por
Luís Aguilar
Professor Convidado de Estudos Portugueses e Lusófonos da Universidade de Montreal
Docente do Instituto Camões
Sumário
Introdução
1. Breve Panorâmica Histórica da Ortografia Portuguesa
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Primeira Etapa: a Revolução Ortográfica Republicana de 1911
Segunda Etapa: Primeiro Acordo Ortográfico de 1931, entre o Brasil e Portugal
Terceira Etapa: A Revisão Ortográfica de 1943-1945
Quarta Etapa: Modificações de 1971, 1973 e 1975
Quinta Etapa: da Tentativa de Acordo de 1986 ao Novo Acordo Ortográfico de
1990
Sexta Etapa: O Novo Acordo Ortográfico
2. A Nova Ortografia
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•
1. Alfabeto
2. Emprego de minúsculas e maiúsculas
3. Acentuação gráfica
4. As grafias duplas
5. Supressão de consoantes mudas ou não articuladas
6. a Extinção do Trema
7. Hifenação
3. Críticas à Nova Ortografia
Conclusões
Referências Bibliográficas
2
Introdução
Neste diaporama abordaremos a problemática do Novo Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa, na perspetiva da evolução
ortográfica do Português, passando brevemente em revista as
revisões ortográficas, as tentativas de unificação e de
simplificação ortográficas, os acordos e desacordos que, desde a
instauração da República até aos nossos dias, se têm produzido.
Enfim, enunciaremos as principais mudanças ocorridas na nova
ortografia e as críticas que as mesmas têm suscitado.
3
A língua de Camões, a última flor de Lácio,
a
doce
língua
Portuguesa,
foi-se
espalhando pelo mundo desde os séculos
XV e XVI, acompanhando o passo da
construção do Império Português, que se
foi
progressiva
e
metodicamente
construindo, dos Açores ao Japão e à
China, pelo meio ficando percorrida toda a
costa africana e achado o Brasil.
4
Podemos definir o século XVI, como o Século de Ouro
Português e, consequentemente, o Século de Ouro da Língua
Portuguesa que, então, com cerca de um milhão de falantes,
foi levada para todos os cantos do mundo pelos navegadores,
guerreiros, mercadores, marinheiros, missionários, etc.,
tornando-se língua franca, ocupando, nessa altura, o lugar que
hoje tem o inglês, o de língua hiper-central, na galáxia das
línguas do mundo. Impunha-se, então, a presença a bordo de
um intérprete de português
nos navios espanhóis,
holandeses, franceses, ingleses, italianos, etc.
5
De há cem anos para cá a língua portuguesa passa do oitavo
para o quinto lugar da lista das línguas maternas
mais faladas do mundo, tendo ultrapassado o polaco e
o italiano apenas em 1935.
6
Há hoje cerca de 240 milhões de falantes de português no mundo:
Brasil (190 milhões), Moçambique (20 milhões), Angola (17 milhões),
Portugal (11 milhões), Guiné-Bissau (1,5 milhões), Timor (1 milhão),
Cabo Verde (0,5 milhões), S. Tomé e Príncipe (152 mil).
7
Segundo projeções baseadas na evolução demográfica dos oito
países de língua oficial portuguesa, o número de falantes pode
totalizar 335 milhões em 2050.
Acima do Português, no ranquingue das línguas maternas mais
faladas do mundo encontra-se o mandarim (874 milhões de
falantes), o hindi (366), o espanhol (358) e o inglês (341
milhões).
8
Mas, apesar dos seus cerca de 240 milhões de falantes, o
Português, a terceira língua ocidental com maior número de
locutores, apenas atrás do inglês e do espanhol, é uma língua
quase desconhecida internacionalmente e sem a importância
que devia ter no ensino, nas organizações internacionais, na
cultura, na literatura, no comércio, etc. Deve-se tal situação à
péssima política e prática das gentes que a falam e, como já o
dizia António Ferreira no século XVI:
Floreça, fale, cante, ouça-se e viva
A portuguesa língua, e já, onde for,
Senhora vá de si, soberba e altiva.
Se tèqui esteve baixa e sem louvor,
Culpa é dos que a mal exercitaram,
Esquecimento nosso e desamor. (...)
António Ferreira
1528-1569
Carta a Pêro Andrade Caminha
9
Todos estos exemplos trouxemos,
pera mostrar claramente que não ha lingoa algua pura,
nem a houve sem ter mistura de outras lingoas.
Duarte Nunes de Leão
(1530?-1608), historiador português, em Origem da Lingoa Portuguesa
Com efeito, a questão ortográfica é um dos capítulos mais
atormentados da história linguística portuguesa. Ao contrário
do espanhol, que nos fins do século XV encontrou em Nebrija o
seu codificador tanto da grafia como da gramática (...),
o português manteve até ao princípio do século
em que estamos uma grafia tradicional inspirada
em etimologias um tanto arbitrárias.
Giuseppe Tavani (1987),
citando Edwin B. Williams (1938), From Latin do Portuguese
11
Ortografia
Palavra de origem grega orto(reto, direito, correto, normal)
e -grafia (representação escrita
de uma palavra), é:
o
conjunto
de
regras
estabelecidas pela gramática
normativa que ensina a grafia
correta das palavras.
In Dicionário
Houaiss (2003). Lisboa: Círculo de Leitores
12
Até ao século XVI, vigorava uma grafia fonética: a representação
escrita dos sons da fala, não existindo nem norma, nem padrão.
Disso é testemunho, a célebre carta de Pero Vaz de Caminha sobre a
descoberta, achamento ou invenção do Brasil, dirigida ao rei venturoso,
D. Manuel I.
Datada deste porto seguro
davosa jlha da vera cruz
oje sesta feira primeiro de
mayo de 1500…
13
Mas, com o advento do Renascimento, relega-se, apesar de mais
simples, a ortografia fonética para segundo plano e recua-se no
tempo, retornando-se ao latim que adquirira, então, prestígio.
