PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ CURSO DE PEDAGOGIA FLORIPES MARIA DE SOUZA VOZ DE CRIANÇA É COISA SÉRIA: As revelações que elas fazem durante as brincadeiras São José 2011 PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ CURSO DE PEDAGOGIA FLORIPES MARIA DE SOUZA VOZ DE CRIANÇA É COISA SÉRIA: As revelações que elas fazem durante as brincadeiras Trabalho elaborado para a disciplina de Conclusão de Curso (TCCII) do Curso de Pedagogia, como requisito parcial para aprovação no curso de graduação em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José- USJ. Orientadora: Profª. MSc. Arlete de Costa Pereira São José 2011 FLORIPES MARIA DE SOUZA VOZ DE CRIANÇA É COISA SÉRIA: As revelações que elas fazem durante as brincadeiras Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito parcial para obtenção do grau de licenciado em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ avaliado pela seguinte banca examinadora: BANCA EXAMINADORA ________________________________________________________ Profª. Msc. Arlete de Costa Pereira Orientadora- USJ _________________________________________________________ Profª. Msc. Débora Cristina Sampaio Peixe Examinadora - NDI/CED/UFSC ____________________________________________________ Profª. Msc. Andréa Rivero Examinadora - USJ São José, 23 de novembro de 2011 Dedico este trabalho aos meus filhos e neta, Fernanda Luiza Peres, Nelson Ruda Able, Arthur Souza de Oliveira e Bernardo Souza de Oliveira, Scarlleth Mayana Peres da Silva (neta). Em especial, ao meu esposo Álvaro Francisco de Oliveira, que sempre me apoiou, me incentivando, e sendo o melhor companheiro em todas as horas. AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradeço a Deus pela permissão de eu poder crescer espiritualmente, e quando isso acontece minha visão de mundo também cresce. Agradeço ao meu mestre espiritual Meishu Sama, que me guia na trajetória da minha vida iluminando meus caminhos, me dando discernimento e confiança, me fazendo acreditar que sou capaz de realizar meus sonhos, de ser feliz. Agradeço ao meu pai Raul de Souza (in memorian) que sempre foi justo, amável, gentil, honesto, alegre, me mostrando que a vida deve ser vivida com paz, harmonia, felicidade, gratidão. A minha querida mãe Cecília Scóz, que me mostrou ser a maior guerreira que já conheci, vencendo grandes batalhas que a vida lhe pôs a prova. Obrigada mãe por me ensinar a ser forte. Esse é um presente para você! E especialmente para minha amada neta Scarlleth Mayana Peres da Silva, e meus filhos, deixo como exemplo aqui minha força de vontade e alegria em poder ter concluído um curso superior aos 53 anos de idade. Aos meus irmãos, e em especial Raul de Souza Filho (in memorian) que nos deixou muitas saudades e nos faz tanta falta. A minha querida orientadora Arlete de Costa Pereira. Que sempre com muita sabedoria, me deixava tranquila nas horas mais difíceis dessa caminhada. Também a minha querida USJ. Universidade da qual eu tenho o maior orgulho, feita para pessoas especiais que almejam um objetivo de alcançar o sonho de uma formação no ensino superior. Ela está ali de braços abertos, feita para estas pessoas. A todos os meus colegas de turma, em especial ao Oésle Luis Alexandre e Kryslaine de Morais Vieira, que sempre foram os melhores amigos, companheiros, que alguém poderia ter. A todos os meus professores que contribuíram para que eu me transformasse em uma pessoa com mais conhecimentos e com certeza, melhor. Ao CEI Flor de Nápoles, onde sempre fui recebida com muito carinho por todos me oportunizando o estágio, e a pesquisa de TCC, e também a todas as crianças do CEI, que ficarão para sempre no meu coração. A todas as pessoas que não foram aqui citadas, mas que de alguma forma contribuíram para que esse sonho se tornasse realidade. Nós somos as crianças do mundo. Somos as crianças das ruas. As crianças da guerra. As vítimas e os órfãos da AIDS. Somos as crianças cujas vozes não são ouvidas. Agora chegou o momento de nos ouvirem. Gabriela Azurduy Arrieta, 13 anos, Bolívia. Inauguração da Sessão especial da ONU para a infância, reunida em Nova York, (9 de maio de 2002) RESUMO Este trabalho busca investigar o que as crianças dizem quando estão brincando nos diferentes espaços da Instituição de Educação Infantil. Ouvir as crianças, dar visibilidade às suas vozes, imaginação e sentimentos, perceber seus pontos de vista, desejos e suas mais diversas manifestações de expressão foram os objetivos deste trabalho. A questão que norteou o trabalho teve como foco investigar sobre o que podemos aprender ao observar as brincadeiras das crianças e ouvir suas vozes. O que as crianças nos dizem, o que desejam, o que expressam, o que revelam enquanto brincam? A pesquisa, que se insere no campo das pesquisas qualitativas, envolveu um período de aproximadamente um mês em campo, fazendo observações participantes com registros em diário de campo e registros fotográficos, e teve como sujeitos, crianças de dois a seis anos de idade. A instituição escolhida como campo de pesquisa foi um Centro de Educação infantil da Rede Municipal de Ensino de São José - SC. As análises indicaram que nesse CEI acontecem múltiplas manifestações das crianças durante as brincadeiras. Olhar para as brincadeiras das crianças com um olhar mais sensível, tentar entrar nesse mundo e descobrir o que elas nos dizem quando estão brincando é uma tarefa que demanda sensibilidade, pois é preciso desconstruir o olhar adulto para compreender a lógica da criança. Para que a professora consiga perceber as mais diversas formas de manifestações e expressões das crianças durante as brincadeiras, é necessário acordar a criança que está adormecida dentro dela. Muitas vezes, as crianças não conseguem dizer com palavras o que estão sentindo, mas conseguem fazer isso com outras formas de linguagens como os gestos, olhares, choros, sorrisos. Por isso, o olhar sensível dos adultos, nesse momento, é fundamental para ouvir, perceber, sentir o que as crianças nos revelam quando estão brincando. Palavras-Chave: Crianças. Voz de Criança. Brincadeiras. Educação Infantil. LISTA DE IMAGENS Fotografia 1 – Criança desenhando ....................................................................20 Fotografia 2 – Meninas tirando fotos ...................................................................21 Fotografia 3 – Meninas tirando fotos....................................................................21 Fotografia 4 – Crianças fazendo(arte)..................................................................27 Fotografia 5 – Valentina brincando de faz de conta.............................................28 Fotografia 6 – Pedro trocando fraldas..................................................................29 Fotografia 7 – Olhar entristecido de Valentina.....................................................31 Fotografia 8 - Menino brincando com a boneca...................................................35 Fotografia 9 – Aconchego da professora............................................................38 Fotografia 10 – Crianças trocam só um pé de seus calçados........................... 39 Fotografia 11 – Carinho da professora...............................................................40 Fotografia 12– Em volta da professora...............................................................40 Fotografia 13 – Beijo carinhoso..........................................................................40 Fotografia 14 – Abraço amigo.............................................................................40 Fotografia 15 – Um colinho.................................................................................40 Fotografia 16 – Amigos bem juntinhos................................................................40 Fotografia 17 – Dividindo o mesmo espaço........................................................41 Fotografia 18 – Parque lugar de princesa...........................................................41 Fotografia 19 – Parque lugar de super-heróis....................................................41 Fotografia 20 – Parque lugar de faz de conta.....................................................42 Fotografia 21 – Parque lugar de compartilhar espaço........................................42 Fotografia 22 – Parque lugar de fazer comidinha...............................................42 Fotografia 23 – Parque lugar para ver meus e-mails..........................................42 Fotografia 24 – Parque lugar de ajuda mútua.....................................................42 Fotografia 25 – Despedida..................................................................................49 LISTAS DE ABREVIATURAS ANPED- Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CEI – Centro de Educação Infantil DCNEI – Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC – Ministério da Educação e Cultura NUPEIN - Núcleo de Estudos e Pesquisas da Educação na Pequena Infância. PCSJ – Proposta Curricular de São José SCIELO- Scientific Electronic Library Online TCC – Trabalho de Conclusão de Curso UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina USJ – Centro Universitário Municipal de São José SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................11 2 CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO..........................................................16 3 OS CAMINHOS DA PESQUISA ......................................................................17 3.1UMA IMAGEM, UM CLICK..............................................................................20 4 AS CRIANÇAS E AS LEGISLAÇÕES: ONDE ESTÃO SUAS VOZES ..........23 4.1 BRINQUEDOS, BRINCADEIRAS E AS CRIANÇAS ....................................26 4.2 CRIANÇAS DE DOIS A TRÊS ANOS: DIZENDO TUDO SEM PRECISAR FALAR NADA...................................................................................................... .28 4.2.1 Expressões de Sentimentos: gestos e olhares que falam por si................30 4.3 OUVINDO AS CRIANÇAS DE TRÊS A QUATRO ANOS.............................32 4.3.1 Ouvindo as crianças falarem......................................................................34 4.4 DAR VOZ AS CRIANÇAS DE 04 A 05 ANOS......................... ......................36 4.4.1 Momentos de carinho e afetos............................................................ ........38 4.4.2 Parque, lugar de troca entre os pares...................................... ...................39 5 ORGANIZAR E PLANEJAR ESPAÇOS PARA AS CRIANÇAS.....................44 6 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES AINDA PROVISÓRIAS........ .........................49 REFERÊNCIAS...................................................................................................52 ANEXOS..............................................................................................................55 11 1 INTRODUÇÃO A presente pesquisa corresponde ao Trabalho de Conclusão de Curso – TCC do curso de Pedagogia, do Centro Universitário Municipal de São José e foi realizada no segundo semestre de 2011, em um Centro de Educação Infantil- CEI Flor de Nápolis, da Rede Municipal de Educação do Município de São José. O estudo tem o objetivo dar voz às crianças, ou seja, busca investigar o que as crianças dizem e revelam enquanto brincam ou como se expressam nas suas brincadeiras nos contextos de Educação infantil. Discute sobre a importância de se ouvir o que as crianças têm a dizer a respeito das brincadeiras, dando voz a estes “sujeitos de pouca idade”. (SARMENTO, 1997). Com esse trabalho pretendo desencadear uma reflexão sobre a importância de ouvirmos as vozes das crianças durante suas brincadeiras, valorizando seus pontos de vistas, suas falas, suas ações como elementos importantes para pensar o processo de apropriação e ampliação dos conhecimentos pelas crianças nas Instituições de Educação Infantil. Seja brincando ou se utilizando das linguagens simbólicas, as crianças estão sempre interpretando algo, expressando diferentes formas de linguagens, elas têm um jeito específico de se comunicar, com uma lógica própria, diferente da lógica dos adultos. O ato de ver e ouvir as crianças se expressando, nas mais variadas formas de linguagem, sobre seus interesses e seus jeitos específicos de pensar o mundo e as questões que as cercam revela a distância e desconhecimento que ainda separa o mundo adulto deste grupo etário. A brincadeira parece ser uma das formas de linguagens das crianças para comunicarem aos adultos o seu lugar neste mundo. Ao brincar, as crianças dão significados próprios às coisas que vivenciam no seu cotidiano. Também interpretam, experimentam e exploram, expressando todo o seu sentimento e emoção. Partindo do pressuposto de que brincar é direito de todas as crianças e ouvir o que elas têm a dizer quando estão brincando é uma necessidade e um dever de todas/os as/os profissionais de Educação infantil, principalmente daqueles que estão envolvidas/os e comprometidas/os com uma prática que venha ao encontro dos 12 direitos das crianças, é que se destaca a relevância deste trabalho. Portanto, com esse trabalho busco dar visibilidade às vozes das crianças, durante suas brincadeiras, revelando aspectos do brincar que são próprios dos mundos infantis, e com isto contribuir para a melhoria das práticas pedagógicas em contextos de Educação Infantil, ampliando as possibilidades de desenvolvimento das crianças, em todos os aspectos físico, psicológico, intelectual e social. O interesse pela temática surgiu a partir das vivências durante o período de estágio realizado em uma instituição pública de Educação Infantil, no Município de São José. Nas observações feitas durante o estágio e posteriormente na docência, foi possível constatar a necessidade e a importância de se ouvir o que as crianças têm a nos dizer, e que um bom lugar para ouvir as crianças é nos momentos de brincadeiras, que acontecem nos espaços da Instituição de Educação Infantil, principalmente no parque. Na inserção junto às crianças, percebi a importância da brincadeira e do faz de conta e, principalmente, de suas falas durante estas brincadeiras, pois elas se utilizam desta linguagem como forma de expressarem seus sentimentos, desejos e seus pontos de vistas. A riqueza dos elementos que são revelados durante as brincadeiras das crianças, os jeitos próprios de interpretar o seu cotidiano, a magia dos personagens e das possibilidades ilimitadas de transformação dos mundos indicaram um caminho desafiador para a construção da pesquisa. O registro a seguir ilustra esse „jeito criança de ser’, quando, certo dia, “apareceu um elefante na creche”: Apresentei a eles o livro que se chamava Animais da Floresta. E durante a contação da história, os bichos foram surgindo: A onça, o macaco, a girafa, e as crianças foram interagindo com o livro, fazendo comentários, acrescentando outros textos a cada imagem mostrada. Uma menina disse: - Eu vi um macaco lá no circo! Eu virava a página e aparecia outro animal, desta vez um elefante, e outro menino logo comentou: - Eu tenho um elefante bem grandão na minha casa. Eu vo trazê ele pra 13 creche1, i ele vai cume um pedaço da creche. Percebemos que a linguagem do faz de conta facilitou para uma aprendizagem significativa, para a criança, onde ela se expressa interage enquanto aprende vivenciando os personagens do livro. (REGISTRO DE CAMPO, 2010).2 Por meio do registro é possível ouvir as vozes das crianças e perceber o quanto o brincar, o lúdico, o imaginário, o faz de conta estão permeando os espaços da Educação Infantil. Compreender melhor estes elementos que fazem parte das brincadeiras das crianças, ouvir o que elas nos dizem enquanto brincam, perceber seus desejos, preferências, seu jeito próprio de ser e agir no mundo poderá contribuir para que haja uma rotina mais prazerosa tanto para as professoras quanto para as crianças nos contextos coletivos de educação e cuidados. Desde o início da minha atuação como professora da Educação Infantil, tenho procurado ter um olhar mais atento e profundo ao observar uma brincadeira de criança. Sempre procuro ouvir o que elas estão querendo dizer, com palavras, gestos, brincadeiras, as revelações que elas fazem que muitas vezes não são o que parece ser aos olhos de um adulto. Por isso, ter esse olhar aguçado e sensível me ajuda a perceber e refletir sobre o que de fato tem importância e faz sentido para uma prática cotidiana planejada e significativa para e com as crianças. Na atualidade, fala-se muito sobre as crianças enquanto sujeitos sociais de direitos, garantidos na legislação (LDBEN, 1996). A partir do entendimento das crianças como sujeitos ativos, participativos, pensantes, é que defini pesquisar as vozes das crianças durante as brincadeiras, ou seja, ouvindo-as, uma vez que elas são as maiores interessadas no assunto. O objetivo da pesquisa é trazer à tona as falas das crianças durante as brincadeiras, dando visibilidades às suas vozes, sua imaginação, valorizando seus pontos de vistas, seus desejos e suas ações como elementos importantes para a vivência plena das suas infâncias. Para atingir este objetivo, foi necessário refletir sobre a importância de se ouvir e dar voz às crianças, na tentativa de compreender as linguagens expressadas 1 Estarei apresentando as falas das crianças tal como foram expressas, respeitando seus “jeitos de falar”, suas singularidades. 2 Esta observação foi realizada durante o estágio, no segundo semestre de 2010, no CEI Flor de Nápolis. Foi a partir daí que comecei a observar mais atentamente as falas das crianças durante as brincadeiras. 14 nas brincadeiras, assim como Investigar sobre o que as crianças querem nos dizer quando estão brincando nos espaços da instituição de Educação Infantil. Houve um tempo em que as crianças eram consideradas “seres inacabados”, ou também “adultos em miniaturas”. Não se olhava para as crianças como seres completos, totais e indivisíveis. Hoje sabemos que elas estão inseridas na sociedade e são parte da mesma, consideradas seres produtoras de cultura, que interpretam o mundo a sua maneira, e expressam isso por meio das brincadeiras. (RIVERO, 2011). Dar voz às crianças, ouvir o que elas têm a nos dizer em suas brincadeiras significa compreender a linguagem que elas se utilizam para interpretar seus desejos, anseios e alegrias. Estudos recentes apontam para a necessidade de aprendermos a ouvir as crianças (SARMENTO, 1997; CERISARA, 2004; ROCHA, 2008, 2010) de todas as formas manifestadas, para que possamos interpretar o que elas querem nos dizer quando estão brincando nesses espaços das instituições de Educação Infantil. Portanto, ouvir as crianças para que elas nos indiquem, nos digam o que é mais importante para elas, acerca das brincadeiras. Porém, essa não é uma tarefa fácil. Dar voz às crianças é uma concepção ainda muito recente, e por isso, temos que aprender como fazer. Para isso, é necessário um exercício de sensibilizar o olhar, aprender a observar e refletir muito. Afinal, o que as crianças querem nos dizer nas suas brincadeiras? Qual a importância de ouvirmos a voz das crianças, de compreendermos essa linguagem da brincadeira nos contextos de Educação Infantil? Ao observar as brincadeiras das crianças e ouvir suas vozes, o que podemos aprender com elas? O que as crianças nos dizem, o que desejam, o que expressam, o que revelam? Foram estas questões que desencadearam a necessidade de ir para a realidade e pesquisar, aprender, ouvir as crianças, compreender o que elas têm para nos dizer. Ouvir as crianças para que elas nos indiquem, nos digam o que é mais importante para elas acerca das brincadeiras, pois assim poderemos aprender a conhecer melhor as crianças, e esta pesquisa poderá ser reveladora de suas vozes. Para subsidiar esta pesquisa, procurei me apoiar teoricamente em Vigotski (1984,1994), Kishimoto (1998,2005), Sarmento (1997), Ostetto (2000, 2004, 2008), Cerisara (2004), Rocha (2008, 2010), entre outros. O trabalho está estruturado em seis capítulos. No capítulo 1, Introdução, faço 15 um apanhado geral do trabalho. Em seguida falo sobre a Instituição, depois apresento Os caminhos da pesquisa. No capítulo 4, As crianças e as legislações: onde estão suas vozes? Inicio trazendo um pouco sobre as legislações, Crianças, brincadeiras, características por faixa etária. Na sequência, o capítulo 5, Organizar e planejar espaços para as crianças; no capítulo 6, Algumas considerações ainda provisórias e encerro com as Referências e Anexos. 