UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS, CONTÁBEIS, ECONÔMICAS E DA COMUNICAÇÃO CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO LEILA REGINA DE OLIVEIRA BATISTA MANIFESTAÇÕES CULTURAIS EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR: O CASO IESA IJUÍ, RS 2012 1 LEILA REGINA DE OLIVEIRA BATISTA MANIFESTAÇÕES CULTURAIS EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR: O CASO IESA Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Desenvolvimento, como requisito final para obtenção do título de Mestre na linha de pesquisa Gestão de Organizações e Desenvolvimento da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ. Professora Orientadora: Drª. Enise Barth Teixeira Ijuí, RS 2012 2 Catalogação na Publicação B333m Batista, Leila Regina de Oliveira. Manifestações culturais em uma Instituição de Ensino Superior: o caso IESA / Leila Regina de Oliveira Batista. – Ijuí, 2012. – 140 f. : il. ; 29 cm. Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento. “Orientadora: Enise Barth Teixeira”. 1. Administração. 2. Cultura organizacional. 3. Instituição de Ensino Superior. I. Teixeira, Enise Barth. II. Título. III. Título: O caso IESA. CDU: 378 378.11 658 Tania Maria Kalaitzis Lima CRB10 / 1561 3 UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação MANIFESTAÇÕES CULTURAIS EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR: O CASO IESA elaborada por Leila Regina de Oliveira Batista como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento Banca Examinadora: Profa. Dra. Enise Barth Teixeira (UNIJUÍ): ________________________________________ Prof. Dr. Gilnei Luiz de Moura (UFSM): __________________________________________ Profa. Dra. Denize Grzybovski (UNIJUÍ): _________________________________________ Ijuí (RS), 20 de agosto de 2012. 4 AGRADECIMENTOS Para a conquista de um sonho, muitos são envolvidos. Não há como alcançá-lo de maneira solitária! Chega o momento de agradecer... ... a Deus, pela vida, pela saúde e pela proteção. A fé que tenho Nele me proporciona força, perseverança e garra para prosseguir em minha caminhada. ...aos meus pais e irmãos, pelos momentos difíceis em que não pude estar presente e que seguraram a barra, obrigada por tudo. A minha querida e sempre amada mãe(in memoriam) ...ao Luis, pelo companheirismo, estímulo e apoio constante. ...às minhas filhas, Nairana, Daiana e Ana Luísa, vocês são a razão da minha vida; amor incondicional. ...de maneira especial a minha orientadora, Profª Drª Enise Barth Teixeira, pelos valiosos ensinamentos, pelo incentivo, rigor, afeto e disponibilidade a mim dispensados; promotora de acolhida humana e profissional. ...à professora Lurdes Marlene Froemming, pela forma acolhedora com que me recebeu em meu primeiro contato com a Universidade. ...a todos os professores do mestrado pelo compartilhamento de saberes. ...à banca examinadora constituída pelos professores Drª Enise Barth Teixeira, Dr. Gilnei Luiz de Moura e Drª Denize Grzybovski, por disponibilizar seu precioso tempo para dar atenção a este trabalho. ..a todos os colegas de mestrado, funcionários e professores da UNIJUÍ, que de alguma forma, auxiliaram no desenvolvimento deste trabalho, bem como na finalização desta etapa acadêmica. ...à estimada Janete Guterres, pelo carinho e profissionalismo com que me atendeu. ...ao IESA, na pessoa do Diretor, Professor Júlio César Lindemann, pelo apreço e receptividade ao oportunizar que este trabalho de pesquisa se realizasse no Instituto, servindo de palco para a coleta de dados. ...aos colegas, técnicos administrativos, professores e administração do IESA, por aceitarem o convite de participar das entrevistas, oferecendo relevantes contribuições. ...ao professor Artur Hamerski pela correção do português. A todos o meu profundo e sincero agradecimento! 5 “Sabemos o que somos, mas não o que poderemos ser” William Shakespeare 6 RESUMO Organizações são espaços sociais repletos de normas, costumes, hábitos, regras sociais, desejos, emoções, significados e símbolos o que faz com que se diferenciem entre si e que influenciam e são influenciadas pelos indivíduos que delas fazem parte. Esse conjunto de pressupostos é chamado de Cultura Organizacional e é resultante do processo de interação entre os diversos atores sociais e destes com o meio em que a organização está inserida. Conhecer a Cultura Organizacional é importante, tanto para a gestão da organização, quanto para os colaboradores. A partir desse conhecimento fica evidente uma série de comportamentos que permitem um planejamento de ação coerente e uma atuação consistente. Esse fato, aliado à riqueza simbólica e significativa da Cultura Organizacional, fez com que este tema fosse escolhido para a presente dissertação. Buscou-se nesta pesquisa realizar uma análise das manifestações da cultura organizacional em uma Instituição de Ensino Superior, a fim de elucidar o seguinte problema: quais as manifestações culturais nas perspectivas integração, diferenciação e fragmentação, do modelo de Martin (2002), são identificadas nos grupos administração, professores e técnico-administrativos de uma Instituição de Ensino Superior? Para tanto, realizou-se uma pesquisa aplicada, de abordagem qualitativa, exploratória e descritiva, que buscou aporte no método etnográfico. Foi realizada, inicialmente, uma observação no interior da organização objeto de estudo e, em um segundo momento, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com 34 colaboradores da instituição, atuantes nos três grupos mencionados acima. Os dados foram interpretados à luz da análise de conteúdo. Os resultados da pesquisa comprovam que a integração é a perspectiva mais visualizada entre os colaboradores, embora subculturas possam ser apuradas, evidenciando a presença de diferenciação, especialmente no que concerne aos distintos setores. Além disso, existem manifestações não compartilhadas nem mesmo entre os setores, o que evidencia a presença de uma fragmentação na Cultura Organizacional. O estudo permitiu a confirmação de que é possível a abordagem conjunta dessa tríade de perspectivas em uma organização, além de comprovar que, mesmo em ambientes aparentemente harmônicos, elementos de fragmentação e diferenciação podem coexistir. Palavras-chave: Administração. Cultura Organizacional. Instituição de Ensino Superior. 7 ABSTRACT Organizations are social spaces filled with rules, customs, habits, social rules, desires, emotions, meanings and symbols that differentiate them from other organizations and that influence and are influenced by individuals who are an intrinsic part of them. This set of assumptions is called Organizational Culture, resulting from the interaction process between various social actors and the environment in which the organization operates. Knowing the organizational culture is important as much for the management of the organization as for the employees, since this knowledge is evident in a series of behaviors that allow a coherent plan of action and a consistent performance. This fact, coupled with the significant and symbolic richness of Organizational Culture, explains why this theme was chosen for this dissertation. We attempted to perform an analysis based on the study of manifestations of an organizational culture at an institution of Higher Education in order to answer the following question: what cultural evidences can be identified in the management, administrative employees and board of teachers, considering integration, differentiation and fragmentation as suggested by the model of Martin (2002) at a Higher Education Institution? Therefore, an applied research was carried out, adopting a qualitative, exploratory and descriptive approach, following the ethnographic method. We performed an initial observation in the organization under study followed by semi-structured interviews with 34 employees of the institution from three areas: administration, administration technicians and teaching. The collected data were submitted to content analysis. The results show that integration is the most perceived perspective among the employees, although subcultures may be identified, confirming the existence of differentiation, especially in relation to different sectors. In addition, there are manifestations that are not shared among the different sectors, signaling the existence of fragmentation in the organizational culture. The study confirms that it is possible a joint approach of this triad of perspectives in an organization demonstrating that fragmentation and differentiation may co-exist even in apparently harmonious environments. Key-words: Administration. Organizational Culture. Higher Education Institution. 8 LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES ANDIFES - Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior AUGM - Associação de Universidades do Grupo de Montevidéu CEFET’s - Centros Federais de Educação Tecnológica CNEG - Campanha Nacional dos Educandários Gratuitos CNEC – Campanha Nacional de Escolas da Comunidade CPA – Comissão Permanente de Avaliação CTG – Centro de Tradições Gauchas ELETROBRAS- Centrais Elétricas Brasileiras S.A. ELETROSUL – Centrais Elétricas do Sul do Brasil S.A. FADISA – Faculdade de Direito de Santo Ângelo FOPAG - Folha de Pagamento GEPOG - Grupo de Estudos e Pesquisas em Organizações, Gestão e Aprendizagem IESA – Instituto de Ensino Superior de Santo Ângelo. IFET’s - Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia INFOBIO – Informações Biomedicina IPSA - Instituto Penal de Santo Ângelo LAC - Laboratório Escola de Análises Clínicas LDB - Lei de Diretrizes e Bases MEC – Ministério de Educação NAF – Núcleo de Apoio Contábil e Fiscal NPJ - Núcleo de Prática Jurídica NDE – Núcleo Docente Estruturante OICs - Organizações Intensivas em Conhecimento PDI – Plano de Desenvolvimento Institucional 9 SUSEPE – Superintendência de Serviços Penitenciários UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul 10 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Quadro 1: Dimensões das Perspectivas de Integração, Diferenciação e Fragmentação. ......... 50 Quadro 2: Perfil dos colaboradores do IESA ........................................................................... 64 Quadro 3: Conceitos Obtidos Avaliações dos Cursos .............................................................. 71 Quadro 4: Como as coisas funcionam no IESA ....................................................................... 77 Quadro 5: Adequação da estrutura física e equipamentos ........................................................ 86 Quadro 6: Brincadeiras e piadas que as pessoas fazem ............................................................ 90 Quadro 7: Política de remuneração .......................................................................................... 94 Quadro 8: Relacionamento com os pares ................................................................................ 98 Quadro 9: Relacionamento com os superiores ....................................................................... 100 Quadro 10: Relacionamento com os professores .................................................................. 102 Quadro 11: Relacionamento com os técnico-administrativos ................................................ 103 Quadro 12: Como as coisas funcionam na organização ........................................................ 106 Quadro 13: Adequação da estrutura física e equipamentos .................................................... 107 Quadro 14: Brincadeiras e piadas que as pessoas fazem ........................................................ 108 Quadro 15: Política de remuneração ...................................................................................... 110 Quadro 16: Relacionamento com os pares ............................................................................ 111 Quadro 17: Relacionamento com os superiores ..................................................................... 113 Quadro 18: Relacionamento com os professores ................................................................... 114 Quadro 19: Relacionamento com os técnico-administrativos ................................................ 115 Quadro 20: Dimensões, categorias e as perspectivas ............................................................ 119 11 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 12 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO ................................................................... 15 1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA ................................................................................. 15 1.2 PROBLEMA ............................................................................................................. 16 1.3 OBJETIVOS ............................................................................................................. 16 1.3.1 Objetivo Geral ...................................................................................................... 16 1.3.2 Objetivos Específicos ........................................................................................... 17 1.4 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 17 2 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 19 2.1 ORGANIZAÇÕES .................................................................................................... 19 2.1.1 Organizações intensivas em conhecimento ......................................................... 24 2.1.2 Instituições de Educação Superior ...................................................................... 25 2.2 COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES ..................................... 30 2.3 CULTURA E CULTURA ORGANIZACIONAL ...................................................... 32 2.3.1 Cultura ................................................................................................................. 32 2.3.2 Cultura sob a perspectiva da Antropologia ........................................................ 34 2.3.3 Cultura Organizacional ....................................................................................... 38 2.3.4 Perspectivas de Cultura Organizacional segundo Martin ................................. 47 3 METODOLOGIA ...................................................................................................... 51 3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA .......................................................................... 52 3.2 O CAMPO DE ESTUDO .......................................................................................... 54 3.2.1 A entrada em campo ............................................................................................ 54 3.2.2 As entrevistas ....................................................................................................... 55 3.3 SUJEITOS DA PESQUISA ...................................................................................... 55 3.4 COLETA DE DADOS .............................................................................................. 58 3.5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ...................................................... 59 4 O INSTITUTO CENECISTA DE ENSINO SUPERIOR DE SANTO ÂNGELO ... 62 4.1 A REDE CNEC ........................................................................................................ 62 4.2 A HISTÓRIA DO IESA ............................................................................................ 63 4.3 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL COM INSTÂNCIAS DE DECISÃO .............. 65 4.4 ESTRUTURA FÍSICA E ACADÊMICA DO IESA .................................................. 69 12 5 CATEGORIAS E SUAS REVELAÇÕES NOS GRUPOS DE ATORES ................ 76 5.1 CATEGORIA 1: COMO AS COISAS FUNCIONAM POR AQUI ........................... 76 5.2 CATEGORIA 2: ADEQUAÇÃO DA ESTRUTURA FÍSICA E EQUIPAMENTOS . 86 5.3 CATEGORIA 3: BRINCADEIRAS E PIADAS QUE AS PESSOAS FAZEM .......... 90 5.4 CATEGORIA 4: POLÍTICA DE REMUNERAÇÃO ................................................ 94 5.5 CATEGORIA 5: RELACIONAMENTO ENTRE OS DIFERENTES ATORES........ 98 5.5.1 Relacionamento com os pares ............................................................................. 98 5.5.2 Relacionamento com os superiores ................................................................... 100 5.5.3 Relacionamento com os professores ................................................................. 102 5.5.4 Relacionamento com os técnico-administrativos .............................................. 103 5.6 INTERPRETAÇÕES COMPARTILHADAS E DIFERENTES CONFORME A VISÃO DOS TRÊS GRUPOS ...................................................................................... 105 5.6.1 Categoria 1: Como as coisas funcionam no IESA ............................................ 105 5.6.2 Categoria 2: Adequação da estrutura física e equipamentos ........................... 106 5.6.3 Categoria 3: Brincadeiras e piadas que as pessoas fazem ................................ 108 5.6.4 Categoria 4: Política de remuneração ............................................................... 109 5.6.5 Categoria 5: Relacionamento entre diferentes atores ...................................... 110 5.6.5.1 Relacionamento com os colegas de trabalho ..................................................... 111 5.6.5.2 Relacionamento com os superiores ................................................................... 113 5.6.5.3 Relacionamento com os professores .................................................................. 114 5.6.5.4 Relacionamento com os técnico-administrativos ............................................... 115 5.7 OS DIFERENTES GRUPOS SOB O FOCO DA INTEGRAÇÃO, DIFERENCIAÇÃO E FRAGMENTAÇÃO .................................................................................................. 116 5.7.1 Na perspectiva da integração ............................................................................ 117 5.7.2 Na perspectiva da diferenciação ........................................................................ 117 5.7.3 Na perspectiva da fragmentação ....................................................................... 118 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 121 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 127 APÊNDICE ................................................................................................................. 133 13 INTRODUÇÃO A organização é um espaço que constitui influência e é influenciada pela vivência dos atores que dela participam. É um espaço em que a racionalidade econômica se entretece com a subjetividade humana. Compreender uma organização e executar ações para alcançar os objetivos desejados é compreender normas, costumes, hábitos, regras sociais, desejos, emoções, significados e símbolos que a constituem; enfim, é entender as pessoas e as relações sociais que estabelecem e constroem a sua cultura. O contexto contemporâneo é caracterizado pela rapidez com que as transformações se processam, nos mais diversos âmbitos, sendo que nos ambientes organizacionais, essa situação não é diferente. A mudança e o desenvolvimento nas organizações, sobretudo no que concerne ao mundo do trabalho e da gestão, estão ocorrendo com grande velocidade, alterando esse panorama e trazendo à tona novas questões abordadas pelos estudos organizacionais, que as analisam e propõem distintas soluções. Esse quadro organizacional atual, marcado pela incerteza e competição, faz com que ocorram questionamentos por parte dos gestores, pesquisadores e estudiosos acerca das temáticas que envolvem a administração e, de modo particular, o comportamento humano no âmbito organizacional. É um campo dinâmico, por desenvolver inúmeras questões, direcionando o estudo a diversas áreas do conhecimento, analisando e propondo assuntos diversos relacionados ao ambiente interno das organizações. Estudiosos como Freitas (1991), Cavedon (2000), Jaime Jr. (2002), Mascarenhas et al., (2004), e Robbins (2009) apontam que, assim como os indivíduos, também as organizações possuem personalidades próprias, o que faz com que elas sejam caracterizadas como rígidas, amigáveis, sinceras, calorosas, inovadoras ou conservadoras. Freitas (1991) entende que a organização possui uma cultura única, porém está ancorada às manifestações culturais de cada indivíduo que a compõe. 14 As organizações geralmente são reconhecidas como ambientes complexos, ambíguos e repletos de paradoxos, aprender a lidar com essa complexidade é um desafio que se põe diante daqueles que constituem esse espaço. Compreender essa complexidade é uma forma positiva de forçar as pessoas a criar novas maneiras de organizar, equacionar e resolver conflitos organizacionais. Para isso, é importante verificar a cultura predominante em cada contexto organizacional. A cultura figura como um dos pontos chave para compreender as ações humanas, funcionando como um padrão coletivo que identifica os grupos e suas maneiras de sentir, pensar, perceber e agir. Esse olhar torna o estudo da cultura organizacional importante para se conhecer de maneira mais profunda e abrangente a complexidade da organização. Esse conhecimento acerca da organização e suas mais variadas especificidades é um norteador das ações; ou seja, é preciso entender o que se passa no contexto e de que forma se organiza a cultura organizacional para saber como agir. E, para tanto, é necessário atentar para o fato de que, assim como o indivíduo é influenciado pela organização, também a organização é influenciada pelo convívio das pessoas que dela fazem parte, pelas diferentes formas de pensar, atitudes e comportamentos apresentados. Frost et al. (1991) apresentam estudo sobre a reformulação de cultura organizacional, destacando-a sob as perspectivas de integração, diferenciação e fragmentação. Dessa pesquisa participou Martin que mais tarde, em 2002, publicou um trabalho voltado inteiramente à abordagem dessa tríade. Martin (2002) aborda que a interpretação da cultura de uma organização exige reconhecimento das ambiguidades que resultam das próprias experiências de cada pessoa que a compõe; não se pode atribuir apenas a noção de homogeneidade à cultura organizacional. Sustenta que a cultura da organização homogênea é composta, simultaneamente, pelas três perspectivas: integração, diferenciação e fragmentação. O reconhecimento, bem como a utilização de cada uma dessas perspectivas, permite a apreensão das manifestações culturais nas suas várias significações, eliminando ou minimizando aspectos de difícil compreensão. Nesse sentido, Cavedon e Fachin (2000), em seus estudos, comprovaram que é possível a abordagem conjunta dessas três perspectivas, uma vez que elas promovem uma integração das distintas significações culturais que existem nas organizações. A presente pesquisa busca realizar uma análise das manifestações da cultura do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo, pautando-se na abordagem de Martin (1992; 2002), que trata da cultura organizacional a partir das dimensões integração, diferenciação e fragmentação. Tem o intuito de melhor compreender atitudes e comportamentos dos atores sociais que refletem nos níveis de sua cultura tornando-a única. 15 Possibilita uma leitura significativa e abrangente do modo como os três grupos de atores pesquisados interpretam as manifestações culturais, o que permite um entendimento mais amplo da cultura organizacional, em seus distintos aspectos, na Instituição. Para tanto, estruturou-se esta dissertação em cinco capítulos, sendo que o primeiro apresenta informações gerais sobre a dissertação, tais como tema, problema de pesquisa, objetivos e justificativa. O segundo capítulo compõe-se do referencial teórico que dá embasamento ao tema, trazendo subcapítulos que versam a respeito das Organizações, do Comportamento Humano nas Organizações, Cultura, Cultura Organizacional e Organizações na era do conhecimento. Discute, também, alguns paradigmas da cultura organizacional na atualidade, bem como apresenta, de forma mais detalhada, as perspectivas de Martin (2002). Os procedimentos metodológicos quanto à classificação da pesquisa, o campo de estudo, os sujeitos da pesquisa, coleta e interpretação dos dados encontram-se no terceiro capítulo. O quarto capítulo aborda o contexto em estudo, trazendo informações sobre a Instituição de Ensino Superior na qual a pesquisa foi desenvolvida, tais como histórico, estrutura organizacional, estrutura física e outros pontos relevantes para o estudo sobre Cultura Organizacional. No quinto capítulo, são abordados os resultados da pesquisa e as discussões a respeito, sob a óptica da integração, diferenciação e fragmentação. 16 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO Cultura organizacional foi o tema escolhido para o desenvolvimento desta pesquisa, pela riqueza simbólica e significativa, cuja interpretação é relevante para o entendimento e compreensão da vida organizacional. Este capítulo apresenta a contextualização do estudo, problema, objetivos, geral e específicos, e justificativa. 1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA Cultura organizacional compreende um “conjunto de pressupostos básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu, ao aprender a lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna” (SCHEIN, 2009). Trata-se do modo como as coisas são feitas dentro da empresa, focaliza o aspecto interno e relacional das organizações, não deixando de verificar também os clientes externos. Esses aspectos dão identidade à organização. Schein (2009) argumenta que a cultura de uma organização se refere a um sistema de valores compartilhados pelos membros que a compõem, o que a distingue de outras, tornandoa única. Fleury (2011, p. 117), por sua vez explica que a cultura é definida como “um conjunto de valores e pressupostos básicos expresso em elementos simbólicos”, atribui significações ao contexto e constrói a identidade organizacional. Pode ser concebida como todo complexo e multidimensional conjunto que compõe a vida em comum dos grupos sociais; ou seja, modos de pensar, agir e sentir que foram aprendidos e são partilhados por uma pluralidade, integrando as pessoas em um coletivo diferente de outros. Cavedon (2000) sustenta que a cultura se apresenta como um composto de incertezas, uma teia de significações que circula dentro e fora das organizações, apresentandose de forma simultânea. Assim, a cultura, muitas vezes, se contrapõe em suas significações, expondo incertezas e contradições demonstrando a verdadeira realidade da organização. A autora destaca que a vertente homogeneidade versus heterogeneidade no contexto organizacional traduz-se em importante estudo que aponta os fatores culturais como forma de entendimento das organizações. Este estudo se concentra nas manifestações da cultura organizacional em uma Instituição de Educação Superior, localizada no município de Santo Ângelo, na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Pauta-se na abordagem de Martin (1992, 2002, 17 2004), que trata a cultura organizacional a partir de uma tríade de perspectivas: integração, diferenciação e fragmentação. A perspectiva da integração compreende a cultura organizacional como as interpretações compartilhadas das manifestações culturais pelos membros de uma dada organização, de maneira clara, consistente e consensual. Enquanto a perspectiva da diferenciação é formada pela visão da cultura organizacional como um composto de subculturas, nas quais o consenso, a clareza e a consistência são encontradas somente nos limites internos. E na perspectiva da fragmentação, permeada por ambiguidades que perpassa toda a organização, o consenso e a consistência nas manifestações culturais são encontrados somente em determinadas circunstâncias e, portanto, não duradouros, mas passageiros. A utilização simultânea dessa tríade de perspectiva é viável para a análise e interpretação da cultura. Para Martin (1992), trata-se de um conjunto abrangente capaz de apreender as manifestações culturais em suas diversas significações e significados de modo a minimizar ou eliminar os pontos obscuros de cada perspectiva. 1.2 PROBLEMA A questão norteadora desta pesquisa é: Quais as manifestações culturais nas perspectivas integração, diferenciação e fragmentação, descritas por Martin (2002), são identificadas nos grupos administração, professores e técnicos administrativos de uma Instituição de Ensino Superior? 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo Geral Analisar as manifestações culturais compartilhadas, diferentes e fragmentadas, de acordo com a descrição de Martin (2002), no Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo, a partir da visão dos administradores, dos professores e dos técnico- administrativos. 18 1.3.2 Objetivos Específicos a) Verificar as interpretações culturais de cada grupo de atores com relação às manifestações culturais dos grupos da administração, dos técnico-administrativos e grupo dos professores da Instituição de Ensino Superior. b) Reconhecer as manifestações culturais que são compartilhadas e diferentes, com base em um comparativo entre os diferentes grupos pesquisados. c) Apurar as manifestações que correspondem à integração, diferenciação e fragmentação, conforme a tríade de Martin (2002). 1.4 JUSTIFICATIVA A escolha do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo – IESA - como objeto de estudo deu-se pelo fato de a instituição exercer influência no desenvolvimento em nível municipal e regional pelos serviços prestados e pela representatividade. Além disso, essa seleção se deu pela acessibilidade da pesquisadora à Instituição, uma vez que faz parte do quadro técnico-administrativo e docente do educandário, bem como pela sua percepção, como colaboradora, da relevância que representa reconhecer e compreender o modelo de cultura e as manifestações culturais que ali predominam. A importância também se estende ao alinhamento da pesquisa com a proposta do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento da UNIJUI. Há, ainda, valia teórico-empírica da pesquisa e sua relação à proposta, a qual tem como objetivo o desenvolvimento e consolidação da pesquisa, bem como da produção científica, por meio da formação de pesquisadores, docentes e outros profissionais qualificados para atuação na área de Ciências Sociais Aplicadas. Esse tema também se insere no Grupo de Estudos e Pesquisas em Organizações, Gestão e Aprendizagem – GEPOG, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, do qual a pesquisadora é integrante. Considerando que a cultura é fundamental para a vida e para o sucesso das organizações, faz-se necessário maior entendimento com relação a sua concepção. Ao se falar em cultura, está se fazendo uma referência ao processo de construção da realidade que permite às pessoas ver e compreender eventos, ações, objetos, expressões e situações particulares de maneiras distintas. Teóricos da Administração já se debruçaram sobre essa questão a fim de compreender como se apresenta a cultura nas empresas, como ela se constitui e constitui os 19 sujeitos que a compõem. Dentre esses estudos, estão os que abordam a temática da cultura organizacional nas perspectivas da integração, diferenciação e fragmentação, com aporte do método etnográfico em diferentes contextos empresariais. Faz-se referência, nesta pesquisa, às obras “Não se deve chorar pelo leite derramado: culturas organizacionais em empresa familiar no ramo leiteiro” (CREIDE, 2005); “Livros em festa”: a cultura organizacional da feira do livro de Porto Alegre (FERRAZ, 2006); “Empresa e família: instituições que se entretecem na continuidade de uma cultura organizacional” (SILVA, 2010); “Administração de luvas brancas: uma leitura das interpretações sobre as manifestações culturais em um hospital de Uberlândia”, MG (ÁVILA, 2007). O estudo foi oportuno e viável no momento pelo fato de estar sendo implantado um plano de carreira para administradores, técnico-administrativos e professores da Instituição, o que faz com que haja algumas alterações em seu quadro funcional. Destaca-e, também a importância da temática cultural, que ajuda a desmistificar a ideia de que o mundo dos negócios é movido tão somente por uma lógica pragmática, focando-se apenas nos custos e benefícios, nos objetivos e na impessoalidade. A dimensão simbólica nas organizações e nas diferentes formas de gestão, sob o olhar cultural, permite uma análise mais aprofundada e aproximada da realidade. A partir do estudo, buscou-se interpretar a cultura da Instituição de Ensino Superior de forma mais abrangente, apreendem-se as manifestações culturais em suas diversas significações e significados, permitindo uma maior profundidade sobre o universo do objeto de estudo. Para melhor compreensão do exposto e para fomentar reflexões e discussões mais sólidas, primeiramente, realizou-se revisão de literatura a fim de oferecer um aporte teórico sobre as principais questões de que trata esta pesquisa. 20 2 REFERENCIAL TEÓRICO O presente capítulo tem por finalidade resgatar na literatura estudos relacionados à cultura organizacional voltados à era do conhecimento e aprendizagem organizacional. Assim, está dividido em quatro subcapítulos, sendo que o primeiro trata das organizações, enfocando as organizações intensivas em conhecimento e as Instituições de Educação Superior. O segundo subcapítulo destina-se a uma discussão a respeito do comportamento humano e das relações estabelecidas no interior das organizações. Na sequência, o terceiro subcapítulo aborda a cultura e a cultura organizacional, trazendo uma análise antropológica desses conceitos, bem como os paradigmas da cultura organizacional, a importância da cultura no interior das organizações. Por fim, o quarto subcapítulo trata das perspectivas de Martin (2002), integração, diferenciação e fragmentação. 2.1 ORGANIZAÇÕES Quanto ao conceito de organização, é possível afirmar que se trata do modo pelo qual um grupo de pessoas, um sistema, uma associação ou uma instituição se organiza. Ocorre uma combinação de esforços individuais para realização de propósitos coletivos. Esse processo envolve não apenas pessoas, mas também máquinas e equipamentos, dinheiro, tempo, espaço e conhecimento (ROBBINS, 2000). As organizações não são uma invenção recente, permeando todo o tecido social moderno e configurando-se, indiscutivelmente, como o “tipo de sistema social predominante das sociedades industriais” (MOTTA; BRESSER PEREIRA, 2004, p. 1). Na visão de Etzioni (1980, p. 9), as organizações são “unidades sociais ou agrupamentos humanos intencionalmente construídos e reconstruídos, a fim de atingir objetivos específicos”. Em sua obra “Organizações Modernas”, cuja primeira edição data de 1964, Etzioni relata as conclusões de sua pesquisa sobre os distintos tipos de organizações. Classifica-as em três categorias, analisando e comparando o controle e autoridade. Na primeira categoria, estão as Organizações Especialistas, que requerem um alto nível de especialização das pessoas e nas quais predominam autoridade e técnica. Na segunda categoria, estão as Organizações Não Especializadas, cujas atividades se ligam à produção de bens e onde há definição de objetivos específicos e controle de metas. Já na terceira categoria estão as Organizações de Serviços que, como o próprio nome indica, realizam atividades de serviço, sendo que as pessoas não são vinculadas à organização, realizando apenas atividade temporária, que pode ser definida 21 por uma tarefa específica, o chamado vínculo por contrato. Existem outras formas de definir tipos e estruturas organizacionais. Mintzberg (2003) considera que existem cinco mecanismos básicos por meio dos quais as organizações coordenam seu trabalho: ajuste mútuo, supervisão direta, padronização dos processos de trabalho, padronização dos resultados do trabalho, padronização das habilidades dos trabalhadores. Esses são, para o autor, “os elementos mais básicos da estrutura, a ‘cola’ que mantém as organizações unidas” (p.14). O ajustamento mútuo obtém a coordenação do trabalho pelo simples processo de comunicação informal, sendo que o controle do trabalho permanece nas mãos dos operadores. A supervisão direta assume a coordenação e se dá quando uma pessoa assume a responsabilidade pelo trabalho de outras, fornecendo instruções e monitorando ações. Já os processos do trabalho são padronizados quando o conteúdo for especificado e programado. Do mesmo modo, os “outputs” são padronizados quando os resultados do trabalho são especificados, assim como as habilidades e conhecimentos, que podem ser ditos padronizados quando o tipo de treinamento exigido para o desempenho do trabalho for especificado (MINTZBERG, 2003). As organizações raramente são criadas para um fim em si mesmas, são instrumentos utilizados para se atingirem outros fins. Na visão de Morgan (1996, p. 24), “isso é refletido pelas origens da palavra organização que deriva do grego organon que significa uma ferramenta ou instrumento”. Pontua que a instrumentalidade evidenciada nas ideias sobre as atividades, metas, propósitos e objetivos veio fundamentar os conceitos organizacionais. É confirmada na prática de construção das grandes pirâmides, impérios, igrejas e armadas das primeiras organizações formais. A ideia de instrumentos e ferramentas como dispositivos mecânicos aparecem como uma espécie de facilitadores às atividades para um fim particular. Porém, foi com a Revolução Industrial e com a invenção das máquinas que o conceito organizacional tornou-se mecanizado. A escola estruturalista procurou determinar uma teoria mais abrangente, tomando a empresa como uma organização complexa, com grande interação social, com grupos sociais variados que, muitas vezes, têm objetivos diferentes dos predominantes na organização. Preocupou-se com o todo, com a interdependência entre as partes que o formam, fazendo com que esse todo fosse maior do que simplesmente a soma das partes (organizações), ou seja, o processo de gestalt. A gestalt seria um todo organizado em contraposição a um conjunto de partes (MOTTA; VASCONCELOS, 2006). 