Queria-se fazer com que a língua portuguesa ganhasse status de
língua de cultura e, assim, se aproximasse do dito padrão clássico,
valorizando-se os grupos ch (com som de k), ph, rh, th.
Por exemplo, a palavra tipografia era grafada typographia e a
ortografia de hoje era então orthographia.
Em 1576, Duarte Nunes
de Leão publicou a sua
Orthographia da
Lingoa Portuguesa ,
onde a própria palavra
ortografia aparece
grafada com th e ph)
14
Pseudo-etimológico é o
nome que se dá ao período
entre os séculos XVI e XX,
quando se passa a grafar
algumas palavras com ph, rh, th
e a colocar o elegante y até em
palavras que na sua origem não
o tinham: lírio
-em grego leírion
-em latim lilìum
Passa-se a grafar lyrio, com y,
sem razão plausível. Passam
também a ser valorizadas
formas gráficas restauradas,
com base no latim:
- regno por reino;
- fructo por fruto.
Orthographia ou Arte para Escrever Certo na Língua Portuguesa (1633) de Álvaro Ferreira de Vera.
15
Luís António Verney (1713-1792) advogava já
na sua obra de 1746, Verdadeiro Método
de Estudar, a simplificação da nossa língua
e propunha a supressão das letras
dobradas quando não pronunciadas, do
uso do c antes do t, do ch por /k/ e,
sobretudo, a supressão das consoantes
não pronunciadas como o g e o h.
Propostas que só muito depois foram
levadas à prática, com muitas polémicas,
avanços e retrocessos que duram até
hoje.
16
Gonçalves Viana, na mesma linha, considerava que
o domínio da escrita não deveria ser privilégio de
poucos, mas sim, abranger o maior número possível
de pessoas:
a ortografia etimológica é : uma superstição
herdada, um erro científico, filho de um
pedantismo que (...) assoberbou os deslumbrados adoradores da antiguidade clássica.
A ortografia, no início do século XX, encontrava-se
mergulhada num grande caos, em que cada indivíduo
escrevia do modo que mais lhe agradava, ou seja, cada
um utilizava a sua própria ortografia, como muitos o
querem fazer, de resto, ainda hoje.
18
Em vez de uma reforma radical e definitiva, como fizeram
outras línguas, as doses homeopáticas no português
obrigaram a que de 50 em 50 anos seja feita nova reforma.
Alguns avanços já previstos na proposta de 1907 ainda não
foram postos em prática, como a solução das grafias duplas
x/ch, g/j, etc. Ao contrário do português, línguas como o
italiano, o galego e o catalão já tinham encontrado soluções
para tais casos, que deveriam inspirar as mudanças
necessárias no português. O italiano e o romeno são as
línguas românicas com sistemas ortográficos mais simples e
coerentes. E a grafia do italiano não sofre alterações
significativas desde o século XVI.
Aldo Bizzocchi
19
A ortografia francesa é incomparavelmente mais complicada e
mais defeituosa do que a portuguesa; mas pelo menos está (como
a inglesa e a alemã) frisada com rigor; tem sistema pelo qual
todos se regulam.
A castelhana e a italiana, pelo contrário. - Os idiomas, portanto,
que são mais intimamente aparentados com o português possuem há mais de um século ortografias excelentes,
simplificadas racionalmente pelas respetivas Academias.
Carolina Michaëlis
1851- 1925
20
Equiparar a nossa a essas duas, seguindo mutatis
mutandis os mesmos princípios que nelas deram
ótimo resultado, regularizar e simplificar,
baseando-nos na história cientificamente estudada
do vocabulário nacional - eis o que convém fazer.
Carolina Michaëlis
1851- 1925
21
Neste
documento
brasileiro de 1854
pode-se constatar,
entre outras coisas,
o uso das consoantes
duplas .
.
22
.
23
1. Breve Panorâmica Histórica da
Ortografia da Língua Portuguesa
•Primeira Etapa - A Revolução Ortográfica Republicana de 1911
•Segunda Etapa - Primeiro Acordo Ortográfico de 1931, entre o
Brasil e Portugal
•Terceira Etapa - A Revisão Ortográfica de 1943-1945
Tentativa de retorno à etimologia por parte de Portugal e a
recusa do Brasil
•Quarta Etapa - Modificações de 1971, 1973, 1975
•Quinta Etapa – Tentativa de O Acordo de 1986 ao Novo Acordo
Ortográfico de 1990
•Sexta Etapa – O Novo Acordo Ortográfico de 1990
24
Primeira Etapa
A Revolução Ortográfica Republicana de 1911:
da Orthographia à Ortografia
Como vimos, até ao século XX a escrita da língua portuguesa era de
cariz etimológico ou pseudo-etimológico e a ortografia reinava sem
rei nem roque, em que cada um escrevia como queria.
É a partir de 1885 que a grafia da língua portuguesa começa a
deslocar o eixo da etimologia e, sobretudo, da pseudo-etimologia
para a fonetização, com a publicação de As Bases da Ortografia
Portuguesa e da publicação, em 1904, de Ortografia Nacional.
Simplificação e Uniformização Sistemática das Ortografias
Portuguesas de Gonçalves Viana, filólogo, linguista, foneticista e
lexicógrafo português. Estas duas publicações de Gonçalves Viana
vão, num primeiro momento, motivar, em 1907, a
Academia
Brasileira de Letras a simplificar a escrita e, num segundo momento,
servir de base ao trabalho da comissão nomeada pelo governo
republicano para estabelecer uma ortografia simplificada e uniforme .
25
Em 1911 uma comissão de filólogos reuniu-se em Portugal
para oficializar a nova ortografia.
À Comissão de Reforma Ortográfica, para além do seu mentor
Gonçalves Viana fizeram parte Carolina Michaëlis, Cândido de
Figueiredo, Adolfo Coelho, Leite de Vasconcelos, Gonçalves
Guimarães, Ribeiro de Vasconcelos, Júlio Moreira, José
Joaquim Nunes e Borges Grainha.