16 2 OS LUGARES DA PESQUISA A pesquisa foi realizada no Centro de Educação Infantil – CEI Flor de Nápolis, que pertence à Rede Municipal de Educação de São José e fica localizado no bairro Flor de Nápolis. O CEI possui uma estrutura física ampla, e atende, neste ano, 164 crianças da comunidade, a maioria em período integral. Ao todo são cinco turmas matutinas e vespertinas, sendo setenta e cinco crianças no período matutino e oitenta e nove crianças no período vespertino, isto porque algumas crianças frequentam somente o período da tarde. Trabalham no CEI trinta e uma profissionais, entre Diretora, Auxiliares de Direção, Auxiliares de Ensino, Professoras, Auxiliares de Sala, Professora de Educação Física, Merendeira e Auxiliar de Serviços Gerais. Optei por fazer minha pesquisa neste CEI, porque já havia feito o estágio em Educação Infantil nessa mesma instituição de educação pública. Sempre fui muita bem acolhida por parte de toda a direção, funcionárias e crianças, onde já me sentia como parte deste CEI. Todos me abriram as portas para que eu pudesse fazer a pesquisa com liberdade e tranquilidade. O CEI abriu-me as portas para que a pesquisa fosse realizada em todos os espaços, contemplando as salas, o parque, os corredores, os cantos, o refeitório. Sendo o TCC um momento de suma importância em nossa vida acadêmica, realizar a pesquisa em um espaço onde nos sentimos acolhidas já é um bom começo. 17 3 PERCURSOS METODOLÓGICOS: DESAFIOS DA PESQUISA O primeiro desafio é descobrir o objeto da pesquisa e construir o projeto de TCC. Para isto, é necessário mergulhar nas leituras. E o ponto de partida foi a experiência de estágio, portanto, estava relacionado as falas das crianças durante as brincadeiras. Para uma melhor compreensão do objeto investigado, foi necessário, primeiramente, realizar um levantamento bibliográfico acerca da temática visitando Bibliotecas, sites, obras estudadas no decorrer do curso de pedagogia, e obras sugeridas pela orientadora. Os principais autores pesquisados foram: Kishimoto (2005), Brougère (1995), Vigotski (1984, 1994), Ostetto (2000, 2004, 2008) e Sarmento (1997), sendo que outros autores também contribuíram e serão citados no decorrer da apresentação desse trabalho. Após selecionar os trabalhos, passei para etapa dos fichamentos das principais obras de interesse. Com as leituras e reflexões suscitadas durante a elaboração do projeto, surgiram dúvidas e assim, senti a necessidade de ter um contato mais direto com o ambiente e o objeto a ser investigado, ou seja, o retorno ao campo de estágio foi uma necessidade imediata. Queria olhar as crianças, ouvi-las um pouco mais para poder ter clareza acerca do meu objeto de pesquisa. Então, retornei ao CEI e fui conversar com as crianças, queria sentir se conseguiria fazer um TCC tendo como foco as suas vozes. E lá, fui recebida carinhosamente pelas crianças e equipe de profissionais, o que fortaleceu meu desejo de realizar a pesquisa naquele espaço ouvindo as crianças nas suas brincadeiras. A pesquisa se insere no campo das pesquisas qualitativas, uma vez que envolveu um período de aproximadamente um mês em campo junto às crianças, para realizar as observações participantes com registros em Diário de Campo, além de registros fotográficos. De acordo com Minayo (1999): 18 [...] a técnica de observação participante se realiza através do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios contextos. O observador, enquanto parte do contexto de observação, estabelece uma relação face a face com os observados. Nesse processo, ele, ao mesmo tempo, pode modificar e ser modificado pelo contexto. A importância dessa técnica reside no fato de podermos captar uma variedade de situações ou fenômenos que não são obtidos por meio de perguntas, uma vez que, observados diretamente na própria realidade, transmitem o que há de mais imponderável e evasivo na vida real. (p.59) A pesquisa foi realizada no segundo semestre de 2011, (TCCII), com crianças dos dois aos seis anos de idade. Ouvir as crianças, observar o que elas nos dizem quando estão brincando, ter um olhar mais profundo e apurado diante das suas brincadeiras, dos comportamentos, das ações e reações infantis é algo, no mínimo, instigante. É sempre um grande desafio. Neste sentido, concordo com Cerisara (2004) ao dizer que “[...] realizar pesquisas buscando captar as vozes das crianças é um desafio para os adultos, uma vez que, por mais comprometidos que formos com as crianças, seremos sempre adultos falando pelas crianças e sobre elas”. (p.49). Por isso, esta pesquisa tem o intuito de ouvir a voz das crianças, buscando uma maior compreensão das suas variadas formas de linguagens. Sobre as metodologias de pesquisa com crianças, Sarmento (1997, p. 24) diz que “[...] as metodologias utilizadas devem ter por principal escopo a recolha da voz das crianças, isto é, a expressão da sua acção e da respectiva monitorização reflexiva”. Para conseguir ouvir as crianças, fui descobrindo, como pesquisadora que, ao observar as crianças para enxergar de fato o que elas expressam em suas brincadeiras, é necessário estar livre de preconceitos pré-concebidos diante das brincadeiras infantis, ressignificando esse olhar, apreendendo seus jeitos próprios de ser. Neste sentido, Gandini e Goldhaber (2002, p. 52) acrescentam que “através da observação e da escuta atenta e cuidadosa às crianças, podemos encontrar uma forma de realmente enxergá-las e conhecê-las”. Assim as crianças fazem quando estão brincando, nos revelam vivências dos seus cotidianos, que têm significados importantes para elas, e que muitas vezes passam despercebidas pelo olhar do adulto. Neste sentido, Sarmento e Pinto (1997, p. 24) indicam a necessidade de “[...] partir das crianças para o estudo das realidades de infância”. Os autores 19 prosseguem dizendo que o estudo das realidades da infância com base na própria criança é um campo de estudos emergente, e por isso é necessário adotar um conjunto de orientações metodológicas capazes de auxiliar na recolha da voz das crianças. Portanto, um estudo que se propõe partir das crianças é desafiador, mas, de acordo com os autores, de grande relevância, pois: O estudo das crianças a partir de si mesmas permite descortinar uma outra realidade social, que é aquela que emerge das interpretações infantis dos respectivos mundos de vida. O olhar das crianças permite revelar fenómenos sociais que o olhar dos adultos deixa na penumbra ou obscurece totalmente. Assim, interpretar as representações sociais das crianças, pode ser não apenas um meio de acesso à infância como categoria social, mas às próprias estruturas e dinâmicas sociais que são desocultadas no discurso das crianças. (SARMENTO; PINTO, 1997, p. 25). Essa pesquisa procura trazer as vozes das crianças em suas mais simples, espontâneas e verdadeiras formas de linguagens. Tentando trazer suas falas na forma como elas se apresentam, captando a essência, o sentimento com que as crianças estavam querendo dizer com essas formas de se expressar. O exercício do registro diário foi fundamental para captar as vozes das crianças. Sobre o ato de registrar e documentar, Gandini e Goldhaber (2002, p. 161) afirmam: [...] o processo de documentação amplia o nosso entendimento sobre os conceitos que as crianças estão elaborando, sobre as teorias que elas estão construindo e sobre os questionamentos que elas propõem. O processo de documentação nos une como comunidade de aprendizagem e nos desafia a expressar os nossos pensamentos, articulada e publicamente, e a aceitar a responsabilidade, como sugere Carlina Rinaldi (1998), de escutar atentamente a fim de compreender o ponto de vista dos outros. Sobre a contribuição das pesquisas com crianças, Cerisara (2004) fala que: Pode dizer-se que as pesquisas voltadas para as crianças e as culturas infantis ou para os fazeres e saberes das crianças, trazem uma importante contribuição para a área da Educação Infantil à medida que evidenciam a necessidade de todos os professores educarem o seu olhar no sentido de aprenderem a ver, observar e conhecer as crianças para tomá-las como ponto de partida para a organização do tempo e do espaço dentro das creches e pré-escolas. (p. 51). Durante a pesquisa de campo, em muitos momentos, as crianças solicitavam participar ativamente dos meus registros, contribuindo com suas formas de expressão: 20 As crianças sempre querendo desenhar no papel onde eu registrava as observações. Sempre „rabiscavam‟ a folha e depois queriam assinar o seu nome na obra de arte. Queriam registrar seus nomes, assumindo a autoria da arte. Queriam ser visíveis, mostrar como são capazes. Então, o menino João pegou a folha e a caneta e começou a desenhar e disse: “Existi minina só com uma perna, né? Eu vi uma cando eu fui cu meu pai lá nu mercado, Intão vo dejenhá uma minina assim3.” (DIÁRIO DE CAMPO/12/08/11). Foto 1 - Criança desenhando a menina só com uma perna. Fonte: Floripes Maria de Souza, 12/08/2011. 