Estado soberano, globalização e o papel da sociedade civil transnacional Eduardo Felipe P. Matias Conferência Internacional Instituto Ethos 22 de junho de 2006 Sumário I – Soberania x Globalização – contexto de surgimento da sociedade civil transnacional II – O fortalecimento da sociedade civil transnacional e seus efeitos sobre o Estado soberano III – Conclusão: “Governança global”, Funções do Estado e legitimidade 2 I – Soberania x Globalização – contexto de surgimento da sociedade civil transnacional 3 Significados da Soberania Soberania pode ser vista de duas formas: 1. Poder Estatal Soberania = conjunto de poderes e competências que um Estado possui 4 Significados da Soberania 2. Qualidade do Poder Estatal • Soberania = poder superlativo: mais elevado que todos os demais = Supremacia e Independência 5 Soberania de direito x de fato 1) soberania = poder poder = capacidade de impor sua vontade efetividade = grau dessa capacidade Poder tem de ser efetivo para ser soberano de fato 6 Soberania de direito x de fato 2) Soberania = Supremacia e independência = autonomia (capacidade de agir livremente) autoridade externa: afeta a sua independência e a sua supremacia • Poder tem de ser autônomo para ser soberano de fato 7 Soberania e legitimidade Legitimidade = o “algo” por trás da submissão voluntária a uma autoridade Hoje: Autoridade deve se submeter às leis para ser considerada legítima 8 Soberania e democracia Se poder soberano sempre dependeu da legitimidade: Se, hoje, legitimidade= legitimidade democrática Poder estatal = poder democrático 9 Funções do Estado Características essenciais: Monopólio do exercício da força Existência de aparelho administrativo para prestar serviços públicos 10 Globalização – conceito •Interdependência + •Aumento da interdependência: Intensificação da interdependência dos povos 11 Globalização e o papel da Revolução Tecnológica Exemplo: telecomunicações Custo – telefonema de 3 minutos entre NY e Londres: •250 dólares em 1930 •3 dólares em 1990 •hoje: VoIP (cont.) 12 Globalização e revolução tecnológica Exemplo: informática Ciberespaço: Eliminação do tempo e da distância: • 1830: carta postada na Inglaterra levava entre 5 e 8 meses para chegar à Índia; Hoje: e-mail 13 Efeitos da globalização capacidade do Estado de atingir determinados objetivos: • passa a depender de atividades externas liberdade do governo de adotar certas políticas: • restringida (passa a ter de levar em conta opiniões externas) 14 II – O fortalecimento da sociedade civil transnacional e seus efeitos sobre o Estado soberano 15 Sociedade Civil grupos que independem Estados, mas preocupados assuntos públicos dos com • situa-se em campo intermediário entre Estado e esfera privada 16 “Sociedade Civil” • expressão ganhou força durante a década de 80: • movimentos populares em luta contra os regimes comunistas • SC refletiria a vontade popular de forma mais genuína do que os governos 17 ONGs embora independam dos Estados, defendem interesses públicos Recentemente: explosão em número, atividade e visibilidade 18 ONGs – crescimento 1909: 170 ONGs 1951: 800 1972: 2100 Meados da década de 1980: 5000 Final da década de 1990: 26000 19 ONGs – importância • empregavam quase 20 milhões de pessoas já no início deste século • contam com poder financeiro cada dia maior • várias delas contam com estruturas sofisticadas, próximas das de empresas transnacionais 20 ONGs e Globalização Relação é paradoxal: 1) uma das bandeiras de diversas ONGs tem sido o combate à globalização • manifestações durante encontros do G8, UE, OMC, Banco Mundial ou FMI 21 ONGs e Globalização 2) globalização e revolução tecnológica favorecem a expansão das atividades das ONGs: • seu funcionamento e o de possíveis alianças torna-se mais simples e barato • podem expandir suas atividades através das fronteiras 22 Sociedade civil e valores universais “globalização da SC” Possibilidade: valores defendidos pelas ONGs não seriam os dos grupos que elas representam, mas sim valores da humanidade 23 ONGs e Globalização 3) ONGs surgem como reação à globalização: aumento dos problemas transnacionais, como os ambientais: • surgimento de ONGs transnacionais e de alianças entre diversas ONGs no mundo (cont.) 24 ONGs e Governança Global Participação indireta: • ONGs “ensinam” novas normas aos Estados, podendo alterar seu comportamento Ex.: • Tratado para banir as minas terrestres (1997) (cont.) 25 ONGs e Governança Global • Estados e Organizações Internacionais dependem da “expertise” das ONGs • essa capacidade leva os Estados a se submeterem à influência das ONGs nas instâncias internacionais (cont.) 26 ONGs e opinião pública • ONGs têm grande influência sobre a opinião pública mundial • relatórios por elas produzidos: • primeiro passo para a criação de um discurso global unificado (cont.) 27 ONGs e opinião pública • poder ampliado pela capacidade de usar os recursos da revolução tecnológica para espalhar sua mensagem • possibilita exercer pressão política capaz de afetar o comportamento dos demais atores da sociedade global (cont.) 28 ONGs e opinião pública • empresas transnacionais não podem desafiar a opinião publica sem risco ou custo: Ex. remédios para a AIDS na África do Sul 29 ONGs e soberania • a influência da SC transnacional afeta a liberdade de agir do Estado (sua autonomia) mas soberania = autonomia Logo: • o fortalecimento da SC transnacional afeta a soberania de fato dos Estados 30 ONGs e Funções do Estado • participam de forma “governança global”: direta na • assumem funções que seriam dos Estados • algumas arrecadam mais recursos e têm melhor desempenho do que iniciativas governamentais 31 ONGs e Soberania • fortalecimento da SC transnacional: • um dos fatores que leva a crer que o poder estatal vem sendo reduzido e em muitos casos substituído mas Soberania = Poder Estatal Logo: • redistribuição das competências dos Estados na governança global leva a uma redução de sua soberania 32 III – Conclusão: “Governança global”, funções do Estado e legitimidade 33 Sociedade Global • Modelo do Estado Soberano • poder exercido predominantemente pelo Estado e em 2 planos: • nacional e internacional • Modelo da sociedade global • outros 2 níveis de poder: • o transnacional e o supranacional 34 Governo na sociedade global Funções do Estado são repartidas: • Governo evoluiu não rumo a uma maior concentração, mas a uma difusão: “Governança global” (global governance) 35 Sociedade Global e Responsabilidade Social – conclusões ONGs têm papel importante na luta contra a degradação ambiental, social e econômica, para a construção de uma sociedade sustentável (cont.) 36 Sociedade Global e Responsabilidade Social – conclusões controle do Estado e do mercado: • pode ser feito pela SC transnacional, graças à globalização, à revolução tecnológica e ao enfraquecimento do Estado movimento de RSE pode ser impulsionado pela SC transnacional: • influência na adoção de novas normas • pressão sobre empresas e governos, por meio da opinião pública 37 Sociedade Global – reflexões Novos atores da sociedade global: • devem cumprir as funções do Estado • devem também atender aos requisitos que o Estado foi levado a atender 38 Sociedade Global Quanto ao cumprimento das funções do Estado: • Governança global ainda precisa melhorar a sua efetividade Quanto ao requisito da legitimidade: • algumas instituições da sociedade global são pouco transparentes e têm mecanismos de decisão injustos (cont.) 39 Sociedade Global e valores universais • Globalização e revolução tecnológica: • podem consolidar valores “universais” No entanto: • humanidade ainda não conta com mecanismos para assegurar que esses valores correspondem à vontade geral (cont.) 40 Sociedade Global e valores universais possibilidade de que atores que definem quais são esses valores estejam agindo em causa própria Logo: • não basta afirmar que certos valores seriam universais: • é preciso estabelecer os mecanismos pelos quais sua definição seja feita de forma legítima (cont.) 41 Sociedade Global – conclusão Desafio: aperfeiçoar o Estado, adaptando-o ao contexto da sociedade global imaginar formas de que as novas instituições da sociedade global, que recebem parte do poder estatal, sejam legítimas e atendam de forma efetiva ao interesse público 42