Em 1915, a Academia Brasileira de Letras resolve harmonizar a
sua ortografia com a portuguesa, seguindo os padrões da
reforma lusitana de 1911.
Em 1919, o Brasil revoga a resolução de 1915, acabando com a
ideia de simplificação, iniciada no projeto de 1907, acabando
com a reforma e regredindo para a etimologia que tanto
combateu antes.
Portugal aplicava a nova ortografia, marcada pela simplificação.
26
Carolina Michaëlis
1851- 1925
Primeira mulher, em 1911,
convidada para professora da
Faculdade de Letras de Lisboa,
transfere-se para a
Universidade de Coimbra.
Num país atrasadíssimo quanto à instrução e
educação, o que importa é facilitar o ensino da
leitura e escrita; acabar com todas as
complicações desnecessárias; eliminar todos os
artifícios eruditos; abreviar a aprendizagem de
sorte que os professores ganhem tempo para
realmente fertilizarem as almas com noções
sólidas de saber e as boas doutrinas cívicas da
solidariedade social, do pacifismo e do
altruísmo. Por que (será preciso lembrá-lo?) o
ensino elementar da leitura escrita não é fim,
mas apenas meio, indispensável para o
desenvolvimento da faculdade de pensar,
raciocinar, julgar, protestar e emendar o que
encontramos de imperfeito e obnóxio no
nosso caminho: faculdades, sem as quais não
pode haver verdadeira liberdade…
27
Com relação à estética e à ética, bastará perguntar, se a
ordem, a disciplina é, ou não, mais bela do que a desordem e
a anarquia?
A coerência preferível à incoerência?
A simplicidade superior a enfeites e arrebiques supérfluos?
É verdade, ou não, que as deficiências gráficas do português
lhe darão ares de inculto; em especial, se o compararmos com
outras línguas?
Carolina Michaëlis
1851- 1925
28
Da Orthographia à Ortografia
•
Supressão de todos os símbolos da etimologia grega: th, ph, ch (= k), rh e y
diphthongo (ditongo)
phosphoro (fósforo)
lyrio (lírio)
orthographia (ortografia)
phleugma (fleuma)
exhausto (exausto)
estylo (estilo)
•
Redução das consoantes dobradas, com exceção de rr e ss;
•
Eliminação das consoantes nulas, quando não influíssem na pronúncia da
vogal anterior (psalmo – salmo; prompto - pronto);
•
Regularização da acentuação gráfica.
29
Placas como estas ficaram para trás, depois da revolução
ortográfica republicana de Gonçalves Viana, de 1911:
A CIDADE E AS SERRAS (ed.1901)
Eça Queiroz
O meu amigo Jacintho nasceu n'um palacio,
com cento e nove contos de renda em terras de
semeadura, de vinhedo, de cortiça e d’olival. No
Alemtejo, pela Extremadura, atravez das duas
Beiras, densas sebes ondulando por collina e
valle, muros altos de boa pedra, ribeiras,
estradas, delimitavam os campos d’esta velha
familia agricola que já entulhava grão e
plantava cepa em tempos d'el-rei D. Diniz. A sua
quinta e casa senhorial de Tormes, no Baixo
Douro, cobriam uma serra. Entre o Tua e o
Tinhela, por cinco fartas legoas, todo o torrão
lhe pagava fôro. E cerrados pinheiraes seus
negrejavam desde Arga até ao mar d'Ancora.
Mas palacio onde Jacintho nascêra, e onde
sempre habitára, era em Paris, nos Campos
Elyseos, n.º 202.
32
Esta ortografia utilizada por Eça de Queirós (Queiroz, escrita da
época) em A Cidade e as Serras foi modificada uma década
depois, pela Reforma Ortográfica de 1911, nomeadamente:
•
•
•
•
a supressão de todos os símbolos da etimologia grega: th, ph,
ch (= k), rh e y. Jacintho (Jacinto, depois de 1911), e Elyseos
(hoje Elíseos).
Foram introduzidas inúmeras regras de acentuação gráfica,
nomeadamente nas palavras esdrúxulas: palácio (antes
palacio), família (antes familia), agrícola (antes agricola) e
léguas (antes legoas).
Foram eliminadas as consoantes dobradas, com exceção de rr
e ss : colina (antes collina), vale (antes valle).
A regra estabelecida no interior dos vocábulos é a nasalidade
da vogal expressa por m antes de b, p e por n em qualquer
outra situação. Alentejo , hoje e antes de 1911, Alemtejo.
33
Esta ortografia utilizada por Eça de Queirós (Queiroz, escrita da
época) em A Cidade e as Serras foi, igualmente, modificada em
1943, nomeadamente:
•
•
•
•
Distinção gráfica entre s de fim de sílaba (inicial ou interior) e
x e z com idêntico valor fónico (Extremadura passa nessa
altura a Estremadura) e também a distinção gráfica entre s
final de palavra e x e z com idêntico valor fónico (Diniz passa
então a Dinis).
Foi substituído o EZ final pelo ÉS ou ÊS: através (antes
atravez).
Suprime-se o acento circunflexo diferencial nas letras e e o
da sílaba tónica, com exceção de pôde. Assim fôro passou a
grafar-se foro e nascêra passou a nascera.
Foram substituídos nos plurais os ES por IS: pinheirais (antes
pinheraes).
34
Esta ortografia utilizada por Eça de Queirós (Queiroz, escrita da
época) em A Cidade e as Serras foi modificada em 1945,
nomeadamente:
•
A Base XXXIII do Acordo de 1945 consagra a
inadmissibilidade do uso do apóstrofo em uniões vocabulares
perfeitas ou de uso corrente. Portanto as expressões num
(antes n’um); de Olival (antes d’Olival) deixaram de ser
usadas mais de cinquenta anos depois de Eça as ter escrito.