3.1 UMA IMAGEM, UM CLICK: Duas meninas com quase quatro anos de idade, me observavam, enquanto eu tirava fotos das crianças. E para não perder o momento exato, muitas vezes eu ficava no chão, de cócoras, de lado, enfim o meu objetivo era registrar o momento exato do fato, por isso não tinha uma pose certa para bater as fotos. De repente, 3 Para saber mais sobre os jeitos de falar próprios das crianças, ver Vigotski (2004, p.356) que diz que “A maioria de nossas crianças fala uma linguagem contra natural, deformada pelos adultos e não se pode imaginar nada de mais falso do que esse discurso dissimulado.” 21 elas começaram a me imitar, e batiam fotos umas das outras, de várias formas. A menina que batia a foto buscava um ângulo mais perfeito para tirar a melhor foto. Exatamente o que eu estava fazendo. Como elas conseguiram captar em mim esse meu objetivo; que não era só tirar as fotos, simplesmente, mas sim, pegar o melhor ângulo, e para isso, eu me posicionava de diversas formas, e elas também. Foto 2 - Meninas tirando fotos. Fonte: Floripes Maria de Souza, 12/08/2011. Foto 3 - Meninas tirando fotos. Fonte: Floripes Maria de Souza, 12/08/2011. 22 Sobre esta questão, Caputo indica: Ao regular a abertura da máquina, ao optar por este ou aquele filtro de luz, ao decidir que velocidade será usada na hora do “clic”, ou seja, no exato momento da “captura” do objeto a ser fotografado, o fotógrafo o faz baseado em seus pressupostos teóricos. (CAPUTO, 2001, p. 6). Procurei registrar fotografando o momento exato do fato, da ação, onde as crianças brincavam e se expressavam de maneira espontânea e própria delas. Mas, enquanto eu fazia esses registros, também era observada por elas, que me imitavam fazendo de conta que tiravam fotos de verdade uma da outra, e ainda buscavam se posicionar do melhor ângulo possível. Percebi que, ao registrar e documentar suas ações, também estava sendo observada, registrada, ou seja, as crianças estavam elaborando suas próprias teorias acerca das minhas ações naquele espaço. De acordo com Gandini e Goldhaber (2002, p. 161): [...] o processo de documentação amplia o nosso entendimento sobre os conceitos que as crianças estão elaborando, sobre as teorias que elas estão construindo e sobre os questionamentos que elas propõem. O processo de documentação nos une como comunidade de aprendizagem e nos desafia a expressar os nossos pensamentos, articulada e publicamente, e a aceitar a responsabilidade, como sugere Carlina Rinaldi (1998), de escutar atentamente a fim de compreender o ponto de vista dos outros. Portanto, registrar fotografando é também uma forma de documentar as ações das crianças. Estamos observando as crianças em seus momentos de construção acerca de suas experiências cotidianas e isto nos remete a pensar que devemos ouvir mais as crianças enquanto brincam. Assim, tentar compreender as suas mais variadas formas de se expressarem. 23 4 AS CRIANÇAS E AS LEGISLAÇÕES: ONDE ESTÃO SUAS VOZES? Cada cultura tem uma maneira diferente de ver as crianças, de como educar e cuidar delas. Antigamente, meados do século XV, a criança foi considerada como „adulto em miniatura‟, depois, como um „ser inacabado‟, uma ‘tábula rasa‟ e, chegando ao início do século XX como uma concepção oriunda da psicologia do desenvolvimento que considerou a criança como um futuro “vir a ser”. Todas essas concepções partiam da ideia negativa da infância, daquilo que faltava às crianças, que eram vistas sem nenhuma especificidade, nem valor positivo. Eram consideradas à margem da família, e só passavam a condição de sujeitos prontos e acabados, quando atingiam a idade adulta, que era considerada a idade da razão. Então, a partir de Rousseau, as crianças passaram a ser vistas como seres portadores de uma natureza própria que deve ser desenvolvida. (KISHIMOTTO, 2005). No pensamento das épocas passadas, a infância era vista como sinônimo de inocência, fragilidade, docilidade natural e se tinha, em relação a elas, um pensamento de homogeneidade, onde se acreditava que todas as crianças eram iguais, com a mesma cultura, interesses e possibilidades de desenvolvimento (PCSJ, 2000). Este jeito de ver e pensar as crianças como sendo homogêneas permaneceu até recentemente e ainda não está totalmente superado. A concepção de infância vem mudando ao longo dos tempos. Hoje, já se percebe as crianças como sujeitos sociais de direitos, garantidos e reconhecidos na legislação atual, embora não totalmente concretizados, mesmo assim, significa um avanço legal. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 205, fala que “[...] a educação é direito de todos e dever do estado e da família.”Tendo como objetivo, o desenvolvimento da criança para o exercício da cidadania. E, em seu artigo 208, define: Art. 208 - O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade4; 4 Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006. 24 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional também reafirma essa condição de sujeito de direitos e expressa como finalidade o desenvolvimento integral das crianças (LDBEN/1996). Esta legislação destaca em seu artigo 29: “[...] a Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual, e social, complementando a ação da família e da comunidade.” O Estatuto da Criança e do Adolescente, datado de 1990, também vem reafirmar a condição legal das crianças e adolescentes enquanto sujeitos sociais de direitos: Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária5. Entendemos que as crianças são sujeitos de direitos, e que devemos respeitá-las e auxiliá-las no seu desenvolvimento integral, e que esta é uma grande responsabilidade das instituições de educação. Esta finalidade está expressa na Proposta Curricular de São José (PCSJ, 2000, p. 177): As instituições de Educação Infantil devem associar práticas de educação e cuidado que possibilitem a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos, linguísticos e sociais da criança. Entendendo que ela é um ser completo, total e indivisível. O caderno do MEC “Critérios para um atendimento que respeite os Direitos Fundamentais das Crianças”, vem ratificar essa ideia, definindo alguns direitos a serem garantidos para estes sujeitos crianças. De acordo com o material, a criança tem direito à brincadeira, a desenvolver sua curiosidade, imaginação, a um ambiente aconchegante seguro e estimulante, direito ao contato com a natureza, direito a saúde, higiene, a uma alimentação sadia, a movimento em espaços amplos, a proteção, ao afeto e à amizade, direito a expressar seus sentimentos, a atenção especial, ao desenvolver sua identidade cultural, racial e religiosa. (CAMPOS, 2009, p. 13). 5 Para maior esclarecimento, leia a Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional) e a Lei 8069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente). 25 Nesta mesma perspectiva, recentemente foi instituída as Diretrizes 6 Curriculares Nacionais Para a Educação Infantil (BRASIL, 1999; 2009), que, em seu Art. 3º, determina: III – As Instituições de Educação Infantil devem promover em suas Propostas Pedagógicas, práticas de educação e cuidados, que possibilitem a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivo/lingüísticos e sociais da criança, entendendo que ela é um ser completo, total e indivisível. As diretrizes vêm reforçar a ideia das crianças enquanto seres íntegros e de direitos, e isto fica evidente no artigo IV: IV – As Propostas Pedagógicas das Instituições de Educação Infantil, ao reconhecer as crianças como seres íntegros, que aprendem a ser e conviver consigo próprios, com os demais e o próprio ambiente de maneira articulada e gradual, devem buscar a partir de atividades intencionais, em momentos de ações, ora estruturadas, ora espontâneas e livres, a interação entre as diversas áreas de conhecimento e aspectos da vida cidadã [...]. No entanto, não é suficiente apenas a existência de documentos legais para a garantia das crianças enquanto sujeitos de direitos; as legislações, por si só não garantem práticas diferentes em relação às crianças, é necessário também uma mudança de postura e um investimento sério em formação. Assim como não é suficiente somente deixá-las falar, pois, como diz Rocha (2010, p.16). Deixar as crianças falarem não é suficiente para o pleno reconhecimento de sua inteligibilidade, ainda que nem isso se tenha conquistado no campo científico e da ação; depende de uma efetiva garantia de sua participação social, da construção de estratégias, em especial no âmbito das Instituições educativas, da qual fazem parte e que tem representado espaço e contexto privilegiado das vivências da infância. As Instituições de Educação Infantil são lugares onde o exercício desses direitos das crianças devem ser efetivados nas práticas cotidianas. 6 Resolução CEB, nº 1, de 7 de abril de 1999. Resolução CNE/CEB 5/2009. Diário Oficial da União, Brasília, 18 de dezembro de 2009, Seção 1, p. 18. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0199.pdf 26 4.1 BRINQUEDOS, BRINCADEIRAS E AS CRIANÇAS Já faz muitos anos que o brincar e as brincadeiras das crianças têm sido objeto de pesquisas nas academias. Um dos pesquisadores que contribuiu muito com a construção de teorias acerca do brincar e continua sendo referência para muitos trabalhos é Vigotski. Este autor considera o ato de brincar muito importante para o desenvolvimento integral da criança. De acordo com ele, as crianças quando brincam dão novo significado para aquilo que vivem e sentem no seu dia a dia. Quando uma criança brinca de mãe, de professora, de irmão, ela imita e recria situações assumindo papéis de na vida real não poderia assumir enquanto criança. (VIGOTSKI, 1994). A brincadeira é uma forma de linguagem que a criança faz uso para se comunicar com o mundo a sua volta. Por meio da brincadeira, a criança se socializa, expressa sentimentos, interpreta, cria e recria o que está a sua volta. No entanto, pensar a brincadeira e o brinquedo como fundamentais no desenvolvimento das crianças é algo recente, deste século. O brinquedo educativo data dos tempos do Renascimento, e começa a ganhar espaço a partir deste século com a expansão da Educação Infantil. Reconhecido como recurso pedagógico que auxilia na educação das crianças de forma prazerosa, Kishimoto (2005, p. 36) diz que: O uso do brinquedo/ jogo educativo com fins pedagógicos remete-nos para a relevância desse instrumento para situações e ensino-aprendizagem e de desenvolvimento infantil. Se considerarmos que a criança pré-escolar aprende de modo intuitivo, adquire noções espontâneas, em processos interativos, envolvendo o ser humano inteiro com suas cognições, afetividade, corpo e interações sociais, o brinquedo desempenha um papel de grande relevância para desenvolvê-la. Quando criamos situações lúdicas, intencionalmente, com o objetivo de provocar as crianças a certos tipos de aprendizagens, então estamos aí criando uma dimensão educativa. A professora estará potencializando as situações de aprendizagem, bem como introduzindo a construção do conhecimento utilizando-se desse recurso pedagógico, desafiando as crianças a desenvolverem suas capacidades de ações e habilidades. 27 Foto 4 - Crianças fazendo arte- Estágio Educação Infantil 2010. Fonte: Floripes Maria de Souza O meio social no qual as crianças vivem, vai influenciar na forma como essas crianças, quando adultos, irão lidar com o imaginário, com a sensibilidade, tornandoos adultos que sentem e compreendem o faz de conta, se vivenciarem isto, em suas infâncias. Portanto nós adultos devemos oportunizar as crianças a explorarem suas imaginações na brincadeira. De acordo com Kishimoto (2005, p. 53) “A cultura torna-se parte da natureza humana”. A criança é influenciada pelo meio social no qual está inserida. Kishimoto ao falar na cultura, destaca a Arte, também como elemento importante: A arte, como parte da cultura, é um dos grandes patrimônios da humanidade, ao qual, todos os homens deveriam poder ter acesso para se nutrir cognitiva e espiritualmente, ampliando suas possibilidades de pensamento e de ação no mundo, enriquecendo o espaço imaginativo e simbólico, capazes de alargar e flexibilizar o pensamento racional. As crianças quando brincam de faz de conta estão geralmente imitando o mundo adulto, transportando para seu mundo imaginário, situações do seu cotidiano, ou do seu meio social, onde elas podem transformar em algo mais agradável e possível o que desejam, enquanto vivenciam esses papéis. Então, passam a vivenciar os papéis de princesa, de mãe, de médico, do irmão, da professora e fazem isso da forma mais prazerosa para elas. No entanto, em alguns momentos, essas brincadeiras de representação também podem provocar tensões. 28 Fotos 5 - Valentina brincando de faz de conta colocando a fralda na boneca. Fonte: Floripes Maria de Souza 04/08/11 Isto fica evidente na brincadeira de Valentina, quando cuida de seu bebê, troca fraldas, imita o papel de mãe ou adulto responsável pelo bebê. Percebi que ao brincar de trocar as fraldas do bebê, imitava um adulto e que certamente ela já havia visto alguém trocar as fraldas de alguma criança e, portanto, está recriando o fato enquanto brinca. Para Vigotski (1984, p.49): [...] o que define a brincadeira é a situação imaginária criada pela criança. Oportunizar a brincadeira para a criança é dar a ela oportunidade de criar e recriar suas vivências, brincando ela descobre, experimenta, dá novo sentido, nova forma como gostaria que fosse, imita, mas também reproduz situações reais observadas ou vividas por elas. 4.2 CRIANÇAS DE DOIS A TRÊS ANOS DE IDADE: DIZENDO TUDO, SEM PRECISAR FALAR NADA As crianças, até os três anos de idade, aproximadamente, „falam‟ muito com a linguagem corporal, imitam os adultos, dão novos significados àquilo que vêem, reproduzem situações que vivenciam no seu cotidiano enquanto estão brincando de faz de conta. Assim nos diz Kishimoto (2005, p. 39): A brincadeira de faz de conta, também conhecida como simbólica, de representação de papéis ou sociodramática, é a que deixa mais evidente a presença da situação imaginária. Ela surge com o aparecimento da representação e da linguagem, em torno de 2/3 anos, quando a criança começa a alterar o significado dos objetos, dos eventos, a expressar seus sonhos e fantasias e a assumir papéis presentes no contexto social. Nessa idade entre dois e três anos, as crianças imitam os adultos, mas também começam a dar significados próprios às brincadeiras, reproduzem aquilo 29 que vêem se expressando de uma forma toda própria. Pedro, de dois anos e sete meses de idade, pegou uma boneca, colocou-a deitada sobre um tapete que estava no chão, e levantando as pernas da boneca, passou um lenço umedecido nas partes íntimas da boneca. Depois, olhou para o lenço como se o mesmo estivesse sujo de verdade. Não sabia o que fazer com o lenço. Então, segurando-o com as pontas dos dedos, caminhou até a lixeira e jogou-o fora, na lixeira. (DIÁRIO DE CAMPO, 04/08/11). Fotos 6 - Pedro trocando fraldas e limpando a boneca. Fonte: Floripes M. de Souza, 04/08/2011. A partir desta representação vivenciada por Pedro, é possível inferir que esta criança vive uma situação imaginária como se fosse real para ela, ao menos, naquele momento, na brincadeira. Sobre esta questão, Vigotski (1994, p.136) fala 30 que: “Para uma criança de até três anos de idade, o brinquedo é um jogo sério. [...] para uma criança muito pequena, brinquedo sério, significa que ela brinca sem separar a situação imaginária da situação real” Ao olhar atentamente para a cena, onde Pedro limpava a boneca como se estivesse trocando as fraldas de um bebê de verdade, percebi que o menino poderia estar reproduzindo algo que faz parte do seu cotidiano. Ele imita os adultos, e quando o faz por meio da brincadeira de representação, vive esse momento como se fosse real. Ao pegar o lenço pelas pontas dos dedos, como se o mesmo estivesse sujo, em silêncio, caminhou até a lixeira e jogou fora. É possível que esta criança já tenha observado um adulto fazer isso antes, em situação semelhante. Portanto, Pedro pode estar manifestando comportamentos e costumes de seu contexto cultural e social. Neste sentido, Brougère (2008, p. 97) aponta: “A criança está inserida, desde seu nascimento, num contexto social e seus comportamentos estão impregnados por essa imersão inevitável.” Ao observar as crianças em suas brincadeiras, é possível perceber que elas dizem muito quando estão brincando. Mesmo quando ainda não desenvolveram a oralidade, quando não falam uma só palavra, nos dizem muitas coisas por meio de outras linguagens, gestos, olhares, brincadeiras, expressões, que para elas, naquele momento em que estão vivenciando, a situação vivenciada é coisa séria, é real. 4.2.1 Expressão de Sentimentos: Gestos e olhares que falam por si Valentina é uma garotinha linda, muito alegre e esperta. Esta semana completou três anos de idade. Fala as palavras quase perfeitamente. Nesse dia, a professora fez uma roda com todas as crianças. E convidou-as para cantar uma música, chamada Bonequinha de Paris7. Valentina, então, pegou a boneca alegremente e começou a cantar a música e a interpretar, fazendo gestos com a boneca como se fosse real cada fala da 7 “A Bonequinha” Cantada por Xuxa. Composição: Rennan Cantuária da Silva, João Paulo Gonçalves. Letra da Música: Eu tenho uma bonequinha assim, ela veio de Paris pra mim, ela tem um lindo chapéu e também um amor de véu. Eu ponho ela de pé, não cai; ela diz mamãe, papai. Mas um dia sem razão, escorregou e caiu no chão. Quebrou o rostinho dela e também o dedinho do pé. Eu levei levei ela ao doutor, que sabia curar sem dor. A bonequinha chorou, chorou. Eu também chorei, chorei. Só depois que ela sarou, eu brinquei, brinquei, brinquei. 