22 O enfoque da corrente estruturalista foi analisar as teses propostas pela abordagem clássica (formal) e pela abordagem humanística (informal), tentando reunir aspectos relevantes que já haviam sido abordados, mas de maneira fragmentada. Fez-se uma análise da organização por meio de estudo metodológico de sua estrutura, a partir da crítica das abordagens anteriores. Essas abordagens consideravam a organização como um sistema fechado, em que o bom funcionamento e o sucesso da organização residiam apenas no ajuste perfeito das partes, semelhante a uma máquina (modelo mecanicista), descrito por Morgan no livro Imagens da Organização, no capítulo em que aborda as organizações vistas como máquinas em um sentido metafórico (MORGAN, 1996). O pensamento weberiano entende que em uma empresa os cargos organizam-se de forma rigidamente hierárquica e normas e regras técnicas regulam a ação de cada cargo. A burocracia é um processo que busca organizar, de forma estável e duradoura, a cooperação de um grande número de indivíduos. Nesse contexto, cada um detém uma função especializada colocando uma linha divisória entre a vida pessoal, privada e familiar e a vida no trabalho (MOTTA; VASCONCELOS, 2006). Para os burocratas, definir o procedimento de cada um é uma maneira de evitar erros e tratamento injusto e desigual. Aranha (1996, p. 24) contrapõe, argumentando que: Os burocratas são especialistas na administração de coisas e de homens, atividade que parece ser exercida com objetividade e racionalidade. No entanto, essa imagem de neutralidade e eficácia da organização, como se ela tivesse por base um saber desinteressado e simplesmente competente, é ilusória. Na verdade, a burocracia resulta numa técnica social de dominação. Para Aranha (1996), a burocracia é um processo limitador do indivíduo não só porque não permite sua espontaneidade e iniciativa, mas também porque rouba-lhe a liberdade, submetendo-o a uma homogeneização em detrimento da eficiência e do controle. Além disso, impede-o de expor sua individualidade, imaginação, desejos e sentimentos. Esses aspectos chegam, muitas vezes, a afetar a vida familiar e afetiva do sujeito que está envolvido de maneira excessiva com o mundo do trabalho, com seus valores e exigências, tais como produtividade e desempenho. Estão ligados diretamente ao modelo burocrático, ainda presente em muitas organizações contemporâneas. Segundo estudos de Mintzberg (2003), existem, basicamente, cinco mecanismos de força que desenham as configurações básicas de uma organização, inclusive no tocante à burocracia exercida em cada um deles. São eles: 23 1) Centralização: onde há supervisão direta usada para tomada de decisão e a configuração é de estrutura simples. Nesse tipo de organização há uma centralização de poder, uma estrutura orgânica. Se por um lado o modelo em questão oferece a seus participantes o conforto de um líder que aponta os rumos a serem seguidos, por outro lado trata-se de um formato extremamente restritivo à criação e ao desenvolvimento de outro ente que não o líder. Uma das atribuições que falta à configuração da Estrutura Simples é a elaboração. Tal fato materializa-se na pequena estrutura, nos poucos assessores de apoio, na pobre divisão de trabalho e no escasso uso do planejamento como ferramenta de gestão. Em síntese, é a representação da negação da estrutura. 2) Padronização: o design dos padrões é a razão de ser, a estrutura por processos e a descentralização limitada. Esse tipo de organização é caracterizado pela altíssima especialização, tarefas operacionais rotinizadas e padronizadas com proliferação de normas e regulamentos. Há um núcleo operacional que requer mínima habilidade e pouco treinamento e um componente administrativo elaborado para estabelecer uma regulamentação estreita do trabalho operacional. Nessas estruturas emerge a burocracia mecanizada, sendo que normas e regulamentos permeiam por inteiro a organização, e a comunicação formal é promovida em todos os níveis. O processo de elaboração da estratégia é claramente um assunto de cima para baixo, com grande ênfase no planejamento para a ação, onde a cúpula formula e a linha intermediária e núcleo operacional implantam. 3) Profissionalização: o núcleo operacional procura minimizar a influência dos administradores, ocorrendo uma descentralização horizontal e vertical. Nessa estrutura, a organização é burocrática, sem ser centralizada. A base é a padronização das habilidades e treinamento dos associados que possuem considerável controle sobre o seu próprio trabalho. O profissional trabalha diretamente com os clientes a que serve. Essa configuração é comumente encontrada em hospitais, sistemas escolares, universidades e órgãos de trabalho social, organizações nas quais é necessária uma confiança nas habilidades dos profissionais para funcionalidade. O treinamento e a atualização são contínuos e nunca terminam. Existe uma especialização horizontal das tarefas, associada também a uma distribuição horizontal dos profissionais operacionais que compõem a base da estrutura organizativa. 4) Fragmentação: há uma concentração de poder na média gerência, o que fragmenta a organização e culmina em uma descentralização vertical limitada. Nesse tipo de organização há uma padronização dos outputs. Os gerentes na linha intermediária passam a retirar o poder da cúpula estratégica para baixo e, se necessário, do núcleo operacional para cima, ficando a coordenação (cúpula estratégica) restrita à padronização de suas saídas. O mecanismo de 24 coordenação é a padronização de resultados viabilizados por meio de sistema de controle de desempenho. As divisões são criadas conforme o mercado e, depois, assumem o controle sobre as funções operacionais exigidas para servir a esses mercados. 5) Colaboração: há uma assessoria experiente, que tem influência na tomada de decisões. A configuração estrutural desse tipo de organização é baseada na Adhocracia, na qual a assessoria é solicitada para a tomada de decisões em virtude da perícia; ou seja, os processos de informação e decisão fluem de forma flexível e informal. A Adhocracia deve contratar e dar poder aos especialistas profissionais cujos conhecimentos e habilidades são altamente desenvolvidos em programas de treinamento. Entretanto, diferentemente da Burocracia Profissional, a Adhocracia não pode confiar nas habilidades padronizadas desses especialistas para obter a coordenação, porque levaria à padronização em vez de à inovação. Ao contrário, deve tratar os conhecimentos e as habilidades existentes meramente como bases para construir outros novos. Nessas organizações, a união de esforços e o bom relacionamento entre a equipe multidisciplinar são pontos fundamentais. Nessas configurações organizacionais propostas por Mintzberg, existem, conforme supracitados, distintos tipos de burocracia: No processo de categorização, vemos diferenças fundamentais entre a Burocracia Mecanizada, a Burocracia Profissional e a Adhorcracia. A Burocracia Mecanizada é uma estrutura de propósito único; em face de um estímulo, executa sua sequência padronizada de programas, como ocorre quando levantamos a perna quando recebemos um toque no joelho. Nenhum diagnóstico está envolvido. Na burocracia Profissional, o diagnóstico é uma tarefa fundamental, mas está circunscrito. A organização procura combinar uma contingência predeterminada a um programa padrão. O diagnóstico sem limite predeterminado – que procura uma solução criativa a um problema exclusivo – requer uma terceira configuração, que denominamos Adhocracia. Nessa configuração, não há contingências ou programas padronizados (2003, p.217). Nesse sentido, a Burocracia Mecanizada baseia-se na autoridade de natureza hierárquica, ou seja, no poder de um cargo. Por sua vez a Burocracia Profissional está relacionada à autoridade conferida pelo conhecimento especializado e, portanto, torna-se, ao mesmo tempo, funcional e baseada no mercado. Na Adhocracia os distintos especialistas unem esforços, por meio de equipes multidisciplinares, para alcançar objetivos em torno de um projeto de inovação específico. É, dessa maneira, baseada no coletivo e na descentralização, sendo, por isso, chamada por Mintzberg de “estrutura do amanhã” (MINTZBERG, 2003, p. 304). Conforme Crozier (apud MOTTA; VASCONCELOS, 2006), a ação coletiva não é um fenômeno natural, trata-se de um construto social, ou seja, soluções construídas por um 25 grupo com interesses em comum. As soluções organizacionais são contingentes, indeterminadas e mudam com o tempo. A estrutura burocrática exercita jogos de poder entre os atores sociais. Morgan apresenta uma metáfora com as atitudes de interesses, conflitos e poder dentro de uma organização, convidando o leitor a compreender as organizações como sistemas políticos, ao afirmar que: Os administradores frequentemente falam sobre autoridade, poder e relações superior-subordinado. Não é preciso muita imaginação para reconhecer isto como aspectos políticos que envolvem as atividades daqueles que fazem as regras e aqueles que as seguem. Caso se desenvolva esta ideia, fica claro que se podem compreender as organizações como sistemas de governo que variam de acordo com os princípios políticos empregados (1996, p. 146). Assim como existem organizações em que prevalece o autoritarismo, o jogo de poder, a coalizão dominante, também existem as que podem ser vistas como modelo de democracia. Ambos os modelos estão formulados dentro de um processo político. Essa comparação feita entre a organização e a política de maneira metafórica pode trazer um aprendizado sobre os problemas e a legitimidade da administração como um processo de governo e sobre essa relação entre a organização e a sociedade. Dentro dessas perspectivas de organização, a forma como as pessoas se estruturam e são estruturadas em seus ambientes de trabalho vai construindo pouco a pouco a cultura organizacional. O presente estudo inclina-se a um modelo mais democrático, pautado na valorização do conhecimento, o que se constitui na maior riqueza da organização. Esse modelo está embasado no conceito de organizações intensivas em conhecimento. 2.1.1 Organizações intensivas em conhecimento Esse novo modelo de arquitetura organizacional que vem transformando as empresas surgiu por consequência da globalização e do desenvolvimento tecnológico. Conforme Angeloni e Fernandes (2000), há o surgimento de uma nova era, em que o conhecimento é considerado a maior fonte de riqueza para a organização. Os modelos taylorista e burocrático não se configuram nas Organizações Intensivas em Conhecimento (OICs). Eles devem ser abandonados para darem lugar a modelos contemporâneos como excelência/participativo. Nesse novo modelo de gestão a figura do gerente ou a equipe de gerência é vista com grande importância, uma vez que as decisões são descentralizadas e o poder pode ser compartilhado por todos. 26 Organizações Intensivas em Conhecimento diferem das demais por possuírem características próprias e terem como principal ativo a capacidade intelectual de seus colaboradores. Um dos desafios desse tipo de organização é tornar o conhecimento parte da sua cultura. Para isso, essas empresas precisam estar capacitadas a desaprender modelos que não mais servirão nas novas situações; ou seja, aqueles conhecimentos, valores e crenças que os prendem a modelos do passado. Mesmo que esses modelos tenham contribuído até agora, precisam ser descartados por estarem obsoletos. As OICs permitem substituir esses paradigmas por novos conhecimentos para inovar e reconstruir-se para os novos desafios, permitindo, assim, o seu crescimento, a partir de uma desaprendizagem organizacional (ANGELONI; FERNANDES, 2000). Para definir o termo “aprendizagem organizacional”, é preciso considerar que os processos inerentes começam no próprio indivíduo (SENGE, 2002), e é a partir dele que se propiciam a aprendizagem e o reforço ao desempenho organizacional. Aprender a aprender significa abrir espaço na mente para novas aprendizagens, eliminando modelos mentais que se fecham para aprender o novo, reformulando conceitos enraizados. A desconstrução de uma aprendizagem ultrapassada permite ao indivíduo reformular seus comportamentos e realizar mudanças. A desaprendizagem organizacional, enquanto metáfora, pode ser entendida como um processo que permite a empresa inovar. 2.1.2 Instituições de Educação Superior As Instituições de Educação Superior (IESs), objeto de estudo deste trabalho, são reconhecidas como sistemas sociais que têm o propósito de oferecer o ensino de terceiro grau, a pesquisa e a extensão. Podem apresentar-se sob a forma de instituições isoladas, cuja função é o ensino, ou como universidades. Também podem ser descritas como organizações universitárias, em que a prestação dos serviços educacionais faz parte de um processo que se iniciou há muito tempo, desde quando a educação é objeto de transformação do ser humano. Apresenta-se, a seguir, um histórico das Instituições de Ensino Superior, bem como as diferentes modalidades de instituições que desempenham este papel, nos dias de hoje, no país. No processo de evolução humana, a educação formal pode ser vista como uma maneira de dominação, uma vez que a classe dominante era preparada para falar e comandar, enquanto os dominados deveriam conviver com os dominadores e imitar a sua forma de trabalhar. Neste contexto de divisão de classes, surge a Universidade. A educação era privilégio dos ricos, garantindo, assim, a diferenciação social. 27 A sociedade contemporânea possui uma acentuada tendência para se transformar em uma sociedade do conhecimento, atuando a Educação Superior e a pesquisa como componentes fundamentais do desenvolvimento cultural e socioeconômico. O Ensino Superior, portanto, possui papel de destaque na transformação social dos indivíduos, das comunidades e das nações (SALOMÃO; LOPES, 2003). Dados históricos indicam que anteriormente ao ano de 1808 só era possível para um brasileiro realizar estudos superiores na Europa, mais precisamente em Coimbra – Portugal. Há relatos que teriam se diplomado até 1808 em torno de dois mil e quinhentos brasileiros. Nesta época em que o Brasil era colônia de Portugal, muitos esforços foram realizados pelos jesuítas, no sentido de criar uma universidade no Brasil, porém Portugal não permitia (LUCKESI et al., 2007; FÁVERO, 2006). O ensino superior é instituído no Brasil com a vinda de D. João VI para a Colônia. A fim de suprir as necessidades dos militares, criaram-se a academia, os cursos e as aulas régias, instalando-se, então, a Corte do Rio de Janeiro. A partir daí, nascem as seguintes Faculdades: de Medicina na Bahia e de Direito em São Paulo e Recife, nos anos de 1808 e 1854, respectivamente. Em meados de 1900, estava consolidado o ensino superior no Brasil em forma de Faculdade ou Escola Superior (FÁVERO, 2006). De acordo com Luckesi et al. (2007), por volta do ano de 1930, o Ensino Superior no Brasil sofre algumas alterações. Funda-se legalmente a Universidade a partir do ajuntamento de três ou mais faculdades, iniciando, então, com a Universidade de Minas Gerais que se reorganiza em 1933, e a Universidade de São Paulo em 1934. Em 1935, Anísio Teixeira idealiza uma Universidade brasileira com liberdade para debates e expressão de ideias, porém, veio a cair por terra com a chegada da ditadura, por ocasião da implantação do Estado Novo em 1937. Seguiram-se, então, os agrupamentos de faculdades e escolas até meados de 1960, quando renasce fortemente a ideia de Anísio Teixeira. Sob a liderança de Darcy Ribeiro, um grupo de intelectuais elabora um projeto e consegue convencer os governantes a fundar a Universidade de Brasília, gerada a partir de reflexões sobre os problemas nacionais, numa cidade nova em circunstâncias novas. Mas novamente surgem as forças contrárias à liberdade de expressão, impedindo o desenvolvimento (LUCKESI et al., 2007). Para ser reconhecida como universidade, uma instituição precisa contemplar alguns predicativos, o que faz com que a diferencie de outros modelos de estabelecimentos de ensino superior. A Constituição Federal brasileira em seu artigo 207 (BRASIL, 1988) trata da autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, 28 acrescentando que as universidades deverão obedecer ao princípio de indissociabilidade entre os três eixos, ensino, pesquisa e extensão. Esse princípio é respaldado pelo art. 8º do Decreto 3860 (BRASIL, 2001), que reconhece a Universidade como sendo aquela instituição que se caracteriza pela oferta regular de atividades de ensino, de pesquisa e de extensão. Atende ao que dispõem os arts. 52, 53 e 54 da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), as universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, autônomas e com estatutos jurídicos especiais, que devem realizar ensino, pesquisa e extensão. De acordo com a Lei 9.394 de 1996 (BRASIL, 1996), em seu art. 52, somente poderão ser criadas Universidades por credenciamento de instituições de ensino superior já credenciadas e em funcionamento regular, com qualidade comprovada em avaliação coordenada pelo Ministério da Educação. Falta uma palavra ver Além das universidades, existem, atualmente, no país, os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFETs), amparados pelo Decreto nº 5225 (BRASIL, 2004), que são os antigos Centros Federais de Educação Tecnológica CEFETs. O art. 11-A desse decreto estabelece esses educandários como sendo instituições de ensino superiores pluricurriculares, especializados na oferta de educação tecnológica em diferentes níveis e modalidades de ensino e se caracterizam por atuar prioritariamente na área tecnológica. Os Centros Universitários, por sua vez, são considerados instituições de ensino superior pluricurriculares e se caracterizam pela excelência do ensino oferecido. Isso se comprova pelo desempenho de seus cursos nas avaliações coordenadas pelo Ministério da Educação, pela qualificação dos professores e pelas condições de trabalho oferecidas aos acadêmicos. Existem, ainda, outras modalidades de instituição de ensino superior, estabelecidos pelo Decreto nº 3860 (BRASIL, 2004). As Faculdades Integradas, Faculdades de Tecnologias, Faculdades, Institutos e Escolas Superiores são definidas pelos arts. 12 e 13 como sendo instituições de ensino superior que possuem propostas curriculares em mais de uma área do conhecimento, organizadas para atuar com regimento comum e comando unificado. Para criar novos cursos superiores, as faculdades integradas e os institutos superiores e faculdades precisam de autorização do poder executivo. As faculdades não precisam ser pluricurriculares bem como não são obrigadas a desenvolver a pesquisa e a extensão. O art. 14 do mesmo decreto referencia os Institutos Superiores de eEducação com poderes para serem organizados como unidades acadêmicas de instituições de ensino superiores já credenciadas, devendo, 29 nesse caso, definir planos de desenvolvimento acadêmico. A instituição objeto de pesquisa insere-se no grupo dos Institutos Superiores de Educação. Em seu Capítulo IV, a LDB atenta, exclusivamente, para o ensino superior. No artigo 43 da referida legislação, podem ser encontrados os compromissos inerentes a esse nível de ensino: I - Estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo. II - Formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. III- Incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive. IV - Promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber por meio do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação. V - Suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração. VI - Estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados, à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade. VII - Promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição. Portanto, o ensino superior possui uma função que ultrapassa o instruir, passando pela formação de cidadãos críticos, capazes de atuar eticamente na sociedade da qual fazem parte. Isso porque a educação necessita acompanhar as mudanças ocorridas na sociedade, que, atualmente, requer indivíduos que sejam capazes de se inserir e atuar no mundo presente, estabelecendo relações éticas com diferentes atores sociais (SACRAMENTO et al., 2008; LOCATELLI; HENDGES, 2008). Numa discussão sobre modelos contemporâneos de ensino, Panizzi (2004), que está concluindo seu livro “Universidade: Um Debate Universal”, faz uma discussão acerca do processo de mercantilização do ensino a partir de uma perspectiva absolutamente contrária às 30 propostas dos países desenvolvidos. A autora enfatiza que o processo de ensino oferece educação e informação, todavia, esses aspectos colaboram para gerar riqueza material, o que permite criar emprego e desenvolver as pessoas. Além disso, um ensino superior com qualidade nos três eixos - ensino, pesquisa e extensão - possibilita a preservação da soberania, coloca o país em situação de igualdade com outros com tradição no ensino universitário, como é o caso dos países europeus. Essas ideias são defendidas por Panizzi, que participou da Paris+5 como integrante da Associação de Universidades do Grupo de Montevidéu (AUGM). Trata-se de consenso de universidades do Cone Sul, da América Central e Península Ibérica. Em entrevista, Panizzi explana: “Assinamos um documento no qual defendemos que a educação seja um instrumento para o crescimento moral e ético e que ela nos ajude a preservar nossa identidade” (2004, p. 3). Para a autora, as propostas do grupo foram bem-recebidas pela França, Canadá e países da Ásia e da África. Em uma explanação sobre reforma universitária em matéria publicada recentemente, a reitora Panizzi da UFRGS e então presidente da Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES), Panizzi, faz uma crítica a esse processo, afirmando: As universidades públicas perderam a liderança na oferta de vagas e hoje são definidas por alguns setores da opinião pública como instituições "elitistas" – um refúgio de servidores "privilegiados" dedicados à formação de "ricos" (2004, p.25). Esse entendimento refere-se ao baixo número de alunos que realmente não dispõem de recursos financeiros, e estão matriculados em universidades federais, o que não corresponde ao que foi definido pelo Plano Nacional de Educação. Esse plano prevê que as universidades federais devem atender, prioritariamente, a população com menos recursos financeiros. Neste subcapítulo, procurou-se apenas fazer um apanhado da evolução histórica da Universidade e das modalidades de instituições de ensino superior no país. Buscou-se situar a instituição de ensino superior, escopo desse trabalho, que também é reconhecida como uma organização social, que possui uma cultura e se caracteriza pelas manifestações daqueles que dela fazem parte em seu dia a dia. 31 2.2 COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES Mascarenhas et al. (2004) destacam que a origem e desenvolvimento da noção de compreender a forma de administrar empresas sob a óptica das relações e manifestações presentes no contexto organizacional teve consequência direta da Escola de Relações Humanas ocorrida no período entre 1927 a 1932, bem como as ideias baseadas nos princípios da Antropologia. A abordagem humanística surgiu como perspectiva que estuda a administração a partir da consideração de fatores que influenciam e explicam o comportamento humano no trabalho, de maneira contrária ao método que vinha sendo utilizado até então. Isto é, os teóricos humanistas não concordavam com o método taylorista. A teoria das relações humanas surge como consequência dos estudos e experiências realizados por professores da Universidade de Harvard na Western Electric Company, fábrica de equipamentos telefônicos em Hawthorne, tendo como principal articulador o cientista Elton Mayo. Análises sobre as relações humanas vão ficando mais complexas à medida que vai aumentando o conhecimento sobre o comportamento humano. Dessas concepções, resultam as grandes preocupações com a subjeção, a personalidade e adaptação, entre outros fatores (MOTTA; VASCONCELOS, 2006). Desse modo, considera-se que a característica “atitude e comportamento” em um profissional torna-se imprescindível, o que exige uma sistemática de treinamento voltada a desenvolver as habilidades comportamentais dos colaboradores, além das habilidades técnicas e operacionais. Afinal, as empresas são formadas por pessoas que interagem e se relacionam diariamente e têm objetivos e metas distintas, mas devem colaborar para alcançar os objetivos e metas organizacionais, bem como para a conquistar os clientes (ROBBINS, 2009). A Teoria das Relações Humanas preceitua que o homem é considerado um animal complexo dotado de necessidades complexas e diferenciadas. Essas necessidades orientam e dinamizam o comportamento humano em direção a certos objetivos pessoais. Assim que uma necessidade é satisfeita, logo surge outra em seu lugar, dentro de um processo contínuo, desde o nascimento até a morte das pessoas. Os autores behavioristas defendem que o administrador precisa conhecer as necessidades humanas para melhor compreender o comportamento humano e utilizar a motivação como poderoso meio para melhorar a qualidade de vida dentro das organizações (ROBBINS, 2009). Moretti (2003, p. 1-2), argumenta que: 32 (...) o ser humano traz consigo sentimentos, ambições; cria expectativas, envolve-se, busca o crescimento dentro daquilo que desenvolve e realiza. Então, é preciso que deixemos de lado aquela ideia de que o homem trabalha tão somente para a obtenção do salário, que nega seus sentimentos, que não se frustra com a falta de crescimento, que não se aborrece com o total descaso dos seus gestores que apenas lhe cobram a tarefa e não o orientam para a real situação da empresa, que lhe negam o acesso às informações, que o tratam apenas como uma pela a mais no processo de produção. É necessário que saibamos que, cada vez que ele entra na empresa, está entrando um “ser” integrado e indivisível, com direito a todos os sonhos de autoestima e autorrealização. As ciências do comportamento marcam, por meio da teoria comportamental, a mais profunda influência sobre a Administração, seja pelos novos conceitos sobre o homem e suas motivações ou sobre a organização de seus objetivos. O que se busca, em suma, são explicações para determinados elementos que permeiam o comportamento humano no interior das organizações. Entretanto, explicar o comportamento humano e seu significado é difícil, sobretudo de uma maneira puramente objetiva e exterior. Isso porque todo indivíduo possui uma subjetividade, uma história. Assim, é preciso entender o significado dos atos humanos e, para tanto, deve-se discutir com as pessoas, uma vez que o sentido que elas dão à sua ação é muito importante. O elemento humano no contexto organizacional é complexo, mas fundamental, para que se compreendam os variados aspectos de uma organização (CHANLAT, 2006). O comportamento humano nas organizações do século XXI vem sofrendo alterações por conta da velocidade com que estão ocorrendo mudanças no mundo organizacional. Isso tem provocado abalos nas relações e podem favorecer ou comprometer os resultados finais. Há um compromisso da gestão contemporânea das empresas no que tange a aspectos da dimensão humana que tem, no equilíbrio da dinâmica das relações, um dos seus fatores críticos de sucesso. Esse equilíbrio depende, sobretudo, do envolvimento das pessoas com os processos de trabalho. À empresa cabe o compromisso de estimular e facilitar percepções positivas por meio da promoção de ambientes relacionais saudáveis com capacidade para contribuir de forma efetiva na realização profissional individual (ROBBINS, 2009). Neste contexto, o funcionário deve apresentar-se como um ser crítico, criativo, com capacidade para desenvolver atividades de forma coletiva, ou seja, capaz de produzir e conviver em equipe. Esse perfil profissional sofre ainda a cobrança de um conhecimento polivalente, com especializações em diversas áreas afins com sua formação básica. Sua sobrevivência no mercado exige também que seja proativo, enérgico, perceptivo e perspicaz, que tenha capacidade de visão macro e atitude no ritmo que a pós-modernidade lhe impõe (ROBBINS, 2009). 33 Portanto, no contexto contemporâneo as organizações precisam estar formadas por indivíduos inquietos e competitivos que estabeleçam uma relação de interdependência entre si, e entre estes e a organização, como verdadeiros intraempreendedores. Aos gestores de recursos humanos, cabe a tarefa de encontrar no mercado os melhores talentos e que estejam plenamente identificados com a missão, os valores e a visão da organização. Assim, os profissionais deste século precisam ter uma visão global do negócio da organização ou empresa onde trabalha, são verdadeiros guardiães dos interesses da empresa, são os responsáveis incondicionais pela satisfação do cliente, mas devem receber de seus líderes o estímulo e a motivação (DUTRA, 2009). Do departamento de gestão de pessoas, espera-se que funcione como um agente de mudanças e que vá além do simples gerenciamento do capital humano, apoiando iniciativas e planos de ação que contribuam para a execução das estratégias e para o sucesso do trabalho. É sabido, porém, conforme Wood Jr. (2009), que as empresas passam por grandes dificuldades quando são obrigadas a operar mudanças radicais nas funções de recursos humanos. O homem é um sujeito bastante ativo diante das condições coercitivas do trabalho. O sentido dado a situações de trabalho (subjetividade) está amarrado à sua história de vida, à condição histórica e socioeconômica oferecidas pela realidade do sistema de valores organizacionais, que funciona como regulador do comportamento nas organizações. Automaticamente, ocorre uma alteração na cultura da organização. 2.3 CULTURA E CULTURA ORGANIZACIONAL A cultura é vista como característica, entre outras que a organização possui. Por outro lado a própria organização é vista como uma cultura. Para melhor entendimento é preciso primeiramente entender o que é cultura (MOTTA; VASCONCELOS, 2006). 2.3.1 Cultura O termo cultura, do vocábulo inglês Culture, foi referenciado pela primeira vez por Tylor (1832-1917), que utilizou essa palavra para conceituar o complexo que incluiria conhecimentos, crenças, valores, leis, costumes, expressões artísticas ou qualquer outro tipo de hábito que uma pessoa poderia adquirir ao integrar a uma sociedade. No entendimento de Laraia: 34 Tylor procurou, além disto, demonstrar que cultura pode ser objeto de um estudo sistemático, pois trata-se de um fenômeno natural que possui causas e regularidades, permitindo um estudo objetivo e uma análise capazes de proporcionar a formulação de leis sobre o processo cultural e a evolução (2005, p.30). Para Laraia (2005), as maneiras, os padrões existentes entre as civilizações ocorrem pela uniformidade de ação, e os vários graus existentes nessas ações podem ser vistos como os estágios de evolução e desenvolvimento da cultura. Morgan (1996, p. 115) acrescenta que a palavra “cultura” derivou metaforicamente da ideia de cultivo, da prática de movimentar a terra, destaca que “ao falar-se de cultura, refere-se tipicamente ao padrão de desenvolvimento refletido nos sistemas sociais de conhecimento, ideologia, valores, leis e rituais quotidianos”. A cultura fornece um referencial que permite aos atores dar sentido ao mundo em que vivem e às suas próprias ações (MOTTA; CALDAS, 2011). Ela define princípios, permitindo a ordem da sociedade em grupos distintos, desde os grupos totêmicos até as categorias de ordem profissional. Pode-se entender cultura como sendo um conjunto de pressupostos básicos compartilhados pelos membros de um grupo social, os padrões, os costumes e as leis tradicionais que são passadas de geração a geração. Nesse sentido, Lucas (2010) conceitua cultura como: (...) todo o conjunto de saberes, representações, símbolos, costumes e formas de vida compartilhadas (elaboradas comunitariamente) por uma coletividade de indivíduos e que a difere de outros grupos, reproduzindo uma concepção particular de sociedade. Seriam todos os comportamentos, costumes, imagens, regras e saberes que possibilitam definir os laços de lealdade e de pertença para com o outro semelhante, capaz de estabelecer as diferenciações com outros não integrantes de um mesmo grupo (p. 166). Todos os conceitos de um modo geral denotam uma espécie de direcionador, um padrão a ser seguido por um grupo de pessoas que se assemelham e o que lhes possibilita serem vistos diferentes de outros. Para Aktouf (1994, p. 51), “a cultura é um complexo coletivo feito de ‘representações mentais’ que ligam o imaterial e o material”. A cultura é algo vivo, ativo, por meio do qual as pessoas criam e recriam os cenários sociais nos quais atuam. Na visão de Morgan (1996), a cultura possui um caráter essencialmente humano, não podendo ser algo imposto, mas algo que se desenvolve durante a interação social. Schein (2003) reforça essa ideia destacando que a cultura é dinâmica e cerca os indivíduos em todos os momentos, é criada pelas relações estabelecidas entre os distintos 35 atores sociais e culmina em um conjunto de estruturas, rotinas, regras e normas que orientam e restringem o comportamento humano. Na comunidade santo-angelense na qual o IESA se situa, bem como nos municípios vizinhos, dos quais vêm muitos alunos, é perceptível o lugar que ocupa enquanto instituição de ensino superior. A cultura organizacional do IESA, construída ao longo da sua história, resultado das regras, rotinas, valores, modos de ser e agir diante das tarefas de ensino, pesquisa e extensão formaram a identidade da instituição. Essa identidade é reconhecida na região e se torna importante elemento no momento de o aluno optar por buscar uma vaga em um dos cursos que oferece. A seguir, discute-se a abordagem semiótica da Antropologia com base no método etnográfico que aparece como uma perspectiva que permite maior profundidade na busca de significados. Gera, com isso, conhecimentos válidos para os estudos organizacionais. 2.3.2 Cultura sob a perspectiva da Antropologia O estudo da Antropologia, no pensamento de Geertz (1989), teve forte influência no conceito de cultura, pelo fato de estar presente em diversas realidades, a exemplo a cultura da terra, a cultura microbiana e a cultura física (CUNCHE, 2002). Na visão de Cavedon (2003), a cultura se configura no maior diferencial entre os homens e os demais animais do planeta e com isso fornece maior contorno à antropologia. Para Geertz, o conceito de cultura é essencialmente semiótico e vem ao encontro do pensamento de Max Weber que defende que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu (GEERTZ, 1989). Weber concebe a cultura como um conjunto de significados que formam uma teia que o homem tece ao seu redor e que o amarra. Objetiva-se apreender os seus significados. A utilização da Antropologia para a análise organizacional deve-se ao fato de que esta área do conhecimento consegue abranger as dimensões da linguagem, do simbolismo, do espaço, do tempo e da cognição. A abordagem antropológica intensificou-se na década de 80, inclusive gerando críticas pelo uso acrítico, explicando tudo e qualquer coisa por meio do conceito de cultura. Porém, para seus defensores, o grande mérito desses estudos foi justamente chamar a atenção para a dimensão simbólica que permeia a organização e os seus grupos. A necessidade de encontrar os significados das relações entre os elementos da cultura de uma organização e que dão sentido ao quotidiano justifica o apelo ao estruturalismo, do qual Geertz (1989) é um dos representantes. 