35
Reações à ortografia de 1911
1
Imaginem esta palavra phase, escripta assim: fase.
Não nos parece uma palavra, parece-nos um esqueleto (...)
Affligimo-nos extraordinariamente, quando pensamos que
haveriamos de ser obrigados a escrever assim!
Alexandre Fontes
In A Questão Orthographica, Lisboa, 1910, p. 9
36
Reações à ortografia de 1911
2
Na palavra lagryma, (...) a forma da y é lacrymal; estabelece
(...) a harmonia entre a sua expressão gráfica ou plástica e a
sua expressão psicológica; substituindo-lhe o y pelo i é
ofender as regras da Estética. Na palavra abysmo, é a forma
do y que lhe dá profundidade, escuridão, mistério...
Escrevê-la com i latino é fechar a boca do abismo, é
transformá-lo numa superfície banal.
Teixeira de Pascoaes
1877-1952
37
Reações à ortografia de 1911
3
Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou
tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente,
Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem
escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve
em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa
própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia
sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de
quem o cuspisse.
Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e
ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m'a do seu vero
manto régio, pelo qual é senhora e rainha.
Fernando Pessoa
(Bernardo Soares)
Texto publicado originariamente em "Descobrimento", revista de Cultura n.º 3, 1931, pp. 409-410,
transcrito do "Livro do Desassossego", por Bernardo Soares (heterónimo de Fernando Pessoa), numa
recolha de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha; ed. de Jacinto do Prado Coelho, Lisboa, Ática,
1982 vol. I, p. 16-17. Respeitou-se a ortografia da época de Fernando Pessoa.
38
Segunda Etapa:
Primeiro Acordo Ortográfico de 1931 entre o
Brasil e Portugal
1924 – A Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira
de Letras começam a procurar uma grafia comum.
1929 – A Academia Brasileira de Letras altera as regras de escrita
baseada na etimologia e retoma o caminho da simplificação.
1931 – Por iniciativa da Academia Brasileira de Letras e da
Academia das Ciências de Lisboa, foi aprovado o primeiro Acordo
Ortográfico entre Brasil e Portugal, cujo objetivo consistia em
suprimir as diferenças, unificar e simplificar a língua portuguesa,
objetivos de 1911. Tratou-se pois de aplicar nos dois países de
língua portuguesa a ortografia portuguesa de 1911.
39
Ironicamente, acabariam os brasileiros com todas as
oscilações entretanto verificadas, a escrever segundo
orientações etimológicas ou pseudo-etimológicas, até 1930.
40
1934 – A Constituição Brasileira revoga o acordo de 1931 e
retorna ao passado, mais precisamente a 1891: a ortografia
voltará então a ser orthographia.
No Brasil a ortografia retorna ao Hontem recuando meio século, como
se vê nesta reunião de escritores célebres em 1936.
41
Pode, igualmente, constatar-se neste documento o retorno às
consoantes duplas e mudas.
42
E se o Brasil regrediu meio século na sua ortografia não foi tanto
por amor à etimologia da qual, ao fim e ao cabo, nunca foi
adepto, mas pelo surto de nacionalismo ou patriotismo que se
caracterizava, sobretudo, por renegar o país ex-colonizador e,
consequentemente, afirmar a sua língua como independente da
língua portuguesa como o prova o espírito e a letra do decreto
25 de 16 de setembro de 1935, lavrado pela então Prefeitura do
antigo Distrito Federal: os livros didáticos só sejam
adotados no ensino municipal quando
denominarem de Brasileira a língua falada no
Brasil. (In Diário Oficial, 17-09-1935, Atos do Poder Legislativo
da Prefeitura do Distrito Federal).
43
Terceira Etapa
A Revisão Ortográfica de 1945
Tentativa de retorno à etimologia por parte de Portugal e a recusa do Brasil
Depois da deriva nacionalista, o Brasil através da Convenção
Luso-Brasileira de 1943 retoma, uma dúzia de anos mais tarde,
ao acordo de 1931, sendo redigido o Formulário Ortográfico de
1943.
1945 – Um novo Acordo Ortográfico torna-se lei em Portugal, mas não
no Brasil, por não ter sido ratificado pelo Governo; os brasileiros
continuam a regular-se pela ortografia do Vocabulário de 1943.
44
Em 1943, foi adotada a primeira Convenção Ortográfica entre Brasil e
Portugal, ratificada em 1945 tendo as duas academias chegado,
finalmente a acordo, numa reunião em Lisboa. Mas, na sequência
desse encontro surgiu a chamada Convenção Ortográfica LusoBrasileira de 1945 e a parte portuguesa tentou convencer a parte
brasileira a adotar os pontos de vista portugueses, nos quais
predominava a perspectiva etimológica. O Brasil não aceitou os
resultados da Convenção, já que tinham suprimido, para maior
facilidade de alfabetização, as chamadas consoantes mudas ou não
articuladas em palavras como "acto", "directo", "óptimo“ e a
convenção obrigava o Brasil a voltar a introduzi-las na escrita. Ora isso
constituía uma violência, que o Brasil não aceitou. Imagine-se como
reagiriam os portugueses se então os obrigassem a reescrever "fructo"
ou "victória", com consoantes que há muito foram suprimidas!
João Malaca Casteleiro
45
Quarta Etapa
Modificações de 1971, 1973, 1975
1971 – São promulgadas alterações no Brasil, reduzindo as divergências
ortográficas com Portugal.
1971 Decreto do governo altera algumas regras da ortografia de 1943:
• abolição do trema nos hiatos átonos: saüdade (=saudade), vaïdade
( = vaidade);
• supressão do acento circunflexo diferencial nas letrase e o da sílaba
tônica das palavras homógrafas, com exceção de pôde em oposição
ap o d e: almôço (=almoço), êle (=ele), enderêço (=endereço), gôsto
(= gosto);
•eliminação dos acentos circunflexos e graves que marcavam a sílaba
subtônica nos vocábulos derivados com o sufixo-mente ou iniciados
por-z- : bebêzinho(= bebezinho), vovôzinho (= vovozinho), sòmente
(= somente), sòzinho (= sozinho), ùltimamente(= ultimamente).