31 música. Até chegar a parte da música onde fala que a boneca se machucou e foi ao médico. Então, ela começa a ficar triste, abraça a boneca fortemente e para pensativa, com um olhar fixo distante; fica por alguns instantes abraçada a boneca sem dizer uma só palavra. (DIÁRIO DE CAMPO, 04/08/11). Foi possível perceber que a menina, inicialmente estava alegre cantando a música, e de repente, se deu conta do conteúdo da música e quando a bonequinha fica doente e é levada ao doutor, a menina sente tristeza, como se fosse verdade. O gesto da menina em relação à boneca, de segurar cuidadosamente, como se estivesse confortando-a da dor, da tristeza, reforça as falas da música que certamente essa bonequinha passou por maus momentos de verdade, então a menina entristeceu por alguns minutos, solidária à sua boneca. Foto 7- O olhar entristecido de Valentina Fonte: Floripes M. de Souza, 04/08/2011. Sobre essa questão, Vigotski (1994, p.128) fala que: A criança não consegue, ainda, separar o pensamento do objeto real. A debilidade da criança está no fato de que, para imaginar um cavalo, ela precisa definir a sua ação usando um “cavalo de-pau” como pivô. [...], toda a percepção humana é feita de percepções generalizadas e não isoladas. Para uma criança, o objeto é dominante na razão objeto/significado e o significado subordina-se a ele. 32 Com isso, observei que o brinquedo - a boneca - e a música foram elementos extremamente importantes para que Valentina sentisse como se fosse real esse fato e mostrasse que ficou muito triste quando a boneca teve que ir ao médico. Simplesmente, ela manifestou isso com a expressão corporal, onde os olhos de Valentina falaram por ela. Sobre isto, Vigotski (1994, p.130) diz que “Para uma criança, a palavra “cavalo” aplicada ao cabo de vassoura significa “eis um cavalo”, porque mentalmente ela vê o objeto por trás da palavra.” Assim, percebo que Valentina segura a boneca e abraça muito forte, porque as palavras da música diziam que aquela bonequinha estava machucada e foi ao médico. Ela chorou, passou por maus momentos e, agora em seu colo, estava segura, ganhando aconchego e afeto. Ao tratar de sentimentos expressos nas brincadeiras, Brougère (2008, p.14) afirma que: A brincadeira não pode estar limitada ao agir: o que a criança faz tem sentido, é a lógica do fazer de conta é de tudo o que Piaget chama de brincadeira simbólica (ou semiótica). O objeto tem o papel de despertar imagens que permitirão dar sentido a essas ações. 4.3 OUVINDO AS CRIANÇAS DE TRÊS A QUATRO ANOS Dar voz às crianças significa também entrar no mundo da imaginação. Compreender seus significados, suas lógicas. A imaginação é a forma de linguagem mais simples que as crianças fazem uso para nos dizer, indicar, comunicar. É uma forma ilimitada de explorar o conhecimento, abrange tudo que envolve as crianças, incentiva a evolução social e afetiva das mesmas. Assim, Ostetto (2004, p. 83) diz: Ensinar a linguagem, permitindo o fluir de significados e sentidos no espaço educativo, em situações sociais reais de enunciação, é ir além dos aspectos formais do conhecimento escolarizado. É seguir abrindo cominhos para a imaginação, é possibilitar ferramentas para as crianças entrarem cada vez mais no mundo simbólico da nossa cultura, que se expressa também, mas não só, pela escrita. As crianças são surpreendentes e nos dão respostas muitas vezes diferentes daquelas que esperamos ouvir delas, quando fazemos alguma pergunta. A professora de Educação Infantil pode se utilizar dessa linguagem que é da brincadeira, do faz de conta, para que as crianças interpretem o mundo a sua volta, desenvolvendo com isso seus aspectos afetivos, intelectuais, suas interações, 33 podendo assim interagir e se relacionar com as outras crianças e com o mundo que as cerca. Em uma das observações em sala, registrei o seguinte episódio: A professora levou as crianças até o tapete da sala para fazerem uma roda de conversas. Lá ela começou a fazer algumas indagações: - Quem tem bichinho de estimação em casa? Perguntou a professora. Alguns disseram: - Eu tenho! A professora continua perguntando: - Qual é o seu bichinho? Um diz: - Eu tenho um cachorrinho! O outro diz: - Eu tenho um tucano e um peixe! Então, um menino levantou a mãozinha e disse: - Eu tenho uma barata lá em casa! (DIÁRIO DE CAMPO, 12/08/11). As crianças sempre estão nos dizendo alguma coisa. O menino talvez quisesse dizer com isso que em casa ele não tinha nenhum bichinho de estimação, porque, caso contrário, ele teria falado qual era o seu bichinho. Ou, é possível que ele tivesse visto uma barata, que não era de estimação, mas que também é um bicho para ele. Assim, ele interagiu com os amigos, e respondeu a pergunta da professora. Ele também participou da atividade, embora certamente, não tenha dado a resposta que a professora esperava. 4.3.1 Ouvindo as crianças falarem Costumamos ouvir as crianças? Consideramos importante o que elas nos dizem? As falas das crianças fazem sentidos para nós? O que elas revelam em suas falas, em suas brincadeiras? Matheus três anos e meio de idade dizia para Maria: - Óia a minha baliga!”, levantando a camiseta; 34 A menina Maria dizia para outra criança: - O meu pai compo cola cola pa tomá!” Hora de pintar o papai no desenho. A menina Maria disse: - Esse é o meu pai João. A professora pergunta: - Qual é o nome do papai? Ela responde: - É malido. (marido). Miau, miau, au, au, hora de andar de quatro no chão e imitar os bichinhos. Algumas crianças no chão da sala fazendo au, au, e miau, miau, como se fossem bichinhos de verdade. (DIARIO DE CAMPO,12/08/11). As crianças estão sempre nos dizendo alguma coisa. Se expressando com gestos, com palavras, com olhares, com sorrisos, com choros. Tudo isso nos diz alguma coisa. Por isso, é importante organizar as rotinas garantindo momentos onde as crianças possam falar o que desejam, tendo a certeza de que serão ouvidas, de que elas são importantes para quem as ouve. Mostrar a elas que naquele momento estamos ali, inteiros dispostos a ouvi-las. Ostetto (2004, p.89), diz que: É necessário criar espaços e momentos de interlocução, partilhando a palavra com as crianças, ouvindo suas histórias, deixando fluir suas vivências, possibilitando que cada um e todos se transformem em protagonistas de uma história que só pode ser coletiva. Ainda nesse mesmo dia, o menino Rafael, de três anos e sete meses de idade, rondava as meninas para tentar pegar a boneca que as meninas estavam brincando. Até que houve um momento certo, e ele conseguiu tomar das meninas a boneca. Ele ficou algum tempo balançando a boneca, colocou-a debaixo do braço, ficou olhando para a mesma e brincou um bom tempo com a boneca na mão. Foi possível observar que essa criança sentiu vontade de experimentar como era brincar com a boneca, pois neste grupo, muitos meninos e meninas brincam juntos de boneca. Sobre as brincadeiras de bonecas, Kishimoto (2005, p.18), afirma: 35 Uma boneca permite à criança várias formas de brincadeiras. Desde a manipulação até a realização de brincadeiras como “mamãe e filhinha”. O brinquedo estimula a representação, a expressão de imagens que evocam aspectos da realidade. Fotos 8 - Menino brincando com a boneca Fonte: Floripes Maria de Souza, 12/08/2011. Em vários momentos, percebi que as crianças se utilizam desse brinquedo que é a boneca para vivenciarem experiências parecidas com as ações dos adultos com seus bêbês, então, quando brincam também imitam, ou ressignificam o que observam como se estivessem ensaiando uma representação da realidade, ao seu modo. Segundo Cerisara (2002, p. 154), 36 [...] Isso acontece porque tanto a atividade lúdica quanto a atividade criativa surgem marcadas pela cultura imediatas pelos sujeitos com quem a criança se relaciona. Em outras palavras, as crianças só puderam criar essa nova síntese porque, em sua experiência anterior, já conheciam todos os elementos envolvidos, sem o que não teriam podido inventar nada. 4.4 DAR VOZ AS CRIANÇAS DE 04 A 05 ANOS DE IDADE Na roda de combinados com a professora da turma, muitas vozes, diversas falas e uma infinidade de assuntos paralelos fazem parte das rotinas das crianças. Algumas crianças não ficavam quietas enquanto a professora tentava explicar que trabalharia neste dia o personagem Saci Pererê. Então, ela disse: - Se não ficarem quietos, vou chamar o pai aqui! Um menino olhou para ela e falou: - Meu pai não mora cumigo, ele mora na casa da minha vó. Logo, outra criança disse: - Intão, chama a bruxa aqui professora! Outra criança falou: - O Saci tem cachimbo. O meu pai também fuma cachimbo, ele tá ficando velho. Isto significa dizer que quando nos propomos a ouvir o que as crianças têm a nos dizer, nem sempre vamos conseguir compreender, ou traduzir para a nossa lógica adulta, pois elas conseguem misturar assuntos como família, bruxas, Saci Pererê e velhice em segundos de conversas. Segundo Ostetto (2000, p. 61), “Ver e ouvir, antes de falar, é um exercício difícil, porém necessário, que auxilia o adulto/educador na compreensão de seu papel na relação com crianças pequenas que tem contextos sociais e culturais diferentes”. As crianças nos revelam muitas coisas quando se expressam. Ter um olhar mais profundo diante de seus comportamentos nos leva a perceber que gostariam de uma maior atenção por parte dos adultos. Ouvir as crianças é importante para que possamos compreender o porquê daqueles seus determinados comportamentos ou atitudes, em suas mais profundas manifestações. É tentar enxergá-las 37 profundamente, buscando compreendê-las na sua essência, nos seus desejos, sonhos e fantasias. E para isso, é necessário aprendermos a observar, escutar, olhar atentamente. Só assim, é possível respeitar as crianças, como sujeitos de direitos que são. Através da observação e da escuta atenta e cuidadosa às crianças, podemos encontrar uma forma de realmente enxergá-las e conhecê-las. Ao fazê-lo, tornamo-nos capazes de respeitá-las pelo que elas são e pelo que elas querem dizer. [...] para um observador atento, as crianças dizem muito. (GANDINI; GODHABER, 2002, p.152). Portanto, enxergar as crianças realmente não significa somente olhar para elas e para as suas brincadeiras, mas nos transportarmos para o mundo infantil, na tentativa de perceber e sentir a forma como as crianças vivenciam as coisas do mundo. 