Inteiro teor da decisão: SEGUNDO AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 472.012 MINAS GERAIS RELATOR : MIN. TEORI ZAVASCKI AGTE.(S) : ESTADO DE MINAS GERAIS ADV.(A/S) : ADVOGADO-GERAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS AGDO.(A/S) : CELLE COMERCIALLTDA ADV.(A/S) : MARCELO TOSTES DE CASTRO MAIA DECISÃO: 1. Trata-se de agravo regimental contra decisão do então relator, Min. Cezar Peluso, que, reconsiderando decisão anterior, deu parcial provimento ao recurso extraordinário da parte autora para “reduzir a multa moratória ao patamar de 30% do tributo declarado e não pago”, em observância à norma constitucional que veda práticas confiscatórias. A parte agravante sustenta, em síntese, que (a) ao contrário do afirmado na decisão agravada, não há decisões do STF reconhecendo que é de 30% o limite para a imposição de multa moratória; e (b) há precedentes que afirmam que multas aplicadas até o limite de 100% não configuram confisco. 2. Assiste razão ao agravante. No que tange à multa moratória, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao analisar o RE 582.461-RG (Rel. Min. GILMAR MENDES, DJe de 5/2/10, Tema 214), reconheceu a repercussão geral de tema análogo ao dos autos. No julgamento do mérito da questão (DJe de 18/8/2011), o Tribunal assentou o entendimento de que a multa moratória tributária, no caso, não possui efeito confiscatório. A ementa do julgado é a seguinte, na parte que interessa: (...) 4. Multa moratória. Patamar de 20%. Razoabilidade. Inexistência de efeito confiscatório. Precedentes. A aplicação da multa moratória tem o objetivo de sancionar o contribuinte que não cumpre suas obrigações tributárias, prestigiando a conduta daqueles que pagam em dia seus tributos aos cofres públicos.Assim, para que a multa moratória cumpra sua função de desencorajar a elisão fiscal, de um lado não pode ser pífia, mas, de outro, não pode ter um importe que lhe confira característica confiscatória, inviabilizando inclusive o recolhimento de futuros tributos. O acórdão recorrido encontra amparo na jurisprudência desta Suprema Corte, segundo a qual não é confiscatória a multa moratória no importe de 20% (vinte por cento). 5. Recurso extraordinário a que se nega provimento.” No precedente, foi reafirmada a jurisprudência do Tribunal no sentido de que somente seriam abusivas as multas moratórias que superem o limite de 100%. Cita-se trecho do voto do Relator: (...) o Tribunal Pleno desta Suprema Corte, por ocasião do julgamento da ADI-MC 1075, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 24.11.2006 e da ADI 551, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 14.10.2000, entendeu abusivas multas moratórias que superam o percentual de 100% (cem por cento), (...). Assim, o acórdão recorrido, mantendo os termos da sentença que considerou não confiscatória a multa aplicada na razão de 50% (fl. 111) não merece reparos, pois está em consonância com o entendimento jurisprudencial acima demonstrado. Nesse sentido: Ementa: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PRELIMINAR DE REPERCUSSÃO GERAL. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. ÔNUS DO RECORRENTE. EXAME DE FATOS E PROVAS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 279 DO STF. ANÁLISE DE LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL E LOCAL. CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL, LC 87/96, LEI ESTADUAL 6.763/75 E RICMS 2.002. INVIABILIDADE. SÚMULA 280/STF. TRIBUTÁRIO. ICMS. MULTA DE 50% DO CRÉDITO. EFEITO CONFISCATÓRIO. INOCORRÊNCIA. PRECEDENTE DO PLENÁRIO SOB A SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO GERAL: RE 582.461-RG (REL. MIN. GILMAR MENDES, DJE DE 05/02/10, TEMA 214). AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (ARE 805431 AgR / MG, de minha relatoria, Órgão Julgador: Segunda Turma, DJe de 6/6/2014) Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. MULTA FISCAL. PERCENTUAL SUPERIOR A 100%. CARÁTER CONFISCATÓRIO. ALEGADA OFENSA AO ART. 97 DA CONSTITUIÇÃO. INEXISTÊNCIA. AGRAVO IMPROVIDO. I – Esta Corte firmou entendimento no sentido de que são confiscatórias as multas fixadas em 100% ou mais do valor do tributo devido. II – A obediência à cláusula de reserva de plenário não se faz necessária quando houver jurisprudência consolidada do STF sobre a questão constitucional discutida. III – Agravo regimental improvido. (RE 748257 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe 20/8/2013) Ementa: TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ICMS. MULTA MORATÓRIA APLICADA NO PERCENTUAL DE 40%. CARÁTER CONFISCATÓRIO. INEXISTÊNCIA. PRECEDENTES DO TRIBUNAL PLENO. 1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal já decidiu, em diversas ocasiões, serem abusivas multas tributárias que ultrapassem o percentual de 100% (ADI 1075 MC, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, DJ de 24-11-2006; ADI 551, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Tribunal Pleno, DJ de 14-02-2003). 2. Assim, não possui caráter confiscatório multa moratória aplicada com base na legislação pertinente no percentual de 40% da obrigação tributária. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (RE 400927 AgR / MS, de minha relatoria, Órgão Julgador: Segunda Turma, DJe de 18/6/2013) 3. Diante do exposto, reconsidero a decisão de fls. 317-319 para negar seguimento ao recurso extraordinário. Publique-se. Intime-se. Brasília, 2 de fevereiro de 2015. Ministro TEORI ZAVASCKI Relator