46
1973 – São promulgadas alterações em Portugal, reduzindo as
divergências ortográficas com o Brasil.
1975 – A Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de
Letras elaboram novo projeto de acordo, que não é aprovado
oficialmente.
47
Quinta Etapa
Tentativa de Acordo de 1986
Em maio de 1986, o presidente do Brasil, José Sarney, promove um
encontro dos países de língua oficial portuguesa , no Rio de Janeiro,
para impulsionar um novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
O Acordo Ortográfico de 1986, que resulta deste encontro, é
amplamente discutido e justa e liminarmente contestado pela
comunidade linguística, principalmente pela de Portugal e
consequentemente, rejeitado.
48
Se o acordo Tortográfico de 1986 fosse aprovado o resultado
seria o seguinte:
A adoção exata deste acordo agora batizado é um ato otimo
de coonestação afrolusobrasileira, com a ajuda entreistorica
dos diretores linguisticos sãotomenses e espiritossantenses.
Alguns atores e contraalmirantes malumorados, que não
sabem distinguir uma reta de uma semirreta, dizem que as
bases adotadas são antiistoricas, contraarmonicas e
ultraumanas, ou, pelo menos, extraumanas.
Miguel Esteves Cardoso
in O Acordo Tortográfico (A Causa das Coisas) (1986)
49
Sexta Etapa
O Novo Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa de 1990
Depois do fracasso da proposta de Acordo de 1986, a Academia
das Ciências de Lisboa convoca novo encontro, em 1990.
Reunidos - agora em Lisboa - os representantes das duas
Academias debatem (batem-se por) uma unificação ortográfica,
elaborando a base do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
que está hoje contemplada em lei.
50
O que é o Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa de 1990
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 é um
documento de cariz internacional, cujo objetivo principal é a
unificação da ortografia do português, que passará a ser
aplicado nos oito países que integram a CPLP: Portugal, Brasil,
Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e
Príncipe e Timor Leste.
51
O Novo Acordo Ortográfico de 1990
Este novo texto, bem menos problemático que o de 1986, teve
dois grandes objetivos:
• Fixar e delimitar as diferenças entre os
falantes da língua portuguesa;
• Criar uma comunidade com uma unidade
linguística expressiva para ampliar o seu
prestígio internacional.
52
MEMBROS DA COMISSÃO DO ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990
Angola: Filipe Silvino de Pina Zau
Brasil: Antônio Houaiss e Nélida Piñon
Cap Verde: Gabriel Moacyr Rodrigues e Manuel Veiga
Galícia (observadores): António Gil Hernández e José Luís Fontenla
Guinée-Bissau: António Soares Lopes Júnior e João Wilson Barbosa
Moçambique: João Pontífex e Maria Eugénia Cruz
Portugal: Américo Dona Costa Ramalho, Aníbal Pinto de Castro, Fernando
Cristóvão, Fernando Roldão Dias Agut, João Malacca Casteleiro, José Tiago
d'Oliveira, Luís Filipe Lindley Cintra, Manuel Jacinto Nunes, Maria Helena
Dóna Rocha Pereira e Vasconcelos Marquis.
São Tomé e Príncipe: Albertino dos Santos Bragança e João Hermínio Pontífex
53
AS DATAS DO NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA
PORTUGUESA DE 1990:
1995– O Acordo Ortográfico de 1990 é apenas ratificado por Portugal, Brasil e
Cabo Verde, embora o texto previsse a sua implementação em toda a Lusofonia
no início de 1994.
1998– Na cidade da Praia é assinado o Protocolo Modificativo do Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa, retirando-se do texto a data de
implementação.
2004 – É aprovado o Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da
Língua Portuguesa que estabelece que basta a ratificação de três membros
para que o Acordo Ortográfico possa entrar em vigor . Timor-Leste passa a
integrar a CPLP.
2006 – Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe ratificam o documento,
possibilitando a entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990.
2008 – O Acordo Ortográfico de 1990 é aprovado por Cabo Verde, São Tomé e
Príncipe, Brasil e Portugal, sendo esperada a sua implementação no início de
2010.
2010 –Atualmente, já todos os países de língua oficial portuguesa ratificaram
o AO, à exeção de Angola.
54
2. A Nova Ortografia
1. Alfabeto
2. Emprego de Minúsculas e Maiúsculas
3. Acentuação Gráfica
4. As Grafias Duplas
5. Supressão de Consoantes Mudas ou não Articuladas
6. A Extinção do Trema
7. Hifenação
55
56
1.
O alfabeto
K, W
2.
passa de 23 para 26 letras, com a reintrodução de
e Y.
Neste ponto nada muda em termos práticos.
Emprego de maiúsculas e minúsculas:
nomes dos dias, meses, estações do ano, pontos cardeais e axiónimos :
quarta-feira , junho , primavera, norte, sul, magnífico reitor,
vossa santidade, senhor doutor, senhor professor.
57
Emprego opcional de maiúscula ou minúscula em início de
palavra em:
Bibliónimos (devendo o primeiro elemento ser sempre grafado com
maiúscula):
A Ilustre Casa de Ramires ou A ilustre casa de Ramires
O Ano da Morte de Ricardo Reis ou O ano da morte de Ricardo Reis
Hagiónimos: Santa Bárbara ou santa Bárbara,
Santo António ou santo António
Nomes que designam domínios do saber, cursos e disciplinas:
Linguística ou linguística
Línguas e Literaturas Modernas ou línguas e literaturas modernas
Logradouros públicos, templos e edifícios:
Avenida da Liberdade ou avenida da Liberdade
Palácio da Cultura
ou palácio da Cultura
58
3. Acentuação Gráfica
O acento agudo é extinto:
• em ditongos abertos (ei, oi) das paroxítonas:
giboia, ideia, joia, paranoico, heroica, assembleia
• em I e U tónicos, acento na penúltima sílaba, precedidos de
ditongo :
baiuca, feiura
•em formas verbais com acento tónico na raiz, com U tónico
precedido de G ou Q e seguido de E ou I
averigue, enxague, apazigue
59
O acento diferencial deixará de ser usado para
diferenciar
• PÁRA (do verbo parar) de PARA (preposição):
Exemplos: ele para o carro; o pelo do cão; comi uma pera; no
polo Norte.