36 A descrição etnográfica, que se baseia nas palavras dos informantes e como o pesquisador as interpreta, constitui-se num dos métodos utilizados para entender a cultura. O pesquisador compartilha os significados juntamente com seus informantes; ou seja, aqueles que, na verdade, possuem o roteiro simbólico do que concebem e articulam logicamente entre suas visões de mundo (GEERTZ, 1989). Como por exemplo, o respeito rigoroso à visão que os nativos têm sobre os aspectos analisados (sobre si mesmos, seus conhecimentos e práticas cotidianas, sua concepção do mundo). A cultura organizacional analisada sob a óptica da Antropologia exige uma interpretação e decodificação da visão de mundo subjacente aos sistemas de gestão utilizados e praticados pelas organizações. A prática etnográfica estabelece relações, sendo assim, tratase de uma via de mão dupla, na qual o mesmo objeto ou fato deve ser visto e sentido da mesma forma, o que requer uma descrição densa do que se está diagnosticando. Segundo Geertz (1989, p. 21), "a cultura (está localizada) na mente e no coração dos homens". Estudiosos contemporâneos, tal como Schein, apresentam alguns modelos para diagnosticar a cultura organizacional. Para Schein, (2009), as categorias para investigar o universo cultural de uma organização são: analisar o teor e o processo de socialização dos novos membros; analisar as respostas a incidentes críticos da história da organização; analisar as crenças, valores e convicções dos criadores ou portadores da cultura e; explorar e analisar junto a pessoas de dentro da organização as observações surpreendentes descobertas durante as entrevistas. As categorias apresentadas por Schein (2009) vêm sendo utilizadas nas investigações sobre cultura organizacional. Inclusive chegou-se a algumas conclusões tais como: os fundadores da organização têm papel importante no processo de moldar seus padrões culturais; eles imprimem sua visão de mundo aos demais membros da organização e, também, sua visão do papel que a organização deve desempenhar no mundo. Cultura Organizacional é tema de grande recorrência em estudos e trabalhos acadêmicos nos últimos anos. Em função disso, as pesquisas nessa área contam com maior densidade teórica e metodológica, além de apresentarem novas propostas conceituais, técnicas mais apuradas de intervenção organizacional e revelarem o surgimento de categorias analíticas mais pertinentes ao universo empresarial. A proposta de um diálogo entre a Administração e a Antropologia por meio da utilização do método etnográfico surge na tentativa de compreender os fenômenos organizacionais (MASCARENHAS, 2002). Os primeiros estudos da Antropologia nas organizações se deram nos anos 20, no início do desenvolvimento da escola das relações humanas, com os experimentos realizados 37 numa fábrica em Hawthorne objetivando testar princípios da escola de administração científica. A partir de conceitos e técnicas da Antropologia, constatou-se a existência da organização social dos grupos de trabalho. Essas pesquisas em Hawthorne demonstraram haver discrepâncias entre a realidade dos trabalhadores e as premissas adotadas pela administração, concluíram que o administrador deve criar condições para a colaboração espontânea entre os trabalhadores, ampliando, assim seu comprometimento com as realizações da organização (MASCARENHAS, 2002). Todavia, uma maior necessidade de aproximação entre as áreas de Administração e Antropologia ocorreu nos últimos vinte anos, tendo como uma das razões principais a incorporação pela Administração de recursos metodológicos da Antropologia, como explica Mascarenhas (2002), quando afirma que as duas ciências têm preocupações teóricas muito distintas. A Administração é uma disciplina essencialmente prática e seus temas de análise são, em sua maioria, relacionados a variáveis encontradas dentro de organizações e que influenciam seus objetivos e resultados. Por outro lado, diferentemente da ação administrativa organizacional, a proposta antropológica não aponta para o uso instrumental ou intervencionista de suas descobertas. Entretanto, a aproximação dessas duas abordagens, para Mascarenhas (2002), muda o paradigma da organização como racional e repleta de fatos objetivos para a organização como um grupo, no qual significados são socialmente construídos, levando à utilização da abordagem interpretativa como uma maneira de compreender os fenômenos organizacionais. Para Serva e Jaime Jr. (2001), a postura antropológica nas pesquisas organizacionais traz inúmeras vantagens ao ultrapassar o empréstimo de sua opção epistemológica e adotar os métodos tradicionalmente utilizados na disciplina, visando ao aprofundamento do conhecimento sobre o homem no trabalho em suas diversas dimensões. Os autores defendem a postura antropológica como uma maneira de se superar a objetividade cega, característica da administração, que faz confundi-la com a organização “racional” do trabalho. A partir desse olhar antropológico, no início do século passado, surge uma das maiores e mais incisivas aplicações do método etnográfico. O pesquisador Bronislaw Malinowski passa uma longa temporada entre os nativos das ilhas Trobiand, na Oceania, desenvolvendo um estudo etnográfico apoiado na observação participante, o que veio a resultar no livro “Argonautas do Pacífico Ocidental”, considerado um clássico da disciplina antropológica. No entendimento de Malinowski, citado por Durham (1986), um trabalho etnográfico só terá valor científico evidente quando houver clara distinção entre os resultados da 38 observação direta e das declarações e interpretações nativas e as inferências do autor baseadas em seu próprio bom-senso e intuição psicológica. Na etnografia, o autor é, ao mesmo tempo, o seu próprio cronista e historiador; suas fontes de informação são, indubitavelmente, bastante acessíveis, mas também extremamente enganosas e complexas. Não estão incorporadas a documentos materiais fixos, mas sim ao comportamento e memória de seres humanos. Cavedon (1999) propõe uma definição para o método etnográfico, levando em consideração o privilégio de sua aplicação à Antropologia Social pelo fato de ele ter se originado exatamente naquela disciplina. Conforme a autora, quando se estuda cultura, normalmente remete-se ao método etnográfico, o que implica o aprofundamento das discussões em torno dele. O método etnográfico é aplicado pela Antropologia no estudo das culturas e é capaz de proporcionar uma leitura profunda da realidade que o pesquisador, no caso o etnógrafo, deseja apreender. Corresponde ao levantamento de todos os dados possíveis de uma comunidade, com o objetivo de investigar o estilo de vida daquele grupo e a cultura que ali prevalece. O método etnográfico possui as seguintes características: coleta de dados e registro das ações no seu local natural (ou seja, onde acontecem na realidade, e não em laboratórios ou em situações superficiais); participação do pesquisador em um contexto cultural específico; incorporação de múltiplas fontes de dados, entre as quais se encontram a observação (que pode ser participante ou não participante) e a entrevista (estruturada ou não estruturada). Essas características fazem com que o método etnográfico se diferencie de outros tipos de métodos. O estudo antropológico consiste na compreensão daquela cultura mediante a perspectiva dos integrantes da própria comunidade, seus valores e sua experiência de vida, ou seja, como essas pessoas vivem em seu dia a dia. Malinowski (apud DURHAN, 1986) enfatiza que o objetivo do pesquisador é apreender o ponto de vista dos nativos, seu relacionamento com a vida, sua visão de seu mundo. É tarefa do pesquisador estudar o homem. Deve, portanto, examinar tudo aquilo que mais intimamente lhe diz respeito, ou seja, o domínio que a vida exerce sobre ele. Uma cultura difere da outra, cada uma possui seus próprios valores; as pessoas têm suas próprias ambições, seguem seus próprios impulsos, desejam diferentes formas de felicidade. A familiarização do pesquisador com a cultura organizacional, o objeto do estudo e a interação social com o grupo, promove o estabelecimento da forma de trabalho e atuação da etnografia. Sendo assim, o estudioso utiliza as possibilidades que a pesquisa etnográfica 39 permite de interpretação da cultura, ao adentrar o seu sistema de significados, a sua forma de organização e como os membros se comportam. Para utilizar a abordagem antropológica no intuito de dar conta dos fenômenos empresariais, o investigador atua de forma microscópica sobre cada cultura, considerando abordar cada comunidade de forma singular. Com isso, é possível verificar o distanciamento de uma metodologia mais tradicional utilizada na Administração, fundada na investigação que tem em vista a generalização de cunho organizacional. Mascarenhas (2002) ainda esclarece que a compreensão da atuação do homem em ambiente organizacional é proporcionada pela postura antropológica e pode ser de extrema ajuda na gestão de empresas, na medida em que fornece ao administrador uma noção mais concreta das formas culturais e da lógica informal da vida real em outras esferas da organização, que não aquelas responsáveis pelas diretrizes da organização. Estudar a cultura com base na Antropologia exige dedicação e tempo do pesquisador, pois os recursos simbólicos e as metáforas organizacionais costumam revelar-se lentamente. É preciso, ainda, dedicação para organizar as informações advindas e estabelecer articulações sistemáticas dos dados objetivando escrever a história cultural daquela comunidade. Um dos recursos utilizados pela etnografia, conforme menção anterior, é a observação participante, que, segundo Serva e Jaime Jr. (2001) consiste numa situação de pesquisa em que observador e observado se encontram numa relação face a face e em que o processo da coleta de dados se dá no próprio ambiente natural de vida dos observados, vistos não mais como objetos de pesquisa, mas como sujeitos que interagem em um dado projeto de estudos. Esses sujeitos em suas interações fazem com que cada cultura seja diferente de uma organização para outra, tornando a cultura organizacional única. A Antropologia interpretativa permite o entendimento das organizações como um sistema de significados socialmente construídos e passíveis de interpretação, propiciando um método mais sofisticado para o estudo de cultura no ambiente organizacional, o qual permite uma apreensão da realidade organizacional em suas particularidades. 2.3.3 Cultura Organizacional Nas sociedades industriais, as organizações representam um sistema social muito importante que, como tal, possui sua própria cultura. No mundo contemporâneo, permeado por um cenário de mudanças e onde a competitividade é uma das palavras de ordem, conhecer 40 o formato de uma organização, ou seja, sua cultura é algo fundamental para entender de que forma ocorrem as relações entre o grupo que a compõe (SCHEIN, 2009; ETZIONI, 1980). Nessa perspectiva, pode-se argumentar que Cultura organizacional é um conjunto de valores, expressos em elementos simbólicos e em práticas organizacionais, que em sua capacidade de ordenar, atribuir significações, construir a identidade organizacional, tanto agem como elementos de comunicação e consenso, como expressam e instrumentalizam relações de dominação (FLEURY; FLEURY, 1997, p. 27). Esse elemento, portanto, não só constrói a identidade de uma empresa, significa ações, como também determina as relações que se dão nesse espaço, de dominação ou de colaboração. Morgan (1996, p. 141) entende que para conhecer a cultura organizacional é necessário se valer de um caráter interpretativo, destacando que: (...) é possível compreender a maneira pela qual uma organização dá sentido ao seu ambiente como um processo de reinterpretação do social. As organizações escolhem e estruturam o seu ambiente através de um conjunto de decisões interpretativas. O conhecimento que têm e as relações com o ambiente são extensões de sua cultura, desde que se chegue a saber e a compreender o ambiente a partir dos sistemas de crenças que guiam as interpretações e as ações. Entender uma organização como cultura demanda reconhecer que os indivíduos que dela fazem parte possuem um papel ativo na construção da realidade organizacional, bem como no desenvolvimento das interpretações experienciais. Freitas (2010) defende que reconhecer a cultura organizacional é mais simples quando se levam em consideração alguns elementos que a constituem, a forma como funcionam e as mudanças comportamentais que provocam. Esses elementos, tais como valores, crenças e pressupostos, ritos, rituais e cerimônias, sagas e heróis, histórias, tabus e normas são aspectos que irrigam a vida em grupo e que fazem a organização distinta de outras (SCHEIN, 2009). A definição e o entendimento de cultura organizacional é um assunto complexo, sendo que, para Freitas (2010), nas palavras de Schein (2009), encontra-se um dos conceitos mais claros e ricos da literatura. Portanto, para melhor entendimento do exposto, de acordo com Schein (2009, p. 16), cultura organizacional é: (...) um padrão de suposições básicas compartilhadas, que foi aprendido por um grupo à medida que solucionava seus problemas de adaptação externa e integração interna. Esse padrão tem funcionado bem o suficiente para ser 41 considerado válido e, por conseguinte, para ser ensinado aos novos membros como o modo correto de perceber, pensar e sentir-se em relação a esses problemas. A cultura de uma organização é um sistema de crenças e valores compartilhados, determinando o comportamento dos membros que os compartilham, demonstrando a ideia de interação, de relação entre as pessoas de um sistema social e o resultado dessas múltiplas maneiras de se relacionar. A cultura organizacional somente será formada se as pessoas se relacionarem, pois no momento em que elas se relacionam estão se comunicando, e havendo comunicação, há compreensão. O estudo da cultura organizacional é importante para se conhecer de maneira mais profunda e abrangente a complexidade da organização. Cultura e comunicação são vistas como pontos fundamentais ao ajuste de um sistema organizacional. Corroborando com essa ideia, Schein explana: Quando alguém introduz a cultura no plano da organização e de seus grupos internos, pode-se ver claramente como a cultura é criada, inserida, envolvida e, finalmente manipulada e, ao mesmo tempo, como restringe, estabiliza e fornece estrutura e significado aos membros do grupo (2009, p. 1). Além disso, a cultura organizacional possui uma dimensão política muito importante, sendo que os pressupostos básicos que dela fazem parte e são expressos em elementos simbólicos, tanto podem servir como fatores de comunicação e consenso, como recursos que ocultam e instrumentalizam as relações de dominação. Portanto, desvendar a cultura organizacional de uma instituição não é algo superficial, é necessário que o pesquisador conheça alguns temas, como o histórico da organização, seu processo de socialização e comunicação, a organização do processo de trabalho, entre outros, para ter condições de investigar esse fenômeno (FLEURY, 2011). Thévenet (1991) considera que a organização não só possui uma cultura, mas é, por si só, uma cultura. Assim, cada empresa possui elementos que lhe são inerentes e que podem ser descritos, ao mesmo tempo em que é uma sociedade humana, que apresenta um conjunto de significações que são criações coletivas e que afirmam sua existência. Nesse sentido, entende-se que os indivíduos criam a cultura organizacional, ao mesmo tempo em que são influenciados por ela, em uma relação de troca. Em um contexto mais amplo e levando em consideração essa relação, é necessário destacar que a cultura nacional possui influência na cultura organizacional. Isso porque os brasileiros possuem uma série de características, descritas por Freitas (2011, p. 39), como 42 “pressupostos básicos que cada indivíduo usa para enxergar a si mesmo como brasileiro”. Sendo as organizações subculturas dentro de uma cultura nacional, esses pressupostos contribuem imensamente para criar parâmetros de como pensar, agir e sentir dentro das organizações. Motta e Caldas explicam que: (...) toda sociedade, em maior ou menor medida, filtra e adiciona seu próprio “tempero” a ideias e tecnologias globalizantes, criando suas próprias versões, por sua vez, organizações também refiltram e retemperam essas ideias, costumes e valores, globalizados mas já nacionalizados, a sua própria maneira (2011, p. 18). Pode se verificar que a diversidade cultural é importante quando se estuda o clima organizacional. Assim como uma organização japonesa será distinta de uma organização brasileira, também uma organização do Rio Grande do Sul pode ter, e provavelmente terá, especificidades próprias da cultura local que a diferenciem, por exemplo, de uma organização do norte do país. Do mesmo modo, cada um dos indivíduos que fazem parte da empresa pode incorporar à cultura organizacional alguns os parâmetros de sua vida individual, sendo que o contrário também é verdadeiro. Chanlat (1995) e Morgan (1996) destacam que a cultura organizacional é socialmente construída e difícil de ser modificada, pois a partir dela se produzem normas de comportamento genericamente aceitas por todos. Segundo Mintzberg e colaboradores (2000), a força da cultura organizacional está no fato de ela legitimar crenças e valores compartilhados por todos os membros, constituindo, desse modo, a base da organização. Nesse sentido, Motta e Caldas entendem que: (...) a cultura é linguagem, é código. Ela fornece um referencial que permite aos atores dar um sentido ao mundo em que vivem e a suas próprias ações. Ela designa, classifica, liga, coloca em ordem. Define os princípios de classificação que permitem ordenar a sociedade em grupos distintos, desde os grupos totêmicos até as categorias profissionais. (...) Longe de fixar para cada um papéis dos quais não se pode escapar, a cultura influencia, assim, as orientações que tomam, no seio de cada conjunto social, os jogos estratégicos por meio dos quais cada indivíduo defende seus interesses e convicções (2011, p. 27). Partindo do princípio de que a cultura organizacional é construída, também, com base na cultura nacional, local e própria dos indivíduos que compõe a organização, ela pode ser entendida como um sistema, do qual fazem parte pessoas, comportamentos, ideias, objetos e processos. Esse conceito é posto por Luppi (1995) que argumenta que, embora a cultura de 43 uma organização seja flexível e possua certa plasticidade interna, mudá-la não é uma tarefa fácil. Para Luppi (1995), a cultura é resultado das interações entre as pessoas e não se pode mudar os indivíduos. O que se pode é criar situações externas que motivem essa mudança. Assim, a aprendizagem surge como um elemento muito importante, ao passo que permite que os colaboradores criem novos padrões de pensamento, voltados para uma visão contínua de ampliação de conhecimentos. É válido lembrar que para Andrade e Amboni: Uma organização que aprende não apenas cria novos modos de pensar, mas também incorpora novos conhecimentos para a realização do trabalho. [...] é habilidosa na criação, na aquisição e na transferência de conhecimento e na modificação de seu comportamento para refletir o novo saber e as novas ideias. Essas atividades de aprendizagem resultam em organizações mais inteligentes (2007, p. 224). O ato de incentivar a aprendizagem coletiva faz com que se crie um ambiente aberto a inovações, possibilitando liberdade para um processo de mudança seguro, o que faz com que a organização seja vista como fator mediador e integrador do desenvolvimento de conhecimento e da realização pessoal de todos os colaboradores da empresa. A aprendizagem organizacional pode ser vista como uma das diversas variáveis existentes para se chegar à organização do conhecimento, ou seja, trata-se de uma espécie de alavanca para as transformações dentro da organização. Pode se dizer que são maneiras ou formas utilizadas para a construção, suplementação, manutenção e organização do conhecimento e das rotinas das atividades exercidas pelos colaboradores. Nessa linha de pensamento, Fernandes ressalta que: A aprendizagem vem sendo apontada como uma forma de fazer frente às constantes e rápidas mudanças pelas quais as organizações vêm passando nos últimos tempos, bem como uma maneira de enfrentar as transformações futuras. Assim, faz-se necessário que as empresas passem a compreendê-la, bem como a gerenciá-la (2003, p. 7). As organizações de conhecimento são vistas como um conjunto de variáveis que atuam com dinamismo e interação constante, como um ciclo de renovações, diferentemente do paradigma cartesiano. A respeito disso, Sveiby (1998, p. 2) reforça: “antes de gerenciar ou avaliar os ativos intangíveis de uma empresa, devemos ser capazes de ‘ver’ uma organização como uma organização do conhecimento, isto é, ver a empresa do ponto de vista do conhecimento” [...]. Para isso, é preciso que haja mudanças, sobretudo mudanças mentais. 44 Os gestores percebem que o aprendizado, o conhecimento, a especialização e a experiência geram vantagens competitivas às empresas. É preciso, sobretudo, criar uma cultura de aprendizagem continuada dentro da organização. A esses profissionais, cabe o papel de criadores de espaços e oportunidades para o processo de aprendizagem contínua, tanto para si como para seu grupo de colaboradores, de modo que não haja separação entre o fazer e o aprender. Essa é uma técnica moderna de gestão de pessoas para o desenvolvimento contínuo de seus atores sociais (SVEIBY, 1998). Gestores são vistos como principais agentes de transformação dos ambientes organizacionais e precisam encontrar mecanismos que venham, conforme Fernandes (2003, p. 9), “facilitar, alimentar e alavancar o conhecimento das pessoas, maximizando a aprendizagem e incentivando-as a se tornarem pensadores independentes, capazes de julgar a qualidade de suas próprias ideias [...]”, de modo que os processos possam fluir naturalmente com ou sem a presença de chefes ou superiores. Fernandes (2003) destaca que a visão de que o gestor era o planejador, organizador, direcionador e controlador está ultrapassada diante do processo de mudanças de panorama ocorrido a todo instante no mundo das organizações. Mintzberg traz importante contribuição a respeito do papel dos gerentes, faz um questionamento a ideia de Fayol de que administradores apenas planejam, organizam, dirigem e controlam. A estes profissionais cabem outras responsabilidades gerenciais. Mintzberg propôs uma abordagem que trata da atividade do trabalho gerencial, focando os papéis dos gerentes: Interpessoais (representante, líder e ligação), Informacionais (monitor, disseminador e interlocutor) e Decisórios (empreendedor, solucionador de distúrbios, alocador de recursos e negociador). Esses papéis dos gerentes podem variar, dependendo de seu nível na organização, sendo mais ou menos evidente um ou outro papel. Esses profissionais costumam exercer diversos papéis (líder, árbitro, perito, avaliador, iniciador) junto a diferentes constituintes da empresa ou da sociedade (MINTZBERG, 1973). Segundo Wood Jr. (2009), em ambientes complexos o tratamento puramente racional da realidade mostra seus limites e o trabalho passa a ser caracterizado por uma alta intensidade de abstração. O gestor de hoje deve atuar com flexibilidade, inspiração e criatividade. Deve valorizar o trabalho em grupo e a comunicação na empresa como um todo. Ele deve, na verdade, ser um líder, exercendo, como argumenta Fernandes, 45 o papel de catalisador do processo cíclico da aprendizagem, favorecendo tanto as pessoas quanto a organização, desenvolvendo não apenas habilidades técnicas e comportamentais mas, sobretudo, a capacidade de aprender continuamente (2003, p. 9). O gestor tende a ser um projetista, um guia e um professor nos processos de aprendizagem, conforme Senge (1998). Deve ser claro em suas ideias, proporcionando segurança aos colaboradores, de forma que esses sejam peças importantes na solução de problemas dentro da organização. Andrade e Amboni acrescentam: A forma de ser de uma empresa é determinada por sua cultura. Como as pessoas pensam e agem é o resultado do pensamento coletivo circulante nas interações em todos os níveis. [...] Na condição de organizações em aprendizagem, as empresas começam a perceber que ‘interdependência’ é o fator mais importante na circulação de informações. Estudar e praticar constantemente representa a base sobre a qual a informação pode evoluir. Saber que a ‘aprendizagem’ não tem fim completa o ciclo do sucesso (2007, p. 223). Para Fernandes, o que distingue realmente um gestor de organizações voltadas para a aprendizagem contínua e ampliação de conhecimentos “é a clareza de suas ideias, a profundidade de seu empenho e a sua disposição para aprender cada vez mais” (2003, p. 9). As empresas intensivas em conhecimento são consideradas, de acordo com Nadai e Calado (2005) organismos que possuem capacidade para produzir, gerir, acumular e trocar conhecimentos. Em sua estrutura, devem emergir características de aprendizagem organizacional. Suas práticas e ambientes devem ser propícios à aprendizagem no sentido de melhorar cada vez mais aquilo que consideram seu valor maior: o conhecimento. Existe no mercado, hoje, uma acirrada competição, o que exige que as organizações sejam capazes de desenvolver e gerenciar, de forma eficaz, seus recursos, sejam eles financeiros, estruturais ou humanos. Alguns gestores ainda preferem dar predominância às abordagens que veem o capital como o principal recurso a ser gerenciado, porém, na economia baseada na informação e de serviço intensivo, atributos como rapidez, flexibilidade, inovação e pessoal capacitado tornam-se, cada vez mais, aspectos essenciais para que as organizações possam competir. Para Fleury e Oliveira (2001), o conhecimento organizacional é reconhecido como um ativo invisível que, uma vez enraizado na história e na cultura da empresa, não pode ser negociado, nem tampouco copiado por competidores. O conhecimento vai sendo acumulado de forma gradual ao longo do tempo e quanto mais específico à empresa ele for, mais durável será e se tornará difícil de ser imitado por outras organizações, criando, assim, uma estratégia forte à empresa. 46 Diante dessa realidade, o conhecimento deve ser considerado um recurso estratégico valioso para o estabelecimento de uma vantagem competitiva sustentável nas organizações. Porém, nas organizações intensivas em conhecimento, como são as instituições de ensino, torna-se um atributo essencial, destacando-se o conhecimento adquirido a partir de aprendizagem organizacional continuada. Fleury e Oliveira acreditam que o conhecimento da empresa é fruto das interações que ocorrem no ambiente de negócios e que são desenvolvidas por meio de processos de aprendizagem. O conhecimento pode ser entendido também como informação associada à experiência, intuição e valores (2001, p. 18). Esse conhecimento é considerado a base das competências essenciais da empresa, uma vez que ele não pertence a uma só pessoa e sim a um grupo de pessoas. Ele é tácito e não explícito porque está na cabeça das pessoas, na organização e não em normas escritas. Fleury e Oliveira (2001) acrescentam que as competências essenciais são consideradas “conjuntos de conhecimento tácito e coletivo, desenvolvidos por meio de processos de aprendizagem e que constituem uma fonte de vantagem competitiva para a empresa”. Para Sveiby (1998), as pessoas são consideradas os únicos e verdadeiros agentes da empresa. Todas as estruturas e ativos, sejam tangíveis ou intangíveis, são oriundos do somatório das ações humanas. Tudo gira em torno das pessoas em uma organização. O autor completa “as pessoas estão constantemente se expandindo em seu mundo por meios tangíveis, como quando cultivam jardins ou compram casas e carros, e por meios intangíveis, como quando geram ideias e desenvolvem relações com empresas e outras pessoas”. A capacidade humana de gerar conhecimento é infinita. As organizações passam por um momento de grande turbulência e imprevisibilidade por conta da globalização, da era da informação, da era da biotecnologia, da abertura das fronteiras, e assim por diante. Obrigam-se elas a tornarem-se cada vez mais organizações baseadas em conhecimento, pois, não se sabe ao certo como será o mundo de amanhã, sabe-se sim, que será diferente, complexo, com mudanças cada vez mais rápidas e culturas diversas (SCHEIN, 2009). Esse quadro de incertezas no qual as organizações tomam suas decisões tem feito com que seja constante a busca por maior flexibilidade a fim de terem condições de responder mais facilmente às mudanças, por pressupor uma estratégia de permanente inovação. O desenvolvimento dessa flexibilidade passa pelo estímulo ao aprendizado contínuo como 47 propulsor de novas ideias e de respostas rápidas a estas, de forma a construir diferenciais competitivos (PIORE; SABEL, 1984). Há, com tudo isso, que se fazer uma reflexão acerca do modelo mais apropriado para gerir e liderar essas organizações. Estudos apontam que as organizações bem como seus líderes deverão tornar-se eternos aprendizes. E quando se fala em aprendizagem perpétua num contexto de análise cultural, cria-se um verdadeiro paradoxo: como manter uma cultura de aprendizagem organizacional e um ambiente pautado por uma cultura forte? (SCHEIN, 2009). A cultura forte constitui-se de fronteiras bem delimitadas, consolidadas construindo de certa forma a própria identidade da organização, o que torna difícil o processo de mudança. Em contrapartida, um processo de aprendizagem contínua só terá êxito em um contexto de flexibilidade, mudança, transformações constantes, tomada de decisões mais rápidas. Tal paradoxo faz surgir inúmeros questionamentos a consultores e pensadores da administração, em especial àqueles que defendem a cultura forte como algo desejável para as bases de desempenho duradouro e efetivo. Schein pontua da seguinte forma: Se o mundo está tornando-se mais turbulento, exigindo maior flexibilidade e aprendizagem, isso não implica que as culturas fortes, crescentemente, se tornarão um passivo? Isso não significa, então que o processo de criação cultural é potencialmente disfuncional por estabilizar as coisas, enquanto a flexibilidade pode ser mais apropriada? Ou é possível imaginar uma cultura que, por sua natureza, seja orientada à aprendizagem, adaptativa e flexível? Pode-se estabilizar a aprendizagem e a flexibilidade perpétuas? Com o que parece uma cultura que favoreceu a aprendizagem e a flexibilidade perpétuas? (2009, p. 367368). Morgan (1996) e Schein (2009) ressaltam que o papel do líder é fundamental no planejamento de mudança, no incentivo à formação de equipes, na superação das resistências, no incentivo à criatividade e na participação das pessoas. É preciso, mudar a cultura, de uma organização tradicional para uma organização intensiva em conhecimento. Entre as várias abordagens referentes à Cultura organizacional, estão a de Schein (1993) que conceitua a cultura como uma variável que muda com o passar do tempo e a de Linda (1983) que entende que a própria organização é uma cultura. A presente dissertação pautou-se na abordagem de Martin que defende que a cultura de uma organização é heterogênea, formada pelas perspectivas da integração, diferenciação e fragmentação. A seguir, apresenta-se a Cultura Organizacional na ótica de Martin (2002). 48 2.3.4 Perspectivas de Cultura Organizacional segundo Martin A interpretação da cultura de uma organização, na visão de Martin (2002), exige reconhecimento das ambiguidades resultantes das experiências que são próprias de cada indivíduo que a compõe, não sendo possível, assim, ser atribuída à cultura organizacional uma noção que remete apenas à homogeneidade. Propõe-se que a cultura organizacional é heterogênea e composta de forma simultânea por três perspectivas: a integração, formada pelo consenso, claridade e consistência das manifestações; a diferenciação, em que o consenso, claridade e consistência existem, mas estão presentes apenas em grupos, formando subculturas; e a fragmentação, que compreende a cultura organizacional como permeada pelas ambiguidades, em que o consenso, a clareza e a consistência existem em determinadas circunstâncias, sendo pouco duradouros e passageiros. O reconhecimento dessas três perspectivas permite a apreensão das manifestações culturais nas suas várias significações, eliminando ou minimizando os aspectos de difícil compreensão, quando da utilização de cada uma isoladamente, como pode ser visualizado no Quadro 1: Em relação à perspectiva de integração, as investigações realizadas têm três características definidas: todas as manifestações culturais são consistentes e contribuem para reforçar os mesmos aspectos; todos os membros da organização partilham dos mesmos valores, existindo entre eles um amplo consenso; a cultura é descrita como um reino onde tudo está claro, não existe ambiguidade. A integração apresenta manifestações culturais de interpretações mutuamente consistentes e é pautada pela harmonia e homogeneidade. O consenso está presente em toda a organização, mas, embora seja uma característica da integração, não é necessário que seja unânime e que perdure durante toda vida da organização. De outra forma, as investigações, desenvolvidas sob a óptica da diferenciação, descrevem as várias manifestações culturais como inconsistentes, o consenso só se atinge dentro dos limites que definem cada subcultura, sendo frequentes os conflitos dentro dela. A ambiguidade é canalizada para que nenhum caso perturbe a clareza que existe dentro dos limites das distintas subculturas, motivo pelo qual muitas organizações são vistas como multiculturais. Alguns autores percebem a cultura da diferenciação como sendo a integração em um nível mais baixo de análise das subculturas. Finalmente, os estudos realizados sob a perspectiva de fragmentação centram-se na ambiguidade, caracterizando-a como a essência da cultura organizacional. O consenso e o 49 dissenso aos assuntos específicos flutuam constantemente. Não existem organizações com um consenso amplo nem mesmo subcultural. Na fragmentação, a existência de paradoxos e contradições é considerada normal. Existe uma multiplicidade de interpretações que não coincidem com o consenso coletivo característico da integração e também não criam o consenso subcultural que é o foco da perspectiva da diferenciação. Ao se tratar de fragmentação, a ambiguidade inclui os significados múltiplos, contraditórios, os paradoxos, as ironias e as tensões. O paradigma de integração – estudos desenvolvidos sob esta perspectiva - inclui um conjunto de elementos (normalmente valores e assunções) descritos como partilhados por todos os membros incluídos numa cultura, existindo um amplo consenso organizacional. Muitos estudos de integração apresentam os líderes da organização como criadores e modificadores da cultura que, além disso, têm a capacidade de prever e promover uma cultura que inspire intensa lealdade, forte compromisso, produtividade crescente e, em algumas ocasiões, maior rentabilidade. Os estudos realizados sob essa perspectiva têm em comum três características: 1- Um consenso organizacional generalizado, referido a uma existência de uma série de valores e assunções básicas partilhadas pela generalidade dos membros da empresa. 2- Consistência, referida à ideia que os elementos centrais da cultura devem materializar-se de maneira consistente numa ampla variedade de manifestações culturais. 3- Clareza, entendida como os membros da organização sabem o que têm que fazer e por que vale a pena fazê-lo, de modo que não se caia na ambiguidade. O paradigma de diferenciação – a unidade aparente da perspectiva de integração esconde um conjunto de subculturas organizacionais misturadas entre si. As subculturas coexistem, às vezes em harmonia, às vezes em conflito, e outras vezes com certa indiferença entre si. A perspectiva de diferenciação trata de manifestar os esquemas de poder nas organizações, de reconhecer a existência de conflito de interesse entre os grupos integrados na organização e de prestar atenção a diferenças de opinião que possam existir. Sob esta perspectiva de diferenciação, a cultura organizacional caracteriza-se, fundamentalmente, por três aspectos: inconsistência, consenso subcultural e limitação da existência de ambiguidade à determinação das fronteiras subculturais. 1 – Inconsistência, à volta dos valores e assunções, assim como das práticas e modas mais comuns. Este tipo de estudos culturais oferece interpretações inconsistentes com as manifestações culturais, agrupando essas inconsistências em três categorias distintas: de ação, simbólica e ideológica. 50 2 – Consenso subcultural, que, em nenhum caso, tem que resultar em consenso organizacional. 