Arquivo Siqueira Castro - Advogados Fonte: Folha de São Paulo Data: 29/12/2014 Editoria: Mercado Versão: Impresso e Online Lançamentos de ações devem voltar no ano que vem Expectativa de analistas é que operações se concentrem no 2º semestre, a depender do cenário econômico do país Manutenção do grau de investimento é fundamental para estrangeiro injetar recursos no país ANDERSON FIGO DANIELLE BRANT FABÍOLA SALANI DE SÃO PAULO Com apenas uma operação, 2014 foi o pior ano em lançamentos de ações no Brasil em uma década. Mas a entrada de empresas na Bolsa pode ser retomada caso as esperadas medidas da nova equipe econômica em 2015 sejam bem-sucedidas. A avaliação é de analistas ouvidos pela Folha, que apostam em uma maior concentração de lançamentos na segunda metade do ano. O número de operações, no entanto, deve demorar a voltar ao nível de 2007, quando houve 64 IPOs (ofertas públicas iniciais de ações, na sigla em inglês) na BM&FBovespa --na esteira do forte crescimento econômico do país. "Existe um número grande de operações represadas, de empresas que não conseguiram ir ao mercado neste um ano e meio", diz Antonio Felix de Araujo Cintra, sócio na área de mercado de capitais do escritório TozziniFreire. "Se o governo tomar as medidas necessárias para arrumar a economia, se as empresas e investidores começarem a ver uma perspectiva de médio para longo prazo de melhora, existe possibilidade de o mercado se abrir." A companhia aérea Azul já sinalizou a intenção de lançar ações na Bolsa brasileira e em Nova York. Em dezembro, a empresa entrou com pedido de abertura de capital --primeiro passo para fazer um IPO. O resgate da credibilidade do governo diante dos estrangeiros também pode ajudar a impulsionar os IPOs, segundo James Gulbrandsen, sócio da gestora NCH Capital no Brasil. "Não dá para lançar ações sem os estrangeiros, que são os investidores com participação mais relevante nessas ofertas", avalia. De acordo com a BM&FBovespa, os estrangeiros representavam, em dezembro, por volta de 54% do total de investidores na Bolsa brasileira. Até o dia 22, o saldo externo da Bolsa estava positivo em R$ 19,498 bilhões, impulsionado principalmente pela forte volatilidade do ano eleitoral, o que fez com que alguns ativos ficassem "baratos". No ano passado, o saldo foi de R$ 11,746 bilhões. Para Gulbrandsen, o resgate da confiança do estrangeiro no governo brasileiro é importante para estimular a entrada de dinheiro no país. A manutenção da nota de crédito do Brasil em grau de investimento é condição fundamental para isso, pois indica que é seguro investir no país. Alguns grandes fundos só podem aplicar em mercados com essa classificação. "Quando falamos de emergentes, o Brasil está à frente de Rússia e China em termos de governança. Por isso, os estrangeiros ainda veem o Brasil de forma especial", diz Antonio Castro, presidente da Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas). Arquivo Siqueira Castro - Advogados Setores financeiro e educacional devem se destacar DE SÃO PAULO Empresas dos setores financeiro e educacional estão mais bem posicionadas, segundo analistas de mercado, para abrir capital no próximo ano. As redes de ensino passam por um momento de consolidação. O segmento financeiro se beneficia do cenário de alta de juros. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, pode abrir capital e passar a ser listada em Bolsa em 2016, como antecipou a coluna "Mercado Aberto", da Folha. Já as companhias ligadas a commodities e ao varejo devem ter um ano ruim. As primeiras devem ser afetadas pelo preço em queda das matérias-primas no exterior. A desaceleração do consumo deve frear lançamentos de ações de varejistas, diz Alfredo Ferrari, do escritório Siqueira Castro - Advogados. Arquivo Siqueira Castro - Advogados Pequeno investidor deve tomar cuidado antes de participar de processo de IPO DE SÃO PAULO A forte turbulência sofrida em 2014 derrubou a participação de pessoas físicas na Bolsa ao menor patamar em 16 anos. A perspectiva de lançamentos de ações no próximo ano pode atrair esses investidores, principalmente se houver ofertas de empresas conhecidas. "A empresa vai ter que contar sua história de sucesso lembrando que muitos desses investidores perderam dinheiro em empresas que nunca imaginaram, como Vale e Petrobras", diz Antonio Felix de Araujo Cintra, sócio na área de mercado de capitais do TozziniFreire. Além dessas duas gigantes, o declínio do império X, do empresário Eike Batista, também contribuiu para afugentar as pessoas físicas da Bolsa. Eike era visto como modelo de sucesso por muitos desses investidores. Para Luiz Barsi, economista e maior investidor pessoa física em Bolsa do Brasil, o mercado está difícil para o investidor não profissional se aventurar em um lançamento de ações. "As novas empresas não têm um histórico de produzir resultados, distribuir proventos", afirma. Essa também é a avaliação de Alexandre Wolwacz, diretor da escola de investimentos Leandro & Stormer. "Todo mundo que comprou ações nos últimos anos não está feliz. Assim, quando entra uma empresa querendo fazer IPO, mesmo que seja uma companhia conhecida e com futuro promissor, provavelmente não será suficiente." PRECAUÇÕES Mas quem vislumbrar oportunidades no mercado deve tomar algumas precauções. A primeira é ler com cuidado o prospecto da oferta pública de ações. O documento traz, entre outras informações, os riscos a que a empresa está sujeita e outros fatores que podem influenciar os papéis. O investidor com dúvida deve pedir ajuda à corretora ou ao banco para avaliar informações sobre a companhia de interesse. Além disso, é importante se informar sobre as perspectivas para o setor ao qual a empresa pertence e eventuais influências do exterior. Para investir, é preciso ter conta em uma corretora ou em um banco. A abertura da conta não envolve custos, mas há cobrança de taxas, como de corretagem e custódia, para cada operação de compra e venda. Também é preciso se inscrever para participar --é o chamado cadastro no período de reserva. Isso é feito pela corretora ou pelo banco no prazo estipulado pela emissora dos papéis. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/202052-lancamentos-de-acoes-devem-voltar-noano-que-vem.shtml