• o topónimo Coa deixará assim de ter acento.
Não se distinguirá ortograficamente:
Ninguém para o Benfica (ninguém está com o Benfica) de
Ninguém para o Benfica (Ninguém consegue impedir o
Benfica de avançar)
Ele coa o café numa pastelaria do Foz Coa (antes Côa).
60
O acento circunflexo é extinto
•
em palavras terminadas em EEM e OO
creem, deem, leem, veem, voo, perdoo
•
manteem-se nos plurais dos verbos TER e VIR
têm a solução; vêm de longe
Esta alteração ortográfica diz respeito aos brasileiros que deverão
escrever o seu abençoo e enjoo, sem chapéu.
61
4. As Grafias Duplas
a)
Propõe-se a criação de alguns casos de dupla grafia para fazer
diferenciação, como o uso do acento agudo na primeira pessoa do
plural do pretérito perfeito dos verbos da primeira conjugação,
tais como
louvámos em oposição a louvamos
amámos em oposição a amamos
b) A palavra forma [n. (molde)] e fôrma [n. (molde)].
.
62
Por divergências de timbre, entre a norma luso-africana e a
norma brasileira, na articulação das esdrúxulas que têm vogais
tónicas <e> e <o>, seguidas das consoantes nasais <m> e <n>,
com as quais não formam sílaba (em Portugal essas vogais são
semiabertas e em grande parte do Brasil são semifechadas), são
legítimas as duas variantes.
c)
Ex.: académico e acadêmico, efémero e efêmero,
sénior e sênior; cómico e cômico, fenómeno e fenômeno,
tónico e tônico, génio e gênio, bónus e bônus; fémur e fêmur,
ténis e tênis; abdómen e abdômen, pónei e pônei,
bebé e bebê, caraté e caratê, croché e crochê, puré e purê,
cocó e cocô, ró e rô, judo e judô, metro e metrô.
63
5. Supressão gráfica de consoantes mudas ou não articuladas
O critério da pronúncia determina a supressão gráfica das
consoantes mudas ou não articuladas, as quais se têm
conservado na ortografia luso-africana, essencialmente por
razões de ordem etimológica.
64
Desaparecem, assim, da língua escrita o “c” e o “p” nas
palavras onde ele não é pronunciado, como em:
ação, adoção, ativar, ator, atual, adjetivo, afeto,
arquitetura, batismo, coleção, contração, correção,
direção, infração, injeção, objeção, proteção, reação,
redação, seleção, coletivo, correto, dialeto, diretor, elétrico,
espetáculo, exatamente, letivo,
objeto, teto,
dececionante, excecional, perfecionismo, rececionista, aceção,
adoção, conceção, deceção, interceção, Egito, adotar, ótimo
65
Quando a consoante se articula, mantém-se, como é evidente.
faccioso, ficcional, friccionar, perfeccionismo, convicção, ficção,
sucção. bactéria, compacto, convicto,
facto, néctar,
pacto, pictórico, egípcio, núpcias, opcional, corrupção,
erupção, interrupção, opção, adepto, apto, eucalipto,
rapto
66
6.
A Extinção do Trema
O Trema é extinto, passando a grafar-se sequestro, tranquilo,
linguiça, aguentar, cinquenta, delinquente, sequência, frequência
¨
sem
, que no entanto e compreensivelmente se se deixe de
usar nos nomes próprios (MÜLLER) e derivações (mülleriano).
Como era: agüentar, argüir, bilíngüe, cinqüenta, delinqüente,
eloqüente,ensangüentado, eqüestre, freqüente, lingüeta, lingüiça,
qüinqüênio, sagüi,seqüência, seqüestro, tranqüilo,
Em síntese deixaremos que a linguística possa existir e subsistir
sem o trema.
67
7. Hifenação
Elimina-se o hífen nas formações por prefixação e recomposição (as que
contêm pseudoprefixos de origem grega e latina) em que :
a) o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o elemento
imediatamente seguinte começa por <r> <s>, dobrando-se estas
consoantes.
antirreligioso, autorrádio, autossuficiente,
autosserviço, antirrugas, biorritmo, contrarreação,
contrarrelógio, eletrossiderurgia, microssistema,
minissaia, semisselvagem, semirreta, ultrassónico,
autorretrato .
Ex.:
68
Elimina-se o hífen nas formações por prefixação e recomposição (as que
contêm pseudoprefixos de origem grega e latina) em que:
b) o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o elemento
imediatamente seguinte começa por vogal diferente daquela.
antiaéreo, autoaprendizagem,
autoestrada, coautor, codireção, extraescolar,
Ex.: agroindustrial,
hidroelétrico, plurianual, etc.
69
Prefixos sempre seguidos de hífen:
Além, Aquém, Bem, Ex, Grã, Grão, Pós, Pré, Pró, Recém, Sem, Sota/soto,Vice/vizo
- além-mar,
além-túmulo;
– aquém-fronteiras, aquém-mar;
– bem-amado, bem-querer (exceções: bendizer, benquerer,
benquisto);
(= anterior) – ex-senador, ex-esposa;
– grã-duquesa, grã-fino; (= grande) – grão-duque, grão -mestre;
-pós-moderno, pós-meridiano, pós-cabralino;
– pré-nupcial, pré-estreia, pré-vestibular;
– pró-britânico, pró-governo;
– recém-chegado, recém-nascido, recém-nomeado;
– sem-número (= inúmeros), sem-terra, sem-teto, sem-vergonha;
– sota-piloto, soto-mestre;
– vice-diretor, vizo-rei.