3 – Limitação da ambiguidade. Os estudos culturais de diferenciação destacam a existência de clareza subcultural. Assim, conceituam uma subcultura como um sistema coerente de significados (LOUIS, 1983, p. 43) ou como um sistema de soluções a um conjunto de problemas partilhados por um grupo. Em resumo, os estudos culturais do tipo de diferenciação, como os de integração, conceituam a cultura como aquilo que é partilhado. Sem prejuízo das investigações de integração, as de diferenciação restringem as fronteiras da cultura aos próprios limites dos grupos, no estudo do consenso entre elas. O paradigma de fragmentação – diferentemente das outras perspectivas - pretende trazer à luz a ambiguidade e não a negar ou limitá-la e excluí-la, destacando a inexistência de clareza cultural ou subcultural. Portanto, esta perspectiva abandona tanto a clareza da consistência como a de inconsistência. Essa ambiguidade pode ser de ação, simbólica ou ideológica. A ambiguidade de ação produz-se na medida em que não existe uma clara relação entre os valores da cultura e as práticas habituais da organização, seja por uma excessiva complexidade desta ou por falta de informação. Um estudo de fragmentação raras vezes oferece prescrições claras para atuar já que, quando as circunstâncias organizacionais são ambíguas, é difícil determinar qual deve ser a ação a empreender, que ações resultam ser inapropriadas e quais poderiam ser as suas consequências; o resultado mais frequente deve ser a falta de ação (MARTIN, 1992, p. 145-148). A ambiguidade simbólica produz-se porque desde a óptica de fragmentação não há relações claramente consistentes nem inconsistentes entre os conteúdos da cultura e suas formas e manifestações. Os estudos de fragmentação oferecem uma complicada visão dessas relações. Algumas vezes as relações são difíceis de decifrar porque são pouco claras e pouco definidas; outras vezes é difícil de compreender a causa da complexidade dos fatores relevantes. A ambiguidade ideológica produz-se porque não existe consistência nas relações entre os valores e conteúdos da cultura. Os ditos valores e conteúdos não constituem uma ideologia clarificadora, longe disso, a ideologia resulta ser tão ambígua como outros aspectos da vida laboral. Determinar os limites de uma cultura ou subcultura acentua uma grande multiplicidade de interpretações que raras vezes terminam em consenso. Por fim, a 51 perspectiva de fragmentação evidencia a existência de ambiguidade, de complexidade e de multiplicidade de interpretações dificilmente consensuais (MARTIN, 1992). Esta proposta de Martin merece uma menção à parte, pois não é incompatível com as anteriores, mas supõe um planejamento respeitante ao globalismo da cultura organizacional. Perspectiva Orientação Relação entre Orientação para o consenso Manifestação para ambiguidade Metáforas Clareira na selva, Integração Consenso em nível Consistência Exclusão de organização monolita, holograma Ilhas de claridade Diferenciação Consenso Inconsistência subcultural Canalização fora de no mar de subculturas ambiguidades Enfoque Teia, selva Complexidade (não Fragmentação Multiplicidade de claramente visões (nenhum consistente ou consenso) inconsistente Quadro 1: Dimensões das Perspectivas de Integração, Diferenciação e Fragmentação. Fonte: Martin (1992, p. 13). Estudar a cultura de uma organização requer adentrar em sua realidade como pesquisador, deixando para trás qualquer tipo de preconceito e procurando encontrar os significados atribuídos pelos seus membros a cada manifestação, palavra ou gesto. É necessário, ainda, um grande conhecimento a respeito da pluralidade de conceitos e paradigmas apresentados pela cultura organizacional. Ao término da revisão literária por meio da qual se construiu a plataforma teórica da presente dissertação, o próximo capítulo apresentará alguns pontos da metodologia usada para conduzir a pesquisa realizada na Instituição de Ensino Superior. 52 3 METODOLOGIA O capítulo anterior abordou a importância do aporte de conceitos e metodologia da Antropologia Interpretativa para a Administração oferecendo sofisticação aos estudos organizacionais. Tais conceitos proporcionam um alargamento da visão dos pesquisadores através da utilização de métodos capazes de assimilar a realidade por meio da leitura dos elementos significativos da vida organizacional. Este capítulo tem por finalidade apresentar os elementos metodológicos que constituíram o processo de investigação, no intuito de garantir a confiabilidade e o rigor científico do trabalho. Primeiramente demonstra-se como a pesquisa está classificada, em seguida o campo de estudo, na sequência, os sujeitos da pesquisa, o método de coleta de dados e a análise e interpretação dessas informações. A pesquisa surgiu pela necessidade de desvendar manifestações de uma dada cultura, bem como da intenção de se aproximar do conhecimento de uma realidade, amparado pela ciência. Koche (1997) argumenta que um dos motivos que leva o homem a produzir ciência é a tentativa de buscar respostas e soluções de seus questionamentos, a fim de compreender a si próprio e ao mundo em que vive. Portanto, “o motivo básico que conduz a humanidade à investigação científica está em sua curiosidade intelectual, na necessidade de compreender o mundo em que se insere e de se compreender a si mesma” (KOCHE, 1997, p. 43-44). Para Andrade (2004), as invenções e as descobertas do mundo ocorrem a partir de pesquisas sistemáticas e não por um simples acaso ou por intuição. Pesquisas científicas são procedimentos racionais que utilizam métodos científicos. Lakatos e Marconi (2000) enfatizam que não há ciência sem a utilização do método científico, considerando-o como o conjunto de atividades sistemáticas e racionais que, com segurança e eficiência, permite o alcance de objetivos anteriormente propostos. A ciência exige a realização de um procedimento formal que se constitui no caminho a ser percorrido para o conhecimento da realidade. Porém, não existe uma única forma, tampouco um único método para o processo de investigação. Minayo (2008, p. 11) salienta que “a cientificidade tem que ser pensada como uma ideia reguladora de alta abstração e não como sinônimo de modelos e normas a serem seguidos”; ou seja, tudo dependerá do olhar do investigador, do que ele pretende e de aonde quer chegar, para a definição dos métodos. Os métodos científicos a serem adotados pelo pesquisador são influenciados pelas suas visões peculiares do mundo e seus modos de conhecimento. 53 3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA Quanto à sua natureza, o presente estudo classifica-se como uma pesquisa aplicada, que trata de um estudo associado às ciências sociais. De acordo com Gil (1999), a pesquisa aplicada objetiva identificar e descrever eventos, ou no caso do presente exposto, as manifestações culturais sob as dimensões integração, diferenciação e fragmentação (MARTIN, 2002), que poderão contribuir para a sinalização ou não de uma cultura de aprendizagem. A pesquisa tem abordagem metodológica qualitativa, com foco na realidade subjetiva observada na organização em estudo. Godoy (1995, p. 63) acrescenta que, quando a preocupação é nortear “a compreensão da teia de relações sociais e culturais que se estabelecem no interior das organizações, o trabalho qualitativo pode oferecer interessantes e relevantes dados”. Minayo (2008) pontua que a abordagem qualitativa é típica de pesquisas que procuram revelar aspectos subjetivos e simbólicos, compreendendo as relações e as atividades humanas com os significados que lhes dão formas. Busca-se, por meio desta abordagem, conceituar o que está imerso na experiência e ações dos indivíduos, no que se refere à subjetividade, ao nível simbólico, aos significados e à intencionalidade. Quanto aos fins, a pesquisa se caracteriza como exploratória e descritiva (VERGARA, 2009). Exploratória por envolver entrevistas com pessoas que estão na instituição influenciando e sendo influenciados pela cultura que ali prevalece. Gil (1999) afirma que as pesquisas exploratórias proporcionam uma visão geral de um determinado fato ou assunto. Descritiva porque visa a descrever percepções, opiniões, expectativas e sugestões do grupo da administração, dos técnicos e dos professores do Instituto. A pesquisa descritiva observa, registra, analisa, classifica e interpreta os fatos sem interferir sobre eles. Vergara (2009) argui que esse tipo de pesquisa expõe características de determinada população ou fenômeno. Triviños (1987, p.128) corrobora com essa ideia, defendendo que “a pesquisa qualitativa com apoio fenomenológico é essencialmente descritiva”, pois o interesse repousa em descrever um fato ou fenômeno. A palavra escrita é considerada como destaque, uma vez que desempenha papel indispensável tanto na coleta de dados como nos resultados. Quanto aos meios de investigação, a pesquisa se configura como um estudo de caso, com a utilização de pesquisa bibliográfica, documental e de campo. A pesquisa de campo foi conduzida com os atores sociais, a partir de roteiros de entrevistas realizadas com a 54 administração, técnicos administrativos e professores. A pesquisa documental visa a obter informações oficiais registradas em documentos da organização. Por meio da pesquisa bibliográfica, buscou-se uma revisão dessa temática já verificada por outros estudiosos. O procedimento busca aporte no método etnográfico, com o objetivo de desvendar a cultura organizacional, que teve seu desenvolvimento na administração baseado nos estudos da Antropologia (VERGARA, 2005). Este método mostra-se adequado pelo fato de proporcionar uma leitura profunda da realidade que o pesquisador, no caso o etnógrafo, deseja apreender. Para Flores-Pereira e Cavedon (2009), a etnografia é constituída pelo processo de descrição de um determinado grupo e permite observação participante do pesquisador. O que o etnógrafo faz é uma leitura dos símbolos em ação que se traduzem em uma determinada realidade (GEERTZ, 1989; MARCUS; FISCHER, 1996). Essa busca de significados gera necessidade de uma pesquisa mais aprofundada à realidade da organização, pois as ações e as falas humanas são passíveis de interpretações reducionistas, ou mesmo errôneas, se forem analisadas de maneira superficial. O método etnográfico permite, então, “a inserção do pesquisador no ambiente, no dia a dia do grupo investigado. Os dados são coletados no campo, em geral, por meio de observação participante e entrevistas, quase sempre semiestruturadas” (VERGARA, 2005, p. 72). Desse modo, o pesquisador se insere no campo de pesquisa, mantendo registro de suas observações em relação ao grupo pesquisado, por meio de um diário de campo. Nesse momento, o pesquisador também consegue selecionar os principais informantes que irão contribuir nas entrevistas, que são os indivíduos que conseguem falar da cultura a qual pertencem de maneira aberta, flexível. Em um segundo momento, o pesquisador abandona o campo e faz uma análise do grupo com visão distanciada daquela adquirida quando de sua permanência no contexto, com intuito de reconhecer o que realmente é representativo nessa cultura. Mascarenhas (2002) argumenta que a etnografia conduz o pesquisador a uma familiarização com a cultura estudada, pois a sua observação e imersão ao ambiente, lhe permitem a integração com o grupo. O estudo de caso foi utilizado como uma estratégia para alcançar o objetivo proposto e realizou-se em uma Instituição de Educação Superior, denominada IESA, em Santo Ângelo, Região Noroeste do Rio Grande do Sul, Brasil. O estudo de caso trata de “uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, 55 especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos” (YIN, 2001, p. 32). 3.2 O CAMPO DE ESTUDO A presente pesquisa foi desenvolvida no Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo (IESA), instituição filiada à Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC). Localiza-se à Rua Dr. João Augusto Rodrigues, 471 – Centro de Santo Ângelo, RS. O IESA conta com seis cursos superiores de graduação, além de vinte e cinco cursos de pósgraduação latu sensu. Seu quadro funcional é formado por 93 professores, 43 técnico-administrativos e 2.429 alunos. Sua missão é promover a formação integral das pessoas, oferecendo educação de excelência. Tem em seus princípios e valores a ética, a excelência, a valorização do ser humano e o compromisso social e ambiental. 3.2.1 A entrada em campo Em junho de 2011, foi realizada pela pesquisadora a primeira manifestação de intenção em fazer o trabalho de dissertação na Instituição. Conversou com o Diretor do IESA e lhe foi entregue a carta de apresentação com pedido de autorização de pesquisa, bem como lista das atividades que seriam realizadas na pesquisa de campo (Apêndices A e B) e, sem muitos questionamentos e explicações, a pesquisadora foi autorizada e liberada para fazer a pesquisa. No dia 1º do mês julho, fez a primeira visita como etnógrafa: com carta de apresentação aos atores sociais (Apêndice C), agenda e caneta na mão, foi acompanhada pelo Diretor até primeiro setor a ser observado, a Secretaria Acadêmica. Pôde perceber um pouco de curiosidade em algum momento e, em outros, ansiedade com a sua presença ali. Mesmo sendo colega, pertencente ao quadro de técnicoadministrativos e docentes, não é algo normal observar o ambiente de trabalho dos outros. Pelo período de cinco dias, nos turnos da tarde e noite, ficou observando e fazendo anotações do que via e o que poderia contribuir para a pesquisa, neste setor. Fez essa observação, pelo mesmo período, nos setores da Tesouraria, Recursos Humanos, Filantropia, Assessoria, Comunicação, Contabilidade, Biblioteca e Sala dos Professores. A mesma sensação de ansiedade e curiosidade pôde observar também nos demais setores. 56 No dia 16 de novembro, iniciou as entrevistas semiestruturadas com a administração, com os técnicos administrativos e com os professores do IESA. Nesse mesmo período, foi fazendo a observação participante, bem como a observação em ambientes informais como festas, reuniões, encontros de capacitação. Resumindo, pode-se afirmar que observar as atitudes e comportamentos, a partir de ambientes formais e informais, favoreceu a compreensão da problemática desta dissertação, que se refere à análise das manifestações culturais existentes na Instituição estudada. 3.2.2 As entrevistas Ao visualizar que o olhar por si só não é suficiente para perceber a natureza das relações sociais mantidas entre as pessoas (OLIVEIRA, 1998), buscou-se aporte no recurso da entrevista para a obtenção de outros tipos de informações. Realizaram-se entrevistas com 34 atores sociais pertencentes a três grupos distintos: o grupo da administração, o grupo dos professores e o grupo dos técnico-administrativos. As entrevistas eram todas semiestruturadas (Apêndices D e E) e foram sendo realizadas em dias alternados, não marcados, com convite, sem muita formalidade, quando o ator social disponibilizava de tempo e horário. Em janeiro de 2012, foi realizada entrevista com a direção do Instituto (Apêndice F). O método de registro utilizado para as entrevistas foi a gravação, por entender que, ao se questionar frente a frente, quando de uma resposta não tão satisfatória, há a possibilidade de explorar, fazendo outra pergunta, tornando-se, dessa forma, mais claras as evidências de manifestações culturais. 3.3 SUJEITOS DA PESQUISA Os sujeitos da pesquisa foram os responsáveis pela administração, os técnicoadministrativos e os professores do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo, pelo fato de estarem inseridos nesse contexto, influenciando e sendo influenciados pela cultura organizacional. Como respondentes, objetivou-se selecionar informantes que pudessem realmente contribuir de forma significativa durante as entrevistas, ou seja, indivíduos que conseguissem falar da cultura à qual pertencem de maneira clara, aberta, flexível. Portanto, durante as observações, que antecederam a fase das entrevistas, os indivíduos foram selecionados em 57 cada um dos setores pesquisados. Não se levou em consideração idade, formação, tempo de serviço ou gênero, mas sim a possibilidade de manifestação da cultura no discurso dos indivíduos a fim de que se coletassem diferentes percepções. Foram, por fim, selecionados 34 respondentes, sendo 5 da administração, 16 docentes e 13 técnico-administrativos que formaram o corpus da pesquisa (anexo G). Os respondentes referidos ao longo do exposto como R1 a R5 formam o grupo da administração, do R6 ao R21 formam o grupo dos professores e do R22 ao R34 formam o grupo dos técnicoadministrativos. A seguir serão demonstrados dados sobre o perfil dos sujeitos da pesquisa nº funcionários Idades anos Gráfico 1: Faixa etária dos atores pesquisados. Fonte: elaboração do autor(a) Com base no gráfico 1 que apresenta um histograma para as idades dos sujeitos da pesquisa, pode-se observar que o maior intervalo de 46 a 55 anos corresponde a 10 indivíduos (32,4%) seguidos do intervalo de 28 a 37 anos com 9 indivíduos (26,5%). Apenas 5,9% dos sujeitos encontram-se com idades compreendidas entre 55 e 63 anos. 58 Grau de instrução Série1; Doutor; 2; 6% Série1; Mestre; 11; 32% Série1; Ensino Médio; 7; 21% Série1; Superior; 8; 23% Série1; Especialista; 6; 18% Gráfico 2: Grau de instrução dos atores sociais respondentes Fonte: elaboração do autor(a) Quanto ao grau de instrução dos sujeitos da pesquisa, pode-se observar no gráfico 2 a predominância de mestres (32%) seguida de graduados (23%), de nível médio (21%), especialistas (18%) e doutores (6%). nº de funcionários Tempo de Serviço anos Gráfico 3: Tempo de serviço dos sujeitos respondentes. Fonte: elaboração do autor(a) O gráfico 3 apresenta os sujeitos da pesquisa do ponto de vista do tempo de permanência no IESA, ou seja, o tempo de serviço na Instituição. Pode-se observar que índice maior dos sujeitos pesquisados encontram-se na escala entre 1 a 9 anos, com 25 dos respondentes. 59 Sexo Série1; feminino; 17; 50% Série1; masculino; 17; 50% Gráfico 4: Gênero dos atores sociais respondentes. Fonte: elaboração do autor(a) Como pode ser observado no gráfico 4, os sujeitos da pesquisa estão divididos entre 50% pertencentes ao sexo feminino e 50% do sexo masculino. 3.4 COLETA DE DADOS O estudo de caso único como estratégia de pesquisa buscou investigar o IESA, partindo de uma investigação empírica. A coleta de dados deu-se por meio da pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, pesquisa de campo e estudo de caso, com observação, observação participante e entrevistas semiestruturadas. Visando à compreensão ampla de um fenômeno, Godoy (1995) observa que quanto mais dados forem examinados, tanto mais o entendimento se aproximará da realidade. O ambiente e as pessoas devem ser olhados partindo-se da noção de que os seres e o ambiente interagem como um todo, sem que se possa entendê-los isoladamente, e não devem ser reduzidos a variáveis, mas observados em sua totalidade. As técnicas de pesquisa utilizadas para coleta de dados foram entrevistas com os sujeitos da pesquisa, observação participante, observação não participante e pesquisa documental. Como procedimento de pesquisa, optou-se pelo método etnográfico, que “consiste na inserção do pesquisador no ambiente, no dia a dia do grupo investigado” (VERGARA, 2005, p. 72). Conforme Andrade (2004), as técnicas de pesquisa são mais específicas quando comparadas ao método de procedimento. Constituem-se em ferramentas próprias de cada área de conhecimento, utilizadas para alcançar o objetivo proposto, associadas à coleta de dados, à parte prática da pesquisa. 60 A descrição etnográfica, que se baseia nas palavras dos informantes e na maneira pela qual o pesquisador as interpreta, constitui-se em um dos métodos utilizados para entender a cultura e compartilhar os significados juntamente com seus informantes, ou seja, aqueles que, na verdade, possuem o roteiro simbólico do que concebem e articulam logicamente entre suas visões de mundo (MASCARENHAS, 2002). Os dados necessários para o desenvolvimento da pesquisa foram coletados em campo, por meio de observação participante e entrevistas. Ao contrário da observação não participante, na qual o pesquisador limita-se apenas a observar os fatos, na observação participante, além da observação, o pesquisador possui uma participação nas ações cotidianas executadas pelos indivíduos pertencentes ao ambiente que está sendo pesquisado (ANDRADE, 2004). Para Minayo e Sanche (1993, p. 245), o material primordial de uma investigação que se apoia nos princípios de uma pesquisa qualitativa é a fala, “[...] é a palavra que expressa a fala cotidiana, seja nas relações afetivas e técnicas. [...] a fala torna-se reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores, normas e símbolos (sendo ela mesma um deles) [...]”. A pesquisa documental é baseada no levantamento de documentos, escritos ou não, que são fontes de dados conhecidos como primários (ANDRADE, 2004). Para este trabalho, a pesquisa documental foi realizada a partir de documentos internos, tais como, atas de reuniões, dados demográficos dos professores e funcionários, material referente aos eventos promovidos pelo Instituto, materiais utilizados em encontros de capacitação, material de divulgação, site da instituição e panfletos. Enfim, pesquisa documental nos arquivos na organização escolhida, IESA, onde foram buscados dados referentes aos princípios norteadores, procedimentos, políticas, regulamentos, programa de cargos e salários, visando a coletar dados que fornecessem uma visão de como se constitui sua cultura organizacional. 3.5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS A pesquisa seguiu os pressupostos da fenomenologia, que tem como principal preocupação o entendimento do comportamento humano, tendo como referência a própria pessoa, procurando examinar como o mundo é vivido e considerando a realidade a partir da percepção dos atores. Portanto, a pesquisa, aqui desenvolvida, apresenta-se a partir de procedimentos qualitativos, privilegiando o conteúdo das entrevistas. 61 Em relação ao plano de análise, Bardin (1979) orienta no sentido de que existem várias maneiras de analisar conteúdos de materiais pesquisados. A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (p. 42). Pela análise de conteúdo e análise do discurso, pode-se entender melhor o que está por trás dos conteúdos manifestos, indo além das aparências do que está sendo comunicado. As categorias de análise foram definidas com base na revisão de literatura realizada. Martin (2002) destaca cinco categorias que são fundamentais para auxiliar a análise quando da execução de uma pesquisa baseada em estudos voltados para o entendimento da cultura organizacional. São elas: i) Como as coisas funcionam na organização – é considerada uma manifestação cultural composta pelas práticas informais. Construída pelas histórias e pelo que as pessoas comentam quando questionadas sobre como as coisas funcionam na organização. ii) Adequação da estrutura física e equipamentos – é considerada uma manifestação cultural a forma como estão distribuídos os móveis, o arranjo da estrutura física e a configuração das repartições existentes na organização. iii) As brincadeiras e piadas que as pessoas fazem - são uma manifestação cultural que compõe as práticas informais, as brincadeiras que surgem no ambiente da organização. iv) Política de remuneração – é uma manifestação cultural que compõe as práticas informais, a maneira como a remuneração é atribuída a cada membro ou grupo da organização. v) Relacionamento entre os pares e outros grupos, sendo dois os grupos que compõem a organização, quais sejam, o grupo dos técnico-administrativos e dos docentes. É uma manifestação cultural que compõe as práticas informais, o modo como os indivíduos que participam da organização se relacionam, como eles se dirigem uns aos outros para comunicar e transmitir informações. 62 Na sequência apresenta-se o fluxograma da pesquisa, pontuando os passos percorridos durante o estudo: Fluxo da Pesquisa Questionário Aplicado aos técnicos e professores Defesa da dissertação Pesquisa Bibliográfica Compilação dos dados Conclusão do estudo: Resposta aos objetivos da pesquisa Coleta de dados (documentos) Comparativo entre teoria e resultados da pesquisa Definição: Tema •Problema situação Objetivos Figura 1: Apresenta o fluxo da pesquisa Fonte: elaboração do autor(a) Para finalizar a pesquisa, efetivou-se o tratamento, análise e interpretação dos dados. Para tanto, utilizou-se como método/abordagem a análise teórica, com a qual se buscou, a partir das elaborações do quadro teórico, entrelaçar as ideias dos pesquisadores utilizados como fundamentação teórica do estudo com as informações coletadas. Buscaram-se evidências desse entrelaçamento na análise documental e nas falas dos entrevistados. Apresentadas as estratégias metodológicas para construção do estudo, no próximo capítulo abordar-se-á sobre o estudo de caso. 63 4 O INSTITUTO CENECISTA DE ENSINO SUPERIOR DE SANTO ÂNGELO Este capítulo visa a contextualizar a organização analisada que descreve a rede CNEC, a história do IESA, sua estrutura física e organizacional. 4.1 A REDE CNEC Do ideal de um jovem, nasceu a Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC). Em 29 de julho de 1943, no Recife, Pernambuco, o estudante de Direito, Felipe Tiago Gomes, impulsionado pela solidariedade, fundou, juntamente com um grupo de universitários, a primeira Escola Cenecista (que pertence à rede CNEC) do país, com o ensino fundamental e médio em um momento histórico de total desassistência educacional ao jovem trabalhador. Na época, as escolas de 2º grau apenas atendiam às elites, não havendo escolas noturnas. Deu-se início a essa Instituição com a finalidade de levar o desenvolvimento e o progresso às comunidades, por meio dessas Escolas, oportunizando aos jovens a aquisição de conhecimentos e habilidades necessárias para vencer os obstáculos, numa sociedade em constante mudança. A base estrutural da CNEC é a comunidade. Por isso, para a criação de uma escola, primeiramente é organizado o Conselho Comunitário, o qual promove a verdadeira integração Escola e Comunidade. As sementes de comunitarismo propagaram-se pela maioria dos Estados da Federação e o reconhecimento desse trabalho justifica-se, em nível nacional, por ser detentora de 268 unidades de ensino cenecista em todo o Brasil, atendendo a mais de 113.541 alunos, 7.807 professores e 3.721 funcionários. A CNEC forma uma rede de instituições educacionais que atua em todos os níveis de ensino em 20 estados brasileiros e no Distrito Federal. São 213 escolas de educação básica e 23 unidades de ensino superior. Em Santo Ângelo é a mantenedora do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo (IESA) e também do Colégio Cenecista Sepé Tiaraju. A CNEC tem como finalidades: • Despertar e coordenar os esforços das comunidades para ações educativas, culturais, assistenciais, de preservação ambiental e prestação de serviços. • Oferecer serviços educacionais em todos os níveis e modalidades de ensino 64 • Implantar e administrar unidades de produção, comunicação, assistência social, turismo e pesquisa. • Desenvolver e incentivar práticas desportivas, destinando os recursos obtidos exclusivamente à sua manutenção. Para executar suas finalidades, a rede busca o apoio de pessoas físicas, jurídicas e de instituições públicas e privadas, mediante parcerias, porém, sem o envolvimento em atividades de caráter confessional e partidário. 4.2 A HISTÓRIA DO IESA O IESA possui história que se inicia com as seguintes palavras: “Esta faculdade nasceu de um sonho e vive da fé dos que acreditam no futuro do Brasil”. Essas são palavras dos fundadores do IESA, gravadas em bronze no saguão da instituição, idealizada por homens e mulheres representantes de diversos setores do município de Santo Ângelo, que se reuniram no dia 7 de outubro de 1961, com o objetivo de fundar o primeiro estabelecimento de ensino superior da cidade, bem como da Rede CNEC. O encontro aconteceu na sede do setor municipal da então Campanha Nacional dos Educandários Gratuitos (CNEG), na Rua 3 de outubro, 178. Como consta na ata nº 1: “Após trocas de pontos de vista, os presentes, unanimemente, aplaudiram a criação da Faculdade de Direito de Santo Ângelo”. Entre aqueles que assinaram a primeira ata estava o então governador do Rio Grande do Sul, Leonel de Moura Brizola. A Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC) fundava a Faculdade de Direito de Santo Ângelo. Nascia a instituição que mais tarde seria a reconhecida FADISA e cujo primeiro diretor foi o Sr. Bayard de Toledo Mércio. Era oferecido o primeiro curso de ensino superior no município e também o primeiro curso superior criado e mantido pela CNEC no interior do Estado do Rio Grande do Sul. Para sua instalação, a FADISA recebeu, por parte da administração do município de Santo Ângelo, uma área de 17.424 metros. A autorização para o seu funcionamento ocorreu em 3 de abril de 1963. Ao longo dos anos, a FADISA se solidificou e fez história. E cresceu junto com Santo Ângelo. Em março de 1998, foi autorizado o funcionamento do Curso de Ciências Contábeis e, em junho do mesmo ano, foi autorizado o funcionamento do Curso de Administração, na época com habilitação em Gestão Internacional dos Negócios. Ainda em 1998, nasce, então, o Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo – IESA por 65 meio da Portaria nº 1.483, que aprovou a fusão das Faculdades de Direito, de Ciências Contábeis e de Administração. Em maio de 2000, foi autorizado o funcionamento do curso de Administração, com habilitação em Gestão e Negócios Agroindustriais e, em 2002, foram autorizados pelo MEC os cursos Normal Superior - Licenciatura para a Educação Infantil e Normal Superior Licenciatura para os Anos Iniciais que depois, em 2006, foram unificados no atual curso de Pedagogia. Já em 17/12/2004 foi autorizado o funcionamento do Curso de Fisioterapia e, em 28/9/2006, o MEC autorizou o funcionamento do Curso de Biomedicina. O IESA está localizado na Região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, na cidade de Santo Ângelo e tem sede na rua Dr. João Augusto Rodrigues, 471, Bairro Centro, CEP 98.801-015, possuindo como mantenedora a Campanha Nacional de Escolas da Comunidade. O IESA, hoje, conta com 2.428 alunos matriculados nos cursos de graduação e pósgraduação, com um quadro de 93 professores e 46 colaboradores atuando na área técnicoadministrativa. O perfil dos colaboradores do IESA – administradores, professores e, técnicoadministrativos – pode ser visualizado no quadro a seguir. Colaboradores Professores Número 93 Idade Titulação Sexo Tempo de Serviço Dedicação 10 - de 0 a 30 anos 34 Esp. 44 fem. 46 - 0 a 5 anos 67 H 25 - de 31 a 40 54 Mestre 49 masc. 26 - 6 a 10anos 13 TI 37 - de 41 a 50 5 Dou. 14 - 11 a 15 anos 13 TP 16 - de 51 a 60 9 - 16 a 31 ou + 5 – de 61 a. ou + Técnico- 17 - de 0 a 30 anos administrativos 46 9 - de 31 a 40 11 Esp. 27 fem. 31- 0 a 5 anos 1 Mestre 19 masc. 8 - 6 a 10anos 14 - de 41 a 50 16 Ens. Méd 3 - 11 a 15 anos 4 - de 51 a 60 6 Ens. Fund 5 - 16 a 31 ou + 46 T. Int. 2 - de 61 a. ou + TI – tempo integral - 40 h semanais TP – tempo parcial – variável H – Horistas Quadro 2: Perfil dos colaboradores do IESA Fonte: elaboração do autor(a) O quadro 2 apresenta o perfil dos colaboradores do IESA, em sua totalidade, nos quesitos: faixa etária, titulação, sexo, tempo de serviço e dedicação. Observa-se que o quadro de docentes é composto por 34 (trinta e quatro) especialistas, 54 (cinquenta e quatro) mestres 66 e 5 (cinco) doutores, com tempo de serviço que varia entre 2 meses a 31 anos ou mais, e a faixa etária desses profissionais fica entre 25 e 65 anos ou mais sendo que 44 (quarenta e quatro) dos docentes são do sexo feminino e 49 (quarenta e nove) do sexo masculino; 67 professores são horistas, 13 tempo integral e 13 de tempo parcial. Entre os técnicos, 6 têm o ensino fundamental, 16 possuem ensino médio, 11 têm especialização e 1 tem a titulação de mestre. Com relação ao tempo de serviço, 31 dos técnicos têm entre 0 a 5 anos, 8 de 6 a 10 anos, 5 de 16 a 31 anos ou mais e, 3 entre 11 e 15 anos. 4.3 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL COM INSTÂNCIAS DE DECISÃO O IESA possui formas de participação de gestão, ao mesmo tempo em que busca eficiência e redução de custos, incluindo a informatização no apoio a atividade-fim. As Instituições Cenecistas, de um modo geral, adotam como princípio institucional a administração participativa e democrática, prevista no Regimento Interno de sua Mantenedora – CNEC - considerando que prevê a participação de todos os segmentos da comunidade acadêmica nas mais diversas esferas hierárquicas. Os docentes participam intensamente na administração quer de forma direta, quer de forma indireta. A participação indireta configura-se mediante listas para indicação de seus representantes na Direção do IESA, considerando que os dirigentes são extraídos dos quadros de professores da Instituição. A diretoria do IESA é composta por dois professores de tempo integral, sendo orientada, de forma consultiva e deliberativa, pelo Conselho Superior, órgão colegiado com representação docente e discente. A administração do IESA prevê a participação do corpo discente, com assento nos colegiados, por meio de membros indicados pelos seus pares. Os discentes participam diretamente, tanto no Conselho Superior como na Coordenação do Curso, por meio de seus representantes. O Regimento Interno do IESA contempla os objetivos (Art. 2º); a forma de administração institucional, a estrutura organizacional e as atribuições dos órgãos colegiados, estrutura e atribuições das coordenações de curso (Art. 3º a 22). Ao longo do documento, pode ser visualizada a integração entre gestão administrativa, órgãos colegiados e cursos, a participação da comunidade universitária nos órgãos superiores administrativos e acadêmicos, os mecanismos de acompanhamento sistemático dos objetivos e a estrutura e fluxo do controle acadêmico. O organograma abaixo apresenta a estrutura da Instituição em seus departamentos, setores e, assessorias. 