriam visíveis a olho nu.
DEMÓCRITO (+ ou - 460-370 a. C) nasceu em
Abdera (Trácia). Foi discípulo e sucessor de Leucipo,
desenvolveu sus teoria atomista e participou da escola
iniciada por seu mestre em sua terra natal. De sua
vida sabem-se poucas coisas seguras, mas fala-se que
viajou
muito,
recebeu
homenagens
de
seus
concidadãos. É famosa a tradição que lhe atribui um
riso constante, presente para qualquer coisa. É um dos
primeiros materialistas. Teria deixado cerca de
noventa obras. Para resolver o impasse surgido nas
teorias de Heráclito e Parmênides, desenvolve a teoria
de que tudo seria composto por partículas minúsculas
indivisíveis e invisíveis a olho nu, inclusive a alma. Os
átomos da alma se desintegrariam no momento da
morte. Portanto, não acredita na imortalidade da alma,
embora gostasse de Pitágoras. Trabalhou muito, dizia
que os trabalhos feitos de bom grado fazem mais leves
as cargas dos impostos a contragosto. Na sua filosofia,
o trabalho continuado torna-se
mais leve por causa
do átomo. Um trabalho bem feito e terminado dá mais
satisfação que o descanso, e um trabalho em que não
há retorno causa muito desprazer. O homem sensato
dosa a avareza com o gasto, e suporta com brandura
a pobreza. Quanto à forma, a emanação é igual às
coisas. Os átomos são indivisíveis, pois se fossem
divisíveis em partículas ainda menores. A natureza
acabaria por se diluir. E como nada pode surgir do
nada, são eternos. O movimento existe, pois o
pensamento é movimento, e também os átomos se
movem. Quando os átomos estão em equilíbrio, são
tão numerosos que não podem mais se mover, os
mais leves são
repelidos para o vazio exterior
(portanto, o vazio existe) e os outros permanecem
juntos, formando um conglomerado. Cada um desses
conglomerados que se separam das massas dos
corpos é um mundo, e existem infinitos mundos. Esta
é uma visão nietzscheana da teoria de Demócrito. A
essência da alma está na sua natureza animadora, de
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movimento. A alma é feita de átomos sutis, que se
movem, lisos e arredondados. O fogo faz parte da
essência do homem. Se a respiração cessa, o fogo
interior escapa, e ocorre a morte. O homem é infeliz
porque não conhece a natureza. Temos de nos
contentar com o mundo tal como ele é. Os átomos
constituem a explicação última da natureza. Foi o mais
lógico dos pré-socráticos.
ANÁXAGORAS (+ ou - 499-428 a. C)- filósofo da
escola jônica nascido na Ásia menor, foi o primeiro
filósofo a se transferir para Atenas, de onde foi banido
por considerar o sol uma pedra incandescente e a lua
uma Terra, negando a divindade desses corpos
celestes. Interessava-se muito por astronomia. Houve
um processo que acabou por condena-lo, apesar de
ser amigo de Péricles, seu mestre e protegido. Péricles
foi um grande líder político. Sócrates que nasceu cerca
de trinta anos depois de Anaxágoras também foi
condenado. Atenas considerava a novidade, a filosofia,
uma impiedade e ateísmo. Anaxágoras se recusava a
prestar culto aos grandes deuses gregos. Era filho de
Hegesibuldo. Disse que as coisas corpóreas eram
infinitas, e elas pareciam engendrar-se e destruir-se
pela combinação e dissolução. No início, todas as
coisas seriam infinitas em quantidade e pequenez, pois
o pequeno também era infinito. Toda a matéria estava
condensada. O ar e o éter são o maior conjunto de
coisas. Muitas coisas de todas as espécies são contidas
em todos os compostos e sementes. Em tudo há um
pouco de tudo. Em cada minúscula partícula, ou
semente, há uma parte de todas as coisas, pois todas
as coisas são formadas por essas sementes. Essas
coisas se resolviam e separavam pela força e rapidez,
a força é a rapidez que produz. E o espírito começou a
se mover, e em todo movimento havia uma
separação, e as partículas se desdobravam, o espírito
sempre é, sempre afirma. O compacto, o fluído, o frio
e o sombrio se colocaram onde se formou a terra, e o
ralo o quente e o seco forma para longe do éter. As
visões das coisas invisíveis são aparentes, a lua reflete
os raios de sol, em sua filosofia. E as coisas, que
estavam juntas foram separadas por esse espírito
inteligente e puro (nous), que ordenava a matéria e se
movia, separando os opostos e criando os seres
diferenciados. Os graus de inteligência dos seres
animados (animais e plantas) dependem da estrutura
do corpo em que o nous está ligado sem se misturar.
Para Hegel, Anaxágoras foi um sóbrio entre os ébrios.
Fundamenta sua crítica dizendo que ele foi o primeiro
a dizer que o pensamento é universal, em si e para si,
o puro pensamento é verdadeiro. Universal pela noção
de causalidade. Essa noção, se não é universal, se não
considera a coisa em si, costuma dizer coisas como: a
causa da existência do capim é servir de alimento para
os herbívoros, e a destes é servir de alimento para os
carnívoros, os troncos fluem para determinado lugar,
pois estão precisando deles lá e assim por diante. O
nous de Anaxágoras é universal, move-se para diante.
Cada idéia é um círculo de si mesma, e o bem
universal de sua espécie. O nous é a alma que a tudo
move, que liga e separa, uma atividade que põe uma
primeira determinação como subjetiva, mas essa é
feita objetiva, e assim se torna outra, e de novo esta
oposição é sobreposta, assim até o infinito. Isso é
dialética.
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pré-socráticos - Wagner Santos