Suprime-se o hífen:
a) nas ligações da preposição de com as formas monossilábicas do
presente do indicativo do verbo haver.
Ex.: hei de, hás de
, há de, heis de, hão de.
b) nas locuções de qualquer tipo, à excepção das já consagradas pelo
uso
(como é o caso de
cor-de-rosa,
água-de-colónia, arco-da-velha,
mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará,
à queima-roupa).
fim de semana, sala de jantar, bota
cor de laranja , cor de vinho, cor de
Ex.: cão de guarda,
de elástico,
café com leite.
71
c) Suprime-se o hífen nas formações com prefixos (ANTE, ANTI, ARQUI,
AUTO, CIRCUM, CO, CONTRA, ENTRE, EXTRA, HIPER, INFRA, INTER,
INTRA, SEMI, SOBRE, SUB, SUPER, SUPRA, ULTRA…) e em formações
com falsos prefixos (AERO, FOTO, MACRO, MAXI, MEGA, MICRO, MINI,
NEO, PROTO, PSEUDO, RETRO, TELE...), exceto quando o segundo
elemento começar por « h » ou por vogal igual à vogal final do prefixo
ou pseudoprefixo.
Ex.: MEGA: megaevento, megaprojeto…
72
Emprega-se o hífen nas formações por prefixação e recomposição em que:
O prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o elemento imediatamente
a seguir começa por vogal idêntica.
Ex.:
anti-ibérico, auto-observação, contra-almirante, infra-axilar,
intra-arterial, micro-ondas, semi-interno, supra-auricular.
Obs.: o prefixo co- ocorre geralmente aglutinado, mesmo quando o
elemento seguinte começa por <o>, à excepção das formações em que o
segundo elemento começa por <h>.
coinquilino,
Ex.: coincinerar,
coocupante, copiloto, cooperar, coordenar
Mas :
coocorrência,
coobrigação,
co-herdeiro, co-herdar.
73
Os compostos que designam espécies na área da botânica e da
zoologia, ligados ou não por preposição ou qualquer outro
elemento, escrevem-se sempre com hífen.
bem-me-quer, bênção-de-deus,
cobra-capelo, erva-do-chá, ervilha-de-cheiro,
Ex.: abóbora-menina,
fava-de-santo-inácio, formiga-branca.
74
Emprega-se o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se
combinam, formando, não propriamente vocábulos, mas encadeamentos
vocabulares
Liberdade-Igualdade-Fraternidade
Ex.: A divisa
A ponte Rio-Niterói
O percurso Lisboa-Coimbra-Porto
assim como nas combinações históricas ou ocasionais de topónimos
Áustria-Hungria
Alsácia-Lorena
Angola-Brasil
Tóquio-Rio de Janeiro
75
Tudo somado, aqui ficam as contas do Acordo:
A adoção da nova ortografia, de acordo com os dados da
Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa de 1990 irá alterar a grafia de cerca de
2600 palavras, 1,42%
do total de
norma euro-afro-asiático-oceanica, quer
Portugal, nos países africanos de língua
Timor Leste e na Região Administrativa
palavras na
dizer, em
portuguesa,
Especial de
Macau, e em cerca de 0,45% na norma brasileira.
Quer dizer uma palavra em cada 62 em Portugal e
uma em cada 223 no Brasil.
76
3. Críticas à Nova Ortografia
- Como explicar o inexplicável caos que se vai
instalar com o Novo Acordo? Pergunta-se.
- Não estará o Novo Acordo Ortográfico a
servir de bode expiatório de todos os
problemas que sempre estiveram presentes na
língua portuguesa? – perguntamos nós.
77
O que era importante ter resolvido e o acordo deixou
por resolver:
o facto de um único grafema corresponder a vários fonemas
(sons).
O x corresponde a /s/ - máximo, /z/ - exame, /ch/- Xuxa - além
de ks (dois fonemas) - tóxico -, e a um único fonema
corresponderem vários grafemas: o som /s/ pode ser escrito
com c, ç, s, ss, sc, sç, x, xc, z.
78
Um sem número de críticas têm sido colocadas à revisão
ortográfica, recentemente aprovada, a maior parte das quais sem
razão. Umas prendem-se com o sistema linguístico gravemente
afetado com a reforma, outras com a própria necessidade de
reforma e de unificação ortográficas. De uma forma ou de outra
o Novo Acordo Ortográfico tem desempenhado bem o papel de
bode expiatório, pois sobre ele recaem críticas sobre coisas que
vêm muito de trás, fruto, como vimos antes, de um sistema
linguístico que foi sempre imperfeito e eivado de muitas
incoerências.
79
Bode expiatório, igualmente, de embaraços políticos
que, como também vimos, sempre existiram e que se
expressam em frases lapidares de ignorância bairrista:
- É um neo-colonialismo às avessas em que a antiga
colónia se quer impor ao país que deu origem à língua,
descaracterizando-a. Vamos ficar linguisticamente
dependentes da escrita brasileira? Ou ainda melhor : Vamos todos ter de falar à brasileira?
80
Porque se escreve cor-de-rosa com hífen e cor de
laranja sem hífen?
81
Portugal:
82
Conclusão
Nenhum sistema gráfico é perfeito a escrita é uma tentativa de
representação da fala e, por isso,
ninguém conseguirá escrever
exatamente como fala.
A escrita é, portanto, artificial.
Saber qual letra escolher na hora de
escrever uma palavra é uma tarefa
que exige memorização
(principalmente a visual) e treino.
Que atire a primeira pedra quem
nunca se enganou.
Elis de Almeida Cardoso
83
Que terá esta ortografia, ainda em vigor, de tão
dogmaticamente divino que não pode ser alterada?