67 CONSELHO SUPERIOR CPA DIRETORIA Assessoria Institucional (PI) Colegiado de Curso Coordenação Acadêmica Apoio Administrativo Financeiro Recursos Humanos (RH) Coord.Curso Apoio Seleção e Direito Operacional Finanças Recrutamento Coord.Curso Almoxarifado Contabilidade Coord.Curso Planejamento Administração Controladoria Expediente Escolar FOPAG, Férias, Encargos Sociais C.Contábeis Secretaria Acadêmica (SERCA) Controle, Registro e Legislação Matrículas Registros Biblioteca Coord.Curso Tecnologia Pedagogia Coord.Curso Fisioterapia Coord.Curso Biomedicina Figura 2: Organograma da Estrutura Organizacional do Iesa Fonte: PDI/IESA/CNEC (2007). Ensino Superior 68 A administração e coordenação das atividades da Instituição são exercidas em dois níveis: superior, pelo Conselho Superior e pela Diretoria; e básico, pelo Conselho Departamental e Coordenadorias. De acordo com art. 3º, do Regimento Interno do IESA, a Estrutura Organizacional é composta pelos seguintes órgãos: Conselho Superior; Diretoria; Conselhos Departamentais; Instituto Superior de Educação. De acordo com art. 4º, do Regimento Interno do IESA, o Conselho Superior é o órgão consultivo e deliberativo da Instituição em matéria didático-científica e administrativa. É constituído: pelos membros da Diretoria (Diretor e Vice-Diretor); por dois (2) representantes indicados pela Mantenedora; por um (1) professor do IESA, de cada categoria funcional, eleito pelos seus pares; pelos coordenadores de cada Curso da Graduação; pelo coordenador do Instituto Superior de Educação; pelos chefes de Departamentos Acadêmicos; por um (1) representante do corpo discente, eleito pelos seus pares; por um (1) representante da comunidade. O Conselho Superior é presidido pelo Diretor do IESA e, no caso de impedimento, pelo Vice-Diretor. Reúne-se ordinariamente no início de cada semestre letivo e, extraordinariamente, quando convocado pela Diretoria ou a requerimento de pelo menos 1/3 dos membros que o constituem. A convocação de reunião extraordinária, formulada por pelo menos 1/3 (um terço) dos membros do Conselho Superior, deve ser apresentada ao Diretor, que providenciará a expedição do edital convocatório. A reunião extraordinária não pode ser formulada para tratar de assuntos genéricos, mas, sim, de assunto determinado, claro e específico. Além disso, não pode versar sobre matéria estranha à competência do Conselho Superior. Conforme art. 6º do Regimento Interno do IESA, a Diretoria é composta pelo Diretor e pelo Vice-Diretor e configura o órgão executivo superior de gestão do IESA. 69 O Diretor e o Vice-Diretor são nomeados pela Mantenedora, na conformidade de seus estatutos, sendo seus nomes indicados em lista tríplice, organizada pelo Conselho Superior da Unidade, para mandato por tempo indeterminado. O IESA somente se considerará obrigado perante terceiros se seus atos forem assinados pelo Diretor e por um representante da CNEC. O Diretor será responsável pela operacionalização das decisões do Conselho Superior. De acordo com o art. 13 do Regimento Interno do IESA, o Conselho Departamental, órgão deliberativo de coordenação e assessoramento em matéria didático-científica e administrativa, é constituído, em cada departamento: pelo Diretor do IESA, seu presidente; pelo respectivo Coordenador de Ensino; pelo respectivo Coordenador do Instituto Superior de Educação; por um integrante de cada grupo de 10 (dez) docentes ou fração, eleitos pelo respectivo Conselho Departamental; por um representante discente, indicado pelo Diretório Acadêmico. No art. 16 do Regimento Interno do IESA, a Coordenadoria de cada curso de graduação é um órgão colegiado, de deliberação técnica, de coordenação e assessoramento em matéria didático-científica e é constituída pelo: coordenador do curso; coordenador do Instituto Superior de Educação; pelos professores das disciplinas que o integram. As reuniões das Coordenadorias serão presididas pelo Coordenador do Curso, salvo quando da presença do Diretor, que, nesse caso, assumirá a presidência. O Coordenador e o Vice-Coordenador de Ensino são nomeados pelo Diretor para mandato de dois anos, podendo ser reconduzidos. Como posto no art. 19 do Regimento Interno do IESA, o Instituto Superior de Educação é uma unidade acadêmica do IESA, com autonomia didático-científica, e será responsável por ministrar os cursos de formação de docentes para atuar na educação básica. Essa tarefa é cumprida pelo quadro de professores do Curso de Pedagogia, que coordena o Instituto Superior de Educação. Atendem-se demandas não só de Secretarias de Educação, mas também de Coordenadorias de Educação e até mesmo de escolas privadas, tanto do município de Santo Ângelo quanto da região. São ministrados cursos, palestras, oficinas; 70 enfim, formações nas mais diversas modalidades para docentes em todos os níveis de ensino, desde a Educação Infantil até o Ensino Superior. Conforme o art. 21 do Regimento Interno do IESA, o Instituto Superior de Educação é dirigido por um Coordenador de Ensino, designado pelo Diretor do IESA. Nos impedimentos eventuais do Coordenador de Ensino do Instituto Superior de Educação, esse será substituído pelo Vice-Coordenador dos cursos de formação de professores para a educação básica, designado previamente pelo Diretor do IESA. O Instituto Superior de Educação terá sua organização e funcionamento definido em regulamento próprio, instituído por ato do Diretor do IESA. Assim está estruturada a organização em suas instâncias de decisão. No próximo tópico será apresentada estrutura física e acadêmica do IESA. 4.4 ESTRUTURA FÍSICA E ACADÊMICA DO IESA O Instituto está instalado em terreno com área total de 21.329 m2 e possui 6 (seis) prédios com elevadores que totalizam 14.000 m2 de área construída, tendo ao centro o prédio original, que se mantém desde sua fundação com escadaria e saguão nobres para a recepção de visitantes. Todas as salas de aula são climatizadas, com telas retráteis para projeções e possuem cadeiras estofadas. O acesso à Instituição se dá por meio de três entradas localizadas no piso térreo: a entrada principal que dá acesso, durante o dia, ao Colégio Sepé Tiaraju, unidade também pertencente à rede CNEC, onde funcionam a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio. O segundo acesso fica no prédio de número cinco, que funciona durante a noite para entradas e saídas dos acadêmicos do ensino superior. Uma terceira entrada é pelo portão do estacionamento interno, porém com acesso restrito a professores e colaboradores do IESA. Para além desses, há, ainda, o acesso à Clínica Escola de Fisioterapia e de Biomedicina e o acesso ao Núcleo de Práticas Jurídicas, ambos com atendimento ao público externo. No prédio 1 funciona o Núcleo de Práticas Jurídicas (NPJ), o departamento de RH, a assessoria de comunicação, a assessoria contábil, o setor que gerencia as bolsas de estudo, a sala de coordenações, o NDE e salas de aula. Tudo isso distribuído em uma área de 777 m2. No prédio 2 funciona, no térreo, a parte administrativa do Instituto, com secretaria acadêmica, tesouraria, almoxarifado, arquivo morto, sala dos professores, copa dos colaboradores e banheiros. No andar superior, há o auditório nobre do IESA, chamado Salão Vermelho, pois as cadeiras e bandôs de cortinas são em tons vermelhos. Além disso, há átrio 71 com a galeria de fotos dos fundadores e ex-diretores, bem como placa de bronze com o nome de todos os colaboradores do Instituto. Possui ainda sala de apoio ao discente, coordenação de pós-graduação e salas menores para reuniões com equipamentos de projeção. Esse prédio totaliza uma área de 684,50 m2. No prédio 3 fica localizado o gabinete do Diretor e a Biblioteca do IESA, ocupando o piso térreo para o acervo bibliográfico. O segundo piso está reservado para sala coletiva de estudos, sala com baias individuais e sala de acesso à internet, bem como uma sala de multimídia e miniconferências. No terceiro piso estão situados os laboratórios de informática e sala de aula ampla. Essa área totaliza 437,80 m2 de construção. No prédio 4 funciona a cantina para convivência da comunidade acadêmica, docente e técnicos. Neste mesmo prédio funcionam o laboratório de artes e 13 salas de aula em seus andares subsequentes. Totaliza uma área de 1.028 m2.. O acesso dos acadêmicos à Instituição ocorre pelo prédio 5, que possui um hall de entrada com catracas eletrônicas para registro de cartão magnético estudantil, confirmando a presença do aluno nas dependências da faculdade. Esse prédio abriga 22 salas de aula em seus quatro pisos e mais os banheiros distribuídos em cada andar. No subsolo do prédio 6 funciona a Clínica Escola de Fisioterapia e Biomedicina com atendimento à população de baixa renda. Nos andares subsequentes funcionam 16 salas de aula, laboratórios de anatomia humana, bioquímica, microscopia, fisiologia humana, biologia molecular, microbiologia, cinesioterapia, eletrotermofototerapia, fisiologia do exercício e análises clínicas, todos eles com equipamentos de última geração. O IESA é uma instituição reconhecida pela comunidade local e regional. Sua forte atuação constitui-se elemento de peso na identificação e reconhecimento pela sociedade do caráter comunitário inerente aos cursos superiores já implantados no IESA. A comunidade de Santo Ângelo, de cidades vizinhas e até de cidades mais distantes do Estado e de outros estados vêm demandando vagas nos cursos superiores já em funcionamento. O aumento de demanda deve-se aos bons conceitos atribuídos pelo MEC aos cursos em funcionamento, à diretriz institucional de exigir do corpo docente empenho quanto à qualidade dos conteúdos, à metodologia de ensino e à avaliação com o caráter de favorecer o aprendizado em processo. 72 Avaliação Externa – INEP: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Cursos Corpo Docente Org. Didático- Pedagógica Infraestrutura Conceito Final Direito – 2003 CMB CMB CB Ciências Contábeis – 2007 CB CB CMB Administração -GNA-2004 CB CB CB Pedagogia – 2007 CB CMB CMB Fisioterapia – 2010 3 3 4 3 Biomedicina – 2011 4 4 4 4 Cursos IGC CPC ENADE Conceito Final Direito – 2009 3 3 3 3 Administração – 2009 3 3 3 3 Ciências Contábeis – 2009 3 3 3 3 Fisioterapia – 2010 3 3 3 3 Biomedicina 3 3 3 3 Quadro 3: Conceitos Obtidos Avaliações dos Cursos Fonte: PDI – Plano de Desenvolvimento Institucional do IESA O quadro 3 apresenta os conceitos obtidos pelos cursos oferecidos no IESA nos últimos 5 (cinco) anos. O conceito das avaliações esteve entre os níveis 3 e 4 no período de 2009 a 2011. A qualidade do ensino ofertada pelo IESA, quando associada aos valores das contribuições sociais (mensalidades) relativamente abaixo do mercado, coloca a instituição em excelente vantagem comparativa. Para a maioria dos alunos oriundos de Santo Ângelo e vizinhança, em condições socioeconômicas familiares desfavoráveis, constata-se a oportunidade única de cursar o ensino superior oferecido pelo IESA. Em decorrência, ocorre o incentivo familiar e reconhecimento da comunidade, em especial em Santo Ângelo, em face à percepção de uma melhor condição de inserção socioeconômica que a formação da escolaridade superior proporciona. O Instituto oferece também cursos de extensão em computação/informática para crianças, jovens e adultos, visando à inclusão digital da sociedade de baixa renda. O IESA 73 disponibiliza, ainda, seus serviços educacionais a título de concessão gratuita e/ou a preços relativamente baixos. Um dos serviços oferecidos à comunidade é assessoria jurídica por meio do Núcleo de Prática Jurídica (NPJ) que presta auxílio nos diversos campos jurídicos aos cidadãos que fazem parte da comarca de Santo Ângelo. O atendimento é realizado pelos acadêmicos do sétimo período de Direito, para os quais o trabalho no NPJ é uma opção de estágio curricular, supervisionado pelos professores do curso. Os serviços jurídicos estão disponíveis à população por meio de agendamento prévio e de forma inteiramente gratuita. O IESA também conta com o Núcleo de Apoio Contábil e Fiscal (NAF), que visa a oportunizar aos acadêmicos do curso de Ciências Contábeis um treinamento prático e diferenciado, por meio do trabalho voluntário e interdisciplinar, que envolve ações de cidadania às comunidades de Santo Ângelo. O NAF foi o primeiro núcleo dessa natureza implementado no interior do Estado e, no ano de 2011, prestou 168 atendimentos ao público interno da graduação e seis atendimentos ao público externo. Na área da saúde, o IESA oferece atendimento por meio da Clínica Escola e Laboratório Escola. Nesses espaços, os alunos da Fisioterapia e Biomedicina realizam seus estágios curriculares e a comunidade de Santo Ângelo e região pode usufruir de uma série de serviços. A Clínica Escola de Fisioterapia oferece atendimento em diversas áreas: ortopedia e traumatologia, pediatria, neurologia, dermatofuncional, reumatologia, uroginecologia e obstetrícia. Para se ter uma noção do alcance deste serviço na comunidade, informa-se que, no ano de 2011, foram prestados 2.857 atendimentos pelos estagiários. O Laboratório Escola de Análises Clínicas (LAC) realizou, em 2011, um total de 3.010 atendimentos à população carente do município de Santo Ângelo e Entre-Ijuís, que somaram 19.102 exames laboratoriais. Todos os procedimentos desde a marcação de exames até a entrega de laudos são realizados por alunos do 7º e 8º períodos do curso de Biomedicina, sob a supervisão de sete professores supervisores de Estágio mais a responsável técnica que assina e libera todos os laudos. Para o funcionamento do LAC além da renovação das parcerias já existentes, o curso busca constantemente novas parcerias, a fim de aumentar o número de pacientes atendidos, proporcionando uma melhor formação para o aluno e uma inserção ainda mais significativa na comunidade, respondendo à sua missão enquanto instituição comunitária. O curso de Biomedicina também conta com a publicação do InfoBio, um jornal de circulação interna e externa, no qual os acadêmicos têm a oportunidade de publicar artigos, ensaios e outros textos de caráter acadêmico. No jornal são publicadas, ainda, entrevistas, 74 reportagens, dicas, calendário de provas, entre outros. No ano de 2011, também foi realizada a publicação do primeiro número da Revista Saúde Integrada, na qual professores e alunos da Biomedicina e Fisioterapia puderam publicar, no formato de artigo, seus trabalhos de pesquisa. O IESA oferece periodicamente, nas mais diversas áreas, cursos de curta duração, que têm como principal objetivo proporcionar uma formação complementar em determinados assuntos. São cursos específicos, rápidos e com custo acessível ao público acadêmico e à comunidade em geral, que representam diferenciais na formação do futuro profissional. Podese afirmar que esses cursos atendem à demanda, uma vez que são bastante procurados pelos acadêmicos. No que concerne à inserção dos acadêmicos e egressos no mundo do trabalho, o IESA possui o Portal do Trabalho, projeto que visa a criar um dispositivo de orientação e apoio, servindo como um sistema de informação e ponte entre empresas da cidade e região e interessados em ingressar no mercado de trabalho nas mais diferentes áreas. Por meio do Portal do Trabalho, alunos e egressos podem cadastrar currículos e buscar ofertas de trabalho de maneira gratuita. Igualmente, as empresas podem, sem nenhum custo, publicar suas vagas e obter informações sobre currículos dos alunos e egressos cadastrados, o que facilita e agiliza os processos de seleção e recrutamento. Projetos de cunho social também contam com a parceria do IESA e de sua comunidade acadêmica, um exemplo disso é o Projeto “Sabão Ecológico Solidário”. Desde o segundo semestre de 2011, o Instituto, ao lado dos demais parceiros e apoiadores, trabalha neste projeto, que instalará uma fábrica de sabão no Instituto Penal de Santo Ângelo – IPSA. O objetivo dessa iniciativa é atender em médio prazo uma população de mais de 2.000 (dois mil) apenados recolhidos na 3ª Região Penitenciária do RS. Além de reutilizar o óleo de cozinhas de restaurantes e de residências, em benefício do meio ambiente, o projeto vai gerar trabalho e renda aos apenados recolhidos no IPSA. Ainda, de acordo com os gestores do projeto, espera-se alcançar durante este ano o desenvolvimento sustentável da fábrica por meio da Economia Solidária e da Preservação Ambiental. Esse projeto tem como proponente o Conselho da Comunidade de Santo Ângelo e foi um dos 12 projetos aprovados pelo Edital de Patrocínio a Projetos Sociais 2012 da ELETROSUL (para recebimento de recursos) entre os 123 apresentados no Rio Grande do Sul. O projeto conta com parceria que envolve a comunidade acadêmica do curso de 75 Administração do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo - IESA, bem como entidade governamental (SUSEPE) e setor privado (Restaurante Arena Grill). “Incentivamos e nos envolvemos na elaboração do projeto e estamos felizes com a conquista do patrocínio da Eletrobras/Eletrosul, o que, além de viabilizar a iniciativa, ratifica o trabalho sério que estamos fazendo em mais essa parceria com órgãos públicos, empresas e a nossa comunidade”, declarou a professora que orientou o trabalho dos estudantes. O IESA entende que a responsabilidade social compreende ações nas comunidades em situação de vulnerabilidade social, visando a melhorias na qualidade de vida e incentivo a empreendimentos de geração de renda e/ou baixa do custo de vida, em relação ao previsto em PAS – Políticas de Ação Social. Como demonstrado acima, o IESA possui ações relevantes que o caracterizam como Instituição Comunitária. A instituição também possui uma outra face, pois na cultura do IESA são enfatizados e valorizados os encontros como festas, reuniões, programas motivacionais e capacitações, como maneira de proporcionar a convivência, a interação, a interrelação e a troca de conhecimento entre os atores sociais da instituição O IESA festejou em 2011 o aniversário de 50 anos da Faculdade de Direito (FADISA), com longa programação que se estendeu durante o ano todo. Dentre as programações destaca-se a festa dos calouros para recepção dos novos acadêmicos; cerimônia ecumênica seguida de almoço festivo para homenagear as mulheres formadas no IESA; o lançamento do Selo comemorativo aos 50 anos; almoço festivo que reuniu cerca de 600 pessoas no CTG 20 de Setembro para um encontro de professores, funcionários, alunos, exprofessores, ex-funcionários e ex-alunos; o Simpósio de Direito que contou com palestras de ex-alunos da Fadisa/IESA; o Festival de Coros na Catedral Angelopolitana, com participação de cinco grupos de corais; a inauguração da galeria dos fundadores e galeria dos ex-diretores, além de uma placa comemorativa com os nomes de todos os funcionários do IESA no ano de 2011; celebração ecumênica de ação de graças no Ginásio de Esportes Dr. José Barcaro. festa de aniversário da Faculdade com jantar-baile e homenagens no Clube Gaúcho, na qual foram homenageados os colaboradores com mais de 10 anos de Fadisa/IESA; lançamento da Revista comemorativa ao cinquentenário do Curso de Direito, na solenidade de formatura em frente à Catedral Angelopolitana. O Coral do IESA, constituído em 2010 é composto pelos servidores, tanto do grupo dos professores, administradores, técnico-administrativos e também alunos. O grupo apresenta-se na instituição e também na comunidade, em eventos como Feira do Livro, Natal Cidade os Anjos, Cidade das Tortas. Inclusive, organiza um evento anual na Catedral 76 Angelopolitana de Santo Ângelo denominado Festival de Coros, em que se apresentam coros da cidade e região e reúne a comunidade para o momento artístico. O Instituto tem também a tradição de fazer uma confraternização com os professores, funcionários e seus respectivos cônjuges antes de iniciar as atividades do ano letivo, geralmente é um jantar festivo para o re-encontro dos profissionais. É costume acontecer no IESA reunião semanal entre a Direção e os coordenadores da Instituição para discutir assuntos pertinentes à vida acadêmica dos cursos. Já com os técnicoadministrativos e professores as reuniões também acontecem, porém com maior espaçamento de tempo. Cada setor da Instituição define quando é preciso se reunir e discutir algum assunto pertinente às atividades desenvolvidas no dia a dia. Em todos os anos são oferecidos pelo IESA programas de capacitação tanto para o corpo docente, quanto para o corpo técnico-administrativo. No final desses encontros, é fornecido certificado para cada participante, o que vem agregar valor ao currículo e, consequentemente, melhorar a carreira do profissional. Essas políticas e práticas foram intensificadas com a Direção que assumiu em 2010, que articula o aperfeiçoamento, a ampliação de conhecimentos, o diálogo, o compartilhamento de ideias, a participação na tomada de decisão e, sobretudo, a conciliação de expectativas para o alcance dos objetivos. Apresentado o objeto de estudo, no próximo capítulo serão evidenciados os resultados da pesquisa sobre cultura organizacional realizada na Instituição de Ensino Superior. 77 5 CATEGORIAS E SUAS REVELAÇÕES NOS GRUPOS DE ATORES Nos itens que seguem, serão apresentadas as cinco categorias abordadas nas entrevistas com os atores sociais, bem como os respectivos temas revelados na ocasião. Os respondentes serão representados pela letra “R”, seguido de número que corresponde ao sequencial por grupo: respondentes de 1 a 5 pertencem ao grupo da administração; respondentes de 6 a 21 pertencem ao grupo de professores e os respondentes de 22 a 34 pertencem ao grupo dos técnico-administrativos. Essas informações estão dispostas no apêndice G. As categorias organizadas baseiam-se na proposta de Martin (1992; 2002). São elas: i) como as coisas funcionam na organização; ii) adequação da estrutura física e equipamentos; iii) brincadeiras e piadas que as pessoas fazem; iv) política de remuneração; v) relacionamento entre os pares e outros grupos. 5.1 CATEGORIA 1: COMO AS COISAS FUNCIONAM POR AQUI O que se busca verificar nessa categoria é como as coisas funcionam na Instituição estudada, ou seja, como é a cultura da organização. Uma vez que essas questões compreendem um universo muito abrangente, vários temas emergiram na resposta de um mesmo respondente. Dessa forma, foram reunidos os temas de maior recorrência, não pelo número de entrevistados, mas sim pelo número de ressurgências verificadas nas respostas como um todo. O Quadro 4 apresenta os resultados encontrados nos três grupos de atores e os temas por eles revelados nas entrevistas. Estes temas referem-se às apreensões que cada grupo tem do jeito, do modo como as coisas funcionam no IESA. 78 Administração 1º Ambiente agradável 2º Liberal, com autonomia para os setores 3º Clima de cordialidade 4º Administração de cima para baixo, ela segue as diretrizes da CNEC nacional 5º Administração aberta 6º Administração flexível 7º Confiança mútua 8º Descentralizada e centralizada 9º Problemas resolvidos à medida que surgem 10º Comprometimento com a qualidade, o diferencial 11º Instituição séria cumpre horário, exige bastante 12º Tem resultado nos seus alunos 13º Problemas atendimento 14º Temos capacitações 15º As pessoas percebem que têm que melhorar 16º Abertos a mudanças 17º Número de alunos bom, procura no vestibular. 18º Motivação 19º Diálogo soluciona problemas Professores 1º Satisfação com o ambiente de trabalho 2º Somos escutados para que decisões sejam tomadas 3º Administração aberta 4º Administração flexível 5º Todos são chamados a dar suas opiniões 6º Administração de portas abertas 7º Misto entre centralizado e descentralizado 8º A oportunidade da fala a gente tem garantido. 9º Tem uma hierarquia funcional 10º Temos um grupo integrado, motivado 11º Descentralização do poder 12º Participação efetiva de todos 13º O grupo deve estar sempre na mesma direção 14º Contingencial Hierarquia verticalizada, unidade de comando 15º Desafios nas tarefas 16º Problemas de atendimento – postura Técnico-Administrativos 1º Ambiente bom, agradável 2º Administração aberta, 3º Satisfação 4º Ambiente de tranquilidade 5º Participativa 6º Liberdade 7º Administração flexível 8º Democrática 9º Ambiente de trabalho favorece a atuação 10º Organizado 11º Aberta ao diálogo 12º Somos ouvidos 13º Decisões são tomadas de forma compartilhada Quadro 4: Como as coisas funcionam no IESA Fonte: Dados da pesquisa Na sequência, são analisadas as interpretações de cada grupo com a finalidade de cumprir o primeiro objetivo específico: verificar as interpretações de cada grupo de atores com relação às manifestações culturais: grupo da administração (diretoria e colaboradores com cargos), área de docência (os professores), grupo da área técnico-administrativa (funcionários). Primeiramente serão apresentadas as interpretações da administração; a seguir, dos docentes e, posteriormente, da equipe da área técnico-administrativa. a) Interpretações do grupo da administração A visão da administração sobre como as coisas funcionam no IESA assinala que a organização representa para seus colaboradores um ambiente agradável, bom para se trabalhar (Quadro 4). São apontados na classificação em 1º, 3º e 7º lugares, respectivamente, os temas, ambiente agradável, o clima é de cordialidade e confiança mútua entre as pessoas, como pontos referentes ao sentir-se bem e ao relacionar-se bem no ambiente de trabalho. O IESA 79 possui diversos setores, que ficam próximos um do outro, em cada setor trabalham poucas pessoas, o que facilita o relacionamento amigável e harmonioso, gerando um ambiente agradável de trabalho. Essas afirmações podem ser constatadas no discurso do grupo da administração: Eu posso dizer assim que, no geral, é um ambiente muito agradável, muito bom de trabalhar, há uma confiança mútua entre todas as pessoas que trabalham aqui. (...) A gente percebe que o clima é um clima cordial, é um clima agradável, um clima que as pessoas gostam de vir para o trabalho (R. 1). Um bom ambiente de trabalho com bastante liberdade para desempenhar as funções (R. 2). Olha, eu gosto muito do ambiente de trabalho (R. 3). Ambiente agradável, clima de harmonia, cordialidade entre as pessoas (R. 5). Apesar de ser um lugar bom para se trabalhar, conforme foi evidenciado acima, pode-se constatar que existem conflitos e tensões dentro da organização. Isso pode ser verificado nos problemas que são resolvidos na medida em que surgem e problemas na questão de atendimento, na secretaria acadêmica, respectivamente, classificados em 9º e 13º lugares: Temos problemas? Têm problemas como têm pessoas, têm problemas, principalmente a questão de atendimento que os alunos reclamam, mas não justificando isso também se dá pelo acréscimo, pelo acúmulo de trabalho com poucas pessoas. (...) eu acho que ambiente que é agradável como eu falei antes é um que resolve os problemas de uma forma que todos possam ganhar e isso faz com que as pessoas sintam tranquilidade para trabalhar, sintam confiança também, sabem que só erra quem trabalha (R. 1). Outra questão que ficou evidenciada são os temas classificados em 14º, 15º e 18º e 19º lugares que se referem, a capacitações. As pessoas percebem que têm que melhorar, motivação e diálogo solucionam problemas. Esses espaços são vistos como forma de resolver os conflitos e tensões referenciados nos itens anteriores. Temos melhorado. A gente tem feito avaliações, tem feito capacitações. As pessoas percebem que têm que melhorar, quando tem reclamação, que são poucas as reclamações, se a gente olhar via ouvidoria, ou mesmo qualquer forma que chega a gente procura atender. Então, eu acho que a nossa cultura aqui é uma cultura, assim, apesar de tradicional, pelo tempo, mas nós estamos abertos para as mudanças (R. 1). As evidências acima vêm ao encontro das observações constatadas pela pesquisadora quando do estudo etnográfico. Observou que os atores sociais procuram, por meio de um diálogo aberto, resolver os problemas do dia a dia (Fonte: Anotações do diário de campo). 80 Ah, precisamos de vez em quando fazer um trabalho de motivação? Precisamos, somos pessoas, cansamos também, temos problemas pessoais, problemas às vezes de relacionamento no trabalho, isso acontece, mas eu penso que aqui no IESA, pela experiência nesses dois anos que eu estou aqui, a gente tem superado bastante bem isso, as pessoas encontram através do diálogo a solução quando surge um problema, a gente tem evoluído (R. 1). Há um entendimento por parte da administração e dos técnico-administrativos que a cultura do IESA prima pela qualidade de sua equipe e, portanto, oferece serviço diferenciado, temas classificados nas posições 10º, 11º, 12º, 16º e 17º, respectivamente, comprometimento com a qualidade, o diferencial; Instituição séria cumpre horário, exige bastante; tem resultado nos seus alunos; abertos às mudanças; número de alunos bom, procura no vestibular. [...] as pessoas que trabalham no IESA, nós podemos dividir assim, os professores, os funcionários, tanto os professores, vou começar com os professores, há um comprometimento com a qualidade, com o diferencial que o IESA tem tanto em Santo Ângelo quanto na região, na questão assim que é uma Instituição séria, cumpre horário, que exige bastante, que tem resultado nos seus alunos, nos exames de ordem, no caso do Direito. Enfim, na própria empregabilidade dos alunos dos demais cursos, isso há um comprometimento dos professores com essa realidade, então, isso faz parte da cultura do IESA (R. 1). Verifica-se na fala desse entrevistado que os professores e os técnicos administrativos estão comprometidos com a qualidade da organização, o que faz parte da cultura organizacional da empresa. Esse ponto pode ser observado no estudo de campo, quando se viu que os colaboradores não só conhecem o objetivo do IESA de qualidade no ensino, como estão comprometidos com ele. Esse comprometimento culmina em uma permanência maior dos funcionários no quadro da empresa, o que corrobora com a explanação do entrevistado abaixo: [...] eu também vejo que a equipe de funcionários do IESA é uma equipe que está já bastante tempo, não é uma equipe que fica mudando. O tournover, a mudança de pessoas, é pequena, e isso faz com que as pessoas sejam comprometidas com aquilo que fazem e com a Instituição. [...] aqui realmente, apesar de ser uma Instituição de educação superior, se tem as coisas sem estar muito frouxa, as coisas são seguidas à risca no sentido de cumprimento dos horários, da carga horária, do período letivo, de cumprir aquilo que está programado, isso é na questão pedagógica (R. 1). O depoimento do respondente demonstra haver comprometimento, trabalho em equipe, cooperação e lealdade do quadro funcional da Instituição o que pode ser confirmado no estudo etnográfico realizado pela pesquisadora (Fonte: Diário de campo). 81 [...] eu acho que há uma conscientização por todas as pessoas da importância de seu trabalho e da importância que esse trabalho faz parte de uma coletividade, são muitas pessoas, cada uma no seu setor, e eu vejo que dessa forma a gente tem conseguido manter o IESA como uma Instituição que está dentro de todas as dificuldades que passam as instituições de ensino superior, nós estamos conseguindo manter a instituição, número de alunos bom, boa procura no vestibular, e eu acho que isso é o que nós queremos, que todos buscamos (R. 1). Foram feitas outras referências tais como as de o IESA ter uma administração aberta (5ª posição), uma administração flexível (6ª posição) e ser uma administração liberal com autonomia para os setores (2ª posição), cujas visões podem ser evidenciadas nas citações dos respondentes a seguir: Bastante liberal, com autonomia para os setores. Um bom ambiente de trabalho, com bastante liberdade para desempenhar as funções (R. 2). Administração aberta, flexível, com participação de todos, autonomia para decisões (R. 5). Por outro lado, ainda que essa administração seja vista pela grande maioria dos atores sociais como uma administração flexível, aberta ao diálogo, que promove a liberdade de expressão e autonomia, aparecem, também, as variações administração de cima para baixo, ela segue as diretrizes da CNEC nacional (quarto lugar) e um misto de descentralizada e centralizada (oitava posição). Essas questões podem ser evidenciadas pelas seguintes falas. Bom, a administração é de cima para baixo, no caso o Diretor tem a hierarquia, que é o cargo máximo da Instituição, aí depois subentende que seriam os coordenadores e os chefes de setores. Mas a administração aqui segue as diretrizes que vêm da Direção nacional da CNEC, que é quem em primeira e última instância diz como as coisas devem funcionar, e a nossa Instituição permeia esses caminhos aí, essas diretrizes que são traçadas (R. 3). Aqui no nosso Instituto prevalece uma administração descentralizada, tanto é que nós temos o Conselho Superior, temos o Diretor, o Conselho Superior, temos núcleo [...] (R. 4). Embora a administração do IESA se mostre descentralizada em suas atividades no dia a dia, em alguns aspectos passa a ser centralizada, sobretudo no momento em que dá a entender que deve reportar-se a sua mantenedora, a Campanha Nacional das Escolas da Comunidade. Ou seja, deve responder a certos requisitos exigidos por uma hierarquia, o que pode ser evidenciado pelos enunciados expostos acima. b) Interpretações do grupo da área da docência Ao analisar o grupo dos professores, percebe-se que alguns temas do grupo anterior foram recorrentes, principalmente no que se relaciona à satisfação pessoal e ao sentir-se bem 82 no ambiente de trabalho como Satisfação com o ambiente de trabalho (1º posição na classificação). Essas revelações aparecem nas seguintes afirmações: Me sinto muito bem aqui em relação ao ambiente de trabalho (R. 6). Muito bom o ambiente de trabalho é superconfortável, descontraído, muito bom (R. 3). Estou muito satisfeito com o ambiente de trabalho, não tenho nada a reclamar (R. 14). Extremamente à vontade. É me permitido desenvolver minha área principal, que é a docência, tranquilamente. O ambiente de trabalho é extremamente facilitador (R. 13). Particularmente, sinto-me muito bem aqui no IESA (R. 17). Os respondentes frisaram, ainda, a organização da administração que mantém o pagamento dos colaboradores sempre em dia, bem como o planejamento estratégico que está sendo implantado na Instituição como fatores de satisfação pelo envolvimento que isso representa, trazendo satisfação em trabalhar no Instituto: Percebo que há uma administração muito organizada, por exemplo, a questão do pagamento dos funcionários que tem um dia certo e quanto aos investimentos que são sempre bem certos, bem seguros, então considero uma administração bem coerente. Ela é bem flexível, inclusive agora foi feito todo um planejamento estratégico, onde as pessoas poderiam colocar seus anseios e preocupações de uma forma anônima. Então ela realmente se abriu para os alunos, funcionários e para todos que estejam ligados à Instituição (R. 19). Os atores apontam temas que se relacionam com a participação na tomada de decisões, sendo que alguns são recorrentes no grupo posterior, variando apenas as posições na classificação, exceto “Somos escutados para que decisões sejam tomadas” (2ª posição); “Todos são chamados a dar suas opiniões” (5ª posição); “A oportunidade da fala a gente tem garantida” (8ª posição) e “Participação efetiva de todos” (12ª posição), o que se confirma no discurso dos seguintes atores: É uma administração totalmente coletiva onde nós coordenadores temos acesso a várias decisões e somos escutados muitas vezes pra que algumas decisões sejam tomadas aqui na Instituição (R. 6). Administração como algo aberto, no sentido de que todos os professores e funcionários são constantemente chamados a dar suas opiniões (R. 10). Vejo que é uma direção aberta a novas propostas (R. 13). [...] não é porque você é escutado que você vai ser atendido sempre, mas a oportunidade da fala a gente tem sempre garantido (R. 12). [..] parte do diretor as maiores ordens e planos de trabalho, porém, há uma participação efetiva de todos (R. 18). 83 Assim como o grupo anterior, os respondentes deste grupo também fizeram colocação sobre os temas administração flexível (4ª posição); administração aberta (3ª posição); administração de portas abertas (6ª posição), variando apenas a classificação, disposta no quadro 1. Essas afirmações podem ser constatadas nos discursos dos professores: No meu ver é uma administração bem flexível que principalmente favorece a criatividade e inovação (R. 7). É centralizada, flexível, permitindo a participação (R. 9). Vejo essa administração como algo aberto no sentido de que todos os professores e funcionários são constantemente chamados a dar suas opiniões (R. 10). A administração aqui no IESA, desde a chegada do novo diretor, tornouse bem mais aberta, organizada e clara (R. 14). Eu entendo que ela é bem flexível, pois o diretor consegue descentralizar o poder e distribuir bem aos coordenadores e a cada departamento que existe aqui dentro da instituição (R. 17). Alguns comentários acerca do modelo de gestão da hierarquia foram feitos pelos respondentes por meio dos temas “Misto entre centralizando e o descentralizado” (7ª posição); “Tem uma hierarquia desde a direção, ela é funcional” (9ª posição); “Descentralização do poder” (11ª posição); “Teoria contingencial” (14ª posição). Esses temas são apresentados no quadro 1 e podem ser visualizados a partir dos discursos dos seguintes respondentes: Eu acredito que aqui seja um misto entre centralizado e o descentralizado, algumas partes centralizadas e algumas partes descentralizadas (R. 11). Apesar de ser uma administração centralizada, há uma flexibilidade (R. 18). Acredito que é uma administração descentralizada, pois o diretor em associação com os demais professores tem a parte de organização e a administração dos vários cursos que a instituição oferece. Claro, algumas decisões ficam centralizadas na figura do diretor porque é uma questão administrativa mesmo (R. 20). Busca-se uma unificação dos diversos setores sem perder de vista a hierarquia verticalizada ao longo da qual o poder é exercido a partir de uma unidade de comando (R. 21). Outros atores sociais expuseram sobre a integração que deve haver na Instituição, com os temas “Temos um grupo integrado, motivado” (10ª posição); “O grupo deve estar sempre na mesma direção, unido” (13ª posição), que aparecem nos discursos abaixo: Hoje no nosso curso, eu como membro do NDE, acredito que a gente trabalha bastante, temos um grupo integrado, motivado e que trabalha bastante na divulgação do curso, além de estar preocupado com as dinâmicas do mercado (R. 16). 84 Quando a Instituição vai bem, todo mundo vai bem. Preocupo-me muito com isso, pois penso que o grupo deve estar sempre na mesma direção, precisa estar unido (R. 16). Apenas um respondente destacou o constante desafio que sente nas tarefas, ocupando, então, a posição 16ª na classificação exposta no quadro um. Sinto-me constantemente desafiado pelas tarefas diferenciadas que precisam ser desenvolvidas no cotidiano da organização. Tarefas diferenciadas decorrem de eventos externos (econômicos) e internos (determinações da superintendência) (R. 21). O tema “Problemas nos setores de atendimento”, que já havia sido revelado no primeiro grupo vem ressurge, neste grupo, na posição de 17ª nesse grupo de atores sociais e pode ser confirmado com o discurso a seguir: Penso que o ambiente no geral é bom, entretanto, temos problemas nos setores de atendimento, na postura profissional de algumas pessoas. Mas isso é algo que está sendo construído, os funcionários têm curso, então há um investimento em relação a isso, mas é uma caminhada que ainda vai longe (R. 12). Esse grupo destaca a satisfação com o ambiente de trabalho, com a administração e estrutura da organização, não descartando em absoluto a existência de alguns conflitos, porém contornáveis. c) Interpretações do grupo de funcionários Analisando o grupo dos técnico-administrativos, foi possível, novamente, constatar a recorrência de alguns temas dos grupos anterior. Os temas “Ambiente bom, agradável”, “Satisfação” e “Ambiente de tranquilidade” aparecem em 1º, 3º e 4º lugares, respectivamente, na classificação de ressurgência como pontos referentes ao sentir-se bem e ao relacionar-se bem no ambiente de trabalho, o que pode ser evidenciado a seguir. Gosto de trabalhar aqui é um ambiente bom. Estou satisfeita (R. 22). O ambiente de trabalho é bom, colegas bons, alunos, professores, ambiente muito bom de trabalho (R. 26). Eu me sinto satisfeita, gosto muito, sempre gostei, acho que a gente tem liberdade de expressão, acho que somos ouvidos nas nossas necessidades, tanto para as coisas boas quanto para as coisas ruins (R. 25). 