AULA 2.1 - AS POSSIBILIDADES DO CONHECIMENTO: O QUE PODEMOS CONHECER? TEXTO DE APOIO 1. O Dogmatismo Há vários significados para o conceito de dogmatismo. Vejamos o sentido do senso comum e o sentido filosófico do termo. a) O dogmatismo do senso comum No senso comum, o dogmatismo designa as certezas não questionadas do nosso cotidiano: de posse do que supõe verdadeiro, a pessoa fixa-se na certeza e abdica da dúvida. O mundo muda, os acontecimentos se sucedem e o dogmático permanece petrificado nos conhecimentos dados de uma vez por todas. Resistindo ao diálogo, teme o novo e não raro tenta impor aos outros seu ponto de vista, sucumbindo à intransigência e à prepotência. b) O dogmatismo filosófico Se desde sempre a filosofia exerceu uma função crítica das opiniões não refletidas que dão suporte aos preconceitos de toda ordem, como então falar de filosofias dogmáticas? O dogmatismo filosófico, porém, não tem o sentido pejorativo atribuído ao dogmatismo sem crítica do senso comum. A filosofia dogmática serve para identificar os filósofos que estão convencidos de que a razão pode alcançar a certeza absoluta. 2. O Ceticismo O cético tanto observa e pondera que conclui, nos casos mais radicais de ceticismo, que o conhecimento é impossível. Nas tendências moderadas, o cético suspende provisoriamente qualquer juízo ou admite apenas uma forma restrita de conhecimento, reconhecendo os limites para a apreensão da verdade. Para alguns, mesmo que seja impossível encontrar a certeza, não se deve abandonar a busca da verdade. 3. O Criticismo Teoria filosófica desenvolvida por Kant – representa uma tentativa de superação do impasse criado entre o ceticismo e o dogmatismo, assim como o foi entre o racionalismo e o empirismo. Tal como o dogmatismo, acredita na possibilidade do conhecimento, mas se indaga sobre as reais condições nas quais esse conhecimento seria possível. Trata-se de uma posição crítica diante da possibilidade de conhecer. O resultado dessa postura leva a uma distinção entre o que o nosso entendimento pode conhecer e o que não pode. Ou seja, o criticismo admite a possibilidade de conhecer, mas esse conhecimento é limitado e ocorre sob condições específicas apresentadas por Kant na obra Crítica da Razão pura. 4. INVESTIGAÇÃO FILOSÓFICA DAVID HUME (1711-1776) Hume realizou uma investigação sobre a origem, possibilidade e limites do conhecimento. Este autor pensa que a capacidade cognitiva da razão humana é limitada e que não existe nenhum fundamento objetivo para o conhecimento. O empirismo de David Hume opõe-se, portanto, ao racionalismo de Descartes. Segundo Hume, todo o conhecimento deriva da experiência; todas as nossas ideias têm origem nas impressões dos sentidos. Ele abandona todos os conceitos de ideias, qualidade e substância para afirmar que a alma não pode ser percebida pelo conhecimento ou pela sensação, mas é algo ininteligível ao homem, pois este só pode conhecer estados de consciência que dizem respeito à sua existência e necessidades individuais. Nega também a existência de uma causa para todos os eventos, negando a existência de Deus, desta forma, todo o conhecimento humano é formado pelas sensações e experiências, nada é possível de se conhecer a respeito de Deus, da alma e das coisas reais. Desta forma, ele nega o conhecimento científico com base nas causas e efeitos, pois estas causas e efeitos primários não são passíveis de conhecimento real. Para Hume, todo o conhecimento da realidade resume-se, coerentemente com sua filosofia, em impressões derivadas de sensações e experiências, e, desta forma, todo o conceito de substância não é real, mas constituído apenas de aparência ou fenômenos naturais passíveis de novas percepções ao longo do tempo. Assim, todo o conhecimento dos objetos e coisas são um contínuo vir a ser, onde a ideia formada pela percepção destas coisas varia ao longo do tempo conforme as circunstâncias, conhecimento e emoções da pessoa. Introduziu a possibilidade da análise dos fenômenos psíquicos e mentais através da