Fernando Cristóvão
In Acordo Ortográfico desfaz ambiguidades – Ciberdúvidas, 25 de maio 2008
84
Perante situações adversas continuam atuais estas palavras de 1918:
Pena é que a ortografia nova, que, em rigor, é
velha, não seja compreendida por todos, ou antes,
que se não queira ver a sua justeza, acabando-se
de vez com os desconchavos que ainda perduram,
quase sempre resultantes da ignorância…
J.J. Nunes
85
Se há uma língua que se pode reclamar de etimológica é a
língua de Molière, em que um mesmo som pode ter até
nove formas de escrita diferentes, como é o caso das
palavras homófonas:
au, aux, haut, hauts, os, aulx, oh, eau, eaux
86
Se é verdade que a língua portuguesa é um património,
está bem longe de ser uma arca frigorífica ou, muito
menos, um fóssil.
Francisco Álvaro Gomes
In Pedagogia da Ortografia: missão (im)possível, 1987.
87
Essa república do português não tem uma capital demarcada.
Não está em Lisboa, nem em Coimbra;
não está em Brasília, nem no Rio de Janeiro.
A capital da língua portuguesa está onde estiver o meridiano
da cultura.
Celso Cunha
(1917-1989, professor, filólogo e ensaísta brasileiro)
in Uma Política do Idioma (1964). S. José, Rio, p. 38
88
Quanto à nossa posição sobre o AO, subscrevemos a opinião
do escritor angolano :
Estou um bocado farto do acordo. Eu sou contra este acordo,
mas sou ainda mais contra os que estão contra, que me
parece terem uma reação parecida com a que existiu no
século dezanove, relativamente ao francês. É uma reação
reacionária.
Pepetela
(1941-…)
89
90
Aplicação do Novo Acordo Ortográfico
na Imprensa
Nota da Direcção do Expresso sobre o Acordo Ortográfico
O Expresso apoia e vai adotar o novo Acordo Ortográfico. Do nosso ponto de vista,
as novas normas não afetam - antes contribuem - para a clarificação da língua
portuguesa.
Por outro lado, não consideramos a ideia de que a ortografia afeta a fonética, mas
sim o contrário. O facto de a partir de 1911 a palavra phleugma se passar a
escrever fleugma e, já depois, fleuma não trouxe alterações ao modo como é
pronunciada. Assim como pharmacia ou philosophia.
O facto de a agência Lusa adotar o Acordo, enquanto o Expresso, por razões
técnicas (corretores e programas informáticos de edição) ainda não o fez, leva a
que neste sítio na Internet coexistam as ortografias pré-acordo e pós-acordo.
Pedimos, pois, a compreensão dos nossos leitores.
91
NO ANO DE COMEMORAÇÃO DO CENTENÁRIO DA
REPÚBLICA UMA HOMENAGEM É DEVIDA E MERECIDA A
ESTE HERÓI NACIONAL DA ORTOGRAFIA
Aniceto dos Reis Gonçalves Viana
(Lisboa, 06-01-1840 - Lisboa, 13-09-1914)
Gonçalves Viana, o grande inspirador da revolução ortográfica
da língua portuguesa de 1911, autodidata, o homem do
«ouvido apuradíssimo, que distinguia os sons mais subtis ou
os menos percetíveis» e um dom de memória que lhe
permitia reproduzir facilmente longos trechos literários.
Poliglota invulgar, estudou castelhano, catalão, italiano,
romeno, alemão, holandês, anglo-saxão, dinamarquês, sueco,
islandês antigo; irlandês , galês; russo, búlgaro, húngaro,
finlandês, hebraico, árabe, malaio, japonês, quimbundo, tupi e
ainda vários dialetos. Saliente-se por fim a estima que por ele
tiveram importantes filólogos estrangeiros, como: Jules Cornu,
Henry Sweet, o príncipe Louis Lucien Bonaparte, Fredrik Wulff,
Paul Passy. Colaborou na prestigiada revista Maitre
phonétique.
92
Aperceberam-se de que este texto foi
redigido em conformidade com o Novo
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa?
Como certamente puderam verificar não são
assim tantas as diferenças entre a velha e a
nova ortografias.
93
Reportagem
Entrevista
94
Conversores para o Acordo Ortográfico
Português Exacto
http://www.portuguesexacto.pt/
http://www.flip.pt/FLiPOnline/ConversorparaoAcordoOrtográfico/tabid/566/Default.aspx
95
Referências Bibliográficas
Instituto Camões
Portal da Língua Portuguesa
Revista Língua
Celso Cunha in Uma Política do Idioma (1964). S. José, Rio, p. 38
Francisco Álvaro Gomes, In Pedagogia da Ortografia: missão (im)possível, 1987.
O Acordo Tortográfico, por Miguel Esteves Cardoso, 1986
Fernando Cristóvão In Acordo Ortográfico desfaz ambiguidades – Ciberdúvidas,
25 de maio 2008.
Diaporama - Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990). PNEP – 1.º Ciclo
Sessão Plenária Regional ESEC-UALG 28 de Fevereiro de 2009 Artur Henrique
Ribeiro Gonçalves Maria da Conceição A. O. R. Pessoa de Andrade
Acordo ortográfico: o que muda na língua portuguesa a partir de 2009 in
Abril.com por Rachel Bonino.
Visão: http://aeiou.visao.pt//guia-pratico-para-perceber-o-acordoortografico=f543723
http://www.moderna.com.br/acordo/guia_acordo.pdf
96
Texto: Luís Aguilar
Imagens recolhidas na Internet
Formatação e pesquisa: Vitália de Aguilar
Apoio Técnico e Arranjo Gráfico : Ricardo Barreto
Contacto: [email protected]
Página Principal: www.teiaportuguesa.com
Sítio de Apoio ao Ensino e Aprendizagem
da Língua Portuguesa e das Culturas Lusófonas
97
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Diapositive 1 - Teia da Língua Portuguesa