85 E possível observar a partir das evidências dos atores sociais desse grupo que o ambiente de trabalho é realmente agradável, possibilita bons relacionamentos, também observados no estudo etnográfico realizado na pesquisa. Aqui na Instituição é um ambiente agradável, em que a gente tem uma boa relação, eu acredito, com os colegas a gente circula entre os setores, eu acredito que o relacionamento entre funcionários e com os superiores é bem agradável, é tranquilo [...] (R. 27). Muito bom o ambiente, de tranquilidade, onde a gente tem bastante liberdade, assim, o que eu quero dizer é que você trabalha com segurança e consegue desenvolver o seu trabalho com seriedade, mas bem tranquilo não sendo pressionado (R. 24). Podem-se observar também com frequência os temas “Administração aberta” (2ª posição); “Liberdade” (6ª posição); “Administração flexível” (7ª posição), pelos quais, os respondentes procuram informar o grau de acessibilidade e o diálogo existente entre gestor e técnico-administrativos. Esses temas podem ser visualizados nos depoimentos a seguir. É uma administração aberta ao diálogo, a ouvir os funcionários. Há um diálogo entre chefia e funcionário (R. 24). Eu acredito que a administração que prevalece é uma administração bem acessível em que eu, enquanto funcionária tenho acesso, eu sinto, quando necessito falar com o superior, quando procuro ele, está disponível, todos os dias, então é bem flexível, não é aquela coisa rígida (R. 27). Ele propõe uma administração flexível porque daí se tu tem condições de poder aperfeiçoar de maneira que contemple o que ele pediu, mas de qualquer maneira, ele dá flexibilidade na maneira de administrar (R. 28). Eu me sinto muito bem, a direção dá uma abertura bastante grande para se trabalhar, as nossas atividades são bastante extensas, bem diversificadas. Tem muitas áreas que se atua e logicamente tem que levar todas elas simultaneamente até o final do processo (R. 34). Algumas falas realizadas pelo grupo assinalam a existência de uma administração participativa (5ª posição) e democrática (8ª posição) conforme respostas que seguem. Administração participativa é uma administração aberta, flexível, dá liberdade para poder contribuir, é uma administração que preza pelo crescimento individual posso dizer, democrática, a delegação de poder é bem boa, não há uma concentração, não é centralizada e sim uma delegação de poder, se abre oportunidade de participar, prova disso foi o último planejamento estratégico (R. 29). Uma administração bastante democrática onde todos nós conseguimos ter parte nessa administração (R. 31). Bom, acho que a administração é bastante democrática, flexível, acho que sem maiores complicações, perfeitamente acessível, acho que pra qualquer funcionário, pode chegar tranquilo, acho que é bastante democrática (R. 33). 86 Outros atores sociais expuseram sobre “Como o ambiente de trabalho favorece a atuação” (9ª posição), também houve quem pontuou sobre “Ambiente organizado” (10ª posição) para se referir, ainda, sobre como as coisas funcionam no Instituto e como é o ambiente de trabalho. Eu particularmente me sinto muito à vontade, o ambiente é bem organizado, bem dividido, assim as funções são bem definidas, eu me sinto muito à vontade de circular por esses setores, eu acho que o ambiente de trabalho é muito propício ao trabalho mesmo, favorece a atuação, acho que é bem bom (R. 23). É uma administração voltada para organização sempre preocupada com o crescimento da Instituição, sempre preocupada em manter a estrutura, junto com os funcionários, professores, comunidade, elevando o nome da CNEC/IESA cada vez mais longe (R. 26). Os atores abordam também a disposição do gestor, que permite abertura ao diálogo (11ª posição), pontuando o tema “Somos ouvidos” (12ª posição) e “As decisões são tomadas de forma compartilhada” (13ª posição). É uma administração aberta ao diálogo, a ouvir os funcionários. Há um diálogo entre chefia e funcionário (R. 24). [...] mas ele é aberto à conversa, todo mundo pode chegar, conversar com ele, tirar suas dúvidas, vir com os projetos, ele avalia e vai dar o parecer dele, se quer ou não (R. 32). [...] a delegação de poder é bem boa, não há uma concentração, não é centralizada e sim uma delegação de poder, se abre oportunidade de participar, prova disso foi o último planejamento estratégico (R. 29). Conforme foi visualizado em campo e comprovado pelas entrevistas, há participação dos atores sociais nas tomadas de decisões. Eu penso que ela acontece de maneira até conjunta pelo fato de a gente ter abertura com o Diretor na tomada de decisões. Os funcionários têm condições de participar na tomada de decisões na medida em que os responsáveis de setores têm a liberdade de levar sugestões, de levar opções para as soluções (R. 23). A administração no IESA, hoje, ela está bastante descentralizada, compartilhada, diríamos que as decisões são tomadas de forma compartilhada, sempre de forma colegiada (R. 34). Os depoimentos dos respondentes confirmam a fala do Diretor, bem como os dados levantados no estudo etnográfico, por meio da observação participante e não participante da pesquisadora, quando se referem ao ambiente agradável, à forma cordial de tratamento, à confiança mútua entre as pessoas, ao comprometimento com a qualidade como um diferencial da Instituição. 87 O IESA possui uma estrutura enxuta, o que possibilita maior aproximação das pessoas e, consequentemente, maior eficiência administrativa, conforme o discurso do Diretor “temos aqui uma administração que podemos considerar muito enxuta, mas muito eficiente, enquanto que, mesmo não havendo assim uma política de gestão de pessoas, penso que os colaboradores da área administrativa, todos, desempenham bem as suas funções, estão sempre dispostos a participar de treinamentos, capacitações de buscar as mudanças que são necessárias para uma instituição educacional”. 5.2 CATEGORIA 2: ADEQUAÇÃO DA ESTRUTURA FÍSICA E EQUIPAMENTOS Com esta categoria “Adequação física e equipamentos” pretende-se levantar como são a distribuição física e os equipamentos desse ambiente e como esses aspectos são vistos pelos atores sociais. O quadro 2 mostra que os temas recorrentes são os mesmos para os grupos dos professores e técnico-administrativos, mantendo-se com as mesmas posições na classificação de frequência. O grupo da administração apresentou apenas os dois primeiros temas que foram recorrentes nos grupos posteriores, sendo que os temas se apresentam sobre a mesma posição, a mesma classificação que os dois grupos, professores e técnicoadministrativos. Administração 1º Adequados Professores 1º Adequados Técnicos Administrativos 1º Adequados 2º Adequados, com restrições 2º Adequados, com restrições 2º Adequados, com restrições 3º Inadequados 3º Inadequados Quadro 5: Adequação da estrutura física e equipamentos Fonte: Dados da Pesquisa Para o grupo da administração, não há inadequações, embora tenham consciência de que em alguns setores é necessária ampliação do espaço físico. a) Interpretações apreendidas do grupo da área da administração Em relação ao espaço físico, além da categoria adequação de espaço, foram tratados no item 4.3 aspectos relacionados a espaços, equipamentos e mobiliários com detalhes requintados. 88 Acerca do espaço físico da área administrativa, os respondentes pontuaram sobre os temas “Adequações” (1ª posição) e “Adequado, com restrições” (2ª posição). Eis algumas das colocações feitas pelos atores sociais: É uma instituição invejável quanto a esses aspectos, equipados com o que tem de mais moderno. Em 2011, adquirimos uma série de equipamentos para os portadores de necessidades especiais (R.1). Sim temos todas as condições para desempenhar adequadamente as funções atribuídas ao setor (R. 2). Sim, é adequado, principalmente a partir de 2010 quando houve uma grande melhora tanto em tamanho de área, quanto em qualidade. Equipamentos, se você me permitir, nós na tesouraria contamos com uma novidade que, além dos equipamentos normais de trabalho, nós buscamos ferramentas também para atender o nosso aluno que hoje nós trabalhamos, além dos métodos tradicionais de cheque dinheiro e coisa e tal, agora em 2011 a gente entrou também bastante com essa parte de cartões de crédito que era uma aspiração antiga dos alunos (R. 3). Os equipamentos, bem como espaço físico, são no geral adequados ao exercício das funções, o que pode ser verificado pela pesquisadora em sua observação em campo (diário de campo). O nosso espaço físico, ele está evoluindo gradativamente. O senhor diretor já nos falou que a secretaria vai sair de lá, vai pra outra peça mais ampla. Pra nós que éramos só um curso tava muito bom, mas agora já são 6 cursos, quer dizer, dentro da secretaria que é um trabalho eminentemente cartorial, tudo na rapidez que duvido até que muitas faculdades, universidades têm que nem nós. Um aluno chega tirar uma certidão, um atestado em menos de 2 segundos está na sua própria mão, pronto. Então isso aí pra nós é muito positivo essa parte e todo mundo trabalha junto, em conjunto. Também é uma coisa gratificante pra nós (R. 4). O espaço da biblioteca é adequado com limitações para a disposição do acervo bibliográfico, porém já está sendo providenciada a ampliação (R. 5). Logo, diante das explanações dos atores pode-se perceber que, de maneira geral, o espaço físico é adequado, porém, do ponto de vista dos administradores, precisa, ainda, ser melhorado em alguns setores como secretaria e biblioteca. b) Interpretações apreendidas do grupo dos professores O grupo da área de docência apresenta, em primeiro lugar na classificação, a adequação do espaço físico, demonstrando haver satisfação pela maioria dos professores pela disposição das salas de aula e equipamentos disponíveis. Essa visão pode ser evidenciada nas explanações a seguir: 89 O espaço físico com certeza é adequado aos exercícios das minhas funções [...] os equipamentos que nós temos são todos compatíveis, sim, com certeza (R. 6.) Na maioria dos casos, em relação principalmente aos laboratórios, o espaço físico é fantástico, de primeira, com todos os equipamentos necessários (R. 8). Os equipamentos, sim, e dentro do possível a gente tem acesso ao que é preciso e também a Instituição sempre está se adequando. Hoje por exemplo temos acesso ao Datashow, projetor multimídia (R. 12) E em nenhum outro lugar é disponibilizada uma estrutura tão boa para trabalhar, desde salas climatizadas em todas as salas, cadeiras estofadas e agora começamos a instalar Datashows nas salas da saúde, e isso é uma coisa fantástica, pois precisamos muito (R. 16). Há quem considere que o espaço é adequado, mas possui restrições (2ª posição), assim como outros que os consideram inadequados (3ª posição). O espaço físico pra mim é muito bem adequado. Equipamentos [...] nesse ponto eu acredito que poderia ser melhorado, uma dica que eu coloco é caixa de som disponível sempre na sala de aula para nós podermos participar com filmes pequenos, músicas, esse tipo de interação (R. 7). Sim, ele é adequando aos exercícios das funções, exceto algumas turmas, que são excessivamente grandes, né, aquelas que têm mais de 60 alunos ou por volta de 60 alunos e as salas são estreitas, mas no modo geral o ambiente de trabalho é ótimo (R. 11). Em relação ao meu departamento específico há no Núcleo de Pratica Jurídica em termos de espaço físico, já algum tempo existe a intenção de fazer uma reestruturação de sala, células de atendimento e já existe um projeto para que nós tenhamos uma melhor adequação deste espaço. O mesmo pode ser dito em relação aos nossos equipamentos, nós temos a perspectiva de já pro começo do próximo ano, 2012, novos e melhores equipamentos, atendendo melhor os acadêmicos (R. 10). Há por parte de alguns atores sociais manifestações de insatisfação pelo espaço físico. Aqui no IESA, eu, como advogado do Núcleo de Práticas Jurídicas e também como professor, percebo que o núcleo, hoje, ele está um pouquinho carente de espaço, pelo seguinte motivo: Existe em torno de 150 alunos por semestre inscritos na cadeira de prática e então temos que dividi-los na parte da tarde, uma vez que eles têm aula à noite (R. 18). Os equipamentos são compatíveis, exceto o sistema de informações interno, o qual necessita de atualização permanente, maior padronização das informações e maior integração entre os diversos setores como secretaria, tesouraria, coordenação e terminal dos acadêmicos (R. 21). Em geral, verifica-se que o espaço físico corresponde às necessidades do professor no exercício de suas atividades, havendo, no entanto, uma ou outra reclamação. No grupo da administração, bem como no grupo dos professores, observam-se poucas discordâncias, sendo o índice de insatisfação baixo para os dois grupos. O grupo dos técnico-administrativos é verificado na sequência. 90 c) Interpretações apreendidas do grupo dos técnico-administrativos O Instituto prima pelo conforto tanto do aluno quanto do professor e do técnico. Com raras exceções, o espaço físico e os equipamentos são satisfatórios a todos. Os temas que se destacaram neste grupo foram: “Adequados” (1ª posição), “Adequados, com restrições” (2ª posição) e “Inadequados” (3ª posição). Alguns técnicos foram objetivos em suas respostas, outros foram mais detalhistas, ilustrando inclusive com suas histórias. Apresentam-se, primeiramente, os depoimentos dos técnicos que consideram as instalações e equipamentos adequados ao exercício de suas funções. Sim, para minhas funções é. Os equipamentos são compatíveis, sim, quando tem algum problema, todos são resolvidos (R. 22). Sim, são compatíveis com a minha função (R. 24). Sim, tanto que esse ano como o meu volume de papel é muito grande, eu requisitei um anexo, uma sala extra e fui atendida, então o meu espaço é plenamente satisfatório (R.25). No meu caso, sim, tanto para o meu trabalho, quanto para os pacientes também, são todos adequados, no caso equipamentos, computadores, cadeiras, são todos adequados com o meu trabalho (R. 30). Minha sala é de um tamanho bom, os equipamentos, tudo o que eu preciso é tranquilo, falta alguma coisa, mas o que eu tenho é adequado (R. 31). Em seguida, apresentam-se aqueles que consideram as instalações adequadas, mas apontam algumas restrições: Sim, apesar da minha deficiência, eu tenho as minhas convicções que agora eu estou num local bem amplo, espaço para girar, me movimentar, é muito bom o ambiente de trabalho. Os equipamentos, sim, não são 100%, têm alguns arquivos que eu não posso movimentar, mas quase na totalidade são compatíveis com a minha situação de trabalho (R. 31). Sim, acredito que o espaço físico está adequado e algumas inconsistências ainda existentes em nível estrutural, prédios estão sendo adequados, então, dentro em breve estaremos com toda a infraestrutura física e ergonômica adequada para os trabalhos aqui propostos (R. 34). Há aqueles que consideram as instalações, por algum motivo, inadequadas: Na assessoria de comunicação, hoje, o espaço físico não é adequado, ele até era algum tempo atrás quando só eu trabalhava, hoje então nós já estamos enfrentando problema, a gente está pensando e articulando e vendo um espaço porque não conseguimos alocar mais um funcionário na assessoria (R. 23). É, num certo sentido, poderia ser fechado pra gente, porque como a gente está no telefone, então a gente vê outras pessoas. É claro, a gente é recepcionista também, mas, mesmo assim, pra ser telefone, teria que ser um ambiente um pouco mais fechado, que nem ali no saguão a gente encontra, escuta todos os barulhos, passa uma criança a gente escuta, mas assim, o ambiente mesmo, está ótimo (R. 32). 91 Após os relatos evidenciados acima, corroborados com o item 4.1.1, que descreve a história desta Instituição, constata-se que o IESA vem crescendo de maneira rápida e isso faz com que precise se adequar também com certa velocidade. Essa aceleração ocasiona algumas inconsistências no nível estrutural. 5.3 CATEGORIA 3: BRINCADEIRAS E PIADAS QUE AS PESSOAS FAZEM Observa-se no quadro abaixo a presença tanto de manifestações que estão de acordo com as brincadeiras que permeiam o ambiente de trabalho, como aquelas que discordam de tais atitudes. O tema “Brincam com colegas” aparece nas manifestações dos três grupos, administração, professores e técnico-administrativos. O tema “Não brincam” está presente somente nas manifestações do grupo dos professores e do grupo dos técnico- administrativos. Administração Professores 1º Brincam com colegas Técnicos Administrativos 1º Brincam com colegas 1º Brincam com colegas 2º Não brincam 2º Não brincam Quadro 6: Brincadeiras e piadas que as pessoas fazem Fonte: Dados da pesquisa A categoria “Brincadeiras” possibilita transformar o ambiente de trabalho em um ambiente mais leve, agradável e descontraído. A seguir, apresentam-se os temas presentes nesta categoria que são ilustrados pelas manifestações dos respondentes. a) Interpretações do grupo da área da administração O grupo da área da administração afirma que é possível fazer brincadeiras e que brincam com os colegas, porém em horário propício, dentro de um limite e com pessoas que sabem que podem brincar. Os depoimentos que seguem confirmam tais eventos. A gente brinca, conta piada, mas no horário adequado, quando se está trabalhando nós temos um ambiente de trabalho sério. Há um ambiente respeitoso, não acho que seja um problema essa questão (R. 1). Eu vejo assim que nem eu falei antes, um momento maior que se faz brincadeira é na chegada do expediente, quando a gente se reúne lá na sala do ponto, toma um cafezinho, coisa assim. Eu vejo que é bem aceito e depois, dentro do possível, cada um, ao assumir a sua atividade do turno, né, vai adequando, se vê que tem alguma abertura que isso possa trazer algum benefício. Mas eu vejo que tem o espaço, sim, nós só temos que procurar utilizá-lo da melhor maneira possível para o andamento dos trabalhos (R. 3). 92 Se conta piadas, na saída, no momento do cafezinho, antes de começar a trabalhar, quando se encontra, mas nada pejorativo (R. 1). Os funcionários são amigos e sempre tem muita descontração. O próprio diretor dá esta liberdade para os funcionários se descontraírem no ambiente de trabalho, claro que tudo sempre respeitando o colega de trabalho (R. 2). Entendem que esse tipo de descontração faz bem, inclusive pode ajudar pessoas que muitas vezes estão passando por algum problema, como se constata na resposta a seguir. Sim, sim, sim. Isso aí eu acho até que alegra e que traz satisfação, mas não essas piadas sem cabeça, sem perna, sem nada, essas aí não. Mas uma piada, uma brincadeira saudável, alegre, isso aí faz bem pra pessoa que muitas vezes a pessoa não amanhece muito bem, tá meio chateada e outro colega dá uma brincada, reativa e dá ânimo na pessoa, uma brincadeira sadia. Isso é bem positivo (R. 4). No geral, mesmo sendo um ambiente de trabalho sério, com grande comprometimento para qualidade nos serviços como foi evidenciado nos depoimentos acima, é, ao mesmo tempo, um ambiente descontraído, com manifestações de brincadeira e piadas no dia a dia. No início da pesquisa, foi possível a percepção da presença de brincadeiras na observação da pesquisadora em campo, o que foi registrado no diário de campo. Na maioria dos setores visitados e observados, havia em algum momento brincadeiras e piadas entre os colegas de trabalho. b) Interpretações do grupo dos professores Os atores sociais da área da docência são em boa parte brincalhões e dizem que esses comportamentos e atitudes são naturais no grupo de trabalho do qual fazem parte. Porém, existem aqueles que não gostam e não fazem brincadeiras dizendo não ser esse o seu estilo. Os temas recorrentes neste grupo foram, então, “Brincam com colegas” (1ª posição) e “Não brincam” (2ª posição), conforme autenticação dos respondentes a seguir: Eu acredito que sim, desde que a brincadeira seja feita na hora certa e com as pessoas certas. Acho que no momento que a brincadeira é feita no momento correto e com as pessoas corretas não tem problema nenhum. Agora, nós temos que saber do perfil e da personalidade de cada um pra saber se a pessoa aceita aquele tipo de brincadeira ou não (R. 6). Acho que eu, principalmente, sou bastante brincalhão acho que ajuda manter o ambiente descontraído quando as brincadeiras cabem no momento (R. 8). Eu entendo que sim, desde que, claro, prevaleça a razoabilidade. Somos todas pessoas, seres humanos e a descontração é algo que eu entendo fundamental. Claro que aí entra essa situação de fazer a brincadeira correta com as pessoas corretas, com as pessoas que se permitem brincar (R 10). 93 Essas colocações sobre o cuidado que deve haver para que a piada e brincadeira sejam feitas na hora correta foram expostas pela grande maioria dos respondentes, evidenciando que há uma preocupação entre os respondentes em fazer do ambiente um local saudável, de descontração, mas, ao mesmo tempo, de respeito: Sou uma pessoa que faço brincadeiras e faço piadas, a questão é o contexto em que você faz a brincadeira ou a piada. Quanto ao que as pessoas vão pensar, isso é muito de cada pessoa. Na sala dos professores, por exemplo, antes do início das aulas, às vezes você fazer uma piada é um jeito de você dar uma relaxada até porque é no início da noite e muita gente já fez dois turnos e está vindo cansado (R. 12). Bom, isso tem várias situações e conotações, por exemplo, você fazer uma brincadeira salutar como o esporte aqui pra nós no Rio Grande do Sul, uma rivalidade salutar entre o Grêmio e o Inter, penso que é legal. Mas uma piada quando ela tem um tom pejorativo acho que em qualquer ambiente ela não vai ser bem vinda, e acredito que nunca houve esse problema aqui na IESA. Eu, particularmente, nunca participei de nenhuma situação assim (R. 13). Acredito que sim, mas tudo tem o seu momento e a sua hora. É importante existir um relacionamento bom, pois temos que trabalhar com alegria e fazendo uma brincadeira saudável e no momento adequado, considero essa afetividade importante porque ela mostra que as pessoas têm empatia e que elas gostam de juntas (R. 16). Há aqueles que assistem às brincadeiras e não se sentem incomodados com elas. Porém, por características subjetivas, não promovem esse tipo de interação nem na sala de aula, nem na sala de professores. Há, ainda, os que não aprovam as brincadeiras no local de trabalho, conforme se evidencia nos depoimentos a seguir: Olha, eu até sinto por parte de alguns colegas e alunos, mas não é meu estilo. Então, eu sou, dou risada e brinco, mas eu não dou continuidade a isso, não me sinto bem principalmente em sala de aula, não é meu estilo (R. 7). Não vejo problemas em relação a isso, mas tem colegas que não gostam, que se sentem incomodados com isto. São pessoas que se incomodam com tudo, que tudo irrita. Não acho que o problema esteja nas brincadeiras e nas piadas, é na tua postura e escolha profissional (R. 12). Existem pessoas que não aceitam esse tipo de atitude e nesse caso a gente tem que saber que deve deixar para brincar com aquelas pessoas que têm uma aceitação (R. 17) Penso que isso é um pouco complicado, eu particularmente não gosto, apesar de ser muito extrovertido, pois penso que trabalho é uma questão muito restrita e séria. Sou muito de fazer brincadeiras, mas isso é à parte, no ambiente de trabalho não sou muito favorável, nem gosto muito, porque sempre pode ter interpretações ambíguas e o ambiente de trabalho não é o local, realmente, pois aqui tratamos com alunos e pacientes (R. 19). c) Interpretações do grupo dos técnico-administrativos As pessoas da área técnico-administrativa, assim como o grupo dos professores, em grande parte gosta de brincadeiras como uma forma de descontração no ambiente de trabalho, 94 porém existem alguns que não gostam e não fazem brincadeiras. Esse grupo apresenta o tema “Brincam com os colegas” (1ª posição) e “Não brincam” (2ª posição), conforme os depoimentos abaixo. Sim. Mas tudo tem limite, a gente dá uma paradinha, brinca um pouco e retoma pro serviço sem problemas (R. 22). Olha, eu acredito que é sim possível, isso descontrai o ambiente, acho que isso faz parte de um local onde muitas pessoas convivem, acho que é sim, só que como tudo na vida há um certo limite, um certo consenso, momento tem que sentir também porque uma relação de trabalho é uma relação pessoal acima de tudo, então às vezes, o colega realmente não está num dia muito bom, então às vezes a piada que serviria para descontrair acaba sendo o contrário (R. 23). Olha dependendo da brincadeira, uma coisa bem saudável, até em relação ao trabalho, nada de brincadeiras que vão interferir no trabalho (R. 24). É, é possível fazer, dentro de certo limite, sempre tu tem que saber até que limite que tu possa fazer o divertimento ali dentro mesmo assim, não atrapalhar o teu ambiente, a tua função que tu tá exercendo, o andamento do teu trabalho (R. 28). Sim, brincadeiras sadias que não irão atrapalhar o desenvolvimento das atividades (R. 26). Acho até que é importante que isso aconteça, até para descontrair, porque nós não somos máquinas trabalhando, nós somos pessoas e importante, e preciso também de um momento eventual, não a toda hora, enfim, tem o momento certo, é isso, mas é importante (R. 33). Eu sou muito brincalhão, então eu vou ser bem sincero, eu acho que a brincadeira, ela até pode ser feita uma vez que você compreenda com quem você está fazendo (R. 31). Tem aqueles que não brincam, não gostam e, no seu ponto de vista, as brincadeiras não devem fazer parte do contexto do trabalho: Assim como no grupo anterior, há os que não fazem brincadeiras, porém, não se incomodam com quem as faça: É possível, desde que você conheça as partes, muitas pessoas não gostam de se envolver com piadas, ou se for piadas maldosas, ou meio sacanas, elas se sentem mal e não gostam desse tipo de situação (R. 34). Creio que isso não seja possível, mas que aconteça, que acontece, mas eu acho que não é o lugar adequado pra se fazer (R. 30). Olha, eu nunca fiz (risos), mas fazem e eu gosto, eu brinco com eles, então, tudo tranquilo, eu aceito bem (R. 32). Conforme mencionado acima, a pesquisadora já havia presenciado em seu estudo de campo, por ocasião da observação no estudo etnográfico, a presença de brincadeiras nos ambientes de trabalho do Instituto. Relato da pesquisadora: No campo, ao observar um setor com quatro técnicos trabalhando mais o chefe do setor, no expediente da noite, pude presenciar brincadeiras e piadas que eles faziam uns com os outros, riam muito. “Há liberdade para brincadeiras e piadas, assim como a presença do chimarrão e do cafezinho no setor. Os funcionários conversam, fazem brincadeiras, lanche, tudo com muita harmonia. O diretor chega e interage nas brincadeiras” (Diário de campo, julho de 2011). 95 Para a categoria “As brincadeiras e piadas que as pessoas fazem”, a manifestação de ações, compondo os temas apresentados, está distribuída de maneira quase uniforme, uma vez que o tema “Não brincam” deixa de estar presente somente no grupo da administração, o tema “Brincam” é compartilhado pelos três grupos de atores pesquisados. 5.4 CATEGORIA 4: POLÍTICA DE REMUNERAÇÃO A categoria “Política de remuneração” concentra-se em desvendar manifestações que direcionavam para salários recebidos pelos atores sociais do Instituto em seus diferentes grupos. Os temas expostos no quadro abaixo são resultados encontrados nos três grupos de atores que compõem a Instituição. Administração Professores Técnico-Administrativos 1º Satisfação 1º Satisfação 1º Satisfação 2º Acima do mercado 2º Plano de carreira 2º Insatisfação 3º Plano de carreira 3º Acima do mercado 3º Implantação do Plano Carreira 4º Política transparente 4º Padrão Quadro 7: Política de remuneração Fonte: Dados da pesquisa A seguir, será apresentado cada tema, segundo cada grupo de atores, conforme suas manifestações referentes à política de remuneração do IESA. a) Interpretações do grupo da área da administração Como pode ser observado no quadro 7, os respondentes da área da administração expuseram temas como “Satisfação”, “Acima do mercado” e “Plano de carreiras”, classificados em 1º, 2º e 3º lugares, respectivamente. Esses dados podem ser evidenciados pelas seguintes manifestações: Satisfeito, porque eu acho que é uma remuneração adequada para a função que eu exerço e eu penso que a remuneração aqui do IESA é uma remuneração adequada. O IESA tem salários acima do mercado (R. 1). Tenho um bom salário, acima da média salarial da CNEC e de Santo Ângelo (R. 2). Eu sou uma pessoa satisfeita com o salário, sem dúvida nenhuma, é claro que a gente falando no financeiro, se puder ganhar um pouco mais, por que não. Em 2009, a gente teve oportunidade de galgar algum trabalho, a mais como foi o caso de 96 passar a dar aulas, a gente passou a receber um pouco mais por essas cadeiras, sem que houvesse redução no salário que até então vinha sendo percebido. No meu caso, o salário como tesoureiro permaneceu, embora seja uma noite por semana, mas isso é uma satisfação porque a gente pode exercer uma outra atividade paralela à principal que é a de tesoureiro (R. 3). Satisfeita, porque sabemos que o IESA é uma das instituições que melhor paga os funcionários na região. É um diferencial seu. Além de poder atuar na docência e melhorar os ganhos (R. 5). Para os professores, já foi implantado Plano de Carreira, para os funcionários está sendo desenvolvido um (R. 5). Além dos temas descritos anteriormente, um respondente manifesta insatisfação por perdas ao longo da carreira, o que se julgou importante apresentar. Satisfeito ou insatisfeito? Risos... péssimo... risos...não, não, não. É que nós aqui dentro da FADISA, antiga FADISA, isso é uma história longa, nós éramos remunerados sobre 15 salários, nós tínhamos o 13º, 14º e o 15º porque nós tínhamos duas intensivas por ano que era julho e dezembro, e nessa aí nós trabalhávamos de manhã, tarde e noite, então nos pagavam um salário a mais. Com o tempo terminou, terminaram as intensivas e o Diretor da época chegou e disse: “Então, eu vou fazer o seguinte, eu vou dividir esses 15 salários, dividir por 13”. E incorporou os 13, mas nessa incorporação nós tivemos desvantagens [...] (R. 4). Constata-se nesse grupo que a maioria dos respondentes se considera satisfeito com o salário. Há, ainda, um destaque para o diferencial que a Instituição possui, com pagamentos acima do padrão do mercado. b) Interpretações do grupo dos professores Como pode ser visualizado no quadro 7, os respondentes da área de docência, divergiram apenas em um dos temas apresentados, o de política transparente, os demais temas são iguais até mesmo em suas classificações para ambos os grupos. A interpretação da maioria fica com o tema “Satisfação” (1ª posição), seguido do tema “Plano de carreira” (2ª posição), o tema “Acima do mercado” (3ª posição) e, por último, “Política transparente” (4ª posição). Eu me sinto satisfeita porque eu vejo que, com certeza, o retorno que eu investi nos meus estudos não vem a curto prazo, mas estão vindo devagar e porque eu sei ser o IESA é uma das instituições que melhor paga em nível superior no Estado do Rio Grande do Sul (R. 7). Satisfeito, porque eu acho que é um salário compatível com a função que eu exerço, bem remunerado. A política aqui agora tem o plano de carreira (R. 8). Eu me considero satisfeita porque é, na verdade, nós temos que ter ciência da atividade que nós estamos desenvolvendo, do que a atividade do magistério, se você fizer comparações, tem profissões que recebem muito mais. Mas, dentro do magistério, me considero satisfeita (R. 9). 97 A satisfação com a remuneração também pode ser evidenciada por ocasião da observação em campo (Diário de Campo, julho 2011). Eu me sinto bastante satisfeito, uma vez que eu vejo que a remuneração, ela efetivamente faz jus, assim, a toda dedicação, todo envolvimento, o estudo que o professor dedica para desempenhar suas atividades à instituição. Ela é conhecida por ter uma remuneração que ultrapassa a média de outras instituições desse mesmo nível pelo Estado do Rio Grande do Sul. Isso realmente é um reconhecimento, buscando que o professor esteja permanentemente disposto, esteja estimulado a prosseguir a aprimoração e retribuindo isso ao aluno (R. 10). Satisfeita porque eu fiz uma busca pessoal em termos de remuneração do que a região paga. O salário que eu recebo aqui na Instituição é uns dos maiores, se não for o maior, da região e tô muito satisfeita (R. 15). Hoje temos plano de carreira, temos ascensão, tem uma série de vantagens no plano de carreira que foram parte desse processo Penso que o IESA tem uma política transparente. E também a política de pagar em dia, é excelente (R. 16). Satisfeito, em relação à média do mercado, satisfeito. Bom, agora nesse ano 2011, foi aprovado um plano de carreira, essa política de remuneração, é, ela existe, ela premia por tempo de serviço e por meritocracia (R. 11). Alguns dizem que é normal o ser humano não estar completamente satisfeito com o salário que recebe e estar sempre em busca de algo mais. Outros ainda pensam que, por estarem exercendo atividade diferenciada no grupo, deveriam receber algo a mais, um diferencial por isso. Como eu sempre digo: Ninguém vai estar sempre satisfeito com o que ganha, sempre vai querer mais, e isso é uma coisa do ser humano mesmo. Mas vejo que a instituição aqui tem uma política de remuneração muito boa, que me deixa muito satisfeito (R. 18). Bem, eu me sinto satisfeita em relação ao salário que eu recebo, porém eu acredito que pelo cargo que é me destinado, eu acredito que o cargo de coordenador, deveria ter um diferencial (R. 6). Foi possível observar que a maioria dos atores da área da docência desta instituição considera satisfatório o salário que recebe. Considera-o acima do padrão do mercado, e que conta com um plano de carreira bem-estruturado e uma política de remuneração transparente. c) Interpretações do grupo dos técnico-administrativos Como pode ser averiguado no quadro 5 da categoria “Política de remuneração”, os respondentes da área técnico-administrativa do IESA expuseram suas interpretações de maneira bastante diferente em relação aos outros grupos analisados, sendo recorrente apenas o primeiro tema, o da satisfação, que ficou classificado na 1ª posição, igualmente aos grupos 98 anteriores. Os demais temas: “Insatisfação” (2ª posição); “Implantação de um plano de carreiras” (3ª posição) e “Padrão” (4ª posição) são temas novos nessa categoria: Sinto-me bem satisfeita porque sei que o trabalho que eu desenvolvo aqui, se eu fosse desenvolver noutro lugar, seria bem menos (R. 22). Eu me sinto satisfeita, primeiro porque há uma definição da minha categoria que define um piso salarial para os jornalistas do interior do Estado e eu hoje recebo um valor que é acima desse piso, então nesse sentido, me sinto satisfeita em relação a todo um contexto de segurança, de atuação que a gente encontra aqui no IESA, claro que quando se fala em dinheiro sempre a gente quer ganhar mais [...] (R. 23). Eu me sinto plenamente satisfeito, eu acho que a Instituição, o IESA, CNEC/IESA, remunera muito bem seu corpo profissional, se compararmos com o mercado local ou regional (R. 34). Olha... pelas horas que eu trabalho tá muito bom, eu trabalho cinco horas e estou ganhando muito bem, não tenho o que me queixar e ainda agora vou ganhar dois quadriênios, perfeito! (risos) (R. 32). Satisfeito, porque dentro daquilo que está disposto o trabalho, que foi colocado para determinada função, acredito que está dentro dos padrões (R. 26). Assim como a satisfação é demonstrada por um bom número de funcionários, também há aqueles que não estão totalmente satisfeitos [...] a gente sempre tá em busca de algo, então o ser humano, eu acho que satisfeito, satisfeito ele nunca está, mas, ele sempre está em busca de melhores condições até para atender as suas necessidades familiares. Insatisfeita eu não estou, mas eu tenho tentado buscar [...] (R. 27). Não é um salário que eu me sinta insatisfeita, mas, acho que pela responsabilidade do meu cargo em relação ao financeiro deveria ser feito, eu acho que deveria ter um salário um pouquinho mais adequado (R. 24). Há aqueles que estão insatisfeitos com a remuneração, por um motivo ou outro. Bom, agora vou falar a verdade, eu me sinto realmente insatisfeita quanto ao salário, porque eu acredito, assim, que o trabalho é feito com firmeza, com responsabilidade, coisa e a gente sabe que pessoas que não têm tanta responsabilidade recebem muito mais do que a gente (R. 28). No momento até eu me sinto insatisfeita, até porque eu acho que não está de acordo com o salário de outros funcionários e eu já conversei com a direção e a direção já me deu o retorno sobre isso (R. 30). Pelo trabalho que eu tenho, responsabilidade que eu tenho, pelos dois lugares, pela contabilidade do Sepé e do IESA, tem muita coisa pra fazer. Olhando o volume de trabalho, eu me sinto insatisfeita, mas se eu vou olhar o quadro geral eu acho que tá dentro (R. 33). Ninguém na vida tá satisfeito com o que ganha, infelizmente o povo é assim, logicamente que é e eu faço parte de um povo todo, sempre a gente quer ganhar um pouco mais, mas dentro de uma realidade eu não posso me queixar do que ganho (R. 31). Ao analisar a categoria política de remuneração, constata-se que a manifestação de ações, compondo os temas apresentados, está distribuída de modo desigual entre os grupos 99 que compõem o Instituto. Foram revelados e desvendados temas que são compartilhados entre os três grupos que formam a organização, assim como temas que são manifestados apenas por dois grupos, ou até mesmo aqueles que estão presentes em um único grupo. O tema que pôde ser observado nos três grupos foi “Satisfação” pelo salário que recebe. Os temas presentes nas manifestações de apenas dois grupos foram “Acima do mercado” e “Plano de carreira”. Os temas que foram apresentados em apenas um grupo foram “Política transparente”, “Implantação de um plano de carreira”, “Insatisfação” e “Salário padrão”. 