4.4.1 Momentos de Carinho e Afetos No caderno de “Critérios para um Atendimento em Creches que Respeite os Direitos Fundamentais das Crianças” estão definidos alguns dos direitos fundamentais que devem ser garantidos nas Instituições de Educação Infantil, entre eles: “Nossas crianças têm direito à proteção, ao afeto e à amizade; Nossas crianças têm direito a expressar seus sentimentos.” (CAMPOS, 2009, p. 24-25). Este material, do MEC, teve sua primeira edição em 1995 e foi novamente publicado em 2009, com o mesmo texto, no entanto, continua atual e um desafio a ser posto em prática na sua totalidade. É possível perceber alguns avanços, mas muito ainda temos que caminhar para garantirmos os direitos previstos neste caderno, dentro das instituições de Educação Infantil. Seria mais fácil se pudéssemos colocar em prática todos esses direitos, dando afeto, amizade, aconchego, possibilitando que elas expressem seus sentimentos, pois, algumas crianças, em muitos momentos se sentem carentes, precisando de um abraço, um colo, um carinho. Foi o que registrei neste episódio a seguir: Isac se aproxima da professora, vem chegando devagarzinho e deita a cabecinha sobre seu colo. Esse é um dos momentos 38 de troca de afeto entre o adulto e a criança, de transmitir segurança a ela. A professora, então, abraça a criança e faz carinho. Depois, a criança sai e vai brincar novamente e fica feliz. (DIÁRIO DE CAMPO, 19/08/2011). Foto 9- Aconchego da professora. Observação TCC 19/08/11 Fonte: Floripes Maria de Souza 4.4.2 Parque, Lugar de Troca entre os Pares A cumplicidade entre as crianças está expressa na troca dos calçados. Estão explícitas ali interações de afetos, amizades e também dos sapatos, onde o que é de um também pode ser partilhado com o outro. 39 Foto 10- Crianças trocaram só um pé de seus calçados no parque 8 Fonte: Floripes Maria de Souza Quando observei o momento no parque onde havia crianças de dois a seis anos de idade brincando juntas e dividindo o mesmo espaço, percebi muito afeto entre elas. Muitas ficavam bem perto, davam as mãos, abraçavam-se, beijavam e até seguravam outras no colo, demonstrando que parque também é lugar de trocas, de afetos, de aconchego e claro, de muitas brincadeiras divertidas. Conforme Agostinho (2003, p. 9-10): A alegria e a satisfação por ela manifestada nos fez entender o parque como espaço da creche de grande expressão e encontro de liberdade. Nele, as crianças encontram a chance instituída, permitida da brincadeira livre, oportunidades para movimentos amplos, convívio/confronto com as diferenças, lugar de exercitar o livre arbítrio, onde o adulto é fugazmente um olho vigilante. O parque é um lugar de aconchego junto às professoras, lugar de expressar carinho entre os pares, de dar beijinhos e abraços gostosos, de colinho, de falar tudo o que, muitas vezes, não pode ser manifestado em outros lugares. 8 Foto tirado durante o Estágio Educação Infantil, 2010, na mesma Instituição. 40 Foto 11 - aconchego professora Foto 12 - Em volta da professora. Fonte: Floripes Maria de Souza Fonte: Floripes Maria de Souza Foto 13 - Beijo carinhoso Foto 14 - abraço amigo Fonte: Floripes Maria de Souza Fonte: Floripes Maria de Souza Foto 15 - Um colinho Foto 16 - Amigas bem juntinhas Fonte: Floripes Maria de Souza Fonte: Floripes Maria de Souza 41 Foto 17- Dividindo o mesmo balanço Fonte: Floripes Maria de Souza Fotos 18 - Parque lugar de princesa Fonte: Floripes Maria de Souza Fotos 19 - Parque lugar de Super-herói Fonte: Floripes Maria de Souza 42 Foto 20 - Parque lugar de faz de conta Foto 21 - Parque lugar de compartilhar espaço Fonte: Floripes Maria de Souza Fonte: Floripes Maria de Souza Fotos 22 - Parque lugar de fazer comidinha Fonte: Floripes Maria de Souza Foto 23 - Parque lugar para ver meus e-mails Foto 24 - Parque lugar de ajuda mútua Fonte: Floripes Maria de Souza Fonte: Floripes Maria de Souza Pude perceber que o parque é um lugar encantado, onde as crianças interagem, compartilham, criam e ressignificam o que vivem no seu cotidiano. Elas podem se sentir livre para correr, brincar, experimentar, viver as mais variadas formas de expressar seus sentimentos, afetos, alegrias, saudades, disputas, carências, e felicidades, enquanto compartilham o mesmo espaço com crianças de diferentes idades. 43 5 ORGANIZAR E PLANEJAR ESPAÇOS PARA E COM AS CRIANÇAS As crianças, quando estão brincando, expressam o que pensam, gostam, percebem acerca da sua vida e do mundo. Quando elas brincam, estão produzindo culturas. De acordo com Rocha (2010, p.16) “[...] as crianças não só reproduzem, mas produzem significações acerca de sua própria vida e das possibilidades de construção de sua existência concreta”. Estão criando e recriando fatos, interpretando o mundo e interagindo com seus pares. Estão, assim exercendo um direito que é seu, na condição de cidadãs. Isso engloba uma concepção de criança “[...] como sujeito social de direitos, um ser completo em si mesmo, que pensa, se expressa por meio de múltiplas linguagens, que produz cultura e é produzido numa cultura”. (ROCHA; OSTETTO, 2008, p. 104). Na medida em que as crianças ampliam seu desenvolvimento e compreendem o mundo a sua volta, o interesse delas acerca dos objetos em si cresce. E é nas brincadeiras de faz de conta que as crianças ampliam seu conhecimento do mundo, enquanto imitam os adultos, experimentam novos desafios. Organizam e reorganizam seus pensamentos, têm uma compreensão do mundo e da sociedade em que se encontram, e fazem isso enquanto interpretam os mais diferentes papéis. “No brinquedo, no entanto, os objetos perdem sua força determinadora. A criança vê um objeto, mas age diferente em relação aquilo que vê”. (VIGOTSKI, 1994, p.127). Pensar as crianças enquanto sujeitos de direitos implica pensar as práticas, as rotinas, os espaços organizados para elas. Neste sentido, quando pensamos em organizar o espaço no cotidiano das crianças da Educação Infantil em uma Instituição de Educação e cuidados coletivos, não podemos considerar somente o espaço físico, devemos observar o grupo de crianças e suas necessidades. Observar as crianças brincando, do que gostam de brincar ou não, que tipo de brincadeiras organizam, os espaços que preferem para desenvolver a brincadeira, o que mais as atrai para dar início a uma brincadeira. E, além disso, é fundamental ouvir as crianças, dar voz a estes sujeitos de direitos, considerar importantes seus pontos de vista, sua lógica própria de compreender e organizar os cotidianos. É importante termos esse conhecimento para, então, a partir daí, garantir que 44 as rotinas possam ser estruturadas para possibilitar a participação das crianças, que possam contemplar a simultaneidade de ações deste grupo social, que sejam desafiadoras, superando e transformando a ideia de uma rotina sempre igual e repetitiva. A forma de organizar o trabalho nesse espaço deve possibilitar o envolvimento das crianças para que as mesmas tenham compreensão do modo como as situações sociais são organizadas e, também com isso permitir que as mesmas interajam entre si trocando conhecimentos, descobrindo juntas como se faz, e trocando experiências umas com as outras. Assim, nos falam as autoras Craidy e Kaercher (2001, p. 67): [...] a ideia central é que as atividades planejadas diariamente devem contar com a participação ativa das crianças garantindo as mesmas a construção das noções de tempo e de espaço, possibilitando-lhes a compreensão do modo como as situações sociais são organizadas e, sobretudo, permitindo ricas e variadas interações sociais. Planejar e organizar os espaços físicos para que as crianças possam manifestar suas vozes e organizar suas brincadeiras é um dos papéis das professoras de Educação Infantil, e para isso, é necessário conhecê-las melhor. Saber que esse espaço não pode ser igual para todas as crianças, pois elas são diferentes, têm saberes, desejos e culturas diferentes. É importante possibilitar às crianças movimentos livres, autonomia, aconchego, liberdade para que possam expressar seus medos, suas alegrias, seus sentimentos, enfim um ambiente onde elas possam sentir-se seguras e partícipes. Segundo Prado (1999, p.115): Dessa forma, como espaço de vida, a creche deve proporcionar espaços para brincar, em que adultos e crianças possam vivenciar, experimentar, sentir, conhecer, explorar toda a riqueza que esta atividade encerra, entre fantasias e histórias, danças, musicas, transgressões, imprevistos, sociabilidades, invenções, convites a brincadeiras e outras manifestações de expressão culturais de crianças pequeninas. Ao planejar as rotinas para crianças na Educação Infantil, deve-se levar em conta tudo o que a criança nos indica. Esses indícios são manifestados nas brincadeiras, nas falas, nas ações, quando elas interpretam, vivenciam, choram, sorriem, cantam, dançam, perguntam e também explicam as suas maneiras de 45 compreender as coisas que vivenciam. Com um olhar atento, observação, escuta, é possível oportunizar a elas brincadeiras onde possam aprender e ampliar seus repertórios de uma forma mais prazerosa, brincando. Para Ostetto (2000, p. 139): Planejar na educação infantil é planejar um contexto educativo, envolvendo atividades e situações desafiadoras e significativas que favoreçam a exploração, a descoberta e a apropriação de conhecimento sobre o mundo físico social. Para isso, é preciso que se pense em um planejamento do tempo e do espaço a partir da criança e não do adulto. A professora deverá estar muito atenta às brincadeiras das crianças, oferecendo recursos e novos elementos que possam ampliar