experiência (Sigmund Freud). Tentou, também, explicar a causalidade entre eventos e a indução das causas e efeitos ao longo do tempo, conforme o conceito da “tabula rasa” de Tomás de Aquino, pela qual a identidade pessoal seria somente a soma das experiências vividas (feixe de experiências). A FILOSOFIA KANTIANA O Criticismo Kantiano - As possibilidades e os limites da razão Maria da Glória Sá Lima Criticismo – proposta de realizar uma “crítica da razão”, derivou o idealismo moderno e, em geral, o pensamento contemporâneo. Este criticismo desenvolvido por Kant tinha como intenção resolver os antagonismos que surgiu de dois pensadores anteriores, Descarte e Hume. Descarte por um lado defendia o Dogmatismo racionalista (dogmatismo aqui é uma espécie de fundamentalismo intelectual, diferente do usado na religião) que procurava obter resultados, verdades certas, indubitáveis em uma experimentação apoiando-se unicamente nos princípios inatos da razão e sobretudo das idéias, sem ser sujeitas a qualquer tipo de revisão crítica. Mas por outro lado, o ceticismo ou empirismo radical do Hume procurava apoiar-se unicamente nas experiências mas este dogma tinha impossibilitado de se chegar a resultados universais e verídicos passando a ser meras hipóteses e probabilidades. Kant estudaria estas duas escolas filosóficas e tentaria chegar a uma forma que as conjugassem em uma só teoria, limando as asperezas entre ambas. Dessa forma nasce o criticismo kantiano que quer limitar a capacidade do conhecimento, não quanto à sua extensão, mas quanto à sua justificação em si, levando o exame da razão por ela mesma confrontando o pensamento e às práticas. Kant reconheceu as contribuições e criticou as posições tanto de Descartes como de Hume. Estava de acordo com Hume de que não existem idéias inatas e de que não existe na nossa razão conteúdos que sejam "a priori". Mas discorda da afirmação dos empiristas de que a mente seria, originalmente, um "quadro em branco", sobre o qual é gravado o conhecimento, cuja base é a sensação. Até então, havia-se tentado explicar o conhecimento supondo que o sujeito deveria girar em torno do objeto. Kant, então, inverteu os papéis, supondo que o objeto é que deveria girar em torno do sujeito. Kant considera que não é o sujeito que, conhecendo, descobre as leis do objeto, mas sim, ao contrário, que é o objeto, que é conhecido, que se adapta às leis do sujeito que tem a faculdade de conhecer. "Até agora, admitia-se que todo nosso conhecimento se devia regular pelos objetos, mas todas as tentativas de estabelecer em torno deles alguma coisa a priori, por meio de conceitos, com os quais se teria podido ampliar o nosso conhecimento, assumindo tal pressuposto, não conseguiram nada. Com a sua "revolução", portanto, Kant supôs que não é a nossa intuição sensível que se regula pela natureza dos objetos, mas que são os objetos que se regulam pela natureza de nossa faculdade intuitiva. Comparativamente, Kant supõe que não é o intelecto que deve se regular pelos objetos para extrair os conceitos, mas, ao contrário, que são os objetos, enquanto são pensados, que se regulam pelos conceitos do intelecto e se coadunam com eles. Para Kant, "O conhecimento começa com a experiência mas não se origina nela”. Distinção esta, entre o “começo” e a “origem”, importante para compreender sua crítica, sua filosofia, a qual não consiste em desprezar a razão com faculdade do conhecimento, mas avaliar pormenorizadamente suas possibilidades e limites, visto que a razão não possue idéias inatas, mas possui estruturas a priori nas quais as impressões se organizam. E necessário perguntar, portanto, como a experiência é possível, isto é, encontrar o fundamento da possibilidade de toda experiência. Na verdade o pensamento de Kant tentou ir além e resumir o racionalismo e o empirismo. Na sua crítica, ele quis libertar a alma do determinismo, dotando-a de vontade própria, propondo a virtude como ação universal, para o desenvolvimento do homem, através da arte e seu conhecimento.