5.5 CATEGORIA 5: RELACIONAMENTO ENTRE OS DIFERENTES ATORES Os resultados e a análise da categoria “Relacionamento” serão apresentados nos próximos itens: o relacionamento que os diversos atores mantêm com os pares, o relacionamento que mantêm com superiores, o relacionamento com os professores e, por fim, o relacionamento com os técnico-administrativos. 5.5.1 Relacionamento com os pares O quadro 6 apresenta os resultados obtidos nas entrevistas com os atores dos três grupos. Primeiramente, serão apresentadas as interpretações referentes ao grupo da administração, na sequência, as interpretações referentes ao grupo da área da docência e, por último, as interpretações dos técnico-administrativos. Administração 1º Bom relacionamento Professores Técnicos Administrativos 1º Bom relacionamento 1º Bom relacionamento 2º Muito tranquilo 2º Relacionamento normal Quadro 8: Relacionamento com os pares Fonte: Dados da pesquisa a) Interpretações apreendidas do grupo da administração Pode-se verificar que, no grupo da administração, apenas o tema “Bom relacionamento” surgiu no quesito relacionamento com os pares. No geral, a avaliação que eu faço em termos de acesso aos meus colegas eu vejo muito boa, com raras exceções (R. 3). 100 Acredito que bom (R. 2). Creio que é bom, eu penso, me dou bem com todo mundo, e por ser o mais velho aqui dentro da instituição, é o Dr. Pedro Osório o professor mais antigo que tem e depois dele sou eu, então eu acho que comigo nunca teve problema de relacionamento com esse e com aquele colega [...] (R. 4). Não é com todos que convivo diretamente no dia a dia, mas me relaciono bem. Convivo mais com os colegas do setor e tenho bom relacionamento (R. 5). b) Interpretações apreendidas do grupo dos professores Da mesma forma que o grupo da administração, o grupo dos professores revela que estabelece um bom relacionamento no espaço de trabalho (1º lugar). O tema “Muito tranquilo” aparece em 2º lugar neste grupo. Em relação aos colegas de trabalho, eu posso dizer tranquilamente que eu tenho um bom relacionamento com a maioria deles, tanto que eles sabem que a sala está lá aberta e os problemas que acontecem eles levam, conversam e pedem as soluções. Então, com a maioria dos colegas eu realmente não tenho problemas (R. 17). Meu relacionamento com os colegas de trabalho é intenso, produtivo e restrito à troca de informações, suporte nas decisões, suporte na realização das tarefas (R. 21). Com os meus colegas, vejo que é uma relação excelente, não tenho nenhuma desavença com nenhum colega aqui na casa, e até se tenho, eu não sou conhecedor deste fato (R. 18). Meu relacionamento com os colegas de trabalho é totalmente harmonioso, nunca tive nenhum tipo de problema, todos os colegas sempre foram colaborativos em todos os momentos que eu precisei principalmente nas dúvidas iniciais quando eu ingressei no IESA, todos foram abertos e sempre dispostos a me ajudar (R. 7). Ah, eu acredito muito bom, da minha parte, assim, me relaciono superbem com todos (R. 8). É um ótimo relacionamento com os colegas de trabalho (R. 11). Muito tranquilo. Procuro respeitar ao máximo os meus colegas, embora eu também exija esse respeito (R. 12). Com meus colegas de trabalho, nunca tive problema algum, e acredito que temos uma convivência muito saudável, pois às vezes a gente marca de se encontrar em finais de semana para descontrair e esquecer daquele ambiente de trabalho, então a gente sempre tenta fazer isso. Enfim, a relação com os colegas de trabalho é tranquila (R. 14). Evidencia-se, dessa forma, que também o grupo dos professores tem como variável principal o bom relacionamento entre os pares. c) Interpretações apreendidas do grupo dos técnico-administrativos No grupo dos técnicos administrativos, a interpretação principal dos atores é o “Bom relacionamento” (1ª posição) e, na sequência, “Relacionamento normal” (2ª posição). Ah, é ótimo, não tenho do que reclamar, são todos legais, porque sempre estão em contato comigo, a gente conversa um pouquinho, não tem o que reclamar dos colegas (R. 22). 101 Acredito que meu relacionamento é bom, procuro sempre manter um respeito, respeitando cada um o jeito de ser, o perfil de cada um, a personalidade, as afinidades que existem entre as pessoas, bom (R. 26). Eu acredito que o relacionamento é de extrema importância até para o teu desenvolvimento no teu setor, tu poder trabalhar em harmonia com os outros setores, e a gente sempre tem uma transferência, algumas trocas com determinados colegas, mas no geral é um relacionamento bom com todos [...] (R. 27). Muito bom, não tenho o que me queixar, muito bom mesmo (R. 32). Meu relacionamento com os colegas de trabalho é excelente, eu nunca tive problemas com pessoas, apesar de que alguns acham que tem (risos...), eu não tenho nada contra ninguém, qualquer um que me conhece melhor, e se aproxima, vê que não tem nada disso, alguns acham, sei lá umas fantasias eu diria, mas eu me relaciono tão bem com a servente lá do prédio não sei das quantas, com o porteiro, a direção, os coordenadores (R. 34). Foi constatado que a maioria dos técnico-administrativos se relaciona bem entre si, o que faz com que o ambiente seja agradável para trabalhar. 5.5.2 Relacionamento com os superiores O quadro 9 apresenta o resultado das respostas dos atores sociais dos diversos grupos, trazendo os temas revelados em suas interpretações a respeito do relacionamento com pessoas em níveis hierárquicos superiores. Administração Professores Técnicos Administrativos Bom relacionamento Relacionamento tranquilo Bom relacionamento Respeito e fidelidade Muito bom Relacionamento muito tranquilo Muito bom Relacionamento aberto Relacionamento aberto Quadro 9: Relacionamento com os superiores Fonte: Dados da pesquisa a) Interpretações apreendidas do grupo da administração No quadro 7, os temas mais recorrentes são mais uma vez “Bom relacionamento” (1ª posição), seguido pelo tema novo que é “Respeito e fidelidade” (2ª posição) e “Muito bom” (3ª posição). Excelente, graças a Deus, é excelente, é uma pessoa muito acessível e o fato de dizer que o relacionamento é excelente não quer dizer que tudo que a gente vá pedir tenha que ser sim [...] (R. 3). Bem, eu acredito que eu tenha um bom relacionamento com os meus superiores, me relaciono bem, atendo às demandas que me são solicitadas, cumpro as diretrizes da Instituição, procuro cumprir todas elas com integralidade, zelar pela melhor forma pela responsabilidade que me foi incumbida como diretor dessa Instituição (R. 1). 102 Bom, de muito respeito e fidelidade (R. 2). Muito bom, sempre procurei respeitar meus espaços não deixando margem para reclamações dos superiores. Sempre que me reporto a eles, sou bem recebida e ouvida (R. 5). Constata-se, de maneira geral, que as pessoas têm bons relacionamentos com seus superiores. Existe abertura para expor suas ideias, seus problemas, pedir ajuda. Há um certo grau de respeito, fidelidade e integridade com seus dirigentes. b) Interpretações apreendidas do grupo dos professores As interpretações do grupo dos professores diferem das apresentadas no grupo anterior. O tema que imperou foi “Relacionamento tranquilo” (1ª posição), seguido de “Muito bom” (2ª posição) e por fim “Relacionamento aberto” (3ª posição). Essas manifestações revelam o bom relacionamento entre os atores sociais. [...] a administração é extremamente aberta, ela aceita todas nossas sugestões, então isso faz com que o relacionamento se torne muito mais tranquilo [...] (R. 6). Muito bom, também tranquilo, sem qualquer problema, acessível, posso chegar a qualquer momento (R. 8). Sem problema nenhum, a coordenação sempre presente conosco, sempre atendendo, sempre ouvindo e sempre nos ouvindo, ela e a direção também não têm problema de relacionamento (R. 11). Eu particularmente me considero assim numa linha constante e aberta. Na medida em que se surge uma dificuldade tanto com o próprio coordenador quanto ocasionalmente com o diretor, nós podemos chegar e trocar ideias, expor algum problema (R. 10). A minha relação é muito tranquila. Tenho contato mais direto com dois coordenadores, e é muito tranquilo nesse sentido. Com a coordenação de pós, eu tenho contato, com a Pedagogia, com o Direito e com a própria Direção. A leitura que eu tenho é que sou tratada com respeito e espero que eu trate com respeito também (R. 12). E o relacionamento com a direção e coordenação também é muito tranquilo. Eu trabalho muito próximo com a professora (fulana) em função dos estágios e ela é uma pessoa que a gente entrou mais ou menos junto e a gente com o tempo foi compartilhando ideias muito parecidas [...] (R. 16). E com o diretor, considero que temos um bom relacionamento, pois sempre que é necessário eu recorro até ele e tem momentos que não posso tomar a decisões sozinha e sempre sou atendida (R. 17). E com os superiores a relação é ótima, tanto com a coordenação do curso, quanto com o diretor [...] (R. 18). No geral, há bom relacionamento entre o professor e coordenação, entre professor e direção, pela abertura, flexibilidade, tranquilidade que esses proporcionam no ambiente de trabalho. 103 c) Interpretações apreendidas do grupo dos técnicos administrativos Os temas recorrentes para esse grupo foram “Bom relacionamento” (1ª posição), seguido por “Relacionamento muito tranquilo” (2ª posição) e, por fim, “Relacionamento aberto” (3ª posição). Olha, sempre foi muito tranquilo, muito transparente, muito sério, um relacionamento aberto, [...]. (R. 23). É, acho que com os superiores é bem acessível, tanto com o meu superior direto, que é o (...), quanto com o Diretor, acho que é bem tranquilo, ele é bem acessível para conversar, pode expressar ideias, dialogar enfim (R. 24). Eu acho que é bom, porque até agora nunca recebi uma informação negativa deles a meu respeito. Sempre quando eu tive contato com eles, até mesmo quando fui chamada, sempre foram informações positivas e não negativas (R. 28). Eu me dou bem com os meus superiores, eu procuro tá equilibrado nesse sentido, né, sabendo me colocar no lugar onde estou e sabendo me colocar onde está o meu superior, mas eu me dou muito bem com eles, todos os meus superiores. Eu tenho procurado ser bastante profissional, mas também sou amigo de cada um, gosto de cada um, em especial, muitas pessoas aqui são do coração mesmo (R. 31). Olha, apesar de conhecer pouco, também classificaria como um relacionamento normal, respeitoso, tranquilo, tudo bem, até agora nada (R. 33). 5.5.3 Relacionamento com os professores O quadro 10 refere-se ao relacionamento dos grupos da área da administração e da área técnico-administrativa com os professores. Administração Bom relacionamento Técnico-administrativos Relacionamento normal Discórdia com algum professor ou com coordenador Interferência Quadro 10: Relacionamento com os professores Fonte: Dados da pesquisa a) Interpretações apreendidas do grupo da administração O relacionamento da área da administração com a área dos professores em geral é considerado bom, pois o tema “Bom relacionamento” foi unânime para a interpretação desse grupo: Tenho bom relacionamento com os colegas da docência também. (R. 5). Com a grande maioria, o meu relacionamento é bom. (R. 3). Creio que é bom, eu penso, me dou bem com todo mundo [...] (R. 4). 104 b) Interpretações apreendidas do grupo dos técnico-administrativos O relacionamento dos técnico-administrativos difere do grupo anterior, apresentando como primeiro tema relacionamento normal e, em um segundo momento, por manifestação de um técnico apresenta o tema “Discórdia com algum professor ou coordenador” e, por fim, o tema “Interferência”. Acho que normal, dentro do ambiente de trabalho, acho, eu considero normal, não tenho assim muita intimidade, amizade, enfim, são colegas de trabalho, professores. Procuro respeitar como colega, seja uma ideia diferente, enfim, mas acho que normal, nada de excepcional (R. 33). O meu relacionamento eu considero normal, claro que com uns é melhor do que com outros, até alguns a gente não tem muito contato, pra mim em relação a alguns professores não ter muito contato (R. 30). [...] posso ter alguma discórdia com algum professor ou com coordenador, que eu tenho mesmo, uma discórdia muito grande com o coordenador do curso (x), nós não fechamos nossas ideias e sendo que eu sei como é que tem que ser feito, discorda de mim e quando chega na hora de eu resolver o final, porque quem chega no final sou eu, eu tenho que fazer de acordo com a minha informação. Não adianta ele ter me dado uma outra informação, eu tenho que assumir aquela informação que eu tenho (R. 28). As afirmações acima corroboram observações feitas pela pesquisadora por ocasião do estudo etnográfico, com base em apontamentos feitos no diário de campo. Coordenação do curso (x) interfere muito no trabalho do setor (x) e isso atrapalha o andamento. Há uma preocupação por parte dos técnicos em falar a mesma língua, coordenação e setor. Situações levantadas também em outros setores (Diário de campo, julho de 2011). Ocorre confusão com relação à reprodução de provas. Alguns professores não enviam para o setor (x) providenciar as cópias, trazendo-as na hora de aplicar, ou deixam para enviar na última hora (Diário de campo, junho de 2011). 5.5.4 Relacionamento com os técnico-administrativos O quadro 11 refere-se ao relacionamento dos grupos da área da administração e da área dos professores com os técnico-administrativos. Administração Bom relacionamento Respeito Professores Bom relacionamento Profissionais competentes Problemas nos setores de atendimento Problemas de comunicação Quadro 11: Relacionamento com os técnico-administrativos Fonte: Dados da pesquisa 105 a) Interpretações apreendidas do grupo da administração Mais uma vez o tema “Bom relacionamento” impera em primeiro lugar na classificação para ambos os grupos de atores sociais quando se referem ao relacionamento com o grupo dos técnico-administrativos. Na sequência, aparece o tema “Respeito” para o grupo da administração, em segundo lugar na classificação: [...] não me sinto superior, eu acho que nós somos colegas, trabalhamos de uma forma respeitosa, tanto eu com eles e eles comigo. Eu acho que isso faz um diferencial pro trabalho, porque assim como eu preciso respeitar mesmo aqueles que são meus subordinados, dessa forma se eu respeitar eles, eles vão me respeitar [...] (R. 1). [...] a avaliação que eu faço em termos de acesso aos meus colegas eu vejo muito boa, com raras exceções (R. 3). [...] é bom, eu penso, me dou bem com todo mundo (R. 4). Não é com todos que convivo diretamente no dia a dia, mas me relaciono bem. Convivo mais com os colegas do setor e tenho bom relacionamento (R. 5). b) Interpretações apreendidas do grupo dos professores Conforme já foi evidenciado acima, o tema principal apresentado foi “Bom relacionamento” (1ª posição), seguido de temas como “Profissionais competentes” (2ª posição), “Problemas nos setores de atendimento” (3ª posição) e “Problemas de comunicação” (4ª posição). Eu, particularmente, vejo que é um relacionamento bom no sentido de que todos são profissionais, são competentes nas suas áreas de atuação, seja no nível de funcionários, professores. Enfim, todos têm um sentido de profissão, todos têm uma preocupação em portar-se bem, especialmente aqui dentro da Instituição, refletindo isso nos seus afazeres. Pelo próprio tempo que eu estou aqui, eu conheço um pouco de cada um, alguns mais, alguns menos, e é um ambiente constante de bastante cordialidade (R.10). E com o restante dos funcionários o relacionamento é bem tranquilo (R. 20). Penso que o ambiente no geral é bom, entretanto, temos problemas nos setores de atendimento, na postura profissional de algumas pessoas. Mas isso é algo que está sendo construído, os funcionários têm curso, então há um investimento em relação a isso, mas é uma caminhada que ainda vai longe, no sentido de que as pessoas tenham uma postura profissional, não misturar a questão pessoal com a questão profissional (R. 12). [...] o sistema de informações interno, o qual necessita de atualização permanente, maior padronização das informações e maior integração entre os diversos setores como secretaria, tesouraria, coordenação e terminal dos acadêmicos (R. 21). A questão relacionada com a comunicação também foi observada no campo pela pesquisadora. Em alguns momentos, foi levantada por alguns atores sociais a importância de se fazer mais reuniões entre setores para melhorar a comunicação. Essa questão foi levantada 106 de maneira informal também pelo gestor da Instituição no sentido de que é preciso melhorar a comunicação. Em geral, percebe-se que o grupo dos professores mantém bom relacionamento com os técnico-administrativos, apesar da existência de alguns conflitos paralelos. No próximo item, serão cotejados os dados verificados no discurso dos três grupos com o intuito de apurar as interpretações que são compartilhadas, diferentes e fragmentadas. 5.6 INTERPRETAÇÕES COMPARTILHADAS E DIFERENTES CONFORME A VISÃO DOS TRÊS GRUPOS Feita apreensão dos temas explicitados nas interpretações dos atores de cada grupo em conformidade com o primeiro objetivo específico, busca-se aqui a concretização do segundo objetivo específico. Esse objetivo consiste em identificar quais manifestações corresponde à integração, diferenciação e fragmentação, conforme o modelo de Martin (1992), no tocante às mesmas cinco categorias: como as coisas funcionam na organização, a adequação da estrutura física e equipamentos, as brincadeiras e as piadas que as pessoas fazem, a política de remuneração e o relacionamento com os pares, com os superiores, com os professores e com os técnicos administrativos. 5.6.1 Categoria 1: Como as coisas funcionam no IESA a) Interpretações do grupo da área da administração No que diz respeito à primeira categoria “Como as coisas funcionam no IESA”, verifica-se que o grupo da área administrativa tem o ambiente agradável, como uma colocação compartilhada, haja visto ter sido o tema com mais recorrência e, portanto, mais claramente consistente na visão do grupo. No que diz respeito às interpretações diferentes, “Os problemas são resolvidos à medida que surgem”, é um tema apresentado como uma maneira de pontuar que os problemas já estão sendo trabalhados, já estão sendo analisados e resolvidos. b) Interpretações do grupo dos professores Um dos temas que foi compartilhado na interpretação dos respondentes da área da docência, da mesma forma que o pessoal da área da administração, foi “Satisfação com o 107 ambiente de trabalho”, levando em conta a conotação das palavras, ambiente agradável gera satisfação na empresa. Apesar de ter sido evidenciado por apenas um respondente nesse grupo, mas já foi recorrente no grupo anterior, o tema “Problemas de atendimento” aparece como interpretação diferente. c) Interpretações do grupo dos técnico-administrativos O grupo da área técnico-administrativa apresenta como interpretação compartilhada o tema “Ambiente bom, agradável”, com maior recorrência. Nesta categoria, não afloraram diferenças nas interpretações que pudessem ser apontadas aqui. Grupo Interpretações compartilhadas Interpretações diferenciadas “Um bom ambiente de trabalho com bastante liberdade para desempenhar as funções”(R 2). “Ambiente agradável, clima de harmonia, cordialidade entre as pessoas” (R. 5). Professores “Me sinto muito bem aqui em relação ao ambiente de trabalho” (R. 6). “Particularmente, sinto-me muito bem aqui no IESA” (R. 17). Técnico“Gosto de trabalhar aqui é um ambiente bom. Estou administrativos Satisfeita” (R 22). “É uma administração aberta ao diálogo, a ouvir os funcionários. Há um diálogo entre chefia e funcionário” (R. 24). Administração Quadro 12: Como as coisas funcionam na organização Fonte: elaboração do autor(a) O quadro 12 demonstra falas de alguns respondentes que foram de maior ressurgência. 5.6.2 Categoria 2: Adequação da estrutura física e equipamentos a) Interpretações do grupo da área da administração A interpretação compartilhada apresentada pela maioria dos atores sociais desse grupo foi o tema adequação do espaço físico ao exercício de sua função, seja por ser um espaço bom, amplo, confortável, seja por possuir equipamentos modernos e de qualidade. 108 Há quem considere o espaço físico adequado, mas, com algumas restrições, pois em determinada seção, não tem como distribuir de maneira uniforme o mobiliário, causando certo desconforto. Essas interpretações apontam diferenças entre os membros do grupo. b) Interpretações do grupo da área da docência Assim como no grupo da área da administração, o que é compartilhado de forma mais abrangente é a adequação do espaço físico e equipamentos à atividade dos docentes. As interpretações diferentes ficam por conta do tema “Inadequação do espaço físico” para a execução das funções de alguns atores pertencentes ao grupo da área de docência. Assim como outros consideram que os equipamentos podem ser melhorados, dando conotação ao tema “Adequados, com restrições”. c) Interpretações do grupo dos técnico-administrativos O que mais se compartilha nesse grupo é o sentido de adequação da estrutura física e dos equipamentos, sensação perceptível pela maioria dos funcionários da área técnicoadministrativa, seja por ser considerado um espaço totalmente adequado, seja por oferecer equipamentos de qualidade a essas pessoas. Há aqueles que consideram o espaço físico “Adequado, restrições”, assim como há aqueles que o consideram “Inadequado”. Essas interpretações dão conotação à diferenciação entre os membros do grupo. Grupo Administração Interpretações compartilhadas “Sim temos todas as condições para desempenhar adequadamente as funções atribuídas ao setor “(R. 2). “O espaço físico com certeza é adequado aos exercícios das minhas funções [...] os equipamentos que nós temos são todos compatíveis, sim, com certeza” (R. 6.) Interpretações diferenciadas “Aqui no IESA, eu, como advogado do Núcleo de Práticas Jurídicas e também como professor, percebo que o núcleo, hoje, ele está um pouquinho carente de espaço”, (R18). Técnico“Sim, para minhas funções é. Os “Na assessoria de comunicação, Administrativos equipamentos são compatíveis, sim, hoje, o espaço físico não é quando tem algum problema, todos adequado” (R.23). são resolvidos” (R. 22). Professores Quadro 13: Adequação da estrutura física e equipamentos Fonte: elaboração do autor(a) 109 O quadro apresenta falas dos atores sociais pesquisados que demonstram interpretações compartilhadas e interpretações diferenciadas para a categoria “Estrutura física e equipamentos”. Apesar de a maioria dos respondentes terem compartilhado a adequação da estrutura física e dos equipamentos, um número pequeno respondeu que há uma carência de espaço e precisa ser ampliado. 5.6.3 Categoria 3: Brincadeiras e piadas que as pessoas fazem a) Interpretações do grupo da área da administração O tema “Brincam com colegas” é unânime para esse grupo de atores sociais, não havendo nenhuma outra variável, é, portanto, um ato compartilhado por todos. Nesta categoria não afloraram diferenças nas interpretações do grupo da área da administração. b) Interpretações do grupo da área de docência O ato de fazer brincadeiras ou piadas é uma constante no ambiente de trabalho desse grupo e, portanto, um ato compartilhado pela maioria dos professores. Diferenças de interpretações ocorrem na fala daqueles docentes que disseram não concordar com isso e não permitir, pois acham que isso não faz o seu estilo pessoal. c) Interpretações do grupo da área técnico-administrativa Conforme os dados apontam, não só pelas respostas das entrevistas, mas também pela observação da pesquisadora em campo, brincadeiras e piadas entre colegas são manifestações compartilhadas. As diferenças são percebidas pelo fato de algumas pessoas serem mais reservadas e não se permitirem fazer brincadeiras nem dar espaço para que os colegas as façam com elas. Grupo Interpretações compartilhadas Administração “A gente brinca, conta piada, mas no horário adequado, quando se está trabalhando nós temos um ambiente de trabalho sério. Há um ambiente respeitoso, não acho que seja um problema essa questão“ (R. 1) “Acho que eu, principalmente, sou “Existem pessoas que não bastante brincalhão, acho que ajuda aceitam esse tipo de atitude e Professores Interpretações diferenciadas 110 manter o ambiente descontraído nesse caso a gente tem que saber quando as brincadeiras cabem no que deve deixar para brincar momento” (R. 8). com aquelas pessoas que têm uma aceitação “(R. 17). Técnicos Sim. Mas tudo tem limite a gente dá “Creio que isso não seja administrativos uma paradinha, brinca um pouco e possível, mas que aconteça, que retoma pro serviço sem problemas acontece, mas eu acho que não é (R. 22). o lugar adequado pra se fazer” (R. 30). Quadro 14: Brincadeiras e piadas que as pessoas fazem Fonte: elaboração do autor(a) No quadro 14, as manifestações dos respondentes se referem à possibilidade ou não de haver brincadeiras no ambiente de trabalho. A maioria dos respondentes nos três grupos afirmam haver Brincadeiras e estas serem possível, porém, um pequeno grupo de professores e de técnicos administrativos entendem que algumas pessoas não aceitam e que não adequado no ambiente de trabalho. 5.6.4 Categoria 4: Política de remuneração a) Interpretações do grupo da área da administração A categoria “Política de remuneração” é interpretada de maneira compartilhada, pois a maioria dos atores sociais desse grupo está satisfeita com a remuneração. Outro grupo também se destaca, pois diz que o salário recebido está acima do padrão de mercado. São, por conseguinte, duas visões distintas acerca de uma manifestação cultural: considerar o salário acima do mercado e sentir-se satisfeito. Portanto, nesta categoria, o grupo da área da administração subdivide-se em dois subgrupos, com duas interpretações claramente consistentes. b) Interpretações do grupo da área de docência A interpretação que mais se sobressai e, por conseguinte, que mais é compartilhada no grupo da docência é a satisfação pelo salário que recebe. No entanto, novamente a exemplo do grupo anterior, há um pequeno grupo que considera o salário acima dos padrões do mercado: Plano de carreira (2º), Acima do mercado (3º), Política transparente (4º). 111 c) Interpretações do grupo da área técnico-administrativa Com relação às interpretações compartilhadas levantadas pelo grupo da área técnicoadministrativa, destaca-se a satisfação pelo salário que recebe. Este é o tema mais recorrente e, portanto, mais claramente consistente na visão do grupo. Porém, no que diz respeito às interpretações diferentes, “Insatisfação” é um tema apresentado por um grupo de técnicos. Este grupo também se destaca, pois, ao contrário do outro, declara que o salário poderia ser melhor, pela responsabilidade e acúmulo de trabalho deveria ganhar mais. Essa percepção gera insatisfação por parte de alguns técnicos. Grupo Administração Interpretações compartilhadas “Tenho um bom salário, acima da média salarial da CNEC e de Santo Ângelo” (R. 2). Professores “Satisfeito, porque eu acho que é um salário compatível com a função que eu exerço, bem remunerado. A política aqui agora tem o plano de carreira” (R. 8). Técnico“Eu me sinto plenamente satisfeito, administrativos eu acho que a Instituição, o IESA, remunera muito bem seu corpo profissional, se compararmos com o mercado local ou regional” (R. 34). Int. diferenciadas “No momento até eu me sinto insatisfeita, até porque eu acho que não está de acordo com o salário de outros funcionários e eu já conversei com a direção e a direção já me deu o retorno sobre isso” (R. 30). Quadro 15: Política de remuneração Fonte: elaboração do autor(a) O quadro 15 apresenta falas dos atores em suas manifestações quanto à política de remuneração do IESA. A maior parcela dos respondentes entendem que o salário percebido pela Instituição é satisfatório e acima da média salarial, porém alguns respondentes do grupo de técnicos se dizem insatisfeitos com o salário que recebem. 5.6.5 Categoria 5: Relacionamento entre diferentes atores Na sequência, serão apresentadas as análises referentes ao relacionamento com os pares, com os superiores, com os docentes e com os técnico-administrativos. 112 5.6.5.1 Relacionamento com os colegas de trabalho a) Interpretações do grupo da área da administração O bom relacionamento entre os pares é compartilhado pela grande maioria do grupo. Não houve indícios de diferenças de interpretações entre seus membros nessa categoria. b) Interpretações do grupo da área de docência “Bom relacionamento” e “Muito tranquilo” foram também interpretações compartilhadas de forma abrangente neste grupo. Interpretações diferentes não ficaram evidentes nesta categoria. c) Interpretações do grupo da área técnico-administrativa Conforme o que foi exposto, pode-se afirmar que “Bom relacionamento” e “Relacionamento normal” são temas com conotações iguais, sendo, então, interpretações compartilhadas pelo grupo dos técnico-administrativos. Grupo Interpretações compartilhadas Int. diferenciadas “No geral, eu também, a avaliação que eu faço em termos Administração de acesso aos meus colegas eu vejo muito boa, com raras exceções “(R. 3). “É um ótimo relacionamento com os colegas de trabalho” Professores (R. 11). Técnicos “Muito bom, não tenho o que me queixar, muito bom Administrativos mesmo” (R. 32). Quadro 16: Relacionamento com os pares Fonte: elaboração do autor(a) O quadro 16 apresenta manifestações dos atores na categoria relacionamento entre os pares de trabalho. Nesta categoria não surgiram interpretações diferentes. Os três grupos de respondentes entendem haver um bom relacionamento com os pares. 113 Uma síntese dessas interpretações pode ser observada no gráfico a seguir. Manifestações Culturais Administração Professores Técnicos Gráfico 3: Manifestações culturais dos atores pesquisados Fonte: elaboração do autor(a) O gráfico demonstra os temas de maior ressurgência apresentados pelos três diferentes grupos de atores sociais pesquisados nas cinco categorias de estudo. Pode-se constatar que o tema “Ambiente agradável” é unânime para os três grupos, já o tema “adequação da estrutura física e equipamentos” apresenta divergências nos grupos dos professores e dos técnico-administrativos. O tema “Brincadeira e piadas” demonstra grau de diferenciação também para os grupos dos professores, bem como dos técnicoadministrativos. Para o tema “Política de remuneração” há uma queda para os grupos da administração e técnico-administrativos, ao passo que o grupo de professores se apresenta com 100% de satisfação. Para o tema “Relacionamento com os colegas” (pares de trabalho) houve unanimidade nos três grupos pesquisados. Na sequência são analisados ainda dentro da categoria “Relacionamento”, de forma desmembrada para cada sub-categoria. Assim, serão apresentadas, primeiro a sub-categoria “Relacionamento com os superiores” respondida pelos três grupos de atores. Em seguida, a sub-categoria “Relacionamento com os professores” avaliada pelos grupos da administração e pelos técnico-administrativos. Por fim, a sub-categoria “Relacionamento com os técnicoadministrativos”, respondida pelos grupos da administração e professores. Optou-se por separar essas sub-categorias para melhor entendimento do leitor, bem como para a construção do gráfico com maior clareza. 114 5.6.5.2 Relacionamento com os superiores a) Interpretações do grupo da área da administração O bom relacionamento com os superiores é compartilhado por quase todos os respondentes desse grupo. O fato de um ator social responder que é um relacionamento de respeito e fidelidade difere um pouco do restante do grupo, pontuando, assim, uma interpretação diferenciada. b) Interpretações do grupo da área de docência “Bom relacionamento e Abertura com os superiores” são temas compartilhados por praticamente toda a equipe. Nesta categoria não houve diferenças nas interpretações. c) Interpretações do grupo da área técnico-administrativa A grande maioria dos respondentes deste grupo interpreta o relacionamento com os superiores como sendo bom e aberto, o que dá conotação às interpretações compartilhadas. Quanto às diferenças de interpretações, não surgiram elementos plausíveis que confirmassem a existência. Grupo Interpretações compartilhadas Interpretações diferenciadas Administração “Excelente, graças a Deus, é excelente, é uma “Bom, de muito pessoa muito acessível e o fato de dizer que o respeito e fidelidade” relacionamento é excelente não quer dizer que (R. 2). tudo que a gente vá pedir tenha que ser sim “[...] (R. 3). Professores “Muito bom, também tranquilo, sem qualquer problema, acessível, posso chegar a qualquer momento“ (R. 8). Técnicos “Olha, sempre foi muito tranquilo, muito administrativos transparente, muito sério, um relacionamento aberto, [...]” (R. 23). Quadro 17: Relacionamento com os superiores Fonte: elaboração do autor(a) O quadro 17 apresenta falas dos atores sociais pesquisados que se refere ao relacionamento com os seus superiores imediatos. Nos três grupos a predominância fica em um bom relacionamento com os superiores. 115 5.6.5.3 Relacionamento com os professores a) Interpretações do grupo da área da administração O bom relacionamento com o corpo docente é compartilhado por praticamente todos os respondentes desse grupo. Não despontaram diferenças nas interpretações dessa categoria. b) Interpretações do grupo da área técnica administrativa Relacionamento normal foi a maior ressurgência nessa categoria, ou seja, é tema compartilhado com a grande maioria. Por outro lado, surgiram elementos plausíveis que confirmam a existência de diferenças de interpretações. A confirmação se dá com o depoimento do funcionário que diz haver discórdia com algum professor ou com coordenador pelo fato de haver certa interferência nas atividades dos setores. Esse episódio foi também evidenciado pela pesquisadora por ocasião da observação em campo. Grupo Interpretações compartilhadas Administração “Com a grande maioria, o meu relacionamento é bom” (R. 3). Técnicoadministrativos “O meu relacionamento eu considero normal, claro que com uns é melhor do que com outros, até alguns a gente não tem muito contato. Pra mim em relação a alguns professores não ter muito contato” (R. 30). Interpretações diferenciadas “[...] posso ter alguma discórdia com algum professor ou com coordenador, que eu tenho mesmo, uma discórdia muito grande com o coordenador do curso (x)”(R 28). Quadro 18: Relacionamento com os professores Fonte: elaboração do autor(a) O quadro 18 refere-se às falas dos respondentes com relação às manifestações de relacionamento com o grupo dos professores. Os grupos da administração e dos técnicos administrativos em sua maioria afirmam haver um bom relacionamento com os professores, contudo, há um grupo pequeno dos técnicos administrativos que percebem discórdia com alguns professores. 