as atividades infantis, buscando desafiar para novos conhecimentos, instigando a curiosidade, promovendo interações entre os pares, mediando conflitos que possam surgir, Intervindo somente quando necessário, não interferir quando a atividade estiver organizada e desenvolvida pelas próprias crianças. Assim observar o grupo brincando será importante para se construir um futuro planejamento a partir das crianças e para as crianças. Assim nos fala Machado (2005, p. 282): O educador deve usar todas as oportunidades para fazer avançar o raciocínio infantil para noções mais complexas, sendo sensível para reformular com as crianças as explicações simplistas e erradas sobre os fenômenos. Não se trata de “dar aulas” sobre temas, mas estar atento para não deixar que certos significados se estruturem incorretamente. O educador deve assumir a intencionalidade do ato educativo a cada situação de interação. Quando a professora propõe uma brincadeira intencional, como instrumento de ampliação dos conhecimentos, deve primeiramente sentir como as crianças agem e se envolvem, ver o modo como elas enxergam o mundo, imaginam, reproduzem, recriam. Entrar nesse mundo de faz de conta e mergulhar com elas nessa aventura de aprender e ensinar brincando. Neste sentido, Kishimoto (2005, p. 122) nos diz que: A concepção e capacidade lúdica do professor. Um professor que não sabe e/ou não gosta de brincar dificilmente desenvolverá a capacidade lúdica dos seus alunos. Ele parte do princípio de que o brincar é bobagem, perda de tempo. Assim, antes de lidar com a ludicidade do aluno, é preciso que o professor desenvolva a sua própria. Planejar na educação Infantil para que se torne um espaço de emancipação, liberdade e aconchego, que seja um lugar de múltiplas vivências, é preciso que as 46 crianças sejam respeitadas nas suas variadas formas de cultura, desejos, saberes vontades, fantasias e autonomia. É preciso, acima de tudo, que as crianças sejam ouvidas. É importante aprender a observar e se utilizar dessa linguagem, que é o faz de conta infantil. Assim, é possível ampliar os conhecimentos acerca das crianças, compreender como elas interpretam o mundo a sua volta, como se desenvolvem, suas necessidades afetivas, corporais, físicas, seu intelectual e forma como interagem e se relacionam com as outras crianças e com o mundo que as cerca. De acordo com Ostetto (2004, p. 90): Assim, mais do que dar a voz e a vez às crianças, de forma que possam participar e falar realmente de suas coisas, cabe ao professor investir nesse processo, via linguagem, via diálogo, estabelecendo a polifonia, deixando emergir a polissemia, rompendo com a interpretação única tradicionalmente instalada nos espaços educativos. Também, é preciso rever práticas pedagógicas que na maioria das vezes se repetem como “reguladoras e homogêneas”, que não permitem as crianças vivenciarem um direito seu, dentro desse espaço, que é brincar, inibindo sua imaginação, regulando suas mais diversas manifestações de crianças, de criar, recriar, interagir, de dar prioridade ao brincar. Essas práticas não são emancipadoras e negam às crianças o direito de explorarem sua imaginação e viver o faz de conta como crianças, nos seus mais variados papéis, em tempos e momentos em que a professora planejou e, muitas vezes o brincar não conta, nesse planejamento pedagógico. Preocupadas com essa questão, as autoras Batista et al (2002, p. 55) nos alertam: [...] Considero que a relevância desta reflexão consiste em “introduzir uma atitude crítica aquelas práticas que são dadas à nossa experiência presente como se fossem naturais, inquestionáveis e eternas.” É preciso que nos incomodemos com as experiências vividas no cotidiano das instituições de educação infantil, principalmente aquelas cuja tendência é a de uniformizar, controlar, vigiar, conformar, ordenar, engessar o pensamento, a criatividade, a ousadia, a espontaneidade, a ludicidade que constituem as dimensões humanas. Devemos pensar o planejamento a partir do que as crianças nos indicam. Elas fazem isso em suas brincadeiras, utilizando suas vozes e as mais diferentes linguagens. As crianças sempre nos dão dicas, nos falam o que querem e o que não querem também. Termos que ter um olhar mais atento ao que as crianças nos indicam e a partir daí, então, planejar as práticas cotidianas. 47 6 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES AINDA PROVISÓRIAS Quando decidi pelo tema da pesquisa já tinha certeza do que queria buscar, pois, desde a 6ª fase do curso de Pedagogia, quando iniciei meu estágio em Educação Infantil e passei a observar as crianças em suas brincadeiras, já fui me encantando com a riqueza das vozes que as crianças expressam durante as brincadeiras. Buscando sempre um olhar mais profundo e atento aos comportamentos infantis dentro da instituição, procurei ouvir as crianças, o que elas nos dizem em suas mais variadas formas de linguagens. Essa pesquisa revelou que as crianças nos dizem muitas coisas quando estão brincando. Dizem quando estão felizes, tristes, carentes, que precisam ser ouvidas, que precisam que se dê valor e atenção as suas falas. A pesquisa mostrou também que quando brincam, as crianças ampliam seus repertórios de brincadeiras e conhecimentos. Desenvolvem o campo intelectual, físico, afetivo, emocional. Quando brincam, as crianças dão um significado todo próprio, recriam, imitam, fazem de conta, vivem diferentes papéis que só poderiam experimentar nas brincadeiras e no faz de conta. Percebi que nas brincadeiras, diversos fatores vêm a contribuir para o seu desenvolvimento, como o fator social, onde as crianças se relacionam com os pares, trazendo para as brincadeiras coisas dos seus cotidianos, do meio social ao qual estão inseridas, mostrando diferentes culturas e assim ampliando seus conhecimentos para um desenvolvimento que será de extrema importância na constituição do sujeito. A pesquisa também trouxe à tona a importância de se ouvir as crianças, de ter uma sensibilidade maior diante de suas expressões. Onde muitas vezes, tive que observar as crianças e me transpor para seus mundos infantis, para poder sentir como elas sentem, vivem o faz de conta, falam nas suas mais variadas linguagens e, para enxergar isso, tudo olhei muitas vezes suas manifestações “Com olhos de criança.” (TONUCCI, 1997). A pesquisa reflete também sobre a importância de garantirmos os direitos das crianças, expressos nos documentos legais e aponta também a necessidade de se planejar, com intencionalidade, os espaços para as brincadeiras infantis dentro das instituições. Sendo que as crianças criam seus próprios espaços para brincadeiras, 48 basta que lhe possibilitemos, dentro das rotinas, tempos e espaços para que elas se organizem. Na sala, estavam sempre inventando um canto todo especial, com cadeiras enfileiradas, ou almofadas amontoadas para fazer de conta que era uma casinha. Mas, com certeza, o local preferido da maioria delas, era o parque da instituição. Lá observei todos os tipos de brincadeiras possíveis, sendo um lugar onde as crianças corriam livremente, brincavam explorando o potencial físico, experimentando e desafiando os brinquedos mais altos, por exemplo. E até subiam, balançavam-se em uma pequena árvore que teimou e vingou no meio do parque. As crianças brincavam de faz de conta, onde vi muitos super heróis, princesas, mamães, que brincavam de casinhas e faziam comida „de mentira‟; Presenciei muitas trocas entre os pares, conflitos onde elas próprias resolviam e outros em que as professoras mediavam. Observei muitos momentos de afeto entre as crianças e também com as professoras; observei, na maioria das vezes, crianças felizes, mas também observei crianças tristes, nesse lugar que nós adultas, às vezes, pensamos ser só alegria, mas isso é um pensamento que procura homogeneizar os sentimentos infantis, e não corresponde a realidade. No parque, pude perceber que esse é um lugar onde as crianças podem criar, recriar e vivenciar diferentes papéis, enquanto ampliam e desenvolvem todos os seus potenciais que são necessários para a formação do sujeito. Observei que no parque as crianças expressavam diversos sentimentos, como de alegria, felicidade, e até momentos de tristeza, ou carência, saudades, resignificavam experiências vividas nos seus cotidianos, imaginavam, exploravam os espaços. Havia muita troca entre os pares, sentimentos de afeto, e liberdade de correr livremente subindo nos brinquedos mais altos com capa de super herói, sentindo-se com muito poder. É no parque que elas percebem esse poder de ser muito grande e realizar o que desejam. Na Educação Infantil, é fundamental que se ouça a voz das crianças, o que elas estão querendo comunicar quando estão brincando, para que compreendendo a lógica infantil, seja possível pensar proposições em que o ato de ensinar e aprender se torne menos difícil e doloroso para as crianças, facilitando também a ação e os planejamentos daqueles que estão assumindo a função de professoras e professores nestes espaços, tornando as rotinas mais significativas e lúdicas. 49 Foto 25 - Despedida estágio Educação Infantil 2010 Fonte: Floripes Maria de Souza 50 REFERÊNCIAS AGOSTINHO, Kátia Adair. O Espaço da Creche: que lugar é este? Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003. BATISTA, Rosa et al. Partilhando Olhares Sobre as Crianças Pequenas: reflexões sobre o estágio na Educação Infantil. In: 12o Encontro Nacional de Prática de Ensino (ENDIPE), Curitiba. Conhecimento Local e Conhecimento Universal. CDRom. 2004. BRASIL. 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