116 5.6.5.4 Relacionamento com os técnico-administrativos a) Interpretações do grupo da área da administração “Bom relacionamento” é um tema compartilhado pela maioria dos respondentes do grupo da área da administração. O tema “respeito” também foi elucidado por um dos atores sociais desse grupo. Não há indícios de interpretações diferentes. b) Interpretações do grupo da área de docência No geral, os membros do grupo da área da docência compartilham o bom relacionamento com a equipe de funcionários do Instituto. As diferenciações ocorrem por parte de alguns docentes quando apontam problemas de atendimento em alguns setores e problemas de falta de comunicação interna. Grupo Interpretações compartilhadas Administração “[...] a avaliação que eu faço em termos de acesso aos meus colegas eu vejo muito boa, com raras exceções “(R. 3). Professores Interpretações diferenciadas “E com o restante dos “Penso que o ambiente no geral é bom, funcionários o relacionamento entretanto, temos problemas nos setores é bem tranquilo “(R. 20). de atendimento, na postura profissional de algumas pessoas” (R. 12). “maior padronização das informações e maior integração entre os diversos setores como secretaria, tesouraria, coordenação e terminal dos acadêmicos, comunicação”(R. 21). Quadro 19: Relacionamento com os técnico-administrativos Fonte: elaboração do autor(a) O quadro 19 apresenta manifestações dos respondentes correspondentes ao relacionamento com os técnico-administrativos. Apesar de a maioria dos respondentes tanto do grupo da administração quanto dos professores entender que há um bom relacionamento com os técnicos administrativos, uma grupo pequeno de professores afirma haver conflitos com alguns setores e carência de comunicação. Estas interpretações podem ser observadas com maior clareza a partir do gráfico a seguir. 117 RELACIONAMENTO ENTRE OS DIFERENTES ATORES Relacionamento com os administradores Relacionamento com os professores Relacionamento com os técnicos administrativos Gráfico 4: Relacionamento entre os diferentes atores sociais Fonte: elaboração do autor(a) O gráfico demonstra 100% de satisfação para “Relacionamento com os administradores”, ou seja, com os superiores imediatos, já “Relacionamento com os professores” apresenta um índice em torno de 20% de insatisfação para o grupo dos técnicoadministrativos, nos demais grupos há aprovação de 100%. Para “Relacionamento com os técnico-administrativos”, o gráfico mostra um índice de rejeição de também 20% por parte dos professores, os demais grupos apresentam 100% de aprovação. Dessa forma, é possível visualizar a existência de conflitos, por parte dos professores com os técnico-administrativos e vice-versa. 5.7 OS DIFERENTES GRUPOS SOB O FOCO DA INTEGRAÇÃO, DIFERENCIAÇÃO E FRAGMENTAÇÃO A partir deste item, foram analisados os três grupos em conjunto em conformidade com o terceiro e último objetivo específico que buscou reconhecer as interpretações compartilhadas, diferentes e fragmentadas entre os diversos grupos, sob as perspectivas da Integração, Diferenciação e Fragmentação. 118 5.7.1 Na perspectiva da integração A partir da análise do que é compartilhado entre os grupos, podem-se constatar interpretações relacionadas às categorias um, dois e três. Na categoria um, “Como as coisas funcionam aqui”, o tema “Ambiente agradável” é compartilhado pelos grupos da área da administração e de área técnico-administrativa. No grupo dos professores, o tema recorrente foi “Satisfação” no ambiente de trabalho, o que não muda tanto em relação às interpretações dos outros grupos. Na categoria dois, “Adequação da estrutura física e equipamentos”, o grupo da área da administração, assim como o grupo dos professores e dos técnico-administrativos, de maneira geral, interpreta a estrutura física como “Adequada ao exercício das funções”. Na categoria três, “Brincadeiras e piadas que as pessoas fazem”, o tema “Fazer brincadeiras” é compartilhado pelos grupos da área da administração e pelos outros dois grupos da área da docência e da área dos técnico-administrativos. Os temas supracitados repousam, em sua maioria, na perspectiva da integração, pois esta envolve visões, interpretações compartilhadas de manifestações culturais, se não por todas, pelo menos pela maioria das pessoas da organização (MARTIN, 1992; 2002). 5.7.2 Na perspectiva da diferenciação Na categoria quatro, “Política de remuneração”, pode-se observar que o tema “Satisfação pelo salário que recebe” foi o mais evidenciado pelos grupos analisados. Porém, a “Insatisfação” é um tema apresentado por um grupo de técnicos. Esse grupo também se destaca, pois, ao contrário do outro, declara que o salário poderia ser melhorado, ou pela responsabilidade e acúmulo de trabalho, deveria ganhar mais, ou ter uma espécie de bônus, ou benefício. Na categoria cinco, “Relacionamento com os pares, com os superiores, com os professores e com os técnicos”, pode-se verificar que o tema “Bom relacionamento” foi compartilhado por quase todos os grupos. A exceção ficou no relacionamento de alguns técnicos com os professores e vice-versa. No grupo, “Relacionamento dos técnicos com os professores”, surge o tema relacionamento normal e logo, num segundo momento, “Discórdia com algum professor e/ou coordenador”. A confirmação se dá com o depoimento de um técnico que afirma “haver discórdia com algum professor ou com coordenador pelo fato de haver interferência nas atividades dos 119 setores” (R. 28). Esse episódio foi evidenciado também pela pesquisadora por ocasião da observação em campo. No grupo relacionamento dos professores com os técnico-administrativos, surgem os temas “Problemas de atendimento em alguns setores” e “Problemas de falta de comunicação interna”. 5.7.3 Na perspectiva da fragmentação Durante a observação em campo, surgem elementos de fragmentação por meio de conversas informais com as pessoas, depoimentos dos atores sociais sobre a existência de conflitos, tensões, além da sinalização de que há falhas na comunicação dos setores e que deveriam se reunir mais vezes para clarear dúvidas. Conflitos entre área pedagógica e área técnico-administrativa. Conforme Frost et al. (1991) e Martin (2002) a cultura é uma fragmentação de ideias, em que as interpretações são múltiplas e não se mostram claramente consistentes, nem inconsistentes. O consenso não é visto de maneira generalizada, nem em nível de todos os membros que participam da organização, nem em nível de membros que participam dos grupos. O consenso é passageiro, transitório, produzido por afinidades que se formam em curtos períodos de vivência e, posteriormente, se desfazem, de acordo com as situações vivenciadas pelos atores. De acordo com Martin e Frost, a fragmentação caracteriza uma cultura organizacional de valores compartilhados temporariamente. A presença da fragmentação é visualizada quando temáticas são constantes na fala de dois grupos de atores, por meio de determinados aspectos que são partilhados por indivíduos, independentemente do grupo em que se encontram. Ela permeia as manifestações e temáticas convergentes entre indivíduos de grupos diferentes (CAVEDON, 2000). O Quadro 20 sintetiza as dimensões, as categorias e as perspectivas apresentadas pelo estudo de Martin, com as conclusões obtidas no presente estudo. 120 CATEGORIAS ADMINISTRAÇÃO PROFESSORES TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS 1. Como as coisas funcionam no IESA 2. Adequação da estrutura física e equipamentos 3. Brincadeiras e piadas que as pessoas fazem 4. Política de remuneração 5. Relacionamento entre diferentes atores 5.1 Relacionamento com os administradores 5.2 Relacionamento com os professores 5.3 Relacionamento com os técnico-administrativos Quadro 20: Dimensões, categorias e as perspectivas Fonte: elaboração do autor(a) Integração Diferenciação Fragmentação: elementos de fragmentação são observados pela pesquisadora por ocasião do estudo em campo e por meio de conversas com os atores sociais que afirmam haver a existência de conflitos e falhas de comunicação. Alguns estudos realizados sobre as manifestações culturais serviram como aporte a esta pesquisa, bem como às análises das interpretações evidenciadas pelos atores sociais desse trabalho. Exemplo disso está na pesquisa realizada em um hospital (AVILA, 2007) que mostra claramente que grupos previamente segmentados rompem seus limites frente às interpretações de seus membros acerca de manifestações. Ocorrendo, pois, o reagrupamento de um grupo com outro, eliminando suas fronteiras a partir da presença de uma mesma temática observada para ambos os grupos, formando uma organização fragmentada. Outro exemplo é pesquisa realizada em uma empresa familiar que analisa as manifestações culturais de uma empresa familiar que fabrica enfeites de festas (SILVA, 121 2010). Este estudo apontou a presença de uma cultura organizacional sob a perspectiva da integração, diferenciação e fragmentação. Ao mesmo tempo em que a cultura apresentou manifestações que podem possibilitar sua continuidade, foram encontradas outras manifestações, que vão de encontro a estas, limitando tal continuidade. Ou ainda, devido ao entretecimento de família e gestão que perpassa pela cultura da organização, há a presença de manifestações, que tanto limitam como possibilitam sua continuidade, simultaneamente. No presente estudo, a partir da observação em campo, das análises das entrevistas e da verificação documental, fica evidente a presença das três manifestações: integração, diferenciação e fragmentação na Cultura Organizacional do IESA. Em alguns momentos os grupos rompem seus limites frente às interpretações de uma mesma manifestação. Em outros, ocorrem agrupamentos de um grupo com o outro e, ainda, há fusão das fronteiras dos três grupos, quando seus membros procedem interpretações sobre uma determinada manifestação cultural. 122 CONSIDERAÇÕES FINAIS A cultura organizacional no atual contexto assume papel essencial para a compreensão das estruturas organizativas, que permite relacionar e aplicar variadas noções que há muito pouco tempo eram consideradas fatores passivos: os valores, a qualidade de vida no local de trabalho, a identidade. A cultura de uma organização é um conjunto de características que a individualiza e a torna única. Assume-se como um sistema de valores, expressos por meio de rituais, mitos, hábitos e crenças comuns aos membros de uma instituição, que assim produzem normas de comportamento genericamente aceitas por todos. O estudo da cultura organizacional permite a compreensão das complexidades presentes na realidade construída pelas pessoas em ambientes organizacionais. As organizações são espaços formados pelas manifestações e interpretações dos atores que participam de suas atividades. A proposta deste trabalho foi responder à seguinte pergunta de pesquisa: Quais as manifestações culturais nas dimensões integração, diferenciação e fragmentação, do modelo de Martin (2002), que são identificadas pela administração, pelos técnico-administrativos e pelos professores de uma Instituição de Ensino Superior? Para tanto foi necessário alcançar o objetivo geral de analisar as manifestações culturais compartilhadas, diferentes e fragmentadas definidas por Martin (2002), no Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo, a partir da visão dos, da administração, dos professores e dos técnico-administrativos Com o uso do método etnográfico e seu principal alicerce, a observação em campo, aliados ao foco das lentes das perspectivas de Integração, Diferenciação e Fragmentação, foi possível mergulhar na organização em estudo, um mergulho profundo e abrangente. Martin (1992; 2002) acrescenta que se a lente de uma das perspectivas deixa pontos obscuros, a outra os clarifica, os permite aflorar. O pesquisador utiliza tais estratégias de pesquisa e se envolve 123 na organização com “olhos argutos”, conforme ilustra Serva e Jaime Júnior (1995) e torna-se capaz de desvendar a realidade em sua complexidade. Martin (1992; 2002; 2004) afirma que a cultura consiste nos padrões de significados que conectam as manifestações culturais em conjunto, às vezes na harmonia, às vezes em conflitos entre grupos, e, às vezes, entrelaçados em teias de ambiguidades, paradoxos e contradições. As manifestações encontradas para o IESA foram agrupadas em temas e reveladas de acordo com a perspectiva da integração, diferenciação e fragmentação conforme as categorias propostas por Martin (2002). A integração, representada pelos temas encontrados, é, de acordo com o referencial teórico no qual se embasa este estudo, um pressuposto de que a organização, como um todo, possui a mesma cultura. Esses temas podem ser encontrados nos três grupos que compõem a organização: a) Quanto às interpretações que são compartilhadas e diferentes conforme a visão dos três grupos. Na categoria “Como as coisas funcionam por aqui”, o grupo da administração considera um ambiente agradável. Esse foi o tema com mais ressurgência e, portanto, mais claramente consistente na visão do grupo. No que diz respeito às interpretações diferentes, “Os problemas são resolvidos à medida que surgem”, é um tema apresentado como uma maneira de pontuar que os problemas já estão sendo trabalhados, já estão sendo analisados e resolvidos. O grupo dos professores compartilha a satisfação com o ambiente de trabalho, levando em conta a conotação das palavras, ambiente agradável gera satisfação na empresa. Apesar de ter sido evidenciado por apenas um respondente nesse grupo, mas já foi recorrente no grupo anterior, o tema “Problemas de atendimento, postura” aparece como interpretação diferente. Os técnico-administrativos compartilham o tema “Ambiente bom, agradável”, com maior recorrência. Nesta categoria não afloraram diferenças nas interpretações que pudessem ser apontadas aqui. Na categoria “Adequação da estrutura física e equipamentos”, o grupo da área da administração compartilha, em sua maioria dos atores, o tema “Adequação do espaço físico ao exercício da função”, seja por ser um espaço bom, amplo, confortável, seja por possuir equipamentos novos e de qualidade. Há quem considere o espaço físico adequado, mas com algumas restrições de que, em determinada seção não há como distribuir de maneira uniforme 124 o mobiliário, causando certo desconforto. Essas interpretações apontam diferenças entre os membros do grupo. O grupo da área da docência, assim como o da área da administração, compartilha de forma mais abrangente a adequação do espaço físico e equipamentos para suas atividades. As interpretações diferentes ficam por conta do tema “Inadequação do espaço físico para a execução das funções”, por parte de alguns atores pertencentes ao grupo da área de docência, assim como outros consideram que os equipamentos podem ser melhorados, dando conotação ao tema, “Adequados, com restrições”. Para o grupo dos técnico-administrativos, o que mais se compartilha é o tema “Adequação da estrutura física e dos equipamentos”. Essa sensação é perceptível pela maioria dos funcionários da área técnico-administrativa, seja por ser considerado um espaço totalmente adequado, seja por oferecer equipamentos de qualidade a essas pessoas. Há aqueles que consideram o espaço físico adequado, mas com algumas restrições, assim como aqueles que o consideram inadequado. Essas interpretações dão conotação à diferenciação entre os membros do grupo. Na categoria “Brincadeiras e piadas” que as pessoas fazem, o tema “Brincam com colegas” é unânime para esse grupo de atores sociais, não havendo nenhuma outra variável, é, portanto, um ato compartilhado por todos os atores da área da administração. Nesta categoria não afloraram diferenças nas interpretações do grupo da área da administração. O ato de fazer brincadeiras ou piadas é uma constante no ambiente de trabalho desse grupo e, portanto, um ato compartilhado pela maioria dos professores. Já diferenças de interpretações ocorrem na fala daqueles docentes que disseram não concordar com as brincadeiras e piadas e não as permitirem, pois acham que essas não fazem o seu estilo. No grupo dos técnico-administrativos, conforme os dados apontam, não só pelas respostas das entrevistas, mas também pela observação da pesquisadora em campo, brincadeiras e piadas entre colegas são manifestações compartilhadas pela maioria. Já as diferenças são percebidas pelo fato de algumas pessoas serem mais reservadas e não se permitirem fazer brincadeiras nem dar espaço para que os colegas as façam com elas. Na categoria “Política de remuneração”, os atores sociais da área da administração compartilham, em sua maioria, da satisfação com a remuneração. Outro grupo também se destaca, pois declara que o salário recebido está acima do padrão de mercado. São, por conseguinte, duas visões distintas acerca de uma manifestação cultural: considerar o salário acima do mercado e sentir-se satisfeito. Portanto, nessa categoria, o grupo da área da 125 administração se subdivide em dois subgrupos com duas interpretações claramente consistentes. No grupo da área de docência, a interpretação que mais se sobressai e, por conseguinte, que mais é compartilhada no grupo é “Satisfação pelo salário que recebe”. No entanto, novamente a exemplo do grupo anterior, há um pequeno grupo que considera o salário acima dos padrões do mercado. Para a área técnico-administrativa, destaca-se a satisfação pelo salário que recebe como tema mais recorrente e, portanto, mais claramente consistente na visão do grupo. Porém, no que diz respeito às interpretações diferentes, “Insatisfação” é um tema apresentado por um grupo de técnicos. Esse grupo também se destaca, pois, ao contrário do outro, afirma que o salário poderia ser melhor, ou que pela responsabilidade e acúmulo de trabalho deveriam ganhar mais, trazendo insatisfação. Na categoria “Relacionamento com os pares”, o bom relacionamento é compartilhado por todos os atores dos três grupos. Não houve indícios de diferenças de interpretações entre seus membros nesta categoria. O relacionamento com os superiores é compartilhado por todos os respondentes do grupo da administração, do grupo dos professores e do grupo dos técnico-administrativos. O fato de um ator social responder que é um relacionamento de respeito e fidelidade difere um pouco do restante do grupo, pontuando, assim, uma interpretação diferenciada. Não surgiram elementos plausíveis que confirmassem a existência de maiores diferenciações. O relacionamento com os professores é interpretado pelo grupo da área da administração como um bom relacionamento. Não despontaram diferenças nas interpretações dessa categoria. Já para o grupo da área técnico-administrativa, “Relacionamento normal” foi a maior ressurgência, ou seja, é o que compartilha a grande maioria. Por outro lado, surgiram elementos plausíveis que confirmam a existência de diferenças de interpretações. A confirmação se dá com o depoimento e um funcionário que diz haver discórdia com algum professor ou com coordenador pelo fato de haver certa interferência nas atividades dos setores. Esse episódio também foi evidenciado pela pesquisadora por ocasião da observação em campo. Na categoria “Relacionamento com a equipe dos técnico-administrativos”, o grupo da área da administração considera um bom relacionamento o que é compartilhado pela maioria dos respondentes desse grupo. Também o tema “Respeito” foi elucidado por um dos atores sociais desse grupo. Não há indícios de interpretações diferentes. 126 Já para o grupo da área de docência, no geral, os membros compartilham o bom relacionamento com a equipe de funcionários do Instituto. As diferenciações ocorrem por parte de alguns docentes quando apontam problemas de atendimento em alguns setores e problemas de falta de comunicação interna. b) A análise dos três grupos em conjunto sob o foco das perspectivas da Integração, Diferenciação e Fragmentação apresentou os seguintes resultados: Na análise do que é compartilhado entre os grupos, podem-se constatar interpretações relacionadas às categorias um, dois e, três. Os temas “Ambiente agradável”, “Estrutura física adequada” e “Fazer brincadeiras” são compartilhados pelos grupos da área da administração, dos professores e da área técnicoadministrativa, ocorrendo a integração de manifestações. Os temas supracitados repousam, em sua maioria, na perspectiva da integração, pois esta envolve visões, interpretações compartilhadas de manifestações culturais, se não por todas, pela maioria das pessoas da organização. Na perspectiva de Diferenciação, o tema “Insatisfação” é apresentado por um grupo de técnicos. Esse grupo também se destaca pois, ao contrário do outro, declara que o salário poderia ser melhorado. Pela responsabilidade ou pelo acúmulo de trabalho, deveria ganhar mais ou ter uma espécie de bônus, de benefício. A exceção ficou no relacionamento de alguns técnicos com os professores e vice-versa. No grupo “Relacionamento dos técnicos com os professores” surge o tema “Relacionamento normal” e logo, num segundo momento, “Discórdia com algum professor e/ou coordenador”. A confirmação se dá com o depoimento de um funcionário que diz “haver discórdia com um professor ou com um coordenador pelo fato de haver interferência nas atividades dos setores”. Esse episódio também foi evidenciado pela pesquisadora por ocasião da observação em campo. Já no grupo “Relacionamento dos professores com os técnico- administrativos” surge o tema “Problemas de atendimento” em alguns setores e “Problemas de falta de comunicação interna”. Elementos de Fragmentação surgiram durante a observação em campo nas conversas informais com as pessoas, bem como nos depoimento de alguns atores sociais sobre a existência de conflitos, tensões, além da sinalização que há falhas na comunicação dos setores e que deveriam se reunir mais vezes para clarear dúvidas. Evidenciaram-se conflitos entre área pedagógica e área técnico-administrativa. Esses dados nos levam a concluir que a cultura é uma fragmentação de ideias, pois as interpretações são múltiplas e não se mostram claramente consistentes, nem inconsistentes. O consenso não é aceito de modo generalizado, nem em nível de todos os membros que 127 participam da organização, nem em nível de membros que participam dos grupos. Há o consenso passageiro, transitório, produzido por afinidades que se formam em curtos períodos de vivência e posteriormente se desfazem, de acordo com as situações vivenciadas pelos atores. Pode-se afirmar que Conforme os autores que embasaram este estudo, a fragmentação caracteriza uma cultura organizacional de valores compartilhados temporariamente. É possível visualizar a presença da fragmentação quando temáticas são constantes na fala de dois grupos de atores, colocando à mostra determinados aspectos partilhados por indivíduos, independentemente do grupo em que se encontram. Ela permeia as manifestações e temáticas convergentes entre indivíduos de grupos diferentes. Evidencia-se, pois, que grupos previamente segmentados rompem seus limites diante das interpretações de seus membros acerca de manifestações. Ocorre, por isso, o reagrupamento de um grupo com outro, eliminando suas fronteiras a partir da presença de uma mesma temática observada para ambos os grupos, formando uma organização fragmentada. Sumariando, os resultados desta pesquisa corroboram a aplicação conjunta das perspectivas da Integração, Diferenciação e Fragmentação de Martin (1992; 2002) no sentido de possibilitar ao pesquisador uma leitura abrangente do modo como os atores interpretam as manifestações culturais no IESA. Conclui-se, dessa forma, que os resultados alcançados responderam ao problema de pesquisa e demonstram que, mesmo convivendo em um ambiente harmônico, no qual a maioria das pessoas está satisfeita com a organização e considera relacionar-se bem, as diferenças afloram assim como elementos de fragmentação também se encontram presentes. Há que se afirmar, ainda, que a cultura de uma organização não é facilmente decifrada, pois, se reveste de complexidades, deixando pontos ainda obscuros em suas manifestações (FLEURY; FISCHER, 2011). Portanto, esse estudo aponta a existência da tríade de perspectivas de Martin coexistindo de maneira simultânea, o que a torna complexa. Sugere-se a realização de novos estudos abordando a cultura organizacional, utilizando outros modelos teóricos quantitativos e qualitativos. Além disso, pela relevância da pesquisa, acredita-se ser pertinente a sua reprodução em outras unidades da Rede CNEC, uma vez que em nível de rede, as unidades devem compartilhar os valores, a missão e os princípios estipulados pela Superintendência Nacional. Assim como a replicação desse estudo em outras Instituições de Ensino Superior, seria talvez interessante, bem como fazer um estudo comparativo de duas ou mais modalidades de Instituição. 128 REFERÊNCIAS AKTOUF, O. O simbolismo e a cultura de empresa: dos abusos conceituais às lições empíricas. In: CHANLAT, Jean-François. O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas, 1994, v.2, p. 39-79. ANDRADE, M. M. Como preparar trabalhos para cursos de pós-graduação: Noções práticas. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2004. ANDRADE, R. O. B. de; AMBONI, N.. Teoria geral da administração: das origens às perspectivas contemporâneas. São Paulo: M. Books, 2007. ANGELONI, M. T.; FERNANDES, C. B. 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Com forte intersecção que o tema apresenta em relação à ciência antropológica, se torna necessária a utilização de uma prática de pesquisa própria a essa disciplina, a Etnografia. O método etnográfico busca, por meio da observação participante e das entrevistas em profundidade, a compreensão da cultura de um determinado grupo social, ou seja, o conjunto de regras que orienta e dá significado às práticas e à visão de mundo desse grupo. O interesse em relação ao IESA advém do contato direto que tenho com a Instituição, uma vez que atuo na mesma na área técnico-administrativa pelo período de vinte anos, e na docência há dois anos, e por julgar importante ao Instituto reconhecer e entender o modelo de cultura e manifestações que ali predominam. Esse tema também se insere ao Grupo de Estudos e Pesquisas Organizacionais – GEPOG da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, coordenado pela minha orientadora Profª. Drª Enise Barth Teixeira e ao qual também sou integrante. A pesquisa de campo prevê um conjunto de atividades, as quais estão descritas em tópicos na página a seguir. Além disso, coloco em anexo o material referente ao projeto de 135 dissertação apresentado ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento da UNIJUI. Os atores sociais implicados na pesquisa constituem-se da Direção-Geral, e de técnicoadministrativos e de professores do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo, os quais serão selecionados seguindo alguns critérios como: tempo de serviço, faixa etária, formação, sexo e cargo gerencial. Por fim, fico à inteira disposição para o esclarecimento de dúvidas e apresentação de documentos que venham a ser necessários para o deferimento e a viabilização desta pesquisa. Desde já agradeço sua atenção Leila Regina de Oliveira Batista Telefone residencial: (55)33127802 Telefone celular (55)84098885 E-mail: [email protected] Profª Drª Enise Barth Teixeira Telefone UNIJUÍ: (55)33320445 E-mail: [email protected] Ijuí, junho de 2011 136 APÊNDICE B – LISTA DE ATIVIDADES DE CAMPO ATIVIDADES A SEREM REALIZADAS NA FASE DE CAMPO 1. Observação-participante na à equipe de técnico-administrativo do IESA: essa observação consiste em uma técnica etnográfica que visa a uma análise da pesquisadora aos possíveis informantes da pesquisa. Para isso, será dedicado um tempo específico para cada um dos setores da instituição (junho/2011). 2. Entrevista em com os técnicos administrativos: após algum tempo de observação, serão eleitos alguns funcionários (os que se disponibilizarem para isso) para serem entrevistados. Essas entrevistas visam aprofundar o tema da pesquisa, ou seja, saber como essas pessoas se manifestam em seu dia a dia na Instituição. Serão tratados, ainda, temas como o grau de aproximação dos colaboradores com a Instituição, bem como suas inter-relações no trabalho. Verificar as práticas informais, o modo como os indivíduos que participam da organização se relacionam, como eles se dirigem uns aos outros para comunicar e transmitir informações (julho/agosto de 2011). 3. Entrevista em com os professores: essas entrevistas visam, também, conhecer as manifestações desse público de atores sociais, ou seja, o etnógrafo faz uma leitura dos símbolos em ação que se traduzem em uma determinada realidade. 4. Entrevista com a Direção Geral do IESA: essa entrevista visa conhecer as manifestações culturais também do ponto de vista da Direção do Instituto. 5. Participação de atividades de gestão propostas pela área de Recursos Humanos: o objetivo é conhecer, principalmente, as práticas e procedimentos do setor de recursos humanos no dia a dia desses atores sociais. Ao contrário das primeiras etnografias realizadas em sociedades simples que representavam um longo tempo de observação da comunidade estudada, os trabalhos antropológicos contemporâneos das sociedades urbanas tendem a ser realizados em prazos mais curtos. No caso deste estudo, pretende-se que o período de observação, observação participante e entrevistas sejam de quatro meses (maio a agosto de 2011). 137 APÊNDICE C - CARTA AOS PROFESSORES E AOS TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS : APRESENTAÇÃO E ENTRADA EM CAMPO Prezado(a) professor(a) do IESA, Meu nome é Leila Regina de Oliveira Batista, sou aluna do Curso de Mestrado em Desenvolvimento - Gestão de Organizações e Desenvolvimento da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, e meu projeto de dissertação visa estudar o tema Cultura Organizacional. A referida pesquisa busca correlacionar conhecimentos teóricos com fenômenos organizacionais empíricos. Por ser este um trabalho de cunho acadêmico, considero importante explicar, de forma resumida, o procedimento de pesquisa que estou utilizando. Primeiramente elaborei uma questão de pesquisa, ou seja, uma dúvida teórica que deverá ser respondida parte por meio de uma pesquisa bibliográfica e parte por meio da observação de alguma prática organizacional. A pergunta que pretendo responder estará sendo analisada pelo ponto de vista da Administração e da Antropologia. A questão é: Quais as manifestações culturais nas dimensões integração, diferenciação e fragmentação, modelo de Martin (2002), são identificadas pela administração, pelos técnicos administrativos e pelos professores de uma Instituição de Educação Superior? A pesquisa a que se propõe, então, trabalhará a partir da ideia de que os atores sociais da organização consigam, por meio de atitudes e comportamentos, expressar suas manifestações culturais o que vem auxiliar no desvendar da cultura da organização pesquisada. Todavia essas manifestações podem, também, se tornar visíveis na estrutura física, na hierarquia e em outras práticas informais e formais como, por exemplo, reuniões, comemorações e treinamentos. De posse da questão de pesquisa e da revisão bibliográfica (realizada nos meses de novembro 2010 a abril de 2011), é hora de a pesquisadora ir a campo. É nesse estágio que me encontro e é nesse contexto que vocês me verão pela Instituição conversando, observando, fazendo anotações e, posteriormente, “buscando” interessados em realizar uma entrevista. Atenciosamente Leila Regina de Oliveira Batista Mestranda Profª Drª Enise Barth Teixeira Orientadora 138 APÊNDICE D - ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS PROFESSORES Roteiro de entrevista dos professores do IESA Entrevistado_________________________________________________________________ Sexo:_______________Idade:_______Escolaridade:_________________________________ Estado civil:________________ Tempo de docência na Instituição:________________________ Curso no qual atualmente trabalha:_______________________________________________ Data da entrevista:____/____/____ Duração:_______________________________________ Categoria: como as coisas funcionam na organização 1. Que tipo de administração aqui prevalece? 2. Como se sente em relação ao ambiente de trabalho? Categoria: adequação da estrutura física e equipamentos 3. O espaço físico é adequado ao exercício de suas funções? 4. Os equipamentos são compatíveis com sua função? Categoria: as brincadeiras e as piadas que as pessoas fazem 5. É possível fazer brincadeiras e piadas no ambiente de trabalho? Sim ( ) Não ( ) Como? Por quê? 6. Como é visto pelos professores esse tipo de descontração? Categoria: política de remuneração 7. Como você se sente em relação ao salário que recebe? Satisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Por quê? 8. Como é a política de remuneração aqui no IESA? Categoria: relacionamento com os pares, com os superiores e com a equipe de trabalho 9. Como é seu relacionamento com os colegas de trabalho? 10. Como é seu relacionamento com a coordenação? 139 APÊNDICE E – ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS Roteiro de entrevista dos técnicos administrativos do IESA Entrevistado_________________________________________________________________ Sexo:_______________Idade:_______Escolaridade:________________________________ Estado civil:________________ Tempo de Instituição:_______________________________ Setor no qual atualmente trabalha:________________________________________________ Data da entrevista:____/____/____ Duração:_______________________________________ Categoria: como as coisas funcionam na organização 1. Que tipo de administração aqui prevalece? 2. Como se sente em relação ao ambiente de trabalho? Categoria: adequação da estrutura física e equipamentos 3. O espaço físico é adequado ao exercício de suas funções? 4. Os equipamentos são compatíveis com sua função? Categoria: as brincadeiras e as piadas que as pessoas fazem 5. É possível fazer brincadeiras e piadas no ambiente de trabalho? Sim ( ) Não ( ) Como? Por quê? 6. Como é visto pelos técnico-administrativos esse tipo de descontração? Categoria: política de remuneração 7. Como você se sente em relação ao salário que recebe? Satisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Por quê? 8. Como é a política de remuneração aqui no IESA? Categoria: relacionamento com os pares, com os superiores e com a equipe de trabalho 9. Como é seu relacionamento com os colegas de trabalho? 10. Como é seu relacionamento com os superiores? 140 APÊNDICE F - ROTEIRO DE ENTREVISTA COM A DIREÇÃO DO IESA Roteiro de entrevista com a Direção do IESA Entrevistado_________________________________________________________________ Sexo:_______________Idade:_______Escolaridade:_________________________________ Estado civil:________________ Tempo de Instituição:_______________________________ Setor no qual atualmente trabalha:________________________________________________ Data da entrevista:____/____/____ Duração:_______________________________________ 1. No seu entender, quais são os principais problemas e desafios na gestão de uma organização? 2. Quais são as políticas e práticas de Gestão de Pessoas trabalhadas aqui no IESA? 3. Como é a cultura do IESA? Categoria: como as coisas funcionam na organização 4. Como percebe a administração aqui do IESA? 5. Como se sente em relação ao ambiente de trabalho? Categoria: adequação da estrutura física e equipamentos 6. Qual a sua avaliação em relação à estrutura física e equipamentos? Categoria: as brincadeiras e as piadas que as pessoas fazem 7. Qual a sua opinião a respeito das brincadeiras e piadas no ambiente de trabalho? 8. Como é visto pelos técnico-administrativos esse tipo de descontração? Categoria: política de remuneração 9. Como você se sente em relação ao salário que recebe? Satisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Por quê? 10. Como é a política de remuneração aqui na Instituição? Categoria: relacionamento com os pares, com os superiores e com a equipe de trabalho 11. Como é seu relacionamento com os colegas de trabalho? 12. Como é seu relacionamento com os superiore 141 APÊNDICE G - PERFIL DOS ENTREVISTADOS Grupo Administração Professores Nº Tempo de Método da Idade Formação Serviço entrevista Data Sexo 1 47 Superior 2 anos Gravada 18.01.12 Masculino 2 54 Especialista 9 anos Gravada 28.11.11 Masculino 3 50 Ens. Médio 37 anos Por e-mail 25.11.11 Masculino 4 63 Superior 39 anos Gravada 29.11.11 Masculino 5 49 Especialista 22 anos Anotada 17.01.12 Feminino 6 27 Mestre 3 anos Gravada 2911.11 Feminino 7 29 Superior 1 ano Gravada 2911.11 Feminino 8 32 Especialista 3 anos Gravada 1.12.11 Masculino 9 46 Doutora 3 anos Gravada 29.11.11 Feminino 10 37 Superior 6 anos Gravada 30.11.11 Masculino 11 39 Mestre 10 anos Gravada 30.11.11 Masculino 12 35 Mestre 6 anos Gravada 29.11.11 Feminino 13 47 Doutor 6 anos Gravada 2.12.11 Masculino 14 27 Mestre 3 anos Gravada 2.12.11 Masculino 15 36 Mestre 3 anos Gravada 1.12.11 Feminino 16 31 Mestre 5 anos Gravada 2.12.11 Masculino 17 40 Mestre 6 anos Gravada 29.11.11 Feminino 18 28 Especialista 3 anos Gravada 30.11.11 Masculino 19 47 Mestre 4 anos Gravada 30.11.11 Masculino 20 34 Mestre 3 anos Gravada 1.12.11 Feminino Mestre 11 anos Por e-mail 1.12.11 Masculino 21 22 19 E. Médio 2 anos Gravada 16.11.11 Feminino 23 27 Superior 2 anos Gravada 17.11.11 Feminino 24 41 Especialista 2 anos Gravada 18.11.11 Feminino 25 44 E. Médio 6 anos Gravada 21.11.11 Feminino 26 38 E. Médio 13 anos Gravada 23.11.11 Masculino 27 35 Superior 3 anos Gravada 23.11.11 Feminino 28 61 E. Médio 38 anos Gravada 23.11.11 Feminino Técnicos- 29 25 E. Médio 1 ano Gravada 25.11.11 Masculino administrativos 30 31 Superior 3 anos Gravada 29.11.11 Feminino 31 46 E. Médio 2 anos Gravada 28.11.11 Masculino 32 26 Especialista 8 anos Gravada 30.11.11 Feminino 33 48 Superior 2 anos Gravada 1.12.11 Feminino 34 51 Mestre 14 anos Gravada 9.12.11 Masculino